Nunca me esqueci de uma frase que ouvi quando seminarista em Recife do já saudoso pastor presbiteriano João Campos (tem um ainda vivo com este mesmo nome e que mora em São Paulo): "Seja um jovem prá frente mas não deixe Jesus para trás". Acho que ele, sem saber, resumiu num nutshell o segredo de ser progressista sem ser liberal e a razão pela qual falta imaginação aos teólogos neoliberais.
Quem pensa que a teologia conservadora cristã (de Agostinho a Calvino, e de lá, passando pelos puritanos, aos calvinistas modernos) já disse tudo o que se podia dizer sobre a Trindade, por exemplo, e que não resta mais nada a não ser conservar o dogma da Trindade e batalhar pela fé que uma vez por todas foi dada aos santos, deveria ler John Frame e Vern Poythress para ver como teólogos conservadores podem ser prá frente sem deixar Jesus para trás. Ambos são apologetas de Westminster e aplicaram de forma criativa a doutrina da Trindade à hermenêutica e à apologética, continuando a visão seminal de Cornelius Van Til. Sem romper com os pressupostos históricos e bíblicos acerca da natureza Triúna do único Deus, abriram novos horizontes quanto às implicações dessa Triunidade em disciplinas correlatas.
O problema dos neoliberais, à semelhança dos velhos teólogos liberais do passado, é que pensam que só podem ir em frente se romperem radicalmente com tudo o que ficou para trás. Acreditam que o conhecimento só avança com a mudança dos fundamentos sobre os quais se ergueu o edifício de toda a teologia antes deles. Se lessem Nancey Pearson e outros historiadores evangélicos da ciência, veriam que os avanços da ciência moderna se deram, não com a descoberta de fatos novos que invalidaram os antigos, mas com uma mudança de atitude para com os mesmos fatos de antes.
É preciso mais imaginação e criatividade para ser progressista na teologia sem abandonar os pressupostos cristãos históricos do que simplesmente jogar o passado fora e recomeçar. O que virá dai nem será algo novo e muito menos cristão, uma vez que as linhas mestras foram abandonadas.
O que a teologia brasileira precisa não é uma crise de rompimento radical com tudo que veio antes. Não queremos reinventar a roda. Mas precisa de imaginação e criatividade para erguer um edifício novo sobre o firme fundamento já lançado pelos antigos. Ser teólogos prá frente sem deixar Jesus para trás.
Quanto o teólogo está mais preocupado em ser "atual" do que em ser verdadeiro, na minha opinião, deixou de ser teólogo há tempo.
ResponderExcluirE parabéns pelo blog.
Abraço do Eliot.
Allen,
ResponderExcluirObrigado por seu comentário. O lema “Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est” é de autoria do reformado holandês Gisbertus Voetius (1589-1676), à época do Sínodo de Dort (1618-1619). Este slogan, que pode ser traduzido como “A Igreja é Reformada e Está Sempre se Reformando”, tem sido interpretado como se Voetius estivesse dizendo que uma característica da Igreja Reformada é que ela está sempre mudando. Contudo, é difícil imaginar que Voetius, calvinista estrito, que participou em Dordrecht da disputa contra os discípulos de Armínio, tivesse usado este lema para encorajar a abertura da Igreja para novas idéias – seria o mesmo que dizer que os arminianos estavam certos e que a Igreja Reformada deveria se abrir para uma reforma de natureza arminiana na sua soteriologia, algo inconcebível para Voetius. Ele estava apenas tentando rebater o argumento dos arminianos que a Igreja deveria estar aberta para receber novas luzes sobre pontos que pareciam imutáveis. Voetius não negou o princípio da reforma constante, mas destacou que o alvo era sempre retornar às Escrituras, que tinham sido a base da Reforma. E o arminianismo certamente não representaria um retorno às Escrituras.
Um abraço,
Augustus
Allen,
ResponderExcluirSobre Clark e Van Til. Não sou especialista em apologética, mas aqui vai. Ambos era pressuposicionalistas e rejeitavam o método tradicional de fazer apologética, que era o evidencialismo. Ambos achavam que apresentar evidências da verdade divina a pessoas não regeneradas era perda de tempo, pois “o homem natural não compreende as coisas de Deus”. Eles entendiam que era necessário trabalhar com os incrédulos primeiramente em nível das pressuposições deles, e fazer um trabalho de demolição antes de apresentar a verdade, algo que Francis Schaeffer aprendeu a fazer com maestria. Contudo, Gordon e Van Til divergiram em alguns pontos centrais. Por exemplo, Gordon aceitava que a lei da contradição fazia parte do próprio ser de Deus, mas Van Til rejeitava esse conceito, pois o considerava parte da natureza humana. Uma outra diferença era quanto ao raciocínio circular. Van Til achava que todo raciocínio era circular pois a conclusão já estava embutida nas pressuposições. Gordon, ao contrário, achava que isto era uma falácia lógica. Ele preferia estabelecer uma única pressuposição, que era a existência de Deus, e dela derivar seus princípios. Eu pessoalmente, sou mais para o lado de Van Til. Sou pressuposicionalista na minha apologética e em minha hermenêutica.
Um abraço!
Os neo-liberais na verdade criaram hermenêuticas pós -modernas achando que estão falando novas teorias, porém falam de antigas heresias com roupagem nova e acusam os conservadores de repetir discurso.
ResponderExcluirMas o que é o cristianismo básico a não ser crer na redenção de 2000 anos atrás na cruz do calvário? E a forma como contextualizamos a mensagem do evangelho pode ser criativa sem romper com os fundamentos da fé. Exemplos, a aplicação da trindade na comunidade cristã feita por Ricardo Barbosa, da igreja presbiteriana do Planalto em DF.
Gostei dos comentários sobre Van Til e Francis Shaeffer, realmente eles souberam como fazer isso.
Um abraço para Augustus e para meu novo amigo virtual maranhense batista reformado, Allen Porto.
Olá, Juan!
ResponderExcluirObrigado por visitar nosso blog! Já valeu pelo menos por fazer mais um amigo reformado! O conflito contra o neoliberalismo teológico, que realmente nada mais é que o antigo, só que disfarçado em linguagem posmoderna, será uma frente de batalha para os evangélicos no Brasil nesta década. Mas, estaremos prontos, com a graça de Deus. Um abraço!