CRISTIANISMO NA UNIVERSIDADE (18)
Os
Valores da Ética
“Como o homem imagina em sua alma, assim ele é” (Provérbios 23.7).
Esta passagem bíblica acima reflete uma verdade fundamental da vida e da existência:
nós somos e agimos de acordo com aquilo em que acreditamos. Este ponto é
fundamental para podermos entender a principal diferença entre a maneira cristã
de ver o mundo e outras cosmovisões, em particular, no que tange à ética ou à
tomada de decisões.
Todos nós tomamos, diariamente, dezenas de decisões, resolvendo aquilo
que tem a ver com nossa vida e a de nossos semelhantes.
Ninguém faz isso no vácuo.
Antigamente pensava-se que era possível pronunciar-se sobre um
determinado assunto de forma inteiramente objetiva, isto é, isenta de quaisquer
preconcepções. Hoje, ficou mais claro aquilo que os antigos já sabiam, antes da
chegada do cientificismo naturalista e racionalista, que é impossível
entendermos a realidade e nos expressarmos sobre ela sem sermos influenciados
por aquilo em que cremos.
Quando elegemos uma determinada solução em detrimento de outra, o
fazemos baseados num padrão, num conjunto de valores e noções de é certo ou
errado. É isso que chamamos de ética: o conjunto de valores, ou padrões, a
partir dos quais uma pessoa entende o que seja certo ou errado e toma decisões.
Cada um de nós tem um sistema de valores interno que consulta no processo de fazer
escolhas. Nem sempre estamos conscientes dos valores que compõem esse sistema,
mas eles estão lá, influenciando decisivamente nossas opções.
Os estudiosos do assunto geralmente agrupam as alternativas éticas de
acordo com o princípio orientador fundamental delas. As chamadas éticas
humanísticas tomam o ser humano como seu princípio orientador, seguindo o
axioma de Protágoras, "o homem é a medida de todas as coisas". Entre
elas temos o hedonismo, o qual ensina que o certo é aquilo que é agradável. Frequentemente
somos motivados em nossas decisões pela busca secreta do prazer. O
individualismo e o materialismo modernos são formas atuais de hedonismo.
Já o utilitarismo tem como princípio orientador o que for útil para o
maior número de pessoas. O nazismo, dizimando milhares de judeus em nome do que
era útil, demonstrou que na falta de quem decida mais exatamente o sentido de
"útil", tal princípio orientador acaba por justificar os interesses
de poderosos inescrupulosos e o egoísmo dos indivíduos.
O existencialismo, por sua vez, defende que o certo e o errado são
relativos à perspectiva do indivíduo e que não existem valores morais ou
espirituais absolutos. Seu principio orientador garante que o certo é ter uma
experiência, é agir — o errado é vegetar, ficar inerte. O existencialismo é o
sistema ético dominante na sociedade moderna, que tende a validar eticamente
atitudes tomadas com base na experiência individual.
A ética naturalística toma como base o processo e as leis da natureza. O
certo é o natural — a natureza nos dá o padrão a ser seguido. A natureza, numa
primeira observação, ensina que somente os mais aptos sobrevivem e que os
fracos, doentes, velhos e debilitados tendem a cair e desaparecer na medida em
que a natureza evolui. Logo, tudo o que contribuir para a seleção do mais forte
e a sobrevivência do mais apto é certo. Numa sociedade cuja elite intelectual e
a mídia estão dominadas pela visão do evolucionismo darwinista não foi difícil
para esse tipo de ética encontrar lugar. Cresce a aceitação pública do aborto
(em caso de fetos deficientes) e da eutanásia (elimina doentes, velhos e
inválidos). Não são poucos os historiadores que nos alertam que a busca da raça
perfeita pelo nazismo, à custa da eliminação das raças inferiores, partiu da
visão evolucionista.
Os cristãos entendem que éticas baseadas exclusivamente no homem e na
natureza são inadequadas porque não fornecem base
sólida para justificar a misericórdia, o perdão, o amor e a preservação da vida.
Além disto, estão em constante mudança e não têm como oferecer paradigma
duradouro e sólido. E mais, tanto o homem quanto a natureza, como os temos
hoje, estão profundamente afetados pelos efeitos da entrada do pecado no mundo.
Eles não podem nos servir de referencial ético.
A ética cristã, por sua vez, parte de diversos pressupostos associados
ao Cristianismo histórico. Tem como fundamento principal a existência de um
único Deus, criador dos céus e da Terra. Vê o homem não como fruto de um
processo natural evolutivo (o que o eximiria de responsabilidades morais), mas
como criação de Deus, ao qual é responsável moralmente.
Entende que o homem pecou, afastando-se de Deus. Como tal, não é
moralmente neutro, mas naturalmente inclinado a tomar decisões movidas, acima
de tudo, pela cobiça e pelo egoísmo (por natureza, segue uma ética humanística
ou naturalística). A ética cristã acredita, porém, na possibilidade de mudança de orientação
mediante mudança da natureza humana pela intervenção sobrenatural de Deus no coração da pessoa, mediante a fé em Jesus Cristo.
Na visão da ética cristã, a vontade de Deus para a humanidade
encontra-se na Bíblia. Ela revela os padrões morais de Deus, como encontramos
nos 10 mandamentos e no Sermão do Monte. Mais que isso, ela nos revela o que
Deus fez para que o homem pudesse vir a obedecê-lo.
A ética cristã, portanto, é
o conjunto de valores morais baseados nas Escrituras Sagradas, pelo qual o
homem deve regular sua conduta nesse mundo, diante de Deus, do próximo e de si
mesmo. Entidades de ensino confessionais que professam o cristianismo histórico
deveriam entender os valores e as crenças que estão por detrás dos processos
decisórios e dos alvos da instituição e guiar seus labores acadêmicos e
administrativos pelos valores do Cristianismo.
1 comentários:
comentáriosQueria eu ter estudado textos assim durante a minha faculdade de psicologia, hoje percebo o quanto o Senhor fez falta em minha vida pelo vazio que senti naquela época.
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