Recentemente recebi uma carta de um jovem universitário que estuda um ramo das ciências, indicando interesse em saber como eu havia conjugado a formação superior em ciências exatas com minha especialização e estudos no campo da teologia. Ele queria saber um pouco da minha história, como eu organizava essas situações em meu pensamento e expressava desejo de igualmente se aprofundar em teologia, após a conclusão do seu curso. Respondi com um e-mail um pouco extenso e minha esposa achou que talvez outros leitores tivessem o mesmo tipo de indagação ou interesse nessa história toda. Assim, aqui vai mais essa “blogada” de reflexões pessoais. Perdoem, se soar muito como um currículum-vitae. A intenção não é essa, mas apenas aferir e apresentar as oportunidades que foram abertas por Deus em um caldeirão de idéias e caminhos aparentemente incompatíveis.
Há muitas luas atrás (1967), viajei aos Estados Unidos, com 19 anos. Na ocasião eu havia iniciado a graduação em Professorado de Desenho, na Universidade Federal de Pernambuco, mas comecei a me movimentar para ir a uma faculdade cristã, já pensando em fazer teologia, depois do curso universitário. Consegui uma pequena "bolsa" e trabalhei bastante para cobrir a maior parte dos custos dos meus estudos. Terminei ficando sete anos lá - o último casado (minha esposa é canadense - conheci-a na faculdade). Fiz matemática pura, como graduação. Tive vários cursos na área das exatas. Na área da física, por exemplo, o meu livro era "Mecânica Analítica para Engenheiros". Sempre gostei dessa área, mas desejava estudar teologia e assim fiz o mestrado, depois da graduação, no Biblical Theological Seminary (1971-1974).
Deus utilizou esse preparo de muitas maneiras. Na área das ciências, trabalhei no meu último ano, nos Estados Unidos, em metalurgia e usinagem, aprendendo bastante sobre testes, classificação e conformação dos metais, planejamento de produção, etc. Todo esse aprendizado, em cima da base matemática, serviram-me nos primeiros 14 anos de vida profissional, quando retornei ao Brasil. Trabalhei 13 em uma fábrica de engrenagens, no Nordeste, chegando à diretoria industrial, e um ano na Honda, em Manaus. Depois disso passei à área comercial e dirigi empresas no ramo de veículos, em Manaus e em São Paulo, encerrando essa fase em uma empresa importadora, fabricante e distribuidora do ramo de cosméticos, na qual atuei na parte financeira-administrativa por seis anos.
Em paralelo a tudo isso, sempre procurei utilizar o treinamento em teologia. Ensinei à noite em seminários, institutos bíblicos e, aos domingos, na Escola Dominical. Fui ativo na pregação da Palavra e participei de várias conferências como tradutor e palestrante. A partir do final da década de oitenta, comecei a escrever mais, publicando alguns livretos, livros, artigos, estudos, etc. Na minha compreensão, a teologia sempre complementou a questão da ciência e da lógica. Sempre que me aprofundava na teologia, minhas convicções cristãs eram solidificadas e a apreciação analítica desenvolvida na área das exatas não era destruída, mas servia de fio de prumo ao alinhamento do pensamento. Graças a Deus, nunca experimentei conflitos, períodos de ceticismos, ou coisa que o valha. Nunca senti a necessidade de alijar a fé cristã a uma postura meramente mística, sem relação com o mundo que nos cerca; situação na qual caem tantos escolados nas ciências, acometidos por um conflito hipotético, e que procuram resolver pela sublimação da religião a uma esfera meramente transcendente e indescritível. Vejo que muitos profissionais ou acadêmicos reduzem a fé a prática religiosa a um misticismo puro e com isso contornam a questão e deixam de realmente viver a vida em toda a sua extensão.
De minha parte, reconheço que a fé cristã é mística em sua essência, mas eu prefiro identificar o que é classificado como "misticismo" como a parte transcendente da realidade. Aproveitando o gancho de Francis Schaeffer ("A Morte da Razão"), a realidade é constituída de duas partes - uma compreensível pelos sentidos imediatos e ancorada na parte física e a outra, não menos real, representada pela parte espiritual, metafísica. A mente moderna - racionalista e materialista, tende a se concentrar na realidade física, interpretando esta como sendo o todo da realidade.
Não consigo divorciar essas realidades. Creio em um entrelaçamento intenso entre a realidade palpável e a espiritual, de tal forma que sempre procuro lógica e sentido nas coisas espirituais. Isso me divorcia um pouco dos chamados "místicos" que parecem encontrar realização na convivência intensa com o lado "espiritual" das coisas, apenas. Sou um pouco estranho, pois não encontro muito sentido em ler e meditar em trabalhos como os de Thomas A Kempis e, além disso, fico encontrado traços marcantes de catolicismo e crenças medievais já descartadas pela Reforma do Século XVI, nesses trabalhos.
Para mim, o misticismo puro, mesmo cristão, é uma porta aberta ao subjetivismo; à construção individualizada da fé; ao divórcio do testemunho uniforme da comunidade de santos; à dissociação da lógica e razão do Deus que é todo sabedoria e raciocínio – o Logos. A Palavra de Deus é revelação proposicional, objetiva – verificável por qualquer um. Deus nos ensina que estar "cheios do Espírito Santo" é o oposto da embriaguez – ou seja, o crente cheio do Espírito Santo é lógico, sóbrio, tem os pés nos chão. A Bíblia também nos ensina a estar sempre prontos a dar uma "razão da esperança que está em nós", ou seja - arrazoar, como Paulo fazia (At 17). Paulo diz que Deus se agrada do nosso "culto racional" – não o "culto emocional", ou místico, em si. A nossa fé faz sentido, aos que têm o Espírito Santo em seus corações. As doutrinas da Palavra são lógicas, entrelaçam-se entre si, completam umas as outras. Aos que não têm a Deus, elas são "loucura"; a pregação e o método divino de salvação "é loucura" para os que se perdem.
Assim, sou muito mais um ávido procurador da lógica inerente à fé cristã, do que um sorvedor da literatura mística cristã. Mas isso é apenas a minha persuasão e opinião sobre o assunto. Não classifico os que se deleitam nos místicos de hereges. Apenas não é minha praia.
Essa é a minha experiência e compreensão de vida, na conjugação dessas duas vertentes – ciência e teologia. Algumas vezes fui abordado para ser ordenado ao pastorado. Fico honrado, mas sinto-me encaixado no presbiterato, onde estou desde 1975. Creio que o pastorado é um chamado específico e deveria ser exercitado por aqueles que têm abundantes qualificações na área de relacionamento pessoal, em paralelo ao estudo e preparo teológico. Ser presbítero, ou leigo, não tem me impedido de servir a Deus dentro e fora da igreja – em portas que Deus tem aberto. Sempre existe algo a fazer e se temos um pouco de habilidade no ensino, sempre aparece a necessidade e o desejo de alguém em aprender. O importante é manter sempre a fidelidade às Escrituras como fio de prumo de nossas vidas.
Nesses últimos anos fui agraciado, por Deus, em trabalhar em uma área que sempre se constituiu um dos meus interesses – a educação ministrada a partir dos fundamentos cristãos. O meu dia a dia consiste em conjugar aspectos empresariais sadios com princípios e valores bíblicos aplicados ao campo da educação – novamente um misto de ciência e teologia. Confesso que, lá no fundo, adoraria ter um tio milionário que me financiasse, para que eu pudesse simplesmente ler, escrever e viajar o tempo todo... Não estou reclamando de nada, mas, afinal, sonhar acordado também faz parte da vida...
Como Deus nos protege?
Há um dia
40 comentários
comentáriosParece que a questão toda poderia ser mais facilmente resolvida ou mesmo evitada se encarássemos naturalmente a Bíblia como ponto de partida. Para isso seria necessário traduzir obras de autores como por exemplo Dooyeweerd, Van Til, Rushdoony, Clark, Vollenhoven, e o próprio Kuyper. A visão romanista de dicotomia entre natureza e graça ainda é muito influente nos acadêmicos brasileiros crentes, especialmente nos que sequer conhecem que alguns autores já trataram desses questionamentos.
ResponderCaro L. G.:
ResponderRealmente, a Bíblia TEM que ser o ponto de partida e nossa visão "evangelical" do todo é bem romanista, principalmente no Brasil. Kuyper já está com algo em português. Os demais são pouco conhecidos. Vou "blogar" depois um post com sugestões e comentários bibliográficos, principalmente na questão da formação de uma cosmovisão socio-politica, área que acho que é tocada com muita superficialidade, em nossas plagas. Mesmo os reformados preocupam-se, via de regra, apenas com uma cosmovisão das artes e cultura e não vêem como os pressupostos bíblicos deveriam influir na gestalt da sociedade.
Abs
Solano
Oi, Solano!
ResponderReconheci desde o início de seu texto as "fumaças" da obra de Schaeffer, A morte da razão. De fato, como você, não só não consigo conceber as duas dimensões como separadas, mas tenho tentado entender melhor as diferentes manifestações do fenômeno para melhor combater essa separação. É praticamente a coisa mais importante que tenho feito em minha tese de doutorado. De fato, quanto mais analiso o assunto, mais me convenço que, de todas as doenças existenciais (e cognitivas) modernas, essa é mais séria, a mais perniciosa.
Sobre a teoria cartesiana, acredito que seu efeito foi duplo: embora os racionalistas realmente prefiram o lado materialista-imanentista da realidade, a herança macabra do cartesianismo foi menos a redução da razão a um materialismo científico que a própria separação do mundo entre matéria (pensável) e não-matéria (não abordável pelo pensamento). O que acontece nos círculos relativistas não-científicos da modernidade (sobretudo nas letras e nas artes) é que assumiram (textualmente!) uma "revanche" da arte e do sensível contra a lógica e o inteligível ao privilegiarem o lado desprezado pelos racionalistas - e isso pode explicar o absurdo alcance do subjetivismo nas áreas de humanas hoje, dominando o pensamento moderno sobretudo desde o século XVIII; porém, já estava inerente ao movimento de separação inaugurado por Descartes, que realmente se acreditava um observador "fora" do mundo.
Contam que o próprio Descartes já estava tão imbuído desse subjetivismo que confessou duvidar da presença real das pessoas que passavam por sua janela. Prova de que suas percepções da realidade já haviam ido para o brejo depois de suas reflexões, que podem muito bem receber o epíteto de esquizofrênicas.
Abração!
Bom... Se fosse analisar pelo lado científico, histório e lógico, não poderia aceitar a existência de um Deus. Mas não posso negar que tenho meus motivos pra acreditar na existência de "algo". Um ser superior, uma força, algo bom... Não sei.
ResponderDe qualquer maneira, não é o Deus da bíblia. Com certeza.
Solano,
ResponderNem peixe, nem corpo estranho... alguns diriam uma 'anormalidade', razão sendo que não é 'normal' encontrar alguém como você, que associa a teologia com a vida, em tantos níveis, como deve ser feito. Temos presenciado, constantemente, em ambos os lados (dentro e fora d'agua) aqueles que vivem uma dicotomia.
Espero que sua nota blogográfica sirva de inspiração a outros.
Prezado Cláudio Drews [Zohguy_Saiyajin], nem a ciência, nem a história e nem a lógica contrariam a existência do Deus da Bíblia. Como estes 3 'elementos' levam à conclusão de que 'não poderia aceitar a existência de Deus'?
ResponderAcho que seu melhor momento unindo teologia com matemática foi na educação de seus filhos.
Responder"Filho, tenho obrigação perante Deus de lhe educar de forma correta e Bíblica [teologia]. Portanto, 3 palmadas por desrespeitar sua mãe, 3 por puxar o cabelo de sua irmã e 2 por ter torcido pro Sport Recife perder ontem." [matemática]
:-)
Abraço,
Solano,
Responderlouvado seja Deus por essa graça de concíliar teologia/fé e ciência, algo raro no evangelicalismo no Brasil.
Agora, fica minha sugestão de um post seu sobre educação cristã. A nível de método já escrevestes um livrinho pela ed. Fiel (aliás ótimo) mas poderia escrever aqui como está o trabalho com a educação cristã, escolas ensinando com cosmovisão bíblica nesse seu momento de peregrinação?
Deus te abençoe
Abraços
Muito boa, Solano, a idéia de colocar este resumo de sua trajetória, da qual sou testemunha desde 1971. Parabéns à Betty pela sugestão. Sei que ajudará muitos a ver que não há dicotomia entre fé e vida e que todas as vocações, quando exercidas para a glória de Deus, são sagradas.
ResponderDeu até saudades daqueles velhos tempos!
Ola Solano, sempre que leio voces 3 (Solano, Augustus e Mauro) me sinto desafiado a estudar mais e mais. Entendendo que o amplo conhecimento nas areas exatas e humanas nos tornam melhores, quando alicercamos tudo isso na Palavra de Deus e na Sua existencia plena em nosso ser.
ResponderAbraco, muito prazer em "falar" com voce!
Olá Solano.... estive perambulando pelos "wwws" da vida, e em um desses momentos, após passar pelo blog do rev Misael cheguei até aqui, graças a Deus!
ResponderImportantíssimo pra minha vida e uma lição de influência para mim este seu comentário! Estudante de engenharia mecânica, tenho , de algum tempo para cá me incomodado muito com a tal dicotomia e resolvi viver uma vida plena no evangelho; não posso negar que seja difícil, mas encontro a cada dia razões e motivos para glorificar a Deus através da lógica do raciocínio e das contas, :)!
Sou grato a Deus por ter visitado novamente seu blog e por Ele continuar confirmando isso em meu coração com o exemplo lido e obtido aqui!
Obrigado por vocÊs estarem postando sobre tantos temas relevantes!
Fique com Deus! abraços!!
Solano,
ResponderGostei muito de sua postagem. Mais ainda da figura inicial. Onde podemos comprar sardinhas prensadas "Solano"? É produto importado?
Norma:
ResponderPois é, e o grande problema é que muitos cristãos contemporâneos, acometidos pela doença, viraram subjetivistas de carteirinha e sublimam a fé ao intangível e etéreo, enquanto no aqui e agora se vendem à agenda materialista de qualquer filosofia de algibeira que exalte o humanismo.
Solano
Mauro: O lado irônico é exatamente a dicotomia vivida pelos "homens do pano" (men of the cloth...) - eles, que estão do lado de lá, deveriam ver as coisas com bastante clareza, mas abrem mão da visão privilegiada pelo prato de lentilhas de uma cosmovisão anã.
ResponderSolano, o anormal
Solano,
ResponderBreve, mas excelente defesa da lógica e racionalidade da nossa santíssima fé (a revelação proposicional do nosso Deus), a qual não poderia ser diferente, pois nos foi dada pelo Logos divino.
Um abraço,
Felipe Sabino
Caro Z.S.:
ResponderVocê tem razão no sentido de que Deus não se descobre pela ciência, pelo estudo da natureza, ou por aquilo que arbitramos ser "a lógica das coisas".
Deus se revela ao homem morto, moralmente defunto e caído em pecado. Aprendemos que Ele se revela e é recompensador daqueles que o buscam, via de regra por aquilo que os homens chamam de "loucura da pregação" da Palavra de Deus.
Agora uma vez que você é achado por ele, toda a ciência e natureza deslumbra-se em evidência à sua procedência desse Deus, que não é nenhum outro senão o Deus da Bíblia - "O Senhor vosso Deus, é o único Deus".
Repentinamente, ou passo a passo, vamos vendo que ele é todo lógica e que nós é que "dizendo-nos sábios, tornamo-nos loucos".
Meu desejo é que você busque a Deus e o encontre na pessoa de Cristo e não se contente apenas na pecepção enganosa, geradora das falsas "certezas" de o que existe por trás é apenas "algo mais, um ser superior, algo bom".
Abs
Solano
Daniel: Realmente os filhos são variáveis complexas, mas o grande diferencial é o cálculo do amor integral que eles nos devolvem, como denominador comum. Na ordem das grandezas, o conjunto de valores que eles assimilam e passam a transmitir, em luz própria, é a raiz de toda alegria. Uma outra verdade derivada, em todas as suas permutações e combinações, que nos enche de alegria, é vê-los formando uma nova matriz, em seus lares recém formulados. Por isso, vendo de todos os ângulos e sem sair pela tangente, primo por reafirmar o prazer da paternidade e de ter sido um transferidor de princípios que deixaram um quosciente positivo, mesmo, por vezes, quadrado na forma de expressão.
ResponderUm abraço!
Cléber:
ResponderOrtodoxia morta é sempre um perigo a evitar, pois ela está a um passo da heterodoxia. Mas é preciso cuidado na identificação. Os místicos subjetivistas intangíveis, em toda sua irracionalidade, adoram rotular de ortodoxia morta a preocupação por uma expressão de fé que seja mais "pé no chão" e "mente na Bíblia". Deleitam-se em brandir "Jesus me disse isso e aquilo", pois quem ousa argumentar contra Jeus? No entanto, o apreço pelas Escrituras vai se esvaindo pelas bordas e a fé vai ficando cada vez mais amorfa ou amoldada a uma cultura rasteira, com cheiro de cristianismo, mas sem qualquer substância teológica. Lembre-se que o acusador está sempre rodeando. Apegue-se com sinceridade à Palavra e ao Deus nela revelado, que a verdadeira ortodoxia nunca morrerá e se fará presente em emoção e emotividade verdadeira, sem os artificialismos e os "ventos de doutrina" da moda.
Um abraço,
Solano
Juan, João, Wilson e Jonatnas (? - é assim mesmo?): Obrigado pelas palavras de estímulo. Qualquer dia desses posto algo sobre os desafios nos meandros, esforços e desafios de implementar educação cristã em uma sociedade que anseia pela estabilidade dos valores que ela veementemente rejeita.
ResponderSolano
Zé Sardinha - A maré não está prá peixe... Importada, aqui em casa, só minha mulher. Agora os "pujadó Solano" são da melhor estirpe espanhola - arenque para ninguém botar defeito! achando uma latinha por aí, mande uma para mim.
ResponderSolano
Oi, Solano!
ResponderEu trato desse subjetivismo da igreja atual (que nesse ponto copia o mundo sem fazer diferença alguma) em um artigo chamado "A mente de Cristo": http://coletaneanormabraga.blogspot.com/2005/10/mente-de-cristo.html Uma temeridade mostrar um texto desses a um teólogo, mas, como já cometi a besteira de enviá-lo a Augustus, cometo-a pela segunda vez. :-)
Se você é anormal, eu sou a própria a-Normal! :-))
Abraços!
P.S.1 Eu não sabia que o catolicismo dicotomiza natureza e graça. Espero não estar falando bobagem, mas isso parece ecoar a divisão do gnosticismo: corpo e espírito. Poderia me indicar alguma crítica disso (artigo ou livro)? A história dessas dicotomias muito me interessa. (Interessante: a etimologia da própria palavra "diabo", diábolos - aquele que desune - já aponta para a divisão, a fragmentação.)
P.S.2 Quem são os homens-do-pano? :-)
Solano,
ResponderExcelente postagem. A sua peregrinação e o resultado dela até aqui exemplificam o tipo de mentalidade que acredito seja possível desenvolver numa universidade como a Mackenzie. É um trabalho a longo prazo mostrar que a visão cristã de mundo é a que melhor provê o suporte para o raciocínio coerente e a compreensão mais ampla da realidade.
Um abraço.
Norma,
ResponderPara ver como a divisão entre natureza e graça se dá nas obras romanistas originais, acho que a melhor fonte seriam os escritos de Tomás de Aquino. Para comentários sobre isso do ponto de vista reformado, em português, eu só achei a trilogia de Francis Schaeffer. Talvez alguém saiba de mais alguma coisa em português.
Há um folheto em espanhol, "La fe de los humanistas", também do Francis Schaeffer.
E em inglês eu estou lendo um livro que comenta sobre isso com base em Dooyeweerd, chama-se "Intellectual Schizophrenia", do autor R. J. Rushdoony. Acho que D. Th. Vollenhoven também escreve nesse sentido, embora não comentando diretamente, na sua introdução à filosofia (publicado em inglês recentemente pela Dordt Press). Além desses, sei que Gordon Clark tratou disso, mas não consigo achar onde.
Felipe e Wilson Bento:
ResponderGrato pelas palavras amáveis e de estímulo.
Um abraço,
Solano
Solano, estive pesquisando pela net a respeito do novo evangelho (na verdade nem tao novo assim) que se anda pregando por ai, no Brasil e me deparei com um site em que se divulga congressos de restauracao, cujo os preletores sao as estrelas do liberalismo-marxista-cristao
Responderhttp://www.congres.com.br/Artigos/artigos.painel.asp?tp=75
Nao seria interessante se alguem (leia-se: voce, mauro, augustus e norma braga) desenvolvessem um documento que seria algo como: "10 razoes porque nao concordamos com essa teologia", ou algo parecido, onde teriamos um material conciso que atingisse os pontos mais importantes e fundamentais da teologia crista em contraste com a "anti-crista".
Eles estao bem equipados com farto material informativo e indutivo, quem sabe essa nao seria uma oportunidade para "combatermos o bom combate"!!
Wilson Bento,
ResponderCreio que alguma coisa precisa ser feita, de fato. As frentes não são muitas: internet e publicações. Quanto à essa última frente, em março devem ser lançados dois livros excelentes que analisam criticamente a nova teologia. Sobre a Internet, as reações de vários quadrantes já começaram, menciono apenas o confronto oferecido pelo Luis Sayão e pelo Shedd. Além disso, teve o famoso episódio do blog da Norma Braga.
Podemos pensar em algo mais sistemático, temos munição suficiente, mas o problema é achar a arma que disparar: onde vamos veicular? Vamos pensar mais um pouco sobre isso.
Um abraço.
Peço licença aos donos do blog para uma palavrinha ao Wilson: é tão bom ver alguém com esse espírito de urgência, como você. Ore por nós. Deus vai nos inspirar, com certeza, para a implantação de medidas ou estratégias mais eficazes do que aquelas em que já estamos engajados.
ResponderDe qualquer modo, eu me sinto muito honrada de ter meu nome ao lado da trinca dos teólogos! :-)
Abraços!
Cara Norma:
ResponderLi o seu artigo e gostei. Ele toca exatamente nessa tecla de unificar a verdade. Cristo é a verdade personificada (Eu sou o caminho, a verdade...); inseparável de sua palavra, das Escrituras (...santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade). Essa verdade é exclusivista, e não pluralista, por natureza (... ninguém vem ao Pai, senão por mim" - logo após se identificar com "a verdade"); defendê-la não é intransigência, mas coerência lógica.
Quanto ao Logos, um estudo na literatura filosófico-clássica greco-judaica, vai mostrar a utilização do termo de uma forma quase técnica de expressão de uma racionalidade superior, fonte de todo o saber. É como se João estivesse dizendo - "vocês não estão tão longe, assim...; quase acertam...", mas ele vai à fundo na sua exposição e particulariza o Logos no estar com Deus e em ser Deus. Mais ainda! O Logos "se fez carne e habitou entre nós..." - aqui está a unidade e suprema união de todas as coisas na pessoa de Cristo - aquele "que sustenta (une, ata, aglomera, agrega) todas as coisas pela palavra do seu poder".
Quanto à dissociação natureza vs. graça, certamente nisso o catolicismo emula o pensamento gnóstico, com suas elocubrações espiritualizadas. Schaffer, na "Morte da Razão", já apontava o problema na compreensão Tomista do cosmo. Para Aquino, e o pensamento católico subsequente, "a vontade humana estava caída, mas o intelecto não estava". Dá para ver como isso gera a uma autonomia indevida da sujeição do intelecto a qualquer forma de espiritualidade. Daí para os vôos independentes do renascimento e a "libertação" das amarras da religião para as ciências, foi um pequeno passo - Deus é colocado para fora da natureza (ou, misticamente, passa a ser considerado a própria natureza) - soluções e compreensões fundamentadas em falhos alicerces.
O pensamento reformado, quando consistentemente aplicado, vê a soberania de Deus permando a tudo e a todos. Volta à Palavra e enxerga a Deus na criação e no comando de uma unidade, na qual somos protagonistas e estamos nela entrelaçados. A verdadeira academia (UNIversidade) proclamará isso e trabalhará as áreas de conhecimento sob este prisma: cada coisa dentro de sua esfera, mas ligada a Deus, por responsabilidades e propósitos singulares, no contexto de um mundo caído em pecado.
Finalmente, os "homens-do-pano" são os pastores, os ministros, os reverendos - tradução tupiniquim para "men of the cloth", gíria inglesa (americana) para essa raça nobre que me rodeia.
L. G.: O livro do Gordon Clark não seria "A Christian View of Men and Things" (excelente!!!)?
Solano
Oi, Solano!
ResponderObrigada pelos comentários sobre o artigo. Não estudei em sua evolução histórica o conceito de Logos (isto sempre esteve em meus planos, mas eu nem sabia onde achar), mas o intuía da leitura de João e confirmava que era assim a partir de algumas leituras e aulas de filosofia, sobretudo do filósofo Olavo de Carvalho, que vê uma continuidade entre o pensamento grego e o cristianismo. Cheguei a dizer a ele que gostaria de seguir as mesmas pistas filosóficas que ele segue para afirmar essa continuidade de modo mais embasado - mas ele não é evangélico, e até então eu nunca tinha encontrado evangélicos que tivessem tal visão (que é até óbvia e muito linda, pois demonstra o preparo cuidadoso de Deus através da história para que a mente do homem pudesse receber o evangelho). É mais um motivo para me deixar muito feliz por ter encontrado estudiosos como você, Augustus e Mauro. Estou pensando seriamente em um pós-doutorado na Andrew Jumper! :-)
Obrigada, a você e ao Lucas, pelas dicas de leitura preciosíssimas. Tenho um profundo estudo a fazer para ampliar cada vez mais essa compreensão dual-complementar da realidade, que sempre foi a minha por intuição, mas há algum tempo tenho trabalhado mais conscientemente com ela. Creio estar nessa compreensão a cura para a dissociação do pensamento - esse grande mal moderno, que tem sido nos meios intelectuais talvez o principal obstáculo à abertura para o evangelho, além de um impedimento, nas igrejas, para que os cristãos vivam o evangelho de forma mais plena e não caiam no engodo do subjetivismo.
Abraços!
Como jovem é ao mesmo tempo difícil e fácil perceber a
Responderinfluência nos dias atuais da maneira dicotômica
(acertei?) de se viver.
Difícil pois no mundo de hoje
muita coisa se apresenta sutilmente para nós através
das mais diversificadas fontes de informação e
formação de opiniões.
Fácil pois basta um olhar para
nós mesmos e fica claro a, graças a Deus, finita luta
da carne contra o Espírito.
Deparei-me hoje (02/18/2006) com jovens de uma igreja
participando de um evento na rua do mackenzie chamado
acho que macareta (algo assim). Logo senti vontade de
confrontá-los, mas percebi que a reação de surpresa
deles já havia transmitido a mensagem.
Não precisamos ir longe para descobrirmos que o pecado
está mais perto e infiltrado do que parece. Bill Barkley diz algo interessante.. "muitas vezes o
maior inimigo da verdade é aquilo que parece a verdade." Creio que a dicotomia no meio jovem é de
alta aceitação infelizmente.
Abs - André Serpa
André,
ResponderVou apenas comentar a macarena ao lado do Mackenzie. Tem sido uma constante preocupação nossa. Os estudantes são proibidos de beber no campus do Mackenzie. Contudo, nos intervalos e ao término das aulas, se reúnem nas dezenas de barzinhos nas ruas ao redor do Mackenzie e bebem até cair. É impressionantes. Ficamos de mãos amarradas porque não temos jurisdição nem autoridade sobre os alunos quando estão fora do campus. Somente se estiverem dentro e bêbados. Aí é outra coisa.
Contactamos os órgãos responsáveis, mas sem êxito. Há uma lei que proibe barzinhos a uma determinada distância de escolas. É completamente desobedecida e não há fiscalização nem resposta a denúncias.
De vez em quando sai na mídia, que ao dizer que são alunos do Mackenzie, coloca a responsabilidade sobre nós.
Um abraço.
Prezado Solano,
ResponderSim, o "Christian View" lida com isso mesmo. Obrigado por me lembrar. Eu comprei esse livro usado muito barato eheh
Ah, meu primeiro nome eh Lucas
Gostaria em primeiro lugar de declarar, públicamente, minha admiração pelo trinomio, Augustus, Mauro Meister e Solano.
ResponderDizer ainda que esse post, foi, particularmente inspirador. Tenho aprendido muito com vocês, com seus livros, com seus comentários sempre equilibrados e firmados nas escrituras sagradas.
Deus o Abençõe.
Solano, compreendo e percebi sua leitura cosmocristã envolvida pelos escritos de Schaeffer sobre o homem abaixo da linha de desespero. No entanto, a pneumatologia quase não é pauta dos blogueiros reformados e quando tem algo referente ao Espírito Santo, é uma crítica ao neopentecostalismo. A pneumatologia é menos importante na compreensão cristã? O que sabemos acerca da esfera da ação do Espírito? O que sabemos acerca do Espírito cair em pessoas? O que sabemos sobre estas grandes manifestações do Espírito? Precisamos ser cautelosos, ‘para que não sejamos achados lutando contra Deus’, para não sermos culpados de ‘apegarmos o Espírito de Deus’.” Como pode ser percebida nas palavras de um líder de uma igreja reformada que no final dos anos 60, quando o movimento de renovação carismática dominava a agenda de preocupações e debatas da igreja, disse a um membro que retornava do movimento de renovação para a igreja: “Agora que está de volta, espero que tenha desistido dessa mania do Espírito Santo, pois, aqui na nossa igreja falamos mais da pessoa do Pai, porque a Pessoa do Espírito Santo só traz confusão”.
ResponderQue deleite ler tão excelente artigo do Solano, e acompanhar os comentários em seguida. Há muita edificação embutida aí, gente. Deleite...
ResponderSolano, caro irmão, tenho uma leve percepção de seus sentimentos, pelas breves interseções entre nossas trajetórias acadêmicas. Cursei 3 anos de Engenharia Mecânica e me apaixonei por Matemática pura quando estudei a biografia de Newton - entendi a Matemática como a linguagem de Deus, uma linguagem perfeita e poética criada por Ele para arquitetar e executar o Universo e a vida.
Da Matemática como linguagem explicativa me lancei à Física quântica, que, na minha opinião, lança boas luzes à Teologia e hoje é tão integrada à minha área focal de formação, as Ciências Biológicas.
Fico tentado a comentar sobre o gostoso bate-papo entre você e Norma Braga, mas resisto - sou indigno de atar-lhes as sandálias (Rsrsrsrs).
Senti-me tentado até a comentar sobre a leviana bebedeira de tantos jovens na vizinhança da Mackenzie, tão bem abordada por nosso amigo Augustus Nicodemus, e que eu vejo algumas vezes a cada ano, quando vou a São Paulo e me hospedo justo nessa vizinhança. O que mais me espanta é que bebem TODOS os dias, quando em Fortaleza, cidade festeira, costumamos ver os jovens beberem mais a partir da sexta-feira, em busca de preencher um vazio que só Jesus poderia suprir...
Bem, deixa pra lá. O foco é seu artigo, de que gostei muito e já repassei para vários amigos.
Obrigado!
Puxa, que papo bom. Eu sempre chego (muito) atrasado para estas coisas. Pelo menos pego a rabeirinha com prazer.
ResponderParabéns Solano!!! Excelente texto!
ResponderGostaria de saber sua opinião sobre esse artigo
Responderhttps://www.facebook.com/VerdadeReoculta/posts/241376646025912
Pois existem muitas pessoas batendo forte nesses pontos
Caro OPS!
ResponderO artigo indicado contém muitas imprecisões e uma visão equivocada da eclesiologia. A aparência é de piedade, mas, ao considerar todo o segmento evangélico equivocado (e só a opinião do articulista correta), peca em:
1. Aflorar um sentimento de auto-justiça e desprezo pela forma como Deus vem sustentando a sua igreja através dos séculos;
2. Não considerar que a ESTRUTURA da igreja não foi deixada à imaginação humana, nem a construções simplistas, mas foi definido com precisão por intermédio de Paulo a Timóteo (Cap. 3 - 1 Tim.), a Tito (Cap.1.5-9), e a todos nós, através desses escritos.
Obviamente os pontos apresentados no artigos estão misturados com algumas observações corretas, mas não me interesso, no momento, por um exame e refutação ponto a ponto.
Um abraço,
Solano
Que bacana saber um pouco da sua história, sempre me questiono sobre as trajetórias dos pregadores que admiro no Senhor! Quando o ouvi na Consciência Cristã, pregando sobre liderança fiquei muito feliz com o seu modo de ensinar... extremamente bíblico! Um abraço! Deus continue fortalecendo-o!
Responder