sexta-feira, janeiro 24, 2014

Augustus Nicodemus Lopes

Como Manter a Igreja Viva

Uma das passagens mais dramáticas da Bíblia é Isaías 1:10-20, onde o profeta repreende a Igreja do Antigo Testamento, chamando seus líderes de príncipes de Sodoma e Gomorra, cidades famosas pela devassidão e iniqüidade. O povo de Deus havia se corrompido ao ponto de Deus não mais ter qualquer prazer em receber o culto e a adoração dele. Infelizmente, esse quadro de decadência e corrupção da Igreja de Deus neste mundo se repetiu por muitas vezes através da história. Nestes períodos o povo de Deus esfria em sua fé, endurece o coração, persevera no pecado e serve de péssimo testemunho ao mundo.

Nosso dever como Igreja e cristãos individuais é evitar que a decadência espiritual entre em nossas vidas. Existem quatro coisas que podemos fazer para evitar o declínio espiritual da Igreja, com a graça de Deus:
(1) Tratar o pecado com seriedade. Nada arruina mais depressa a vida espiritual de uma comunidade do que permitir que os pecados dos seus membros permaneçam sem ser tratados como deveriam. Lemos na Bíblia que quando Acã desobedeceu a Deus, toda a comunidade sofreu as conseqüências. Nossos pecados não são problema: mas os nossos pecados ocultos, escondidos, não confessados, arrependidos, se constituem um tropeço espiritual, que entristece o Espírito de Deus, e acaba se espalhando pela Igreja e envenenando os bons costumes e a fé.

(2) Zelar pela sã doutrina. A verdade salva e edifica a Igreja, mas a mentira é a sua ruína. O erro religioso envenena as almas e desvia o povo dos retos caminhos de Deus. O Senhor Jesus criticou severamente a Igreja de Pérgamo por ser demasiadamente tolerante para com os falsos mestres que infestavam a comunidade com falsos ensinos (Apocalipse 2.14-15). Da mesma forma, repreendeu a Igreja de Tiatira por tolerar uma mulher chamada Jezabel, que se chamava profetiza, e que ensinava os membros da Igreja a praticar a imoralidade (Apocalipse 2:20). Devemos ser pacientes e tolerantes, mas nunca ao preço de comprometermos o ensino claro do Evangelho.

(3) Andar perto do Senhor da Igreja. É Deus quem nos mantém firmes e puros. A Bíblia diz que se nós nos achegarmos a Deus, ele se achegará a nós. A Bíblia também nos ensina que Deus estabeleceu os meios pelos quais podemos estar em contínua comunhão com Ele. Estes meios são: os cultos públicos, as orações e devoções em particular, a leitura e a meditação nas Escrituras, a participação regular na Ceia do Senhor. Cristãos que deixam de usar estes meios acabam por decair espiritualmente, como uma brasa que é afastada da fogueira e logo perde seu calor. A negligência destes meios de graça abre a porta para a acelerada decadência espiritual e moral de uma Igreja.
(4) Estar aberta para reformar-se. O lema das Igrejas que nasceram da Reforma foi  “Eclesia Reformata Semper Reformanda”. Ou seja, a Igreja deve sempre estar aberta para ser corrigida por Deus, arrepender-se de seus pecados e reformar-se em conformidade com o ensino das Escrituras. Nas cartas que mandou às igrejas da Ásia Menor através do apóstolo João, o Senhor Jesus determinou às que estavam erradas a que se arrependessem e retornassem aos retos caminhos de Deus (Apocalipse 2.5,16,21; 3.3,19). Elas precisavam ser reformadas e mudar o que estava errado. Existe grande perigo para uma igreja quando ela se fecha em si mesma, e deixa de ouvir a voz do seu Senhor, que deseja corrigi-la e traze-la de volta aos caminhos do Evangelho.

Estas medidas devem também ser aplicadas a nós, individualmente. Deveríamos procurar evitar a decadência espiritual da nossa prática religiosa, mantendo acesa a chama da fé pela freqüência regular aos cultos, pela leitura diária da Bíblia, por uma vida de oração e comunhão com outros irmãos. Infelizmente, por negligenciarem sua vida espiritual, muitos cristãos estão contribuindo para enfraquecer o testemunho das igrejas evangélicas no mundo. 

Augustus Nicodemus Lopes

Postado por Augustus Nicodemus Lopes.

Sobre os autores:

Dr. Augustus Nicodemus (@augustuslopes) é atualmentepastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana doBrasil e presidente da Junta de Educação Teológica da IPB.

O Prof. Solano Portela prega e ensina na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, onde tem uma classe dominical, que aborda as doutrinas contidas na Confissão de Fé de Westminster.

O Dr. Mauro Meister (@mfmeister) iniciou a plantação daIgreja Presbiteriana da Barra Funda.

2 comentários

comentários
Apologeta
AUTOR
24/1/14 20:02 delete

Caro pastor Lopes, paz de Cristo! Gostaria de sugerir o tema para abordagem sobre o porque de Deus permitir a escravidão na Bíblia ao invés de erradicá-la. Seria de boa monta uma abordagem reformada sobre o assunto.

Deus o abençoe,

Apologeta

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29/1/14 17:40 delete

Prezado Apologeta, saúde!
Permita-me o Pr. Augusto comentar o tema.
A escravidão é uma questão social e não requereu de Deus maiores providências, pois a época não comportava mudanças radicais. Sequer se havia compreensão ou previsão para se introduzir temas como democracia, liberdade, individualidade, exceção de compromisso, etc.
Os gregos iniciaram a discussão, mas ainda a sociedade deles era muito estratificada, sem direito às mulheres, com escravos, etc.
À exceção, conforme previa na lei mosaica, o tratamento ao escravo ou àquele se tornava escravo por causa de dívidas, ou era reduzido à escravidão em razão de guerras.
Também é necessário entender que, apesar dos rigores de um senhor, a escravidão praticada nos tempos bíblicos não era como conhecemos em nossa própria história, a que trouxe africanos para as Américas e cometimento de barbaridades.
Não temos maiores registros de escravidão praticada no Oriente, muito menos na mesma época em que 10% da população dos africanos vieram para as Américas e mais de 80% foi comercializada por mercadores árabes, para o Mediterrâneo e Oriente.
Não estou dizendo que a vida era fácil, pois a escravidão poderia reduzir a pessoa aos caprichos do seu senhor, inclusive para fins sexuais, como também nos descreve Gilberto Freyre.
Antes de Israel ser formado e após, houve escravidão. Vários israelitas também foram reduzidos à escravidão. O Império Romano escravizou.
A escravidão foi usada como exemplo de abnegação e estar a disposição do seu senhor, como deve ser o cristão.
A questão social somente veio a ser erradicada posteriormente, após o iluminismo e o humanismo, influenciados também pela Reforma, onde algumas sociedades passaram a abolir tal prática, especial a Inglaterra, e depois a idéia percorreu as Américas.
Meu bisavô alforriou negros e lhes concedeu terras antes da Lei Áurea no Brasil.
Algumas decisões de governo ou regras sociais se devem aos valores e objetivos políticos de um país e nem sempre a Bíblia terá uma resposta concreta, se a confirmar ou a negar, como é o caso da pena de morte adotada em alguns países, pois, modernamente, os Estados não mais são teocráticos.
A contrário senso, a Bíblia nos conforta e nos encoraja a viver de forma digna em qualquer sociedade, seja na época com a adoção de escravidão, seja com restrições de liberdade de credo e culto, seja com a existência da pena de morte.
Espero ter contribuído para o debate.
Shalom, João.

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