Do Prefácio da Obra
Prefaciar esta obra é um privilégio. Sou o discípulo
sendo honrado pelo mestre, apresentando sua obra! Minha apreciação, amor e
vocação pelo tema deste livro foram fomentados e estimulados pelos escritos e
pela pessoa de Solano Portela, como instrumento nas mãos de Deus para minha
formação. Ao longo de alguns anos tivemos muitas oportunidades de conversar,
discutir, debater, trabalhar e produzir dentro de um movimento que continua
incipiente, porém, em pleno crescimento no Brasil: a educação escolar cristã.
Sobre a situação
da educação escolar cristã no Brasil
Ainda que as escolas cristãs do ramo protestante já
tenham história centenária no solo brasileiro e muitos homens e mulheres de
valor tenham dedicado suas vidas inteiras a este trabalho, algo ficou faltando:
uma base teórica sobre a qual pudéssemos refletir a educação escolar cristã e
desenvolver métodos e sistemas de ensino com sólida fundamentação da cosmovisão
bíblica.
Podemos claramente observar que a história do Brasil
se confunde com a educação religiosa durante todo o processo de colonização. A
maior cidade brasileira tem como seu marco inicial o Pateo do Collegio. Uma escola de catequese Jesuíta é o coração da
capital paulista, não por acaso, São Paulo, toda cercada por santos. Essa
confusão entre escola e ensino religioso pode dar a impressão de que o ensino
do fundamento do cristianismo, a Bíblia, tenha tido grande influência no
processo educacional. Ledo engano. Cercado de tradições que não são bíblicas e
de muitos interesses diametralmente contrários à Bíblia, a educação praticada
não era serva da Escritura, mas usava sua autoridade para fazer cumprir vários
interesses. A cultura judaico cristã que ainda domina a cultura brasileira foi
distorcida para acomodar o pensamento, a religião e os valores morais de muitas
classes que vieram tomar posse da terra
brazilis.
Quando as primeiras missões protestantes chegaram ao
Brasil, ainda no império, imediatamente perceberam a necessidade da educação do
povo, e dai nasceram as primeiras escolas protestantes. Cheias de vigor,
trouxeram inovações e pensamento revolucionário para o contexto educacional. Refletiam
preocupação missionária e redentiva para o processo educacional. Algumas se
tornaram modelo de excelência em educação, deixando marcas profundas nas vidas
dos que ali passaram.
Porém, a dinâmica do mundo em processo de globalização
e secularização não deixou estas escolas protestantes ilesas. Novos conceitos
educacionais altamente naturalistas nas suas bases vieram como um rolo
compressor sobre o sistema educacional tradicional brasileiro e de dentro de
nossas universidades começou a ecoar uma nova voz que exigia o exercício de uma
educação que preparasse para uma nova realidade, o cidadão autônomo, livre.
Somado a uma série de outros problemas como a falta de planejamento,
investimentos, corrupção e desvio de verbas, a educação praticada no Brasil tem
mostrado resultados vergonhosos. Em um ranking de 65 países, o Brasil se
colocou como 53º no último Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA
2009).
Mas o problema não reside apenas no quanto nossos
alunos são capazes de ler e realizar operações aritméticas, seja na escola
secular ou religiosa. O problema maior está na formação moral dos alunos destas
escolas. A criação do estado laico passou a ser confundida com um estado ateu e
a escola laica, da mesma forma. Nesse processo as escolas de origem cristã
protestante praticamente perderam sua identidade e quaisquer elementos
distintivos na sua pedagogia. Passaram a adotar como modelos de excelência os
mesmos modelos ensinados nas universidades, sem críticas e sem questionamentos,
não percebendo que nas bases fundamentais destes modelos e teorias pedagógicas
encontrariam pressupostos absolutamente anticristãos.
Assim como a educação brasileira em geral passa por
uma crise de resultados, as escolas de origem cristã protestantes passam por
uma crise de identidade, necessitando responder com urgência a questões como: o
que é educação cristã escolar? O que é e como se deve ensinar em uma escola
cristã?
Sobre a atuação
do autor
Diante da situação e das questões acima é que
encontramos a importância do trabalho de pesquisa e reflexão do autor deste
livro. Com mente inquiridora e insatisfeito com a situação e respostas fáceis,
na década de 1980 escreveu um pequeno opúsculo publicado pela Editora Fiel com
o nome “Educação Cristã?” Esta primeira obra começou a despertar em educadores
brasileiros a necessidade de argumentar em favor de uma educação escolar cristã
que não fosse meramente emuladora das teorias e métodos da educação
secularizada ou da educação religiosa amplamente praticada no país. Antes,
propunha que a educação escolar cristã deveria encontrar sua própria definição
no contraste com a educação secular. O próprio título da obra, com uma
interrogação ao final, já mostrava que o conceito ainda era estranho ao nosso
público. Naquele tempo, era comum o encaixe do papel das escolas cristãs
debaixo do conceito de ‘educação secular’, em contraste com a ‘educação cristã’
dada na igreja. Por sinal, o livro saiu após as palestras que proferiu na
Primeira Conferência Fiel para Pastores sobre o tema.
Sempre pensando sobre os diversos atores envolvidos no
processo educacional (professores, gestores, pais e alunos) e buscando
respostas bíblicas sobre o papel de cada um deles, passou a ser requisitado
como conselheiro e palestrante nas mais diversas situações por educadores
cristãos e igrejas, tendo auxiliado a muitos, em repetidas ocasiões, com
palavras bíblicas e sábias sobre o processo educacional.
Vivendo em Recife com a família e trabalhando no ramo
da indústria e comércio, como gerente e diretor de empresas, foi conselheiro no
processo de abertura de uma escola cristã muito bem sucedida, naquela cidade, e
atuou na preparação de folhetos para a divulgação do conceito de educação escolar
cristã, apontando a pais e pastores a necessidade de uma educação realmente
bíblica. Mais tarde, morando em Manaus, interagiu com iniciativas da educação escolar
cristã por parte de irmãos que traduziam material didático cristão de origem
norte americana para a língua portuguesa e rodou o país proferindo
conferências, com eles, sobre o tema.
No começo da década de 2000, sempre envolvido com a
educação cristã e tendo seus filhos estudando em uma escola comprometida com o
conceito bíblico de educação, em São Paulo, aproximou-se da Association of Christian Schools
International – ACSI, da qual tornou-se, em 2004, um associado fundador e
vice-presidente de seu conselho, a Associação Internacional de Escolas Cristãs
– ACSI Brasil, mais tarde tornando-se o seu presidente.
Em 2004 foi contratado para trabalhar no Instituto
Presbiteriano Mackenzie, uma instituição de origem cristã presbiteriana e
dentro da área educacional. Como presbítero desta denominação encontrou
realização ao unir suas competências profissionais com suas aspirações educacionais,
como ele mesmo diz, seu primeiro amor. Em 2005 foi nomeado Superintendente da
Educação Básica das Escolas Mackenzie (São Paulo, Tamboré e Brasília),
incluindo a responsabilidade pelo recém-estabelecido Sistema Mackenzie de Ensino, que ainda dava seus primeiros passos
de estruturação. Desde as ideias seminais que compuseram o primeiro projeto
político pedagógico unificado das escolas e do Sistema até a produção final dos
primeiros livros da educação infantil, a firmeza e clareza dos conceitos da
educação cristã escolar postulados por Solano estiveram presentes de forma
marcante e visível. Neste estágio, junto com uma equipe que foi sendo por ele
formada aos poucos, o trabalho pioneiro tomou corpo e vulto para chegar até o
presente com quase 150 escolas ao redor do Brasil que usam este material,
abrangendo todas as áreas do conhecimento e que em breve deve completar o
Ensino Fundamental II, já partindo para o Ensino Médio. Atualmente, como
Diretor Financeiro no Mackenzie, continua com o coração na educação, envolvido em
conferências e planejamento.
Sobre o livro
No ano de 2000, Solano Portela registrou em um artigo
na revista acadêmica Fides Reformata
(5/1), “uma avaliação teológica preliminar de Jean Piaget e do construtivismo”.
Essa análise, mais aprofundada do tema da educação escolar cristã, está contida
neste livro, expandida e atualizada. Em 2008, Solano Portela foi o grande
incentivador e apresentador da produção de um volume da Fides Reformata totalmente dedicado à educação escolar cristã.
Dentro desse volume publicou o artigo intitulado Pensamentos preliminares direcionados a uma pedagogia redentiva. Nele,
propõe “O desenvolvimento de uma pedagogia própria à educação cristã, [...] apresentada como sendo a solução
imperativa para as escolas cristãs [...] A pedagogia redentiva apoia-se em nove
alicerces: metafísico, epistemológico, ontológico, nomístico, ético,
relacional, metodológico, estético e teleológico” (Fides Reformata, 13/2). Entendo que este artigo, inédito quanto à
sua aplicabilidade no contexto da educação brasileira, é um marco na busca da
compreensão e execução da tarefa da educação cristã em nosso país e, agora,
encontra sua forma mais completa e ampla apresentada neste livro. Assim, a obra
que o leitor tem agora nas mãos é o fruto de um processo de reflexão e
aplicação do pensamento bíblico à educação ao longo de quase 30 anos. Reúne uma
sólida cosmovisão bíblica e sua aplicação bastante prática para o contexto
educacional brasileiro.
O livro é dividido em três grandes partes que relatam:
a) O Contexto: como se
encontra o atual cenário da educação no Brasil, tanto secular quanto religiosa,
principalmente orientada pelas teorias construtivistas; b) O Contraste: a plausibilidade da
educação cristã como uma alternativa; c) A
Proposta: uma proposição para o desenvolvimento de uma pedagógica
cristã, como mencionada acima, chamada de “Pedagogia Redentiva”.
A primeira parte faz uma avaliação bastante pertinente
do Construtivismo e sua influência na educação brasileira nas últimas três
décadas. Nesta seção o autor demonstra que a proposta pedagógica predominante
na educação brasileira é muito mais do que uma metodologia de educação e que
não pode ser tomada como algo neutro e estéril para ser aplicado em qualquer
contexto. Antes, é uma filosofia que contém uma série de contradições
fundamentais com os princípios da fé cristã que encontramos nas Escrituras. Os
conceitos fundamentais de Piaget, Emilia Ferreiro e de vários pensadores
brasileiros são avaliados à luz dos conceitos bíblicos da epistemologia e de
seu sistema de valores. Dentre seus 20 capítulos, encontramos vários temas que
incluem a avaliação de alguns materiais didáticos e suas filosofias
anticristãs. A seção serve como um chamado à reflexão por parte dos pais,
educadores e escolas cristãs que querem de fato promover uma educação de
excelência que tenha fundamentos numa cosmovisão bíblica sobre a vida e o
mundo.
A segunda parte do livro labora sobre a educação
escolar cristã como uma alternativa, partindo do princípio de que a Bíblia nos
apresenta uma visão unificada da vida que deve servir como base para a educação
praticada pelo cristianismo em geral e pelas escolas cristãs em particular. A seção trata de definir o que é a educação
escolar cristã, quais são seus parâmetros e como ela se constitui a partir de
uma cosmovisão cristã. Neste ponto o autor faz uma descrição da aplicação do
conceito de educação cristã escolar para as grandes áreas do conhecimento, demonstrando
como cada uma delas deve ser compreendida e ensinada a partir das Escrituras: a
matemática, ciência, saúde, geografia, história, sociedade, governo, economia,
cultura e arte e tecnologia. Dentre os capítulos encontramos tratados os temas
da didática de Jesus, limites, a missão da escola e do educador e seu papel na
cultura.
A última parte trata da Pedagogia Redentiva traçando
as suas definições e tarefas fundamentais. Trabalhando sobre os principais
atores e ideias da pedagogia praticada no Brasil, Solano caminha para uma
proposta que avalia os caminhos seguidos até o momento avaliando em que pontos
são possíveis o diálogo entre a pedagogia em geral e a proposta de uma
pedagogia que leve, de fato, em consideração os pressupostos do cristianismo histórico
conforme compreendido a partir das Escrituras. Os principais temas abordados
são a complexidade, transversalidade e transdisciplinaridade, individualidade,
pilares da educação, construtivismo, pedagogias de Paulo Freire e males
sociais. O livro é concluído com uma breve seção que abre o caminho para as
próximas pesquisas e desafios que se encontram no caminho dos educadores
cristãos brasileiros.
Como dito anteriormente, trata-se da reflexão sobre a
experiência numa caminhada que amadureceu ao longo do tempo. Solano Portela
estabelece em seu livro o “ponto de fuga” sobre o qual poder-se-á construir
toda uma perspectiva para a educação escolar cristã no Brasil.
Mauro Meister
Querido Mauro,
ResponderExcluirEstou muito ansioso pela leitura deste livro que tenho certeza que é uma verdadeira "obra de arte", me encontro em uma situação muito dificil ,porque em minha cidade não tem nenhuma escola com ensino infantil com o nível de uma verdadeira escola cristã protestante, acabei tendo que colocar minha filha de 6 anos em uma escola que apesar de não prezar muito pelo ensino "religioso" se é que posso falar assim, tem fortes bases católicas, então acabo por redobrar o ensino em relação a isso em casa e também tendo um trabalho extra em relação aos cuidados com a instrução dela. A mackenzie tem alguma intenção ou projeto aqui no interior do Rs ?
e se possível gostaria de uma dica do que fazer, tendo em vista que as melhores escolas em minha cidade, tem bases de ensino em redes "católicas".
Em Cristo
Adriano
Mauro Meister disse:
ResponderExcluir"A primeira parte faz uma avaliação bastante pertinente do Construtivismo e sua influência na educação brasileira nas últimas três décadas. Nesta seção o autor demonstra que a proposta pedagógica predominante na educação brasileira é muito mais do que uma metodologia de educação e que não pode ser tomada como algo neutro e estéril para ser aplicado em qualquer contexto. Antes, é uma filosofia que contém uma série de contradições fundamentais com os princípios da fé cristã que encontramos nas Escrituras."
Curioso! Então quer dizer que o estudante pode até aprender a pensar, desde que nunca aprenda a pensar "fora do quadrado"?
Paz!
Caro Guinho,
ResponderExcluirEM que cidade vc está? Temos algumas escolas afiliada à ACSI no interior do RJ (www.acsibrasil.org.br). Dê uma olhada.
abs
Mauro
Caro Crítico,
ResponderExcluirVejo pelo seu nome que és crítico e pelo comentário, que é sua vocação. A minha resposta é simples: sim, temos pressuposto e fazemos todas as perguntas a respeito deles... ao avaliar o construtivismo, percebemos que bate de frente com os pressupostos e que, ao mesmo tempo, não tem os resultados esperados dentro dos pressupostos que assume a respeito do homem e da educação.
abs