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quinta-feira, novembro 16, 2017

Esse Olhos Irlandeses Não Piscam (uma matéria sobre a questão do aborto)

Esse Olhos Irlandeses Não Piscam

Phelim McAleer & Ann McElhinney: Jornalistas Merecedores do Nome


by Terrell Clemmons

Tradução por Ana Boechat Wiebe

Phelim McAleer estava na Pensilvânia no começo de 2013 fazendo uma série de exibições do seu filme FrackNation. Como ele geralmente fazia quendo viajava, procurou no jornal local por casos judiciais em andamento, e um caso sobre um médico na Filadélfia chamou sua atenção. E aconteceu que num dos seus dias de folga entrou no tribunal onde o abortista Kermit Gosnell estava sendo por uma série de acusações, incluindo (mas não limitado a) assassinato, infanticídio, e violações múltiplas da lei estadual de abortos.

Phelim tinha visto muito nos seus vinte e cinco anos de jornalismo (ele começou sua carreira numa parte da Irlanda do Norte conhecida como “Território Bandido”), mas a evidência que ele viu na Sala 304 do Centro de Justiça da Filadélfia ultrapassou tudo o que ele havia encontrado anteriormente. As fotos exibidas numa telona – fotos de bebês bem formados, alguns cujo o pescoço tinha sido cortado com uma tesoura depois de nascerem vivos – eram mais horríveis que qualquer outra coisa que ele já tinha visto. Tudo isso já chocava por si só, mas foi ainda mais espantoso pra ele, como jornalista, ver que a galeria de imprensa atrás dele estava completamente vazia. Não havia nenhum jornalista de nível nacional cobrindo este caso. Nem um. Como assim?

Ele voltou pra casa em Los Angeles e contou para sua parceira e também esposa, a jornalista Ann McElhinney, que tinha encontrado o próximo projeto em que eles trabalhariam. Esse assunto era território desconhecido pra eles, totalmente fora da sua zona de conforto. Além do que, tanto ela quanto Phelim sempre se consideraram neutros com respeito a questão do aborto. Por que então entrar no ninho de vespas?

De qualquer forma, Phelim pediu as transcrições do tribunal e Ann os leu. Mais tarde, ela concordou que sim, eles iriam fazer um filme. Foi mais que uma concordância ou uma aptidão compartilhada. Foi uma convicção. Tinham uma informação importante de interesse público, e era uma vergonha ninguém estar publicando a respeito. Um filme sobre isso teria que ser feito; assim sendo, eles fariam.

Verdade – Falando no Interesse Público

Seria um empreendimento controverso, mas Phelim e Ann não eram amadores em cobrir controvérsias. Ambos nativos da Irlanda, tinham começado com a imprensa escrita, mas depois passaram a ser documentaristas. Para uma das suas primeiras produções, The Search for Tristan’s Mum, Ann se infiltrou secretamente no corrupto tráfico de bebês na Indonésia. Como resultado da sua investigação, Tristan retornou para a sua mãe biológica e os traficantes que venderam o bebê, colocados na cadeia. 

Enquanto eles moravam na Romênia, no começo dos anos 2000, um alvoroço surgiu sobre uma mina de ouro na Transilvânia chamado de Projeto Rosia Montaña. Eles viram os ambientalistas ocidentais e grupos ativistas como o Greenpeace entrar com suas agendas, falando no lugar dos moradores como se esses não pudessem falar por si mesmos. Pior ainda, a mídia não estava reportando a verdade do assunto – que a vasta maioria dos locais queriam muito a mina.

A situação da Rosia Montaña provocou um tipo de conversão momentânea de 2 níveis. Eles viram que (1) o capitalismo era o sistema econômico que melhor se adequava pra tirar as pessoas da pobreza, e (2) que o jornalismo convencional não só estava fazendo um trabalho de péssima qualidade ao reportar a verdade mas era, certamente, corrupto, na medida que a narrativa desses ambientalistas externos estava sendo relatada, em vez da atual realidade do que acontecia. Então, em 2006, eles lançaram Mine Your Own Business, que contou a verdade sobre a vila mineira e também inspecionou outros projetos de mineração do mundo em desenvolvimento, que estavam sob ameaça da oposição por poderosos interesses externos.

Continuando com o tema do Grande Ambientalismo e o efeito que pode ter nas comunidades empobrecidas, em 2009 eles produziram Not Evil Just Wrong, que pesquisou e criticou a histeria sobre o aquecimento global. Então, em 2013, veio o FrackNation, na qual Phelim encarou ameaças, policiais e ações judiciais falsas ao contar as histórias dos americanos em zonas rurais cujos meio de subsistência estavam em risco por causa da fracturação hidráulica (NT. um método de extração de gases de rochas rasas).

Logo, enquanto o julgamento de um médico abortista parecia ser a mudança de direção num nível mais básico, foi, na verdade, a continuação dos trabalhos jornalísticos de reportar os fatos, histórias que os principais jornais estavam reportando erroneamante, ou, no caso de Gosnell, ignorando completamente.


Descoberta Acidental

Ironicamente, a “Casa dos Horrores” de aborto, como as Sociedade das Mulheres Médicas da Filadélfia, no número 3801 Lancaster Avenue vieram a ser conhecidas, também foi descoberto acidentalmente. Kermit Gosnel tinha estado sob investigação por estar vendendo receitas médicas ilegais no começo dos anos 2010, quando Tosha Lewis, um informante recrutado como funcionário da clínica do Gosnell, casualmente mencionou que uma mulher asiática tinha falecido na clínica uns meses atrás. Tinha algo na sua morte, de acordo com Tosha que “não parecia certo”. Os investigadores da narcóticos foram procurar nos relatórios policiais, mas não havia nenhum relatório. Esse quebra-cabeças levou a mais perguntas, em seguida a mandados de busca e, então, finalmente a coordenação de uma busca que incluiu os investigadores da narcóticos, o Departamento de Saúde do Estado da Pensilvânia, a Agência Federal de Controle de Drogas, e o FBI – no total, mais de 20 participantes.

Eles entraram num verdadeiro pesadelo acordado. Um gato dominava o pedaço e o cheiro de fezes e urina de gato junto com fenaldeído dominavam no ar. Havia sangue no chão, urina nas escadas e pilhas de lixo em todo o lugar. As cadeiras, cobertores, e toda a superfície estava coberta de pelo de gato, e o equipamento médico era anti-higiênico, antigo, enferrujado e jogado ao acaso, num variado estado de destruição.

Quanto mais ele olhavam ao redor, pior ficava. Um armário de metal guardava jarros com pés que foram cortados de bebês. Geladeiras e freezers estavam espalhados sobre o pavimento – junto com um labirinto contendo mais restos de fetos ensanguentados – eles foram colocados em jarros de água usados, jarros de leite, potes de comida de gato, sacolas plásticas e jarros de suco. O porão abrigava restos de fetos empilhados até o teto.

Parecia coisa de filmes de terror, mas esse não era um set de filmagens de Hollywood. Era vida real. Mulheres semi-conscientes gemiam na sala de espera, enquanto que nenhuma das pacientes pós operadas estavam conectadas a qualquer aparelho de monitoramento. Duas estavam com um sangramento tão forte e em estado de choque que os paramédicos foram chamados, apenas pra descobrir que a porta da saída de emergência havia sido trancada com cadeado, e ninguém encontrava a chave. 

Enquanto isso, Gosnell queria fazer um aborto ao mesmo tempo que os investigadores faziam seu trabalho. Quando ele terminou, sentou-se em sua mesa com luvas cirúrgicas rasgadas e ensanguentadas e comeu seu jantar, gesticulando com seus hashi enquanto respondia as perguntas dos investigadores.

Claramente a equipe havia tropeçado numa cena de crime que foi além da corrida das drogas e uma more suspeita.

Documentando uma Tragédia Americana

No final, a máquina do sistema de Justiça da Pensilvânia enviou Kermit Gosnell para prisão perpétua sem direito a liberdade condicional. O desafio para Phelim e Ann foi como documentar verdadeiramente e com tato as múltiplas realidades inquietantes deste caso.

Com grande profissionalismo eles entrevistaram oficiais da polícia local, da Agência de Fiscalização de Drogas, o FBI, as agências de Supervisão do Estado, juntamente com os funcionários da clínica e ex-pacientes. Por fim, Ann decidiu escrever um livro sobre o caso, além de fazer o filme. “É perturbador que essa história não seja amplamente conhecida”, ela explicou. E houve aspectos do caso que não estariam no filme, mas que seriam gravados. “As pessoas deveriam saber essas coisas”, ela disse, com seu sotaque Irlandês acentuando sua convicção.

O resultado é Gosnell, A História Não Contada do Serial Killer mais Produtivo da América, uma virada de página jornalística pro caso, que é necessário ler para crer. E q
uando você acha que não pode ficar pior, fica. Ao longo do caminho Ann expõe uma falha atrás da outra, claramente nomeando os oficiais cujas responsabilidades era fazer cumprir a lei ou garantir que os padrões médicos que protegessem as mulheres e crianças fossem mantidos, mas que ignoraram os sinais claros, fizeram vistas grossas ou desprezaram a lei. A mídia local ou nacional não fez melhor. 

Ela admite que foi difícil:
Ler o testemunho e verificar a evidência na pesquisa pra esse livro e pra escrever o script do filme foi brutal. Eu chorei sobre  meu computador. Eu orei o Pai Nosso na minha mesa de trabalho. Eu não sou um exemplo de santidade – não havia orado por muitos anos – mas quando fui confrontada com o pior dessa história eu não sabia o que mais poderia fazer.

Mais Momentos de Conversão

Até Gosnell, ela achava os ativistas pró-vida desagradáveis – muito fervorosos, muito religiosos, talvez até manipuladores. Afastem-se com suas fotos assustadoras, pensava, tenho certeza que as fotos são manipuladas. Depois de saber sobre o caso do Gosnell, então, tudo mudou. As fotos mostradas no tribunal não eram de ativistas. Elas foram de detetives policiais, examinadores médicos e funcionários da clínica de Gosnell que testemunharam sob juramento.

Semelhantemente, as vozes no seu livro e no filme não são vozes pró-vida. O testemunho mais poderoso no julgamento, Ann disse, foram aqueles dos próprios médicos abortistas, ao descrever o que constituía “um bom aborto legal”. Quase todos os jurados eram pró-escolha no começo, mas alguns deixaram escapar suspiros audíveis quando uma testemunha especialista em aborto explicou detalhadamente o que ela fez. Não foi só Phelim, Ann, e membros do juri que reexaminaram suas opiniões. “Procuradores, diversos jornalistas e até o próprio advogado de Gosnell experimentaram mudança de coração e mente”, Ann escreveu. 


"Basicamente, uma vez que você descobre a verdade sobre o Aborto, você deixa a narrativa fácil de ser a favor do aborto muito rápido”, disse Phelim. “Aborto é como um artigo de fé pra algumas pessoas, sabia? Eles não pensam muito sobre isso, mas eles apenas são pró-aborto. Posso dizer, a fé deles foi quebrada. A fé de todos foi quebrada.”

Mudar a mente das pessoas, no entanto, não é uma coisa que eles pretendem fazer. “Costumava-se dizer no meio jornalístico, se você quer mandar uma mensagem, mande um Telex”, Phelim disse. “Nós não estamos aqui para mandar uma mensagem. Nós estamos aqui contar a verdade”. Então, quanto a Gosnell, “nossa mensagem, tanto para quem é pró-vida quanto pró-escolha é, encontre a verdade. Tome uma decisão informada. Porque quando você encontrar a verdade sobre o aborto, sendo pró-aborto, essa verdade vai abalar sua confiança nesta sua posição. E é exatamente isso que o jornalismo deve fazer”.


Tanto Phelim quanto Ann esperam que através do livro e do filme, as pessoas encontrem a verdade e que algo como a clínica de Gosnell nunca mais aconteça. “A verdade é muito, muito importante”, Phelim diz, “e a verdade te libertará. Isso é o que eu quero”.


Terrell Clemmons é um escritor freelance e blogueiro em apologética e questões de fé.

2 comentários:

  1. Como o senhor gosta de replicar: A verdade é de DEUS ainda que dita das boca de um ateu.

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  2. Jamais, mas jamais isso sairá em qualquer jornal brasileiro. UOL, Globo ou Terra? Esqueça. Nem que isso seja a única notícia do mundo naquela semana. Aliás, falando em notícias, foi fácil perceber quando esses sites e jornais dão os destaques como eles querem. No atentado do atropelamento em uma ciclovia em Nova Iorque, esse ataque ficou em destaque por cerca de uma semana nos noticiários brasileiros, chegando a ser noticiado no Fantástico. Já no ataque contra uma igreja batista, a primeira notícia do GLOBO era de que um ex-professor de escola bíblica havia cometido o atentado, tentando mostrar que era um evangélico que havia matado aquelas pessoas. Contudo, com o passar das horas, descobriu-se que o atirador era um ateu fundamentalista e antifa. Como num passe de mágica, no terceiro dia após o ocorrido, que matou 4 vezes mais que o de NY, começou a descer as páginas de notícias, desaparecendo no quarto dia. No Fantástico? Nem lembrança. Como diz o jornalista Reinaldo Azevedo, a carne de cristão para a mídia internacional vale bem menos.

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