Páginas

quarta-feira, janeiro 26, 2011

Um Credo para os Fundamentalistas

É só uma sugestão. Acho que posso sugerir, pois fui criado numa denominação fundamentalista e mesmo que não pertença a ela hoje, continuo a ser chamado assim. Portanto, segundo meus críticos, devo entender razoavelmente do assunto.

Creio na inerrância das Escrituras. Isto não quer dizer que eu creio que a Bíblia foi ditada mecanicamente por Deus, que ela caiu pronta do céu, que sua linguagem é científica, que não há erros nas cópias, que as traduções são inerrantes (especialmente a King James), que as cópias em manuscritos existentes são inerrantes, que a Bíblia é exaustiva e que tudo que está na Bíblia é fácil de entender e interpretar. Quer dizer que eu acredito que os manuscritos originais foram infalivelmente inspirados por Deus e que, em conseqüência, a Bíblia é verdadeira em tudo o que afirma. Creio que pelas cópias existentes podemos ter certeza quase plena do que havia nos originais e que muitas das partes polêmicas e difíceis de interpretar não afetam a compreensão correta do todo.

Creio na divindade de Jesus Cristo. Isso não quer dizer que eu negue sua plena humanidade, a realidade de suas tentações, a sua preocupação com os pobres e as questões sociais. Não quer dizer que eu negue que ele foi gente de verdade, capaz de rir, de chorar, que passou por perplexidades e que aprendeu muita coisa gradativamente como as outras pessoas. Quer dizer tão somente que creio que ele era verdadeiro Deus e verdadeiro homem, muito embora eu não tenha todas as respostas para as perguntas levantadas pela doutrina das suas duas naturezas. Creio que sua morte na cruz tem eficácia para perdoar meus pecados, visto que não era um mero homem morrendo por suas próprias faltas. Sua vida, suas ações e seus movimentos podem servir de modelo para mim, embora sua religião não possa, pois ele não era cristão, como eu já disse em outra postagem aqui no blog.

Creio em todos os milagres que a Bíblia relata. Isso não quer dizer que eu acredite que milagres acontecem todos os dias, que milagres contemporâneos são indispensáveis para que eu acredite em Jesus Cristo, que Deus cura somente pela fé e que tomar remédio e ir ao médico é pecado. Também não quer dizer que eu acredite que os milagres narrados na Bíblia foram coincidências com fenômenos naturais, interpretados pelos antigos como ações de Deus, como uma enchente de barro vermelho no Nilo que parecia sangue, um tremor de terra exatamente no mesmo momento em que Josué mandou tocar as trombetas em Jericó ou um eclipse na hora que ele mandou o sol parar. Quer dizer que eu creio que os milagres bíblicos realmente aconteceram conforme estão escritos, que não são mitos, lendas, sagas, estórias ou midrashes. Creio que Deus, se quisesse, poderia fazê-los todos de novo hoje apesar de que, mesmo assim, os incrédulos continuariam a procurar outras explicações.

Creio na ressurreição física de Cristo de entre os mortos. Isso não quer dizer que eu coloque o corpo acima do espírito e nem que eu seja um ingênuo que ignora o fato que cadáveres não revivem cotidianamente. Também não quer dizer que eu ignore as tentativas de explicações alternativas existentes para o túmulo vazio, a falta do corpo de Jesus até hoje e a mudança de atitude dos discípulos. Também não quer dizer que eu acredito que Jesus hoje apareça diariamente às pessoas. Quer dizer que eu creio que ele realmente ressurgiu dos mortos e que vive eternamente com aquele corpo ressurreto e glorioso, com o qual retornará em data não sabida a esse mundo, para buscar os seus e julgar os demais. Creio que a ressurreição de Cristo é essencial para o Cristianismo. Se Cristo não ressuscitou fisicamente dos mortos, o Cristianismo é uma farsa.

Creio que somente mediante a fé em Jesus Cristo como único Senhor e Salvador é que as pessoas podem ser perdoadas e salvas. Isto não quer dizer que eu desconheça o fato de que existem pessoas de bem, honestas, sinceras e de boa conduta entre aqueles que não acreditam em Deus e muito menos em Cristo. Tampouco quer dizer que todos aqueles que têm fé em Jesus Cristo são perfeitamente bons, justos e santos. O que eu quero dizer é que somos todos pecadores, uns mais, outros menos, uns ostensivamente, outros em oculto, e que somente pela confiança no que Cristo fez por nós é que poderemos ser aceitos por Deus – e não por méritos pessoais. Neste sentido, acredito que fora da fé em Cristo não há salvação, perdão ou reconciliação com Deus.

Creio em verdades absolutas. Isto não quer dizer que eu ignore que as pessoas têm diferentes compreensões de um mesmo fato. Quer dizer apenas que, para mim, quando não se complementam, tais diferentes compreensões são contraditórias e uma delas – ou várias – devem estar erradas. Acredito em absolutos morais, em leis espirituais de natureza universal, em declarações unívocas e também que Deus se revelou de maneira proposicional nas Escrituras.

Creio em tolerância. Isto não quer dizer que eu seja inclusivista e relativista, mas simplesmente que não deixarei de me relacionar com uma pessoa simplesmente porque considero que ela está equivocada teologicamente. Para mim, a tolerância pregada pelo mundo moderno é aquela característica de pessoas que não têm convicções, que não têm opiniões formadas sobre nada e que vivem numa perpétua metamorfose ambulante. Eu acredito que é possível, sim, ter convicções profundas – especialmente na área de religião – e ainda assim se manter o diálogo com quem diverge.

Tem mais coisa a ser incluída neste credo fundamentalista, mas tá bom. O que eu quero mostrar é que tem muita gente que tem o mesmo credo acima, e que é fundamentalista sem saber. Alguns ultra-fundamentalistas vão achar que eu sou liberal.

56 comentários:

  1. Opa! Por essa linha de raciocínio, sou FUNDAMENTALISTA também.
    Parabéns. Ótimo post.

    ResponderExcluir
  2. Gostei também.
    Mas fiquei com uma pulga atrás da orelha no primeiro ponto, em algo que ficou no ar!

    "..., que as traduções são inerrantes (especialmente a King James)".

    Poderia me esplicar em breves palavras se possível? Não tenho dúvidas quanto as falhas nas traduções, mas, existe algo sobre a King James que não sei?
    Entre tantas coisas?!?!

    Um forte abraço,
    Pr. Menga

    ResponderExcluir
  3. Assim como o irmão Nelson disse, digo eu: Sou um fundamentalista também.

    ResponderExcluir
  4. Caro Rev. Augustus, Gostaria de esclarecimentos sobre erros de tradução na KJ 1611. Lembrando que a mesma foi traduzida do TR e não do TC gostaria que nos apontasse os possíveis erros de tradução.
    Gostaria também de esclarecimento sobre sua fala de que hoje não está mais na sua denominação de origem. Parabéns a toda equipe pelo blog.
    Em Cristo, Josimar

    ResponderExcluir
  5. Ilustríssimo Pastor,
    Com um texto tão expressivo tenho que admitir e ressaltar, existem fundamentalistas, como o irmão, que o são por possuírem inconstestáveis fundamentos cristãos e teologicamente perfeitamente estruturados.
    Que Deus o continue provendo com o talento evangelístico e a verve de escritor.
    Meus parabens e o meu respeito.

    ResponderExcluir
  6. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  7. Assim, muitos se verão fundamentalistas, eu inclusive.Já outros, claro, liberais. Ocorre que definir com certa clareza as nossas convicções, por sí só, traz a reboque os que não gostam de qualquer certeza, exceto a incerteza convicta.
    Roney S Leão

    ResponderExcluir
  8. Pastor,
    Nessa perspectiva,sou também fundamentalista, consevadora, que hoje alguns acham o termo pejorativo (ortodoxo, é o mesmo?). Não estou nem aí. O post foi oportuno prá relembrar nossas
    raízes e como sempre prático e objetivo.
    Parabéns!
    PS: a produção está boa! rsrs.
    Mas falando sério, tem me instruindo e alegrado o meu coração.
    Deus os abençoe.

    ResponderExcluir
  9. "(...)que as cópias em manuscritos existentes são inerrantes(...)".

    Olá Rev. Augustus, paz e graça! Gostaria de saber do senhor sobre como o senhor pode verdadeiramente crer na inerrancia das Escrituras e ao mesmo tempo não crêr que essa inerrancia se estenda pelo menos a algumas cópias dos autógrafos, ou a partes selecionadas, reconstruidas? Minha indagação é a seguinte: ora, já que não dispomos mais de nenhum autografo e as cópias existentes hoje não são inerrantes, como é possivel crer em inerrancia? E a questão da preservação efetuada por Deus (Mt24.35; 1Pe 1.24-25)? Pra falar a verdade até hoje não consegui encontrar uma resposta satisfatória para isso, a não ser aceitar que Deus, de certa forma, tenha preservado completamente o texto Bíblico incluindo-se ai as cópias fiéis, fragmentos e textos reconstruidos pelos peritos nessa área. Um abraço fraterno!

    ResponderExcluir
  10. A Paz do Senhor Jesus!
    Reverendo Nicodemus...

    Quero parabenizalo pelo "post",muito bem comentado.
    penso de igual forma,com equilibrio e sabedoria....
    não sou Reformado...(risos),sou assembleiano,mais admiro seu trabalho e blog,e sempre que leio seus comentarios tenho algo a aprender.

    um forte abraço
    em cristo jesus
    kleber de sá

    ResponderExcluir
  11. "VERDADES ABSOLUTAS" - como está difícil encontrar quem afirme aberta e claramente sua existência, sem os subterfúgios gaguejantes daqueles que querem parecer simpáticos ao mundo. Assino embaixo dos demais "creio" e, como o Nelson Calmon, exclamo: ops! eu sou fundamentalista também! Excelente post.

    ResponderExcluir
  12. Acabo de me batizar intelectualmente/espiritualmente novamente!!!

    Essa é a fé fundamental, todavia, sensata!! Valeu Nicodemus!

    Soli Cristo!

    Abraços!
    souteologico.blogspot.com

    ResponderExcluir
  13. "Tem mais coisa a ser incluída nesse credo fundamentalista" - certamente, pois um credo completo não caberia e o que foi dito certamente serve mui bem aos propósitos a que se propôs.

    Eu acrescentaria "há outras coisas a NÃO serem incluídas nesse credo fundamentalista" - tais como o apoio incondicional ao Estado de Israel em tudo (inclusive atrocidades contra populações palestinas civis que não têm nada a ver com as loucuras de ambos os lados), particularidades escatológicas (dispensacionalismo, pré-tribulacionismo etc.), a proibição total a álcool, o separatismo pecaminoso e antibíblico - coisas a que os fundamentalistas, digamos, clássicos, infelizmente se apegam.

    É pena. Esses são irmãos em Cristo mas quase sempre se negam a trabalharem junto com quem não concorde 100% com tudo o que pregam. E nós outros corremos o risco de agir da mesma forma, de os desprezar e de nos separarmos deles também, em revide. Mas, com respeito aos pontos anotados no post, qual cristão que estude seriamente as Escrituras se oporia? Dessa forma (com as ressalvas acima), também sou fundamentalista!

    ResponderExcluir
  14. Parabéns!

    Ótimo post, Reverendo.

    Já ouvi também essa posição em relação às cópias dos manuscritos originais, que tão claramente expôs o Pb. Wanderley. Qual a sua visão sobre a questão?

    Muito obrigado, Pastor.

    ResponderExcluir
  15. [...] e que aprendeu muita coisa gradativamente como as outras pessoas [...]

    Sobre isto, pergunto: isto também inclui o fato de que Ele sempre teve conhecimento de quem realmente era, desde a infância (antes dos 12 anos), ou não? Sei que é "curiosidade", mas pergunto porque existem opiniões divergentes sobre o assunto, como pode ser visto em alguns filmes ou livros. Alguma explicação ou sugestão/discussão de textos sobre o assunto me seria bem-vinda.

    ResponderExcluir
  16. Prezado Reverendo,

    Creio em tudo isso também, mas sei que há necessidade de esclarecimentos adicionais sobre essas crenças.

    No momento estou passando por um período de reflexão para definir minha identidade. Já li, vi e ouvi muita coisa, inclusive vozes de lobos e charlatães, doutos e indoutos.

    Gostaria, se me permite, fazer mais uma pergunta importante para mim:

    - Os fundamentalistas batistas que o senhor conhece aceitam o batismo por aspersão dos presbiterianos?

    Todos os seguimentos com os quais já tive contato rejeitam-se mutuamente por algum detalhe que julgam fazer parte da "reta verdade".

    Os batistas que conheço, por exemplo, dizem que os presbiterianos não são cristãos, pois não aceitam o batismo cristão.

    Desculpe-me, Reverendo, mas estou na reta final dos meus estudos. Está chegando o momento da conclusão, mas não pretendo estudar teologia formalmente.

    Em Cristo,
    João Martins

    ResponderExcluir
  17. Pr. Menga,

    Alguns fundamentalistas americanos chegaram a dizer que a própria King James era infalível. Acho que não dizem mais hoje, mas fizeram isto no passado...

    Abraços.

    ResponderExcluir
  18. Josimar,

    Eu fui criado na Igreja Presbiteriana Fundamentalista do Recife. Estudei no seminário da IPB e fui ordenado pastor pela Fundamentalista. Poucos anos depois sai por discordar de questões disciplinares e teológicas.

    Sobre erros da KJ 1611 basta dizer que nenhuma tradução consegue refletir perfeitamente a língua original. Há nuanças de gramática, sintaxe e dos tempos dos verbos, tanto em grego quanto em hebraico, que são simplesmente impossíveis de se captar em outra língua. Por este motivo, não somente seria um equívoco dizer que a KJ 1611 é infalível como também a Almeida Atualizada, a Corrigida e a NVI ou qualquer outra tradução.

    O que podemos dizer é que determinadas traduções adotam um método de tradução (correspondência formal) que as tornam mais literais enquanto que outras adotam outro método (correspondência dinâmica) que as tornam mais compreensíveis.

    As vezes a tradução literal não é a melhor. Por exemplo, a KJ 1611 traduziu literalmente a palavra hebraica para "chifre" sem levar em conta que a mesma significa simplesmente "poder"... veja como ficou Salmo 18:2

    "The LORD is my rock, and my fortress, and my deliverer; my God, my strength, in whom I will trust; my buckler, and the horn of my salvation, and my high tower."

    Traduzindo, "Deus é o chifre da minha salvação..."

    Veja, agora, como a Almeida traduziu:

    "O SENHOR é a minha rocha, a minha cidadela, o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo em que me refugio; o meu escudo, a força da minha salvação, o meu baluarte."

    Ou seja, "Deus é a força da minha salvação".

    Outro exemplo é que a KJ 1611 traduziu literalmente a palavra grega splachna como "entranhas", "tripas" na passagem de Filipenses 1:8 -

    "For God is my record, how greatly I long after you all in the bowels of Jesus Christ."

    Traduzindo, "quanto eu amo vocês nas entranhas de Jesus Cristo" - fica meio esquisito, não é? Pode ser que na época em que foi traduzida poderia fazer sentido, mas não mais hoje. Veja como a Nova KJ traduziu:

    "For God is my witness, how greatly I long for you all with the affection of Jesus Christ." - ou seja, trocou entranhas por afeição, sentimento, que é o sentido original correto.

    Portanto, como eu disse, é um equívoco dizer que uma tradução - inclusive a KJ 1611 - é infalível.

    Abs.

    ResponderExcluir
  19. Wanderley,

    Creio que os originais foram inspirados por Deus. As cópias, à medida que refletem perfeitamente os originais, seriam infalíveis da mesma forma. Acontece que todas as cópias que temos contêm variantes, erros de escribas. Inclusive aqueles manuscritos que compõem o chamado Texto Majoritário ou Receptus, embora em menor medida.

    Como você mesmo falou, com a ajuda da manuscritologia bíblica (também chamada de baixa crítica) é possível pela comparação e colação de manuscritos se chegar a uma certeza quase plena dos originais. Quando eu digo "quase" estou me referindo ao fato que mesmo estudiosos mais críticos admitem uma certeza em torno de 90% do texto original. Alguns crêem em 95% e naturalmente os defensores do Texto Majoritário acreditam em 100%.

    As partes sobre as quais não há certeza [ainda] nada contêm que seja vital para a teologia bíblica. Mesmo se nenhuma delas estivesse presente na Bíblia, ainda assim poderíamos manter as mesmas doutrinas. Um exemplo é o comma Johanneus, aquela parte de 1João que fala da Trindade, e que não aparece em muitos manuscritos antigos. Mesmo que ela não fosse original [não estou dizendo que não é original] ainda assim temos como sustentar a Trindade em outras passagens da Bíblia. O mesmo pode se dizer do final de Marcos 16 e da passagem acerca da mulher adúltera.

    Um abraço!

    ResponderExcluir
  20. Cristiano,

    Não sei responder. Aos 12 anos Jesus já sabia perfeitmente quem ele era, como aquele episódio da conversa dele com os doutores da Lei no templo revela. Os verbos gregos de Lucas 2:40, "crescia" e "se fortalecia" estão no imperfeito, que indica uma ação em andamento. Ou seja, havia um crescimento real na pessoa do menino Jesus. A que ponto e como ele veio a ter plena consciência de quem Ele era, antes dos 12 anos, acho que ninguém sabe.

    Abs.

    ResponderExcluir
  21. Pr. Augustus,

    Certa feita, estava assistindo a um "Tele-Pastor", não querendo dizer quem é, mas é o Silas Malafaia. O mesmo falando sobre enriquecimento, o que é normal, ele disse que queria ser rico. E que não tinha nada haver o que Salomão disse: (Prov. 30:8) - ... não me dês nem a pobreza nem a riqueza; mantém-me do pão da minha porção de costume;

    Pois, quem havia dito isto era Salomão e ele (mala-faia) não era Salomão! "Eu quero ser rico".

    Outra vez ouvi de um Pastor Assembléiano. Que Davi tinha dito "nunca vi o justo mendigar o pão". Ora, como isso é possível? Como é que que podemos explicar o caso do mendigo Lazáro?

    Ele explicou dizendo: "Quem disse que nunca viu um justu mendigar o pão foi Davi e não Deus".

    Ai fica a pergunta:

    Mesmo a Bíblia sendo inspirada. Demos fazer essa "divisão" entre palavra de Deus, dos Demônios da pessoas? Pois, há passagens onde homens falam mentiras. E outras onde os próprios demônios falam.

    Fica aquele tema: A Bíblia É OU contem a Palavra de Deus?

    Abraços!

    José Leonardo S. Santos

    ResponderExcluir
  22. José Leonardo,

    A Bíblia é a Palavra de Deus no sentido de que tudo o que ela registra - as palavras de homens como Judas e até dos demônios - foram registradas por vontade de Deus. Não quer dizer que todas as falas registradas na Bíblia foram proferidas diretamente por Deus, evidentemente.

    Todavia, "Deus falou de muitas formas e de muitas maneiras, aos nossos pais pelos profetas" (Hebreus 1). Ele nos falou através de Davi, Salomão, Moisés, Paulo, João, etc. O que Davi e Salomão falaram são palavras de Deus, sim. O que Malafaia e outros falaram, não.

    ResponderExcluir
  23. "Creio em tolerância. Isto não quer dizer que eu seja inclusivista e relativista, mas simplesmente que não deixarei de me relacionar com uma pessoa simplesmente porque considero que ela está equivocada teologicamente."

    Todos os "creios" ficaram ótimos, mas este último veio em momento muito oportuno tanto teologicamente quanto socialmente, pois vivemos tempos onde a ideologia predominante na sociedade é o vitimismo sistemático, que faz com que diversos grupos pelejem entre si numa disputa insana para ver quem é o mais oprimido, e disseminem justamente aquilo que eles mesmos dizem repudiar: a intolerância [movida a generosas doses de ressentimento - que passou a ser a matriz energética de todo esse caos].

    E a conclusão mais óbvia foi que a idéia da inclusão imposta e da ditadura do relativismo, mencionadas neste último "creio", passaram a ser condição sine qua non para a sobrevivência em ambiente de tamanha hostilidade.

    Portanto, a convicção passa a ser vista como uma patologia muito prejudicial às relações humanas de qualquer natureza, e o diálogo - que se torna a cada dia um exercício mais insuportável - é substituído por generalizações oportunistas. Por Exemplo: TODOS os que não concordam com o PLC 122 passaram automaticamente a entrar na mesma categoria daquele QUADRÚPEDE CRETINO que promoveu a agressão na Av. Paulista. Daqui a pouco, as Igrejas Cristãs que usam lâmpadas fluorescentes em seus templos terão que substituí-las, pois podem correr o risco de ser taxadas de intolerantes.

    Que tempos os nossos!

    ResponderExcluir
  24. Querido Reverendo Augustus, muito obrigado pelo esclarecimento que foi dado. Creio que seja natural que, volta e meia, fiquemos reformando o nosso pensamento reformado, nem que seja só para confirmar o já estabelecido.

    Contudo (espero que eu me expresse da melhor maneira possível),em termos de tradução das Sagradas Escrituras, se já não bastassem as diversas versões que surgem com promessas de serem ou as mais fiéis ou as mais acessíveis (como o senhor mesmo bem explicou na resposta a um dos comentários), creio que dificulta também "descobrirmos" que há duas fontes disputadas academicamente: textus receptus e a Westcott and Hort.

    Fico pensando num trabalho de evangelização no qual você pede para abrir num texto tal e, surpresa, descobre que a Bíblia da pessoa não tem a palavra "sangue"!

    Já era difícil as Bíblias que variavam de estilo, disposição visual das palavras, etc; mas, simplesmente, "sumirem" palavras ou versos inteiros?!

    Reverendo, o que eu estou querendo dizer é sobre a confusão e a dúvida gerada numa coisa que deveria vir para ajudar o leitor comum. Pois, venhamos e convenhamos, somos pastores, fizemos teologia, etc; todavia, eu estou pensando num povo ou numa geração que se encontra cada vez mais em dificuldades de ler a Palavra, quanto mais estudá-la. São pessoas que tem se esforçado e, ao darem um passo, acabam percebendo uma certa "babelzinha" nessas discussões ("Ah! Quer dizer que além de várias igrejas também tem várias bíblias diferentes"?, pensa o seu João e a Dona Maria).

    Exemplo: fui católico e cheguei a usar uma Bíblia em que o texto de Gn 3:15 trazia, dubiamente, que a salvação viria "dela", uma mulher, a nova mulher que reverteria o curso da história. Do lado de cá, temos a ARA que diz que o "descendente" pisará a cabeça da serpente, todavia, a LH já dissolve essa forte referência (o chamado proto-evangelho) em "você picará a descendência dela".

    Fico aqui a pensar, daqui uns 200 anos de versões e versões, aonde vamos parar? Sinceramente, espero que nosso Senhor volte antes. Contudo, enquanto isso, creio que essa pluralidade de versões termina por ficar mais a serviço da contenda do que da unidade.

    Abraços sempre afetuosos.

    ResponderExcluir
  25. Rev Augustus Nicodemus, no evangelho de Mc cap 16 vs 17 e 18, o modo dos verbos em grego, é qual? E implica que aqueles sinais descritos lá, é para quem e em que época?

    ResponderExcluir
  26. Pastor Nicodemus, grande artigo.
    Contudo, não posso concordar com a seguinte declaração:
    "Isto não quer dizer que eu desconheça o fato de que existem pessoas de bem, honestas, sinceras e de boa conduta entre aqueles que não acreditam em Deus e muito menos em Cristo."

    Acho surpreendente o senhor dizer isso, pois conflita com o ensino bíblico.
    Considerando que:
    - todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus (Rm 3.23);
    - o coração do homem 'é inteiramente inclinado para o mal desde a infância' (Gn 8.21), 'está cheio de maldade e de loucura durante toda a vida' (Ec 9.3);
    - o pecado atingiu TODAS as nossas faculdades, incluindo a mente (Gn 6.5; Rm 8.7; Tt 1.15), o coração, como centro do ser (Jr 17.9), os afetos (Jo 3.19), a consciência (Tt 1.15; Hb 10.22);
    - por sua própria natureza, o homem não pode se sujeitar à Lei de Deus ou agradar a Deus (Rm 8.7-8);
    - as pessoas devem obedecer à palavra/instrução de Deus (Ec 12.13; Is 1.10,19; 45.22; 55.6-7) e NÃO FAZÊ-LO É SINAL DE ARROGÂNCIA (Jr 13.15);
    - 'a vida de pecado dos ímpios se vê no olhar orgulhoso e no coração arrogante' (Pv 21.4);
    - Paulo diz que 'se alguém não ama o Senhor, seja amaldiçoado' (1 Co 16.22) e que aqueles que negarem Cristo também serão negados por Ele (2 Tm 2.12), que Deus punirá os que não conhecem a ele e os que não obedecem ao evangelho do Senhor Jesus; essas pessoas sofrerão a pena de destruição eterna, a separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder (2 Ts 1.8-9);
    - 'até os atos mais bondosos dos ímpios são cruéis' (Pv 12.10);
    - os não cristãos 'estão obscurecidos no entendimento e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que estão, devido ao endurecimento do seu coração. Tendo perdido toda a sensibilidade, eles se entregaram à depravação, cometendo com avidez toda espécie de impureza' (Ef 4.18-19);
    - os ímpios são malditos (2 Pe 2.14);
    - 'ainda que se tenha compaixão do ímpio, ele não aprenderá a justiça; na terra da retidão ele age perversamente, e não vê a majestade do Senhor' (Is 26.10)

    ... e que Deus condena severamente a supressão da verdade (Mt 11.20-24), só podemos concluir que os incrédulos não são realmente pessoas de bem, honestas, sinceras e de boa conduta. Nosso parâmetro ético não é a sociedade, nem nossas próprias impressões subjetivas de como as pessoas superficialmente se mostram. Ao contrário de nós, Deus conhece a mente (Jr 20.12) e o coração das pessoas (Pv 15.11; 21.2; 24.12; Ec 12.14; Jr 11.20; 17.10; 20.12) e não julga pela aparência (Gl 2.6).

    Um abraço!

    marcelo h.

    ResponderExcluir
  27. Amado professor Augustus Nicodemus, sempre admirei sua erudição, entretanto tenho que admitir com muita satisfação que ao estudar com o senhor na pós-graduação no SPN no ano de 2009, passie a admirá-lo ainda mais. Sua postura sempre muito ética e coerente, seu respeito as outras denominações reformadas, sua posição equilibrada demonstrada pelos seus artigos deveriam servir de exemplo para todos os outros ministros presbiterianos de todo Brasil. Parab´nes pela excelente publicação, Deus continue te abençoando.

    ResponderExcluir
  28. Olá Augustus,

    parece-me que muitas vezes discordo de vc devido a uma sutileza que está no parágrafo "Creio na divindade de Cristo". Acredito que a separação entre divindade e humanidade é feita várias vezes de maneira artificial, sem um critério bíblico bem definido.

    Por exemplo, por que "a sua preocupação com os pobres e as questões sociais" está ligada somente à parte humana de Jesus Cristo? Não é isso que vejo nos evangelhos... vejo esse tipo de preocupação como algo muito relevante no que diz respeito à Graça, misericórdia e servidão, ou seja, também está ligada à Divindade.

    A separação divindade/humanidade de Jesus Cristo não pode ser feita de maneira cartesiana, com critério ao gosto freguês.

    O mesmo vale para os limites da inerrância bíblica, para que o texto não seja tratado de tal maneira que o "conhecimento de leis espirituais de natureza universal" seja extraído quase na forma de teoremas matemáticos, tornando a interpretação bíblica uma escrava de um método iluminista.

    Enfim, entendo os pontos levantados pelo seu post, mas alguns deles contém aspectos cuja complexidade escapa da alcance de um credo disposto de maneira analítica e esquemática.

    Se há outra maneira de escrever um credo? Não sei, talvez esse seja o problema curcial

    abraço

    ResponderExcluir
  29. Casal 20,

    Sobre traduções, se por um lado elas trazem confusão, a variedade delas pode nos ajudar a entender melhor um texto. Lembre: nenhuma tradução consegue refletir perfeitamente as nuances da língua original, como já mencionei numa resposta que dei a um amigo acima.

    Sempre consulto todas as traduções em português que eu posso quando estou trabalhando num texto. E nas outras línguas que eu consigo ler. Ao compará-las e perceber as diferenças, fico alerta para possíveis problemas manuscritológicos e outros interpretativos. E ai me concentro neles, usando os léxicons, comentários, etc.

    Mas, é claro, nosso povo não tem condição de fazer isto - mas é por isto mesmo que Deus deu à igreja "pastores e mestres" (Ef 4), que deveriam fazer o dever de casa, estudar e ajudar o povo, publicar livros, apostilas, preparar lições de Escola Dominical, tratando destas dificuldades quando elas aparecerem.

    Sobre a falta de "sangue" em passagens da Bíblia, se você puder me dar um exemplo, talvez fique mais fácil tentar uma resposta.

    Grande abraço!

    ResponderExcluir
  30. Fisio,

    Conheço de fato uma pessoa extremamente reta, séria, honesta e de bem. Trabalhador dedicado, apegado à sua família. Homem de confiança. Todavia, não é um crente em Jesus Cristo.

    Assim um tipo parecido com Cornélio, que de acordo com a Bíblia, antes mesmo de ser salvo pela fé em Jesus Cristo, era "piedoso e temente a Deus com toda a sua casa e que fazia muitas esmolas ao povo e, de contínuo, orava a Deus." (Atos 10:2)

    O que eu estou fazendo em meu post é respondendo à acusação que é feita contra os que acreditam que a salvação é pela fé em Cristo somente, de que não conseguimos perceber que mesmo fora do círculo da fé há sinais e indícios da graça comum de Deus.

    Pessoas não salvas, por causa da graça comum de Deus - e isto não quer dizer que elas serão salvas - praticam alguma medida de bondade, justiça, verdade, honestidade e altruísmo. Além disto, mesmo não regeneradas, ainda preservam a imagem de Deus nelas, embora esta imagem esteja danificada pelo pecado.

    Os versículos que você citou, sem exceção, falam do real estado dos não salvos diante de Deus. As obras deles não são aceitas diante de Deus. E o coração deles é inimigo de Deus. Sem dúvida. Quando um deles faz uma coisa certa, faz isto contra a natureza pecaminosa deles. Mas você já deve ter conhecido um descrente que foi honesto num negócio que fez com você, que contou a verdade numa ocasião, que foi justo ao tratar de um assunto. Ou não? Será que todo mundo que você conhece mentiu para você, lhe tratou mal, lhe roubou ou foi desonesto?

    A Bíblia não nega que um gentio, um pagão, um não convertido pratique atos externos de verdade. Veja por exemplo o que Paulo diz em Romanos 2:14-15 "Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se."

    De acordo com a passagem acima, Paulo admite que gentios por vezes "procedem de conformidade com a lei" devido à lei de Deus gravada em suas consciências e corações - isto não quer dizer que eles fazem isto perfeitamente ou o tempo todo, e muito menos que serão salvos.

    Acho que a Confissão de Fé de Westminster captou bem essa questão:

    "As obras feitas pelos não regenerados, embora sejam, quanto à matéria, coisas que Deus ordena, e úteis tanto a si mesmos como aos outros, contudo, porque procedem de corações não purificados pela fé, não são feitas devidamente - segundo a palavra; - nem para um fim justo - a glória de Deus; são pecaminosas e não podem agradar a Deus, nem preparar o homem para receber a graça de Deus; não obstante, o negligenciá-las é ainda mais pecaminoso e ofensivo a Deus." (XVI, 7).

    Perceba que os puritanos admitem que o não regenerado faça "coisas que Deus ordena e que são úteis para si mesmos e aos outros". Estas coisas, todavia, nada valem para a salvação. Este é meu ponto, que você, aparentemente, não percebeu.

    ResponderExcluir
  31. Pastor Augustus, muito bom o post. Concordo com as observações em relação aos originais. Mas, o texto que dispomos é confiável SIM. Não há motivos para desespero. Você também cita essa confiabilidade no seu post.

    Marcos Paulo Correia.

    ResponderExcluir
  32. Caro Rev. Augustus.

    Em um dos comentários acima o sr. mencionou Cornélio, e o fato de que ele, mesmo não tendo fé em Cristo até então, orava a Deus.
    Minha pergunta é: Ele não era salvo, mesmo nos moldes veterotestamentários?
    Ainda, apenas como hipótese, o que acontecia com as pessoas que, por exemplo, morreram dias depois da obra de Cristo e que desconheciam o fato até então, mas que eram salvas antes do ocorrido assim como Abraão ou Davi eram?

    Em Cristo, Mac.

    ResponderExcluir
  33. Pr. Nicodemus,
    no parágrafo do texto a referência é a "aqueles que não acreditam em Deus [= não tementes a Deus] e muito menos em Cristo". Mas como At 10.2 fala de uma pessoa e sua família "tementes a Deus", creio que essa passagem não se aplica. Afinal, Cornélio cria em Deus a partir do que conhecia no contexto judaico - diferente de pessoas que nem mesmo se voltam, não querem saber *nada* sobre um Deus revelado em Jesus Cristo.
    Ademais, a graça comum não invalida ou atenua os ensinos bíblicos sobre a depravação humana, e, sem dúvida, o Espírito Santo refreia a maldade do mundo, razão por que diz-se que a "depravação total" não implica que o ser humano é tão pecaminoso quanto poderia ser. Pessoas não salvas "praticam alguma medida de bondade, justiça, verdade, honestidade e altruísmo", mas e quanto às suas motivações íntimas? Certamente não procedem do amor e gratidão a Deus, pois elas não o temem. Assim, essas coisas partem do egocentrismo (elas querem ser elogiadas por outras pessoas) ou de um altruísmo que não tem razão última de ser (se a natureza é produto de um acaso impessoal, não há razão maior para o altruísmo do que para a perseguição e jugo dos mais fracos, para a autosobrevivência), e é uma escolha arbitrária. Resta o fato que essas boas ações não partem de um coração voltado a Deus. E aqui, a meu ver, revela-se o abismo entre ser bom, honesto, sincero e de boa conduta e não sê-lo.

    Sem dúvida conheço pessoas que *se mostram* honestas, íntegras, mas, reitero, essas impressões são apenas aparentes (e mesmo assim falhas). Não conheço seus corações e jamais poderei saber ao certo se a vida inteira de uma pessoa honesta e íntegra aos olhos da sociedade teve ao menos UM ato que partiu de motivação não pecaminosa. Se Hitler foi para o inferno, isso não significa que a graça comum de Deus, ao fazer ele cuidar bem de seu cachorro, tornasse este um ato *necessariamente* correto. E se Hitler tratava bem seu cachorro porque considerava os cães mais dignos de viver que os judeus?

    O coração do homem "é *inteiramente* inclinado para o mal desde a infância" (Gn 8.21), e por outro lado, os olhos de Deus são tão puros que não suportam ver o mal, Deus não pode tolerar a maldade (Hc 1.13). Deus é Santo (1 Pe 1.16; Ez 36.23; 38.23; 39.7,25,27; Am 4.2) e nos conhece integralmente (2 Co 5.11).
    O sr. refere-se a obras, mas a meu ver, obras não falam por si só. Por trás delas há sempre um agente, e Deus julga o agente e suas motivações. O Senhor Jesus considera os frutos, mas sempre tendo em vista seu foco principal, a árvore da qual eles provêm. Sem árvore não há frutos. Portanto, acho um erro falar de pessoas simplesmente a partir de suas obras exteriores. A Bíblia faz a relação, mas sempre junto da onisciência divina, atributo que não temos.

    Meu foco é a motivação das pessoas, e a Bíblia sempre assume essa perspectiva, do coração, a sede das motivações do homem. Obras, boas ou más, são consequência. Deus julgará a pessoa a partir de suas obras, o que aponta que Deus julgará a pessoa com base no coração dela. E porque Deus volta tanto seus olhos para o coração do homem, não consigo ver pessoas altruístas, mas não cristãs (e se não cristãs, por que altruístas?).
    Se elas não são cristãs, são *inimigas* do Senhor Jesus (Mt 12.30) - neste caso, podemos nos atrever a dizer que elas são pessoas de bem, honestas, sinceras e de boa conduta, só porque fazem boas obras? Não consigo compartimentalizar isso. Mas só a Deus cabe julgá-las.

    Um abraço!

    ResponderExcluir
  34. Vinicius,

    "Parece-me que muitas vezes discordo de vc devido a uma sutileza que está no parágrafo 'Creio na divindade de Cristo'. Acredito que a separação entre divindade e humanidade é feita várias vezes de maneira artificial, sem um critério bíblico bem definido."

    Estou reagindo neste parágrafo aos que enfatizam tanto a divindade de Cristo que acabam diminuindo sua humanidade. Não estou fazendo nenhuma separação, embora faça a distinção entre as duas naturezas, conforme a tradição histórica à qual pertenço, que reconhece a presença das duas naturezas de Cristo numa única pessoa sem contudo pretender explicar este mistério. Não separamos as naturezas e não dividimos a Pessoa. Mantemos tudo junto sem, contudo, misturar ou fundir.

    "Por exemplo, por que 'a sua preocupação com os pobres e as questões sociais' está ligada somente à parte humana de Jesus Cristo? Não é isso que vejo nos evangelhos... vejo esse tipo de preocupação como algo muito relevante no que diz respeito à Graça, misericórdia e servidão, ou seja, também está ligada à Divindade."

    Engraçado, eu reli o parágrafo e não vejo como minha afirmação exclui que a Divindade se preocupe com questões sociais. Não será que você está lendo o que escrevo com um conceito já formado sobre mim, ou seja, um fundamentalista despreocupado com as coisas desta vida?

    "A separação divindade/humanidade de Jesus Cristo não pode ser feita de maneira cartesiana, com critério ao gosto freguês."

    Concordo. Todavia, é correto fazer a distinção entre as duas naturezas de acordo com o que a Bíblia nos revela.

    "O mesmo vale para os limites da inerrância bíblica, para que o texto não seja tratado de tal maneira que o "conhecimento de leis espirituais de natureza universal" seja extraído quase na forma de teoremas matemáticos, tornando a interpretação bíblica uma escrava de um método iluminista."

    Mais uma vez, não tenho a menor idéia de onde você tirou esta impressão do meu texto. Eu estou falando naquele parágrafo de inerrância e não de hermenêutica e exegese. Embora as coisas estejam ligadas, não tratei do método de interpretação aqui. Portanto, mais uma vez, você está lendo o que eu escrevo a partir de um estereótipo já formado sobre minha pessoa, a figura do fundamentalista tapado e obscurantista.

    Mas, já que você mencionou, creio, sim, em "leis espirituais de natureza universal" conforme afirmo no parágrafo onde trato de verdades absolutas. Aliás, todos estes pontos do credo "fundamentalista" podem ser considerados como exemplos destas verdades, que vêm sendo afirmadas por cristãos de todas as épocas e de todas as culturas.

    "Enfim, entendo os pontos levantados pelo seu post, mas alguns deles contém aspectos cuja complexidade escapa da alcance de um credo disposto de maneira analítica e esquemática."

    Não acredito que possamos saber tudo sobre Deus e a realidade, mas creio que podemos conhecer e sintetizar, sim, o que foi revelado nas Escrituras. Ou seja, creio em revelação proposicional - o que evidentemente você não crê. Esse é que é o real ponto de discórdia.

    "Se há outra maneira de escrever um credo? Não sei, talvez esse seja o problema curcial"

    Não tem como escrever um credo senão por meio de declarações proposicionais que almejam fazer sentido e transmitir significado ao leitor. A alternativa é fazer poesia, como muitos teólogos e livres pensadores passaram a fazer, presos por sua própria lógica de que não se pode expressar a revelação de maneira proposicional. Ou então, dançar, bailar diante do Sagrado... tem gente que faz isso como única maneira de expressar o sentimento religioso.

    Outro abraço.

    ResponderExcluir
  35. MAC,

    Quando Pedro foi explicar aos demais apóstolos a razão pela qual tinha entrado na casa de Cornélio e pregado ali, ele disse que o anjo que apareceu a Cornélio tinha dito a ele o seguinte: "Envia a Jope e manda chamar Simão, por sobrenome Pedro, o qual te dirá palavras mediante as quais serás salvo, tu e toda a tua casa". (Atos 11:13-14).

    Acho que isto responde sua pergunta se Cornélio era salvo ou não.

    Quanto à salvação dos judeus antes de Cristo, como Abraão, Davi e outros, eles foram salvos pela fé no Messias que haveria de vir, como nós somos salvos pela fé no Messias que já veio.

    Se você me pergunta se Cornélio tinha esta fé no Messias de Israel, a única resposta possível é que o texto não diz. Pessoas podem ser piedosas e fazer esmolas e temer a Deus e ainda assim não serem salvas, como parece ter sido o caso de Cornélio, a julgar pelo texto de Atos 11:14 que eu mencionei acima.

    Abs.

    ResponderExcluir
  36. Querido Reverendo, concordamos inteiramente com sua resposta, o que só aumenta a responsabilidade da liderança das Igrejas.

    Quanto ao sangue, estava me referindo ao texto da NTLH. Todas as vezes que nas demais versões (ARA, por exemplo) aparece a palavra sangue, simplesmente se retira e se reapresenta a idéia de uma outra maneira.

    Eu sei que o que estou dizendo poderá parecer legalismo ou sei lá que nome vão colocar, mas retirar a palavra sangue TODA VEZ que ela aparece! Revela para mim uma ideologia da versão. Ou, melhor dizendo, revela uma ideologia da aversão ao sangue (rsrsrsrs)!

    Textos como Hb 10: 19/ Cl 1: 14 e 20/ Ef 1:7/ Ap 1:5 ficam muito estranhos, uma vez que sustentamos toda uma linguagem teológica por milênios em cima do ensino do sangue derramado.

    Mais do que simples eufemismos, creio que essas adaptações seguem a tendência de "não chocar" ou se criar uma versão "politicamente correta". Daqui a pouco, para não chocar, os eufemismos vão acabar sendo substituídos também. Quem hoje está se escandalizando com o "sangue derramado", poderá dizer que se escandaliza com a maneira deste sangue ser derramado. E, enfim, não aceitariam um texto forte que diz que Jesus foi sacrificado numa cruz ("coisa horrorosa", vão dizer)!

    Mas, como eu disse no início, concordo inteiramente com o senhor: precisamos nos preparar mais, fazer o dever de casa, pois a pluralidade (inclusive de versões) chegou para todos nós.

    Muito obrigado, Reverendo, pela paciência em ler e tentar compreender o que eu estou tentando expor.

    Abraços sempre afetuosos.

    ResponderExcluir
  37. Fisio,

    Você tem razão apenas em parte quanto a Cornélio, pois mesmo sendo religioso ele não era salvo, a julgar por Atos 11: 13-14. Mesmo assim, era uma pessoa de bem, sincera.

    E ainda temos Romanos 2, que você esqueceu de comentar...

    Fico feliz que você admitiu que existem pessoas que fazem coisas certas e boas mesmo não sendo crentes. A motivação delas certamente é errada. Mas que elas fazem, fazem. Que são obras imperfeitas, são mesmo, mas ainda assim elas existem.

    Eu estava me referindo, naturalmente, ao exterior, ao que se pode ver. Como você disse, Deus é quem julga o coração.

    Volto ao ponto original do post: "Creio que somente mediante a fé em Jesus Cristo como único Senhor e Salvador é que as pessoas podem ser perdoadas e salvas. Isto não quer dizer que eu desconheça o fato de que existem pessoas de bem, honestas, sinceras e de boa conduta entre aqueles que não acreditam em Deus e muito menos em Cristo."

    Note que são coisas externas: pessoas de bem é uma expressão para pessoas que são normalmente honestas, sinceras e de boa conduta - coisas que podem ser percebidas. Não entrei nem por um momento na situação delas diante de Deus e nem nas suas motivações.

    Em nenhum momento minimizo a doutrina da depravação total. Só não quero deixar de ver a doutrina da graça comum, que é tão bíblica quanto ela.

    Um abraço.

    ResponderExcluir
  38. Casal 20,

    Concordo totalmente. O problema com a NBLH é que não é uma tradução, a rigor, mas uma paráfrase. A filosofia de tradução das paráfrases é reproduzir o sentido do texto original de uma forma a ser perfeitamente compreendida pelos leitores. Não há qualquer preocupação com uma tradução literal palavra por palavra. Só que eles partem do princípio que os leitores modernos de fato vão estranhar as referências teológicas a justificação, propiciação, sangue, etc - e ai procuram equivalentes populares. Ao fazer isto, porém, perdem a carga teológica que estas palavras carregam.

    A solução, repito, não é trocar as palavras teologicamente carregadas - mas treinar os pastores e mestres e evangelistas para explicá-las ao povo.

    Abs.

    ResponderExcluir
  39. Reverendo Nicodemus

    Tenho para mim que um problema grave das paráfrases é que elas necessáriamente tem uma carga ideológica. Explico por que penso assim: Por se sentir mais livre em relação às palavras realmente usadas pelo autor, o tradutor reescreve o texto de acordo com o que ele entendeu dele. Ora, o que o tradutor entendeu, muito mais do que aquilo que está escrito, é reflexo da sua própria teologia pessoal. Fiquei horrorizado ao ler certos trexos da NBLH, como o tradutor desconsidera o texto origianl para reescreve-lo conforme ele supõe que signifique.

    O pior de tudo é que a maioria dos leitores ignora a diferença entre uma tradução e uma parafrase. O leitor desatento está lendo opiniões de homens, julgando estar lendo a Palavra de Deus.

    ResponderExcluir
  40. Pastor,
    Como o Sr. deve ter percebido, faço parte do grupo que não sabe Teologia, mas entendi direitinho o seu post. Quanto a Cornélio, não sabia desse detalhe. Mas o pior é que a cada novo convertido(subestimando a inteligência)vou logo presenteando a NBLH, e até quando eu, estou a fim de fazer uma leitura rápida, dou uma espiada.
    Tá vendo como blog também é cultura? hehehe...
    Abr.

    ResponderExcluir
  41. rev Nicodemus... sobre o assunto traduções: diante da incerteza, isso deve explicar o pq q a IPB não se posicionou até hj sobre a questão de traduções? temos NVI, ACF etc. Por um lado fico pensando se o texo majoritário não seria o alvo do que a CFW diz 'preservado puros em todos os tempos'... o Dr Anglada pensa que seja. A Editora lançou o texto Major. interlinear.
    Temos um tradução melhor em comparação com outras?

    caso me responda, já agradeço.

    ResponderExcluir
  42. Meu prezado rev. Augustus:

    Este é um credo que subscreveria até mesmo sem tê-lo lido. Ser fundamentalista não é "feio" como alguns querem fazer crer. É simples, como anotado nos pontos aqui desenvolvidos.

    Abraços!

    ResponderExcluir
  43. Caro Prof. Augustus, obrigado pelos esclarecimentos, e gostaria de comentar a minha impressão sobre os posts que li até aqui.
    Me parece que o Credo em si ficou mais a segundo plano ou melhor a questão das traduções parece que chamou mais ao interesse dos seus leitores. Creio que se não fosse a internet a maioria dos crentes não faria a menor idéia das questões textuais. E penso que muito mais que uma questão mercadológica, ou de preferencia de linguagem os crentes querem e devem saber as difenrenças de origem de cada uma das versões. Quando a SBB disponibilizava as Bíblias antigas, anteriores ao século xviii pude perceber que nenhuma versão que usa o nome de Almeida deveria faze-lo, pois todas distanciaram em tudo ou em partes o que de fato foi traduzido por Almeida. Isso tudo independente do texto grego escolhido (TR/TC ) . Como reformado já fiz minha escolha pelas traduções baseadas no TR. Afinal a Bíblia de Genebra foi originariamente traduzida a partir do TR. Todos os estudos dos reformadores foram com base no TR, e apesar de não poder participar da leitura em unissono com os demais irmãos que usam a ARA prefiro confiar no texto mais antigo mais distante do pensamento humanista e liberal do TC.
    Um fraterno abraço
    Josimar

    ResponderExcluir
  44. Mestre
    Por que o Sr. não afirma que o comma Johanneus não faz parte do original? Os testemunhos não seriam inequívocos, incotroversos, irrefutáveis no sentido de não ser original?
    Li seu comentário de 1Jo e uma resposta sua aqui e fiquei com essa dúvida.
    Para mim os testemunhos parecem ser tão uníssonos: o comma Johanneus não faz parte do original.
    A paz
    Tales

    ResponderExcluir
  45. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  46. Irmão Josimar, eu sofor com essa questão...kkk, veja, se TIVESSEMOS o texto majoritário teríamos resolvido uma séria questão (doutrina da preservação)gostaria muito tb de usar a ACF, mas 1 jo 5.7 é um grande problema... esse texto contraria a posição >Mojoritária< e não apenas a antiguidade...
    QUEM SABE TERÁMOS UMA VERSÃO DA BÍBLIA FEITA PELO DR NICODEMUS!! (eu compro, e uso em meu campo missionário...)
    não se esqueça de minha pergunta, rev Nicodemus...

    ResponderExcluir
  47. Graça e paz irmãos fundamentalistas!

    Sempre fui fumdamentalista!

    Um Abraço fraterno;
    Em Cristo que nos fortalece - Gilberto Sampaio

    ResponderExcluir
  48. Pr Silas Roberto Nogueira

    Lendo esse credo logo noto que sou fundamentalista, mas não raivoso!

    Um forte abraço, Rev Augustus

    ResponderExcluir
  49. Amados irmãos reformados/bíblicos/fundamentalistas.

    Sou pastor da Igreja Presbiteriana Fundamentalista do Brasil. Continuamos batalhando pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos, sou de uma geração de novos pastores formada pelo nosso seminário e amamos a igreja presbiteriana do Brasil assim como todos os ramos denominacionais que defedam a pura e simples Palavra de Deus, somos tolerantes e estamos dispostos a discutir todas aquelas questões que a Confissão de Westminster coloca como "Não igualmente evidente a todos" (capítulo I seção VII. Fico muito feliz com este esclarecimento do Rev. Augustus bem como reafirmamos nosso apoio a todos os que estão dispostos a anunciar o verdadeiro evangelho de Cristo, e nisto também podemos dizer como o Ap. Paulo "Não me envergonho do evangelho..." Assim também não me envergonho de ser Presbiteriano Fundamentalista. Um abraço a todos.

    ResponderExcluir
  50. Caro professor

    "Quanto à salvação dos judeus antes de Cristo, como Abraão, Davi e outros, eles foram salvos pela fé no Messias que haveria de vir, como nós somos salvos pela fé no Messias que já veio."

    Acredite, mas certa noite assistindo a um dos nossos tele-evangelistas, ouvi-o dizer q o povo do Velho Testamento [nomeou alguns] esperaram a ressurreição de Jesus [no inferno?] para serem salvos por ele [qdo Ele desceu ao Hades].

    Mero comentário.
    Abraços.
    angelica.

    ResponderExcluir
  51. Querido Rev. Augiustus, se me permite, gostaria de deixar um link de um pequeno vídeo do Pipper comentando sobre as paráfrases bíblicas. Tendo em vista os comentários aqui expostos no Tempora, acho que o vídeo vem somar:

    http://pregandocristocrucificado.blogspot.com/2009/05/piper-e-parafrase-biblica.html

    Abraços sempre afetuosos.

    ResponderExcluir
  52. Gostei muitíssimo do comentário de Pipper. Recomendo a todos. Grato ao Casal 20 pela recomendação.

    ResponderExcluir
  53. É um credo no Evangelho, com simplicidade e fé genuína. Quando esta fé e simplicidade são perdidas ou substituídas pelas ziquiziras e elocubrações humanas, as comunidades, chamadas de "igrejas" se tornam um excelente clube para se fazer network, apenas isso!

    No arretado amor dEle!
    Abraços,

    ResponderExcluir
  54. Anônimo4/2/11 18:03

    Bom seria que todos que criticam (sem saber é claro) o fundamentalismo parassem uns minutos para ler esse post.
    Que Deus continue a abençoá-los com tão grande sabedoria e conhecimento para instruir-nos cada dia mais.

    ResponderExcluir
  55. Caro Reverendo, leio ocasionalmente alguns artigos feitos pelo prezado, e muito os aprecio. Já fui membro de várias denominações, algumas tradicionais e outras até neopentecostais. Estou procurando uma faculdade de teologia e agradeceria vossa indicação!

    agradeço a Deus por me ver também como fundamentalista!

    Saudações fraternais.

    Rubens Rodrigues Filho

    rodri_ia@hotmail.com

    ResponderExcluir
  56. Ah! vc ainda foi modesto. Eu me simpatizo com sua linha e mais, "adoro" o termo "fundamentalista", principalmente depois que descobrir de onde veio e como surgiu. Inclusive já até providenciei o livro "Os fundamentos" onde estão agrupados alguns dos artigos escritos pelos teólogos fundamentalistas contra os liberais.
    Eu, que até pouco tempo estava cambaleando para o lado do liberalismo, agora, cada vez que leio um artigo dos fundamentalistas, me sinto mais revigorado.
    Vc foi até modesto. Pois bem, vou contar um segredo para vocês, não contem para ninguém:
    1. Eu creio que Deus criou o universo,
    2. Creio também que existiu um Adão e uma Eva historicamente,
    3. Creio que o profeta Jonas foi engolido por um grande Peixe,
    4. Creio que Paraliticos e cegos foram curados por um homem chamado jesus,
    5. Creio que Jesus Ressuscitou dentre os mortos,
    6. Creio na existência de um lugar melhor após a morte, uma espécie de paraíso,
    7. Quando passo por dificuldades nessa vida, em oração chamo por Deus,
    8. Apesar dos defeitos que existem, gosto da Igreja,
    9. Apesar de não ter toda as respostas que queria, creio na Bíblia como sendo a Palavra de Deus...
    10. Apesar de estudar Sociologia em uma Universidade onde boa parte dos colegas e professores são materialistas, Creio a Sociedade só pode ser melhorada quando o ser humano aceitar e colocar o evangelho de Jesus em prática. Nem Marx, Durkheim, nem tampouco Weber, tem a formula.
    A solução para a sociedade, é a prática dos princípios que estão no evangelho de Jesus.

    ResponderExcluir