Há alguns meses atrás, se ouvisse a expressão “igreja emergente” certamente pensaria que se tratava de algum estudo sobre a igreja neotestamentária nos primeiros séculos de nossa era. Hoje, depois de pensar que estive fechado em um quarto sem receber notícias do mundo por uma década, sei que a "igreja emergente" é um movimento crescente dentro da igreja evangélica nas duas últimas décadas. Já existe um bom número de livros escritos sobre o assunto assim como dezenas de sites e blogs emergentes ao redor do mundo (ver leituras ao final). Como o material é extenso e "confuso", vou tentar demonstrar, com definições próprias dos emergentes, exemplos do que é este movimento.
Primeiro, a definição:
[sic] A igreja emergente é um movimento da Igreja Protestante, iniciado por americanos e ingleses, com a finalidade de alcançar a Geração Pós-moderna. Refletindo as necessidades e os valores percebidos desta geração, as igrejas emergentes enfatizam o autêntico, a expressão criativa e uma perspectiva sem julgamentos, procurando reavaliar as doutrinas (ecclesia reformata, semper reformanda...). Igreja emergente é simplesmente um termo usado para denominar as igrejas que nasceram ou que foram [re]estruturadas para um contexto pós-moderno, pós-cristão de ser Igreja no Mundo de hoje. (http://igrejaemergente.blogspot.com/
2006_01_01_igrejaemergente_archive.html)
Uma sintese da definição acima seria:
a. um movimento da igreja protestante;
b. tem a finalidade de alcançar a geração pós-moderna;
c. ênfase: o autêntico, a expressão criativa e uma perspectiva sem julgamentos, procurando reavaliar as doutrinas;
d. origem: igrejas que nasceram ou que foram [re]estruturadas para um contexto pós-moderno, pós-cristão de ser Igreja no mundo de hoje.
Tendo lido um bom número de livros sobre a igreja emergente, tanto de emergentes quanto de analistas do movimento, me aventuro a dizer que a descrição é uma boa tentativa de se definir o movimento emergente. Digo "tentar definir" em razão de que a "igreja emergente", sendo característicamente pós-moderna, é quase indefinível. Outro post, no mesmo blog, confirma a idéia:
[sic] As igrejas emergentes não possuem sistemas ou fórmulas, são variáveis conforme o contexto cultural, interdominacionais, não podem ser copiadas, não possuem uma doutrina definida e sim procuram expressar Deus em diversas formas, tentando desconstruir as barreiras que as denominações impuseram. Existe uma variedade de Igrejas Emergentes com diferentes interpretações teológicas em que elas acreditam. Somente porque você ouviu dizer que uma Igreja é "Emergente ", não significa que elas possuem os mesmos valores ou praticam as mesmas coisas. (http://igrejaemergente.blogspot.com/
2006_01_01_igrejaemergente_archive.html)
Observa-se a ênfase à que “não possuem posição doutrinária definida”, não possuem fórmulas, e, até mesmo, a "igreja emergente" evita qualquer idéia de um credo ou confissão. No site emergent-us, um dos links na página inicial é “Declaração de Fé(?)”, onde é explicado pelo coordenador nacional, Tony Jones, que a idéia de ter uma declaração de fé é “descer por uma estrada na qual não queremos andar”.[i] Logo, estamos diante de algo que existe como um movimento, mas, ao mesmo tempo, pela sua fluidez de suas propostas, é essencialmente caracterizado pela ambigüidade. Podemos dizer que a "igreja emergente" é, na verdade, uma filosofia que não quer se definir. Isto não implica, no entanto, que não se possa entender o que está por trás do movimento.
Uma primeira característica do movimento emergente é o seu PROTESTO contra os modelos tradicionais de igreja do período moderno. Dizem os emergentes que a igreja evangélica deste período é marcada por características que a fazem incompatível com a pós-modernidade. Uma das marcas do protesto é a aversão ao absolutismo, ou seja, a forma de pensar do modernismo, que admite o conceito de verdade absoluta com bases fundacionalistas. Deduz-se que a primeira forma de oposição encontrada no discurso de vários líderes emergentes é a antítese ao pensamento bíblico da verdade revelada por Deus nas Escrituras e até então compreendida pela igreja. Na visão de vários destes líderes, a igreja da era da modernidade foi marcada pela cultura "inautêntica". Mike Yaconelli, outro expoente emergente, editou Stories of Emergence: Moving from Absolute to Authentic (Estórias de Emergência: movendo-se do absoluto para o autêntico).[ii] No livro encontram-se narrativas de vários líderes emergentes batendo na seguinte tecla: a autenticidade não esta presente na igreja; é necessário que a igreja se torne autêntica.
Carson expõe o protesto do movimento emergente em três frentes: o protesto contra a igreja evangélica tradicional, contra a forma que interpretam o modernismo e contra a igreja "seeker sensitive", isto é, voltada para os interessados.[iii] Além dos três pontos observados por Carson, destaco o protesto contra os conceitos de autoridade e hierarquia. É comum encontrar nos relatos emergentes a noção de que as estruturas eclesiásticas do modernismo e suas hierarquias são anti-bíblicas. Em igrejas emergentes não se encontram pastores titullares, bispos, etc. As hierarquias são anátema.
Um dos mais reconhecidos líderes do movimento, Brian McLaren, com vários livros escritos, propõe que o cristianismo adote o que ele chama de 'uma ortodoxia generosa'. Em seu livro com este título, Generous Orthodoxy, McLaren declara a essência de seu PLURALISMO:
Por que eu sou um cristão missional, evangélicos, pós protestante, liberal/conservador, místico/poético, bíblico, carismático/contemplativo, fundamentalista/calvinista, anabatista/anglicano, metodista, católico, verde, incarnacional, depressivo-mas-esperançoso, emergente e não-acabado.
Ser todas estas coisas ao mesmo tempo é a essência de sua proposta de "ortodoxia". A expressão desconstruir é freqüente em seus escritos e inclui uma alta dose de INCLUSIVISMO, ilustrado na sentença “Pense em um corte transversal numa árvore. Cada anel representa, não a substituição dos anéis anteriores, não a sua rejeição, mas a sua adoção, a sua inclusão em algo maior”.[iv] Assim se forma o conceito da ‘ortodoxia generosa emergente’, uma espécie de pensamento inclusivista que nunca termina, está sempre emergindo em algo novo. Simon Hall, líder da comunidade Revive, em Leeds, Reino Unido, afirma: “Meu alvo para a comunidade não é ser ‘pós’ tudo. Nós somos evangélicos e carismáticos e liberais e ortodoxos e contemplativos e ligados a justiça social e ao culto alternativo”.[v]
Para Mclaren o que os evangélicos precisam é do novo cristão, de uma nova forma de seguir a Jesus que emerge dos escombros do cristianismo dividido por lutas teológicas, negligência das responsabilidades sociais e da tirania do capitalismo conservador da modernidade. Para ele, "Cada um desses novos desafios [da pós-modernidade] requer que líderes cristãos criem novas formas, novos métodos, novas estruturas – e requer deles que encontrem novo conteúdo, novas idéias, novas verdades e novo significado que sustente os novos desafios. As novas mensagens são incompatíveis com o evangelho do reino que Jesus ensinou. Não, elas são inerentes a ele, mas, previamente, não descobertas, não expressas, talvez não imaginadas".[vi]
Segundo o pensamento emergente, o cristianismo do modernismo foi fundamentado no monoteísmo racional, religião proposicional, com uma sistemática local e uma verdade individualista. Já na era pós-moderna o cristianismo se fundamentará no pluralismo experimental, narrativa mística, fluida, global, e preferência comunal/tribal.
Essa é a redefinição ou desconstrução do conceito MISSIONAL. Segundo McLaren
. . . a fé cristã missional afirma que Jesus não veio fazer algumas pessoas salvas e outras condenadas. Jesus não veio ajudar algumas pessoas a serem corretas e enquanto deixa todas as demais erradas. Jesus não veio para criar outra religião exclusiva – o judaísmo sendo exclusivamente baseado em genética e o cristianismo sendo baseado exclusivamente na crença (o que pode ser um requisito mais difícil do que a genética).[vii]
Nesse sentido, ser missional é ser absolutamente inclusivista.
Como tudo isto pode ser relevante dentro da discussão da neo-ortodoxia e que relação todas estas coisas têm conosco? Um dos mecanismos fundamentais no pensamento emergente é, exatamente, recorrer às categorias da neo-ortodoxia para manter o linguajar bíblico e uma piedade escriturística aparente, negando, entretanto, o fundamento histórico da fé cristã bíblica. Compare as idéias acima com a tabela que Solano publicou em seu último post e você verá um retrato da neo-ortodoxia.
Num próximo post pretendo demonstrar as conseqüências dessas idéias conforme têm se apresentado na prática da “igreja emergente” e seus contrastes com o cristianismo bíblico.
BIBLIOGRAFIA E LEITURAS:
[1] CARSON, D. A. Becoming conversant with the emerging church : understanding a movement and its implications;
CAMPOS, Heber. O pluralismo do pós-modernismo. Fides Reformata 2/1 (1997), p. 5-28.
GIBBS, Eddie e BOLGER, Ryan, Emerging churches: creating Christian community in postmodern cultures. Grand Rapids, Baker Academics, 2005.
JOHNSON, Phil. A critical look at the emerging church movement. http://emergentno.blogspot.com/2006/03/phil-johnson-critical-look-at-emerging.html (acesso em 11-04-2006).
KIMBALL, Dan. The emerging church. Zondervan, 2003.
McLAREN, Brian. A new kind of Christian. San Francisco: Jossey-Bass, 2001.
McLAREN, Brian. A generous orthodoxy: why I am a missional, evangelical, post/protestant, liberal/conservative, mystical/poetic, biblical, charismatic/contemplative, fundamentalist/calvinist, anabaptist/anglican, methodist, catholic, green, incarnational, depressed-yet-hopeful, emergent, unfinished Christian. Zondervan, 2004.
YACONELLI, Mike, editor. Stories of Emergence: Moving from Absolute to Authentic. Grand Rapids: Zondervan, 2003.
NOTAS DE FIM
[i] JONES, Tony. Doctrinal Statement(?).http://emergent-us.typepad.com/emergentus/2006/05/doctrinal_state.html (acesso em 08-05-2006).
[ii] YACONELLI, Mike, editor. Stories of Emergence: Moving from Absolute to Authentic. Grand Rapids: Zondervan, 2003.
[iii] CARSON, Becoming Conversant, p. 36-41.
[iv] McLAREN, A generous orthodoxy, p. 276-277.
[v] Entrevista citada em GIBBS e BOLGER, Emerging churches, p. 38-39.
[vi] McLAREN, Generous Orthodoxy, p.192-193.
[vii] McLaren, Generous Orthodoxy, p. 109-110.
Mauro,
ResponderExcluirParabéns pelo post e pela introdução desse assunto relativamente desconhecido do evangelicalismo brasileiro. Embora esse movimento seja americano e europeu, já tem adeptos no Brasil. Trata-se realmente da nova (e nem por isso correta) fase do evangelicalismo no mundo. No Brasil, a igreja emergente será adaptada e alterada ao sabor das predominâncias da teologia neopentecostal, assim acredito. Mas as suas idéias já estão presentes em ministérios e comunidades neo-ortodoxas.
Um abraço.
Nossa...
ResponderExcluirMais uma onda de idéias dentro do protestantismo...e perversa...como sempre
E o pior, isso já reflete uma tendência verificada nas igrejas mundo afora...o relativismo e o subjetivismo...
Ou seja, a ditadura do pluralismo!
O ideal de pluralismo não passa de uma imposição...
Mauro, na sua opinião, porque grande parte da cristandade protestante necessita e precisa mudar a "teologia" e a "forma"...
Abraços
JP
e a caça aos hereges continua!
ResponderExcluiracendam-se as fogueiras contra os infiéis!
Augustus,
ResponderExcluirA "emergência" é multifome e se adapta facilmente. Já há algum tempo que me preocupa o casamento entre o neo-pentecostalismo e neo-ortodoxia (a princípio, parecem incompatíveis...). Ainda vou falar, em outro post, sobre o culto do movimento emergente... ai as semelhanças aparecem mais ainda.
JP, você perguntou:
"...na sua opinião, porque grande parte da cristandade protestante necessita e precisa mudar a "teologia" e a "forma"...
Creio que parte disto é fruto do 'novo nascimento' a forceps praticado pelo evangelicalismo dos últimos tempos (sei que não é exclusividade). A anomalia se dá hoje por conta de um cristianismo profundamente falsificado...
Para vc ter idéia, para cada post destes recebemos alguns emails muito 'bravos' e com linguajar que demonstra que o cristianismo passou longe... obviamente não publicamos.
abs
Mauro
Mauro, que tal fazer um post sobre a ligacao da influencia puritana que criou o pentecostalismo por ressuscitar o diabo, abolido na reforma, e a "santificacao" como boas obras e exigencia para a salvacao?
ResponderExcluirPrezado Rev. Mauro,
ResponderExcluirArtigo muito interessante e informativo. Essa tal "Igreja Emergente" — que também que poderia se chamar "Igreja Progressista" — me parece ser o paroxismo daquilo que um apologeta católico mais ferino poderia chamar de "princípio protestante". Tratar-se-ia de uma deformação (satânica, eu diria) do lema "ecclesia reformata, semper reformanda...". Uma espécie de minimalismo teológico que resulta numa massa amorfa, e que não obstante tem a pretensão de instituir um novo paradigma eclesiológico e mesmo teológico.
Diante desse artigo e da ligação que o senhor estabelece entre a "Igreja Emergente" e a neo-ortodoxia, parecem-me ainda mais importantes e necessárias as ressalvas, já feitas aqui no blog, quanto à "paternidade" de Karl Barth em relação à neo-ortodoxia. O velho teólogo morreria de tristeza e de desgosto ao ver no que as suas idéias resultaram.
Um abraço,
Marcos M. Grillo
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ResponderExcluirCaro Rev. Augustus,
ResponderExcluirO senhor fez menção a "ministérios e comunidades neo-ortodoxas". Poderia citar alguns exemplos? Fiquei curioso, pois nunca poderia imaginar que tal coisa existisse, menos ainda no Brasil.
Um abraço,
Marcos M. Grillo
Prezado "aquele de quem vcs n gostam disse... "
ResponderExcluirPercebo pelo seu post algumas coisas interessantes:
1. Você tem medo de fogueiras, afinal, o anonimato impede que você caia nela. No entanto, quero que saiba, que temos um super sistema de rastreamento em nosso blog, desenvolvido pela CIA, exatamente para para caçar anonimos que postam por aqui e acham que podem escapara ilesos.
2. Para seu conhecimento, declaramos que foi contratada, recentemente, a H&F Co (Heresy & Fire Company) especializada no fornecimento de fornalhas de alta combustão para que as queimas sejam efetuadas com a maior eficiência possível.
3.Quanto à provável ironia em suas palavras (assim falo para não julgar ninguém, é claro), creio que analisar e vir à tona com os movimentos que aparecem dentro e no entorno do cristianismo é tarefa saudável e necessária. Afinal de contas, o cristianismo sempre se balizou pela verdade das Escrituras e estas nos ensinam a provar e ver o que é bom...
Boa noite!
Mauro
Prezado "Serom O, Aropmet O"
ResponderExcluirVejo que vc é mesmo INVERTIDO, até no nome!!! Tão invertido que seu post não faz qualquer sentido...
Se vc pretentdia dizer que a Reforma aboliu a figura do diabo católico-medieval, parabéns. Os reformadores, entretanto, nunca teriam "abolido o diabo", exatamente porque eram homens tementes a Deus e à Escritura, que nos fala que o Diabo existe, e anda 'rondando' por ai.
Segundo, ninguém precisou ressucitar o diabo... ainda que derrotado por Cristo na Cruz, ele ainda não morreu.
Terceiro, o que gerou o pentecostalismo não foi o puritanismo e sim movimentos não reformados dos séculos XVIII e XIX. Não confunda o movimento puritano com alguns movimentos posteriores, como o metodismo e alguns desenvolvimentos do pietismo ou mesmo os movimentos avivalistas na terra do tio Sam.
Quarto, não vou tentar fazer o post como vc recomendou... para isto eu teria que inverter a história!
Mauro
Prezado Marcos,
ResponderExcluirCreio que o que a igreja emergente virá a ser, afinal ela ainda está emergindo, mais um movimento para demonstrar o erro de interpretação do lema de Voetius (Veja o post anterior do Augustus)
Estive pensando que um bom cântico para todo o pós-modernista pode ser a música do saudoso Raul Seixas:
Prefiro ser essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
eu sou nova nesse assunto, mas eu acho que esse post descreve traços agnósticos. "perspectiva sem julgamentos" "não possuem uma doutrina definida" "evita qualquer idéia de um credo ou confissão". Eu acho inclusive que essa musica do Seixas postada esta confirmando minha ideia. É assustador pensar que essa tendência VAi se infiltrar na igreja, ainda hoje eu li a diária postada no site da IPB, baseada em
ResponderExcluir@O que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos... isto proclamamos. 1 João 1:1@. O post nesse site fala sobre testemunho s'olido.
Como as pessoas testemunharão se elas não têm posicionamento sobre nada?
Assustador...
A moderação de postagens foi activada. Todos os "posts" devem ser aprovados ou rejeitados pelos leitores do blog.
ResponderExcluirAssinado: Livre arbítrio
Prezado JOINCANTO,
ResponderExcluirA moderação de comentários em nosso blog é ativada pq. o 'livre arbítrio' não tem a capacidade de nos livrar de palavras baixas, palavrões, xingamentos generalizados e discussões inúteis, o que demonstra, mais uma vez, que o homem é escravo da sua natureza corrupta, conforme ensina a Escritura (que não ensina o livre o arbítrio depois da queda).
Segundo a mesma Escritura, deve ocupar o nosso pensamento 'tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe'. (Filipenses 4.8)
Por sinal, no mesmo capítulo temos
"Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor." (4.5)
Perdoe-me a interpretação alegórica, não resisti!!!!!!!!!!
Mauro
PS. Nenhum comentário para este post foi até então barrado... espero que continue assim.
Prezada 'anônima',
ResponderExcluirVc disse: "Como as pessoas testemunharão se elas não têm posicionamento sobre nada?"
Vou lhe passar algumas idéias que os emergentes proclamam com seu conceito 'missional'.
Nas comunidades que se identificam como emergentes, um dos lemas principais é 'mais importante é pertencer do que crer', ou seja, a comunidade precisa ser atrativa o suficiente até mesmo para o que não crê... depois, pela vivência (que seria o testemunho) viria o crer. A grande pergunta ainda fica: crer no que?
Até agora tenho tentado evitar denominar algum movimento ou comunidade que não chame a si mesma como tal. Logo, sem nomes, encontrei a seguinte expressão em uma comunidade no brasil: "Comunidade – queremos oferecer as pessoas um local onde elas possam se sentir parte antes mesmo de acreditar."
Creio que as manifestações emergentes serão mais para práticas gnósticas do que agnósticas... mas isto veremos mais tarde.
Mauro
Marcos Grillo,
ResponderExcluirEu não tinha qualquer comunidade particular em mente, quando mencionei que elas existem no Brasil. Eu acredito que podemos chamar de comunidades e ministérios neo-ortodoxos aqueles que adotam a teologia na neo-ortodoxia e as práticas que se seguem. E ainda ue eu tivesse alguma comunidade particular em mente, tem sido a nossa prática aqui no blog de não baixar a discussão para nível pessoal.
Um abraço,
Mauro:
ResponderExcluirAcho que algumas dessas comunidades bem famosas daqui, e outras igrejas cujos pastores são alguns desses ícones dos circuitos de palestras e dos textos bem elaborados, se enquadram bem na descrição das emergentes. Pastores que se declaram sempres "cansados" com isso e aquilo, mas que desenvolvem seus próprios cacoetes litúrgicos e bebem nas fontes das teologias contestadoras do teísmo clássico, lideram muitos emergentes que submergem nas profundezas do mar da mediocridade e irrelevância teológica.
Ótimo post.
Solano
Assustam os termos "igreja para o pós-moderno" ou, pior, "pós-cristão". Essa definição indefinida e indefinível é a marca do relativismo moderno e do inclusivismo exclusivista, pois exclui os que não participam do vale-tudo da "inclusão". Eles querem lotar as igrejas e alargar ao infinito a porta que Jesus disse ser estreita - não porque Deus não quisesse que todos fossem salvos ("Ele não tem prazer nos que se perdem"), mas sim porque a mensagem do evangelho é impopular e depõe contra nós, exigindo reconhecimento de que somos pecadores e submissão ao Deus único, santo e bom. E eles querem tornar o evangelho popular e "de acordo" com os tempos, segundo eles mesmos. Bom, o próprio Jesus não fez isso... o que parece papo de marqueteiro esperto, não de evangelista.
ResponderExcluirAgora, o pior de tudo foi a declaração de que "a fé pode ser um requisito mais difícil que a genética". O que é fé para eles? Dão a entender, com essa, que Deus é extremamente econômico em seu dom e que as pessoas que O buscam não podem ter a certeza de que O encontrarão - e Jesus ensinou exatamente o oposto. Fé é dom de Deus, dado de graça para aqueles que O buscam com o coração sincero. Essa frase deles parece ser resultado de um ressentimento que tenho encontrado em algumas pessoas: "Eu busco e não encontro." Geralmente são pessoas que foram buscar no lugar errado e com motivação errada, com o coração orgulhoso. E que - mais importante - não se reconhecem, de fato, pecadoras, enquanto isso é o início de tudo.
Parabéns pelo esclarecimento, Mauro. Que Deus nos ajude a reagir adequadamente a esses novos ventos de doutrina!
Solano,
ResponderExcluirHá muitos que, vendo certos tipos de erros se perpetuar, cansam, e cansados buscam atalhos, esquecendo que só existe um caminho, e é estreito! Um dos pontos de grande crítica dos emergentes norte americanos é a igreja 'seeker friendly', a saber, a igreja que é, de fato, montada para o consumo. Rick Warren, ainda que prefaciando livros de emergentes, como Dan Kimball, é o prato predileto do protesto emergente (assim como outras igrejas no modelo de Willow Creek).
O grande problema, é realmente o que vc aponta: a solução encontrada é a busca de teologias críticas ao teísmo clássico, como se este fosse o gerador do problema.
abs
Mauro
Caro Mauro,
ResponderExcluirExcelente post.
Nunca havia ouvido falar sobre mais esse cancêr do evangelicalismo mundial e brasileiro.
A despeito de outras neoplasias como liberalismo, neo-liberalismo e teologia relacional, as igrejas emergentes veem apenas confirmar a suspeita de que estamos caminhando para uma era pós cristã.
Pelo visto não podemos mais nos definir como evangélicos uma vez que pensarão que cremos e praticamos uma gama de absurdos que obviamente não estão contidos na Palavra de Deus. Agora só explicando: sou cristão reformado fundamentalista, e pronto.
Acho que a razão deste movimentos é mesmo esse "novo nascimento" a fórceps, sentimentalismo e tradições teologicas extra bíblicas.
Da uma certa revolta pensar no que tem sido dito e feito em nome de Jesus...
Um abraço,
João
Olá Isaías,
ResponderExcluirToda a igreja que perde o seu norte e começa a acrescentar a criatividade e as invenções humanas, acabam na idolatria. Ainda pretendo escrever algo sobre o episódio do 'bezerro de ouro' onde, penso, a intenção não era adorar ao bezerro, senão, encontrar um outro mediador para substituir a Moisés que havia 'desaparecido' no monte. Os emergentes com a filosofia pós-moderna estão, mais uma vez, buscando um novo mediador, só que desta vez, menos sólido.
abs
Mauro
Oi Norma,
ResponderExcluirDe fato, a raiz do pecado e do orgulho no coração humano é o que leva o homem a uma busca onde Deus não está. Cada vez que leio a pergunta que Deus fez no Éden (Gn 3.8) - "Onde estás?" - vejo a graça maravilhosa de Deus inquirindo o homem, seu coração, suas motivações e buscando-o para a redenção. A busca do homem é sempre na direção oposta a Deus, "pra trás da moita".
A busca humana na direção oposta a Deus levou o homem pós-moderno a encontrar a resposta dentro de si e no conforto da sua tribo de incertezas. Enquanto o racionalista buscava sempre a 'prova final', o pós-moderno cansou-se de procurá-la e afirma que cada um deve construir o seu significado provisório, a 'sua verdade' até que possa emergir em algo novo para viver de maneira autêntica. Dizer "Deus, estou aqui e reconheço a minha mente finita e o meu pecado", é muito difícil!
abs
Mauro
Prezado João,
ResponderExcluirAlém do 'novo nascimento a fórceps' praticado pela igreja já há dois séculos, acho que o versículo que usei anteriormente em uma resposta, "Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor." (Fp 4.5), tem sido mal aplicado. Em nome de não comprar briga e o medo da perseguição, a moderação covarde permitiu que tudo entrasse portas adentro. O movimento emergente, que creio vai causar estragos (e depois vai passar), vai entrar sem bater nas portas, em muitas denominações, sejam tradicionais ou não.
O que fazer? Orare et labutare.
abs
Mauro
Na pagina 203 do livro "A Biblia e seus interpretes", Nicodemus diz: “o pregador pode, no máximo, pregar apenas uma interpretação sua do texto, mas jamais a verdade divina”.
ResponderExcluirNão será isso o mero relativismo neo-ortodoxo?
Anônimo,
ResponderExcluirEsse é o seu terceiro comentário sobre esse assunto. Nos outros dois, que foram recusados pelo anonimato, você diz que merece uma resposta, que gastou dinheiro comprando meu livro, etc. (aliás, comprar um livro de um autor não lhe dá direito algum de ter respostas desse autor). Contudo, estou pronto a dá-la. Mas se você é sério mesmo, aguardo que você se identifique: seu nome, seu orkut, seu blog, etc. Sem isso, lamento muito, mas vai ficar sem resposta da minha parte.
Augustus
Prof. Mauro,
ResponderExcluirFiquei surpreso com o que li. Já tinha passado por alguns blogs "emergentes", mas nem tive interesse em saber do que se tratava.
"Os inimigos da verdade ensinam muita doutrina falsa debaixo do nome da Santa Igreja, porque nunca houve nada até hoje tão absurdo ou tão perverso, que não fosse fácil defender sob o nome da Igreja". J.C. Ryle atribui essa frase a um tal de bispo Jewell. Acho que ele tem razão.
Essa movimento é um bom exemplo disso: inimigos da verdade de Deus, mas ainda assim com o nome de igreja. Uma pena.
Abraços.
Prezado Sergim,
ResponderExcluirCom certeza, todo movimento que aparece merece estudo e reflexão, e, nem que seja pelo lado negativo, a reflexão deve nos fazer melhores. Lendo a respeito do movimento, observo que há pontos positivos - pretendo começar um post futuro com os pontos positivos - mas já vou dizendo de antemão, os estragos envolvidos nos caminhos que o movimento está tomando são muito grandes e acabam por 'falsificar' a igreja.
O grande problema é o pensamento neo-ortodoxo por trás de seus proponentes. Perceber que estamos caminhando para a era pós moderna / pós-cristã, é fundamental, mas dai a propor que abracemos o pensamento pós-moderno, é outra coisa. A mesma idéia estava por trás do começo da neo-ortodoxia... Karl Barth só tinha boas intenções (leia os posts anteriores).
Acaba de chegar a minhas mãos um livro de um líder emergente, Rob Bell, (Velvet Elvis: Repainting the Christian Faith), pastor da igreja Mars Hills em Grand Rapids, Michigan. Na página 26, falando sobre a fé, afirma:
“E se amanhã alguém escavar uma prova definitiva de que Jesus teve um pai biológico real, chamado Larry, e arqueólogos encontrarem o túmulo de Larry e fizerem um exame de DNA e provarem, sem sombras de dúvidas, que o nascimento virginal foi apenas um pouquinho de mitologização que os escritores dos Evangelhos colocaram ali para serem atraentes aos seguidores dos cultos de Mithra e Dionísio que eram muito populares nos tempos de Jesus, cujos deuses tiveram nascimento virginal? ... O que aconteceria se esta fonte fosse seriamente questionada? Poderia uma pessoa permanecer no jogo? Poderia uma pessoa continuar a amar a Deus? Você poderia permanecer um cristão? Continuaria o caminho de Jesus sendo o melhor para se viver? Ou tudo se acaba?” (p. 26)
Ainda que Bell afirme crer nesta verdade bíblica, sua resposta implícita é NÃO. Ele afirma: “Mas se toda a fé rui quando examinamos e repensamos uma fonte, então ela não era suficientemente forte desde o princípio?” (p. 27)
Ora, se as afirmações bíblicas não podem ser historicamente confiáveis, vamos cair no velho problema de quem é que vai definir quais são. A minha pergunta a Bell seria: se os mesmos arqueólogos que encontraram Larry escavarem mais um pouco e provarem além de qualquer dúvida que o corpo que encontraram é o de Jesus Cristo, aquele de quem os Evangelhos falam e que, na verdade, a ressurreição foi mesmo um pouco de mitologização para dar um ar extremamente sobrenatural ao martírio de Cristo, pensando que isto faria uma religião sobreviver por vários séculos? É só mais uma fonte. Você continuaria a crer? Vã é a nossa fé a nossa pregação.
Concluindo, pq isto já virou um post inteiro, o movimento emergente pode nos levar a refletir sobre nossa posição e acomodação atuais, o que não implica em abraçar o movimento em qualquer de suas posições.
Abs
Mauro
PS. a resposta NÃO de Bell é só à última pergunta: tudo se acaba?
ResponderExcluirMauro
Olá Mauro,
ResponderExcluirtd bem?
Esse movimento já chegou ao Brasil? MacLaren tem textos em português? (um prof. neo liberal em classe disse que já está para ser lançado o 1o em port. dele, falando de dialogo inter-religioso e pós-modernidade). Se já chegou ao Brasil, quais expoentes?
Abração!
Juan de Paula
"Concluindo, pq isto já virou um post inteiro, o movimento emergente pode nos levar a refletir sobre nossa posição e acomodação atuais, o que não implica em abraçar o movimento em qualquer de suas posições."
ResponderExcluirAgora sim gostei de ver. Li tanto o Generous Orthodoxy como o Velvet Elvis, e o que encontrei foram dois irmãos em Cristo lutando para manter suas idéias teológicas ortodoxas mas tão influenciados pela crítica epistemológica do pós-modernismo que acabam adotando o desgosto de Kierkegaard pelo "conhecimento" moderno.
Mas acho que temos perguntas importantes a aprender com eles: (1) Será que nós não cumprimos o mesmo tipo de erro teologicamente, mas pro outro lado? (2) Será que o Cristianismo não carrega "bagagem" demais do modernismo (e especialmente entre nós reformados, algumas relíquias da tradição católica que simplesmente pintamos de protestante)? (3) Como podemos seguir o exemplo de Paulo e falar de verdades transcendentes de formas que toquem um povo em seu contexto e cultura? No nosso caso, como podemos identificar e mudar nossas formas ou atitudes, apologeticamente e evagelisticamente, para alcançar o mundo pós-moderno que não está acostumado ou preparado para pensar em termos de verdade absoluta (sem todavia nos afastarmos da certeza que o Espírito Santo nos concede nas verdades da Palavra de Deus)?
Francis Schaeffer já antecipava e tentava responder muitas destas questões. Mas o tempo de Schaeffer já não é mais o nosso, e precisamos interagir de formas relevantes aos nossos contextos, sem perdermos a fidelidade à Palavra. Acho que temos muito a aprender com nossos irmãos emergentes, e que eles também tem muito a aprender com seus irmãos reformados. Termino com uma idéia bem emergente: que tal sentarmos pra conversar com estes irmãos, ou trocarmos correspondência com eles? Em vez de traçarmos mais uma linha relacional (apesar de vermos nítidamente uma linha teológica), acho que as vezes esquecemos que precisamos ser salgados e iluminados um pelo outro. Como o ferro afia o ferro...
P.S. Nem todo ortodoxo emergente é neo-ortodoxo. Temos que ter cuidado pra não simplificarmos demais as coisas...
ResponderExcluirOlá Juan,
ResponderExcluirAinda não vi nem um texto sério ou livro em português. Também nenhuma igreja que se declare emergente.
Não é de se duvidar que venham logo. Ainda que o movimento já tenha a sua década, as publicações começaram a 'pipocar' depois de 2000.
Já até imagino quem vai publicar... nos EUA, a Zondervan adotou os emergentes e até comprou todo um ministério educacional para jovens que é liderado por Mike Yaconelli. Parece que a 'emergencia' também vende bem.
abs
Mauro
Grande Davi!
ResponderExcluirObrigado pelo post. Creio que existem dois lados da moeda que precisam ser vistos.
Primeiro, sua afirmação última é correta, nem todo que se considera emergente é necessáriamente neo-ortodoxo. Logo, boa parte do que estou escrevendo é baseado em escritos de líderes emergentes, como McLaren. Pelas afirmações de McLaren em seus escritos, há muita coisa interessante e poderia ser considerada legítima, mas no contexto completo do que escrevem... tudo se torna 'nebuloso', escorregadio, pluralista... neo-ortodoxo. Por exemplo, faça uma busca e tente verificar a posição de McLaren sobre a questão do homossexualismo... ele não vai afirmar, de jeito nenhum, que é pecado. Encontrei um link ou outro sobre isto.
Também não estou afirmando que vários questionamentos feitos por McLaren não sejam legítimos, no entanto, quando seus questionamentos chegam na questão de nossa base epistemológica, a Escritura, ups, nossa 'conversação' começa a ter problemas. Não é só a questão da dúvida, que pode passar pelo coração de qualquer um, mas a dúvida sustentada, ensinada e publicada. Fechar os olhos para irmãos sinceros que estão em busca e disseminando sua dúvida, é perigoso. Eu, como ministro do Evangelho, posso ter dúvidas, mas não posso ensiná-las e disseminá-las. Daí está, também, a insistência da emergência contra as estruturas de autoridade: no final, posso dizer o que quiser, quando quiser... sou accountable somente à minha própria consciência diante de Deus. Mas e os elementos essenciais da fé que deveriam ser comuns ao corpo? Afinal, o que é que nos faz irmãos?
Logo, vejo as publicações emergentes como algo que não só questiona, mas perverte a fé e semeia dúvidas.
Li partes do “Emerging Church” do Dan Kimball. Em parte do capítulo sobre pregação, até pensei estar lendo as exortações de um bom teólogo reformado falando sobre a superficialidade da pregação contemporânea. Mas fica por ai... depois o capítulo desanda para defender uma pregação não proposicional. E assim vai... No outro post que pretendo escrever vou tentar demonstrar onde alguns ramos do pensamento estão levando a igreja.
Por último, creio que o pouco que li de McLaren, é a velha neo-ortodoxia com roupa nova. Quanto a Rob Bell, realmente ainda preciso me dedicar a Velvet Elvis para saber mais.
Não sei se você já esbarrou no “Becoming conversant with the emerging church: understanding the movement and its implications”, D. A. Carson. Foi a única resposta maior que encontrei sobre o assunto.
Quase virou outro post.
Abs
Mauro
Olá Mauro -
ResponderExcluirQuem mandou permitir comentários? :)
Não sei se o McLaren tem ou não posição definida sobre o homosexualismo, mas os dois pastores emergentes com os quais tenho contato aqui têm posições sim, e afirmam que a prática do homosexualismo é pecado. Vem à tona mais uma vez a dificuldade de pintar os emergentes com uma tinta só, quando na verdade (por causa da falta de princípios comuns) doutrinariamente eles são um verdadeiro caledoscópio (sei lá se acertei na ortografia, se não, é culpa do Canadá!).
Mas a diferença entre a abordagem dos emergentes quanto ao homosexualismo e a das denominações tradicionais também pode ter um pouco a nos ensinar. Tradicionalmente, temos dito que "amamos o pecador mas repudiamos o pecado", mas a prática nas nossas igrejas tem sido de repúdio aos dois, sim, sem continuação do contato relacional até num nível de aconselhamento pastoral. Os emergentes vêem isso (corretamente, na minha opinião) como um erro, só que eles erram pro lado relacional, e em sua insegurança epistemologica acabam perdendo a habilidade de dar nome aos bois e chamar o pecado de pecado.
Soube que o Rev. Valdeci escreveu um livro sobe o homosexualismo, ainda não li mas me disseram que é bom. Não vou entrar mais nesse assunto,que merece outro post.
"Eu, como ministro do Evangelho, posso ter dúvidas, mas não posso ensiná-las e disseminá-las."
Não entendo como você pode implementar isto totalmente, na prática. Se ensina algo como certeza, mas realmente tem dúvidas, não está mentindo? Por exemplo, digamos que você tem dúvidas sobre a necessidade da profissão de fé ser feita antes que alguém possa tomar a ceia do Senhor. Quando você ensinar a aula da escola dominical, vai ensinar esta doutrina como fato inquestionável, ou vai admitir que tem suas dúvidas? Não é uma questão de ensinar aos outros que doutrinas são duvidosas, mas de admitir que o homem é duvidoso e que até ministros do evangelho não conseguem ter tudo definido em suas mentes.
Aliás, por muito tempo a nossa intenção de evitar dúvidas às ovelhas tem na verdade gerado pessoas que não questionam ou processam as idéias das Escrituras. A falta de engajamento mental com estas idéias produz uma fé seca e sem prática, pois "fé" acaba significando só uma lista de proposições que a pessoa ouviu no domingo e consentiu em repetir. É este tipo de "fé" que deixou o Kierkegaard com fumaçinha saindo das orelhas, e é este tipo de "fé" que deu pernas aos movimentos do pentecostalismo, carismatismo, neo-etceterismo, e mais recentemente ao emergentismo.
Não estou dizendo que isso é o que os reformadores queriam ou que os melhores reformados ao longo dos séculos não tenham feito de outras formas. Mas a prática predominante das nossas igrejas reformadas hoje em dia me parece ser, infelizmente, ensinar a tradição e a doutrina "oficial" da igreja sem encorajar as pessoas a pensarem sobre estas coisas, a terem suas dúvidas (SIM!) e buscarem respostas (OUTRO SIM!). E do outro lado do púlpito, entre os ministros, a prática é de considerar (em público, pelo menos) a Confissão de Westminster como "Biblia II", não admitindo que ninguem ao menos faça perguntas sobre a relevância de determinada interpretação para os nossos tempos. Não nos vemos no direito de reinterpretar para o nosso contexto. Ok, talvez, sejamos reles mortais, e podemos cometer erros de interpretação, mas a galera de Westminster o era também...
Em suma, quero evitar que façamos o que Kant prescreveu em seu artigo O que é Iluminismo, que cria um dualismo de prática e pensamento: "...um ministro tem o compromisso de instruir os seus alunos e a sua congregação de acordo com as doutrinas da igreja a qual ele serve, pois foi contratado por ela sob esta condição. Mas como acadêmico, ele não só é completamente livre mas moralmente obrigado a disponibilizar ao público todas os seus pensamentos cuidadosamente considerados e bem-intencionados sobre os aspectos errôneos daquelas doutrinas, e de ofereces sugestões para um arranjo melhor das idéias religiosas e eclesiásticas." (Tradução minha do Inglês--Ich werde ganz nervös, wenn ich Deutsch spreche).
É claro que não podemos "ensinar a dúvida", mas deve haver alguma maneira de que possamos ensinar a despeito da dúvida, sem no entanto perdermos a autenticidade. A tentativa disso é uma das coisas que iniciou a bagunça emergente. Talvez possamos oferecer uma alternativa melhor, sem no entanto regredirmos para um dualismo de pensamento e prática. O que você acha?
Abs,
David
Davi,
ResponderExcluirSó vc para me fazer responder um comentário às 10:30h da noite no dia dos namorados... tenho que ser rápido!
Vamos por partes:
Já afirmei anteriormente e reitero: minha análise é sobre aqueles que se dizem emergentes e escrevem para todo lado o que são. Sei que em todo movimento existe desde o mais radical até o super moderado. Não posso falar sobre os que dizem que são emergentes e não escrevem(ram). Porém, o que afirmei sobre sobre a posição de McLaren era para demonstrar como ele mesmo é escorregadio. Isto é evidente em Generous Orthodoxy. E, aliás, pq o movimento tem as características que tem, sempre terá como discurso (e desculpa) que nem todo mundo no movimento pensa assim...
Quanto a minha afirmação: ""Eu, como ministro do Evangelho, posso ter dúvidas, mas não posso ensiná-las e disseminá-las" digo:
Este tema refere-se a pontos de fé que estão presentes na confissão que subscrevo. Se eu tiver dúvidas, minha obrigação é levantar estes pontos diante de quem é responsável dentro da hierarquia eclesiástica... não sou um free thinker. Isto não significa que não possa discutir um assunto, mas a matéria de ensino é pautada pela confissão.Ao mesmo tempo, existe, sim, uma diferença no nível das discussões que podemos ter e com quem... Se compreendi a citação de Kant, o ministro pode ter dois discursos? Afinal, eu sou ministro e sou acadêmico. Esta idéia nasceu no século XVII, quando o protestantismo estava tentando se livrar do escolasticismo e jogou a obrigação de estudar a Bíblia para a universidade... livrando-se da igreja... definitivamente. É ai que nasce a incoerência. Foi assim que nasceu a Teologia Bíblica, com Gabler, num ambiente conturbado.
A CFW afirma que o juiz último é a própria Escritura, buscando, justamente, evitar ser a Bíblia II. Logo, tenho minha consciência cativa pela Escritura em primeiro lugar e pelo sistema que adotei como, e continuo considerando, o mais coerente para a intrepretação das Escrituras. A beleza está no fato de a própria CFW, escrita por irmãos que tinham dificuldades hermenêuticas, sem sombra de dúvidas, nos remeter de volta às Escrituras.
Bom... meu tempo acabou e os posts também!
Abs
Mauro
Mauro,
ResponderExcluirValeu pela resposta, espero que não tenha acarretado muita confusão em casa por estar respondendo comentários nesta data!
Acho que o que ainda estou adquirindo aos poucos é uma coisa que na grande maioria das vezes só vem com o tempo: sabedoria para discernir estas diferenças de nível de discussão, e com quem, quando e onde tê-las. Pensei um pouco mais sobre o que conversamos e sinto que deve haver uma maneira de poder ensinar até as coisas sobre as quais ainda duvidamos (que geralmente caem no âmbito de praxis, mas que algumas vezes tem a ver com doutrina). Uma abordagem que acho boa e que já vi nas escolas dominicais do meu pai é a de, em certas ocasiões, ensinar os diferentes pontos de vista sobre um assunto que ainda está se definindo na mente do próprio professor (o que me vem a mente são os pontos de vista diferentes sobre escatologia). Claro que isso não se aplica a tudo, e é ai que entra a sabedoria para discernir.
Vou vivendo e aprendendo. :)
Abraços,
David
(não sei se as correções que fiz em meu comentário foram efetuadas, então estou mandando de novo)
ResponderExcluirCaro mestre Mauro,
Em resposta a um comentário aqui, você disse:
"Creio que as manifestações emergentes serão mais para práticas gnósticas do que agnósticas... mas isto veremos mais tarde."
No entanto, ao conversar com uns amigos confessionalmente agnósticos, sempre percebo a tendência nítida de aceitar "muitas verdades" sem se ater a uma Verdade, sempre negar que a VERDADE seja uma só e sempre buscar as "verdades" através de conhecer mais e mais o mundo ao redor, ou qualquer coisa parecida com isso.
Afinal, hoje, qual a diferença entre um Gnóstico e um Agnóstico? Eles sempre parecem ter o mesmo discurso... E quão longe um Liberal consegue ficar dos dois anteriores? (não vou falar de neo-ortodoxos porque a mim parece que só existem ortodoxos e liberais. O resto apenas não se decidiu ainda.)
Atenciosamente (no sentido de que presto atenção no que vocês três dizem aqui =])
Daniel.
Olá Daniel,
ResponderExcluirEm tese, agnósticos não crêem na possibilidade do conhecimento real de Deus ou de “verdade espiritual”. O Gnóstico, que dá origem ao gnosticismo, crê no conhecimento através da prática mística. Existem dois livros com o mesmo título, um em inglês outro em português, que falam do ataque gnóstico, parafraseando o "império contra-ataca", da série Star Wars (o império gnóstico contra-ataca).
Talvez, o problema de alguns destes com quem vc tem conversado seja agnósticos quanto ao conhecimento de Deus e gnósticos quanto a suas experiências, afinal, no pluralismo tudo é possível, até as mais grosseiras inconsistências!!!
Abs
Mauro
Olá, todos,
ResponderExcluirEu acompanho o "movimento" emergente faz uns 4 anos agora (moro no Canadá). Gostaria de fazer alguns comentários.
O comentário mais importante de TODOS é que faltou um livro na lista: Emerging Churches: Creating Christian Community in Postmodern Cultures por Eddie Gibbs, Ryan K. Bolger. O que é bom deste livro é que é o resultado de 5 anos de pesquisa sobre o "movimento" com uma metodologia acadêmica, mas muito acessível. Se você não leu ainda esse livro, compre-o rapidamente.
Sobre a definição do artigo original, tenho alguns comentários:
'um movimento da igreja protestante; '. Buenas, vários 'líderes' (estou tendo cuidado com esses termos...) da igreja emergente têm realmente raízes protestantes, mas nem todos. A eclesiologia e missiologia são repensadas que termos simples como 'protestante' podem dar a entender que é "mais uma onda" dos protestantes, quando não é bem assim: ainda se está numa fase de desconstrução dos conceitos. Prosseguindo.
'b. tem a finalidade de alcançar a geração pós-moderna; ' Tenho dois problemas com a frase. O primeiro problema é com o verbo "alcançar". A igreja emergente não faz proselitismo. Eles tentam (de forma genérica) mostrar na prática como funciona o Reino aqui e agora, e a 'conversão' fica a cargo do ES. O 2o problema é com a palavra "geração". Enquanto a pode parecer que o "movimento" tem um apeal aos mais jovens por causa das "novidades", isso seria uma análise superficial. As cabeças pensantes já nos anos 80 se deram conta que os problemas lidados pela igreja emergente eram fundamentalmente implicações da era pós-moderna, e não um ciclo de mudanças por diferenças entre gerações (por exemplo, a igreja emergente não advoca por mudanças litúrgicas meramente, mas repensa a eclesiologia).
Teria vários outros comentários sobre comentários, mas gostaria de apontar para a pesquisa do livro supracitado: eles acharam 3 práticas fundamentais das igrejas emergentes, e outras 6 mais práticas conseqüentes. São elas 1-identificação com a vida de Jesus, 2-transformação da dimensão secular, 3 - vidas altamente comunitárias. As 6 práticas conseqüentes são 4-dar boasvindas aos estranhos, 5 - servir com generosidade, 6- participação [das pessoas quando juntas] como produtores, 7- criar como seres criados [relacionado a criatividade e artes], 8- liderança como corpo e 9- participação em atividades 'espirituais'.
Abraços,
Gustavo F. (K-fé)
Prezado Gustavo,
ResponderExcluirSe vc observar, o livro de Gibbs e Bolger está na minha bibliografia e, de fato, creio que seja o mais completo e pesquisado, tendo uma visão muito simpática ao movimento. Desde o post publiquei um artigo acadêmico sobre o tema na revista Fides Reformata (http://www.mackenzie.com.br/teologia) onde faço uma análise mais extensa. Como eu disse no post, usei citações dos próprios emergentes... mas bem sei que, pela próprio filosofia, não há definições claras...
abs
Mauro
É impressionante ver como tudo o que a Bíblia diz está se cumprindo em nossos dias!Em 2Timóteo 4:3-4, lemos: “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios... Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas”.
ResponderExcluirGraça e paz mestres
ResponderExcluirChegando um pouco atrasado, gostaria de ressaltar - possivelmente já saibam - que o livro "Uma ortodoxia Generosa" de Brian McLaren foi traduzido para o português pela Ed. Palavra, e foi prefaciado por nada mais nada menos que Ricardo Gondim, e já conta com uma comunidade no orkut e vários leitores.
Seria a hora de escrever novamente algo sobre o livro traduzido para o português?
Eu fiz um singelo trabalho sobre o livro e postei no meu blog:
http://escriturasepoderdedeus.blogspot.com/2009/01/uma-ortodoxia-generosa-de-brian-mclaren.html
Graça e paz a todos.
Tales Alves Paranahiba
Olá! Pax.
ResponderExcluirÀs vezes eu não consigo compreender os reformados/calvinistas.
Vocês são tão apegados aos "Solas" de vocês, mas, não estão dispostos a serem sinceros o bastante para lidar com os desdobramentos dos mesmos.
Por exemplo, o "Sola Escriptura", ou seja, Somente a Escritura. Vocês colocam que as Escrituras sagradas são a nossa única fonte de autoridade. E concordo plenamente com vocês. Não poderia ser diferente!
Contudo, vocês se esquecem que essa mesma Escritura diz para examinarmos de tudo e reter o que é bom, não é mesmo?
Então, como vocês criticam o irmão Brian McLaren por fazer exatamente isso no seu livro "Uma Ortodoxia Generosa"?
O cara dá uma olhada nas demais tradições cristãs como a católica romana, a ortodoxa oriental e outras para ver o que de bom existe nelas e vocês taxam o sujeito de "Inclusivista"! O que foi, só existe coisa boa então na tradição reformada? É isso o que vocês estão querendo dizer?
Pessoal, então rasguem da Bíblia de vocês essas palavras de Paulo, pois, as mesmas são bastante inclusivistas.
Estou terminando de ler o livro do Brian. E a sensação que tenho é de que o propósito dele em nenhum momento foi o de dizer "Está tudo errado até aqui" ou "Não é isso conforme vocês tem crido", mas, "Não é SÓ isso. Vejam, existe isso aqui também...".
Acredito que quando a questão é teologia a coisa não está definitivamente fechada. Isso porque a única coisa fechada é o Canon Bíblico, pois, o mesmo foi inspirado divinamente. Se fecharmo-nos hermeticamente numa visão teológica estamos dizendo que a ela tem a mesma qualidade e autoridade que as Escrituras. Teologia e Escrituras Sagradas são coisas totalmente diferentes. Uma não pode ser confundida com a outra. A primeira é a mera e débil tentativa HUMANA de entender a segunda.
A grande verdade é que TODA teologia tão fissuras (inclusive a do Brian). Isso se dá porque teologia é produto humano, e o ser humano é imperfeito. Logo, toda obra intelectual ( e a teologia está incluída)humana é da mesma qualidade daquele que a fez: imperfeita, incompleta, sempre necessitando de revisão e reformulação.
Aqueles que assim se enxergam abaixam suas defesas e com coração humilde se dispõem a aprender com aqueles que lhe são diferentes.
Os vaidoso fecham-se no seu mundinho próprio de "certezas" que não passam de mera elucubrações filosóficas humana.
E mais uma vez o apóstolo das gentes nos traz o esclarecimento necessário:
"Ora, no tocante às coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que todos temos ciência. A ciência incha, mas o amor edifica.
E, se alguém cuida saber alguma coisa, ainda não sabe como convém saber.
Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele" (1Co 8:1-3).
Paz e bem!