quinta-feira, dezembro 23, 2021

Augustus Nicodemus Lopes

O Nascimento e a Infância de Jesus

O NASCIMENTO E A INFÂNCIA DE JESUS


Neste breve sumário iremos ver os fatos relacionados com o nascimento de Jesus. Eles estão ausentes no Evangelho de Marcos, pois o autor está muito mais interessado em narrar os atos de Jesus como o poderoso Filho de Deus. Por outro lado, Mateus e Lucas registraram alguns episódios relacionados com o nascimento e a infância de Jesus. Vejamos cinco desses episódios.


I – A ANUNCIAÇÃO A MARIA, Lc 1.26-38; Mt 1.18-25.


Maria era uma moça judia, virgem, que morava em Nazaré da Galileia, região mais ao norte da Judeia. Ela era da tribo de Judá e estava noiva de José, um carpinteiro também da mesma tribo. Certo dia, o anjo Gabriel lhe apareceu e anunciou que ela teria um filho. Ele seria gerado pelo Espírito Santo no seu ventre, sem participação humana. Ele seria o Filho de Deus e seu nome seria Jesus. 

Maria anunciou sua gravidez sobrenatural a José, que não acreditou nela. Ele, então, planejou abandoná-la em segredo, para evitar ter que denunciá-la por adultério. Porém, o mesmo anjo Gabriel também lhe apareceu e anunciou que Maria estava grávida pelo Espírito Santo, e que José a recebesse como sua esposa. O anjo ratificou que o nome do menino seria Jesus, que ele seria o Filho de Deus e que salvaria o seu povo dos pecados deles. Em hebraico, a raiz da palavra “Jesus” significa “salvar” ou “salvador”. José então recebe Maria como sua esposa, mas eles só terão relações após ela dar à luz o seu filho primogênito. 

II – O NASCIMENTO DE JESUS EM BELÉM DA JUDEIA, Lc 2.1-20

Vários meses após a anunciação, José e Maria vão para Belém da Judeia para atender a ordem do recenseamento do imperador César Augusto. Na cidade, chega a hora de Maria dar à luz, mas não há lugar nas hospedarias. Ela, então, dá à luz o seu filho numa estrebaria, colocando-o numa manjedoura. 

Um coro de anjos aparece a pastores que estão no campo, nas vigílias da noite. Provavelmente era uma noite agradável entre abril e julho (primavera), e não em dezembro, conforme a tradição cristã. Após anunciar o nascimento do Messias em Belém, os anjos entoam um coro celestial de louvor e adoração a Deus e retornam para o céu. 

Os pastores vão até Belém para ver o que havia acontecido e ali encontram José, Maria e o menino recém-nascido, conforme anunciado. E então voltam para casa louvando a Deus por tudo o que viram. Aparentemente, José e Maria ficaram ainda cerca de dois anos ali na cidade de Belém. 

III – A INICIAÇÃO DE JESUS COMO MENINO JUDEU, Lc 2.21-40 

Quando Jesus completou oito dias, foi circuncidado, provavelmente em Belém, por seu pai ou pelos rabinos da cidade. A circuncisão era o sinal da aliança de Deus com o povo de Israel e era aplicada a todo os meninos de oito dias. 

A Lei de Moisés requeria um sacrifício pela purificação da mulher 40 dias após ter dado à luz. José e Maria foram com Jesus a Jerusalém para cumprir a exigência e apresentar o menino no templo. Como eles eram pobres e não podiam oferecer ovelhas, ofereceram um casal de pombinhos. Enquanto estavam no templo, um judeu piedoso chamado Simeão e uma profetisa chamada Ana profetizaram acerca do ministério de Jesus e de sua morte. Após esses fatos, José e Maria voltaram para Belém com Jesus.

IV – A VISITA DOS MAGOS, Mt 2.1-23

Cerca de dois anos depois do nascimento de Jesus, apareceram magos do Oriente em Jerusalém perguntando pelo Messias. Não sabemos seus nomes, não sabemos quantos eram e nem se eram reis. Eles disseram que tinham visto uma nova estrela do céu e interpretaram que tal fenômeno indicava o nascimento do futuro rei dos judeus. 

Provavelmente esses magos tinham sido influenciados por tradições judaicas do tempo em que Daniel vivera na Babilônia e fora o chefe dos magos caldeus (Dn 2.48). Herodes, o rei dos judeus, tomou conhecimento da chegada deles em Jerusalém e tentou obter informações sobre o tempo decorrido desde a aparição da estrela. Também se informou com os mestres da Lei sobre o local do nascimento do Messias. Ele tentou enganar os magos porque queria matar o menino, que ele passou a ver como seu rival. 

Os magos foram guiados pela estrela até Belém, onde encontraram José, Maria e o menino Jesus em sua casa. Notemos que eles não estavam mais numa estrebaria e nem Jesus numa manjedoura. Os famosos “presépios” que mostram Jesus sendo adorado por três reis magos na estrebaria, cercados de animais, são baseados em relatos apócrifos e na religiosidade popular. 

Os magos adoraram o menino e lhe deram ofertas: ouro, incenso e mirra (uma resina aromática cara, feita da seiva de certos arbustos). Então regressaram para seu país, sem informar Herodes do paradeiro do Messias. Furioso, o cruel soberano mandou matar todos os meninos de dois anos para baixo, em Belém e nas cidades vizinhas, na expectativa de que o menino Jesus estivesse entre eles. Porém, avisados por um anjo, José e Maria fugiram com Jesus para o Egito. 

Todos os meninos menores de dois anos daquela região foram mortos pelo perverso Herodes, trazendo grande choro em Belém e arredores. José, Maria e Jesus permaneceram no Egito até a morte de Herodes e então voltaram para morar na cidade de Nazaré, na Galileia, que era a cidade de José e Maria.

V – A INFÂNCIA DE JESUS E SUA CONVERSA COM OS DOUTORES NO TEMPLO, Lc 2.41-52

Jesus cresceu em Nazaré da Galileia. Lá passou sua infância, adolescência, mocidade e início da vida adulta. José e Maria tiveram filhos depois de Jesus. Seus nomes são Tiago, José, Judas e Simão. Tiveram também filhas, cujos nomes não sabemos (cf. Mc 6.1-4). Jesus aprendeu a profissão do seu pai e era carpinteiro (veja “o carpinteiro”, Mc 6.3). 

Aos doze anos, Jesus foi ao templo com seus pais para uma das festas religiosas dos judeus. Era costume dos judeus levar os filhos de doze anos para a iniciação à vida adulta no templo (atualmente, bar mitzvah aos 13 anos, “filho do mandamento”). Quando retornavam para casa, José e Maria deram pela falta de Jesus. Ele havia ficado no templo discutindo com os doutores acerca de questões da Lei de Moisés. Ao ser repreendido pelos pais, respondeu que estava cuidando das coisas do seu Pai celestial, resposta que Maria guardou no coração. Depois disso, voltou para casa com seus pais e cresceu como um menino obediente, cheio de graça e de santidade.


Nada mais sabemos sobre a infância de Jesus e nem sobre sua vida até ele aparecer no rio Jordão, aos 30 anos de idade, para ser batizado por João Batista. Muitos relatos espúrios, chamados de “evangelhos apócrifos”, tentam preencher essa lacuna com histórias fantasiosas acerca do menino Jesus. Alguns estudiosos sugerem que Jesus foi aprender artes mágicas na Índia ou no Egito, ou ainda que viveu entre a seita dos essênios às margens do Mar Morto. Nenhuma dessas histórias ou hipóteses tem qualquer fundamento bíblico. O que sabemos ao certo sobre Jesus está somente nos Evangelhos: Ele cresceu em Nazaré junto com sua família e se tornou carpinteiro como seu pai.

QUE PODEMOS APRENDER DESSES EPISÓDIOS?

Jesus era o Filho de Deus, gerado no ventre de Maria pelo Espírito Santo

“O Verbo se fez carne” (Jo 1.14)


Era necessário que o Filho de Deus se tornasse verdadeiramente humano, para que pudesse nos representar e morrer por nós. Ele não tinha pecado, nasceu sem pecado original. Era ao mesmo tempo Deus e homem. Somente alguém assim poderia realizar a obra da redenção do povo de Deus dos seus pecados.

Como homem, Jesus submeteu-se à lei de Deus em vigor em sua época

Ele se submeteu à circuncisão e às leis cerimoniais de purificação, bem como à tradição judaica da apresentação no templo. Embora sendo Deus, humilhou-se e nasceu “sob a lei” (Gl 4.4). Notemos também que, em sua perfeita humanidade, Jesus cedo teve consciência de que era o Filho de Deus, conforme se referiu a Deus como “meu Pai”, ao ser repreendido por José e Maria por ter ficado no templo. Ele cresceu ali na Galileia, como uma criança normal, aguardando o tempo de se manifestar a Israel.

A natividade foi o cumprimento de profecias

O nascimento de Jesus e os fatos que se seguiram representaram o cumprimento de várias profecias, desde o lugar onde nasceria até sua saída do Egito de volta para casa. Esses fatos confirmam as Escrituras como a inerrante e infalível Palavra de Deus e nos asseguram que Deus igualmente cumprirá as profecias que ainda restam cumprir-se acerca do seu Filho, sendo a maior de todas a sua segunda vinda.

PARA REFLETIR


O amor de Cristo por seu povo é tão grande que Ele se humilhou e nasceu como filho de um casal pobre da região mais desprezada da Judeia.


Jesus Cristo participa da nossa humanidade e assim nos entende e socorre perfeitamente. É um erro enfatizar a divindade de Cristo em detrimento de sua humanidade.








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domingo, maio 31, 2020

Augustus Nicodemus Lopes

O DIA DE PENTECOSTES

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O DIA DE PENTECOSTES - em que pentecostais e reformados concordam e discordam.
Domingo 31 de maio é o dia de Pentecostes em 2020, de acordo com o calendário litúrgico cristão. Faço parte daqueles que não prestam muita atenção a esse calendário. Acho que em parte é uma reação, por vezes inconsciente, contra os abusos deste calendário praticados pela Igreja Católica.
O que era Pentecostes?

A Descida do Espírito no Dia de Pentecostes

Mas o fato é que esta data, dia de Pentecostes, está razoavelmente firmada na história. Pentecostes era a festa dos judeus celebrada 50 dias após a Páscoa. E foi durante uma celebração destas que o Espírito Santo de Deus veio sobre os apóstolos e os 120 discípulos em Jerusalém, cerca de 50 dias após a morte do Senhor, de acordo com Atos 2:1-4. Os cristãos se interessam pela data, portanto, por este motivo e não pela festa de Pentecostes em si.
A descida do Espírito naquele dia marcou o início da Igreja Cristã. Todavia, este que foi um evento da mesma magnitude que a morte e a ressurreição do Senhor Jesus, acabou se tornando motivo de polêmicas e controvérsias em meio à Cristandade, apesar de existir um bom número de pontos em comum entre os evangélicos sobre Pentecostes.
Em que pentecostais e reformados concordam?
Podemos, por exemplo, concordar que a vinda do Espírito representou o início da Igreja Cristã. Concordamos que ele veio para capacitar os discípulos com poder para poderem pregar o Evangelho ao mundo, que Ele habita na Igreja de Cristo, isto é, em todos que são realmente regenerados. Confessamos que Ele concede dons espirituais ao povo de Deus, que Ele nos ilumina, santifica, guia e consola em nossas tribulações. Concordamos que devemos buscar a plenitude do Espírito mediante a oração. Cremos que nossos pecados entristecem o Espírito. Sabemos que o Espírito nos sela para a salvação, que é o penhor, a garantia que Deus nos dá de que haveremos de herdar o Seu Reino.
Todavia, em que pese este consenso não pequeno, permanecem diferenças de entendimento sobre diversos aspectos da obra do Espírito e o significado histórico-teológico de Pentecostes. Vamos encontrar homens de Deus, sérios, dedicados e usados por Deus em lados diferentes. Ainda que brevemente, vou enumerar algumas destas diferenças e expressar a minha opinião.
Pontos de divergência
Quanto ao significado histórico de Pentecostes. 
Para muitos, o que aconteceu em Pentecostes é um paradigma, um modelo e um padrão para hoje. Estes entendem que a descida do Espírito, o revestimento de poder e as línguas faladas pelos apóstolos estão hoje à disposição da Igreja exatamente como aconteceu naquele dia no cenáculo em Jerusalém. Os que assim acreditam se caracterizam pela busca constante desta experiência. Para eles, a Igreja ficou sem o Pentecostes por quase dois mil anos, e foi somente em 1906, no chamado avivamento da Rua Azusa 312, em Los Angeles, Estados Unidos, que Pentecostes retornou à Igreja, e tem se repetido constantemente entre os cristãos de todo o mundo.
Do outro lado há os que pensam diferente, como eu, por exemplo, mas que creem que podemos experimentar a plenitude e o poder do Espírito Santo hoje. Desejo isto e busco isto constantemente. Todavia, não creio que cada enchimento que eu ou outro irmão venhamos a ter é uma repetição de Pentecostes, mas sim uma apropriação pessoal daquele evento, que aconteceu de uma vez por todas e que não tem como se repetir. Pentecostes foi o cumprimento das promessas dos profetas do Antigo Testamento de que o Messias derramaria Seu Espírito sobre Seu povo. Foi assim que Pedro entendeu, ao dizer que a descida do Espírito era o cumprimento das palavras de Joel (Atos 2). Pentecostes é um evento da história da salvação e à semelhança da morte e da ressurreição de Cristo, ele não se repete. E da mesma forma que hoje continuamos a nos beneficiar da morte e da ressurreição do Senhor, continuamos a beber e a nos encher daquele Espírito que já veio de uma vez por todas ficar na Igreja. E eu creio que neste ponto podemos todos concordar.
Quanto à nomenclatura da plenitude do Espírito
Não há consenso, igualmente, em como designar o enchimento do Espírito. Alguns irmãos chamam a experiência de plenitude e revestimento de poder de "batismo com o Espírito". Outros, entre os quais me incluo, não estão certos de que esta designação é a mais correta. Ninguém discute que devemos buscar esta plenitude. Eu quero ser sempre cheio do Espírito. Mas não acho que devamos chamar o enchimento de "batismo". Meus motivos para isto estão num artigo que escrevi comparando a posição de John Stott e Martyn Lloyd-Jones. Fico com Lloyd-Jones que enfatiza a necessidade de buscarmos este enchimento como uma experiência distinta da conversão, mas fico com Stott em não chamá-la de batismo (veja o link para o artigo ao final desse post). Apesar da diferença de nomenclatura, acredito que estamos juntos neste ponto, que todos precisamos nos encher constantemente do Espírito de Deus.

Quanto aos sinais miraculosos que aconteceram em Pentecostes
Há diferença também quanto aos sinais miraculosos que acompanharam a descida do Espírito no dia de Pentecostes, conforme Atos 2. Alguns acreditam que falar em línguas é o sinal externo da descida do Espírito sobre uma pessoa. Assim, buscam esta experiência constantemente e encorajam os novos convertidos a fazer o mesmo. Eu, contudo, não encontro na Bíblia evidência suficiente que me convença que a plenitude do Espírito sempre será seguida pelo falar em línguas e que devemos buscar falar em línguas como um dos melhores dons. Em Pentecostes houve outros sinais além das línguas, como o som de um vento impetuoso e a aparição de línguas de fogo, sinais estes que aparentemente não são repetidos nas experiências de hoje (salvo desinformação de minha parte). 
A minha dificuldade e de muitos outros é que não conseguimos ver nas cartas do Novo Testamento qualquer orientação, ordem ou direção para que aqueles que já são crentes busquem o batismo com o Espírito seguido pelas línguas. O que eu encontro são ordens para nos enchermos do Espírito, andarmos no Espírito, vivermos no Espírito e cultivarmos uma vida no Espírito. Bem, este ponto é mais controverso e acirra mais os ânimos do que os anteriores. Ainda assim existe o consenso entre nós de que sem os dons do Espírito a Igreja não tem como realizar sua missão aqui neste mundo.
Lamento tão somente que, apesar de termos tanta coisa em comum quanto ao Espírito, acabemos divididos por uma atitude de arrogância espiritual por parte daqueles que acham que somente eles conhecem o Espírito, e pela atitude de soberba daqueles que se consideram teologicamente superiores aos ignorantes que vivem à base de experiências.
Minha oração é que todos os que verdadeiramente creem no Senhor Jesus e o amam de todo o coração, apesar das diferenças, glorifiquem ao Pai e ao Filho por terem enviado o Espírito Santo para santificar, capacitar e usar a Sua Igreja neste mundo.
*Link para o artigo sobre a controvérsia sobre o batismo com o Espírito Santo: 

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sexta-feira, setembro 06, 2019

Augustus Nicodemus Lopes

HORA DE PENSAR NO PAPEL DA IGREJA

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A igreja evangélica no Brasil deve refletir sobre os tempos que vivemos em nosso país. São tempos de perplexidade, inquietações e oportunidades. Listei abaixo alguns pontos que penso que devem fazer parte dessa reflexão.

1) Ao que tudo indica, é apenas uma questão de tempo até os valores da visão cristã de mundo, que mesmo superficialmente moldaram a cultura brasileira, sejam excluídos da política, economia, arte, educação e que o paganismo domine essas áreas. Ainda que os evangélicos representem um terço da população brasileira, caminham para perder a guerra cultural sobre aborto, ideologia de gênero, pedofilia, poligamia, e outras questões.

2) As dimensões e a profundidade da corrupção e desonestidade instaladas em todas as áreas do poder político e financeiro no Brasil ultrapassam qualquer esperança de mudança que cristãos fiéis e íntegros possam ter. Uma vez perdida a esperança da instalação dos valores do Reino de Deus aqui no país, devemos perguntar qual o papel da igreja cristã numa democracia corroída pela desonestidade, mentira e ganância, e que é irrecuperável.
3) A igreja evangélica perdeu sua autoridade para profetizar. A teologia da prosperidade ensinada em igrejas neopentecostais lança uma sombra de desconfiança sobre a verdadeira intenção de seus pastores e fundadores e os coloca, diante dos olhos do público, na mesma vala comum dos políticos gananciosos e corruptos. As alas da igreja evangélica que se aliaram e militaram incondicionalmente pelas agendas da esquerda ou da direita perderam todo respeito com a exposição constante dos malfeitos dos que representam tanto um lado como o outro. As igrejas históricas estão paralisadas, algumas delas comidas pelo liberalismo teológico que rouba a pregação do Evangelho de seus púlpitos. A igreja cristã perdeu seu discurso público. Quem sabe, agora, seja a hora dela recuperar sua verdadeira missão e pregar o simples e puro Evangelho de Cristo a ricos e pobres.
4) Um grande fatia dos evangélicos no Brasil estão deixando as denominações históricas e as igrejas pentecostais e neopentecostais e procurando modos alternativos de ser igreja, onde não tenham de se submeter à autoridade espiritual e disciplina moral, onde não haja exigências financeiras e formalidades quanto à membresia. Por um lado, pode representar uma renovação da igreja em sua busca de mais simplicidade, por outro, pode representar um afastamento dos requerimentos bíblicos para a igreja, como acatar liderança espiritual, contribuir financeiramente para a obra de Deus (ajuda aos necessitados e expansão do Reino) e disciplina dos faltosos.
É diante desse quadro pouco esperançoso que oportunidades aparecem, para a igreja refletir sobre seu papel, reformar-se, renovar-se e ser boca de Deus nesse tempo. O Tempora! O Mores!

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quinta-feira, julho 11, 2019

Augustus Nicodemus Lopes

Tudo que vem do mundo é mau?

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TUDO QUE VEM DO MUNDO É MAL?
Muitos evangélicos enxergam a realidade dividida em duas categorias, as coisas de Deus e as coisas do mundo. As coisas de Deus são aquelas relacionadas com a igreja, a Bíblia, as práticas espirituais, o culto, a música feita para Deus. As coisas do mundo são aquelas que os descrentes fazem, como música, literatura, cinema, negócios, produtos tecnológicos e outras, muitas delas para servir aos seus deuses e os demônios, e das quais os cristãos deveriam se afastar completamente.

É verdade que a Bíblia nos ensina que o mundo está no maligno e que é caracterizado pelos maus desejos da carne, dos olhos e pela soberba da vida (1Jo 5.19; 2.16). Depois que Adão pecou no jardim, a humanidade está debaixo do juízo de Deus, sujeita às operações de satanás e seus anjos (Ef 2.1-3), cega em sua arrogância. Entretanto, fica claro que em meio a tudo isso Deus tem usado de misericórdia, paciência e favor para com a humanidade caída, a começar do fato que não nos mata e nem manda para o inferno imediatamente após nossos pecados. Pecamos e ainda vai demorar um tempo até recebermos a morte como castigo.
Além disso, é óbvio, olhando o mundo ao nosso redor, que não só existe maldade no mundo. Descrentes e  pessoas que adoram ídolos desfrutam de saúde, prosperidade, são criativos, fazem invenções médicas e científicas que facilitam a vida das pessoas e aliviam o sofrimento dos que padecem. Gente que não acredita em Deus abre creches, orfanatos e hospitais, fazem grandes doações de dinheiro para instituições de caridade e escolas. E tem muita gente descrente que é mais honesta, sincera e íntegra que muitos evangélicos. Além disso, descrentes são capazes de escrever livros, fazer filmes, compor músicas e obras de arte que nos enlevam e enchem de admiração.
De onde procede o bem que encontramos nesse mundo caído? De onde vem as virtudes, a moralidade, a racionalidade, a bondade, a criatividade, a compaixão, a beleza, a estética, a harmonia, a sinfonia de sons, cores e formas que enchem os nossos olhos e os ouvidos? A resposta evidente é: Deus. É dele que procede todo bem que há no mundo. Primeiro, sua imagem (Imago Dei) permanece no homem, mesmo que caído. Segundo, ele derrama suas bênçãos sobre a  humanidade como um todo. É isso que chamamos de graça, um favor não merecido. E pelo fato dessa graça alcançar a todos, crentes e descrentes, é chamada de “graça comum”.
Existem várias passagens bíblicas que nos falam dessa graça, embora sem usar o termo. Lemos em Gênesis 4.20-22 que os descendentes de Caim, filhos do perverso Lameque, foram aqueles que desenvolveram a metalurgia, instrumentos de sopro e corda e outras coisas que são boas para toda a humanidade. Todo crente já tirou grande beneficio das criações dos filhos de Caim! Jesus disse que “[Deus] faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mt 5.45) e que ele “é benigno até para com os ingratos e maus” (Lc 6.35). Paulo disse aos pagãos na cidade de Listra que “nas gerações passadas, [Deus] permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos; contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria” (At 14.16-17). O livro dos Salmos celebra a graça de Deus sobre todas as suas criaturas: “O Senhor é bom para todos, e as suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras... Em ti esperam os olhos de todos, e tu, a seu tempo, lhes dás o alimento. Abres a mão e satisfazes de benevolência a todo vivente” (Sl 145.9,15-16). Todas as coisas boas que existem no mundo procedem de Deus, como disse Tiago: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tg 1.17). Foi por isso que Paulo autorizou os crentes de Corinto a comprar e comer carne no mercado, ainda que essa carne tenha sido oferecida aos demônios: “Comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada perguntardes por motivo de consciência; porque do Senhor é a terra e a sua plenitude” (1Co 10.25-26).
Lembremos ainda que na construção do templo Deus utilizou obras de arte e habilidades conferidas a descrentes, a artífices e artistas que vieram de Tiro e Sidom (2Cr 2.18; veja ainda 2Sm 5.11). Não são somente os crentes que constroem elevadores que param no lugar certo, pontes e edifícios que não caem e cirurgiões que executam cirurgias precisas e possuem altíssima competência - os crentes têm o privilégio e dever de creditar essas habilidades ao Deus soberano. Paulo faz citações de filósofos da antiguidade, que não eram crentes, e até de dramaturgos gregos (1Co 15.33), demonstrando que "toda verdade é verdade de Deus".
Em resumo, “graça comum” é a maneira misericordiosa pela qual Deus abençoa a humanidade com saúde, prosperidade, talentos, capacidades, sabedoria, entendimento, valores morais, com base unicamente em sua bondade e não com base nos méritos das pessoas. A “graça comum” é diferente da “graça especial” em vários aspectos. A graça comum não prepara o descrente para a salvação e nem produz perdão de pecados, a graça especial sim. A graça comum é dada a todos, a graça especial somente aos eleitos (salvação, perdão de pecados e vida eterna). A graça comum decorre da misericórdia de Deus como Criador, a graça especial flui do amor de Deus Redentor, baseado na morte de Cristo na cruz do Calvário pelos nossos pecados.
É a graça comum que permite que nós possamos nos relacionar com pessoas descrentes nas áreas em que não se comprometam as verdades bíblicas. É a graça comum que permite que nós usufruamos das descobertas e invenções dos descrentes, como redes sociais, avanços médicos, descobertas tecnológicas. É a graça comum que permite que nós desfrutemos daquelas obras de literatura, arte, música e cinema que não ofendam os valores cristãos e nem nos levem a comportamento pecaminoso.
Quando você leva a receita do médico à farmácia você não tenta saber se o laboratório que desenvolveu o antibiótico é de cristãos ou não. Você é grato a Deus pelo remédio e rapidamente começa o tratamento de seu filho febril. Quando você vai comprar um carro, você olha diversos fatores, mas não vai atrás de descobrir se o projetista da Chevrolet era crente quando fez esse modelo.
Contudo, sempre devemos ser criteriosos ao usar das coisas desse mundo. “Julgai todas as coisas, retende o que é bom,” disse Paulo (1Ts 5.21). Embora o contexto dessa frase sejam as profecias na igreja, o princípio geral é válido para todas as áreas da vida. Nesse mundo o bem e o mal estão profundamente entrelaçados em tudo. Precisamos de critério e firmeza para rejeitar o mal e humildade e sabedoria para discernir o bem e dele usufruirmos com ações de graças.
Pr. Augustus Nicodemus


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quarta-feira, maio 22, 2019

Augustus Nicodemus Lopes

Confessionalidade e Autonomia Universitária

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CONFESSIONALIDADE E AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA

Um dos desafios que as universidades confessionais encontram para manter-se dentro de seus princípios confessionais é a alegação que a universidade é autônoma. A autonomia universitária tem sido usada como argumento para a realização de eventos e o ensino de conteúdos até mesmo contrários à orientação confessional da entidade mantenedora.
Entendo que a autonomia da universidade não é absoluta. Especialmente de uma universidade confessional. Segue minha argumentação.
Desde 1988, no plano institucional, a autonomia das universidades brasileiras está garantida pela Constituição Federal (05/10/88), nos seguintes artigos:
  1. Artigo 206 – O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: igualdade de condições de acesso; liberdade de aprender, pesquisar e divulgar o pensamento; pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; valorização dos profissionais do ensino; e gestão democrática.
  2. Artigo 207 – As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96), ao estabelecer a natureza das instituições de ensino dos diferentes níveis (art. 20), define da seguinte maneira a categoria de confessionais (inciso III), aquelas “assim entendidas as que são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia específicas e ao disposto no inciso anterior”.

CONSIDERAÇÕES

É evidente que existe um constante diálogo em busca de um relacionamento harmônico nas universidades confessionais entre a autonomia universitária e a confessionalidade das suas instituidoras e mantenedoras. A coexistência das duas entidades é possível e diferentes modelos têm sido adotados por universidades católicas, metodistas, luteranas e adventistas. As seguintes considerações representam pontos que merecem atenção na gestão de uma universidade confessional, no que tange à sua autonomia.

  1. Além do status constitucional concedido à autonomia universitária, estabelece também o artigo 53 da mesma LDB suas condições de existência e atribuições. Portanto, a noção de autonomia universitária não deve ser confundida com a de total independência, como se a universidade se houvesse tornado, por força da lei, um ente absoluto, dotado da mais completa soberania. 
  2. No Brasil, a autonomia da universidade sempre foi relativa. As universidades, públicas ou privadas, não aprovam seu orçamento final, não se auto credenciam, dependem de aprovação estatal para abertura de novos campi, estão sujeitas à avaliação estatal, à CLT, usam recursos da sociedade e do estado e funcionam em propriedades da instituição mantenedora.
  3. A autonomia das universidades em geral (públicas ou de outros gêneros) deve ser concebida primeiramente em relação ao Estado, como sua capacidade de auto gerir-se quanto aos recursos e propriedades destinados, quanto à administração de seu funcionamento interno e quanto ao aspecto didático-científico. Essa autonomia é limitada pela finalidade e missão da mantenedora, quer seja esta o estado, grupos familiares, instituições particulares, igrejas ou empresas.
  4. Embora a autonomia seja inerente à figura da universidade, seja ela pública ou privada, considerando que a mantida não existe sem a mantenedora, e considerando que a Constituição garante o direito da iniciativa privada de instituir universidades, muitos entendem que a figura da autonomia se estende ao conjunto mantida/mantenedora. Ou seja, no sentido mais amplo, a autonomia das universidades privadas e confessionais inclui também a autonomia da mantenedora em relação ao Estado para gerir a sua mantida, respeitado o artigo 209 da Constituição, o qual afirma que o ensino é livre à iniciativa privada, atendida duas condições: cumprimento das normas gerais da educação nacional e autorização e avaliação de qualidade pelo poder público.
  5. A autonomia universitária prevista em lei objetiva teoricamente garantir que a universidade tenha um ambiente efetivamente democrático, com estruturas colegiadas, carreira definida para docentes e valorização e aprimoramento permanente de seus funcionários, liberdade de expressão e de livre circulação e pluralismo de idéias. Nenhum desses objetivos é considerado pela União como conflitantes com o conceito de estabelecimento de ensino confessional, que se define no art. 20 da LDB como aquelas que “... são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia específicas ...”
A autonomia de uma instituição confessional inclui sua liberdade para gerir a mantida de acordo com seus objetivos confessionais e ideológicos.  

Em conclusão, limitada em suas diversas áreas (científico-acadêmica, administrativa, financeira, patrimonial, etc.), ora pela União, ora pela mantenedora, inclusive no caso das oficiais, em que a mantenedora é o próprio Estado, a autonomia universitária, em que pese ao fato de ter se tornado oficial por força de norma constitucional, permanece relativa, seja por aquilo que a própria tradição universitária brasileira consagra, seja pela própria evidência apresentada a partir da prática e da perspectiva da confessionalidade.

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