“Vede, não desprezeis a qualquer destes pequeninos; porque eu vos afirmo que os seus anjos nos céus vêem incessantemente a face de meu Pai celeste” (Mateus 18:10).
Em certa ocasião, desejando dar aos discípulos uma lição sobre humildade (Mt 18.1), o Senhor Jesus chamou uma criança para perto de si (v. 2) e ensinou aos discípulos a necessidade de alguém se tornar como uma delas para entrar no Reino (v. 3-4). Receber uma criança no nome do Senhor significa receber ao próprio Senhor (v. 5). Em seguida, o Senhor falou do castigo dos que colocam tropeços diante dos “pequeninos” que crêem nEle (v. 6-9) e advertiu os discípulos a que não os desprezassem, diante do cuidado vigilante de Deus por eles, através dos anjos (v. 10).
Este dito é difícil porque sugere a existência de “ anjos da guarda” de crianças, que estariam constantemente na presença de Deus, velando e cuidando das crianças. O conceito de que cada crente tem um anjo da guarda enviado por Deus sempre foi popular entre os cristãos, e tem se tornado ainda mais popular com a crescente onda de fascínio pelos anjos que tem invadido as igrejas evangélicas, acompanhando o aumento do misticismo e do ocultismo no mundo.
Há várias interpretações para este dito difícil de Jesus.
1. Os anjos no céu são as almas das crianças quando morrem.
De acordo com este entendimento, Jesus ensinou que as almas das crianças (os “anjos” delas) vão para o céu após a morte das crianças, e ficam continuamente na presença de Deus. De acordo com esta interpretação, Jesus mandou que os discípulos não desprezassem as crianças pois elas, quando morrem, vão, na forma de anjos, morar na presença de Deus. Alegam que Jesus se referiu aos “seus anjos no céu”, indicando que se refere ao que acontece após a morte. A dificuldade óbvia com esta interpretação é que identifica alma com anjo, uma associação impossível à luz do Novo Testamento. A alma faz parte da personalidade humana, enquanto que um anjo é um ser distinto do homem. As pessoas não se transformam em anjos quando morrem, conforme a crendice popular, mas suas almas comparecem, como almas, à presença de Deus.
2. Cada criança tem um anjo da guarda.
Outra interpretação entende que a expressão “seus anjos” se refere a anjos destacados por Deus para guardar cada criança, e que neste labor, eles ficam subindo constantemente ao céu, na presença de Deus, para dar relatórios de suas atividades e interceder em favor das crianças. Esta doutrina é defendida pela Igreja Católica, que diz que no batismo cada criança recebe seu anjo da guarda, que é enviado por Deus para proteger e aconselhar esta criança toda a sua vida. Esse anjo é também chamado, na teologia católica, de "anjo custódio".
Há várias passagens bíblicas usadas para defender esta interpretação. “O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem e os livra” (Salmo 34:7) é uma das mais conhecidas. Também Gênesis 48.16, onde Jacó se refere a um anjo que o teria livrado de todo o mal (na verdade, refere-se ao anjo do Senhor). Menciona-se também o anjo que veio em socorro de Daniel (Dn 6.22). Estas e outras passagens entretanto não provam o ponto, apenas mostram que Deus envia anjos para proteger e salvar seus servos em determinados momentos. A idéia de “ anjo da guarda” para cada criança é bastante estranha à luz da doutrina bíblica, muito embora esteja claro que uma das funções dos anjos é proteger os filhos de Deus. Nenhuma das passagens geralmente usadas para provar a existência de “anjo da guarda” realmente prova coisa alguma. Ao final, existe muita influência da crendice e da superstição popular sobre o assunto.
3. Os “pequeninos” são os crentes em Jesus Cristo.
A outra interpretação defende que a chave para entendermos este dito difícil de Jesus é a palavra “pequeninos”. A quem Jesus se refere? O termo pode ser tomado literalmente como se referindo às crianças, como as duas interpretações acima o fazem, ou figuradamente, como se referindo aos discípulos de Jesus. Esta última possibilidade resolve o problema e tem apoio bíblico. Primeiro, Jesus usa regularmente o termo “pequeninos” para se referir aos discípulos, cf Mt 10.42; 18.6; Mc 9.42; Lc 17.2. Note que nos versos 1-5 Ele se referiu claramente às “crianças”, e nos versos 6-10 Ele menciona os “pequeninos”. Segundo, os discípulos são comparados com crianças, no que diz respeito à confiança em Deus. Terceiro, a passagem se encaixa no ensino geral do Novo Testamento sobre o ministério dos anjos em favor dos filhos de Deus, como Hebreus 1.14. Portanto, a melhor explicação para esta passagem é que Jesus está ensinando que Deus envia seus anjos para assistir aos “pequeninos”, que são os seus discípulos, os filhos de Deus pela fé, comparados a crianças, e que, portanto, nós não devemos desprezar estes “pequeninos”. Esse ministério angélico para com os “pequeninos” faz parte do cuidado geral que os anjos desempenham, pelo povo de Deus (cf. Sl 91.11; Hb 1.14; Lc 16.22).
A passagem não está ensinando que cada crente ou criança tem seu próprio “anjo da guarda”, como era crido popularmente entre os judeus na época da igreja primitiva. Fazia parte desta crença que o “anjo guardião” poderia tomar a forma do seu protegido (cf. At 12.15). Ela simplesmente expressa o cuidado geral de Deus por seu povo através dos anjos.
GRAÇA E PAZ REV. AUGUSTUS!
ResponderExcluirCONCORDO COM O SR.NESTA ULTIMA INTERPRETAÇÃO.
MUITO BOM ESTE TEMA SOBRE O QUAL O REVERENDO VEM DISCORRENDO.
EM CRISTO,
MARIO
Rev. se todas as crianças têm um anjo da guarda, com fica o anjo quando esta criança morre ou fica adulta? o anjo se aposenta?
ResponderExcluircomo fica o caso de crianças que foram 'treinadas' para o crime desde cedo? acaso o anjo falhou na guarda delas? e os meninos de ruas? trombadinhas?
realmente este dito de Jesus é dificil de entender...
Louvo a Deus e agradeço ao Rev. Augustus por este texto tão claro e esclarecedor.
ResponderExcluirOlá, Augustus
ResponderExcluirse são os "pequeninos" discípulos ou "pequeninos" crianças, creio não fazer diferença alguma. Creio que o cerne da questão é, como disse o autor, que existia a crença que anjos ajudavam humanos, crianças ou adulto. Daí para a crença de que cada um fiel(criança ou adulto) tem um anjo da guarda foi um pulo.
Se de fato anjos guardassem os fieis, eles nunca seriam atingidos por mal algum, o que como sabemos, não é verdade.
Mas para mim, são crenças ultrapassadas. Para mim.
abraços
Graça e paz a todos!
ResponderExcluirAdmiro seus vastos conhecimentos rev. Augustus. e gostaria de ajudar quanto ao entender de Mateus 18:10. Voltemos para Gn.8:21b quando Deus estabelece que a imaginação do coração do homem é má desde SUA MENINICE. Deus não disse desde seu nascimento. Assim,o homem nasce, vive um tempo de pureza, e atinge o momento em sua vida que Deus chama de meninice. Esse é o tempo em que passa a distinguir o que é certo e o errado e o bem do mal, como dito em Dt 1:39 e em Isaías 7:14-16.
Jesus afirmou que das crianças é o reino dos céus, porque até atingir o tempo da MENINICE, anjos de Deus lhes acompanham. A Bíblia não nos revela com que idade o homem chega a meninice, quando já precisa crer e seguir a Jesus. Por outro lado, sabemos que tudo só ocorre com a permissão de Deus. Dai, pela Exclusiva e Soberana Vontade de Deus Pai, e só Ele sabe com qual objetivo, crianças podem sofrer e até mesmo morrer, como ocorreu em Êx. 12:29 quando Deus, para mostrar sua Santidade e poder fez morrer todos os primogênitos dos egípicios. Em resumo, toda criança enquanto é pura, tem o anjo de Deus em sua companhia. Ao atingir a idade da meninice, passa a saber o certo e o errado, o bem e o mal, e agora, sua alma responderá pelos seus pecados que praticar.
Olá Augustus
ResponderExcluirAinda sobre o assunto de criança e céu, surgiu uma dúvida no meu grupo de estudo e não consegui explicar...
Quando uma criança morre ela vai para o céu? E a partir de qual idade ela já tem discernimento sobre a conversão (mais ou menos, pq sei que depende da maturidade de cada um).
Agradeço
Tb tenho essa dúvida, gostaria q me esclarecem, porq a mtas controvérsias.
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