Na Páscoa, procuramos relembrar o sacrifício de Jesus Cristo na Cruz do Calvário e a sua gloriosa ressurreição, vencendo a morte e assegurando a salvação para o seu povo. É verdade que a páscoa é, na realidade, um feriado judaico e não cristão. Remonta à lembrança de como, no Egito, o Anjo passou “por cima” (de onde vem o nome Páscoa) das casas dos Israelitas, poupando os primogênitos que viviam naquelas residências em que os umbrais das portas tinham o sangue do cordeiro espargido sobre eles. O significado e lembrança era, portanto, de libertação, de salvação; No entanto, a ocasião está intimamente ligada à celebração da Santa Ceia e nos remete à morte e ressurreição de Cristo, ao derramar do seu próprio sangue, que cobre e salva o seu povo, e às promessas de sua segunda vinda.
É nesse sentido que a Páscoa tem feito parte de calendários cristãos de um grande segmento do povo de Deus, inclusive de reformadores, como Calvino. Em Genebra os magistrados determinaram que a Ceia fosse celebrada no Natal, na Páscoa, no Pentecostes e na Festa das Colheitas [Vd. John Calvin, “To the Seigneurs of Berne”, John Calvin Collection, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), nº 395, p. 163. Vd. também: William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, p. 141].
Menção à Páscoa é também feita em outros documentos reformados como no Catecismo de Heidelberg (Pergunta 45) e na decisão do Sínodo de Dordt (1578), onde lemos: “... considerando que outros dias festivos são observados pela autoridade do governo, como o Natal e o dia seguinte, o dia seguinte à Páscoa, e o dia seguinte ao de Pentecostes, e, em alguns lugares, o Dia de Ano Novo e o Dia da Ascensão, os ministros deverão empregar toda a diligência para prepararem sermões nos quais eles, especificamente, ensinarão à congregação as questões relacionadas com o nascimento e ressurreição de Cristo, o envio do Espírito Santo, e outros artigos de fé direcionados a impedir a ociosidade”.
Em adição a essa questão histórica, a celebração da Páscoa tem fornecido aos evangélicos oportunidades para a veiculação da mensagem cristã, mencionando a morte e a ressurreição de Cristo, em ações de evangelização e através de mensagens cantadas.
É verdade que a época é também caracterizada por diferentes símbolos, guloseimas e celebrações seculares, que nada têm a ver com a vida, morte e ressurreição de Cristo. Como cristãos, devemos ter uma filosofia de vida (uma cosmovisão) pela qual o mundo e as realidades espirituais são compreendidas; uma visão de vida sempre firmada na revelação especial – a Palavra de Deus. Nesse sentido, devemos procurar nos divorciar do apoio aos apelos consumistas (nessas e em outras datas) e de simbologias que podem ser aberrantes, ainda que tradicionais.
Entendendo esta época e ocasião biblicamente, no espírito da Teologia da Reforma, celebremos com alegria a Ressurreição de Cristo; a morte da morte, na morte de Cristo! Feliz Páscoa!