O que tenho percebido nos escritos de muitos, no entanto, é a contínua oposição entre lei e graça, a busca de uma graça barata e desvinculada de sua irmã, criação de Deus, chamada lei. É interessante observar que a depreciação da lei acontece por dois grupos: aqueles que teologicamente a compreendem mal e aqueles que insistem em mal compreendê-la para justificar suas mazelas e pecados. Estes, geralmente, acusam aos que amam a lei de Deus de legalistas (Salmo 119.97 - Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o dia!).
Diante disto fui fazer uma busca sobre a 'torah' no Antigo Testamento e me deparei com seu uso abundante no livro de Provérbios mostrando como a lei de Deus, compreendida de maneira correta, pode nos abençoar. Porém, antes de chegar a Provérbios é bom lembrar o que é a torah. Os cinco primeiros livros do AT (Pentateuco) são conhecidos na própria Escritura e no judaismo como Torah ou Lei de Moisés. Lendo o Pentateuco vamos descobrir que estes cinco livros são muito mais do que uma lista de leis. Grande parte do seu conteúdo é de histórias e revelações. Este conjunto, lido na sua inteireza, é a Torah, a instrução de Deus para seu povo. No sentido maior ainda, toda instrução é torah. Esta instrução é uma instrução amorosa e cheia de graça que prevê toda a sorte de bênçãos para aqueles que querem viver justa e piedosamente e, certamente, maldições para aqueles que a rejeitam, quer intelectualmente ou na prática. São muitas as expressões bíblicas para falar sobre lei, mas torah é a mais abrangente delas. Interessante observar que a torah só pode ser compreendida com graça e misericórdia e só pode ser aplicada corretamente por aqueles que pessoalmente conhecem o Senhor da torah e a guardam no seu coração (este é o conceito completo da torah no livro de Deuteronômio). Para que isto não vire um pequeno tratado teológico, vamos à torah em Provérbios.
Como sinônimos na tradução de torah em Provérbios encontramos 'ensino, doutrina, instrução e lei'. A instrução deve ser ouvida, lembrada e guardada no coração. A torah é dada pelo pai, pela mãe e pelo sábio e serve como lâmpada e luz para o caminho. O filho que a guarda é prudente e não deixa o seu ensino. O bondade da língua está ligada a torah, para que fale com sabedoria. A indignação contra a perversidade está ligada ao conhecimento que se tem da torah de Deus e aquele que se coloca contra ela acaba louvando o perverso. A própria corrupção está ligada à falta da torah de Deus, na figura da profecia, que é a correta interpretação da lei. O que se desvia da torah, até as suas orações são abominação para Deus.
Amanhã é natal e fala-se tanto em um "feliz natal". Pois o livro de Provérbios nos ensina que o que guarda a torah, a instrução de Deus, este é feliz, e que a torah do sábio é fonte de vida. Logo, se queremos um natal realmente feliz, precisamos aprender a amar a lei de Deus, pois para isto mesmo foi que Ele nos enviou no natal a maior expressão de sua graça. Que seja a torah do Senhor a 'menina de nossos olhos'.
Provérbios
1.8 Filho meu, ouve o ensino de teu pai e não deixes a instrução de tua mãe.
3.1 Filho meu, não te esqueças dos meus ensinos, e o teu coração guarde os meus mandamentos;
4.2 porque vos dou boa doutrina; não deixeis o meu ensino.
6.23 Porque o mandamento é lâmpada, e a instrução, luz; e as repreensões da disciplina são o caminho da vida;
7.2 Guarda os meus mandamentos e vive; e a minha lei, como a menina dos teus olhos.
13.14 O ensino do sábio é fonte de vida, para que se evitem os laços da morte.
28.4 Os que desamparam a lei louvam o perverso, mas os que guardam a lei se indignam contra ele.
28.7 O que guarda a lei é filho prudente, mas o companheiro de libertinos envergonha a seu pai.
28.9 O que desvia os ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável.
29.18 Não havendo profecia, o povo se corrompe; mas o que guarda a lei, esse é feliz
31.26 Fala com sabedoria, e a instrução da bondade está na sua língua.
Mauro,
ResponderExcluirMuito apropriado. A (falsa)dicotomia entre Lei e Graça é muito grande entre os evangélicos, gerando ou o legalismo (geralmente os pentecostais tradicionais) ou o antinomianismo (geralmente os históricos mais liberais). Viver equilibradamente no dia-a-dia pela graça e andando nos preceitos do Senhor é um desafio constante. Seu post nos lembra disto. Um abraço!
Prof. Mauro,
ResponderExcluiro comentário de Augustus falou tudo e eu gostei da idéia da compreensão da graça barata que quer desmerecer a lei. Nem mesmo Paulo fez isso.
Numa época aonde se tem um evangelicalismo marcado pelo não compromisso com as Escríturas, uma exortação como essa sempre vem bem a calhar.
Que o povo de Deus observe mais os mandamentos do Senhor para que sejam bem-aventurados.
Que Deus nos ajude a ensinar a sua Palavra e de graça para isso.
Gostei mto da reflexao q esse texto nos levou...precisamos rever nosso conceito de Lei e buscar tdos os dias por meio da Graça de Cristo, entender as sagradas Escrituras...Obg pela palavra!!Deus abençoe
ResponderExcluirAugustus,
ResponderExcluirCada dia mais esta dicotomia se manifesta com maior intensidade. A net potencializou a possibilidade de conhecermos mais e mais os pensamentos imediatos de vários evangélicos. Mas sabe o que me assusta? O antinomianismo não está mais restrito ao liberalismo carrancudo e imoral, mas se apresenta mais e mais no simpático e carismático meio pentecostal, que, muitas vezes, tem namorado com o neo-liberalismo.
Juan, precisamos aprender a amar a lei de Deus como nos diz o salmista. Quando estamos debaixo da graça, jamais desprezamos a lei de Deus. Diz Machen: "Assim sempre é: uma visão pequena da lei sempre traz o legalismo a religião; uma visão ampla da lei faz do homem um que busque a graça. Queira Deus que esta visão ampla possa novamente prevalecer."
ResponderExcluirJ. Gresham Machen, What is faith? (Edinburgh: Banner of Truth, 1946), 142
Gostei do comentário sobre o neo-liberalismo paquerando com o neo-pentecostalismo e carismatismo.
ResponderExcluirAmbos tem a hermenêutica centrada na experiência "religiosa" pessoal e cai para a subjetividade em detrimento das Escríturas.
Eu estudo em uma escola teológica liberal e os professores da casa estão escrevendo uma série de livros de introdução a teologia por uma editora/gravadora ligada ao segmento "gospel" atual. No inicio me pareceu estranho, mais parando para pensar cheguei a conclusão de que era pela falta da centralidade das Escríturas que isso acontece (claro , além do coração depravado).
Hoje, um neo-pentecostal ou carismático crê em milagres, mas já vejo gente dizer que "não me importo de Abraão existiu ou não, o que me importa é o sentido espiritual que aquela passagem me da" e membro de igreja dizendo isso, não seminarista, sem a mínima noção de pacto e aliança que culmina em Cristo.
Que Deus nos guarde e preserve do que ainda está por vir, ou que Ele tenha misericórdia e dê do Seu Espírito para mudar esse quadro.
Prof. Meister,
ResponderExcluirParabéns pela iniciativa e pela dedicação de tempo pro blog. Já mencionei que os frutos virão.
Como estudo o mundo digital já há alguns anos, permita-me discordar de seu comentário com relação a conhecer o pensamento de alguns 'evangélicos'.
A net potencializa a confusão, no sentido de que tudo é nebuloso e precisa de tempo para assentar.
Uma coisa que a net não permite é você mencionar algo sem colocar o link - comparativamente aos créditos e notas bibliográficas. Daí se não tem link, não foi dito (é irônico mas é assim que funciona).
É preciso coragem (?!) pra alguns posts reveladores que vcs estão colocando. Alguns ficarão (com o tempo) superficiais demais para professores da estatura de vcs ... e daí? Vão apagar? Acredito que não.
Essa parte de nos relevarmos é extremamente positiva e saudável, e no final quem vai colher ainda mais são vcs!
Mais uma vez parabéns!
Prezado Volney,
ResponderExcluirPodia me esclarecer melhor a sua discordância:
"Uma coisa que a net não permite é você mencionar algo sem colocar o link - comparativamente aos créditos e notas bibliográficas. Daí se não tem link, não foi dito (é irônico mas é assim que funciona)."
É que no meio das piscinas quentes, meu cérebro está devagar. Vc se refere ao que eu disse sobre 'ficar mais fácil conhecer o pensamento de autores através da net'? Ou eu estou em falta em algo que citei?
abs
Muito obrigado pelo incentivo...
Olá Ana,
ResponderExcluirEstou expondo os 10 mandamentos a um grupo bem heterogêneo durante esta semana. Tem sido interessante observar e compartilhar das reações das pessoas ao perceberem a perspectiva da graça na lei. Que o Senhor te abençoe.
Meister,
ResponderExcluirQue que c tá fazendo atrás do computer? Volta pra piscina e pro descanso merecido!! rs
Falando no geral, realmente precisamos esperar a poeira baixar (e isso leva tempo) pra classificarmos de direita ou de esquerda, de liberal ou conservador (aqueles que são influentes e influenciadores - e postam na internet).
Não sei se vou esquentar inda mais sua cabeça, mas digo (não só aqui) que somos meio esquizofrênicos quando vamos pra internet - todos nós - e começamos a postar ... e isso trai os leitores que não entendem as nossas multiplas personalidades.
O que percebo no contexto cristão em que vivo, é que a muitos lideres e pregadores estão até bem intencionados, mas só boa intenção não tem muita valia, Falam da Lei como se fosse separada da graça como se houvesse um grande abismo entre as duas, na maioria das vezes tem uma visão errada da Lei e do Antigo Testamento como um todo, tendo a visão de um Deus Irado e Cruel, que se opõe a Graça vivida na plenitude do Novo Testamento, o que dar entender que o Novo Testamento anuncia e mostra um Deus-Jesus totalmente diferente do Jeová do AT, e que a doutrina do Novo Testamento é nova como algo que não existia no AT. No meu parecer o problema maior é incapacidade Teológica-Bíblica desses lideres e pregadores que na sua maioria não tem formação alguma tanto Bíblica como Teológica, e anunciam o que ouvem e o que aprenderam erradamente, nesse contexto de achismo pregam o que acham que é “certo” e “verdade” e não deixam o próprio texto da Escritura falar o que ela esta se revelando ser e falando. O que mostra um total desconhecimento da Lei e do AT como um todo, dessa forma se reproduz até certa antipatia de ler o AT pelos membros de suas congregações. Que o Espírito Santo ilumine e esclareça a liderança em geral das Igrejas Cristãs no Brasil pois Lei e Graça andam em unidade e em conformidade manifestadas tanto no AT como NT. Lei é Graça.
ResponderExcluirDiac. Lincon Matos