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sexta-feira, janeiro 13, 2006

Paganismo e Neo-paganismos

Há alguns anos atrás tive o privilégio de traduzir o Dr. Peter Jones em uma série de palestras sobre o tema acima, na cidade de Belo Horizonte. Dr. Jones tem o livro "Ameaça Pagã" publicado pela Editora Cultura Cristã, no Brasil e também o livro "Desmascarando o código da vinci", com James L. Garlow (Editora A.D. Santos). Na próxima semana terei o prazer de rever o Dr. Peter Jones em uma mini conferência sobre o tema, que sua organização está promovendo. Dr. Jones mantém um ministério voltado para o estudo deste tema (Christian Witness to a Pagan Planet - Testemunho Cristão para um Planeta Pagão). A missão do mesmo é "equipar a Igreja para levar as boas novas do Evangelho a um mundo crescentemente pagão" e seu alvo principal é treinar líderes e estudiosos para esta tarefa.

Uma das principais teses defendidas pelo autor é que o nosso mundo caminha cada vez mais para um contexto em que teremos que saber lidar com uma forma de paganismo semelhante ao paganismo do primeiro século, quando os Evangelhos e cartas foram escritos. Logo, nossa aplicação do Evangelho para as novas gerações necessitará de ser bem contextualizada, afinal, o que Dr. Jones chama de neo-paganismo é parte da cosmovisão mística que se alastra em nossa cultura com movimentos crescentes em todas as camadas sociais e religiões, inclusive entre evangélicos. O recente interesse em livros como o "Código da Vinci", creio, não se dá apenas por tentar ser uma boa produção literária, mas, principalmente, pelo seu lado místico. Outros livros tornaram-se best sellers nos EUA e Europa exatamente por trazerem como foco interpretações místicas e mirabolantes (veja o "Código da Bíblia" de Michael Drosnin, Editora Cultrix). Os sites com temas neo-pagãos são crescentes (veja os links no "Jornal Neopagão") e a mídia não deixa de ajudar com novelas e programas que exploram constantemente o tema (a corrente "novela das seis" na Globo) . E como não poderia deixar de ser, surgiram autores com um tipo de Código da Biblia Gospel ("Os Misteriosos Códigos da Bïblia" - Grant R. Jeffrey, Bom Pastor).

Vendo as coisas por esta perspectiva é importante não confundir as bolas da proposta de Peter Jones com os movimentos de batalha espiritual que enxergam demônios em cabeça de alfinete. Há poucos dias acessei um site criticando o misticismo presente nas Crônicas de Nárnia e no filme, dizendo que tudo isto é um des-serviço ao Evangelho. Diz o autor: "Vejamos o que são os tais contos-de-fada na definição de quem entende e sabe o que significa". Me surpreendeu o autor do texto ao fazer uma citação de segunda mão de Jung para caracterizar o que significam as fábulas (ora, Jung é um dos mais famosos místicos de todos os tempos). Definitivamente, não é sobre este tipo compreensão que estamos falando! Por outro lado, não podemos deixar de entender que a cada dia estamos lidando com uma sociedade e cultura que estão mais afeitos a uma cosmovisão pagã do mundo, muitas vezes travestida de ciência! Todo este contexto é chamado entre os estudiosos do assunto de "A Nova Espiritualidade" e é algo que merece nossa atenção. Termino o post com uma pergunta: como devemos lidar com este novo contexto? Ou isto é irrelevante?

Indicação de leitura (além do "Ameaça Pagã"): James Herrick, The Making of the New Spirituality: The Eclipse of the Western Religious Traditions (Downers Grove, IL.: InterVarsity Press, 2003).

Quer assunto melhor do que este para publicar numa sexta-feira, 13??

16 comentários:

  1. Com certeza é relevante, especialmente no meio acadêmico. Tenho visto que o paganismo tem sido amplamente difundido na minha universidade. Falar de Cristo neste meio é caretice... a onda é o yoga tântrico, os rituais wicca e todo o tipo de mistureba que se faz com o hiduísmo.

    Com certeza deve ser uma boa leitura para quem freqüenta as universidades públicas.

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  2. Sim, de fato o livro "A Ameaça Pagã" é um livro-texto sobre o paganismo moderno, eu posso dizer que fui muito abençoado ao ler esse livro. A capa do Magno Paganelli ficou excelente.
    Quantos às Cronicas de Nárnia, eu concordo com o autor. Será que realmente precisamos de um pano de fundo pagão para comunicar o Evangelho?

    Rafael Galvão

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  3. Prezada Silvia,

    A conferência não é só para pastores, mas é uma conferência por convite. Dr. Jones chamou de um thinktank para bolar estratégias para o ministério nos EUA e outro paises. Creio que deste encontro virão novas coisas.

    abs

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  4. Felipe, de fato, o meio universitário é onde o o exoterismo prolifera rapidamente, como uma visão de mundo, um estilo de vida que vai chegar a todos os lugares da sociedade. O livro tem relatos interessantes sobre a reação de estudantes em palestras sobre o tema. Interessante observar que o estilo de vida tem tudo a ver, também, com o tipo de 'opção' sexual que o indivíduo faz, geralmente nesta fase da vida. Paulo mostra como a idolatria pagã leva, como resultado, ao homossexualismo (Rm 1).

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  5. Rafael, não creio que é uma 'necessidade' do o Evangelho usar uma crônica para anunciá-lo. Por outro lado, a expressão literária parte de uma capacidade que Deus deu ao homem e este necessita exercitá-la. Eu tenho prazer em ler vários estilos, desde ficção e espionagem a crônicas escritas para crianças. Creio que Deus pode usar usar estes meios e nós podemos aproveitar destes momentos na pregação. O que não podemos é reduzir a arte a algumas expressões de nossa preferência. Gosto das Crônicas de Nárnia como boa expressão literária onde o Evangelho aparece. Lembro que na própria Escritura encontramos diferentes estilos de mensagem na boca dos profetas e autores. Só isto!

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  6. Comecei a ler o livro e não terminei! :(

    O li quando lecionava as cartas pastorais de Paulo na E.B.D da igreja aonde sirvo e gostaria de usa-lo para contextualizar a carta.

    É uma leitura oportuna para entendermos o pano de fundo por exemplo de muitas novelas que são exibidas na tv, filmes e como um irmão postou acima, noa ambientes universitários.

    Lutamos hoje contra um inimigo velho de roupagem nova, as mesmas heresias combatidas por Paulo e João nas suas espístolas retornam hoje com novas vestimentas tirando proveito da pós-modernidade e com a saída da modernidade e do iluminismo como pensamento regente da história.

    Valeu Pastor Mauro, excelente dica, vou tomar juizo e terminar a leitura antes de retornar as aulas do seminário.

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  7. Mauro, Ao ler o seu post o que me veio à mente, talvez sem muita relação direta, é: onde estão os artistas cristãos de nosso tempo. Não sou um erudito. Mas sei que muitos pintores e músicos fizeram Clássicos a partir de uma cosmovisão cristã. Estou errado? Portanto, onde estão os nossos atuais "artistas"?

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  8. Prezado Mauro;

    Muito bom o seu texto. Realmente estamos imersos em uma cultura neopagã e não sabemos ao certo como proceder. Parece que a postura evangélica convencional alterna entre os extremos da demonização da cultura e absorção ingênua de seus valores e crenças. Além disso, o evangelicalismo atual carece de uma articulação clara acerca do uso da Arte como estratégia de evangelização e doutrinação. Escrevo algo sobre isso em algumas resenhas, listadas abaixo.

    Grande abraço!

    O Senhor dos Anéis e a Batalha entre o Bem e o mal

    O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa: Limitações da Arte e Ciência na Evangelização e Doutrinação Evangélica

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  9. É isso mesmo Juan. Creio que os extremos adotados por muitos evangélicos servem como uma barreira para demonstrarmos a relevância da mensagem da cruz.

    Estive passeando em seu blog e li um pouco a respeito de sua luta. Descobri uma coisa recentemente: boa parte do misticismo e neo-paganismo modernos tem suas raizes no velho liberalismo que no seu afã de desacreditar a Palavra Revelada buscou nestas coisas um substituto (misticismo, ritualismo, estética pela estética...).

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  10. Prezado Luis,
    Se existem, estão escondidos. Esta "inexpressão" dos evangélicos é fruto do que Mark Noll chamou de o "Escândalo da Mente Evangélica" (título de seu livro, ainda em inglês). Infelizmente nos últimos séculos o uso da razão foi entregue ao uso do 'século', da ciências e do liberalismo. Se você quiser ser um bom evangélico, é melhor não pensar. E o pior é que alguns evangélicos, quando começam a pensar, começam a criar 'outros deuses' e se enamorar do liberalismo.

    Creio que vc está certo... deixamos de ser relevantes há uns dois séculos. Creio que uma forma de voltarmos a pensar e sermos relevantes está na escola cristã, fundamentada em uma cosmovisão legitima e integra.

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  11. Olá Misael,

    Acho que o filme, como arte, ficou muito bom. Penso que, como ficção teológica, toca em alguns pontos importantes que abrem a porta para falarmos do Velho Evangelho. Escrevi sobre isto em um post anterior. Também creio que ainda precisamos de muita reflexão sobre as expressões artísticas e a comunicação do evangelho. Minha percepção, até então, é que há uma inversão: demoniza-se a cultura e importa-se de tudo para o culto cristão. Afinal, já podemos encontrar de tudo no culto que se propõe cristão...
    Grande abraço

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  12. Mauro,

    Ainda não tinha lido esse seu post com calma. Muito bom e direto no ponto. A relevância do assunto é indiscutível. Tenho o privilégio de trabalhar na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Recentemente, fiz uma homilia para os conselhos da Universidade, composto de homens e mulheres brilhantes com graus e diplomas impressionantes. Meu assunto foi que a própria Universidade vem sendo infiltrada pela religião neo-pagã através de doutores e cientistas que a abraçam. Aproveitei bastante material do Peter Jones. A homilia está disponível no meu site no Mackenzie, no endereço http://www.mackenzie.com.br/chancelaria/anovaesp.htm.

    O que me impressiona é exatamente isso, a capacidade de penetração o velho paganismo na moderna academia. Acredito que o motivo é que a mentalidade científica de hoje compartilha pressupostos similares ao velho paganismo.

    Parabéns pela postagem!

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  13. Sem dúvida que é um bom livro. Tive oportunidade de comprá-lo numa Conferência Fiel cá em Portugal.
    Sem santificação, e sem o hábito dos crentes de Beréia é fácil cairmos em pecado. Vale a pena ver algumas das formas em que a Igreja caiu ou está a cair para nos avisarmos uns aos outros.
    Abraço dum irmão português.
    Vou ficar atento ao vosso blog.

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  14. Bom, o cristianismo é fundado por 2 coisas-Política e poder, o cristianismo surgiu como uma adaptação da paganismo com os evangélhos, o impérador Constantino fez esta adaptação para agradar os dois lados que entravam costantemente em guerra.
    Se você olhar bem uma igraja irá se surpreender de como a religião pagã esta presente, por exemplo: o altar, as velas, o cálice todo o altar é compostos de simbolismo pagão.Nem tudo que esta na biblia é verdade meus caros!!!!

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  15. Prezado Anonymous,

    Normalmente não os respondemos... por achar que é perder tempo responder a quem não tem coragem de se identificar... mas vai uma respostinha de quebra:

    Antes de falar, vc precisa conhecer o que a Bíblia diz, e, no seu caso, o culto no Antigo Testamento.

    Mauro

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  16. Estou lendo o livro - muito bom por sinal -, mas vejo como uma falha do autor este não abordar a influência dos intelectuais da Escola de Frankfurt sobre o que veio a ser chamado de contra-cultura dos anos 60.

    http://omarxismocultural.blogspot.com.br/2013/12/o-ilusionista-herbert-marcuse.html

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