Será que as CRUZADAS provam que o cristianismo é tão violento quanto o islamismo?
Definitivamente, NÃO! Quem utiliza esse argumento não se aprofundou no que foram as CRUZADAS, nem entende o que é o verdadeiro cristianismo. Vejamos!
As Cruzadas fazem parte de um período marcante da história
universal, que perdurou nos anos 1096
a 1291. Eram campanhas
expedicionárias, de cunho militar, neste período da idade média, construídas em
cima do intenso misticismo e do pano de fundo religioso da era. Elas entrelaçaram
a igreja católica medieval e os regentes civis daquela época. Inicialmente, eram
excursões de resgate e apoio a cristãos perseguidos, mas rapidamente se transformaram em sucessivas tentativas
de tomar o poder da “Terra Santa” – especialmente da cidade de Jerusalém, das
mãos dos maometanos, ou muçulmanos.
Por que esse período foi importantíssimo? Porque além de ter durado dois séculos, essas intensas campanhas
e ações, chamadas de “Cruzadas” refletem o rumo equivocado que imperava na
igreja conhecida como cristã. A essa altura a igreja, no sentido abrangente, já
estava descaracterizada, pelo relacionamento incestuoso com o poder
civil, pela assunção de uma hierarquia doentia e concentradora de poder e pela
absorção de práticas e de uma cosmovisão pagã que a levaram à descabida idolatria.
Todas essas situações levaram os líderes da igreja a desviarem ela da sua
missão na terra, que é eminentemente espiritual e não temporal, passando a
ações e arregimentações de caráter militar contra poderes temporais que
ameaçavam e fustigavam os feudos do clero. Essa guerra “contra a carne e contra
o sangue” em vez de contra “as potestades das hostes espirituais”, conquanto
com fundo místico e linguajar religioso, reflete o mesmo mal-entendido dos
discípulos retratado em Mt 20.20-28, quando confundem o reinado pregado por
Cristo com os governos deste mundo.
Assim, a luta dos cavaleiros das Cruzadas era por reinados na terra, mesmo.
Quatro séculos depois, com a permanência e aprofundamento dessas distorções
religiosas, no seio do cristianismo – representadas, de um lado, por um
monasticismo isolacionista e do outro pelo envolvimento com o poder político e
militar deste mundo – os reformadores foram levantados e impelidos, pelo
Espírito Santo, a soarem o brado de retorno à simplicidade e às verdades do
Evangelho. A Reforma do Século 16 levou
a prédica e prática extraída tão somente da Palavra de Deus, abandonando a
superstição, misticismo cego, engano e obscurantismo que caracterizaram a idade
média, especialmente essa era das Cruzadas.
Historicamente, o início do período das Cruzadas é marcado por um apelo de
Alexius I (1081-1118), regente em Constantinopla, que se sentia ameaçado pelo
avanço dos maometanos, recebido pelo Papa Urbano II (1042-1099), em 1095.
Urbano II lançou uma chamada geral a toda a "cristandade", prometendo plena
indulgência (perdão de pecados) aos que participassem da expedição - só esse fato já demonstra como estava distorcida a Igreja medieval - pecados perdoados por decreto! O moto da
convocação era – “É a vontade de Deus”!
A partir de certo ponto o empreendimento mudou a sua feição original de
resgatar Alexius e seu império, para a de uma campanha abrangente que visava
resgatar os “lugares santos” ocupados pelos mulçumanos.
As Cruzadas foram largamente apoiadas pela nobreza européia,
que via nelas a oportunidade igualmente econômica de adquirir territórios,
espólios e riquezas. Alguns poucos nomes desta época, que se destacaram na
história, foram idealistas religiosamente mal orientados. A primeira Cruzada reuniu
em Constantinopla, os diversos exércitos que a compunham. Reorganizados, a
partir de uma grande confusão inicial, partiram para conquistas, cidade após
cidade (Nicéa, Dorileo, Icônio, Antioquia, Mosul), chegando, finalmente a
Jerusalém em 1099. Godofredo de Bulhão foi nomeado “Protetor do Santo
Sepulcro”. A “Terra Santa” torna-se, praticamente, um protetorado europeu e
várias divisões políticas são estabelecidas, repartindo o território deste
“Reino Latino” entre os conquistadores. Uma segunda Cruzada foi estabelecida recebendo
sucessivas ondas de ordens rivais de cavaleiros, brasões e lealdades feudais
típicas da idade média (Cavaleiros Templares, Cavaleiros de São João,
Cavaleiros Teutônicos, etc.). Esses “cavaleiros” eram grupos organizados com
leves características de expedições missionárias, compostos por monges,
guerreiros, mercenários e, muitas vezes, apenas romeiros (peregrinos), que
tinham como um dos propósitos “cristianizar” o oriente, se necessário pela
força.
O relativo sucesso militar das Cruzadas até meados do século 12
deveu-se às constantes batalhas dos muçulmanos entre si mesmos. A fragmentação
facilitava as vitórias e a manutenção das conquistas. A partir de 1171,
entretanto, o Kurdo Saladim, que
havia se declarado Mestre do Egito, começou a amealhar vitória após vitória
unindo os maometanos. Esse exército unido ocupou Damasco e em 1183 ele sitiou o
“Reino Latino”. Jerusalém foi invadida e derrotada. Este período de Saladim,
entre a segunda e terceira Cruzada, é exatamente o que foi coberto pelo filme (2005) de Ridley Scott, chamado "Cruzada" (ironicamente, no original, Kingdom of Heaven, quando retrata guerras por Reinos na Terra).
Só para encerrar essa âncora histórica, quando a notícia
da derrota infligida por Saladim chegou à Europa, outras Cruzadas foram
organizadas, com líderes famosos como Ricardo Coração de Leão, mas nenhuma Cruzada
seguinte conseguiu reconquistar Jerusalém.
Credita-se às Cruzadas, e aos resultados desastrosos delas, o abandono nos séculos subseqüentes dessas aventuras religiosas secularizadas, levando à
concentração da religiosidade católica em estudos mais aprofundados de seus
dogmas, dos livros apócrifos e das Escrituras. Isso resultou no Escolasticismo, que, em vez de gerar um enraizamento de doutrinas nas Escrituras, sistematizou,
ao contrário, práticas pagãs e idólatras e um afastamento maior ainda do cristianismo verdadeiro. Mas foi nesse solo fértil e concreto, eivado de paganismo e carente de verdades que Deus providenciou o desabrochar da Reforma do século 16. Um outro efeito das Cruzadas, foi que a Europa foi despertada à
rica cultura do oriente, após ter-se mantido fechada, no seu desenvolvimento
intelectual, comercial e humano, durante a idade média. Essa situação levou a
um incremento do comércio do leste com o oeste e ao surgimento do iluminismo intelectual.
O contexto das Cruzadas, então, foi o misticismo reinante na época – muito distanciado da religião
verdadeira, já esmaecida pela introdução supersticiosa das relíquias e pela prática da idolatria. A ética e a praxis das Cruzadas não é retrato de cristianismo bíblico. Querer apresentá-las como um movimento espontâneo e genuinamente oriundo dos ensinamentos da Bíblia, é pura distorção histórica e fraude intelectual. No âmbito pessoal, lembremo-nos do chamado à participação nas Cruzadas – “É a vontade de Deus”. Até os dias de hoje, esse slogan tem sido
utilizado para justificar as mais diversas ações, pessoais ou coletivas que não
refletem preceitos divinos, mas ambição humana. Tenhamos cuidado e prendamo-nos
à sua vontade revelada – A Bíblia – suficiente para nos guiar, nesta vida, em
tudo que realmente agrada a Deus. E a violência, certamente desagrada a Deus, não faz parte da prática e da fé Cristã, é característica da falsa religiosidade.
-- Solano Portela
Caro Solano, excelente explicação. Continue escrevendo, por favor. Abraço.
ResponderExcluirótimo texto!
ResponderExcluirBoa a explicação mas uma dúvida surgiu , se Deus não se agrada da violência por que no AT se vê tantas guerras , aonde até crianças eram mortas . Sabendo que o Senhor é soberano para mudar o coração das pessoas como fez com os Egípcios quando o povo de Israel estava indo embora . Paz e obrigado .
ResponderExcluirOi cara, bem a sua pergunta é interessante mas lembremos q Jesus ao responder a um de seus discípulos quando eles lhes perguntaram se ele queria q eles fizessem cair fogo do céu ( eu não me lembro do caso e nem do capítulo mas acredito q seja em Lucas), o mesmo Jesus lhes respondeu: ora não sabeis de q espírito sóis?. Desse modo entendemos q não recebemos poder pra isso, a justiça de Deus se fara na segunda vinda de Cristo onde ele vira reger as nações com vara de Ferro, espero ter ajudado
ExcluirTalvez, em um outro post, o professor Solano Portela, abordasse os textos bíblicos contendo orações imprecatórias, tipo, "felizes aqueles que esmagarem suas crianças contra a parede...".
ResponderExcluirE, também, textos que Deus autorizou e ordenou a expulsão e destruição dos povos que habitavam Jebus, onde é Jerusalém hoje, etc.
Roney Leão
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPrezado Pr Solano Portela, apreciei sua explanação, porém acho que no início as cruzadas foram uma reação à constante jihad e os apelos feitos por Constantinopla eram reais , em seus texto me parece que minimiza as ameaças sofridas, assim tanto o é que Constantinopla caiu e hoje se chama Istambul.
ResponderExcluirPortanto acredito que as Cruzadas tiveram seu início, no conceito chamado Guerra Justa de auto-defesa (alias gostaria de ouvi-lo a respeito em uma postagem própria sobre o tema Guerra Justa) , apesar de terem sido naquele espaço de tempo um revide ofensivo.
Acredito que durante ou depois da 1a cruzada se tornaram na forma que o senhor comentou , guerra para espólios do reino do homem, se perdendo do propósito inicial de defender o indefeso e descambaram para a pilhagem.
Gostaria de sugerir o video abaixo. Ou seja falar das Cruzadas pinçando a mesma dos eventos que as precederam distorce os fatos. Mas concordo em gênero, número e grau que não se pode julgar os cristãos e mesmo o cristianismo e por fim o Senhor Jesus, pelas cruzadas.
Sou apreciador de suas reflexões.
link do youtube abaixo de: Jihad e Cruzadas, em um mapa dinâmico por Dr Bill Warner do Centro de Estudos do Islão Politico.
https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwiNp8ivgIfKAhXEvZAKHf8SD80QtwIIHDAA&url=https%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3Dz_5Y9hliGgs&usg=AFQjCNHfjsL4_rRxFS6Q1v_8HRiaCKmUNQ&sig2=ZkFiv-q6WE7OrN_KENCIXg&bvm=bv.110151844,d.Y2I