quarta-feira, abril 30, 2014

Solano Portela

A propósito do Dia do Trabalho...

TRABALHO - BÊNÇÃO OU MALDIÇÃO?
O trabalho não é a maldição:
1. Em Gn 1.26-28 Deus comissiona a raça humana a "dominar a terra e sujeitá-la". Logicamente isso envolve a penetração em todas as áreas de conhecimento, em todas as ciências, etc. Isso, que chamamos de "mandato cultural" implica em "trabalho", no sentido de aplicação de tempo em uma tarefa, em uma vocação, em um interesse, ou em uma obrigação recebida por delegação. Se o trabalho precede a queda, não pode ser "maldição". Essa é a âncora exegética que legitima o envolvimento do servo de Deus em todas as áreas do conhecimento, como delegação de Deus e não o fazendo um "cristão de segunda categoria" por não estar envolvido "tempo integral" no serviço cristão. Se ele penetra nas esferas do saber para a glória de Deus, está debaixo de sua vontade prescritiva.
2. Adão recebeu de Deus - antes da queda - a tarefa de nomear (o que, provavelmente, implica em classificar e catalogar, no sentido zoológico) o reino animal. Isso é, em toda expressão da palavra, "trabalho", e não era uma maldição mas um preenchimento natural das finalidades do homem.
3. A mulher foi criada antes da queda como auxiliadora, na esfera da família. Menção específica é feita, nas Escrituras, de que ela foi tirada do lado de Adão, não existindo qualquer inferioridade intrínseca advinda da criação, se bem que há uma ordenação funcional que procede do ato criativo. Mas a questão é: ela iria "auxiliar" em que, ou no que - se trabalho fosse uma maldição? A humanidade, pré-queda seria somente diversão? Nenhuma função utilitária? Certamente que não é essa a visão ou ensino das Escrituras. Em um mundo perfeito, sem maldição, havia trabalho, envolvimento físico e intelectual na criação, ainda que sem pecado.
4. Com a queda, o trabalho deixa de ser apenas prazeroso, ou algo simplesmente agradável. Passa a ser penoso, duro, extenuante. Mas nem por isso o "mandato cultural é revogado". A procriação e o nascimento de filhos, na queda, não virou maldição, mas a maldição do pecado se retrata no fato de que o "dar à luz" passa a ser realizado com dores e grande esforço. Semelhantemente, não é o trabalho que é maldição, mas o seu realizar que nem sempre ocorre da forma como gostaríamos nem é tão fácil como seria o nosso desejar.
5. Assim, se antes da queda, possivelmente, o envolvimento com os aspectos e a diversidade da criação, seria algo indolor e que traria só contentamento, depois da queda, estamos sujeitos a estruturas que não procuramos, patrões que não desejamos, áreas às quais não estamos bem encaixados ou sequer apropriadamente treinados. Nem sempre recebemos reconhecimento, por vezes somos injustiçados; o ambiente de trabalho, em várias situações, não reflete a busca da glorificação a Deus, mas a sujeira do mundo - palavrões, blasfêmias, ridicularização da devoção e piedade genuínas; o ambiente é, normalmente, de desonestidade e por vezes somos uma peça em uma grande máquina que opera desonestamente em muitos sentidos. Esse é o aspecto da maldição - mas ela é a maldição do pecado e não do trabalho.
6. Numa ocasião, há muitos anos, eu estava descontente com meu trabalho e ansiava por uma coisa diferente. Vi um anúncio da hoje extinta TransBrasil (na época estava no auge) no qual um de seus comandantes de jato dizia o seguinte: "na TransBrasil faço parte daqueles poucos privilegiados que trabalham exatamente naquilo que gostam de fazer". Fiquei meditando naquilo e na realidade que expressava - realmente, só uma pequena minoria consegue "trabalhar no que gosta de fazer" (coitado do comandante, hoje nem TransBrasil existe mais...). Concluí: por que eu teria que ser um desses privilegiados? Poderia ser que Deus procurava me ensinar exatamente abnegação, concentração nele, confiança maior em seus propósitos, ou algo assim, mantendo-me em uma ocupação que em todos os seus aspectos não me dava qualquer prazer, mas somente canseira, enfado e conflitos. Por que haveria de ser diferente comigo, em um mundo submerso em pecado. Quantos engenheiros não estão consertando carros? Quantos médicos não estão vendendo equipamentos cirúrgicos? Quantos advogados não estão sendo meros auxiliares de escritório? Quantos bancários não estão dirigindo táxis? Quantos motoristas, não estão vendendo algo nas ruas, para sobreviver? Acho que essa é a situação da esmagadora maioria - trabalham no que não têm prazer. Não obstante, devemos considerar o trabalho uma benção de Deus (e não uma maldição) e seguir 2 Tess 3.12 onde Paulo exorta a que "tranquilamente trabalhando" comamos o nosso pão. Se, na providência divina, conseguirmos conjugar o trabalho com o prazer e interesse pessoal, será uma bênção redobrada. E lembremo-nos que nos Dez Mandamentos, Deus comanda: "Seis dias trabalharás...".
Feliz dia do TRABALHO!
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segunda-feira, abril 28, 2014

Augustus Nicodemus Lopes

Coragem e Dor

Por     16 comentários:
Quando tive um acidente de moto cerca de três semanas atrás, fiquei hospitalizado por dez dias, período em que experimentei dores quase insuportáveis. Havia quebrado o pé e a mão diretos. A mão direita precisou de uma extensa cirurgia e da implantação de uma placa de titânio. Apesar dos anestésicos, as dores eram constantes.

Durante os primeiros dias no hospital, não somente as dores como também o desconforto físico tiveram um profundo efeito sobre minha vida espiritual. Dúvidas, confusão, incertezas, ansiedade e quase desespero se apoderaram da minha mente e do meu coração. Cheguei mesmo a rever as questões mais básicas da minha fé, como por exemplo, o amor de Deus pelos seus filhos, o seu sistema, que às vezes parece cruel, de submeter os seus filhos ao sofrimento e à dor, a minha vulnerabilidade e fraqueza diante da realidade, e especialmente as incertezas relacionadas com o futuro. 

Depois de alguns dias debaixo de intenso sofrimento físico, mental e espiritual, finalmente a luz raiou. Ela veio através do alívio das dores e de uma percepção que Deus me deu durante a oração de um irmão que me visitava, com respeito ao seu propósito geral com o sofrimento na vida de seus filhos.

Em nenhum momento eu havia atribuído a Deus qualquer responsabilidade pelo acidente. Como calvinista, eu sabia muito bem que o acidente tinha sido resultado das causas naturais, das leis físicas gerais que Deus havia criado e estabelecido para governar a realidade. Eu havia quebrado aquelas leis e agora estava sofrendo as consequências. Eu sabia que nada acontece sem a vontade de Deus. Mas, a consciência da minha responsabilidade aqui nesse mundo, que sempre acompanhou a consciência que tenho da absoluta soberania divina, não permitiu que eu atribuísse a Deus qualquer mal. Ele sempre é justo e bom. O acidente era a consequência inevitável de eu ter quebrado leis físicas que ele havia estabelecido - no caso, acelerar sem calcular corretamente espaço e trajetória.

Mas o ponto que quero destacar foi a percepção que eu tive, lá no hospital, como nunca antes, da relação inseparável entre o nosso espírito e nosso corpo. Ou, colocando de outra maneira, a relação inseparável entre bem estar espiritual e bem estar físico.  Não pretendo aqui entrar na eterna discussão entre dicotomistas e tricotomistas, se o espírito e a alma são duas dimensões distintas do homem ou a mesma descrita com duas palavras diferentes. Ambos hão de concordar que a dimensão espiritual e a dimensão física estão profundamente relacionadas.

Percebi muito claramente que, diante do sofrimento e da dor, a minha fé havia se estremecido e se abatido. Pensei nos mártires de outrora, do início do cristianismo. Me lembrei da história que nem sempre é contada, que nem todos os cristãos primitivos morreram alegremente, cantando hinos nas labaredas de fogo ou nos dentes das feras. Não poucos morreram gritando de dor, sem demonstrar qualquer coragem durante seu martírio. Outros, publicamente renunciaram à fé, para não padecer sofrimentos e encarar uma morte terrível.

Quanto aos que morreram confiantes em Deus, cantando hinos e dando testemunho do amor e do poder de Deus, e assim entrando nos registros da história da igreja cristã, a eles foi dada a graça de morrer como mártires, glorificando a Deus. Eu não mais julgo aqueles outros que, diante da tortura, da dor e do sofrimento, deram mostra de fraqueza e covardia. Eu posso entender porque eles fizeram isto. Porque eu mesmo percebi no meu coração, quando a dor se tornou mais insuportável, uma grande dificuldade de me manter esperançoso, alegre e confiante nas promessas de Deus.

Vejo vários exemplos desta relação entre corpo e espírito nas Escrituras. No caso de Jó, Satanás foi direto ao ponto. Ele disse a Deus que se tocasse no corpo de Jó, este haveria de negá-lo. Pois, segundo o diabo argumentou, "Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida. Estende, porém, a mão, toca- lhe nos ossos e na carne e verás se não blasfema contra ti na tua face” (Jó 2.4-5). Embora seja pai da mentira, Satanás é extremamente perspicaz. Ele sabe da relação entre espírito e corpo no ser humano, sabe que se atingir um, atinge o outro.

Quando o profeta Elias estava extremamente cansado, sentiu-se deprimido a ponto de pedir a própria morte (1Re 19.4). Jonas, debaixo de calor insuportável, pediu impensadamente pra morrer (Jonas 4.8). Paulo fala de um espinho na carne, que o abatia constantemente (2Co 12.7-10). Em outras palavras, é muito mais fácil termos esperança, coragem, alegria, ânimo e confiança quando nos sentimos bem fisicamente.

Aqueles dias no hospital me ensinaram pelo menos duas coisas. Primeiro, que não sou tão forte espiritualmente assim como pensava. Muito da fortaleza, confiança e esperança que tenho, está relacionada, e de certa forma dependente, do meu bem estar físico. Assim, se Deus não me sustentar na hora da doença, da dor e da adversidade, facilmente desanimaria e me abateria ao ponto do desespero. Somente Deus é quem nos sustenta nas horas da provação e da aflição.

A segunda coisa que aprendi, é a necessidade de ser mais compassivo e compreensivo com quem está sofrendo. As vezes chegamos mesmo ao ponto de repreender irmãos que estão em dores e sofrimento, porque eles não conseguem estar alegres, esperançosos e se manter calmos e confiantes diante das promessas de Deus. Só quem experimentou dores profundas, durante um tempo prolongado, e que sabe como é difícil manter a mente focada nestas coisas quando o corpo inteiro é uma única dor insuportável.

Por fim, o meu apreço cresceu por aqueles crentes que, durante períodos de provação, sofrimento, doença, dor e perseguições, consegue regozijar-se e alegrar-se em Cristo Jesus. Esta é uma verdadeira dádiva dos céus. Que o nosso Deus conceda que, na dor ou no sofrimento, nós o glorifiquemos através de uma disposição espiritual agradável a ele, que mostre ao mundo que há um poder sobrenatural por detrás daquele que crê.


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quarta-feira, abril 23, 2014

Mauro Meister

Crianças podem ser más?

Foto da Revista Época em matéria sobre o tema
Crianças podem ser más? Esse é o mais recente debate levantado a partir de uma novela global. Serviu para, pelo menos, uma coisa! Mas a pergunta inicial é, por que a pergunta precisa ser feita? 

A resposta sociológica vem na matéria da Revista Época: "Um obstáculo para o tratamento de crianças com sinais de transtorno de conduta é o próprio tabu da maldade infantil. O senso comum afirma que as crianças são inocentes – uma crença que resulta da evolução histórica da família. Até o século XVII as crianças eram consideradas pequenos adultos e muitas nem sequer eram criadas pelos pais. No século XVIII, isso mudou. A família burguesa fechou-se em si mesma, dentro de casa. O lar virou um santuário e a criança o centro dos cuidados e das atenções. Foi o nascimento do sentimento de infância, dentro de um grupo que agora tinha como laços o afeto e o prazer da convivência. Se a criança é o eixo do sentimento moderno de família, ela não pode ser má. Eis o tabu." Como bem diz o texto, é uma crença social, senso comum. O que não diz a matéria é que essa crença tem sido usada como teoria educacional há várias décadas, a partir das teorias de Piaget e do construtivismo (que parte do princípio da neutralidade moral da criança, explicada em seu livro "O Juízo Moral da Criança - para uma ampla exposição do tema, veja o livro de Solano Portela, "O que estão ensinando aos nossos filhos? https://www.facebook.com/ensinandoNossosFilhos?ref=hl)

Mas o que a doutrina bíblica diz a respeito? Ora, uma doutrina clássica, rejeitada, inclusive por muitos cristãos, é a doutrina da depravação total do ser humano. Em suma, essa doutrina afirma que a partir da queda, o ser humano, em busca de autonomia, rejeitou a santidade de Deus e não tem mais como agradá-lo. Em tese, todos temos o potencial para ser Hitler ou ter "desvio de conduta", isto inclui, sim, as crianças. Elas podem ser más e pais podem ser ainda piores, abusando, seviciando e até matando os próprios filhos (basta ver o jornal para ver as últimas manchetes a respeito do pai e madrasta que assassinaram o filho, de 6 anos, com crueldade, por motivos mais do que fúteis). Mas, os especialistas já deram o seu veredicto na matéria: "Os especialistas afirmam que não se cura transtorno de conduta, mas ele pode ser amenizado".

E como a teologia poderia falar contra os especialistas? Afinal, a teologia não tem espaço na arena pública, é matéria de crença! Mas e a pressuposição a respeito da neutralidade das crianças, não é? Perceba o leitor que o que a sociedade crê a respeito da infância vira, em Piaget, teoria educacional, supostamente um especialista falando, aplicada por mais de 30 anos em nossas escolas. É claro que o próximo passo será a busca de uma razão fisiológica, afinal, no mundo contemporâneo tudo pode ser explicado sem causas espirituais.

A fé cristã vê a questão por dois ângulos: 1) a causa primária de qualquer 'transtorno', é sempre a mesma, a condição humana de queda e distância de Deus, até se houver uma explicação fisiológica/biológica . 2) a fé cristã acredita em redenção, uma salvação que está acima de nossas habilidades de "explicar" todas as coisas e fazer coisas que nós, homens, não podemos fazer. Sei, isto faz de mim um obscurantista...


Aqui, onde publiquei originalmente, meu perfil público no Facebook: http://www.facebook.com/MauroMeister
Veja aqui a matéria da Revista Época: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI130697-15228,00.html

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segunda-feira, abril 21, 2014

Solano Portela

Marquez, Llosa e Amado

O que Gabriel Garcia Marquez, Mario Vargas Llosa e Jorge Amado têm em comum?

Várias coisas: um incrível talento para a narrativa, popularidade inconteste dos seus escritos, honrarias internacionais recebidas (ainda que, dos três, somente Jorge Amado não foi agraciado com o Prêmio Nobel) e uma apresentação precisa (permeada pelo fantástico) de realidades latino-americanas bem típicas. 

Os três mantiveram, também, namoro ou relações sérias com o totalitarismo de esquerda. As convicções comunistas de Amado, são sobejamento conhecidas; a amizade de Gabriel Garcia Marquez com o "democrata" Fidel e as defesas do regime de Cuba, são marcas de sua vida; e o Llosa, bem, ele tem ataques de lucidez e já expôs a face negra da esquerda - especialmente a orquestração e terrorismo desta sob a bandeira ambientalista; mas, ultimamente (dez. de 2013), teve recaídas sérias e encheu de elogios o governo uruguaio do ex-guerrilheiro Mujica, defendendo a legalização da maconha e o casamento gay.

Mas, essencialmente, o grande ponto que os une é que compartilham de uma visão amoral da humanidade: as mulheres são objetos para a satisfação dos machos latinos; a linguagem e os temas são chulos e rasteiros; a visão é hedonista e não baseada em absolutos éticos; não há consequências para a quebra de princípios e para a imoralidade. Características tristes para esses grandes heróis latinos.
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domingo, abril 13, 2014

Mauro Meister

A manipulação de dados como arma!

A manipulação de dados para criar falsa impressão é uma das principais armas dentro da política moderna. Em tempos antigos, quando a família tinha mais influência sobre o indivíduo do que a mídia, os dados eram menos poderosos. Hoje, são quase tudo! O Estado Brasileiro está aí, formado e constituído, com muitas lutas ao longo de séculos, como uma democracia. Mas os governos são aqueles que "tocam" o estado e, na democracia, supostamente precisam de legitimidade para fazê-lo. Porém, quando aqueles que estão no governo não acreditam na democracia, mas ainda dependem dela para se reelegerem, até que se tornem totalitários (veja-se Venezuela) manipulam os dados, criam falsa impressão de que o "estado de direito" (o conjunto de direitos fundamentais estabelecidos na constituição) está devidamente sustentado.

É uma mentira bem contada, na qual a maioria acredita, pelo menos por um tempo. Basta olhar em volta, na nossa América que é latina!

Pois bem, os que aí estão governando já nos mostram algumas coisas, que a maioria, que vota, não vê: não acreditam na democracia, são gananciosos e não tem a menor disposição de largar a posição em que se encontram a despeito da sua mais manifesta incompetência para "tocar" o Estado como uma democracia. Vejam bem, quando digo que outro não tem competência, não estou dizendo que eu tenho! Só estou observando, pelos resultados, que a coisa vai de mal a pior. Mas estes mesmos são aqueles que cada vez mais trazem, por meio de leis, responsabilidades sobre o Estado que governam incompetentemente. Tendem a amar leis que tiram a responsabilidade do indivíduo e da família para atribuírem para si mesmos maior controle (regulação de escolas, das palmadas dentro de casa, etc.) e ao mesmo tempo diminuir a influência da própria família, destruindo-a com leis nefastas. Até mesmo cristãos se iludem com essa tolice vendo nos déspotas, messias (Fidel, Chaves e curriola...)

Onde vamos terminar? Não sei! Alguns vão aplicar profecias bíblicas imediatas aqui: é o fim! Não sou tão imediato. O que posso dizer é o seguinte: pelo curso das coisas, se nada mudar, em breve seremos uma Argentina e depois uma Venezuela e finalmente uma Cuba! Nossos jovens, que amam usar a camisa do Che Guevara, não terão dinheiro para comprá-las, mas, provavelmente serão distribuídas pelo governos, todas da mesma cor! Primeiro o IPEA, agora o IBGE...


Anteriormente, escrevi AQUI - Eu não mereço ser estuprado! Ponto.
Recentemente,  escreveu o Rodrigo Constantino, a quem me referi, AQUI - O IBGE subiu no telhado
As notícias estão por todos os lados - http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-geral,cancelamento-da-pnad-desencadeia-crise-de-gestao-no-ibge,181822,0.htm

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quinta-feira, abril 03, 2014

Solano Portela

NOÉ no BRASIL !!

Não, não vou falar do filme NOÉ. Afinal, já tem muita gente falando e dando opinião a respeito dele. Mas confesso que vou pegar a "onda" (desculpe o trocadilho atroz) e repostar um texto que traduzi, que ronda a Internet ,e tropicalizei-o às condições peculiares de nossa terrinha...

Um amigo meu, sobrevivente da grande cheia recifense de 1975, teve um pesadelo. Ele testemunhava o que ocorria com Noé, só que o patriarca morava no Brasil, nos nossos dias:
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Noé nunca tinha visto chuva em sua vida e fica espantado quando ouve uma voz retumbante dizendo: “Em um ano eu farei chover sobre toda a terra. Ela será coberta com água até que tudo esteja destruído, começando aí no Brasil, mas quero que você salve os justos e dois espécimes de cada animal. Assim, estou lhe comandando a construir uma ARCA”!

No meio de um relâmpago, num piscar de olhos, caem às mãos de Noé os desenhos e todas as especificações da Arca a ser construída.

Tremendo de pavor, Noé pega o projeto e concorda com a construção da Arca. “Lembre-se”, diz a voz, “Você tem que terminar a Arca e ter tudo e todos a bordo dentro de um ano”.

Passa-se exatamente um ano, no sonho, e uma tormenta monumental cobre toda a terra. Os mares estão agitados e tumultuados, mas Noé está sentado no terreno de sua casa, chorando!

“Noé”, ressoa novamente a voz, “onde está a ARCA”?

“Perdoe-me”, clama Noé. “Fiz o que eu pude, mas os problemas foram terríveis”!

“Primeiro, eu tive de obter uma licença de construção e o projeto da Arca não se enquadrava no código naval, nem estava assinado por um engenheiro credenciado na Marinha. Tive que contratar uma firma especializada para redesenhar tudo”!

“Depois, fiquei sabendo que o Distrito Naval havia feito um convênio de segurança e entrei numa questão judicial com o CONTRU, pois insistiam que a Arca precisava de uma sistema de ‘sprinklers’ contra incêndios e, além disso, a Capitania dos Portos exigia uma enormidade de coletes-salva-vidas”.

“Ai o meu vizinho ligou para o ‘Psiu’ dizendo que eu estava fazendo muito barulho e depois para a prefeitura, alegando que a construção da Arca no quintal da frente, violava o zoneamento da Capital. Tive que estar presente a cinco audiências na comissão de planejamento municipal até conseguir um certificado de exceção, para dar andamento ao projeto”.

"Quando a ARCA estava com a estrutura pronta, passou um protesto pela frente da minha rua e os Black Blocs tocaram fogo nela, enquanto a polícia olhava de longe, 'protegendo' os manifestantes. Sem chuva, tive um trabalho enorme para apagar o fogo".

“Tive problemas na compra de madeira para construir a Arca em função da proibição de corte de árvores, para proteção do mico-leão na Mata Atlântica. Finalmente, consegui convencer a Secretaria Estadual de Proteção à Fauna e Flora que eu precisava da madeira EXATAMENTE para salvar o mico-leão, mas a Polícia Florestal não me deixou pegar um casal de micos-leão. Sem mico-leão, não havia o que salvar”.

“Os marceneiros que eu havia contratado foram visitados pelo carro de som do Sindicato dos Trabalhadores em Madeira que convenceu-os a procurar a proteção do Sindicato. Na semana seguinte, fizeram uma greve, querendo intervalos para lanche de 2 em 2 horas e recusando-se a trabalhar horas extras. Tive de negociar até com a CUT e agora, em vez dos 8 carpinteiros que contratei quando comecei, tenho 16, que trabalham 5 horas a menos por semana do que os 8 que eu tinha, no início. E ainda não tenho os micos-leão”.

“Quando comecei a juntar os outros casais de animais, fui interpelado judicialmente pela Associação de Proteção aos Animais. Eles argumentavam que eu estava levando somente dois de cada espécie, o que provocaria solidão indevida – caso um dos parceiros rejeitasse o outro, além de confinamento desumano, pelo período em que permaneceriam na Arca”.

“Assim que consegui descaracterizar a legitimidade desse processo, o Ministério do Meio Ambiente, lá de Brasília, me intimou dizendo que eu não poderia completar a construção da Arca, sem dar entrada em um Estudo de Impacto Ambiental do Dilúvio que eu estou anunciando. Disseram que nem o Rodoanel de São Paulo, que vai beneficiar 18 milhões de pessoas eles aprovam, quanto mais uma arca que vai servir a uma família e uma porção de animais. Apesar da minha insistência, eles não consideraram com seriedade meus argumentos de que eles não teriam jurisdição sobre a conduta do Criador. Pensaram até que eu estava falando do Presidente da República”.

“Em paralelo, o Ministério do Exército ficou sabendo dos planos de construção da Arca. As pessoas lá acharam que a questão do dilúvio era prejudicial à segurança nacional e me pediram um desenho detalhado da proposta do dilúvio. Eu enviei para eles um globo terrestre, que eu tinha lá em casa, mas ficaram ofendidos, achando que eu estava ‘tirando sarro’ deles e ameaçam mandar uns Brucutus, aqui para frente de minha casa, para impedir o andamento do projeto”.

“Atualmente estou empenhado em resolver um problema com a Comissão de Direitos Humanos, da Câmara dos Deputados. Eles me acusam de discriminação e exigem que, dentro da arca, eu tenha um número idêntico de pessoas que sejam descrentes e neguem a Deus. A militância GAY está exigindo a inclusão de um casal representante (do mesmo sexo...), na arca, além de protestarem a seleção de apenas um animal de cada sexo, querem que eu inclua um terceiro, em cada casal”.

“A Receita Federal quebrou o meu sigilo bancário e telefônico e abriu um processo para confiscar todos os meus bens, pois está convencida que estou construindo a Arca para fugir do país e investiga se paguei o IPI, PIS, COFINS e a Contribuição Social sobre o lucro presumido, com os ingressos da Arca”.

“A Secretaria da Fazenda solicita o pagamento de ICMS, pois classificou a Arca como ‘veículo de recreação e entretenimento’, enquanto que o município quer cobrar ISS utilizando exatamente o mesmo raciocínio”.

“Finalmente, fui processado pela Associação de Liberdades Civis por um País LAICO, para que o trabalho na Arca fosse paralisado. A alegação deles é que o Dilúvio que estou anunciando é um evento religioso e que é inconstitucional, considerando a abrangência proposta do evento”.

“Não creio que possa terminar a Arca antes de uns 5 ou 6 anos”, choramingou Noé.

Noé olhou para o céu e viu a tempestade clareando. O mar começou a se acalmar. Um arco-íris formou-se de ponta a ponta. Noé levantou-se, esperançoso: “Isso quer dizer que a terra não vai mais ser destruída?” “Não”, exclamou a voz, “Os governantes já fizeram isso, completamente”!

Meu amigo acordou, suando...

Solano Portela
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