Quando Paulo Romeiro escreveu Evangélicos em Crise em meados da década de 90, ele apenas tocou em uma das muitas áreas em que o evangelicalismo havia entrado em colapso no Brasil: a sua incapacidade de deter a proliferação de teologias oriundas de uma visão pragmática e mercantilista de igreja, no caso, a teologia da prosperidade. Fica cada vez mais claro que os evangélicos estão atualmente numa crise muito maior, a começar pela dificuldade – para não falar da impossibilidade – de ao menos se definir hoje o que é ser evangélico.
Até pouco tempo, “evangélico” indicava vagamente aqueles protestantes de entre todas as denominações – presbiterianos, batistas, metodistas, anglicanos, luteranos e pentecostais, entre outros, que consideravam a Bíblia como Palavra de Deus, autoritativa e infalível, que eram conservadores no culto e nos padrões morais, e que tinham visão missionária. Hoje, no Brasil, o termo não tem mais essa conotação. Ele tem sido usado para se referir a todos os que estão dentro do cristianismo em geral e que não são católicos romanos: protestantes históricos, pentecostais, neopentecostais, igrejas emergentes, comunidades dos mais variados tipos, etc.
É evidente a crise gigantesca em que os evangélicos se encontram: a falta de rumos teológicos definidos, a multiplicidade de teologias divergentes, a falta de uma liderança com autoridade moral e espiritual, a derrocada doutrinária e moral de líderes que um dia foram reconhecidos como referência, o surgimentos de líderes totalitários que se auto-denominam pastores, bispos e apóstolos, a conquista gradual das escolas de teologia pelo liberalismo teológico, a falta de padrões morais pelos quais ao menos exercer a disciplina eclesiástica, a depreciação da doutrina, a mercantilização de várias editoras evangélicas que passaram a publicar livros de linha não evangélica, e o surgimento das chamadas igrejas emergentes. A lista é muito maior e falta espaço nesse post.
Recentemente um amigo meu, respeitado professor de teologia, me disse que o evangelicalismo brasileiro está na UTI. Concordo com ele. A crise, contudo, tem suas raízes na própria natureza do evangelicalismo, desde o seu nascedouro. Há opiniões divergentes sobre quando o moderno evangelicalismo nasceu. Aqui, adoto a opinião de que ele nasceu, como movimento, nas décadas de 50 e 60 nos Estados Unidos. Era uma ala dentro do movimento fundamentalista que desejava preservar os pontos básicos da fé (veja meu post sobre Fundamentalismo), mas que não compartilhava do espírito separatista e exclusivista da primeira geração de fundamentalistas. A princípio chamado de “neo-fundamentalismo”, o evangelicalismo entendia que deveria procurar uma interação maior com questões sociais e, acima de tudo, obter respeitabilidade acadêmica mediante o diálogo com a ciência e com outras linhas dentro da cristandade, sem abrir mão dos “fundamentos”. Eles queriam se livrar da pecha de intransigentes, fechados, bitolados e obscurantistas, ao mesmo tempo em que mantinham doutrinas como a inerrância das Escrituras, a crença em milagres, a morte vicária de Cristo, sua divindade e sua ressurreição de entre os mortos. Eram, por assim dizer, fundamentalistas esclarecidos, que queriam ser reconhecidos academicamente, acima de tudo.
O que aconteceu para o evangelicalismo chegasse ao ponto crítico em que se encontra hoje? Tenho algumas idéias que coloco em seguida.
1. O diálogo com católicos, liberais, pentecostais e outras linhas sem que os pressupostos doutrinários tivessem sido traçados com clareza. Acredito que podemos dialogar e aprender com quem não é reformado. Contudo, o diálogo deve ser buscado dentro de pressupostos claros e com fronteiras claras. Hoje, os evangélicos têm dificuldades em delinear as fronteiras do verdadeiro cristianismo e de manter as portas fechadas para heresias.
2. A adoção do não-exclusivismo como princípio. Ao fazer isso, os evangélicos começaram a abrir a porta para a pluralidade doutrinária, a multiplicidade de eclesiologias e o relativismo moral, sem que tivessem qualquer instrumento poderoso o suficiente para ao menos identificar o que estivesse em desacordo com os pontos cruciais.
3. O abandono gradual da aderência a esses pontos cruciais com o objetivo de alargar a base de comunhão com outras linhas dentro da cristandade. Com a redução cada vez maior do que era básico, ficou cada vez mais ampla a definição de evangélico, a ponto de perder em grande parte seu significado original.
4. O abandono da confessionalidade, dos grandes credos e confissões do passado, que moldaram a fé histórica da Igreja com sua interpretação das Escrituras. Não basta dizer que a Bíblia não tem erros. Arminianos, pelagianos, socinianos, unitários, eteroteólogos, neopentecostais – todos afirmarão isso. O problema está na interpretação que fazem dessa Bíblia inerrante. Ao jogar fora séculos de tradição interpretativa e teológica, os evangélicos ficaram vulneráveis a toda nova interpretação, como a teologia relacional, a teologia da prosperidade, a nova perspectiva sobre Paulo, etc.
5. A mudança de uma orientação teológica mais agostiniana e reformada para uma orientação mais arminiana. Isso possibilitou a entrada no meio evangélico de teologias como a teologia relacional, que é filhote do arminianismo. Permitiu também a invasão da espiritualidade mística centrada na experiência, fruto do reavivalismo pelagiano de Charles Finney. Essa mudança também trouxe a depreciação da doutrina em favor do pragmatismo, e também o antropocentrismo no culto, na igreja e na missão, tudo isso produto da visão arminiana da centralidade do homem. Mas talvez o pior de tudo foi a perda da cosmovisão reformada, que serviria de base para uma visão abrangente da cultura, ciência e sociedade, a partir da soberania de Deus sobre todas as áreas da vida. Sem isso, o evangelicalismo mais e mais tem se inclinado a ações isoladas e fragmentadas na área social e política, às vezes sem conexão com a visão cristã de mundo.
6. Por fim, a busca de respeitabilidade acadêmica, não somente da parte dos demais cristãos, mas especialmente da parte da academia secular. Essa busca, que por vezes tem esquecido que o opróbrio da cruz é mais aceitável diante de Deus do que o louvor humano, acabou fazendo com que o evangelicalismo, em muitos lugares, submetesse suas instituições teológicas aos padrões educacionais do Estado e das universidades, padrões esses comprometidos metodológica, filosófica e pedagogicamente com a visão humanística e secularizada do mundo, em que as Escrituras e o cristianismo são estudados de uma perspectiva não cristã. Abriu-se a porta para o velho liberalismo.
Não há saída fácil para essa crise. Contudo, vejo a fé reformada como uma alternativa possível e viável para a igreja evangélica brasileira, desde que se mantenha fiel às grandes doutrinas da graça e aos lemas da Reforma, e que faça certo aquilo que os evangélicos não foram capazes de fazer: (1) dialogar e interagir com a diversidade delineando com clareza as fronteiras do cristianismo; (2) abandonar o inclusivismo generalizado e adotar um exclusivismo inteligente e sensível; (3) voltar a valorizar a doutrina, especialmente os pontos fundamentais da fé cristã expressos nos credos e confissões, que moldaram os inícios do movimento evangélico. Talvez assim possamos delinear com mais clareza os contornos da face evangélica em nosso país.
[Agradeço a todos os amigos que viram o draft original deste post e fizeram valiosas sugestões.]
Como Deus nos protege?
Há 16 horas
39 comentários
comentáriosAugustus,
Respondera consequência disso e de outros fatores da chamada pós-modernidade é que os irmãos na fé e membros de igreja ou congregados procuram as igrejas para se sentirem bem, fazerem parte de um clube social, ver Deus atuando nos seus problemas (não que isso seja ruím em si) sem sequer meditarem na eternidade, migrando de uma comunidade para outra sem compromisso e engajamento a vida cristã nos cultos, ceia do Senhor e vida prática na caminhada cristã.
Também enxergo a igreja sendo usada pela lógica de negócios como mercantilismo e como fonte de lucro e status para seus líderes.
Realmente nos cabe pedir a Deus humildade e firmeza nas Escríturas e parafraseando Racionais MC´s: "Tempos difíceis".
Augustus,
Responderesta crise de definição do que é ser evangélico, assim como o abandono do critério histórico-gramatical da hermenêutica e a enfase no experimentalismo, me deixam perplexo! Principalamente por mostrar uma crise epistemológica. Pois ainda sem perceber, alguns lideres estão seguindo uma concepção pragmática de verdade. A idéia: se dá certo é de Deus.
Eu concordo c/ vc que o retorno aos postulados reformados seria o "avivamento" necessário.(Digo avivamento no sentido de restaurar a vida mesmo, sem a conotação pentecostal!) Scheaffer também sugeria algo semelhante em sua "Morte da Razão".
Mas não tenho a fé de que isto vira a se realizar... Tenho esperança...afinal, sou brasileiro.. rs :)
As igrejas históricas de orientação reformada parecem dormir... sinto-as sem expressão, sinto-as muitas vezes um clube social de discução teológica. (Minha generalização, não quer desmerecer os verdadeiros trabalhadores, que não são poucos. Mas ante o contigente de membresia... esta é minha impressão!).
A situação me sugere mais uma apostasia crescente, que não poderia ser impedida pela boa vontade humana. Graças a Deus não agimos por nós! O PODER que opera em nós é o Espirito Santo. Então... há esperança que ele faça um milagre...
Abraço.
Rubem Fontes.
obs. o Lado bom de tudo isto é que a volta de Cristo está mais perto que nunca! MARANTA.
Professor Augustus Nicodemus.
ResponderÉ bastante instrutivo o seu post - confesso que nos meus quase 3 lustros de igreja batista, nunca parei para reparar nas teologias - nas suas raízes. Mas, como missionário, alguém que busca o desenvolvimento (inclusive) financeiro, político, educacional, de saúde da região onde atuo, sinto que a reflexão teológica torna-se, para mim, uma carência. Como disse Juan de Paula, "os irmãos na fé e membros de igreja ou congregados procuram as igrejas para se sentirem bem", não vão mais lá para adorar, apenas. Penso que a nossa primeira e principal missão na terra é ADORAR A DEUS, o resto vem a reboque.
Marcelo Hagah
João Pessoa-PB
É véro, Rev. Nicodemus!!!
ResponderA coisa tá tão caótica que, se eu falar que sou evangélico, é sinônimo de ignonímia para os meus amigos. Logo pensam na IURD, Comunidades, Saras, etc... infelizmente sou tachado sem ser ouvido. Culpa do que fizeram do que é "ser evangélico".
Hoje, para evitar essa aresta, já apelo logo. Digo: sou Protestante Reformado e Calvinista. Só não uso Fundamentalista pra não cair na pecha dos xiitas.
Abraço!
Hey Augustus,
ResponderO processo de "desenvolvimento" da igreja no Brasil eh um reflexo da igreja aqui nos EUA, ontem.
Temos observado que aqui andamos pela proxima etapa eclesio-teologica, que tem revolucionado o Brasil, ou seja, vivemos um periodo de "selamento", sabe quando voce passa um selante para fazer de um quebra-cabecas uma peca unica? eh isso.
O maior problema eh que a situacao esta nivelada por baixo, nao havendo a menor possibilidade de se frequentar igrejas sem antes fazer um criterioso estudo da sua vida e da vida dos seus lideres, isso inclue que nao se pode mais escolher uma denominacao como referencia, a selecao tem que ser criteriosa e detalhada. Confesso que da vontade de ficar em casa (sometimes!).
Meus planos sao de voltar em 2008 para o Brasil (primeiramente Dios, como dizem os mexicanos), o que sera que encontrarei por ai?? Havera fe na terra?? (acho que vou procurar voces tres...hehehe).
Creio que todo verdadeiro crente já pensou algum dia em abandonar o título "evangélico", devido às circuntâncias citadas.
ResponderA questão é: Devemos nós abandonar o título (pular do barco) ou devemos lutar pelo verdadeiro significado de ser cristão, ser evangélico?
Nos auto-denominamos reformados, mas isso não significa muito para a sociedade, pois são poucos os que de fato associam tal designação como um movimento religioso. Além disso, existem muitos "lobos reformados" disfarçados de ovelhas, enganando sua congregação e consequentemente realizando um desserviço a tradição reformada.
Nos auto-denominamos calvinistas, mas sabemos que o próprio Calvino jamais admitiria tal alusão a seu nome como sistema de fé cristã.
Nos auto-denominamos puritanos, mas como vimos em post´s recentes, o meio cristão e a sociedade tem uma visão equivocada destes homens de Deus.
O mesmo ocorre com o termo Fundamentalista.
Caímos então novamente ao termo evangélico. Nós sim, seguidores de Cristo (cristãos), somos evangélicos porque fomos separados para este Evangelho (Rm 1.1). Ele é a nossa verdadeira regra de fé e prática.
Por fim, quando alguém me pergunta qual minha religião, antes de dizer que sou evangélico, pergunto se a pessoa tem uns 5 ou 10 min para ouvir a resposta.
Gde Abraço;
Sem. Marcelo Gomes da Silva - RJ
Rev Augustus,
ResponderTalvez deveríamos fazer uma outra reflexão também:
O que aconteceu com os reformados, com as igrejas históricas? Não terá sido omissão de nossas denominações frente aos desvios teológicos, que, em parte, contribuiram para esta situação?
Não nos isolamos? O será que esta onda começou tão forte assim?
Rev. Nicós...
ResponderAlgumas posturas não mto amistosas tem sido postadas no orkut, quase que em sustentação a uma supremacia protestante. "Sou protestante e não evangélico", "sou protestante desde o berço"; coisas do tipo q mais se assemelham a soberba dos Coríntios (sou de Paulo, Apolo, e assim por diante).
Confesso q tb já senti o desejo de abandonar o nome evengélico, tendo em vista a realidade dos nosso dias, mas entendo q a solução não esta no nome. Como diria Droumond:
Mundo, mundo, vasto mundo...
Se me chama-se Raiumundo, seria uma rima e não uma solução,
Mundo, mundo, vasto mundo,
mais vasto é o meu coração.
O problema é mto maior q o nome q carregamos, visto que as pessoas usam uma nomeclatura conforme o conceito que tem dela. Então ser evangélico é simplesmente ter uma suposta experiência em uma igreja evangélica. Ser evangélico á sinônimo de experiência, e não de vida segundo o evangelho.
Assim, não creio q simplesmente ostentar um outro nome, seja protestante, seja reformado, ou o q for, ira resolver, mas sim viver de conforme a Palavra. Creio q podemos nos identificar pelo nome q a história nos confere, a saber, reformados, visto que isto pesa sobre nós como responsabilidade de uma vida reta, segundo os preceitos da Reforma (os 5 Sola). Mas isso nunca deverá ser usado como prerrogativa de superioridade.
Um abraço Rev. Nicós.
Penso que a reforma ainda não chegou por aqui. Somos evangélicos moldados por uma argamassa meio católica, meio espírita e pouco ou nada reformada. Essas doutrinas hereges proliferam nesse solo, posto que é solo sem arado, sem suor, sem sangue e as lágrimas Dele. Gostamos de sombra, de música balançada, misticismo, paganismo, futebol, carnaval, malandragem e muita água (cerveja) fresca. Não só o solo brasileiro, mas, todo o solo latino (inclusive o solo afro-latino norte americano).
ResponderFaz-se urgente e necessário escrever uma teologia reformada brasileira ou latina. Mas, os teólogos estão esperando a banda passar com a caneca cheia nas mãos.
Marcelo,
ResponderConhecer as raízes e o desenvolvimento do pensamento teológico ajuda muito a entendermos a razão de algumas pessoas pensarem e agirem da forma como o fazem. Espero que sua paixão pela reflexão teológica nunca esfrie, bem como que não se perca o alvo maior mencionado por você, a glória de Deus.
Aproveito para protestar quanto à ordem cronológica que você colocou: Augustus-Solano-Mauro. Pode parecer assim, mas a verdade é outra: Solano-Augustus-Mauro! É que minha barba grisalha prematuramente e o fato de que Solano nunca teve um único cabelo branco mesmo passando dos 50, faz com que todos pensem que eu sou o vovô do trio.
Sobre o ilustre trio batista, confesso para minha vergonha que só conheço o Fanini. Talvez em pvt você pudesse me falar a respeito desses outros colegas batistas!
Filipe,
Conheço vários pastores e presbíteros que não querem mais ser chamados de evangélicos exatamente por causa dessa confusão. A coisa está tão complicada que não conseguimos mais nos identificar com apenas uma classificação. “Cristão” inclui católicos e espíritas. “Protestante” inclui também liberais. “Reformado” tem várias linhas. “Evangélico” é amplo demais. Só mesmo usando dois ou três adjetivos, como você mencionou.
Abraços a todos!
Rev. Augustus,
ResponderAcredito que o Pr. Franklin Ferreira, Dr. Russell Shedd e Pr Gilson Santos, seriam batistas indicados como ala conservadora, calvinista e batista no Brasil. Seria um bom trio. :-)
Caro Carles,
Responderfaço coro contigo, porém você esqueceu do Luiz Sayão, então não seria um trio e sim um quarteto, ;) .
Caro Trio,
ResponderAcho que seria interesante tratar da questão do Opentheism aqui no Brasil.
Termina hoje o congresso o "1º Encontro de Reflexão Teológica" com Ed René Kivitz e Ricardo Gondim
O tema proposto foi: "Um outro Deus para um outro mundo possível - uma nova leitura da Bíblia, Salvação, Deus e Igreja"
Alguém foi a este congresso? E assim, a passos largos, a Igreja vai ter que sair da defensiva... acho que não dá mais para assitir isso aqui na tela. O que fazer?
Para verem o cartaz de divulgação, acessem:
http://www.congres.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=84&sg=0&form_search=&pg=1&id=156
Charles...
ResponderCreio q assim q a "bíblia" do Open Theis for traduzida, a saber "The Opens of God" - de Pinnock e C&A, então as compotas estão abertas.
Creio q a linguagem O.Th é estremamente atraente ao povo sentimental de nossas igrejas, afinal, um "deus" q se arrisca por mim, sem saber ao certo qual será minha reação ao seu "amor", é um "deus" mto atraente ao nosso gosto.
Queira Deus que as igrejas não se vendam a mais essa mentira.
Charles, o que se pode fazer?? Alguem tem alguma sugestao? Quem sabe um congresso, uma reuniao, um "show gospel reformado" (hahaha)....
ResponderPr. Augustus,
ResponderE quando essa diversidade teológica toda vem parar dentro da gente?
Minha teologia pessoal parece um belo Frankestein. Tenho quase certeza que atualmente casos como o meu parecem estar mais próximos da regra do que das exceções...
Não duvido que todo esse hibridismo teológico possa até ter um caráter restaurador (Ecclesia reformata semper reformanda) mas para tudo, é claro, há limites.
E estou convicto que um dos principais inimigos da Igreja nessa questão, sem dúvida nenhuma, é o fundamentalismo denominacional.
Mais do que de entendimento teológico, o déficit maior da igreja brasileira é de santidade e desapego às coisas e idéias desse mundo.
Pastor, parabéns por mais um belo artigo.
Abração do Eliot.
Olá,
ResponderEsses argumentos que o irmão realça são claros, reais e questionadores. A minha grande dúvida, porém(como calvinista),é saber se um reavivamento ou um novo despertar passa por resgatar esses príncipios que deram início à Reforma Protestante.Creio que se tiver que acontecer algo novo, extraordináriamente pertubador e belo(o que me parece improvável), não terá necessáriamente que ser baseado nesses valores reformados.Na verdade a fé tende a esfriar e a desaparecer,uma consequência dos tempos finais. Resta-nos torcer para que esses dias não cheguem em nossos dias.Até lá viveremos não-conformados, aguardando a vinda do Senhor. Não tenho ilusões acerca do papel da Igreja neste mundo.As denominações contríbuiram e muito para essa confusão teológica e relativista.Os arminianos são maioria no Brasil e no mundo e isso porquê? Porque os calvinistas se esconderam e deixaram de salgar e de ser luz nesta terra podre e escura. O mundo jaz no maligno e nós sabemos isso...
Caro Wilson Bento e demais irmãos,
ResponderDesculpem a demora em responder. Cheguei da África do Sul onde passei uma semana na assembléia geral da World Reformed Fellowship (Fraternidade Mundial Reformada). Tive o privilégio de ser nomeado, junto com mais doze teólogos de outros países, para um comitê que vai elaborar uma declaração de fé reformada que trate de questões contemporâneas. É um grande desafio.
Sobre seu comentário, o circuito teológico é geralmente esse: as idéias nascem na Europa, vão para os States onde são modificadas e finalmente descem ao Brasil. Há geralmente um gap de 10 anos entre o nascimento da idéia e sua chegada aqui. Por exemplo, a nova perspectiva sobre Paulo que está chegando aqui, eu já havia estudado a mesma em 95 nos States.
Chagando ao Brasil nos procure. Indicaremos uma igreja onde pelo menos o pastor deseja ser reformado!
Um abraço!
Marcelo,
ResponderExcelente reflexão! Realmente, ficamos quase sem opções para definir o cristianismo bíblico histórico em termos de hoje. Talvez fosse melhor mesmo pedir um tempo para explicar o que somos...:)
Adalberto,
As posturas que você leu no Orkut revelam isso mesmo que estamos mostrando, a agonia dos evangélicos (?) em se definir vis a vis as divergentes correntes que hoje carregam esse rótulo. Sua solução, que vai na mesma linha da proposta do Marcelo, realmente é a melhor. A melhor maneira de nos definirmos é vivermos o Evangelho de Cristo de forma coerente.
Um grande abraço aos dois.
Charles e Juan,
ResponderO trio Franklin-Gilson-Shedd (em ordem cronológica) é de arrebentar. E se incluirmos o Sayão (que eu não sei onde colocar na seqüência cronológica) vira um quarteto poderoso -- quem sabe deveríamos encorajá-los a inaugurar um blog a oito mãos! Já tenho até um nome: "O Tempora! O Mores -- versão batista" eh eh eh eh! :)
Um abraço!
Charles,
ResponderEu não conheço amigo algum que tenha ido ao Congresso. Apesar da grande divulgação, acho que eles tiveram menos gente do que calculavam e entre os que foram, tinha mais curiosos do que discípulos. Digo isso pensando na reação negativa que a dupla tem recebido de todos os quartéis evangélicos.
Contudo, o potencial para corromper a fé, ou no mínimo, confundir a igreja, é grande. Uma contra ofensiva só pode vir em termos de publicação (estamos trabalhando nisso) e quem sabe um evento.
Nossa confiança, contudo, é que os verdadeiros crentes não se deixarão iludir por "outros deuses", conforme está escrito, "Não terás outros deuses diante de mim".
Abraços.
Sobre o tal congresso...
ResponderO que me mais me deixa com a "pulga atrás da orelha" é
o fato de um líder batista de influência estar participando
de tal evento...
Fábio Franco
PARABÉNS, Augustus!!!
ResponderFico muito feliz com essa nomeação!
Realmente, é um grande desafio.
Quanto a mim, adoraria ter ido ao congresso do Gondim, só para espezinhar um pouquinho. :-)
Sobre a contra-ofensiva: estou dentro!!! :-))
Abração!
Charles, Adalberto, Wilson e Norma,
ResponderEstamos todos antenados para os desenvolvimentos da teologia do Teísmo Aberto (Open Theism) aqui no Brasil. É lamentável que líderes renomados estejam sendo os instrumentos para sua inserção no cenário evangélico brasileiro. É preciso sabedoria para saber o que fazer. Se damos muita atenção a algum movimento, ele pode ser menor do que pensamos e fica maior pelo espaço que damos a ele. Por outro lado, corremos o risco de subestimar o potencial corrompedor de um determinado ensinamento e sermos omissos. Ainda é relativamente cedo para um julgamento equilibrado. Aguardemos o que vem por ai.
Um abraço.
Eliot,
ResponderExcelente ponto. A melhor maneira de arrumar a cabeça e dar coerência à sua teologia é estudar teologia sistemática de forma regular. Quando a gente adota determinados pontos e não tem uma moldura maior dentro da qual esses pontos façam sentido em relação a outros, realmente nossa teologia vira uma colcha de retalhos. Tem gente pentecostal quanto aos dons, calvinista da soteriologia, pragmático na missiologia e arminiano no evangelismo. Recomendo a leitura regular e o estudo de teologias como Hodge, Berkhof, Grudem, e outras que sairam recentemente.
Um abraço.
Olá Daniel,
ResponderEu entendo sua pergunta: um reavivamento terá que necessariamente passar pelos valores da Reforma? Minha resposta é que qualquer reavivamento tem que passar pelos valores bíblicos. Como eu entendo que os valores da Reforma nada mais são que as antigas doutrinas da graça ensinadas na Bíblia, eu diria que um reavivamente verdadeiro tem que ser baseado somente nas Escrituras (Sola Scriptura), tem que ser centrado em Cristo e em sua obra completa (Solus Christos), tem que remover toda confiança própria e valorizar a graça de Deus na salvação dos pecadores (Sola Gratia) e tem que trazer esperança para pecadores perdidos (Sola Fide). E acima de tudo, deve buscar a glória de Deus (Soli Deo gloria).
Sobre o papel das denominações -- estamos vivendo uma época pós-denominacional, onde as pessoas se identificam entre si não tanto pelos vínculos denominacionais, mas pela teologia. O calvinismo corta barreiras denominacionais e ajunta batistas, pentecostais, presbiteriano e outros que nestas denominações e outras, amam as doutrinas da graça. Da mesma forma, dispensacionalistas, seguidores do outro deus, neopentecostais, etc.
A predominância do arminianismo no Brasil se deu por três fatores, até onde entendo. As denominações reformadas que aqui chegaram demoraram demais em implantar a teologia calvinista. Até hoje não temos os comentários de Calvino em português e só nas últimas décadas é que as Instituas foram traduzidas. Segundo, os batistas brasileiros largaram seu legado calvinista, ao contrário, por exemplo, dos batistas do Sul, nos Estados Unidos, que são, na grande parte, calvinistas. Terceiro, o crescimento espantoso dos pentecostais, que são arminianos.
Mas, considero os arminianos meus irmão em Cristo, como também todo calvinista, desde que ambos professem a Cristo como único e suficiente salvador e confiem nele somente para a salvação, e jamais em si mesmos, ou em nada que porventura tenham feito para essa salvação.
Um abraço.
Augustus,
Responder1) Sayão se encontra entre Gilson e Shedd em ordem cronológica.
2) Vamos incentiva-los a montar o tempora versão batista, ;), porém o Gilson já tem o dele que é excelente também.
3) Parabéns pela nomeação, que Deus te abençoe dando sempre graça e capacitade na empreitada do Reino.
Abração
Senhores e Senhoras,
ResponderUm O Tempora O Mores batista seria excelente. Eu até apontaria um trio bastante peculiar: Juracy Bahia-Evaldo Carlos dos Santos-Ed René Kivitz (este só para contrariar). Um abraço de um batistão.
Marcelo Hagah
João Pessoa-PB
Prezado irmão.
ResponderAs Solas são inquestionáveis. Elas não precisam de defesa porque fazem parte da Verdade escrita.
Porém deixe-me expor o meu ponto de vista de uma maneira mais européia. A Reforma tinha que se dar pelo o vazio teológico ou bíblico da época e pela necessidade da própria Verdade se impor e se dar a conhecer às várias classes sociais. A crise evangélica atual no Brasil segundo o meu ponto de vista, não passa pela falta de “conhecimento” ou desconsideração das verdades e promessas bíblicas, mas pela falta de sentido que elas fazem neste mesmo contexto. A maioria pensa e age meramente na experiência e razão humana e não na (e pela) experiência da fé.Tudo hoje é exageradamente emocional ou racional e isso diz muito da cultura evanngélica brasileira. Além disso, parece-me que a maioria dos crentes têm dificuldade em aceitar o fato de que as profecias(a terra geme e nós também...), estão se cumprindo.Sempre se acha que essas coisas não são para o nosso tempo.Cria-se uma ilusão (idealismo) acerca do que importa para mudar(no bom sentido) o contexto evangélico - uma ilusão idealista sintética, baseada no resgate da fé e experiência de personagens que nós consideramos super-heróis espirituais.
Talvez seja isso, a história está sendo encerrada, nada mais de novo acontece, nada mais nos surpreende, os super-heróis acabaram. Resta-nos aguardar debaixo do sol a visão do nosso Senhor como Ele é.Entretanto vamos pregando a Verdade para aqueles que hão-de crer.
Um abraço.
Em Cristo.
Pr. Daniel (Igreja Evangélica Congregacional de Passa Três, RJ)
Silvia,
ResponderA escolha do tema teologia relacional para uma monografia de conclusão de curso teria sido muito oportuna. É uma pena que não deu! Mas, não faltarão oportunidades no futuro, pois tudo indica que o assunto deverá esquentar um pouco.
Juan
Eu pensei que o Sayão era o mais vetusto de todos eles... :) Sim, o o blog do Gilson é muito bom, sou fã dele.
Marcelo,
Você acredita que na minha ignorância só conheço o Ed René dessa trinca? Preciso ser mais convidado para igrejas e eventos dos irmãos batistas...
Um abraço a todos!
Daniel,
ResponderBoa análise. De fato, o contexto brasileiro hoje é diferente do contexto da Europa do século XVI. Fico tentado a dizer que uma reforma da Igreja hoje certamente enfatizaria outros pontos, mas fico pensando na abrangência dos Solas. Cada um deles trata de um dos problemas cruciais que aflige o evangelicalismo moderno no Brasil. Não porque são mágicos, mas porque, como você mesmo disse, eles são bíblicos.
Tem mesmo muita gente enfocando experiência, de um lado, e outras muitas enfocando intelectualismo, do outro. Que tal o equilíbrio do puritanismo de Jonathan Edwards, por exemplo, um dos maiores filósofos americanos, e ao mesmo tempo, teólogo profundo, com muitas experiências reais com Deus?
Um abraço.
Dr. Augustus Nicodemus,
ResponderApresentei-lhe (agora são seis) mais três nomes de uma possível, como o senhor diz "trinca" batista. Bom, já que conhece o Ed René Kivitz e o Nílson Fanini, penso que uma boa trinca batista incluiria o Darci Dusilek que - eu penso - se o senhor não conhecer, já ouviu falar. Se for só os conhecidos, indico o Juan de Paula, jovem e forte.
Gratia et Pax.
Marcelo Hagah
João Pessoa-PB
P.S.: Paro por aqui, pois pretendo ler "Sobre a Guerra entre o Cristianismo e a Ciência".
Marcelo,
ResponderNão faltam bons irmãos batistas para produzir material de qualidade. Aguardo seu comentário em Guerra entre Religião e Ciência.
Um abraço.
boa tarde
Responderrev nicodemus
qual a opnião dos demais teologos batista presbiterianos e metodista em relação a aréa teologica que ricardo gondim e ed rene kiviz estão dentro
abs luca
A população evangélica do Brasil vem crescendo vertiginosamente. Já somos a terceira maior população evangélica do mundo. Damos graças a Deus por isso. No entanto, esta multiplicação explosiva traz conseqüências preocupantes.
ResponderA igreja passa a ser vista por alguns como um “grande negócio”. Isto suscita oportunistas, enganadores e aqueles que Cristo tachava de “falsos profetas”. Estimula também os bem-itencionados que, mal preparados teologicamente, lotam e ensinam doutrinas estranhas e destrutivas. Há grandes exageros em alguns ensinamentos relativos à maldição hereditária, por exemplo, assim como nas áreas da guerra espiritual, da teologia do domínio, da teologia da prosperidade, das curas e dos milagres etc. As vítimas desses ensinamentos são milhões de novos convertidos que mal conseguem discernir entre ortodoxia e heresia.
Que bom que existe uma saída para todo este problema! Qual a saída? Converter-se a única Igreja de Cristo, onde fora não há salvação, ou seja a Igreja Católica Apóstólica Romana
ResponderSalve Maria
Jesuan
jjkg@hotmail.com
Jesuan,
ResponderIsso seria um grande retrocesso. Não é uma solução, mas agravamento do problema. Nós já saímos da Igreja Católica exatamente pela idolatria, pelas doutrinas falsas, pelo culto falso, por ter um usurpador do apostolado de Cristo e por ter ensinado por séculos um Cristianismo falso. Voltar para lá? Para ser adorador de Maria quando somente Cristo é o único mediador entre Deus e os homens? Voltar para lá, para comer hóstia, quando Cristo ensinou que deveríamos comer o pão em sua mémória? Desculpe, preferimos ficar com os evangélicos, com todos os seus erros.
Concordo plenamente que este tipo de pensamento é prejudicial e diria também nocivo ao verdadeiro cristianismo. O que eu não entendo é como “muitos” lhe rotulam de fundamentalista como o senhor mesmo escreveu em seu livro O que estão fazendo com a Igreja no Capítulo 29 sobre o artigo Fundamentalistas e Liberais: “Muitos me chamam de fundamentalista” e encerra: “Não fico envergonhado quando me rotulam dessa forma, embora prefira o termo calvinista ou reformado”. Quero lhe dizer que sou fundamentalista denominacional e que também não me envergonho deste rótulo, afinal a semelhança dos puritanos ingleses que foram rotulados assim de forma pejorativa (embora saibamos que os puritanos também tiveram seus excessos); entretanto o que nos deixa intrigado é que em pleno Século XXI existam ainda indivíduos que não conseguem destingir os diferentes movimentos; entre os quais o fundamentalismo foi na história da igreja nos EUA e no Brasil. Acredito reverendo que a falta de atenção destes indivíduos ao estudarem o assunto seja a razão de serem superficiais e preconceituosos com suas subscrições para com a nossa denominação (Igreja Presbiteriana Fundamentalista do Brasil).
ResponderTinha um homem querendo jogar-se de uma ponte, então o outro disse:
Responder— Não faça isso!
— Ninguém me ama — ele respondeu.
— Deus te ama. Você acredita em Deus?
— Acredito — ele respondeu.
— Você é cristão ou muçulmano?
— Cristão.
— Eu também! — eu lhe disse. — Protestante ou católico?
— Protestante.
— Eu também! De qual denominação?
— Batista.
— Eu também! Batista da convenção batista do norte ou batista da convenção batista do sul?
— Da convenção batista do sul.
— Caramba, eu também! Batista da convenção batista regular do sul ou da convenção batista independente do sul?
— Da convenção batista regular do sul — ele respondeu.
— Eu também! Batista da convenção batista regular reformada do sul ou da convenção batista regular pioneira do sul?
— Da convenção batista regular reformada do sul.
— Puxa!! Eu também! mas você é da Batista da convenção batista regular reformada pentecostal do sul ou da convenção batista regular reformada carismática do sul?
— Da batista regular reformada pentecostal do sul.
— Então morra, herege! — e empurrou o sujeito.