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quarta-feira, outubro 31, 2012

Por ocasião dos 495 anos da Reforma Protestante


[Este artigo é de autoria do Solano Portela, que está em Manaus, sem internet - publico aqui a pedido dele]
Martinho Lutero
Muitas referências atuais à Reforma do Século 16 distorcem o que realmente ocorreu naquela ocasião. Os livros de história contemporâneos, por exemplo, introjetam anacronicamente uma linguagem marxista ultrapassada para descrever os acontecimentos da época. Para esses autores, o que houve foi uma luta econômica da burguesia contra os senhores feudais. O trabalho de Calvino é apresentado como sendo uma valorização sócio-econômica de alguns, que seriam definidos como "os predestinados". Para outros, a revolta de Lutero foi uma questão meramente pessoal, contra os líderes da época; ou, no máximo, uma cruzada contra a corrupção.

Não podemos compreender a Reforma assimilando esse revisionismo histórico. A ação de Lutero foi uma revolta contra uma estrutura errada e uma doutrina errada de uma igreja que distorcia a Salvação. Não foi um movimento sociológico, apesar de ter tido consequências sociológicas. Lutero não pretendia ensinar a salvação do homem pela reforma da sociedade, mas compreendia que a sociedade era reformada pelas ações do homem resgatado por Deus. Na realidade, a Reforma do Século XVI foi um grande reavivamento espiritual, operado por Deus, que começou com a experiência pessoal de conversão de Lutero.

Nunca é demais frisar que Lutero não formulou novas doutrinas, ou novas verdades, mas apenas redescobriu a Bíblia em sua pureza e singularidade. As 95 Teses, pregadas na porta da catedral de Wittenberg, em 31.10.1517, representam coragem, desprendimento e uma preocupação legítima com o estado decadente da igreja e com a procura dos verdadeiros ensinamentos da Palavra. É, portanto, um erro acharmos que a Reforma marca a aparição de várias doutrinas nunca dantes formuladas. A Palavra de Deus, cujas doutrinas estavam soterradas sob o entulho da tradição, é que foi resgatada.

Uma das características comuns das seitas é a apresentação de supostas verdades que nunca haviam sido compreendidas, até a aparição ou revelação destas a algum líder. Estas “verdades” passam a ser determinantes da interpretação das demais e ponto central dos ensinamentos empreendidos. A Reforma coloca-se em completa oposição a esta característica. Nenhum dos reformadores declarou ter “descoberto” qualquer verdade oculta, mas tão somente apresentou em toda singeleza os ensinamentos das Escrituras. Seus comentários e controvérsias versaram sempre sobre a clara exposição da Palavra de Deus, abstraindo dela os ensinamentos meramente humanos.


O grande escritor Martin Lloyd-Jones nos indica “que a maior lição que a Reforma Protestante tem a nos ensinar é justamente que o segredo do sucesso, na esfera da Igreja e das coisas do Espírito é olhar para trás” (Rememorando a Reforma, p. 8). Lutero e Calvino, diz ele no mesmo local, “foram descobrindo que estiveram redescobrindo o que Agostinho já tinha descoberto e que eles tinham esquecido”.

Assim, as mensagens proclamadas pela Reforma continuam sendo pertinentes aos nossos dias. Da mesma forma como a Palavra de Deus sempre é atual e representa a Sua vontade ao homem, em todas as ocasiões, a Reforma do Século 16, com a doutrina proclamada extraída e baseada nesta Palavra, transborda em atualidade à cena contemporânea da igreja evangélica, quando nela ocorrem tantas distorções e tantos ensinamentos meramente humanos. Celebremos os feitos de Deus na história e, neste 31 de outubro, vamos dar graças a ele por ter levantado homens valorosos que não tiveram receio de se colocar ao lado da Sua Palavra.

9 comentários:

  1. Seguindo as reflexões de Solano, as minha reflexões, sobre o que é ser reformado no nosso contexto:

    Meus pesamentos a respeito da nossa identidade como reformados.
    Você já sabem e me conhecem bem, sou reformado. É claro que sempre existirá aquele que pensa ser mais reformado que o outro... fazer o que? E também aquele que é contra esta 'ideia perniciosa' que foi a reforma.
    O que penso sobre ser reformado? (sem ser exaustivo)
    1. Em primeiro lugar, ser reformado é ser crente (fide) em Cristo (Christus), salvo pela graça (gratia), amante das Escrituras (Scriptura) e viver de maneira que agrade a Deus (Deo Gloria).
    2. Segundo, é entender bem na Escritura a diferença entre lei e graça a ponto de não descartar a lei, mas viver pela graça, sem legalismo.
    3. É não confundir a Reforma Protestante com uma mera tradição humana e mais uma forma de religiosidade no grande shopping center das religiões.
    4. É não identificar o que a Escritura ensina com usos e costumes de uma época ou uma geração, mas, ao amar o que nos foi ensinado por nossos pais, não cultuar o seu modo vida naquilo que se confundiu com a cultura do seu tempo.
    5. Ser reformado é amar a Igreja na manifestação da sua própria geração a ponto de lutar por ela e contra ela fim de cooperar na obra de Cristo, de apresentá-la diante de Deus sem mancha, ruga ou mácula.
    6. É ser livre para a adoração a Deus dentro daquilo que a Escritura prescreve, sem rejeitar a tradição por conta de um espírito moderno e, ao mesmo tempo, não abraçar a tradição por conta do meu espírito tradicionalista.
    7. É amar a Missio Dei e entender que dela procede toda a missão do povo de Deus, sem abraçar um conceito reducionista de missões e sem abandonar a missão em nome da conveniência.
    8. Ser reformado é amar a vida na terra, amar o céu e amar a vida no novo céu e na nova terra. Ser reformado bíblico exige de mim uma esperança que vai além do horizonte humano e se encrava na eternidade presente e futura.
    9. Ser reformado é ter uma convicção bíblica tal, que me confundo com a reforma, de modo que não preciso falar que sou reformado todos os dias, em todos os lugares e em todos os meu pronunciamentos. Aliás, aprendi de um grande professor que posso ensinar toda doutrina reformada sem jamais me referir a ela, porque ela não é distinta da doutrina bíblica.
    Por fim, vou celebrar esta identidade, esta história, esta bênção, amando a Deus e amando ao próximo.
    Mauro Meister

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  2. Muito bom Mauro. Posso postar suas reflexões no meu blog "Pela Graça"?

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  3. prezado Mauro, você poderia explicar o seu quarto ponto, fiquei confuso sobre o que você queria dizer... obrigado, gostei do artigo

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  4. continuando...
    10. Ser reformado é ser "ANABATISTA"!

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  5. olá Rev.
    sei que foge ao assunto, mas gostaria de perguntar sobre o batismo. Estou preparando um estudo sobre o mesmo...

    li em vários artigos que existe um quadro que representa João Batista e Jesus de pé dentro do rio Jordão, e João derramando água sobre a cabeça do Mestre. O referido quadro é do segundo século e atualmente se acha em Ravena, região de Emília, Itália.

    contudo procurei na net e só achei representações datadas como mais recentes. O senhor poderia confirmar para mim se este fato procede e gostaria de saber se o senhor sabe onde posso encontrar uma imagem deste quadro.
    ob e ab.

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  6. Maurício,

    Desconheço o quadro. Na verdade, nunca me interessei por este tipo de "evidência" quanto à forma de batismo praticada no período apostólico e pós-apostólico, pela dificuldade em se datar estas obras e de se provar que elas refletem a prática vigente ou apenas o ponto de vista do artista ou a prática de uma corrente do Cristianismo.

    Abs.

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  7. Amados Revs.
    Sou o Joubert. Fui um dos alunos da primeira turma de Pós em Fundamentos Cristãos da Educação. Gostaria de saber a opinião dos irmãos para uma questão que me foi colocada sobre o antissemitismo de Lutero. Li algumas colocações atribuídas a Lutero e gostaria de saber por que e em que contexto ele se refere aos judeus de forma explosiva e contundente dando abertura para que hoje se acuse ou se utilize dos argumentos para posicionamentos desrespeitosos aos judeus. Sou grato desde já.
    Saudações e saudades
    Joubert

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  8. Caro Joubert,

    O link abaixo contém um excelente artigo sobre o assunto:

    http://caleberobson.blogspot.com.br/2013/01/martinho-lutero-e-o-anti-semitismo.html

    Um abraço.

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  9. Muito obrigado, Reverendo!
    Abração!

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