quarta-feira, janeiro 30, 2013

Augustus Nicodemus Lopes

Coisas que até um ateu pode ver

Por     27 comentários:
Um número razoável de cientistas e filósofos ateus ou agnósticos vem em anos recentes engrossando as fileiras daqueles que expressam dúvidas sérias sobre a capacidade da teoria da evolução darwinista para explicar a origem da vida e sua complexidade por meio da seleção natural e da natureza randômica ou aleatória das mutações genéticas necessárias para tal.

Poderíamos citar Anthony Flew, o mais notável intelectual ateísta da Europa e Estados Unidos que no início do século XXI anunciou sua desconversão do ateísmo darwinista e adesão ao teísmo, por causa das evidências de propósito inteligente na natureza. Mais recentemente o biólogo molecular James Shapiro, da Universidade de Chicago, ele mesmo também ateu, publicou o livro Evolution: A View from 21st Century onde desconstrói impiedosamente a evolução darwinista.
Thomas Nagel

E agora é a vez de Thomas Nagel, professor de filosofia e direito da Universidade de Nova York, membro da Academia Americana de Artes e Ciências, ganhador de vários prêmios com seus livros sobre filosofia, e um ateu declarado. Ele acaba de publicar o livro Mind & Cosmos (“Mente e Cosmos”) com o provocante subtítulo Why the materialist neo-darwinian conception of nature is almost certainly false (“Por que a concepção neo-darwinista materialista da natureza é quase que certamente falsa”), onde aponta as fragilidades do materialismo naturalista que serve de fundamento para as pretensões neo-darwinistas de construir uma teoria do todo (Não pretendo fazer uma resenha do livro. Para quem lê inglês, indico a excelente resenha feita por William Dembski e o comentário breve de Alvin Plantinga).

Estou mencionando estes intelectuais e cientistas ateus por que quando intelectuais e cientistas cristãos declaram sua desconfiança quanto à evolução darwinista são descartados por serem "religiosos". Então, tá. Mas, e quando os próprios ateus engrossam o coro dos dissidentes?

Neste post eu gostaria apenas de destacar algumas declarações de Nagel no livro que revelam a consciência clara que ele tem de que uma concepção puramente materialista da vida e de seu desenvolvimento, como a evolução darwinista, é incapaz de explicar a realidade como um todo. Embora ele mesmo rejeite no livro a possibilidade de que a realidade exista pelo poder criador de Deus, ele é capaz de enxergar que a vida é mais do que reações químicas baseadas nas leis físicas e descritas pela matemática. A solução que ele oferece – que a mente sempre existiu ao lado da matéria – não tem qualquer comprovação, como ele mesmo admite, mas certamente está mais perto da concepção teísta do que do ateísmo materialista do darwinismo.

Ele deixa claro que sua crítica procede de sua própria análise científica e que mesmo assim não será bem vinda nos círculos acadêmicos:

“O meu ceticismo [quanto ao evolucionismo darwinista] não é baseado numa crença religiosa ou numa alternativa definitiva. É somente a crença de que a evidência científica disponível, apesar do consenso da opinião científica, não exige racionalmente de nós que sujeitemos este ceticismo [a este consenso] neste assunto” (p. 7).

“Eu tenho consciência de que dúvidas desta natureza vão parecer um ultraje a muita gente, mas isto é porque quase todo mundo em nossa cultura secular tem sido intimidado a considerar o programa de pesquisa reducionista [do darwinismo] como sacrossanto, sob o argumento de que qualquer outra coisa não pode ser considerada como ciência” (p.7).

Ele profetiza o fim do naturalismo materialista, o fundamento do evolucionismo darwinista:

“Mesmo que o domínio [no campo da ciência] do naturalismo materialista está se aproximando do fim, precisamos ter alguma noção do que pode substitui-lo” (p. 15).

Para ele, quanto mais descobrimos acerca da complexidade da vida, menos plausível se torna a explicação naturalista materialista do darwinismo para sua origem e desenvolvimento:

“Durante muito tempo eu tenho achado difícil de acreditar na explicação materialista de como nós e os demais organismos viemos a existir, inclusive a versão padrão de como o processo evolutivo funciona. Quanto mais detalhes aprendemos acerca da base química da vida e como é intrincado o código genético, mais e mais inacreditável se torna a explicação histórica padrão [do darwinismo]” (p. 5).

“É altamente implausível, de cara, que a vida como a conhecemos seja o resultado da sequência de acidentes físicos junto com o mecanismo da seleção natural” (p. 6).

Não teria havido o tempo necessário para que a vida surgisse e se desenvolvesse debaixo da seleção natural e mutações aleatórias:

“Com relação à evolução, o processo de seleção natural não pode explicar a realidade sem um suprimento adequado de mutações viáveis, e eu acredito que ainda é uma questão aberta se isto poderia ter acontecido no tempo geológico como mero resultado de acidentes químicos, sem a operação de outros fatores determinando e restringindo as formas das variações genéticas” (p. 9).

Nagel surpreendentemente defende os proponentes mais conhecidos do design inteligente:

“Apesar de que escritores como Michael Behe e Stephen Meyer[1] sejam motivados parcialmente por suas convicções religiosas, os argumentos empíricos que eles oferecem contra a possibilidade da vida e sua história evolutiva serem explicados plenamente somente com base na física e na química são de grande interesse em si mesmos... Os problemas que estes iconoclastas levantam contra o consenso cientifico ortodoxo deveriam ser levados a sério. Eles não merecem a zombaria que têm recebido. É claramente injusta” (p.11).

Num parágrafo quase confessional, Nagel reconhece que lhe falta o sentimento do divino que ele percebe em muitos outros:

“Confesso um pressuposto meu que não tem fundamento, que não considero possível a alternativa do design inteligente como uma opção real – me falta aquele sensus divinitatis [senso do divino] que capacita – na verdade, impele – tantas pessoas a ver no mundo a expressão do propósito divina da mesma maneira que percebem num rosto sorridente a expressão do sentimento humano” (p.12).

Para Nagel, o evolucionismo darwinista, com sua visão materialista e naturalista da realidade, não consegue explicar o que transcende o mundo material, como a mente e tudo que a acompanha:

“Nós e outras criaturas com vida mental somos organismos, e nossa capacidade mental depende aparentemente de nossa constituição física. Portanto, aquilo que explicar a existência de organismos como nós deve explicar também a existência da mente. Mas, se o mental não é em si mesmo somente físico, não pode, então, ser plenamente explicado pela ciência física. E então, como vou argumentar mais adiante, é difícil evitar a conclusão que aqueles aspectos de nossa constituição física que trazem o mental consigo também não podem ser explicados pela ciência física. Se a biologia evolutiva é uma teoria física – como geralmente é considerada – então não pode explicar o aparecimento da consciência e de outros fenômenos que não podem ser reduzidos ao aspecto físico meramente” (p. 15).

“Uma alternativa genuína ao programa reducionista [do darwinismo] irá requerer uma explicação de como a mente e tudo o que a acompanha é inerente ao universo” (p.15).

“Os elementos fundamentais e as leis da física e da química têm sido assumidos para se explicar o comportamento do mundo inanimado. Algo mais é necessário para explicar como podem existir criaturas conscientes e pensantes, cujos corpos e cérebros são feitos destes elementos” (p.20).

Menciono por último a perspicaz observação de Nagel, que se a mente existe porque sobreviveu através da seleção natural, isto é, por ter se tornado na coisa mais esperta para sobreviver, como poderemos confiar nela? E aqui ele cita e concorda com Alvin Plantinga, um filósofo reformado renomado:

“O evolucionismo naturalista provê uma explicação de nossas capacidades [mentais] que mina a confiabilidade delas, e ao fazer isto, mina a si mesmo” (p. 27).

“Eu concordo com Alvin Plantinga que, ao contrário da benevolência divina, a aplicação da teoria da evolução à compreensão de nossas capacidades cognitivas acaba por minar nossa confiança nelas, embora não a destrua por completo. Mecanismos formadores de crenças e que têm uma vantagem seletiva no conflito diário pela sobrevivência não merecem a nossa confiança na construção de explicações teóricas do mundo como um todo... A teoria da evolução deixa a autoridade da razão numa posição muito mais fraca. Especialmente no que se refere à nossa capacidade moral e outras capacidades normativas – nas quais confiamos com frequência para corrigir nossos instintos. Eu concordo com Sharon Street [professora de filosofia na Universidade de Nova York] que uma auto-compreensão evolucionista quase que certamente haveria de requerer que desistíssemos do realismo moral, que é a convicção natural de que nossos juízos morais são verdadeiros ou falsos independentemente de nossas crenças” (p.28).

Não consegui ler Nagel sem lembrar do que a Bíblia diz:

"Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim" (Eclesiastes 3:11).

"De um só Deus fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós" (Atos 17:26-27).

Nagel tem o sensus divinitatis, sim, pois o mesmo é o reflexo da imagem de Deus em cada ser humano, ainda que decaídos como somos. Infelizmente o seu ateísmo o impede de ver aquilo que sua razão e consciência, tateando, já tocaram.




[1] Os dois são os mais conhecidos defensores da teoria do design inteligente. Ambos já vieram falar no Mackenzie sobre este assunto.
Leia Mais

segunda-feira, janeiro 28, 2013

Solano Portela

A Tragédia de Santa Maria


A tragédia de Santa Maria está na mente de todos os brasileiros. Mais de 230 mortes - a maioria de jovens, deixando centenas de famílias enlutadas, como consequência do terrível incêndio. O que era uma noite de diversão transformou-se em um rio de lágrimas que transborda por todo o país. Mais uma vez, as últimas viradas de anos têm sido marcada por tragédias. Em janeiro de 2011, avalanches de terra e enchentes ceifaram centenas de vidas, na região serrana do Rio. Em 2008/2009 foram inundações e deslizamentos assoladores em Santa Catarina. Na transição 2009/2010 tivemos também mortes e prejuízos causados pelas águas, no sudeste do Brasil. Naquela ocasião escrevíamos, também, sobre o terremoto no Haiti e choramos com o conseqüente sofrimento chocante e intenso daquele evento que dizimou cerca de 200 mil pessoas. Três anos depois, aquele povo ainda geme com a orfandade, dissolução social, promessas não cumpridas pela "comunidade internacional" e com a extrema e endêmica corrução arraigada naquela terra. Isso porque ainda não nos saiu da memória o Tsunami de 26.12.2004, no Oceano Índico, quando pereceram cerca de 220 mil pessoas, situação recentemente lembrada no filme "O Impossível".



Enquanto vemos as cenas de dor e tristeza, e avaliamos tudo isso, somos levados às Escrituras para procurar alguma compreensão trazida pelo próprio Deus, para esses desastres. É no meio dessas circunstâncias que decidimos recolocar aqui alguns pensamentos que já foram expressos neste Blog em posts anteriores.



Na ocorrência de tragédias devemos resistir à tentação de procurar respostas que diminuem a bíblica soberania e majestade de Deus, e conseqüentemente não fazem justiça à sua pessoa, ou aquelas que nos colocam com Deus - pontificando um julgamento divino sobre a situação imediata da ocorrência. Tais “explicações”, “conclusões” e “construções” aparentam ser plausíveis, mas revelam-se meramente humanas, pois contrariam a revelação das Escrituras. Esses tipos de respostas sempre aparecem, quando ocorrem desastres; quando diversas vidas são ceifadas e pessoas que estavam entre nós desaparecem, de uma hora para outra. Interpretações estranhas dessas circunstâncias não são novidade e nem têm surgido apenas em nossos dias.



Por exemplo, em novembro de 1755 a cidade de Lisboa foi praticamente arrasada por um grande terremoto. A conclusão emitida por padres jesuítas foi a de que: “Deus julgou e condenou Lisboa, como outrora fizera com Sodoma”. Voltaire (François Marie Arouet), que era um deísta, escreveu em 1756 “Poemas sobre o desastre em Lisboa”. Ali, ele culpa a natureza e a chama de malévola, deixando no ar questionamentos sobre a benevolência de Deus. Jean Jacques Rousseau, respondeu com “Carta sobre a providência”. Nela ele culpa “o homem” como responsável pela tragédia. Ele aponta que, em Lisboa, existiam “20 mil casas de seis ou sete andares” e que o homem “deveria ter construído elas menores e mais dispersas”. Ou seja, procurando “inocentar a Deus e a natureza” ele coloca a agência da tragédia no desatino dos homens, de maneira bem semelhante à que os especialistas contemporâneos e comentaristas da mídia adoram fazer.[1]




Quando do terremoto no Haiti, à semelhança do que ocorreu no Tsunami, alguns depoimentos de pastores, que li, falavam sobre a “mão pesada de Deus, em julgamento”; opinião semelhante à emitida quando do acidente com o avião que transportava o grupo “Mamonas Assassinas”, em 1996. No entanto, nenhuma pessoa tem essa capacidade de julgamento, que reflete apenas orgulho e prepotência.




Mas outros procuram uma teologia estranha às Escrituras, para “isolar” Deus da regência da história. São os mesmos que, quando da ocorrência do Tsunami e do acidente ocorrido com o Vôo 447 da Air France em junho de 2009, emitiram a seguinte conclusão: “Diante de uma tragédia dessa magnitude, precisamos repensar alguns conceitos teológicos” (veja as excelentes reflexões sobre esse último desastre, no post do Augustus Nicodemus, neste mesmo blog). No entanto, em vez de formularmos nossa teologia pelas experiências, voltemo-nos ao ensinamento do próprio Jesus.



Graças a Deus que temos, em Lucas 13.1-9, instrução pertinente sobre como refletir sobre desastres e tragédias. A primeira tragédia tratada é aquela gerada por homens (Vs 1-3). Certos galileus haviam sido mortos por soldados de Pilatos. A Bíblia diz que “alguns” colocaram-se como críticos e juízes (a resposta de Jesus infere isso); deduziram que aqueles que haviam sofrido violência humana, sangue derramado por armas (um paralelo às situações que vivemos nos nossos dias) seriam mais pecadores do que os demais. No entanto, o ensino ministrado pelas Escrituras é o seguinte: Não vamos nos colocar no lugar de Deus. Não vamos nos concentrar em um possível juízo ou julgamento sobre as vítimas. Jesus, em essência diz: cuidem de si mesmos! Constatem os seus pecados! Arrependam-se!



Mas ele nos traz, também, um segundo tipo de tragédias. Esta que é referida é semelhante, guardadas as proporções, a essas enchentes e deslizamentos, ou ao terremoto do Haiti. São tragédias classificadas como “fatalidades”. Jesus fala da Torre de Siloé. O texto (Vs 4-5) diz que ela desabou, deixando 18 mortos. Jesus sabia que mesmo quando, aos nossos olhos, mortes ocorrem como conseqüência de acidentes, isso não impede que rapidamente exerçamos julgamento; não impede que tentemos nos colocar no lugar de Deus. E Jesus pergunta, sobre os que pereceram: “Acham que eram mais culpados do que todos os demais habitantes da cidade”? O ensino é idêntico: Não se coloquem no lugar de Deus; não se concentrem em um possível juízo ou julgamento sobre as vítimas; cuidem de si mesmos! Constatem a sua culpa! Arrependam-se!



O surpreendente é que Jesus passa a ilustrar o seu ensino com uma parábola (Vs.6-9). Ele fala de uma figueira sem fruto. Aparentemente, a parábola não teria relação com as observações prévias, mas, na realidade, tem. Ela nos ensina que vivemos todos em “tempo emprestado” pela misericórdia divina. O texto nos ensina que:



• Figueiras existem para dar frutos - o homem vinha procurar frutos - essa era sua expectativa natural. Todos nós fomos criados para reconhecer a Deus e dar frutos. Esse é o nosso propósito original.



• Figueiras sem frutos “ocupam inutilmente a terra”. O corte é iminente, e justificado a qualquer momento.



• O escape: É feito um apelo para que se espere um pouco mais, na esperança de que, bem cuidada e adubada, a figueira venha a dar fruto e escape do corte.

• Lições para o vizinho? Jesus não apresenta a figueira como um paralelo para fazermos uma comparação com outras pessoas – cujas existências foram ceifadas como vítimas de violência ou fatalidades. Ele quer que nos concentremos em nós mesmos, em nossas próprias vidas, pecados e na necessidade de arrependimento.



• Tempo emprestado: O que ele está ensinando e ilustrando, aqui, é que nós, você e eu, como os habitantes de Santa Maria, as vítimas do Tsunami, na Ásia, ou os habitantes do Haiti, vivemos em tempo emprestado; vivemos pela misericórdia de Deus; vivemos com o propósito de frutificar, de agradar o nosso proprietário e criador.

Creio que a conclusão desse ensino, é que, conscientes da soberania de Deus e de que ele sabe o que deve ser feito, não devemos insistir em procurar grandes explicações para as tragédias e fatalidades. Jesus nos ensina que teremos aflições neste mundo (João 16.33) - essa é a norma de uma criação que geme na expectativa da redenção. 1 Pe 4.19 fala dos que sofrem segundo a vontade de Deus. Lemos que não devemos ousar penetrar nos propósitos insondáveis de Deus; não devemos “estranhar” até o “fogo ardente” (1 Pe 4.12).



Assim, as tragédias, desde as locais pessoais até as gigantescas, de características nacionais e internacionais, são lembretes da nossa fragilidade; de que a nossa vida é como vapor; de que devemos nos arrepender dos nossos pecados; de que devemos viver para dar frutos.



Também, não cometamos o erro de diminuir a pessoa de Deus, indicando que ele está ausente, isolado, impotente. Como tantas vezes já dissemos, “Deus continua no controle”. Lembremos-nos de Tiago 4.12: “um só é legislador e juiz - aquele que pode salvar e fazer perecer”. Não sigamos, portanto, nossas “intuições”, no nosso exame dos acontecimentos, mas a Palavra de Deus. Como nos instrui 1 Pe 4.11: “ se alguém falar, fale segundo os oráculos de Deus”.



Em adição a tudo isso, não podemos cometer o erro de ser insensíveis às tragédias - Pv 17.5 diz: “o que se alegra na calamidade, não ficará impune”; mesmo perplexos, sabendo que não somos juízes nem videntes. Devemos nos solidarizar com as vítimas, na medida do possível e atravessar portas de contato e transmissão das boas novas divinas àqueles que Deus venha, porventura, colocar em nosso caminho. 



Solano Portela

[1] Folha de S. Paulo 28/12/2004; Jornal do Commércio - Recife - 2/1/2005, de onde foram extraídas as citações desse trecho.
-------------------------------------------------
Adaptado de estudos e sermões proferidos em 2005, e de POST de janeiro de 2010
Leia Mais

domingo, janeiro 13, 2013

Mauro Meister

Para ser pastor... sobre a matéria da VEJA SÃO PAULO

A Veja São Paulo publicou neste final de semana a edição 2304, de 16 de Jan de 2013, a matéria de capa "Profissão Pastor". A chamada da matéria diz:
Acompanhamos um curso de formação de mão de obra evangélica
Em troca de dedicação integral, quem segue carreira pode ganhar um salário de até R$ 22.000 por mês

Silas Malafaia em Águas de Lindoia: a organização do evento custou 4 milhões de reais
Que impressão se tem ao ler uma chamada como esta? Que ser pastor, não importa onde, é um negócio, e até bom, afinal, são poucos os ganham salários dessa monta. Veja mostra mais uma vez parcialidade ao trazer a informação ao público, selecionando de forma maliciosa o que diz e dando um quadro falso a respeito da verdade como um todo. Não que o conteúdo da matéria em si seja mentiroso. Aliás, não tenho nem como avaliar, mas posso imaginar que seja fato. O que traz o arrepio a respeito, além do erro logo no começo, ao citar uma das pessoas com quem teve contato (“Que Deus abra o caminho contra as sílabas do maligno” - certamente deveria ser "ciladas") é que a reportagem não passa de uma generalização. Ou seja, além das igrejas mencionadas, existem muitas outras, sérias e comprometidas com a formação acadêmica e pastoral dos seus ministros e que não fizeram e nem fazem do pastorado uma profissão. Que se fizesse ao menos uma ressalva... mas, nada é dito. Que existem aqueles que fizeram de igrejas comércio, é fato. Que tornaram seus pastores comerciantes, não é o meu ponto aqui. Minha indignação é que o leitor, depois de ler a VEJA SP, olhe para todos os pastores da maneira como descrito pela revista. Pois bem, para que se saiba, e isto já escrevi como carta para a revista, veja como é que se forma um pastor na Igreja Presbiteriana do Brasil:

1. precisa ser membro de uma igreja local há no mínimo 3 anos.

2. precisa se apresentar diante do conselho da igreja e ser reconhecido por este como 
alguém vocacionado. 

3. o conselho da igreja local deve testar este que aspira ao ministério pastoral. É costume da minha igreja local enviar este jovem para um instituto bíblico antes de enviar ao seminário (1 a 2 anos).

4. se aprovado, é enviado ao presbitério, que o examina teologicamente e exige exames e atestados físicos e psicológicos. Chega como aspirante e, caso aprovado, torna-se candidato ao ministério.

5. o presbitério deve enviá-lo a um seminário da denominação para um curso teológico que
dura entre 4 e 5 anos (matutino ou noturno) no qual deve aprender, entre dezenas de disciplinas, as línguas hebraica e grega (as línguas originais em que o Antigo e Novo Testamentos foram majoritariamente escritos). A entrada é feita por uma espécie de vestibular que testa a capacidade intelectual e o conhecimento geral do candidato.

6. durante o período de candidatura é designado um tutor ao candidato que deve se assegurar dos aspectos diversos da vida espiritual, emocional e os estudos do candidato, vendo para que mantenha um padrão digno do Evangelho de Cristo.

7. depois do curso teológico o candidato apresenta-se ao presbitério com seu diploma de Bacharel em Teologia e deve fazer uma série de exames diante do presbitério (orais e escritos). 

8. se aprovado o presbitério pode licenciar este candidato para a obra pastoral, ainda em um período de experiência que pode durar de um a dois anos. 

9. o licenciado, depois deste período é novamente examinado pelo presbitério e então pode ser ordenado pastor.
Este processo todo tem como finalidade testar se aquele que se apresenta como candidato ao ministério pastoral preenche os requisitos bíblicos para ser pastor, como os descritos em 2 Timóteo 3.
Em um comentário a respeito desses passos alguém chegou a dizer: "assim, nem Jesus poderia ser pastor nesta igreja". Ora, a questão é que não estamos examinando Jesus, mas homens que precisam, antes de mais nada, mostrar idoneidade ao transmitir a Palavra de Deus e trabalhar com a vida das ovelhas de Cristo.
Sim, tem custo, que normalmente é arcado pela igreja, presbitério e o candidato. Não, o salário médio de um pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil está muito longe de 22 mil reais. Vamos convidar o repórter da Veja SP para ver se passa neste!
--------------------------------------------

Leia Mais

quinta-feira, janeiro 10, 2013

Augustus Nicodemus Lopes

Faith and Science - Interview with Karl H. Kienitz

Por     5 comentários:

Augustus Nicodemus Lopes interviews Dr. Karl H. Kienitz
Dr. Karl H. Kienitz is an electronics engineer, with graduate and post-graduate (masters) degree from the Technological Institute of Aeronautics (ITA) in São José dos Campos, Brazil. He earned his doctorate in electrical engineering from the Ecole Polytechnique Fédérale de Zurich, Switzerland. He is currently a professor at ITA. His area of ​​expertise is  Systems and Control, part of the engineering directly related to automation. He is a member of the Baptist Church in São José dos Campos.
Augustus – You are a professor in one of the most respected technology schools of the country, where scientific methods certainly are followed rigorously. At the same time, you are a Christian who professes to believe in the reports of the Bible. Is there anything in science that would force you to disbelieve the Bible?

Karl - It's almost the opposite: there are things in the Bible that help me to trust in the scientific method as a useful tool. Among other things, the Bible reveals that God is consistent in his government of creation, and not full of whims (e.g. in Romans 1:20, “For since the creation of the world God’s invisible qualities - his eternal power and divine nature - have been clearly seen, being understood from what has been made, so that people are without excuse.”) So, beforehand I expect to find regular patterns in the study of nature, and that is what the scientific method exists for.

Augustus - Why do some people insist that there is a radical incompatibility between Christian faith and modern science?

Karl - Because such people lack consistent concepts of science and faith (e.g. they confuse faith with religion or theology, or confuse science with plausibility), or have ideological reasons to dogmatize an incompatibility between science and Christian faith, which does not really exist.

Augustus - Could you give a definition of science? And say why it does not conflict with the Christian faith in a God who created all things?

Karl - Science is knowledge or a system of knowledge covering general truths or the operation of general laws identified and tested through the scientific method. The scientific method is a set of rules that make use of reason to gather observable, empirical and measurable evidence. Although procedures vary from one area of science to another, you can determine certain elements that distinguish the scientific method from other methods. Initially the scientist proposes hypotheses to explain a certain phenomenon or observation of interest.

Based on these hypotheses, the scientist makes predictions and then performs experiments and verifications to test those predictions. Unconfirmed predictions lead to rejection of the hypotheses. Assumptions that were not rejected eventually are consolidated into theories. Every hypothesis or theory must necessarily allow making predictions, remains constantly subject to further tests and may be refuted in the light of new experimental information. The whole process must be objective, so that the scientist is impartial in interpreting the results.

Another basic expectation of the scientific method is that the whole process must be documented, both data and procedures, so that other scientists can analyze and verify them. Scientists are manufacturers of maps of the physical world. No map tells us everything that could be said about a particular field, but at a certain scale it represents the existing structure with good fidelity. In the sense of growing likelihood, of increasingly better approximations about matters at hand, science gives us an increasing and firmer grasp of material reality. I return to the reasons for a “no conflict” between science and Christian faith, citing one reason only. As previously mentioned, the Bible tells us that the Creator is consistent in his government of creation. Thus, beforehand I expect to find regular patterns in the study of nature, which is the purpose of the scientific method.

Augustus – Is there scientific proof of God's existence?

Karl - No. But there is scientific evidence pointing to the existence of a Creator. Part of such evidence motivated Intelligent Design Theory. Additionally, historical evidence, philosophical and theological arguments indicate that it is more reasonable to admit the existence of God than to deny it.

Augustus - Statistics tells us that over 90 percent of the [Brazilian] population believes in God and that only a minority is atheist. But when the research is done within academy, the situation changes - most scientists claim to be atheist or agnostic. Why is this?

Karl – To a great extent, the current skepticism, atheism and agnosticism in academy is due to the space we give to impulsive intellectuals, who - on many occasions - should research more and talk less. As academics, we need to be pragmatic and critical in order to not accept ideological discourse. Let me cite an example. In 1888, Nietzsche wrote the following sentence: “The closer one is to science, the greater is the crime of being a Christian.” This is part of a text entitled Das Gesetz wider das Christenthum. All his conduct and teaching exuded such notion. His phrase is particularly sordid because he wrote it a few years after the Christians Joule, Maxwell and Pasteur made their monumental contributions to science.

Today, in academy, many find it appropriate to simultaneously adopt Nietzsche's anti-Christian ideology and the science of the Christians Joule, Maxwell and Pasteur, whom Nietzsche - by the generality of his phrase - considers “criminals.” Such option is essentially cultural and, in my opinion, deserves critical reconsideration.

Augustus - Among the founders of modern science, there are many researchers who were committed Christians, creationists - why is this fact omitted when their work is mentioned in the classroom?

Karl - Let me propose a slight rephrasing of the first part of your question: there were not “many” committed Christians among the founders of modern science; all of them were committed Christians, with a few possible exceptions, of which I do not remember even one...In the classroom, mentioning the faith of Christians who worked as scientists is omitted for one of two reasons: (a) the teacher/professor has not the slightest idea that those scientists were Christians, or (b) the teacher/professor holds the opinion that the Christian faith of those scientists had no relation whatsoever to the science they practiced, which in many cases - perhaps in most cases - is completely at odds with the understanding of the scientists themselves. In the case of Kepler, Joule and Maxwell, to give you only three names, the motivation for doing science was closely linked to their Christian faith.

But the Christian faith has impact not only on the motivation for doing science: the respect for human life, for physical and emotional integrity of individuals involved in research, concern for animals and the environment, etc. are natural concerns for a scientist who is also a committed Christian. A scientist well known in Europe, who strongly emphasized the importance of the Christian faith to practice a science that serves humanity and does not harm nature, was Max Thürkauf, a chemist who received the Ruzicka Award for Chemistry in 1963.

Augustus - Many young Christians end up losing faith and abandoning Christianity when they enter the higher education environment. What are the causes, in your opinion?

Karl - The young Christian often is not prepared to have his/her faith questioned. Moreover, often he/she succumbs to the “herd effect” (do, say and believe what everyone around you believes) and/or to the “demigod admiration syndrome” (accept without critical reflection what teachers/professors tell you). In churches young people should be taught how to share, discuss, question and defend their opinions.

Augustus - Currently there is a growing movement within academia, led by Christian as well as nonChristian researchers, who question the assertion of naturalist Darwinism that life in all its complexity is due to mutations and genetic adaptations that happened purely by chance and that the purpose that we can see in nature is only apparent. Can a Christian scientist who believes in the God of the Bible agree that chance is behind reality?

Karl - I see no possibility to use chance to explain the diversity of life. But this does not follow from my faith in the God of the Bible. Calculations involving probabilities, presented by several renowned scientists, clearly entail that at some point an (alleged) evolutionary process would need something like “useful guidance,” which would make the process “non-Darwinian.” As a Christian, I am sure that God created everything. Such certainty is “by faith,” exactly as explained by the writer of the letter to the Hebrews, in the Bible. As an engineer, I am concerned with using nature and caring for it. I see major limitations to researching and articulating a comprehensive understanding of the origins of what we (including our explanatory ability) are an integral part. Systems theory does not support expectations that such a venture succeeds. This is the main reason why I do not engage in conjectures about origins.

Augustus - What advice would you give to a young Christian who enters higher education and especially in the hard sciences?

Karl - I find it relevant that young Christians know and read their Bible, practice their faith, stay in touch with other Christian students, read good books and learn about the history of great scientists, including those with faith in the God of the Bible. (To all Christian students I recommend reading the book “A Mind for God,” by James Emery White; this recommendation applies to students of all areas.)

Augustus – Is science at war with religion today?

Karl – Natural science is not at war with the Christian faith; the latter favored the emergence of the former. As Max Planck said, the most immediate proof of compatibility between Christian faith and natural science, even under detailed analysis and critique, is the historical fact that precisely the greatest scientists of all time, men like Kepler, Newton, Leibniz, were Christians. But some scientists and some theologians have been in conflict on several occasions throughout history for reasons that need to be studied and understood, so that the relevant lessons can be learned.

Augustus – Does science eliminate or confirm faith in God?

Karl - Theologians of Alexandria (4th and 5th centuries) emphasized: (a) the rational unity of the universe and its creation by God from nothing, (b) the intelligibility of the universe to the human mind, (c) the freedom of the contingent universe. This Alexandrian conception favored both the understanding and enjoyment of the work of Christ, as well as the development and use of the scientific method. Grosseteste and Roger Bacon, which I consider the first scientists (in the sense of using the experimental method), had this understanding of the Alexandrians. The theologian T. F. Torrance argues that the same holds for other scientists, for example for Maxwell. In this context, I understand that science, as a good result of the dedication and intellectual engagement of these Christians, ends up confirming their faith.

Augustus - How can the tension between scientific and religious accounts of the origin of the universe and life be eliminated?

Karl - I understand that there is tension between theological interpretations of Scripture and specific interpretations and extrapolations from observations by scientists. Theologians and scientists must continue their hard work, always seeking an understanding consistent with reality.

Augustus - To do science, it is necessary to assume that the universe and nature are intelligible to the human mind. What are the metaphysical and epistemological assumptions that justify the scientific activity?

Karl – In the following I list examples of philosophical beliefs that encourage scientific research:

  • Events in the natural world typically have (immediate) causes in the natural world.
  • Time is “linear.”
  • Causes and effects in the natural world have some regularity in space and time.
  • Causes and effects can be - at least partly - rationally understood.
  • The fundamental constituent of natural behaviors cannot be deduced by logic from fundamental principles. We use observations and experiments to extend our logic and intuition.
  • Studying nature by the means just described is a worthwhile investment of time and talent.

Augustus – Are the universe and life self-existent, self-sufficient, self-organized, or are they grounded in a reality that transcends the nexus of space-time-matter-energy?

Karl - History shows that the breakdown (by Alexandrian theologians) of the Aristotelian notion of the eternity of the world was seminal to the development of the scientific method. Physics today reports evidence pointing to a beginning to the universe. I decided to adhere to the Christian understanding that everything which exists is grounded in a reality that transcends the space-time-matter-energy nexus; I see difficulties for those who choose the other option.

Augustus – Are there limits to what science can tell us to explain the origin and reality of the universe and of life?

Karl - There are limits. I have already indicated my “suspicion” about the use of the scientific method to find a comprehensive explanation about origins. Louis Neel, who 1970 was awarded the Nobel Prize in Physics, said that a scientist's search for a comprehensive explanation of his/her origin is tantamount to one of the pistons of an automotive engine reconstructing the history of cars.

Augustus – As theories and scientific models are merely human constructs, with heuristic limits, and being subject to revision and even disposal in the context of theoretical justification, shouldn't scientific claims about the origin and evolution of the universe and life be less assertive?

Karl - Yes, definitely. Look at this statement from Prof. Franz M. Wuketits (Professor at the Universities of Vienna and Graz): “We assume the correctness of the principle of the theory of biological evolution, we assume that the theory of evolution has universal validity.” Assumptions of this kind are incompatible with science.

Augustus - Today science is founded on reductionistic materialism. Are living beings, especially humans, and the rest of nature, the result of matter and energy only?

Karl - The assertion before the question is not true. Science is founded on the scientific method and notion reductionistic materialism. Many may hold the opinion that the human being is the result of matter and energy only, but this is an opinion that runs into all sorts of difficulties when discussing ethics, aesthetics, emotions, consciousness, etc.

Augustus – Does this reductionistic materialism help or hinder the advancement of good science?

Karl - Reductionistic materialism hinders good science, among other things because of the ethical problems it causes. Prof. Max Thürkauf, whom I have already mentioned, made it clear that materialism is to be blamed for many nuclear and ecological disasters that we have witnessed in the twentieth century. Thürkauf stated that, if we want a science that serves man, the scientist must “pray and work.”

Augustus – Ideas, even scientific ideas, have consequences. How can the religious view of the human being's distinctive place in nature be reconciled with the Darwinian view that reduces him to the level of other animals?

Karl - I see no possibility of reconciliation.

Augustus - If there is no God, everything is possible (Dostoyevsky). If science in its heuristic limitation cannot talk about values, why do scientists reject morality derived from the Holy Scriptures, and devalue human beings - imago Dei supposedly based on science?

Karl - The rejection mentioned in the question occurs for convenience. The phenomenon was already explained by Pascal: “The will, which prefers one aspect to another, turns away the mind from considering the qualities of all that it does not like to see.” “The heart has its reasons of which reason knows nothing.”

Augustus - Current advances in several areas of science are increasingly strengthening the reports about creation found in monotheistic religions, but the scientific community does not address these issues. Would this be out of fear of failure of scientific materialism and of a return of God to universities as a philosophically and scientifically plausible idea?

Karl - Yes, I see that this fear exists in part of the academy. However, monotheistic faith cannot result from scientific interpretation. This is not the way to follow. In particular, the Christian faith has an a priori nature in that it presupposes a notion of God. In such context, something like natural theology can help a little. I think Romans 1:20 legitimizes such perception. Personally I also value philosophical arguments about the existence of God. But what is really important (regardless of whether or not you believe in God), is giving proper attention to Jesus Christ, whose work and ministry are reliably described in the New Testament. Its reports and stories compel us to either define our position or deliberately ignore the issue, the second option being quite inconsistent with any claim to seriousness. It is occupation with history... Furthermore, Christian faith results in observable reality in our own lives. From there, a dynamic knowledge of God can be established, with dynamics similar to that of scientific knowledge. I think that the explanation of T. F. Torrance on the stratification of the knowledge of God might improve our understanding of the similarity that exists between scientific knowledge and Christian theological knowledge.

[On Sept 13, 2012, the original text of this interview in Portuguese was posted on O Tempora! O Mores!, A version of the interview was aired by TV Mackenzie (São Paulo) and is available from YouTube.]

Leia Mais

sábado, janeiro 05, 2013

Augustus Nicodemus Lopes

"Só Presto Contas a Deus"

Por     14 comentários:


Esse é o pensamento do evangélico típico de nossos dias.

Quando fui perguntado recentemente por alguém sobre a maior necessidade da igreja evangélica no Brasil não tive dúvidas em responder que é o exercício da disciplina bíblica. Sei que existem igrejas que disciplinam seus membros e líderes e até cometem abusos nisso. Mas creio que já se tornaram a minoria. Na minha avaliação, a grande maioria das igrejas de todas as denominações não exerce a disciplina eclesiástica sobre seus membros e líderes, ou quando o fazem, o fazem de forma equivocada, arbitrária e sem levar em consideração os ensinamentos das Escrituras sobre o assunto.

Para mim esse assunto é relevante, pois a disciplina da Igreja tem como alvo manter a sua pureza e restaurar os faltosos, e se constitui numa das marcas da verdadeira Igreja de Cristo. Onde os pecados passam impunes, os faltosos não são repreendidos, corrigidos e restaurados, onde os líderes cometem pecados públicos claros e não dão conta a ninguém de seus atos, poderá estar ali a verdadeira Igreja do Senhor, pela qual ele derramou seu sangue precioso, em busca de um povo puro e santo?

Para mim, tudo começa pela absoluta falta de dar conta de seus atos que caracteriza líderes e membros das igrejas. Ninguém se sente devedor a ninguém, senão a Deus – esquecendo que foi o próprio Deus quem instituiu a disciplina eclesiástica como instrumento do seu desejo de manter a Igreja pura e restaurar os caídos. Isso é claro especialmente no caso de líderes que construíram seu império eclesiástico e que não se encontram debaixo de qualquer pessoa ou grupo que poderia corrigi-los e discipliná-los em caso de falta. Pecam impunemente em nome do perdão e da tolerância divina.

As próprias igrejas não exercem a vigilância, o zelo e o cuidado que deveriam para com seus membros faltosos. Preferem ocultar os pecados cometidos ou exercer algum tipo de restrição que mal pode ser reconhecida como disciplina. E os membros – não se sentem obrigados a prestar contas de seus atos às igrejas que freqüentam e portanto, em caso de serem argüidos de seus pecados e erros, não se sujeitam e não acatam qualquer medida corretiva e simplesmente mudam-se para outra igreja.

Na minha opinião, é um estado caótico de coisas, que compromete a imagem dos evangélicos diante do povo, que toma conhecimento do comportamento irregular de líderes e crentes pela mídia. Juntamente com a crise de identidade e doutrinária, a falta de disciplina contribui para o agravamento da situação de UTI em que a igreja evangélica brasileira se encontra.
Leia Mais