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quinta-feira, maio 18, 2006

Por que o Barthianismo foi chamado de Neo-Ortodoxia

Karl Barth (1886-1968) certamente repudiaria a idéia de um movimento que levasse seu nome. O genial teólogo e pastor suíço, apesar de estar entre os maiores teólogos do seu século, jamais aceitaria isso. Apesar de tudo, com o estrondoso sucesso de seu ministério como pregador, professor e escritor, foi inevitável que as suas idéias dessem origem a um movimento ligado ao seu nome.

Esse movimento teológico nascido com Barth ficou mais conhecido como neo-ortodoxia. Há outros nomes ligados à neo-ortodoxia, como Emil Brunner e Richard Niebhur, mas nenhum deles supera o nome do professor de Basel.

Para que entendamos a razão pela qual o barthianismo veio a se chamar neo-ortodoxia é preciso que lembremos o momento histórico em que ele surgiu.

Após a Reforma, durante os séculos dezessete e dezoito, a Igreja protestante foi largamente influenciada por idéias originadas do Iluminismo. O racionalismo desejava submeter todas as coisas ao crivo da análise racional. Lentamente a razão humana começou a triunfar sobre a fé. O filósofo L. Feuerbach tentou transformar a teologia em antropologia, dizendo que tudo que se diz sobre Deus, na verdade, é dito sobre o homem. Ele influenciou grandemente K. Marx, S. Freud, R. Bultmann e F. Schleiermacher. Esse último desvinculou a fé cristã da história e da teologia, reduzindo a experiência religiosa ao sentimento de dependência de Deus. Somente depois ficaria evidente que era impossível construir uma teologia em cima de um terreno tão subjetivo, mas na época, e por mais de um século, Schleiermacher foi seguido por muitos e sua influência continua até hoje.

Na mesma época, surgiu o método histórico-crítico de interpretação da Bíblia, que negava a inspiração divina de seus livros e tratava-a como meros registros humanos falíveis e contraditórios da fé de Israel e dos primeiros cristãos. A confiança na Bíblia foi tremendamente abalada.

Esses desenvolvimentos dentro da Igreja e o movimento que surgiu associado a eles foi chamado de liberalismo. O liberalismo tinha uma perspectiva elevada do homem e acalentava a esperança de que o Reino de Deus poderia ser implantado nesse mundo mediante os novos conhecimentos científicos e tecnológicos trazidos pelo Iluminismo. Com isso, o Evangelho perdeu a sua exclusividade e força. A Igreja começou a secularizar-se, particularmente na Europa.

Então veio a I Guerra Mundial. As esperanças do liberalismo teológico e do humanismo em geral foram esmagadas. Perplexidade e confusão dominaram os cristãos da Europa. Surge a teologia da crise.

Foi nesse vácuo de referencial e autoridade que soou a voz de Karl Barth. Ele atacou o subjetivismo da religiosidade liberal, originada em Schleiermacher, porque se apoiava nas experiências e emoções humanas e não na verdade de Deus. Barth criticou a rendição da Igreja à psicologia e exigiu que ela se curvasse somente diante da absoluta autoridade da Bíblia. Não poupou críticas virulentas contra os críticos da Bíblia, especialmente por terem destruído a autoridade da Bíblia, deixando-a sem relevância para as pessoas de sua época e deixando a Igreja sem uma mensagem autoritativa.

Barth proclamou a necessidade de se ouvir outra vez a voz de Deus na Escritura, Deus esse que nos fala hoje, de maneira soberana. Seu apelo foi para que deixassem Deus ser Deus e que a Igreja retornasse às coisas divinas.

Barth se levantou contra tudo que era humano e que havia prevalecido dentro da Igreja desde a Reforma, começando com a religiosidade subjetiva de Schleiermacher, passando pelas idéias dos críticos, dos humanistas, até os conceitos dos liberais de seus dias. Ele queria que teólogos se ocupassem com as coisas divinas em vez de serem exclusivamente historiadores, arqueólogos, filósofos e cientistas da religião. Seus textos e mensagens vieram recheados de referências e exegese de textos bíblicos, que ele citava como autoridade.

Barth pregava fervorosamente sobre justificação, pecado, graça, eleição, temas fundamentais do pensamento reformado. Não demorou para que sua reação contra o liberalismo e seu apelo de retorno à Bíblia fosse entendido por muitos, liberais e conservadores, como o ressurgimento da antiga ortodoxia cristã, reinterpretada e adaptada à nova realidade, uma nova ortodoxia.

O impacto da neo-ortodoxia de Barth se fez sentir em todos os lugares. Muitos liberais foram obrigados a rever suas idéias e modificá-las. Muitos conservadores abraçaram a neo-ortodoxia, pois ela por um lado os tornava respeitáveis intelectualmente (por acreditarem na evolução e em alguns aspectos da crítica bíblica), e por outro, permitia que continuassem a usar a mesma linguagem dos evangélicos ortodoxos.

A neo-ortodoxia, na verdade, era uma tentativa de síntese entre a ortodoxia da Igreja e o liberalismo teológico, e sem dúvida alguma, nessa síntese, o liberalismo perdeu sua força. Mas, não só ele – a ortodoxia também já não seria a mesma.

Em que pese a dívida histórica que a Igreja tem para com a neo-ortodoxia, por haver enfrentado e detido o avanço do liberalismo em seus dias, essa dívida não pode ser teológica. Pois na verdade, em termos de conteúdo, o barthianismo tem pouca coisa em comum com a ortodoxia histórica da Igreja.

Mas, sobre isso escreverei num próximo post.

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Veja abaixo uma bibliografia resumida em português sobre K. Barth.

K. Barth em português e espanhol:

La Proclamacion del Evangelio. Salamanca: Ediciones Sigueme, 1969.

Dádiva e Louvor: Artigos Selecionados. São Leopoldo: Sinodal, 1986.

Introdução à teologia evangélica. São Leopoldo: Sinodal, 1996.

Romanos. São Paulo: Novo Século, 1999.

Fé em busca de compreensão. São Paulo, Novo Século, 2000.

Algumas poucas obras e artigos sobre Barth em português:

POLMAN, A. D. R. Barth. Recife, 1969.

SCHNUCKER, R.V. “Neo-ortodoxia”. In: ELLWEL, Walter (ed.), Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. vol. 3. São Paulo: Vida Nova, 1990, pp. 12-15.

FERREIRA, Franklin. "Karl Barth: uma introdução à sua carreira e aos principais temas de sua teologia”. In: Fides Reformata 8/1 (2003), pp. 29-62.

Obras gerais que mencionam Barth:

GUNDRY, Stanley (ed.). Teologia Contemporânea. São Paulo: Mundo Cristão, 1987.

HÄGGLUND, Bengt. História da Teologia. Porto Alegre: Concórdia, 1995, pp. 343-345.

OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Vida, 2001, pp. 585-605.

GRENZ, Stanley & OLSON, Roger. Teologia do Século XX: Deus e o Mundo Numa Era de Transição. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.

28 comentários:

  1. Rev. Augustus,
    Se por um lado Karl Barth foi um importante teólogo num momento crítico da História, o que há de errado com suas obras para serem chamadas de NEO-ortodoxia e não de ortodoxia propriamente dita?
    Um abraço,
    João

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  2. É a ortodoxia histórica da Igreja. Qual seja? Com que Barth não teria nada a ver? Não haveria ai, um certo reducionismo de uma obra impecável? Construida em meio a grandes guerras? Muitas vezes, com bombas ecoando ao longe (ou perto)?

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  3. Prezado Augustus. Meu nome é André Holanda. Sou recifense, pastor batista e professor no Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil (PE) nas áreas de filosofia e teologia. Tenho forte compromisso com a fé cristã histórica, dedicando-me atualmente aos temas de fronteira entre teologia e filosofia. Já há algum tempo venho acompanhando este blog com muita satisfação (embora seja a primeira vez que posto um comentário) e gostaria de parabenizá-lo. Tenho um blog (http://theo-philo.blogspot.com),ainda bastante modesto, onde quero postar textos nas áreas de filosofia, teologia e ética. Gostei da sua exposição introdutória sobre Barth, que é um teólogo genial (como vc bem o expressou!), mas ainda pouco lido e conhecido aqui no Brasil. Fica aqui o meu abraço sincero e aguardarei o restante do post sobre Barth para contribuir com uma apreciação crítica.

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  4. Augustus

    Além da perspectiva histórica de lutar contra o liberlaismo, é possível extrair algo de bom na teologia de Barth? Ou ela por completo fere a ortodoxia cristã?

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  5. Augustus,

    realmente Karl Barth é como sua teologia, paradoxal.

    Ainda que seu comentário da carta aos romanos tenha sido uma bomba na teologia liberal tornando Schleiermacher e Feuerbach ultrapassado, ainda sim manteve vinculos com alguns pontos da crítica bíblica como você mesmo mencionou.

    Os pontos fortes de Barth em minha opinião foram o resgate do brado Sola Scriptura, ainda que para Barth a Palavra de Deus fosse o verbo encarnado Cristo e não a Bíblia propriamente dita. Para Barth um encontro com Cristo existencialmente que tornava a Bíblia palavra inspirada, pois a inspiração verbal era o Cristo.

    Barth cria na trindade de maneira ortodoxa, cria na salvação eterna, mas o silêncio sobre o inferno na dogmática eclesiástica gerou uma ambíguidade se Barth era universalista ou não, um ex foi uma pergunta: "Barth, todos serão salvos? R: Não! Mas por que não?"

    Outro ponto fraco dele era trabalhar com Deus transcendente rejeitando a imanencia de Deus e sua atuação na história, não trabalhando com categoria histórica. Ainda que ele estivesse reagindo contra o liberalismo, foi para outro extremo. Então a leitura de Cristo e o Tempo de Oscar Culmann , são colocadas críticas a Barth, Bultmann, Schweitzer e C.H. Dodd, pois Cristo é o evento central da história linear.

    Ainda que ele pertencesse a tradição reformada, a teologia paradoxal de Lutero exerceu gde influência sobre ele.

    Nessa tentativa de conciliar a ortodoxia e a crítica Barth deixou uma enorme falha: Como dizer o que é e o que não é Palavra de Deus nas Escríturas? Qual o critério?

    Nisso, creio que Não se pode comprar o pacote de Barth, mas da para usa-lo alguns de seus pontos no que afirma a ortodoxia apoiada na Bíblia para refutar liberais.

    Fred Klooster, Cornelius Van Til e Colin Brown foram teólogos conservadores que tentaram entender e críticar Barth.

    Gostaria de indicar + 2 artigos:

    PIERATT, Alan: Era Karl Barth um evangélico? Vox Scripture.

    FERREIRA, Franklin. Uma introdução a Karl Barth e sua teologia. Fides Reformata, 2003.1

    Também tem: Palavra de Deus e Palavra dos Homens, Fé em busca de compreensão, proclamação do evangelho, credo apostólico, Pai nosso e recém lançada dogmática (condensada) todos pela novo século.

    Acho que ficou grande, desculpa!!!!!!

    Abração, :)

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  6. Prezado Rev. Augustus,

    Texto muito bom. Demonstra equilíbrio e honestidade, além de sólido conhecimento de história da teologia. O único defeito é ter deixado a gente com aquele "gostinho de quero mais". Aguardarei ansioso pelo próximo post.

    Um grande abraço,

    Marcos M. Grillo

    P.S.: ainda não comecei a ser seu livro, mas garanto que ele é o próximo da fila!

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  7. Rev. Augtustus,

    Quanto à doutrina da eleição parece-me que Barth tinha um conceito um tanto heterodoxo: Na cruz, todos homens forem eleitos e reprovados... Não é isso? Foi o que eu entendi lendo o comentário de Romanos dele.

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  8. Charles,

    é isso mesmo, Barth tentava "equilibrar" , digamos assim, a doutrina da predestinação, mas engraçado e pelo incrível que pareça, ela foi fundamental no pensamento dele. Para Barth, só os eleitos recebiam a palavra de Deus (Cristo), então 1o vinha trindade e depois eleição-predestinação na ordem de sua dogmática.

    G. Berkouwer foi o que melhor entendeu e explicou e doutrina da eleição em Barth no seu texto "O triunfo da graça em Karl Barth" ainda não publicado em português. Para Barth toda a humanidade era eleita e reprovada em Cristo (Romanos 5) o que dava margem para o universalismo de Barth, toda a humanidade é predestinada, via graça soberana de Deus. Meio esquizofrenico mesmo, assim como a teologia de Barth.

    Augustus,

    esqueci de indicar + um texto: Teologia do séc XX: Rosino Gibellini , ed. Loyola. Em minha opinião o melhor livro de teologia contemporânea.

    Abração,
    Juan

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  9. João de Séllos,

    Barth de fato foi um importante teólogo e não podemos negar a sua importância em deter em parte o avanço do liberalismo alemão clássico.

    Suas idéias não podem ser chamadas de ortodoxia porque em parte divergem frontalmente da ortodoxia histórica da Igreja, muito embora use a terminologia ortodoxa característica. O uso da terminologia com conteúdo diferente e os ataques ao liberalismo acabaram fazendo com que o movimento associado ao seu nome fosede chamado de NEO-ortodoxia, e não ORTODOXIA propriamente dita.

    Abraços.

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  10. Lou,

    Quando me refiro à ortodoxia histórica, quero dizer as crenças clássicas do Cristianismo histórico, consubstanciadas no Credo Apostólico, na produção literária dos reformadores e nas grandes confissões reformadas. Delas, quero destacar a doutrina da inspiração e infalibilidade das Escrituras. Penso que é aqui que reside a maior diferença entre a neo-ortodoxia e a antiga ortodoxia.

    Você considera a obra de Barth "impecável" e nisso você tem mais fé nele do que eu em Calvino! Seu valor é inquestionável, mas que foi perfeita ou sem defeitos, é disputado.

    Não pretendo reduzir a obra de Barth. Eu só estava querendo esclarecer algumas diferenças entre o pensamento dele e o pensamento da chamada ortodoxia. No que Barth estiver certo e a ortodoxia errada, creio que devemos lhe dar o crédito. E vice-versa.

    Um abraço.

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  11. Prezado André Holanda,
    Saudades do meu Recife!

    Obrigado por ler nosso blog. Ficamos sempre enriquecidos com comentários de leitores de seu nível.

    Não espere muita coisa sobre Barth em posts vindouros. Estou apenas destacando da vasta obra de Barth alguns pontos que considero centrais e nos quais, na minha leitura, ele se afastou da ortodoxia. Há muita coisa escrita sobre Barth e do próprio Barth até mesmo em português (veja a bibliografia ao final do meu post) e não pretendo repetir o que já foi dito nessas obras sobre ele. Umas breves comparações e é só.

    Seus comentários serão muito bem vindos.

    Um abraço.

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  12. Meu caro JP,

    Além da perspectiva histórica de lutar contra o liberlaismo, é possível extrair, sim, algo de bom na teologia de Barth.

    Ela fere a ortodoxia cristã em alguns pontos, em meu entendimento. Um deles é o conceito de revelação-Palavra-Escritura, que deverá ser objeto do próximo post.

    Um abraço.

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  13. Juan,

    Obrigado pelo comentário substancioso. Eu sei que você teve verdadeiras aulas práticas sobre Barthianismo e neo-ortodoxia ao vivo onde estudou e seus insights e sugestões são bem vindos. Num próximo post abordarei as diferenças entre a neo-ortodoxia e a ortodoxia no que diz respeito à doutrina da Escrituira, ponto que considero crucial.

    Um abraço.

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  14. Grillo,

    Obrigado pelo comentário, espero que goste do livro!

    Charles,

    A doutrina da eleição é outro dos pontos em que Barth se distancia da ortodoxia. Mais sobre isso no futuro.

    Um abraço!

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  15. Augustus,
    Existe alguma base de dados confiável na internet que eu possa utilizar para procurar referências a teólogos?
    Ou só comprando o livro?
    Abraços

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  16. Augustus aqui é o André Holanda. O último comentário foi meu. Embora eu não tenha nada contra o TEVEZ, o blog não aceitou minha senha e me deu o nome dele. Pelo menos o hermano é bom de bola...rs

    Vou repetir, então, o que escrevi:

    Prezado Augustus,
    obrigado pelas palavras gentis. Os posts que vcs têm colocado aqui -como este seu por exemplo -convidam à reflexão honesta, levando cativo todo o pensamento a Cristo e mostrando a relevância da ortodoxia cristã nesses tempos de pluralismo. Por isso, tenho aprendido com as suas reflexões e sido despertado para um maior engajamento na defesa da fé cristã. Com certeza tenho sido enriquecido vindo aqui!

    PS- A propósito, aqui em Recife todos os cinemas onde o Código da Vinci está sendo apresentado estão com lotação esgotada. nas livrarias daqui as vendas do livro estão também em alta. Já é o livro de cabeceira de muita gente. Esperemos uma grande onda de ceticismo pela frente! Saudações deste recifense.

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  17. Caro Nicodemus,

    Quero te perguntar algo que pouco tem a ver com o conteúdo do tópico. Ao estudar um pouco da história do presbiterianismo no Brasil,verifiquei, em relação aos cismas decorrentes do avanço do liberalismo no seio da IPIB, que na década de 40 surgiu em São Paulo a denominação nitidamente liberal "Igreja Cristã de São Paulo". Que fim teve essa igreja? Ela se juntou posteriormente a alguma denominação como a IPU?

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  18. Outra pequena indagação.

    Feuerbach chegou a influenciar Schleiermacher no final da vida deste?

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  19. Caro Anônimo,

    Não sei muita coisa, a não ser isso mesmo, que em 1942, um grupo de intelectuais considerados liberais retirou-se da IPI e formou essa Igreja. Talvez algum de nossos leitores queira comentar e nos dar mais informações.

    Um abraço.

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  20. Caro anônimo II,

    Conforme consulta feita ao Dr. Hermisten, nosso especialista em teologia contemporânea, a pergunta fica um pouco estranha, visto que quando Schleiemacher (1768-1834) morreu Ludwig Feuerbach (1804-1872) era ainda muito jovem (considerando intelectualmente) para ter exercido alguma influência em Schleiermacher.

    Um abraço.

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  21. Caro Nicodemus,

    Obrigado por responder às minhas indagações.

    Em relação à primeira, isso se deve ao meu desejo de acompanhar o desenvolvimento(nocivo, evidentemente) do liberalismo teológico em nosso país. Estudar a doença para tratamento preventivo.rsrsrs

    No tocante à segunda, a pergunta pareceu estranha mas se deve a uma leitura apressada do seguinte trecho do blog:

    "Após a Reforma, durante os séculos dezessete e dezoito, a Igreja protestante foi largamente influenciada por idéias originadas do Iluminismo. O racionalismo desejava submeter todas as coisas ao crivo da análise racional. Lentamente a razão humana começou a triunfar sobre a fé. O filósofo L. Feuerbach tentou transformar a teologia em antropologia, dizendo que tudo que se diz sobre Deus, na verdade, é dito sobre o homem. Ele influenciou grandemente K. Marx, S. Freud, R. Bultmann e F. Schleiermacher. Esse último desvinculou a fé cristã da história e da teologia, reduzindo a experiência religiosa ao sentimento de dependência de Deus. Somente depois ficaria evidente que era impossível construir uma teologia em cima de um terreno tão subjetivo, mas na época, e por mais de um século, Schleiermacher foi seguido por muitos e sua influência continua até hoje."

    Mas só agora percebi que o "ele influenciou" se referia ao racionalismo, e não a Feuerbach.rsrss.
    Leitura apressada, pergunta ilógica.rsrs

    Um abraço,

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  22. Caro Anônimo -- dá para dizer seu nome, ou ver ter que brigar com você como Jacó no Jaboque?

    Você está certo, a referência é ao racionalismo, mas o texto não é claro. Ficou ambíguo. Obrigado pelo comentário.

    Abraços.

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  23. Querido Reverendo Nicodemus, GRAÇA E PAZ DA PARTE DE NOSSO SENHOR.

    Muito me agradou a leitura dessa nota sobre o Pastor Karl Barth e seu pensamento neo-ortodoxo
    encontrada em seus escritos. Parabens!

    abraço forte. Pr Clevis

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  24. Bem, falar de Barth, principalmente quando inserido contexto presbiteriano brasileiro, fortemente influenciado pelo putitanismo anglo-saxão, não é tarefa fácil, visto que muitos reformados que se apoiam nesta tradição, raramente vão às fontes primárias para tirarem, por si só, suas conclusões. Isto é verdadeiro em sua relação com o que denominam (quase sempre com um espírito inquisidor e intolerante) de neo-ortodoxia. Poucos presbiterianos brasileiro, por exemplo, conhecem ou já leram as obras de Barth. No entando, são muito celeres em apresentar seus pontos de vista, muito dos quais infundados e "caricaturescos", acerca de Barth, vida e obra. O conhecimento que tomam deste, quase sempre é por meio de leituras de terceira mão; Os fundamentalistas brasileiros semprem dependem das migalhas que caem da mesa de seus gurus teológicos prediletos para se "alimentarem"; poucos se habilitam a investigar não somente os pressupostos do pensamento barthiano, bem como também suas influências, quer os provindos de sua militância pregressa no liberalismo, quem em sua nova fase, em que ele abraçou a velha ortodoxia, embora ainda tivesse continuado a expressar muitos conceitos da teologia clássica em termos de categorias consagradas pela alta-crítica. No entanto, Barth, firmou-se um teólogo plenamente conectado com a fé reformada e com o Cristianismo histórico clássico. Talvez seja ele taxado de heterodoxo, por muitos mal informados, devido a sua forma dialética de expressar as doutrinas centrais do Cristianismo e da Reforma. Todavia, não existe uma tal mudança substancial em relação à ortodoxia clássica, no pensamento de Barth. Ele diferiu de muitos em sua forma de expressar os fundamentos. Barth era um calvinista apaixonado. É admirável o fato de que, um ex-teólogo liberal, tenha se tornado um inveterado pesquisador, estudante e expositor do pensamento de João Calvino. O teólogo reformado suíço, fez o caminho inverso dos fundamentalistaa: enquanto estes continuaram a "desenvolver" e, por que não dizer, a "alterar" o calvinimso de Calvino, Barth voltou às fontes. "Ad Fontes" era um dos compromissos práticos e teóricos de Karl Barth. Enquanto que muitos enxergavam no puritanismo a expressão magna da fé reformada e outros se contentavam com o sitema hermenêutico hermeticamente fechado fruto do escolasticismo protestante - e que encontrou sua expressão máxima na teologia da Old School - que representa uma síntese da teologia reformada pós-calvinista com a filosofia escocêsa do Senso Comum, Barth veio a representar um enorme estímulo e encorajamento à sua posteridade, para um retorno ao Calvinismo Clássico, aquele típico do Século XVI. Barth, sem exageros, é o teólogo de grande expressão do século XX, mais alinhado com o pensamento de Calvino e dos demais reformadores.

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  25. O comment do Leon Gabai de Morais é o típico exercício de mistificação. Ele supõe sem prova que os outros não leram K. Barth; ou que somente ele tem o acesso às fontes ou o domínio do inglês ou do alemão (a língua que falaremos no céu, já que será necessário a eternidade para aprendê-la) para ler os escritos de K. Barth. Na verdade, ele mesmo parece não ter lido ou Calvino, ou Barth, ou ambos. Convido os leitores a lerem o texto "a eleição de Deus em graça" na coletânea Dádiva e Louvor (citada no texto acima) e comparar as conclusões de K.Barth sobre este tema com o que Calvino escreveu nas Institutas vol. III caps. 21-24. Isto ai é um exercício de ir a fontes primárias e comparar as diferenças óbvias entre estes dois teólogos. O que o teólogo de Basel fez foi reinterpretar segundo outras categorias (cristológicas ou, segundo seus críticos, cristonomistas) os temas centrais da reforma. Isto fica evidente pela leitura dos dois textos. É inegável a genialidade e profundidade de K. Barth (especialmente no tempo em que ele trabalhou com Charlotte von Kirschbaum). Mas daí afirmar que "não existe uma tal mudança substancial em relação à ortodoxia clássica, no pensamento de Barth" é ou exercício de retórica destituida de conteúdo ou, pior, mais um caso de analfabetismo funcional. Ele podia ser "um calvinista apaixonado" (tinha o quadro de Calvino ao lado do de Mozart em seu escritório) mas ele mesmo reconheceu ter modificado elementos centrais da fé do próprio Calvino (como Escritura, justificação e eleição, para ficar somente nestes temas), como se pode ver no texto escrito por ele em 1938 sobre a divina eleição.



    Goel

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  26. Sr. Anônimo da Silva: Talvez não seja eu o ignorante ou o analfabeto funcional da vez... rsrs Reitero que, de fato, jamais conheci um fundamentalista sequer que tivesse lido pelo menos um livro inteiro de Barth... pegam sempre comentários, do comentário dos comentários... fontes terciárias, quaternárias, etc... Outra coisa: eu não fizera, como poderá notar abaixo, uma afirmação categórica sobre o barthianismo, apenas emitira um juízo de valor. No entanto, não deixei de observer o fato de que, Barth expressou de forma dialética os fundamentos da fé cristã e, por certo, admiti, que o teólogo suíço, mantivera-se "dependente" de certos aspectos formais e teóricos consagrados pela crítica, mas que, no entanto, não alterara "SUBSTANCIALMENTE", os fundamentos da fé cristã. Será que a doutrina da predestinação é um desses fundamentos??? Lamento se você, Sr. Anônimo da Silva, pensa que sim. Sou barthiano, mas não um defensor incondicional do seu pensamento, afinal de contas, não sou um FUNDAMENTALISTA. Me afasto de Barth em algumas nuanças de seu pensamento... por outro lado, pude me aproximar dele, em muito, na medida em que vim a constatar, em sua teologia, uma expressão muitíssima coerente, porém atualizada, da teologia cristã histórica e do a teologia reformada. Enfim, considero Barth um cristão convervador. E eh a partir de Barth, que posso discernir, com bastante clareza, o que seja conservadorismo, por um lado, e fundamentalismo, por outro.

    Por gentileza, Sr. Anônimo da Silva, reflita nesta simples e nada enigmática afirmação que eu fizera, no post anterior:


    "Embora ainda tivesse continuado a expressar muitos conceitos da teologia clássica em termos de categorias consagradas pela alta-crítica. No entanto, Barth, firmou-se um teólogo plenamente conectado com a fé reformada e com o Cristianismo histórico clássico...Talvez seja ele taxado de heterodoxo, por muitos mal informados, devido a sua forma dialética de expressar as doutrinas centrais do Cristianismo e da Reforma. Todavia, não existe uma tal mudança substancial em relação à ortodoxia clássica, no pensamento de Barth. Ele [apenas, enfatizo]diferiu de muitos [ou de todos os fundamentalistas] em sua forma de expressar os fundamentos."

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  27. Puxa, Leon Gabai de Morais, vc afirmar que "jamais conheci um fundamentalista sequer que tivesse lido pelo menos um livro inteiro de Barth" é passar atestado de ignorância ou de má-fé. Por um lado, por confundir "fundamentalista" com conservador/evangelical. Por outro lado... vc já leu alguma linha de Geoffrey Bromiley? Ou de Cornelius Van Til? Ou de G.C. Berkouwer e sua obra The Triumph of Grace in The Theology of Karl Barth, reconhecida por Barth como uma das melhores interações com sua teologia? Isto só para ficar em poucas reações ao teólogo suíço. Chega a ser constrangedor ter que ler um negócio desses de um "ilustre" anônimo. Vc afirmar que Barth não alterou "fundamentalmente" (em caixa-alta, que em linguagem cibernético dá a idéia de que vc está gritando) nenhum dos artigos fundamentais da fé cristã também revela que ou vc não conhece a teologia de Barth ou não conhece o que é a fé cristã histórica. Acho q vc não leu ou não conhece os textos de Calvino e Barth que citei. hehe Sua resposta é contraditória. Primeiro vc sugere que a predestinação (um tema em que qualquer leitor de Barth sabe que ele modificou a compreensão tradicional) não é central à fé cristã; mas, ao fim, vc afirma que o teólogo suíço é "uma expressão muitíssima coerente, porém atualizada" da fé reformada... sendo que a doutrina clássica da predestinação é um dos temas centrais da fé reformada, como vc pode ver, por exemplo, nos escritos de Calvino e, especialmente, de Lutero (a quem Barth tinha tanto débito) em sua obra De Servo Arbitrio ou no estudo das confissões reformadas da época. Eu usei o tema da predestinação justamente por vc afirmar toscamente que Barth é o teólogo "mais alinhado com o pensamento de Calvino e dos demais reformadores". Qualquer graduando de teologia sabe da importância da doutrina da predestinação nos debates da Reforma. Como se vê, o que vc continua fazendo é um exercício de mistificação. Reafirmo: acho que, no fim, nem vc conhece a teologia da Reforma, nem de Karl Barth muito menos a história da interação ortodoxa com a teologia bartiana.



    Goel

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  28. Caro Anônimo,
    Num plano menos escolástico (disputas típicas de conservadores/evangelicals), sim conheço muito bem, Van Til, Machen, entre outros )ex)professores de minha escola de formação teológica, o WTS, em Philadelphia.
    Tudo que tenho a dizer, é que após passar por aulas de sistemática naquela instituição, tornei-me luterano, após 30 ou mais anos de IPB.
    Por quê? Porque após viver 7 anos na Alemanha, frequentando igrejas Reformadas, cheguei à conclusão de que não, não é a teologia da IPB ou da PCA que define o que é ortodoxia reformada, exitem MUITAS outras correntes não menos critãs, não menos ortodoxas.
    Pra mim, hoje, o prefácio de "Practice in Christianity" de Kierkegaard é muitíssimo mais relevante do que qualquer canon Reformado, seja, Scots, Helvética, Westminster, Guanabara, sei lá... pegue o que quiser.
    E segundo porque, a justificação, é o que REALMENTE importa, no Ordo Salutis.
    Se existe alguma posição reformada que me agrada hoje, seria a do hiper-Calvinismo, e, sim... concordo com Lloyd Jones, que se você não for confundido com um antinomista, não está pregando de fato cristianismo.
    Como indicou Lutero: "Tudo que você quiser saber sobre Deus, olhe para a cruz de [e com] Cristo, o resto [meu caro] é irrelevante!
    Continuem pregando a Lei, seu terceiro uso, e colaborem assim para tornar , cada dia mais, o sangue derramado na cruz, cada vez menos significativo.

    Mas, como dizia um pastor amigo canadense: "meu palpite vale tanto quanto você está pagando por ele".

    Saudações cristãs,
    Rev. Michel Nahas Filho

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