domingo, dezembro 30, 2012

Solano Portela

Profecias para 2013. Será um ano pior do que 2012?


Esta é a época em que os profetas de plantão saem das tocas. Quando eu era jovem os astrólogos dominavam a cena. Omar Cardoso era uma celebridade nacional[1] no meio de uma constelação meio obscura de personalidades que pontificavam as previsões para o ano seguinte. Estes escreviam também, religiosa e mercenariamente, em todos os sentidos, as inúteis colunas de horóscopos, de ávida leitura obrigatória em todos os jornais e revistas.

Não sei muito bem o que aconteceu, mas eles saíram um pouco de cena. Sei que ainda estão presentes e muitos os seguem, mas não têm a mesma notoriedade ou repercussão do passado. O país ficou mais cético? Talvez. É possível, também, que a prática de algumas revistas, de compararem as previsões com as realizações, contribuiu para um descrédito maior destes futurólogos, ainda que as Ana Maria Bragas da vida continuem a promovê-los, junto com numerólogos, grafólogos e outras sandices do gênero.

Suspeito, entretanto, que com a multidão de apóstolos, reis, vice-deuses, operadores de maravilhas e propagadores de prosperidade, que pululam o nosso mundo evangélico uma classe esteja substituindo a outra. Acho que muitos líderes evangélicos pensaram: “por que deixar o monopólio das predições só para eles? Vamos pegar uma fatia desse interesse”. Afinal estamos na era dos sete passos para isso, dez degraus para aquilo, cinco princípios para a prosperidade total, e por aí vai. O fato é que não há carência de profecia, nesta terra, ainda que de evidente procedência humana. E nesse campo, a credulidade é espantosa – muitos continuam ansiosos para saber o que vai acontecer no mundo, no país e em suas vidas.

Bom, aqui no Tempora, vou fugir um pouco da nossa linha reflexivo-crítica e, para não ficar de fora da onda do momento, farei dez previsões para 2013. Podem me responsabilizar por elas, mas deem uma trégua até dezembro do ano que vem, pelo menos.

O que vai acontecer, então, em 2013?

1. A corrupção vai continuar. Ou vocês acham que ela acabou com o julgamento do mensalão? Os escândalos continuarão aflorando, ainda que a chamada “sociedade” esteja mais antenada e a imprensa gostando do aumento de circulação que essas notícias propiciam. Vemos apenas um pedacinho do iceberg e a parte submersa é mais volumosa, destrutiva e letal. Para os cristãos, isso não deveria ser surpresa, pois a corrupção está enraizada no coração das pessoas – até no daquelas que criticam os corruptos públicos, ou pegos com a mão na botija. Jeremias 17.9 diz: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá”?

2. Os preços vão aumentar. Ainda que se propague que a inflação está “sob controle”, os indicadores registram aumentos incompatíveis com uma economia estável e os preços dos serviços aumentam acima deles. O dólar continua subindo e algumas vozes iluminadas no governo defendem um patamar de R$2,40 – insensíveis à dependência que os demais preços possuem do relacionamento cambial. Sobe o dólar e tudo fica mais caro e mais difícil. A voracidade de taxação do governo está também sempre presente e chegam a ser cômicas, se não fossem trágicas, as “soluções” estatais para controlar os preços: aumenta-se a alíquota do IPI (como no caso dos automóveis chineses) e depois dá-se um desconto, por decreto, por um tempo. Enfim, nada mudou no governo desde o tempo em que o povo de Israel clamava por um Rei e foi avisado pelo profeta Samuel que não se esquecesse de que a máquina governamental iria sugar milhões para se sustentar, pela opressão fiscal. Em 2013, o governo continuará voraz e todos nós pagaremos uma conta cada vez maior. A realeza do Real está cada vez mais diluída, relembrando Isaías 1.22: “A tua prata se tornou em escórias”.

3. A vida vai permanecer difícil com tribulações, enfermidades, injustiças. Cresce a expectativa de vida, avança a medicina, organiza-se o poder judiciário, mas as agruras desta vida, consequência genérica do pecado (nem sempre específica, na vida dos que sofrem) são realidade incontestável. “No mundo passais por aflições”, já alertava Jesus (João 16.33). A criação “geme e suporta angústias até agora” ansiando pela “redenção”, ensina Paulo (Romanos 8.22 e 23). Assim desconfie daqueles que prometem a tranquilidade e saúde aqui na terra. Isso não vai ocorrer em 2013.

4. A violência não vai dar muita trégua. Vivemos em uma era onde os governantes acham que têm direitos (e não, necessariamente, responsabilidades) sobre tudo e a necessidade de exercer o controle sobre todos. Na prática, os governantes terminam fazendo pouco e mal. Esquecem-se da responsabilidade primordial (Rom 13.1-7), que a de serem “vingadores” dos inocentes e garantir a segurança dos seus cidadãos. Os cristãos não deveriam promover (e nem confiar em) um estado messiânico, na esperança de que todos os seus problemas serão supridos por um poder terreno, falível e temporal. Enquanto estimulamos os governantes a se ocuparem de tudo (ou não os desestimulamos de fazer isso), eles descuidam da segurança. Em 2012 ficou evidente que o governo não se ocupou adequadamente nem conseguiu garantir a vida de seus próprios integrantes, haja visto as inúmeras execuções sofridas pela força policial de vários estados, quanto mais a nossa! As perspectivas para 2013 não são nada animadoras, em um país onde ocorrem mais de 50 mil assassinatos por ano, a maioria dos quais sem qualquer punição. Uma situação para pensarmos cada vez mais na paz real, que vem de Jesus (João 14.27) – “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”.

5. Os engarrafamentos vão piorar – Em São Paulo existe um veículo para cada dois habitantes. A cada dia cerca de 500 veículos novos começam a circular em suas vias. Nas grandes capitais a média diária de veículos novos que adentram as ruas é quase essa, pois a proporção por habitante é ainda menor. Em minhas viagens já vi que engarrafamentos, que eram uma característica típica de São Paulo, há algumas décadas, já são uma constante no Rio, Recife, Brasília, Aracajú, Porto Alegre e tantas outras grandes cidades do nosso país. Está cada vez mais difícil se locomover e a cada dia é mais importante morar perto da escola ou do trabalho. Alguns companheiros mais ousados deixaram os carros para trás e recorreram às motos, para o transporte diário: que estes sejam alvo de redobradas orações! Nessa situação é preciso o desenvolvimento crescente da virtude da paciência, bem como o exercício da criatividade, para que a hora perdida no trânsito seja ganha de alguma maneira. Que tal uma resolução para 2013, de se ouvir a Palavra, ou um “podcast” que edifique? Pense no Salmo 119.48: “...  levantarei as mãos e meditarei nos teus decretos”, mas conserve as mãos no volante!

6. Os vendedores de felicidade “aqui e agora”, o engano do evangelho da prosperidade vai permanecer. Alguém poderia fazer o prognóstico que a farsa mercantilista da “felicidade já” terá vida curta, pois, pragmaticamente, as pessoas constatarão a falsidade das promessas. Mas parece não haver limite ao desejo das pessoas de ouvirem coisas agradáveis sobre os seus dias futuros, principalmente se há apelo às recompensas materiais. Em paralelo, esse tipo de mensagem traz muito lucro aos proponentes, O curioso apelo de que “não deixe esse programa sair do ar” (para que possa continuar transmitido a pedir mais e a vender mais), continuará em 2013. Personalidades do campo evangélico que, no passado, rejeitaram essa fórmula claramente pagã continuarão a ser cooptados por ela, desviando o foco das verdadeiras necessidades das pessoas, como identificou apropriadamente Cristo, no caso da Mulher Samaritana (João 4.13-14) – a “água viva” que mata a sede para sempre. Em 2013, espere a continuidade da parada televisiva diária, e das grandes cruzadas dos propagadores de felicidade: mensagens terrenas, com linguajar evangélico.

7. As teologias e explicações humanas aos fenômenos da natureza permanecerão pródigas, no ministério de alguns. A virada do ano (2012-2013) trouxe um filme – “O Impossível” – que poderosamente nos relembrou dos acontecimentos do Natal de 2004, quando um Tsunami devastou a vida de quase 300 mil pessoas nas costas da Indonésia e Tailândia, bem como de outros países e ilhas circunvizinhas. Ainda que as imagens do Tsunami de 2011, no Japão, sejam mais poderosas, a tragédia de 2004 se constitui uma das mais perturbadoras na história da humanidade. Mas isso nos lembra, também, os teólogos relacionais (ou da teologia do processo), que retiram de Deus qualquer poder sobre as questões futuras. Para essas e outras tragédias, recorreram a explicações simplistas e naturalistas, dizendo que “Deus não tem nada com isso”, contrariando as afirmações bíblicas de que ele é Senhor Soberano sobre toda a criação, inclusive sobre as forças “da natureza”. Em 2013, esses teólogos continuarão fazendo estragos e desviando a muitos; procurando aquietar a própria perplexidade perante essas situações, preferem recorrer aos devaneios da mente, em vez de se renderem às afirmações da Palavra inspirada de Deus (Salmo 29.3; Isaías 29.6; Jonas 1.4).

8. As igrejas irão buscar mais e mais formas de entretenimento; as mensagens ficarão mais curtas; os caminhos da graça, mas distantes da Palavra. Agora que a chamada grande mídia, com os olhos na lucratividade do segmento, abraçou com todas as honras o segmento gospel; nestes tempos em que a adoração dá lugar às celebridades e à chamada “celebração”; nestes momentos em que se diluem os limites entre o espetáculo e o culto devido ao Senhor; devemos esperar uma intensificação do entretenimento nas igrejas, como se fosse apenas uma maneira mais contemporânea de cultuar. Preparem os ouvidos. Coloquem os óculos escuros. Tragam os decibelímetros. O volume vai aumentar. As coreografias vão se expandir. A prosseguir a tendência, as igrejas vão gastar mais dinheiro na iluminação e nos efeitos do que na parafernália eletrônica de amplificação. E o que vai ser sacrificado? A pregação, é claro! Está cada vez mais fora de moda, ainda que Deus especifique, em sua Palavra, que é o método determinado por ele para a propagação de suas verdades (Romanos 10.13-15). Ela vai sendo encurtada e a congregação “entregue” ao pregador depois de exaurida física e emocionalmente durante uma hora e meia, para uns minutos finais, como se fosse só para desencargo de consciência. Adentramos, assim, a zona perigosa de manifestações cúlticas de grande intensidade, mas que desagradam a Deus; onde a verdadeira adoração está ausente, como nos tempos de Amós (5.23 e 6.5), onde havia abundante louvor e transbordante música instrumental: “Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos, porque não ouvirei as melodias das tuas liras”. Deus fala contra os que cantavam “à toa ao som da lira”, pois era tudo centralizado na auto-gratificação e entretenimento: diz o profeta que a intenção não era o louvor a Deus, pois inventavam “instrumentos musicais para vós mesmos”. E há, ainda, os que procuram se dissociar dessa corrente, mas apontam caminhos da graça estranhos aos da Palavra de Deus e à graça das Escrituras; com palavras que se alternam entre a virulência e a aparente piedade, mas que patinam entre a acomodação e encorajamento de formas comportamentais e sociais condenadas na Bíblia. A julgar pelo crescente número de seguidores e defensores, 2013 certamente será um ano “de arromba”, para esses segmentos do evangelicalismo contemporâneo.

9. A ira inconsequente e difamações de alguns profetas do caos, dentro do campo evangélico, permanecerão sendo lançadas contra servos fiéis. Virou moda, para alguns expoentes no campo evangélico, voltar os canhões da agressão contra servos fiéis, propagadores da palavra de salvação, defensores da teologia da reforma, difamando-os como “mundanos”, inconsequentes, protetores dessa ou daquela corrente – simplesmente por não compartilharem com a metodologia e mensagem agressiva abrigada por esses vasos de ira. 2013 não dá mostras de que esse recurso destinado à manutenção dessas figuras controvertidas no ápice da notoriedade, pela controvérsia, vai desaparecer, ainda que os tiros costumem sair pela culatra. Esses profetas do caos continuarão disparando antes de examinar; exibindo uma suposta coragem, que acomoda, na realidade, uma covardia de métodos e ausência de princípios; preferindo alianças políticas, e pseudo-espirituais, espúrias à verdadeira comunhão dos santos. Em 2013, não nos esqueçamos de Tito 3.10: “Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez”. Evitemos aqueles que não se importam com as advertências de Tiago (3.14): “Se... tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade”.

10. No entanto – no meio das perturbações e confusões deste mundo, em 2013, a graça de Deus continuará a ser manifestada – até que Ele cumpra os seus propósitos em sua criação. Não; nem tudo é sombrio no horizonte próximo, ou tem teor negativo. Podemos identificar os seguintes sinais encorajadores e positivos na igreja de Cristo, para o ano de 2013:
a.      Renascimento de um interesse saudável pela sã doutrina: creio que nunca houve tanto interesse pelo estudo sério da Palavra de Deus e das doutrinas cardeais da fé cristã; dos pilares redescobertos pela Reforma do Século 16, do que nos dias de hoje. Não me refiro a números espetaculares, mas a um segmento firme, interessado e fiel, que tem abordado a Palavra de Deus com seriedade. Esse grupo surge em várias denominações e nele encontramos inúmeros JOVENS! Uma juventude que dialoga, se reúne e pesquisa a Bíblia; que emprega tempo em evangelização; que se preocupa em agradar a Deus e em tomar conta de suas vidas, além da doutrina, como nos instrui Paulo (1 Timóteo 4.16). As palavras de 1 João 2.14 soam muito bem para 2013, pois creio que essa tendência continuará crescendo: “Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o Maligno”.

b.      Pais criando os filhos – cerrando as trincheiras da família: O ataque institucional contra a família vem levando muitos pais a reconhecerem a necessidade de se empenhar mais, de lutar, de se envolver com mais intensidade na defesa da família. Em 2013 creio que veremos cada vez mais pais conscientes dessas responsabilidades. Incrivelmente, até entre pais descrentes encontramos aqueles que querem algo diferente para seus filhos.

c.      Testemunho dos cristãos na sociedade – contra aborto e a dissolução sexual. Em paralelo ao fortalecimento da família, pelos cristãos, o mundo evangélico toma consciência de que, como cidadãos, precisam dar um testemunho mais intenso e eloquente. A sociedade já abriga o divórcio automático; já há a aceitação tácita do aborto, a caminho da legalização geral; e a instituição do casamento está sendo redefinida, já não mais se segue a definição bíblica (e constitucional) de união entre um homem e uma mulher, mas as portas estãos escancaradas para a legalização e aceitação, como natural, do casamento homossexual. Em 2013 a voz dos cristãos continuará ressoando, ainda que eu tenha convicção de que esse é o grande teste para a Igreja – quando legalizarem algo claramente contrário à Palavra, quantas terão coragem de se manter fiel às diretrizes divinas?

d.      Escolas Cristãs – Já há algumas décadas a multiplicação de escolas cristãs vem ocorrendo. Pedagogos cristãos vêm reconhecendo a necessidade de abordar o campo educacional sob uma cosmovisão cristã. 2013 verá um aumento desses esforços e a multiplicação de materiais didáticos abordando todas as áreas de conhecimento com premissas cristãs. Creio que a influência, nessa esfera, não somente cruzará linhas denominacionais, como transcenderá o campo evangélico em futuro próximo, pela qualidade do material e dos pedagogos envolvidos nesses programas.

e.      Mídia social e Internet como meio de evangelização e instrução – A internet, considerada por muitos como uma maldição, pode sim ser instrumento de bênçãos e de evangelização. Em 2013 as redes sociais serão utilizadas com mais objetividade e de maneira mais abrangente, especialmente pelos jovens. Uma pessoa pode alcançar muitas, se fizer com jeito, cuidado e competência. Uma mensagem pode atingir repercussões positivas inesperadas. O cuidado a ser tomado, é o de não considerar esse tipo de relacionamento como substituto das interações pessoais, pessoa a pessoa; nem como substituto da pregação, como já observamos.

f.       Mais e melhor literatura cristã de boa qualidade. Pela graça de Deus, mesmo no mar de publicações inconsequentes, muitos livros cristãos bons têm sido publicados, divulgados e adquiridos. Editoras sérias e fiéis têm se mantido sustentáveis. Conferências de porte têm sido realizadas, divulgando essas publicações e autores internacionais. Autores brasileiros têm surgido, alguns com repercussão internacional. 2013 verá a expansão dessas publicações e suas atividades correlatas.

g.      A graça comum possibilitará freio a muita criminalidade, pela exposição dos praticantes – quando parece que o pecado “corre solto”, Deus, em sua misericórdia pela sociedade providencia exposição para que muitos vejam que esses delinquentes não são invisíveis. Por vezes nos surpreendemos com a graça divina que distribui a bênçãos a todos, mas a Bíblia diz (Mateus 5.45) que Deus “faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos”. É ele, também, que restringe o pecado, para que os seus propósitos sejam cumpridos. Devemos ser mais perceptíveis dessa graça comum, e, em 2013, agradecer continuadamente a Deus, pois é ela que possibilita, também, a nossa existência em um mundo tenebroso.

São essas minhas profecias para 2013. Sem horóscopo, sem mágicas, sem revelações espúrias; apenas observando o contexto e o mundo em que vivemos, e a forma como estamos sendo sustentados pela verdadeira graça divina. É esse poder de Deus que entrelaça os fios de nossas vidas em uma maravilhosa obra de arte, como já observou Edith Schaeffer em seu livro The Tapestry.[2] Feliz 2013 a todos os nossos leitores, da parte dos três que interagem com vocês, neste Blog.

Solano Portela


[1] Homar Henrique Nunes (1921-1978) era o seu nome verdadeiro. Seu horóscopo anual atingia a marca dos 300 mil exemplares. Sua coluna diária de previsões circulava em 140 jornais brasileiros.
[2] Edith Schaeffer, The Tapestry: the life and times of Francis and Edith Schaeffer (Waco, Texas: Word Books, 1981). Essa metáfora foi também, magistralmente, colocada em canção por Stênio Marcius Botelho Nogueira e gravada por ele (1998) e por outros, inclusive o João Alexandre (1999). 
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quinta-feira, dezembro 20, 2012

Mauro Meister

Um pouco mais sobre o nome de Jesus e natal

"e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre." Isaías 9.6-7

As mensagens por ocasião da celebração do Natal andam confusas. Tem até muita gente cristã rejeitando esta celebração em razão dessa confusão. Mas a mensagem bíblica a respeito da encarnação do Verbo de Deus é muito clara! Vamos caminhar rapidamente no capítulo 9 de Isaías para entender o que Deus havia preparado!

Primeiro, mensagem do Natal é uma mensagem de esperança verdadeira. O primeiro verso do texto já nos diz: “Mas para a Terra que estava aflita não continuará a obscuridade.” O fato é que aquele povo estava em trevas e cegueira espiritual, social e cultural. Eles precisavam de luz e a encarnação é a manifestação daquele que é a luz do mundo: "O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz”! (v. 2) 

Para que isto acontecesse, era necessária a disciplina: “Deus, nos primeiros tempos, tornou desprezível a terra de Zebulom e a terra de Naftali". Mas a disciplina de Deus não é sem um propósito: "Mas, nos últimos tempos, tornará glorioso o caminho do mar, além do Jordão, Galileia dos gentios" (v. 1), ou seja, a disciplina de Deus é acompanhada de misericórdia! Para entender este texto temos que começar admitindo que somos pecadores e carecemos da misericórdia de Deus. 

O que Deus disse que faria para tornar essas coisas uma realidade? Segundo vimos no verso 2, fazendo a sua luz brilhar! Alguém que vive sem perspectiva e visão, precisa de luz. Quem vive em trevas, vive em opressão e tristeza. E o pecado faz isto conosco! Mas Deus prometeu que traria sobre o seu povo a sua alegria (v. 3): “Tens multiplicado este povo, a alegria lhe aumentaste; alegram-se eles diante de ti, como se alegram na ceifa e como exultam quando repartem os despojos.” Também era necessário que fossem retiradas as causas dessa opressão: “Porque tu quebraste o jugo que pesava sobre eles, a vara que lhes feria os ombros e o cetro do seu opressor...” (v. 4) Além do jugo histórico pelo qual este povo passou, oprimido por muitas nações, o principal jugo que tinham era aquele imposto pela sua natureza caída. 

Mas qual seria o agente para concretizar estas coisas: o filho encarnado de Deus - "um menino nos nasceu, um filho se nos deu" (v. 6). Ele pode fazer isto por causa de quem ele é e do poder que ele tem: "o governo está sobre os seus ombros". O Natal não é sobre o indefeso menino, mas sobre Aquele que carrega nos ombros o governo de todas as coisas! Aquele que veio e venceu a morte, o príncipe das trevas e o próprio pecado, para que não mais fôssemos escravos dele.

E finalmente, podemos e devemos celebrar o Natal com grande confiança por conta do caráter desse governante: "e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre." (v. 6-7) Esse nome é simples, é Jesus (Josué, em hebraico) e significa "Jeová Salva" ou "Jeová é Salvação".

Meu desejo é que nesta confiança e na promessa desse texto (O zelo do Senhor dos Exércitos fará isto!) celebremos o nascimento do Salvador, o autor e consumador da fé e tenhamos a visão e a esperança que só pode vir deste que tem o governo sobre os seus ombros! Lembre-se, o governo não está sobre você, mas sobre Cristo.
   
Publicado originalmente no site da Associação Internacional de Escolas Cristãs (ACSI Brasil) e adaptado.

Mauro Meister
Diretor Executivo ACSI Brasil


Texto de Isaías 9.1-7
Mas para a terra que estava aflita não continuará a obscuridade. Deus, nos primeiros tempos, tornou desprezível a terra de Zebulom e a terra de Naftali; mas, nos últimos, tornará glorioso o caminho do mar, além do Jordão, Galiléia dos gentios.  2 O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz.  3 Tens multiplicado este povo, a alegria lhe aumentaste; alegram-se eles diante de ti, como se alegram na ceifa e como exultam quando repartem os despojos.  4 Porque tu quebraste o jugo que pesava sobre eles, a vara que lhes feria os ombros e o cetro do seu opressor, como no dia dos midianitas;  5 porque toda bota com que anda o guerreiro no tumulto da batalha e toda veste revolvida em sangue serão queimadas, servirão de pasto ao fogo.  6 Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz;  7 para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto. 
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segunda-feira, dezembro 17, 2012

Augustus Nicodemus Lopes

O nome de Jesus e o Natal

Por     3 comentários:
O que o nome de Jesus tem a ver com o Natal? Pouca gente percebe que todo o sentido da celebração está contido de maneira maravilhosa no nome dele: JESUS.

Ouça a mensagem que preguei sobre este assunto na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, clicando aqui.
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sexta-feira, dezembro 14, 2012

Mauro Meister

Ao escolher uma escola você costuma fazer esta pergunta: O que estão ensinando aos nossos filhos?

Muitos pais estão ainda no processo de buscar uma escola para seus filhos. As incansáveis idas a diferentes lugares para ver as instalações e conhecer alguns funcionários e professores toma tempo e energia de pais preocupados com a educação dos filhos. Mas, quase por 'default', a maioria esquece de fazer a pergunta no título desta postagem. Até por assumirem que a educação escolar é neutra e, ao final, tudo igual... mas não é bem assim. Dai a minha recomendação do livro do Pb. Solano Portela, O que estão ensinando aos nossos filhos?. Segue abaixo parte do prefácio que tive o privilégio de escrever para o livro, a fim de que você se sinta encorajado a uma leitura a fim de saber, com uma base cristã sólida, fazer a melhor escolha: 

Do Prefácio da Obra

Prefaciar esta obra é um privilégio. Sou o discípulo sendo honrado pelo mestre, apresentando sua obra! Minha apreciação, amor e vocação pelo tema deste livro foram fomentados e estimulados pelos escritos e pela pessoa de Solano Portela, como instrumento nas mãos de Deus para minha formação. Ao longo de alguns anos tivemos muitas oportunidades de conversar, discutir, debater, trabalhar e produzir dentro de um movimento que continua incipiente, porém, em pleno crescimento no Brasil: a educação escolar cristã.

Sobre a situação da educação escolar cristã no Brasil

Ainda que as escolas cristãs do ramo protestante já tenham história centenária no solo brasileiro e muitos homens e mulheres de valor tenham dedicado suas vidas inteiras a este trabalho, algo ficou faltando: uma base teórica sobre a qual pudéssemos refletir a educação escolar cristã e desenvolver métodos e sistemas de ensino com sólida fundamentação da cosmovisão bíblica.

Podemos claramente observar que a história do Brasil se confunde com a educação religiosa durante todo o processo de colonização. A maior cidade brasileira tem como seu marco inicial o Pateo do Collegio. Uma escola de catequese Jesuíta é o coração da capital paulista, não por acaso, São Paulo, toda cercada por santos. Essa confusão entre escola e ensino religioso pode dar a impressão de que o ensino do fundamento do cristianismo, a Bíblia, tenha tido grande influência no processo educacional. Ledo engano. Cercado de tradições que não são bíblicas e de muitos interesses diametralmente contrários à Bíblia, a educação praticada não era serva da Escritura, mas usava sua autoridade para fazer cumprir vários interesses. A cultura judaico cristã que ainda domina a cultura brasileira foi distorcida para acomodar o pensamento, a religião e os valores morais de muitas classes que vieram tomar posse da terra brazilis.  

Quando as primeiras missões protestantes chegaram ao Brasil, ainda no império, imediatamente perceberam a necessidade da educação do povo, e dai nasceram as primeiras escolas protestantes. Cheias de vigor, trouxeram inovações e pensamento revolucionário para o contexto educacional. Refletiam preocupação missionária e redentiva para o processo educacional. Algumas se tornaram modelo de excelência em educação, deixando marcas profundas nas vidas dos que ali passaram.

Porém, a dinâmica do mundo em processo de globalização e secularização não deixou estas escolas protestantes ilesas. Novos conceitos educacionais altamente naturalistas nas suas bases vieram como um rolo compressor sobre o sistema educacional tradicional brasileiro e de dentro de nossas universidades começou a ecoar uma nova voz que exigia o exercício de uma educação que preparasse para uma nova realidade, o cidadão autônomo, livre. Somado a uma série de outros problemas como a falta de planejamento, investimentos, corrupção e desvio de verbas, a educação praticada no Brasil tem mostrado resultados vergonhosos. Em um ranking de 65 países, o Brasil se colocou como 53º no último Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA 2009). 

Mas o problema não reside apenas no quanto nossos alunos são capazes de ler e realizar operações aritméticas, seja na escola secular ou religiosa. O problema maior está na formação moral dos alunos destas escolas. A criação do estado laico passou a ser confundida com um estado ateu e a escola laica, da mesma forma. Nesse processo as escolas de origem cristã protestante praticamente perderam sua identidade e quaisquer elementos distintivos na sua pedagogia. Passaram a adotar como modelos de excelência os mesmos modelos ensinados nas universidades, sem críticas e sem questionamentos, não percebendo que nas bases fundamentais destes modelos e teorias pedagógicas encontrariam pressupostos absolutamente anticristãos.

Assim como a educação brasileira em geral passa por uma crise de resultados, as escolas de origem cristã protestantes passam por uma crise de identidade, necessitando responder com urgência a questões como: o que é educação cristã escolar? O que é e como se deve ensinar em uma escola cristã?

Sobre a atuação do autor

Diante da situação e das questões acima é que encontramos a importância do trabalho de pesquisa e reflexão do autor deste livro. Com mente inquiridora e insatisfeito com a situação e respostas fáceis, na década de 1980 escreveu um pequeno opúsculo publicado pela Editora Fiel com o nome “Educação Cristã?” Esta primeira obra começou a despertar em educadores brasileiros a necessidade de argumentar em favor de uma educação escolar cristã que não fosse meramente emuladora das teorias e métodos da educação secularizada ou da educação religiosa amplamente praticada no país. Antes, propunha que a educação escolar cristã deveria encontrar sua própria definição no contraste com a educação secular. O próprio título da obra, com uma interrogação ao final, já mostrava que o conceito ainda era estranho ao nosso público. Naquele tempo, era comum o encaixe do papel das escolas cristãs debaixo do conceito de ‘educação secular’, em contraste com a ‘educação cristã’ dada na igreja. Por sinal, o livro saiu após as palestras que proferiu na Primeira Conferência Fiel para Pastores sobre o tema.

Sempre pensando sobre os diversos atores envolvidos no processo educacional (professores, gestores, pais e alunos) e buscando respostas bíblicas sobre o papel de cada um deles, passou a ser requisitado como conselheiro e palestrante nas mais diversas situações por educadores cristãos e igrejas, tendo auxiliado a muitos, em repetidas ocasiões, com palavras bíblicas e sábias sobre o processo educacional.

Vivendo em Recife com a família e trabalhando no ramo da indústria e comércio, como gerente e diretor de empresas, foi conselheiro no processo de abertura de uma escola cristã muito bem sucedida, naquela cidade, e atuou na preparação de folhetos para a divulgação do conceito de educação escolar cristã, apontando a pais e pastores a necessidade de uma educação realmente bíblica. Mais tarde, morando em Manaus, interagiu com iniciativas da educação escolar cristã por parte de irmãos que traduziam material didático cristão de origem norte americana para a língua portuguesa e rodou o país proferindo conferências, com eles, sobre o tema.

No começo da década de 2000, sempre envolvido com a educação cristã e tendo seus filhos estudando em uma escola comprometida com o conceito bíblico de educação, em São Paulo, aproximou-se da Association of Christian Schools International – ACSI, da qual tornou-se, em 2004, um associado fundador e vice-presidente de seu conselho, a Associação Internacional de Escolas Cristãs – ACSI Brasil, mais tarde tornando-se o seu presidente.

Em 2004 foi contratado para trabalhar no Instituto Presbiteriano Mackenzie, uma instituição de origem cristã presbiteriana e dentro da área educacional. Como presbítero desta denominação encontrou realização ao unir suas competências profissionais com suas aspirações educacionais, como ele mesmo diz, seu primeiro amor. Em 2005 foi nomeado Superintendente da Educação Básica das Escolas Mackenzie (São Paulo, Tamboré e Brasília), incluindo a responsabilidade pelo recém-estabelecido Sistema Mackenzie de Ensino, que ainda dava seus primeiros passos de estruturação. Desde as ideias seminais que compuseram o primeiro projeto político pedagógico unificado das escolas e do Sistema até a produção final dos primeiros livros da educação infantil, a firmeza e clareza dos conceitos da educação cristã escolar postulados por Solano estiveram presentes de forma marcante e visível. Neste estágio, junto com uma equipe que foi sendo por ele formada aos poucos, o trabalho pioneiro tomou corpo e vulto para chegar até o presente com quase 150 escolas ao redor do Brasil que usam este material, abrangendo todas as áreas do conhecimento e que em breve deve completar o Ensino Fundamental II, já partindo para o Ensino Médio. Atualmente, como Diretor Financeiro no Mackenzie, continua com o coração na educação, envolvido em conferências e planejamento.

Sobre o livro
No ano de 2000, Solano Portela registrou em um artigo na revista acadêmica Fides Reformata (5/1), “uma avaliação teológica preliminar de Jean Piaget e do construtivismo”. Essa análise, mais aprofundada do tema da educação escolar cristã, está contida neste livro, expandida e atualizada. Em 2008, Solano Portela foi o grande incentivador e apresentador da produção de um volume da Fides Reformata totalmente dedicado à educação escolar cristã. Dentro desse volume publicou o artigo intitulado Pensamentos preliminares direcionados a uma pedagogia redentiva. Nele, propõe “O desenvolvimento de uma pedagogia própria à educação cristã,  [...] apresentada como sendo a solução imperativa para as escolas cristãs [...] A pedagogia redentiva apoia-se em nove alicerces: metafísico, epistemológico, ontológico, nomístico, ético, relacional, metodológico, estético e teleológico” (Fides Reformata, 13/2). Entendo que este artigo, inédito quanto à sua aplicabilidade no contexto da educação brasileira, é um marco na busca da compreensão e execução da tarefa da educação cristã em nosso país e, agora, encontra sua forma mais completa e ampla apresentada neste livro. Assim, a obra que o leitor tem agora nas mãos é o fruto de um processo de reflexão e aplicação do pensamento bíblico à educação ao longo de quase 30 anos. Reúne uma sólida cosmovisão bíblica e sua aplicação bastante prática para o contexto educacional brasileiro.

O livro é dividido em três grandes partes que relatam: a) O Contexto: como se encontra o atual cenário da educação no Brasil, tanto secular quanto religiosa, principalmente orientada pelas teorias construtivistas; b) O Contraste: a plausibilidade da educação cristã como uma alternativa; c) A Proposta: uma proposição para o desenvolvimento de uma pedagógica cristã, como mencionada acima, chamada de “Pedagogia Redentiva”.

A primeira parte faz uma avaliação bastante pertinente do Construtivismo e sua influência na educação brasileira nas últimas três décadas. Nesta seção o autor demonstra que a proposta pedagógica predominante na educação brasileira é muito mais do que uma metodologia de educação e que não pode ser tomada como algo neutro e estéril para ser aplicado em qualquer contexto. Antes, é uma filosofia que contém uma série de contradições fundamentais com os princípios da fé cristã que encontramos nas Escrituras. Os conceitos fundamentais de Piaget, Emilia Ferreiro e de vários pensadores brasileiros são avaliados à luz dos conceitos bíblicos da epistemologia e de seu sistema de valores. Dentre seus 20 capítulos, encontramos vários temas que incluem a avaliação de alguns materiais didáticos e suas filosofias anticristãs. A seção serve como um chamado à reflexão por parte dos pais, educadores e escolas cristãs que querem de fato promover uma educação de excelência que tenha fundamentos numa cosmovisão bíblica sobre a vida e o mundo.

A segunda parte do livro labora sobre a educação escolar cristã como uma alternativa, partindo do princípio de que a Bíblia nos apresenta uma visão unificada da vida que deve servir como base para a educação praticada pelo cristianismo em geral e pelas escolas cristãs em particular.  A seção trata de definir o que é a educação escolar cristã, quais são seus parâmetros e como ela se constitui a partir de uma cosmovisão cristã. Neste ponto o autor faz uma descrição da aplicação do conceito de educação cristã escolar para as grandes áreas do conhecimento, demonstrando como cada uma delas deve ser compreendida e ensinada a partir das Escrituras: a matemática, ciência, saúde, geografia, história, sociedade, governo, economia, cultura e arte e tecnologia. Dentre os capítulos encontramos tratados os temas da didática de Jesus, limites, a missão da escola e do educador e seu papel na cultura.

A última parte trata da Pedagogia Redentiva traçando as suas definições e tarefas fundamentais. Trabalhando sobre os principais atores e ideias da pedagogia praticada no Brasil, Solano caminha para uma proposta que avalia os caminhos seguidos até o momento avaliando em que pontos são possíveis o diálogo entre a pedagogia em geral e a proposta de uma pedagogia que leve, de fato, em consideração os pressupostos do cristianismo histórico conforme compreendido a partir das Escrituras. Os principais temas abordados são a complexidade, transversalidade e transdisciplinaridade, individualidade, pilares da educação, construtivismo, pedagogias de Paulo Freire e males sociais. O livro é concluído com uma breve seção que abre o caminho para as próximas pesquisas e desafios que se encontram no caminho dos educadores cristãos brasileiros.

Como dito anteriormente, trata-se da reflexão sobre a experiência numa caminhada que amadureceu ao longo do tempo. Solano Portela estabelece em seu livro o “ponto de fuga” sobre o qual poder-se-á construir toda uma perspectiva para a educação escolar cristã no Brasil. 

Mauro Meister
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quarta-feira, dezembro 12, 2012

Augustus Nicodemus Lopes

Onde Jesus esteve entre os 13 e 30 anos?

Por     16 comentários:

A revista Aventuras na História da Editora Abril publicou uma matéria onde requenta a velha teoria de que Jesus, dos 13 aos 30 anos, viveu em países estrangeiros aprendendo mágica, filosofia e alquimia, antes de se apresentar em Israel como o esperado Messias dos judeus. Vários evangelhos apócrifos são mencionados como fonte para esta especulação.

A matéria é entediante, além de revelar a mais completa ignorância dos estudos bíblicos e arqueológicos relacionados com a vida de Jesus Cristo. É igual às outras publicações sensacionalistas de fim de ano, que se aproveitam do Natal todo ano para interessar os curiosos e ignorantes tecendo teorias absurdas sobre a vida de Jesus.

A razão pela qual os Evangelhos não nos dizem nada sobre Jesus dos 13 aos 30 anos é por que os Evangelhos não são biografias no sentido moderno do termo, onde se conta toda a história da vida do biografado, desde seu nascimento até a sua morte, dando detalhes da sua infância, adolescência, mocidade, vida adulta e velhice. Os Evangelhos, como o nome já diz, foram escritos para evangelizar, isto é, para anunciar as boas novas da salvação mediante a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Portanto, o que da vida de Jesus interessa aos Evangelhos é seu nascimento sobrenatural, para estabelecer de saída a sua divindade, seu ministério público a partir dos 30 anos, quando fez sinais e prodígios e ensinou às multidões, e sua morte e ressurreição que são a base da salvação que ele oferece. Não há qualquer interesse biográfico na adolescência e mocidade de Jesus, pois nesta época, viveu e cresceu como um rapaz normal.

Assim mesmo, algumas informações dos Evangelhos canônicos - Mateus, Marcos, Lucas e João - nos deixam reconstruir este tempo da vida de Jesus, que passa sem registro direto. Lemos que quando Jesus começou a fazer milagres e a ensinar em sua própria cidade, Nazaré, os moradores estranharam muito pelo fato de que eles conheciam Jesus desde a infância:
 "E, chegando à sua terra, ensinava-os na sinagoga, de tal sorte que se maravilhavam e diziam: Donde lhe vêm esta sabedoria e estes poderes miraculosos? Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto? E escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, senão na sua terra e na sua casa. E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles". (Mat 13:54-58 ARA)
 Percebe-se pela passagem acima que os moradores da cidade conheciam Jesus e toda a sua família. Se Jesus tivesse passado estes 27 anos fora da cidade, certamente não haveria esta reação.

Além do mais, o ensino de Jesus acerca da Lei, dos mandamentos, do Reino de Deus , as suas parábolas e suas ilustrações são todas tiradas do Judaísmo, das Escrituras do Antigo Testamento e das terras da Palestina. Ele está familiarizado com a agricultura, o cuidado de ovelhas, o mercado, o sistema financeiro e legal da Palestina. Estas coisas teriam sido impossíveis se ele tivesse passado todos estes anos recebendo treinamento teológico e místico em outro país, outra cultura, outra religião. Não há absolutamente nada no ensino de Jesus que tenha se originado na religião egípcia, persa, mesopotâmica do da índia, todas elas politeístas, cheias de deuses e totalmente panteístas. O ensino de Jesus, ao contrário é monoteísta e criacionista.

Estas lendas bobas da sua infância são tiradas de "evangelhos" apócrifos e espúrios, cuja análise já fiz e ofereci aos meus leitores aqui

É impressionante, todavia, que ainda estão dando importância a este fragmento de um suposto "evangelho da esposa de Jesus" mesmo após autoridades em manuscritologia e papirólogos terem rejeitado sua importância e mesmo sua autenticidade. Escrevi aqui sobre o tal fragmento.

No fundo, a razão para todas estas especulações é a rejeição do quadro simples e claro que os Evangelhos nos pintam acerca de Jesus, como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que nasceu, viveu e morreu para que pudéssemos ter o perdão de pecados e a vida eterna.
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terça-feira, dezembro 11, 2012

Augustus Nicodemus Lopes

Livro "Cristianismo Reformado" - obra inédita - vai ser lançado nesta sexta!

Por     Um comentário:

A HISTÓRIA DO CRISTIANISMO REFORMADO CONTADA PELOS SELOS

Lançamento nesta sexta-feira às 19:30 na Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos, São Paulo



Recentemente um artigo da revista Time identificou o calvinismo como uma das dez maiores forças em operação na cultura ocidental. Não é para menos. As idéias teológicas da Reforma – que nada mais são que o Evangelho bíblico – não somente influenciaram o mundo antigo, mudando países e servindo de base para o nascimento de outros, como continuam a influenciar a cultura, as artes, a política, a economia e a educação até hoje. 

Um dos exemplos é o livro de Maurício Meneses que conta a história da Reforma protestante, desde a sua origem até a sua influência no mundo, por meio da filatelia. 

O livro Cristianismo Reformado: Uma história contada por meio da filatelia é uma verdadeira obra de arte, que combina a apresentação cuidadosa e meticulosa dos selos comemorativos da Reforma publicados mundo afora com um relato histórico primoroso. Trata-se de obra inédita no Brasil, que aponta a tremenda influência do pensamento reformado na cultura e nas artes.

O lançamento em São Paulo será nesta sexta 14/12 às 19:30 no Shopping Villa-Lobos, no espaço da Livraria Cultura - entrada franca. Você está convidado!


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sexta-feira, dezembro 07, 2012

Augustus Nicodemus Lopes

Paganismo versus Cristianismo - Acaso ou Desígnio Divino?

Por     13 comentários:

Será que tudo que nos acontece é por acaso? Os acontecimentos, quer sejam bons ou maus, ocorrem acidentalmente, de maneira aleatória, sem que haja uma finalidade neles? Os que pensam assim, acham que Deus não determinou, decretou, ou planejou absolutamente nada com relação aos seres humanos, seu futuro histórico ou eterno, e muito menos os acontecimentos diários. Nada foi previsto ou determinado por Deus, inclusive os eventos naturais como terremotos, tsunamis, erupções vulcânicas, acidentes, quedas de aviões, enfim – nada foi previsto ou determinado por ele. Portanto, tudo é imprevisível como num jogo de futebol. Não se sabe o futuro, não se pode prever absolutamente nada quanto ao fim da história. Junto com seus seres morais, Deus constrói em parceria o futuro, que neste acaso é aberto, indeterminado e incognoscível. Inclusive para ele mesmo.

Ou, será que as coisas que nos acontecem, mesmo as menores e piores, têm um propósito, ainda que na maior parte das vezes desconhecido para nós? Os que pensam assim entendem que Deus criou o mundo conforme um plano, um propósito, um projeto, elaborado em conformidade com sua sabedoria, justiça, santidade, misericórdia e poder. Nada que acontece, mesmo as mínimas coisas, o fazem ao acaso e de forma aleatória e casual, mas segundo este plano sábio. As decisões dos seres humanos são tomadas livremente por eles mesmos, mas, de uma forma que não compreendemos, elas acabam contribuindo para a concretização do propósito divino sem que Deus seja o autor do pecado. Tudo que ocorre, coisas boas ou ruins, estão dentro deste propósito concebido antes da fundação do mundo.

A melhor maneira de avaliarmos qual das duas é a visão correta é perguntarmos qual delas se aproxima mais da visão de Deus, do mundo e do homem que a Bíblia apresenta. Como os autores bíblicos concebiam o mundo, a história e os acontecimentos?

Ninguém que conheça a Bíblia poderá ter dúvidas quanto à resposta. Os judeus, ao contrário dos povos pagãos ao seu redor, não acreditavam em sorte, azar, acaso, acidente ou contingências. Eram os filisteus e não os israelitas que acreditavam que as coisas podiam acontecer ao acaso (veja 1Sm 6.9). Os israelitas, ao contrário dos pagãos, não acreditavam no acaso.

Para eles, Deus tinha traçado planos para os homens e as nações, e os mesmos iriam se cumprir inevitavelmente. Estes planos não poderiam ser frustrados por homem algum (Jó 42.2; Pv 19.21; Is 14.27; Is 43.13; Is 46.10b-11). Tais acontecimentos estavam tão inexoravelmente determinados que Deus dava conhecimento deles de antemão, através dos profetas. O fato de que os profetas de Israel eram capazes de predizer o futuro com exatidão era a prova de que o Deus de Israel era superior aos deuses pagãos (Is 46.9-10).

Os autores do Antigo Testamento sempre descrevem eventos que aconteceram aparentemente ao acaso como sendo o meio pelo qual Deus realizava seu propósito final. Assim, o arqueiro que atirou sua flecha “ao acaso” durante uma batalha acabou atingindo o rei de Israel e dessa forma cumpriu a profecia sobre sua morte (2Cr 18.33). A tempestade que atingiu o navio em que Jonas fugia para Társis não foi mera contingência, mas resultado da ação de Deus em levar o profeta a Nínive (Jn 1.4). O amalequita que vagueava “por acaso” nos montes de Gilboa foi o que encontrou Saul agonizante e o matou, cumprindo assim a determinação do Senhor de castigá-lo por ter consultado a pitonisa (2Sm 1.6-10; 1Cr 10.13). O encontro “casual” do profeta com um leão causou-lhe a morte e assim cumpriu a profecia contra ele (1Re 13.21-24). A visita casual que Acazias foi fazer a Jorão e o encontro fortuito com Jeú era tudo “a vontade de Deus” conforme o autor do livro das Crônicas, para que Acazias fosse morto (2Cr 22.7-9). Dezenas de outras passagens poderiam ser citadas para mostrar que na cosmovisão dos autores do Antigo Testamento nada acontecia por acaso, nem mesmo as pequenas coisas.

Até mesmo ações pecaminosas dos homens são atribuídas a Deus pelos autores do Antigo Testamento. O endurecimento do coração de Faraó para não deixar o povo de Israel sair é atribuído à Deus, que queria mostrar sua glória e seu poder sobre os deuses do Egito (Ex 7.3; 9.12). O endurecimento dos filhos de Eli para não se arrependerem do mal praticado é atribuído à Deus que os queria matar (1Sm 2.25). O endurecimento do rei Seom para não deixar Israel passar por sua terra é atribuído a Deus, que queria entregá-lo nas mãos de Israel (Dt 2.30), bem como o endurecimento de todas as nações cananitas (Js 11.20). Ao mesmo tempo, é preciso acrescentar, os israelitas não consideravam Deus como culpado do pecado humano. Ele era santo, justo, verdadeiro e não podia contemplar o mal (Hab 1.13). Todos estes mencionados acima foram responsabilizados por seus próprios pecados.

A visão de um mundo onde as coisas acontecem ao acaso, acidentalmente, sem propósito, é completamente estranha ao mundo dos israelitas conforme temos registrado na Bíblia.

Quando chegamos na pessoa de Jesus, encontramos exatamente a mesma visão de mundo, de Deus e da história, que é refletida no Antigo Testamento. Para Jesus, até mesmo coisas tão insignificantes como o número de cabelos da nossa cabeça (Mt 10.30) e a morte de pardais (Mt 10.29) estavam sob o controle da vontade de Deus. Ele era capaz de profetizar acontecimentos futuros tão triviais quanto o local onde se encontrava uma jumenta e seu jumentinho (Mt 21.2), que Pedro iria achar moedas na boca de um peixe (Mt 17.27) e que um homem estaria em determinado momento entrando na cidade com um cântaro na cabeça (Lc 22.10-12). Obviamente estas coisas não aconteceram por acaso.

Jesus se referiu à vontade de Deus e ao plano dele inúmeras vezes, como por exemplo, ao ensinar aos seus discípulos que tinha vindo ao mundo para morrer na cruz para salvar pecadores (Mt 17.22-23). As parábolas que Jesus contou sobre o futuro de Israel e sobre o dia do juízo deixavam pouca dúvida de que, para Ele, a história caminhava para um fim já traçado e determinado por Deus. No sermão escatológico Jesus predisse com exatidão a queda de Jerusalém, a fuga dos discípulos, o surgimento dos falsos profetas, as catástrofes, terremotos, secas, pestes e guerras que haveriam de suceder à raça humana e as perseguições que sobreviriam a seus discípulos antes de sua vinda (Mt 24).

Os discípulos de Jesus, os autores do Novo Testamento, tinham exatamente a mesma visão de um mundo onde nada ocorre por acaso. Tudo o que havia acontecido com Jesus, como o local do seu nascimento (Mt 2.5-6), sua ida ao Egito (Mt 2.15), sua vinda a Nazaré (Mt 2.23), seus milagres (Mt 8.16-17), sua traição (Jo 17.12), seu sofrimento e sua morte na cruz (At 3.18) – inclusive detalhes como beber vinagre (Jo 19.28-29), ter sua túnica rasgada (Jo 19.24) e seu corpo furado por uma lança (Jo 19.34-36) – tudo isto havia sido determinado por Deus em detalhes, a ponto de Deus ter revelado estes fatos cerca de seiscentos anos antes dos mesmos terem acontecido por meio dos profetas de Israel. Pensemos na probabilidade de atos, decisões e eventos acidentais, aleatórios, ao acaso, contingenciais, acontecerem de tal forma que estas coisas aconteceram exatamente como os profetas tinham dito!

Não só os fatos ocorridos com Jesus haviam sido planejados, inclusive aqueles que cercaram o nascimento da igreja cristã. A substituição de Judas (At 1.16-26), o dia de Pentecoste (At 2.14-17), a rejeição de Israel (At 13.40), a inclusão dos gentios na Igreja (At 15.15-20) – tudo aquilo havia sido determinado por Deus e previsto nas Escrituras pelos profetas. Veja a quantidade de vezes que no livro de Atos se menciona que a história de Cristo e da igreja haviam sido determinadas por Deus e anunciada pelos profetas: Atos 3.18,21-25; 10.43; 13.27,40; 18.28; 26.22.

Nas cartas que escreveram às igrejas, os autores do Novo Testamento jamais, em qualquer lugar, ensinaram os crentes que as coisas acontecem por acaso. Ao contrário, eles ensinaram os crentes que a conversão deles era resultado da vontade de Deus. Eles foram predestinados (Rm 8.29-30; Ef 1.5,11), escolhidos antes da fundação do mundo (Ef 1.4). Os crentes são ensinados a buscar a vontade de Deus, a se submeter a ela e a entender que a vontade de Deus controla a história (Rm 8.27; 12.2; Ef 6.6; Cl 4.12; 1Ts 4.3; 5.18; Hb 10.36; 1Pd 2.15). Até o sofrimento por causa do Evangelho era visto como sendo pela vontade de Deus (1Pd 3.17; 4.19). Eles foram ensinados a ver uma santa conspiração divina em tudo que acontece em favor do bem deles (Rm 8.28), a ponto de serem exortados a dar graças em tudo (1Ts 5.18). Eles são exortados a dizer sempre “se Deus quiser” farei isto ou aquilo (Tg 4.15). Paulo sempre dizia que “se for a vontade de Deus” ele iria a este ou aquele local (Rm 1.10; 15.32). Ele sempre começa suas cartas dizendo que foi chamado “pela vontade de Deus” para ser apóstolo (1Co 1.1; Ef 1.1; Cl 1.1; 2Tm 1.1).

Os cristãos são encorajados a enfrentar firmes as provações e tentações, pois Deus não permitirá que eles sejam provados além de suas forças (1Co 10.31). Eles devem sofrer com paciência em plena confiança que o Deus que está no controle de todas as coisas lhes dá a vida eterna e que ninguém poderá arrancar seus filhos de suas mãos. Eles são consolados com a certeza de que Deus haverá de cumprir todas as suas promessas, e que há um final feliz para todos os que confiam nele e crêem em Jesus Cristo como seu único e suficiente Salvador. Eles são exortados a permanecer firmes pois o bem haverá de triunfar sobre o mal, a justiça prevalecerá e a verdade haverá de vencer. E isto só é possível porque Deus está no controle, porque Ele conduz a história para o fim que Ele mesmo determinou, de uma maneira sábia e misteriosa, na qual os seres humanos e os anjos são responsáveis por seus atos, decidem fazer o que querem e tomam as escolhas que desejam.

À semelhança dos autores do Antigo Testamento, os escritores do Novo também atribuem a Deus o fato de que os ímpios e pecadores impenitentes se afundam cada vez mais no pecado. Paulo por três vezes em Romanos 1 declara que Deus entregou os incrédulos de sua geração à corrupção de seus próprios corações, para que eles se afundassem ainda mais no pecado e na iniqüidade (Rm 1.24,26,28). Aos tessalonicenses, ele declara que Deus manda a operação do erro para que os que rejeitam a verdade e creiam na mentira (2Ts 2.11). Igualmente, à semelhança do Antigo Testamento. O Novo responsabiliza os seres humanos por seus próprios pecados e condenação.

É evidente que não será na Bíblia que encontraremos esta visão de um mundo onde as coisas acontecem por mero acaso, onde tudo é casual e contingencial. Mas, vamos encontrá-la na mentalidade pagã, nas religiões idólatras, de deuses pequenos, impotentes, egoístas. Vamos encontrar esta visão de um mundo onde as coisas ocorrem de maneira aleatória nas idéias dos maniqueístas e gnósticos, ateus e agnósticos, especialmente os evolucionistas, que defendem que tudo surgiu e acontece como resultado de uma combinação fortuita de tempo e de acaso.

Os verdadeiros cristãos, todavia, cantam “acasos para mim não haverá”.

Se tudo acontece por acaso, que combinação inimaginável de ações livres, aleatórias e catástrofes naturais fortuitas poderão unir-se numa conspiração impessoal e totalmente ao acaso para produzir o final que Deus prometeu na Bíblia? Se Deus não é Deus, então o acaso se torna Deus e não temos qualquer garantia de que o final feliz prometido na Bíblia haverá de acontecer.

Não nos enganemos. A discussão entre acaso versus planejamento não é uma disputa teológica entre cristãos arminianos e calvinistas, pois os arminianos e os calvinistas concordam que Deus tem um plano, que ele controla a história, que não existe acaso e que Ele conhece o futuro. Ambos aceitam a Bíblia como Palavra de Deus e querem se guiar por ela. O confronto, na verdade, é entre duas visões de mundo completamente antagônicas, a visão pagã e a visão bíblica, entre as religiões pagãs e a religião bíblica. Posso não entender tudo sobre este assunto, mas prefiro mil vezes ficar ao lado dos autores da Bíblia do que ao lado de filósofos, teólogos e poetas ateus, agnósticos e racionalistas.
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segunda-feira, dezembro 03, 2012

Augustus Nicodemus Lopes

Deus é amor


Em sua recente entrevista à revista VEJA, Rob Bell usou a declaração bíblica “Deus é amor” como argumento para embasar sua expectativa de que ao final todos os seres humanos serão salvos.
Não quero aqui repetir as observações que fiz à tal entrevista em post anterior. Vou me concentrar apenas numa análise crítica do uso desta frase “Deus é amor” por Rob Bell e seus seguidores.

Vou começar lembrando que antes de Rob Bell outros já usaram esta expressão bíblica (1Jo 4.8 e 16) para defender ideias estranhas. Cito particularmente os defensores do teísmo aberto ou da teologia relacional. Para eles, o atributo mais importante de Deus é o amor. Todos os demais estão subordinados a este. Richard Rice, um proponente do teísmo aberto, em seu artigo “Biblical Support for a New Perspective” [“Base Bíblia para uma Nova Perspectiva”] publicado num livro de teístas abertos cita um leque eclético de neo-ortodoxos e liberais, tais como Heschel, Barth, Brunner, Kasper e Pannenberg para apoiá-lo na afirmação que o amor “é mais importante que todos os outros atributos de Deus”, até mesmo “mais fundamental… O amor é a essência da realidade divina, a fonte básica da qual se originam todos os atributos de Deus.”

Com base neste conceito da predominância do amor, eles negam que Deus conheça o futuro, pois seu amor o impede de limitar a liberdade de suas criaturas de qualquer modo ou maneira. Deus é amor, e isto significa que ele é sensível para com suas criaturas e que constrói o futuro junto com as decisões delas. O futuro, portanto, é sempre aberto e indeterminado. Nem Deus o conhece, pois em nome do amor abriu mão da sua onisciência.

É claro que estas conclusões não podem ser consideradas nem mesmo como cristãs. Mas note que elas foram alcançadas a partir do uso errado do conceito de que Deus é amor. No caso, o erro maior foi esquecer que além de ser amor, Deus também é onisciente e onipotente e que seu amor não o obriga a renunciar a nenhuma de suas características ou atributos em seu relacionamento com suas criaturas. Penso que este é exatamente o mesmo tipo de erro em que Rob Bell e seus defensores incorrem ao usar a expressão “Deus é amor” como base para sua expectativa da salvação universal. Explico.

1 – Apenas quatro vezes no Novo Testamento encontramos afirmações sobre o que Deus é, três delas feitas por João: Deus é “espírito” (Jo 4.24), “luz” (1Jo 1.5) e “amor” (1Jo 4.8,16). A quarta é “Deus é fogo consumidor” (Hb 12.29; cf Dt 4.24). Estas afirmações não são definições completas de Deus – não tem como defini-lo no sentido estrito do termo –  mas revelam o que ele é em sua natureza. “Deus é amor” significa que ele não somente é a fonte de todo amor, mas é amor em sua própria essência. É importante, entretanto, lembrarmos que se Deus é amor, ele também é espírito, luz e fogo consumidor. Temos de manter em harmonia estes aspectos do ser de Deus, pois só assim poderemos compreender como um Deus, que é amor, castiga os ímpios com ira eterna. Conforme escreveu John Stott em seu comentário de 1João 4.8 e 16, “Aquele que é amor é luz e fogo também”.

“Fogo” e “luz” são metáforas, é verdade. Mas, metáforas apontam para realidades. No caso, elas querem simplesmente dizer: “Deus é santo, verdadeiro, ele se ira contra o pecado e não vai tolerar a mentira. Ele punirá os pecadores impenitentes”. Basta ler o contexto das passagens citadas acima para que se verifique o que estou dizendo.

Portanto, não sendo a única passagem que se refere a Deus usando o verbo ser, “Deus é amor” não pode ser entendida como uma definição exclusiva da essência de Deus, enquanto que tudo o mais que é dito sobre Deus usando-se o mesmo verbo ser é entendido como atributos secundários. Isto é exegese preconceituosa.

2 – Na revelação que fez de si mesmo, Deus sempre manifesta o equilíbrio perfeito entre os seus atributos, entre amor, misericórdia e compaixão, de um lado, e justiça, retidão e santidade, de outro. Há várias listas destas qualidades de Deus no Antigo Testamento, mas tomo apenas uma, bem representativa. Moisés desejou ver a Deus e Deus se fez revelar pela proclamação de seus atributos:
E, passando o SENHOR por diante dele, clamou: SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniqüidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração! (Ex 34:6-7).
Impossível não notar o equilíbrio entre amor e justiça, misericórdia e ira.

3 – Alguns querem fazer a diferença entre amor e atributos, dizendo que Deus é amor em sua essência e que seus atributos estão subordinados ao amor. Os pontos 1 e 2 acima já são suficientes para mostrar que não podemos dizer que Deus é somente amor. Mas, tudo bem. Vamos conceder, apenas para argumentarmos, que o amor de Deus, por ser a sua própria natureza, prevalece sobre seus atributos, como justiça e santidade, por exemplo. O que isto quer dizer? Que em determinadas situações Deus deixa de ser santo, justo, reto e verdadeiro para mostrar amor? Alguém pode me mostrar uma única passagem na Bíblia onde Deus agiu de maneira injusta, desleal, mentirosa e preconceituosa em nome de sua natureza amorosa?

A maior manifestação do amor de Deus foi enviar seu Filho Jesus Cristo para morrer por pecadores para satisfazer a sua justiça e as demandas de sua santidade. Se Deus fosse amor do jeito que esse pessoal diz, ele teria simplesmente deixado sem castigo os pecados e perdoado todo mundo, sem precisar castigar seu Filho amado em lugar de pecadores. Mas, não é isto que a Bíblia diz. Portanto, o fato de que Deus é amor em momento algum anula o outro fato, que ele é santo, justo e reto.

4 – Basta olharmos a história bíblica para percebermos que este Deus que é amor não deixou de mandar o dilúvio para destruir o mundo dos ímpios e nem fogo do céu para destruir Sodoma e Gomorra e nem ainda de castigar os anjos que se rebelaram contra ele. Na verdade, o apóstolo Pedro usa todos estes episódios narrados no Antigo Testamento como tipo ou figura do castigo eterno que Deus tem preparado para os libertinos, ímpios e pecadores impenitentes:
Ora, se Deus não poupou anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno, os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo; e não poupou o mundo antigo, mas preservou a Noé, pregador da justiça, e mais sete pessoas, quando fez vir o dilúvio sobre o mundo de ímpios; e, reduzindo a cinzas as cidades de Sodoma e Gomorra, ordenou-as à ruína completa, tendo-as posto como exemplo a quantos venham a viver impiamente; é porque o Senhor sabe livrar da provação os piedosos e reservar, sob castigo, os injustos para o Dia de Juízo, especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas paixões e menosprezam qualquer governo (2Pe 2:4-10). 
Comentando os mesmos episódios, Judas diz que eles são “exemplo do fogo eterno” (Judas 7).

5 – Outro ponto: será que Deus só ama os pecadores e ímpios? Não ama ele aqueles de seu povo que foram injustiçados, violentados, torturados e mortos pelo nome de Cristo? O Deus que é amor é o mesmo Deus que tomará vingança daqueles que maltrataram, perseguiram e mataram seu povo. É assim que Paulo conforta os crentes da cidade de Tessalônica, que estavam passando por severa perseguição:
É justo para com Deus que ele dê em paga tribulação aos que vos atribulam; e a vós outros, que sois atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder (2Tess 1:6-10).
Este conforto que Paulo oferece na passagem acima é bem vazio se todos serão salvos, inclusive os torturadores, assassinos e perseguidores do povo de Deus através da história. Paulo não conforta os crentes perseguidos dizendo que no final todos serão salvos, inclusive os seus perseguidores. Ao contrário, Paulo emprega a justiça de Deus e a condenação eterna deles como consolo para os atribulados.

E onde ficam as palavras de Deus dada aos mártires, que nos céus clamavam por vingança?
Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram (Ap 6:9-11).
Esses mártires conheciam a Deus tão bem a ponto de darem suas vidas por ele. Será que pediriam o castigo de seus verdugos a Deus se acreditassem que, sendo amor, Deus iria salvar a todos no final? E por que Deus, caso pretendesse salvar tais ímpios da condenação eterna, consolou os mártires dizendo que aguardassem mais um pouco e então seu pedido seria atendido - é só ler o resto do livro de Apocalipse para ver que estes ímpios, junto com Satanás e seus anjos, serão atormentados para sempre no lago de fogo e enxofre, a segunda morte (Ap 20:10; 21:8).

6 – Deus é amor. E se tem uma coisa que ele ama acima de tudo é o seu Filho Jesus Cristo, várias vezes chamado na Bíblia de “o Amado” (Mt 3:17; 17:5; Ef 1:6; Col 1:13; etc.). Contudo, submeteu-o ao sofrimento do inferno eterno durante aquelas poucas horas na cruz, a ponto de, antes, Jesus ter pedido três vezes para ser poupado (Getsêmani) e de gritar na cruz, “por que me desamparastes?” O que Deus fará, pergunta o escritor de Hebreus, aos que desprezam Jesus Cristo?
De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça? Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo (Hb 10:29-31).
As Escrituras deixam claro que todos pecaram e carecem da glória de Deus. Não há um único justo. Todos merecemos a condenação eterna. O amor de Deus consiste em resgatar os que ele quis da justa condenação, não sem antes ter providenciado a satisfação requerida por sua santidade. Mesmo que somente um fosse salvo da condenação eterna pelo sacrifício de Cristo, o amor de Deus já teria triunfado sobre o pecado e a morte.

Não tenho prazer na realidade do sofrimento eterno. Não prego sobre o inferno com satisfação. Tento fazê-lo com lágrimas nos olhos. Mas confesso que não consigo perceber no conceito da punição eterna qualquer injustiça, crueldade, maldade, ou falta de amor em Deus.

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