O trabalho não é a maldição:
1. Em Gn 1.26-28 Deus comissiona a raça humana a "dominar a terra e sujeitá-la". Logicamente isso envolve a penetração em todas as áreas de conhecimento, em todas as ciências, etc. Isso, que chamamos de "mandato cultural" implica em "trabalho", no sentido de aplicação de tempo em uma tarefa, em uma vocação, em um interesse, ou em uma obrigação recebida por delegação. Se o trabalho precede a queda, não pode ser "maldição". Essa é a âncora exegética que legitima o envolvimento do servo de Deus em todas as áreas do conhecimento, como delegação de Deus e não o fazendo um "cristão de segunda categoria" por não estar envolvido "tempo integral" no serviço cristão. Se ele penetra nas esferas do saber para a glória de Deus, está debaixo de sua vontade prescritiva.
2. Adão recebeu de Deus - antes da queda - a tarefa de nomear (o que, provavelmente, implica em classificar e catalogar, no sentido zoológico) o reino animal. Isso é, em toda expressão da palavra, "trabalho", e não era uma maldição mas um preenchimento natural das finalidades do homem.
3. A mulher foi criada antes da queda como auxiliadora, na esfera da família. Menção específica é feita, nas Escrituras, de que ela foi tirada do lado de Adão, não existindo qualquer inferioridade intrínseca advinda da criação, se bem que há uma ordenação funcional que procede do ato criativo. Mas a questão é: ela iria "auxiliar" em que, ou no que - se trabalho fosse uma maldição? A humanidade, pré-queda seria somente diversão? Nenhuma função utilitária? Certamente que não é essa a visão ou ensino das Escrituras. Em um mundo perfeito, sem maldição, havia trabalho, envolvimento físico e intelectual na criação, ainda que sem pecado.
4. Com a queda, o trabalho deixa de ser apenas prazeroso, ou algo simplesmente agradável. Passa a ser penoso, duro, extenuante. Mas nem por isso o "mandato cultural é revogado". A procriação e o nascimento de filhos, na queda, não virou maldição, mas a maldição do pecado se retrata no fato de que o "dar à luz" passa a ser realizado com dores e grande esforço. Semelhantemente, não é o trabalho que é maldição, mas o seu realizar que nem sempre ocorre da forma como gostaríamos nem é tão fácil como seria o nosso desejar.
5. Assim, se antes da queda, possivelmente, o envolvimento com os aspectos e a diversidade da criação, seria algo indolor e que traria só contentamento, depois da queda, estamos sujeitos a estruturas que não procuramos, patrões que não desejamos, áreas às quais não estamos bem encaixados ou sequer apropriadamente treinados. Nem sempre recebemos reconhecimento, por vezes somos injustiçados; o ambiente de trabalho, em várias situações, não reflete a busca da glorificação a Deus, mas a sujeira do mundo - palavrões, blasfêmias, ridicularização da devoção e piedade genuínas; o ambiente é, normalmente, de desonestidade e por vezes somos uma peça em uma grande máquina que opera desonestamente em muitos sentidos. Esse é o aspecto da maldição - mas ela é a maldição do pecado e não do trabalho.
6. Numa ocasião, há muitos anos, eu estava descontente com meu trabalho e ansiava por uma coisa diferente. Vi um anúncio da hoje extinta TransBrasil (na época estava no auge) no qual um de seus comandantes de jato dizia o seguinte: "na TransBrasil faço parte daqueles poucos privilegiados que trabalham exatamente naquilo que gostam de fazer". Fiquei meditando naquilo e na realidade que expressava - realmente, só uma pequena minoria consegue "trabalhar no que gosta de fazer" (coitado do comandante, hoje nem TransBrasil existe mais...). Concluí: por que eu teria que ser um desses privilegiados? Poderia ser que Deus procurava me ensinar exatamente abnegação, concentração nele, confiança maior em seus propósitos, ou algo assim, mantendo-me em uma ocupação que em todos os seus aspectos não me dava qualquer prazer, mas somente canseira, enfado e conflitos. Por que haveria de ser diferente comigo, em um mundo submerso em pecado. Quantos engenheiros não estão consertando carros? Quantos médicos não estão vendendo equipamentos cirúrgicos? Quantos advogados não estão sendo meros auxiliares de escritório? Quantos bancários não estão dirigindo táxis? Quantos motoristas, não estão vendendo algo nas ruas, para sobreviver? Acho que essa é a situação da esmagadora maioria - trabalham no que não têm prazer. Não obstante, devemos considerar o trabalho uma benção de Deus (e não uma maldição) e seguir 2 Tess 3.12 onde Paulo exorta a que "tranquilamente trabalhando" comamos o nosso pão. Se, na providência divina, conseguirmos conjugar o trabalho com o prazer e interesse pessoal, será uma bênção redobrada. E lembremo-nos que nos Dez Mandamentos, Deus comanda: "Seis dias trabalharás...".
Feliz dia do TRABALHO!
3 comentários
comentáriosEste Blog é bênção em minha vida! Jamais cansarei de elogiá-los: Parabéns! Conhecendo, aprendendo e compartilhando sempre!
ResponderObrigado pelo voto de feliz dia do trabalho e a vocês todos do blog também!
Quero ainda citar um verso bíblico: João 5:17 Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Vou colaborar ainda com uma frase chavão que vai em todos os meus emails:
A FALTA DE VONTADE, DÁ DESCULPAS - não faz nada!
A FORÇA DE VONTADE, DÁ UM JEITO - trabalha!
E, aproveitando o gancho, se possível, ponho para consulta e fins um de meus livros que abordarão a temática, não exclusivamente: A ORIGEM - Reflexões bíblicas no livro de Gênesis
Pastor Solano Portela, eu quase viajei contigo e com o Pr. Sussel Shedd para Israel. Somente não foi possível, porque meu irmão - Pr. Teotínio Barreto -faleceu em Guarulhos/SP, em 23-09-2012. Ele era um grande trabalhador que além de cuidar voluntariamente de uma igreja da qual era pastor, ainda trabalhava e dirigia a TJPROJETOS, empresa de construções, engenharia e projetos. Grande abraço a todos! O TRABALHO É BÊNÇÃO DE DEUS! Por isso que também me autodenomino "Trabalhador de Cristo" - Ef 3:1, parafraseando Paulo de Tarso em "O Prisioneiro de Cristo"... Somente nos Correios já estou trabalhando há mais de 30 anos...
O dia 1 de maio é dia do trabalhador!
ResponderForte abraço
Robério