quinta-feira, novembro 02, 2006

Solano Portela

Lidando com o Caos – Que tal um pouco de história?

Observo perplexo os acontecimentos do início deste mês de novembro de 2006, que coincidem com a continuidade de um governo que empolga e se elege, mas que há muito considera secundária a tarefa de fazer o que deve ser feito, controlar o que deve ser controlado, governar o que deve ser governado e administrar o que deve ser administrado.


Minha perplexidade não diz respeito às comemorações da reeleição, ou ao pronunciamento do candidato eleito, levado ao ar de forma compulsória, mas à “greve branca” dos controladores de tráfego aéreo. Estes foram repentinamente acometidos de um senso de precaução e segurança que esteve ausente durante anos de atividades e deixaram, quem sabe seguindo o exemplo do líder máximo, de fazer o que deveriam estar fazendo. Lançando literalmente no espaço a já inexistente ética brasileira, decidiram complicar a vida de milhares de cidadãos viajantes que pagam impostos e têm tarefas a realizar, ou outros que, simplesmente, pensavam que podiam viajar com suas famílias. Fazendo “corpo mole”, jogaram os aeroportos da nação no caos, impedindo não somente o direito de ir e vir das pessoas, mas também o direito delas receberem os serviços pelos quais pagaram.

E as autoridades? Ah, as nossas autoridades – quão pitorescas e fora de foco! Inicialmente afirmaram que estava tudo normal, que não existia nenhum problema, mesmo perante a evidência gritante dos atrasos absurdos e com os telejornais já mostrando discussões intensas nos balcões das empresas aéreas – aliás, negar evidências parece ser uma postura institucional, ultimamente.

Com o caos já instalado, o Ministro da Defesa dá uma entrevista, nesta noite, jogando a culpa na aeronáutica que deixou de lhe informar sobre a gravidade da situação – parece que entregar “os companheiros” já é, também, uma norma institucionalizada. É interessante verificar que ele também “não sabia”.

Mais tragicômico, foi o Jornal Nacional da Globo transmitir diretamente da “Sala de Crises” da ANAC – uma minúscula sala de reuniões onde vários militares obesos bem intencionados examinavam mapas de rotas aéreas, pregados nas paredes, que mais pareciam documentos históricos recuperados. Ao redor da mesa, outros, faziam projeções dos vôos em notebooks arcaicos e surrados de 7 kg. e, pasmem, comunicavam-se via celulares com aeroportos e torres de controle do país. Assim estão sendo definidas as rotas e os destinos de centenas de vôos diários e de suas preciosas cargas de vidas, em nosso país. Qualquer semelhança com outras eletronicamente bem aparelhadas “salas de crise” que vemos por aí, não será nunca encontrada.

Nesse meio tempo, o líder dos grevistas faz uma reunião cordial, em Brasília, certamente regada a bastante cafezinho, sucos e salgadinhos, na qual discutiram uma mudança de subordinação – querem se desligar da esfera militar e ser supervisionados por civis. Nem sei por que – a atual forma parece bem amena e não incomoda a intrigante e não tão criativa tarefa de lançar a nação no caos (os sem-terra já são mestres nisso há bastante tempo).

Enquanto isso, o que faz o nosso sindicalista que ocupa por algumas horas por semana a Palácio da Alvorada? Entra em seu avião particular e milagrosamente imune aos atrasos, noites mal dormidas e prejuízos que estão afetando milhares de meros mortais brasileiros, vai tirar alguns dias de férias na Bahia, que ninguém é de ferro.

Como lidar com o caos? Os nossos líderes deveriam estudar um pouco a história, verificando o que outros mais lúcidos fizeram em situações semelhantes. Se tivessem ânimo à pesquisa e à leitura, nem precisariam retroagir tão longe assim, para extrair algumas lições.

Em 1981, mais precisamente no início do mês de agosto, os controladores de vôo dos Estados Unidos começaram uma greve gigante no país. O sindicato deles (PATCO) agregava mais de 17 mil associados e desses, 13 mil paralisaram suas atividades exigindo melhores salários, apesar da atividade ter uma remuneração substancialmente acima da média. Interromperam, assim, negociações que já se estendiam por seis meses, nas quais haviam obtido várias vantagens e aumentos. Desde 1955 que greves em atividades essenciais eram proibidas por lei, nos Estados Unidos, no entanto mais de 22 paralisações ilegais haviam ocorrido nos anos recentes em diversas atividades similares. O que fez o presidente Ronald Reagan? Foi tirar férias na Flórida? Jogou a culpa no Ministro da Aeronáutica? Disse que “não sabia” que a situação era tão grave assim? Não! Vejam as lições, em como lidar com o caos, evidentes em algumas das medidas e decisões tomadas:


  • Primeiro, com precaução e planos emergenciais: Durante as negociações – nos seis meses anteriores, a FAA (Federal Aviation Administration) arquitetou um plano de emergência que previa a possibilidade de paralisação: 3000 supervisores, junto com os que não aderiram a greve colocaram a “mão na massa”, passando a controlar o tráfego aéreo; 900 militares da aeronáutica se uniram a eles. Essas pessoas não se furtaram, na emergência, a trabalhar 60 horas por semana – o dobro do que atualmente trabalham os nossos controladores. Para surpresa de todos, principalmente dos grevistas, o plano funcionou tranquilamente. Que contraste com a ignorância das nossas autoridades, que "não sabiam" o estado real desse segmento.
  • Segundo, com coragem e objetividade: Reagan deu 48 horas para que eles retornassem ao trabalho sob pena de serem sumariamente demitidos. Obviamente não faltaram os profetas da catástrofe que aventavam desastres enormes, que não ocorreram, com a suposta “falta de segurança” presente no plano e nas ações do governo. Que contraste com a condecendência do nosso governo para com os perturbadores da ordem.
  • Terceiro, com ações de porte e eficácia: Grande parte dos grevistas achou que o governo blefava, não voltou ao trabalho e foi para a rua da amargura. Os cursos que preparavam controladores de vôo, que formavam 1.500 a cada 21 semanas, aumentaram as classes, a capacidade e encurtaram o período para 17 semanas, passando a formar 5.500 controladores, no período. Dentro de poucas semanas a “fila” de candidatos a essas vagas chegou a 45.000 pessoas. Que contraste com o pronunciamento do nosso Ministro da Defesa, informando que contratarão 60 pessoas adicionais.
  • Quarto, com a aplicação rápida da lei: Os líderes do movimento foram presos por incitar e promover uma greve ilegal e processados em toda a extensão da lei. O sindicato foi multado em um milhão de dólares por dia de greve. O apoio popular foi todo para o governo, em vez de para os grevistas. Em 1984 o tráfego aéreo havia aumentado 20% e era eficientemente controlado por uma força de trabalho que era 80% daquela existente antes da greve de 1981. Que contraste com a impunidade que reina em nossa terra.
É desnecessário frisar que a forma como Reagan lidou com esse incidente restabeleceu o respeito ao governo, que vinha tratando a quebra da lei e da ordem de forma displicente, em administrações anteriores, e deu o tom aos anos que se seguiriam. Qualquer semelhança com o tratamento que as nossas autoridades vêm dando à greve do Pindorama é inexistente. Estamos realmente falidos na administração das questões públicas que afetam o dia-a-dia de grandes segmentos da população. Enquanto o governo se ocupa de tudo que é trivial, se esquece daquilo que é essencial. Daí a necessidade de estarmos alertas exercitando nossa cidadania na fiscalização de quem está la e na lembrança de caminhos viáveis aos impasses sociais. Podemos estar desanimados e tristes, sim; mas não desfalecidos!

Solano Portela

Os interessados no incidente relatado acima, ocorrido em 1981, podem obter mais detalhes clicando aqui.

Solano Portela

Postado por Solano Portela.

Sobre os autores:

Dr. Augustus Nicodemus (@augustuslopes) é atualmentepastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana doBrasil e presidente da Junta de Educação Teológica da IPB.

O Prof. Solano Portela prega e ensina na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, onde tem uma classe dominical, que aborda as doutrinas contidas na Confissão de Fé de Westminster.

O Dr. Mauro Meister (@mfmeister) iniciou a plantação daIgreja Presbiteriana da Barra Funda.

32 comentários

comentários
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AUTOR
2/11/06 03:07 delete

Solano,

Faltou ainda citar a proposta brilhante de chamar o pessoal aposentado para assumir o controle...

Como faz falta o Boris Casoy nessas horas!

Sinceramente, não sei como o presidente conseguirá descansar com um barulho desses - vai ver ele não sabe do que está acontecendo no País ainda mais alheio à realidade com ajuda da água-de-cana à beira mar. Triste pensar nisso.

Agora, em parte, creio que devemos atribuir a falta de valores éticos e de responsabilidades da nossa nação às nossas igrejas que não têm satisfatoriamente pregado todo o conselho de Deus, inclusive no que toca na prática do evangelho no dia-a-dia.

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2/11/06 08:38 delete

Caro Charles:

Realmente, há cada dia surgem mais enrevistas estapafúrdias e soluções tão bizarras como inconsequentes.

Não sei se as igrejas pregassem ética e responsabilidade chegariam a influenciar o estado de coisas no país, mas que elas estão carentes desse ensino, estão sim. O pior é que os cristãos já estão se convencendo que é "todo mundo igual" e não vale a pena levantar essas questões.

Um abraço,
Solano

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2/11/06 08:40 delete

Caro Cléber:
Palavras verdadeiras - muitos "direitos", pouca responsabilidade. Além disso, legislação inócua, pois é abundante, mas impraticável, até pelas regulamentações confusas.
Um abraço,
Solano

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Fabio
AUTOR
2/11/06 11:34 delete

Solano,

Parabéns pela sua analise desta situaçao caotica que ora o Brasil vive. Qual será o futuro da nossa naçao?
Um grande abraço o mores!

Rev. Fábio Bezerra

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Anônimo
AUTOR
2/11/06 13:43 delete

Caro Solano,

Boa análise da nossa situação pós-eleitoral. Acho que esse é só o "princípio das dores". Coisas piores estão para vir com todo o desgoverno que existe no país, infelizmente.

Quanto ao ocupante do planalto, "deixa o homem descansar", já que não estava acostumado a trabalhar e teve que "dar duro" na campanha. Não sei o que é pior, se ele trabalhando ou descansando.

Enquanto os ministérios forem exercidos por esses apadrinhados políticos de carreira, como o atual ministro da Defesa (que também não sabia de nada)e não por técnicos competentes, teremos que amargar o caos.

Que Deus tenha misericórdia de nós e da igreja que, em muitos casos, pactua disso também.

João Alves

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Anônimo
AUTOR
2/11/06 15:52 delete

Como pode um controlador de voo ganhar 1.600,00 reais por mês? É muita responsabilidade para ganhar pouco. Enquanto outros servidores ganham muito mais sem tanta responsabilidae, como por exemplo oficiais de justiça que ganharam cerca de 8.000,00 rais iniciais. Coisas do Brasil, vai entender.

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2/11/06 15:57 delete

Solano,

É bem verdade que este tipo de coisas vem acontecendo no Brasil já faz um bom tempo. O problema é que parece que a bagunça se institucionaliza cada vez mais... No governo anterior tivemos o vergonhoso apagão, que levou tempo para ser arrumado e que, ao que parece, deve "re-acender" se investimentos não forem feitos. Mas ninguém faz nada... As estradas, a mesma coisa. Falta fibra, ética, vontade de fazer o bem público... mas como disse João, acima, deixa o homem descansar...

abs
Mauro

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Anônimo
AUTOR
2/11/06 16:34 delete

Lúcido como sempre, Solano!

Me parece que a gente pode acrescentar mais um componente: pelo que tudo indica, o acidente do Boeing da GOL ocorreu por culpa do pessoal da torre de controle de SJC e do Cindacta-1.

Tem muito mais coisa por ai.

Abs (de Aracaju)
Franklin

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2/11/06 19:01 delete

Caros amigos:

Fábio - Obrigado!

João - Estou quase com você: descansando acho que é melhor...

Mauro - Realmente, problemas de gestão são antigos e sempre resultam em prejuízo real e longo à população. Precisamos de estadistas e não de apadrinhados, como lembrou João. No entanto, este problema atual difere de anteriores pois ele é provocado pela vontade humana deliberada (ou falta de vontade de trabalhar). O objetivo é inflingir o maior desconforto ao maior número de pessoas. Esse tipo de atitude prospera no desgoverno, na anarquia. É comparável e semelhante às agitações dos sem terra e as depredações promovidas por eles, como no caso da Aracruz, quando esfacelaram 12 anos de pesquisas botânicas, ou na invasão do Congresso. O pior é que ainda encontram pessoas de suposta envergadura que defendem este estado de anarquia e desculpam as ações dos promotores.

Samue - As discrepâncias de salários devem ser sanadas, concordo - perpetuam injustiças. Os salários dos motoristas do Congresso são maiores ainda. Não devemos esquecer, no entanto, que os controladores trabalham uma jornada limitada. Conheço pessoas que ganham quase um quarto e nem por isso saem por aí quebrando vidraças dos ônibus em que viajam, ou incitando os demais à anarquia. Pelo contrário, prezam o trabalho que têm e são ordeiras e honestas.

Franklin - É verdade! Essa notícia saíu hoje e complica a questão, inclusive, desmente os veementes protestos e declarações precipitadas que marcaram as entrevistas das autoridades, dando "informações" sobre o terrível acidente.

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Anônimo
AUTOR
2/11/06 22:56 delete

Olá a todos

Eu acredito que todos ficam perplexos e revoltados com os recentes acontecimentos. Nossos governantes começam a colocar culpa em fulano e beltrano e no fim as medidas provisórias para a aviação não são eficientes e evidenciam a exigência de mais investimentos, melhor administração, etc. Isso é fato e bem visível.
Agora o que mais me deixa perplexo não são as falhas e ineficiências da aviação colocadas no texto, mas o carater anti-lulista ex-ante, pós derrota do choque de eficiência e gestão. Ou seja, a impressão que se dá é utilizar um fato lamentável para reafirmar uma posição pré-concebida a respeito de determinado governo. Não que o governo seja refém ou sujeito aos críticos, sim, ele foi um dos principais culpados, todos sabemos.
Agora a avaliação seria mais coerente se fosse comentado a respeito de uma ineficiência que existe no estado durante muitos anos, como bem colocou o Mauro. Desde o final da década de 80 o Brasil não priorizou melhor gestão pública. Desse modo, utilizou-se o fato para reafirmar uma posição política, como bem faz nossas amigas Veja (pró-tucano) ou Carta Capital(pró-lula).
E a proposta sugerida para resolução do caso foi infeliz.
Conter os grevistas na base da substituição de mão de obra desempregando mais de 10.000 trabalhados que deveriam ter seus motivos, mesmo sendo ilegal (cadê os motivos dos grevistas no texto?). Os arranjos instituicionais de cada país são outros, o sistema aéreo de cada país é diferente e o processo da greve pode ser totalmente diferente.
Não sou de sindicato ou defendendo os pobres trabalhadores num manifesto de esquerda, longe disso. Mas eu vejo que o caos do sistema aéreo é menor quando comparado aos problemas que o Brasil tem a séculos(quem anda de avião no Brasil? 1% da população?). Mas enfim, me corrijam se estiver enganado, esse post da impressão de aproveitamento do fato para uma discussão meramente política e ideológica, tendo em vista a discussão política anterior desse post.
Certamente já estou com saudades dos textos teológicos postados aqui.

Abraços

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2/11/06 23:24 delete

Solano,

Parabéns pela análise, correta e precisa.
Interessante o ponto colocado pelo Pr. Franklin por motivos obvios. Aí penso em alguns questionamentos possíveis:
1 - Porque somente depois da reeleição do Lulla, intimam-se os controladores de voo?
2 - Porque o Min. Waldir Pires se precipitou em atear fogo na fogueira de acusações contra os pilotos do Legacy?
3 - Porque se segurou informações relacionadas à caixa preta do legacy, disponível desde o primeiro momento das investigações, que agora se prestam como fonte mais precisa de esclarecimentos?
Enfim, qual a relação de mais um episódio que envolve novamente a PF, e agora outros órgãos federais como INFRAERO e ANAC, com o processo eleitoral?

Não podemos deixar de ter respostas, estamos desistindo delas; cada vez mais nos distanciamos do necessário esclarecimento de fatos muito graves ( - o presidente sabia? participou?)e novos surgem na velocidade de uma autopista e, cada vez mais, acreditamos que não haverão respostas!
Mas tá difícil! Nosso presidente reeleito não é muito democrático quando o assunto lhe incomoda.. vide suas expressões freqüentes quando confrontado por Fátima Bernardes (de leve), nos debates, e recentemente pela imprensa: o homem foge às respostas como quem simplesmente está acima do bem e do mal, que tem sua "santidade" atacada em um ato herético, impróprio e inaceitável.

Que Deus nos dê livramento!

Dilsilei

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2/11/06 23:44 delete

Caro Anônimo:

O texto é um pronunciamento de um cidadão brasileiro observando uma situação caótica (alguém duvida disso?) e as reações pífias e inadequadas das autoridades supostamente "competentes". Este Blog é assim mesmo - vá se acostumando. Na maioria das vezes algum assunto teológico e outras vezes um pouco de teologia aplicada - quando procuramos ver o que Deus quer de nós nas esferas do viver.

A situação gerada afeta muito mais do que os aeroportos. Vou só dar um exemplo: nesta sexta e sábado haverá, ou haveria (não sei ainda) um congresso de Educação Cristã no Recife; inúmeras pessoas se esmeraram em preparo, outras tantas separaram os dias para estarem presente; uma oportunidade única de apresentar e aprender os detalhes de como se administra uma escola cristã e das implicações teológicas. Pois bem, o evento corre o risco de não acontecer pois o aeroporto de Recife praticamente fechou, nesses dias. Tudo isso porque? Pelo capricho dos sindicalistas aconchegados e pela falta de preparo no lidar com a situação. Veja (não é a revista, não, mas o verbo) que o caos atinge os que não voam, também e resulta em prejuízos diversos. Aliás, minimizar a importância do caso é característica do atual governo - duro é convencer disso quem está sendo tragado pelo sorvedouro da inconsequencia e da falta de ação.

Agora, acredito que pela sua interpretação o lulismo está lidando da forma mais correta com a crise, a começar pela folga do comandante geral da nação. Pela sua interpretação, gestão é isso que está aí e não o "choque" que se se queria dar (aliás, teremos ainda muitas saudades dele). É uma opinião a que tem direito, mesmo contra as evidências, e eu à minha.

No entanto, é brincadeira você querer ignorar o caso histórico, seus paralelos e as lições que podemos extrair. E você lamenta os empregos que foram perdidos por lá!Coitadinhos dos 10.000 desempregados que pretendiam jogar aquela nação no caos! E os quase 10.000 que queriam trabalhar e foram empregados? Eles não têm direitos, só os privilegiados com acesso ao cartel? Essa é a face do sindicalismo - privilégios aos amigos - que vem esvaziando núcleo, após núcleo industrial no Brasil (a exemplo do que já fez no mundo). Lembram do exemplo BRILHANTE do Olívio Dutra, que fez as contas da "renúncia fiscal" que a fábrica da FORD traria ao RS, em Guaíba (2002?), e desfez o acordo de isenção? Pois bem, o RS preservou sua "integridade", ficou com ZERO de renúncia fiscal, ZERO de receita, ZERO de movimentação na economia e ZERO de fábrica - a Ford levou a dita cuja para a Bahia. Isso é que é gestão! De concreto, mesmo, os sindicatos apresentam só o que extorquem dos salários, anualmente - de forma compulsória "bem demokrátika"!

Caso tenha paciência conosco, os textos teológicos virão, mas acredito que sempre serão acoplados à vida real e não às elocubrações virtuais tão prezadas por alguns.

Abs

Solano

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Anônimo
AUTOR
3/11/06 00:04 delete

Prezado Solano,

Peço licença para me dirigir ao irmão “anônimo” a fim de observar alguns pontos do seu comentário:

Acredito que não temos que fazer ressalvas ou criticar governos anteriores sempre que nos referirmos à gestão Lula. Concordo em que os problemas brasileiros são crônicos e cada governo anterior tem sua parcela de culpa. Não se discute isso. Mas tenho percebido que, para alguns, é sempre preciso criticar as gestões anteriores antes de falar da atual, para não ser taxado de anti-lulista ou para parecer politicamente correto. Falar em “pós-derrota do choque de eficiência e gestão” também não seria uma posição pré-concebida anti-tucana?

Também concordo com o fato de que os problemas mais sérios do país existem há anos, mas não vejo por que os colaboradores do blog não possam discutir assuntos políticos e ideológicos, junto com os teológicos. Aliás, a verdadeira teologia não deve estar divorciada da prática política e ideológica. É como vejo a questão.

Abraços,

João Alves

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3/11/06 11:32 delete

Caro Solano,

Muito boa a sua análise dessa situação caótica. Parabéns!

Contrário a outros irmãos, não deixo de considerar o texto como teológico, posto que, ao fazer julgamentos éticos da situação, assume e aplica a cosmovisão cristã, a única que, tendo como seu axioma a infalível Palavra de Deus, pode julgar algo como certo ou errado, justo ou injusto, etc.

Quando falamos de ética, falamos de Deus (pelo menos se formos coerentes e tivermos uma justificativa racional para o nosso apelo ético), pois estamos usando o padrão dEle, revelado na Escritura, e não os nossos.

Um abraço,
Felipe Sabino.

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Anônimo
AUTOR
3/11/06 11:43 delete

Olá a todos...

Não estou defendendo de forma alguma se os trabalhadores estão corretos ou errados..
Deixei bem claro "Não sou de sindicato ou defendendo os pobres trabalhadores num manifesto de esquerda, longe disso."
Mas quem é que sabe o que realmente esta acontecendo. Pode ser picaretagem dos controladores claro que pode, mas no entanto, pode haver uma razão por trás disso.
Uma razão a favor é o fato dos controladores receberem apenas 2.000 reais por mês, além de ultrapassarem o número de horas trabalhadas. Uma razão contra é o transtorno absurdo que eles geraram, eles poderiam ao menos evitar o dano a outros cidadãos.
Quem é que vai ser a favor de greves como a de ônibus em São Paulo a algum tempo atrás? Sendo que foi originada pelos própios donos de empresas.
Mas muitas greves possuem uma razão de ser tendo em vista o tamanho da exploração? Como agir, demitindo todo mundo? Vc acha que as greves do século XIX foram picaretagem dos trabalhadores?
Pior, uma vez que não estamos em Genebra em que os comerciantes eram chamados em conselho caso explorasse o trabalhador. Muitas vezes é necessário greve, outras é pura picaretagem.
Agora o que mais me deixou perplexo foi a proposta encaminhada para solução disso, sugerida pelo Solano. E não estou defendendo o governo atual, que diga-se de passagem errou muito....possam estar tomando atitudes erradas como no caso da Bolívia.
E outra coisa, pelo jeito há mesmo um aproveitamento claro do ocorrido com vistas a denunciar o governo atual, não com vistas a uma denúncia com base numa indignação de cidadão, mas com vistas a atacar o atual governo vis-a-vis o outro que não ganhou. Ou seja, infelizmente existe uma pregação partidária envolvida e não uma forte indignação como todos estamos em nosso país. Esse é meu ponto principal.
Subtende-se: Se o outro candidato estivesse aqui, a coisa seria diferente....
Sabe porque falo isso, procurei o post do Solano com relação aos crimes do PCC e digo o teor de crítica ao governo do Estado de São Paulo foi quase inexistente.
Ou seja, infelizmente existe um viés partidário....qualquer que seja ele..
É uma indignação de cidadão reformado ou uma indignação partidária, eis a questão....
Ou ser reformado significa ser de um partido da oposição ou de outro do governo?
A clara impressão que se tem com esse e outros posts anteriores é que ser reformado é ser da atual oposição, estou certo?

Acho que ser reformado transpõe tudo isso, o que não significa ser apolitizado, mas sem viés partidário. Melhor: Ser reformado não significa defender a causa de um partido político.

Abraços

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3/11/06 12:37 delete

Caro Anônimo, o retorno:

Acho que quem está vendo a questão como defesa ou ataque partidário é o irmão. No meu post anterior (o da falta de segurança - sobre o PCC) eu critiquei o governo genericamente - sobra para todos, municipal, estadual e federal.

Minha crítica tem sido sempre a de que, no nosso país, a estrutura governamental se intromete em tudo e faz pouquíssimo do essencial - aquilo que encontramos delineado em Rm 13: manter a lei e a ordem e dar condições a que as pessoas desenvolvam as suas capacidades e potencialidades individuais.

Isso independe de partido; está arraigado na compreensão política equivocada do nosso povo, que olha e almeja um estado messiânico que resolva todos os seus problemas. O duro é ver o assistencialismo e intervencionismo encorajado também por cristãos, que deveriam ter maior lucidez. Duro, também, é ver essa linha de pensamento ainda triunfando politicamente, sempre acompanhada de desprezo pela lei, pela órdem e pela ética.

Assim, se o governo federal atual emula esse viés, será alvo de críticas, sim. Se Alkimim estivesse no poder, a crítica continuaria intensa.

Na realidade, o ponto exato em que ele escorregou, na minha opinião, foi a de condescender com o "estado messiânico" e não demonstrou coragem em defender posições que deveria ter defendido. A não ser nos últimos dias de campanha, quando disse "ad nauseam" que o seu governo seria diferente (mas não especificava qual seria a diferença, exceto na óbvia questão ética-moral - a qual o povo brasileiro já descartou como não sendo relevante), passou a maior parte do tempo se esforçando para mostrar que era tudo igual, que manteria a mesma política, etc. Possivelmente se assumisse posições mais firmes teria perdido com diferença maior, mas teria caído mais de pé do que caíu.

Erra, então, o irmão, quando não procura ver a essência da crítica e a veracidade dos pontos levantados. Os paralelos dos pronunciamentos das autoridades com a atitude do governante maior, acho que são natural, pois o líder faz escola - apontar isso é partidarismo injusto? Melhor seria se os paralelos não estivessem lá.

O seu "ponto principal", no final, é um juizo de valor. Penetra nas minhas entranhas e consegue fazer uma tomografia da minha mente e vê motivos escusos ("atacar o governo", aproveitando o incidente). Ledo engano, o post foi motivado pelo caos visível e incontestável (por mais que muitos queiram minimizá-lo) e pela simples lembrança (já tenho muitas luas no costado) de ter recordado de situação idêntica em outro país: o Governo, sendo levado refém por um grupo de pessoas, tudo isso no mesmo setor. Um reagiu de uma maneira e deixou lições a serem seguidas e o outro (o nosso) reage diferentemente e com a contumaz complacência, deixando um exemplo a não ser trilhado. Só isso!

Abs

Solano

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3/11/06 12:52 delete

Caros irmãos:

Disislei: Perguntas argutas e observações pertinentes. O triste é que nosso povo cada vez mais se desinteressa pela essência das questões e pela ética que deveria fundamentar as ações.

Caro Marcus: Estive em Cuiabá em 2003 ou 2004, acho. Algum dia nos conheceremos. Passei sua sugestão para o Rev. Augustus, que tem algumas pesquisas sobre o assunto. Acredito que sairá algum posto do teclado dele.

Caro João: Obrigado pelas observações, sempre pertinentes. Esse negócio de parar de identificar problemas, porque "sempre foi assim" virou o bordão da ética sociológica contemporânea. Como reformados, temos que sair dessa vala comum.

Caro Felipe: Obrigado pelas palavras, encorajamento e pela correta identificação de que nossa mensagem teológica tem a ver, sim, com a compreensão dos incidentes pelos quais atravessamos, na vida.

Solano

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Anônimo
AUTOR
3/11/06 17:18 delete

Caro Solano

Em nenhum momento quis fazer algum juizo de valor, longe disso, mas apenas observo o que foi escrito no blog e o total viés com relação a uma das partes. Será que estou enganado. Quando eu faço uma exegese bíblica eu tb não estou auferindo um juizo de valor, no seu modo de pensar?

Sempre escuto daqueles que votaram no partido corrupto do chuchu vis-a-vis o partido corrupto do sapo barbudo (srsrsrsr), que o principal erro dele foi ter se equiparado ao outro. Ou seja, não ter atestado e confirmado o manifesto não intervencionista, como se ambos os partidos fossem muito diferentes....
Ou seja, o povo agora é burro e espera no populismo e nós que votamos no tal que perdeu estamos corretos.
A questão é que se formos observar o que é a população brasileira nós vamos entender porque políticos como o Lula alcançam o poder. Simples: basta dar bolsa família para quem não tem 3 refeições por dia. Quem vive numa situação de extrema pobreza irá votar naquele que ao menos oferece o mínimo de esperança, mesmo que seja equivocada.
Eu não concordo com a estrutura da Bolsa Família que gera esse "messianismo". No entanto, nós que temos 3 refeições por dia é fácil ter uma posição política contra o interencionismo estatal.
Infelizmente quer oposição quer governo não iam fazer mudanças estruturais significativas.

Tenho algumas perguntas:

Será que só porque o povo brasileiro (diga-se de passagem aqueles que votaram no sapo barbudo) possuem "desprezo pela lei, pela ordem e pela ética"?
Ou também aqueles que votaram no chu-chu? Uma vez que ambos os partidos são corruptos?
O que Jesus falaria a respeito dessa frase "desprezo pela lei, pela ordem e pela ética"?
Ainda gostaria de saber se uma pessoa reformada deve ser partidária?


Abraços

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3/11/06 17:18 delete

Caro Anônimo,

Vc se tornou popular neste post... se ao menos tivesse coragem de se identificar... mas vamos lá, afinal, citou meu santo nome em vão:

"Agora a avaliação seria mais coerente se fosse comentado a respeito de uma ineficiência que existe no estado durante muitos anos, como bem colocou o Mauro. Desde o final da década de 80 o Brasil não priorizou melhor gestão pública. Desse modo, utilizou-se o fato para reafirmar uma posição política, como bem faz nossas amigas Veja (pró-tucano) ou Carta Capital(pró-lula)."

Minha citação do problema crônico de gestão que temos, foi de passagem... mas em momento algum uma desculpa para o que está acontecendo agora. Com um detalhe... o problema foi resolvido... mas vai aparecer de novo. Tenho certeza que a solução do governo atual será de importar gás mais caro da Bolívia... Aliás, ser humilhado pelos imperialistas americanos, NUNCA, mas pelos Bolivianos, 'son hermanitos'!!!

Creio que sua leitura final do post foi infeliz (agora que não se identifica mesmo), pois a crítica do Solano foi muito clara sobre o que acontece agora e de como as soluções são pobres. Apesar de já ter sido acusado de bicudo por aqui... creio que as opiniões do blog estão acima das siglas partidárias...

abs
Mauro

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Anônimo
AUTOR
3/11/06 17:37 delete

Olá a todos

Já que pediram a identificação meu nome é Marcus...
Até parece que eu sou petista que faz patrulhamento partidário!!!
Fazer patrulhamento de um partido corrupto...essa é boa...
Maurício...não se preocupe...tanto um como o outro são corruptos..
E maurício eu tenho amigos petistas e tucanos, ambos radicais, arrogantes e ambos torcedores...para falar a verdade mais amigos tucanos...
E é notório naqueles que são tucanos: Se vc não vota no PSDB vc é petista ou faz propaganda dele. Se vc fala mal do PSDB vc é petista. Se vc é neutro vc é petista. Se vc é contra privatização vc é petista...se vc é contra o que o PSDB prega vc é petista. SOMENTE AQUELES CONSCIENTES SÃO TUCANOS....Por favor...


Reafirmando: Hoje não vejo perspectiva nenhuma para o Brasil, estando o PT no governo, estando o PSDB no governo..ou qualquer outro partido....
Ou seja, não sou Veja nem Carta Capital....se quiser criticar ambos os lados estou ai, se quiser apontar os benefícios estou ai...

Está bom?

Abraços

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3/11/06 17:59 delete

Caro Marcus, ex-anônimo;

Obrigado pela identificação. Realmente fica melhor assim. Como você mesmo coloca, nossas posições não são tão diferentes assim. E creio que você concorda que se vamos ter uma visão teológica das coisas, terminaremos por opinar e ter posições no campo social.

Quanto à insensibilidade do nosso povo sobre a ética e valores, ela é real e progressiva. A cada dia ficamos mais insensíveis, e isso é ruim.

Creio que o Augustus já respondeu suficientemente essa questão em seu último post e em suas respostas a comentários: o pior que podemos fazer nessa situação é alegar que "sempre foi assim" e ignorar todo o volume de fatos revelados e confissões explícitas (muitas das quais posteriormente negadas: a secretária dos sanguessugas acabou de dizer que nunca disse o que disse, sobre os 90 deputados; no outro flanco, o nome do Godoy nunca foi mencionado - foi engano...). O próximo passo, é dizer "agora é assim..." e fica por isso mesmo. Devemos orar para que, pela graça de Deus a sociedade recupere, pela graça comum, um mínimo padrão de moralidade.

Abs.,

Solano

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Anônimo
AUTOR
3/11/06 18:17 delete

É Solano

Agora só nos resta orar....
Venho confessar que tanto teologicamente quanto politicamente há uma profunda decepção com o Brasil.


Abraços

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3/11/06 18:24 delete

Caro Maurício;

Obrigado pela honra de comentar pela primeira aqui, neste canto da sala! Seja sempre bem-vindo.

Vou aproveitar, se me permite, para responder a uma das perguntas do Marcus, sobre "... se, como reformados, podemos ter partido". Ela ficou pendente:

-- sempre defendo que nosso compromisso é acima de tudo com Cristo, com a fé cristã e com a sã doutrina - no meu entendimento a doutrina reformada cristaliza a essência do ensinamento bíblico e apresenta em toda sua majestade a pessoa de Deus e nossas responsabilidades para com ele.

Quando nos deparamos com a cena política temos que abordá-la com muito cuidado para não vendermos a nossa primogenitura por um prato de lentilhas, ou seja: nenhum homem ou partido deve receber a nossa lealdade ou apoio não qualificado.

O cristão deve manter a independência como livre pensante, cativo somente à obediência de Cristo, servindo como apoiador consciente, mas igualmente soando a voz profética (no sentido de ser porta-vez das verdades de Deus) quando necessário. Isso seria o exercício da cidadania cristã.

Assim, o cristão "apaixonado" por qualquer partido ou personalidade política, que defende esses em quaisquer circunstâncias; que fecha os olhos a irregularidades; que se torna insensível a desmandos ou desvios; que empurra de lado evidências gritantes de injustiça ou ausência de ética - ESTÁ ERRADO, qualquer que seja o partido que apoie em um dado momento.

Nesse sentido, como cristão, devemos considerar que exercemos o direito de voto, ou prestamos o nosso apoio naquele que representa O MENOR DOS MALES. Não devemos ter ilusões de que encontraremos o monopólio da justiça, da ética ou da propriedade em nenhum mortal; mas Deus, por sua Graça Comum, permite e opera na direção de termos segmentos da sociedade ou, às vezes, sociedades inteiras que refletem esses valores - mesmo sendo constituídas, e lideradas, por pecadores indígnos.

O que não dá, é ficar sobrevoando (algo difícil, agora, com esse caos) a cena social-política, sem mergulhar nela, procurando aplicar nossas convicções teológicas nas posturas éticas que devemos assumir e apoiar. Quanto aos partidos, no nosso país eles são uma piada, pois dependemos muito mais das pessoas do que deles - eles não defendem uma bandeira muito fixa. Mesmo assim, cabe a cada um de nós, verificar quais os pontos principais defendidos por eles; quais os que abrigam aborcionistas, ou os que intencionam ignorar as distinções de sexo estabelecidas pelo Criador, desde a criação, promovendo uma sociedade andrógina (erronemanete propagada como "sem preconceito"); quais os defendem o direito de propriedade (o oitavo e o décimo mandamento); e assim por diante.

Nessa compreensão, devemos tirar nossas prórias conclusões individuais, diante de Deus.

Um abraço a todos,

Solano

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Anônimo
AUTOR
4/11/06 00:33 delete

Caros Solano (obrigado pelas boas-vindas) e Marcus, ex-anônimo (é muito melhor se dirigir ao irmão pelo nome),

Nas páginas iniciais do livro "Igreja e Estado no Brasil Holandês", do Rev. Frans Leonard Schalkwijk (sogro do Augustus, como muitos sabem, e mais conhecido aqui em Recife como Rev. Francisco Leonardo), há uma belíssima citação de João Camilo de Oliveira Tôrres, em "História das Idéias Religiosas no Brasil":

"A visão cristã da História é otimista; o esforço humano vem de Deus e vai para Deus; mas é realista: nenhum reino humano será isento de sombras e fraquezas".

Na minha opinião essas palavras refletem resumidamente a maneira como os cristãos deveriam perceber as possibilidades da Igreja exercer influência sobre a sociedade, em geral, e sobre a atividade política, em particular.

Assim, primeiramente, deve haver esforço da nossa parte. Devemos difundir idéias, valores e princípios bíblicos e que possam construir uma cosmovisão pautada nas Escrituras. Temos que labutar nesse sentido. Acima de tudo, porém, temos que viver essas idéias, valores e princípios, caso contrário, nosso discurso, não se coadunando com a realidade de nossas vidas, será vão.

Não obstante, o nosso esforço deve vir de Deus, deve se apoiar na força do Senhor e, também, depender e confiar em sua soberania. Em outras palavras, é Deus quem tem de fazer por meio de nós. Se Ele quiser, Ele pode regenerar um número suficiente de pessoas em qualquer nação, de modo a transformá-la. Temos alguns exemplos na História. Se Ele, de outro modo, não quiser, nenhum esforço humano o fará.

Por fim, mesmo que tal regeneração aconteça, nenhum governo de homens poderá ser comparado a um governo do próprio Cristo.

Queridos irmãos, procuro pautar minha análise primeiramente nos valores e idéias que partidos ou candidatos defendem. Só depois, faço a análise da atuação pessoal. Assim, embora tenha minhas preferências partidárias, e não as escondo, não pretendo ser "neutro", até porque, num certo sentido, não acredito em neutralidade, faço a tentativa, na linha do que Solano escreveu, de identificar quais os princípios básicos ensinados nas Escrituras sobre determinado assunto, no intuito de aplicá-los aos casos concretos.

Por isso, permita-me discordar de você, Marcus, quanto à afirmação de que "ambos os partidos são iguais". Na verdade, na minha opinião, as pessoas é que são iguais, no sentido de que "todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus". Desta forma, todos os indivíduos, independentemente de partidos, estão sujeitos ao erro. Os partidários do PSDB ou PFL NÃO são, enquanto pessoas, mais santos dos que os do PT ou PCdoB.

Além disso, o chefe do Poder Executivo, ao gerir uma máquina administrativa de grande porte, seja em grandes prefituras, Estados ou, no caso sob análise, a União, realmente não tem condições de saber ou de coibir todos os casos de corrupção: são milhares de funcionários, milhares de processos liciatórios sendo efetuados aos mesmo tempo. Assim, claro que há corruptos em qualquer partido e em qualquer governo. Então, qual a diferença?

Ao meu ver, o caso do atual governo destaca-se pelo seguinte:

a) o roubo foi bastante organizado, quase uma máquina funcionando para "comprar" um número considerável de parlamentares ("mensalão");

b) o dinheiro tinha origem no Poder Executivo, cuja missão precípua, qual seja, a de administrar, que pode-se resumir aos verbos "arrecadar" e "gastar" (ou decidir onde será gasto), lhe permitia angariar os recursos necessários; ou seja, foram usados recursos públicos (dinheiro meu e seu); nesse intuito, os Ministérios e Estatais, que compõem o Executivo, foram "aparelhados", o que quer dizer, criaram-se cargos e mais cargos comissionados, preenchendo-os com sindicalistas ligados ao PT;

c) tudo isso estava a serviço de um projeto de poder, de cunho autoritário, nos moldes "chavistas"; ou seja, foi um "roubo ideológico"; assim, o Executivo governaria sem o Legislativo, pois com um número suficiente de parlamentares "comprados", o Executivo aprovaria tudo o que quisesse, qualquer projeto de lei que julgasse importante; isso equivale a um fechamento "branco" do Congresso, sempre um dos primeiros atos implmentados por um ditador.

Por fim, se nos aprofundarmos na tentativa de entender a ideologia, a maneira de pensar, a visão de mundo, enfim, o que está por trás, do pensamento petista, vamos encontrar apenas uma coisa: o velho marxismo.

Bem, despeço-me por aqui.

Solano, Marcus e demais,
grande abraço.

Maurício.

P.S.: Marcus, de onde você é? Será que estamos perto?

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Anônimo
AUTOR
4/11/06 09:33 delete

Voltando ao apropriado tópico, algumas considerações:

1) O ministro da defesa simplesmente disse que "não sabia de nada" em relação às precárias condições dos controladores de vôo. É Lula fazendo escola.

2) Um controlador de vôo ganha cerca de 1.600 reais, trabalha que nem um animal e tem que falar fluentemente o inglês. Por um lado, me surpreende que essa greve não tenha ocorrido antes, e que outros acidentes não tenham ocorrido.

3) Se contar isso em Lisboa, ninguém acreditará, mas o fato é que no Brasil, não é condição essencial um controlador de vôo militar saber falar inglês.

4) A operação padrão dos controladores de vôo começou há mais de uma semana, ou seja, antes do segundo turno das eleições, mas ninguém noticiou nada e nem criou nenhum estardalhaço. Coisa de sindicato, macomunado com o PT? Ou de jornalistas chapa-branca?

5) Lula assinou medida provisória autorizando o treinamento de mais controladores de vôo em medida de emergência, que serão contratados até o final de 2007, sendo que logo após, o próprio governo concedeu 40% de aumento à título de gratificação à categoria e os profisisonais voltaram ao trabalho. Não seria mais fácil conceder a gratificação antes, e abrir concurso público para controlador de vôo e já compor os quadros definitivamente? Não, aqui no Brasil, tudo é ao contrário.

6) E, para piorar tudo, a FAB confirmou que o controle de vôo errou no acidente da Gol:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u127785.shtml

Para constar: todos os controladores de vôo do Cindacta-1 envolvidos na queda do Boeing da GOL tiraram licença para não serem inquiridos pelo delegado da PF que investiga o acidente.

No final, contra todo o patriotismo de quintal, parece que o jornalista do NYT, que estava no Legacy, estava mesmo certo.

Depois se perguntam por que esse país não vai pra frente.

Abs
Franklin (de Aracaju)

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Norma
AUTOR
5/11/06 04:52 delete

O que me deixa mais triste não é nem o fato em si, mas a recepção geral ao fato: indiferença. Assim como a recepção geral à indiferença diante do fato: indiferença, novamente.

O Brasil está indo para o abismo e as pessoas não estão sequer gritando. Não há quem clame por justiça, não há quem queira justiça.

Hoje mesmo almocei com amigos de amigos e uma moça, professora universitária, comentou aquele episódio de coação dos jornalistas da Veja de modo muito sucinto: "É tudo mentira! A revista Veja mente." Ela não gosta de Veja, portanto o episódio dos jornalistas nunca existiu.

O mesmo raciocínio se aplica: o povo brasileiro gosta de Lula, portanto o mensalão nunca existiu.

Acho que no Brasil nunca chegamos tão baixo em matéria de subjetivismo sobrepondo-se à feia realidade. Está cada vez mais difícil reconhecer este país como o meu país.

Estou triste. Desculpem o desabafo.

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Norma
AUTOR
5/11/06 04:57 delete

Solano, faltou dizer que, como sempre que trata de política - embora não só política, mas veja, isso é raro no meio protestante brasileiro - , você é imbatível em maturidade e equilíbrio. Parabéns, e que muitos lhe sigam o exemplo, para ver se muda esse feio quadro de cristãos brasileiros fazendo "vôo panorâmico" sobre a realidade.

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5/11/06 18:19 delete

Pois é...como estou do outro lado do mundo não tenho muito a dizer sobre a situação atual do Brasil.

Mas pai..."elocubrações"? Misericórdia. Haja dicionário...

Abraços, David

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Anônimo
AUTOR
5/11/06 18:41 delete

João Alves e Solano,
O primeiro dia de trabalho de um funcionário em uma editora. Havia muita coisa fora do lugar, e originais de autores que há muito haviam se perdido. Naquele primeiro dia ele recebeu dois telefonemas. Eram dois autores que haviam enviados seus trabalhos para serem avaliados. Desavisados, mandaram os originais datilografados (à época)... que se perderam!
O que fazer, culpar a gestão anterior? Dizer que sentia muito, mas que estava chegando agora e não sabia?
Um dia amargo. Dia de dizer que lamentava muito, mas que havia perdido os originais.
Ouviu o que jamais imaginou... mas era ele o responsável pelos documentos.
É claro que na reunião interna o jogo foi aberto!
Mas era chegada a hora de assumir o próprio erro... o que em um trabalho público ou privado, com o seu envolvimento, é problema seu, sim! Mesmo que esteja vindo de outra gestão!
A cena que quero ver passa por aí, como aquele atacante marcado por três da retranca, mas que está pedindo a bola. O que não dá mais pra aguentar é o "eu não sabia", ou o "não fui eu!"
Abraços,
Tarcizio

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6/11/06 01:18 delete

Amigos;

Maurício - Analíse e observações extremamente inteligentes! Continue suas intervenções, por favor!

Franklin - Realmente, muita coisa está de cabeça para baixo no país. Confiemos que Deus ainda será misericordioso conosco e permitirá que algumas se arrumem.

Norma - Compartilho da tristeza, mas não vamos desanimar. Afinal, nossa confiança é em Deus e não nos homens. Obrigado por suas palavras amávei e por sua sempre oportuna intervenção.

David - Na realidade, a palavra certa é elucubrações. O "o" saíu indevidamente. O equivalente inglês é lucubration, que significa - "laborious cogitation"!! ;-)

Caro Tarcízio - Belo exemplo. Acho que sei quem era o editor assistente a quem você se refere... Realmente, nada irrita mais no nosso dia-a-dia, em qualquer casa comercial, empresa, ou blacão que você aporte, quando a resposta é: "não sei de nada", "a responsabilidade não é minha", "a culpa é de fulano, que não está aqui hoje", "isso é com outro departamento". Infelizmente, em nossa "ética contemporânea" respostas como esta são cada vez mais comuns - e nas esferas governamentais, cada vez mais desculpadas.

um abraço a todos.

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Anônimo
AUTOR
6/11/06 14:44 delete

Pergunta??

Será que o Brasil vai mal porque o Lula esta no poder?
Ou porque é um problema estrutural?
Será que o outro candidato daria colocaria o Brasil nos eixos...

Abraços
Marcus...

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2/1/07 17:49 delete

Caro Marcus:
Desculpe a resposta bastante tardia. Obviamente os problemas estruturais nossos são tremendos. Não é tanto questão de candidato esse ou aquele, mas é questão de quem estiver lá ter a coragem de tomar decisões éticas, assertivas e corajosas. Não deveríamos sucumbir à idèia de que "foi sempre assim", ou, "todo mundo faz", ou "todo mundo não faz". Precisamos de estadistas-gerentes. Estadistas, para tomarem decisões que visem o longo prazo e não somente o ganho político imediato (ou o próprio bolso, o que é pior). Gerentes, que tenham competência de analisar, administrar, de delegar, de cobrar, de apontar os caminhos. Nesse meio tempo, como cidadãos, devemos requerer isso - de quem quer que seja que esteja no poder, ao mesmo tempo que intercedemos por ele, como nos manda as Escrituras; bem como devemos votar objetivando pessoas que se aproximem desse perfil e cujas ideologias não contradigam abertamente certos pontos inegociáveis colocados como "certos" e "errados" nas Escrituras.
É minha opinião.
Solano

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