Como disse em post anterior, fui participar de uma conferência sobre o assunto do neopaganismo. Fui revelado em muitos 'mistérios', alguns dos quais eu não tinha a menor idéia. Entre os temas que foram abordados estavam a atual mistura entre ciência e religião, a mídia e as novas religiões (ficção científica) e até um estudo sobre o pessoal ligado em ufologia (creiam, religiões inteiras adorando os extra-terrestres).
Creio que em boa medida ainda estamos em uma fase em que subestimamos ‘A Força’ e seu lado espiritual. Por exemplo, você sabia que em 2001 a religião “Jedi” alcançou uma vaga na listagem do censo inglês quando 390.ooo pessoas listaram a sua religião como “Jedi”? É isto mesmo: entre as religiões que aparecem para serem marcadas no censo existe a religião Jedi! Esse pessoal não precisa mais marcar a coluna ‘outras’, mas podem marcar o código para a ‘fé Jedi’ (a quarta maior religião na inglaterra). Pode ser que muito disso seja até brincadeira (houve até campanha na internet), mas muito não é! O conceito do maniqueismo dualista sempre foi uma idéia atrativa no mercado das religiões e continua sendo, agora promovido pela mídia de massa que atinge milhões de pessoas em todos os cantos do mundo com filmes como Star Wars, Matrix e outros de menor impacto. Ora, a religião Jedi, se segue a sua tradição segundo George Lucas, tem tudo a ver com uma força espiritual mística, com o controle desta força e com a comunicação com os mortos que anteriormente sabiam dominar a força. Afinal, tudo é uma questão de ‘conhecimento’ (gnose) da força e de evolução do espírito. Poderia dizer muito a respeito de Matrix e o antigo Contatos Imediatos do Terceiro Grau, mas seria chover no molhado. Com isto não quero dizer que estes filmes devem entrar na lista dos demonizados (por sinal, 7 entre 10 na lista dos presentes que meu filho pediu nesta viagem estavam relacionados a Star Wars – incluindo o hediondo General Grivious!).
O fato é que o conceito de espiritualidade no ocidente vem mudando em muitas frentes, inclusive através da ciência, que, tendo retirado do mercado de idéias qualquer possibilidade de uma revelação porposicional legitimamente divina, não conseguiu substituir com o racionalismo a necessidade espiritual do homem. Acontece que muitos cientistas modernos advogam uma espécie de ‘nova ciência’ que mistura conceitos científicos com misticismo ocidental e oriental e ensinam estes conceitos como ciência. É só ligar a tv. O que muitos não sabem, no entanto, é que qualquer ciência é guiada por uma cosmovisão e seus pressupostos. O problema, no entanto, é que muitos dos ‘novos cientistas’ são recebidos pelo público como cientistas simplesmente, sem que seus pressupostos sejam clarificados. E ai existe uma grande diferença de tratamento. Se um cientista cristão ensina algum tipo de criacionismo, seja o Inteligent Design ou outro, imediatamente é taxado de fundamentalista religioso. Mas será que as idéias evolucionistas de Darwin e seus defensores eram ‘neutras’, não guiadas por um ou vários pressupostos, inclusive a idéia de que a velha religião cristã com sua visão de mundo precisava ser desbancada? James Herrick aponta bem para esta questão em seu livro, que já indiquei em outro post, The Making of the New Spirituality.
E o liberalismo, o que tem a ver com isto? Bem, pense na idéia da ‘ciência das religiões’. Será que é possível que alguém estude esta ciência de maneira neutra? Novamente, a resposta é não. Como qualquer ciência, este estudo traz em sua bagagem os seus pressupostos. Logo, quando um proponente do falso cristianismo (vede o último post do Augustus) faz uma análise do cristianismo na perspectiva da ciência das religiões, o faz com ferramentas que carregam seus pressupostos. Nesse caso, o cristianismo ortodoxo torna-se a prisão da mística religiosa e o elemento de coerção social no Ocidente. O Deus da Bíblia torna-se ‘o sagrado’, ‘o divino’, ‘o mysterium’ e a única saida real é a fuga da racionalização em direção a uma religiosidade mágica. Voltamos ao velho paganismo!
Será que estas coisas estão longe de nós? Um exemplo interessante: no site da Youth for Christ (Mocidade para Cristo), inglaterra (http://www.yfc.co.uk/General/index.htm) você vai encontrar uma oportunidade sem igual de fazer uma viagem espiritual pelo ‘labirinto’ (http://www.yfc.co.uk/labyrinth/online.html), uma prática mística medieval. Pss, não esqueça de tirar os sapatos...
16 comentários
comentáriosOlá, Rev. Mauro.
ResponderTenho acessado este blog já há uma semana e, simplesmente, fico feliz que, diferente de outros sites "evangélicos", aqui pode-se ler post de conteúdo. Não se tem "espiritualidade" emocionalista tais como nos irmãos pentecostais. Mas, tem-se aquilo que os Escolásticos Protestantes, como Turrentin, faria: Razão e Emoção subsmissos ao Espírito de Deus. Isto demonstra que os "Crentes" podem ser o que o Schaffer já havia dito: "Usar a Racionalidade sem ser Racionalista".
Quanto ao seu artigo, permita-me citar algumas obras em português que podem esclarecer a questão da perseguição religiosa dentro da Ciência: "A Alma da Ciência", onde demonstra os pressupostos religiosos e filosóficos dos antigos e modernos cientistas; "A Religião e o Desenvolvimento da Ciência Moderna" onde mostra a contribuição da Religião Cristã, ou mais especificamente, da Bíblia e seu conceito de Deus e Natureza como o fundamento da Ciência Moderna; "Evolução: Um livro texto Crítico" que no primeiro capítulo apresenta a questão epistemológica do Naturalismo - Evolucionista comprovando que o mesmo não é Ciência, mas Filosofia e Religião. Acredito que os escrito de Henry Morris, Duane Gish, Michael Behe(A Caixa Preta de Darwim), etc., também são úteis para o debate. Porém, a mídia deixa claro que não é contraditório ser cientista e religiosos; é Contraditório ser Cientista e CRISTÃO! Como diz o Peter Jones(A Ameaça Pagã) que a luta do Liberalismo não é contra a Religão, mas contra a Religião Cristã!
A Mídia (diga-se de passagem, Esquerdista, Anticristã, mas não antireligiosa; fundamentada nos conceitos gramscistas, trotskistas, leninistas e outros "istas"; mas isto é assunto para outro dia) promove constantemente a "Orientalização" do Ocidente. Junte-se a isso a "Nova Espiritualidade"(Neo-Pagã). É preciso cautela e discernimento para educar os nossos filhos, os membros de nossas igrejas, principalmente os que estão indo para os Centros de Doutrinação Esquerdistas, chamadas de "Universidades Federal". É por isso que defendo a necessidade de se educar os filhos e membros de igrejas com alimento sólido, demonstrando que ser Protestante é cumprir, além do Mandato Social e Espiritual, também o Mandato Cultural! Chega de ficarmos acomodados, precisamos denunciar, sermos apologetas.
Bom, desculpe o tamanho do comentário, mas é que, ultimamente, tenho reações "Naumica" por contemplar um "Evangelicalismo" ausente e omisso.
Deus continue abençoando a você, juntamente com o Rev. Augustus e Prof. Solano.
Continuem a prover alimentos sólidos, contemporâneo e, principalmente Biblico - Reformado.
G d S
Certa vez ouvi em sala de aula:
Responder" A salvação cristã é pela via da espiritualidade (...) na pós-modernidade é impossível falar de Jesus como único salvador racionalmente (...) seria desonestidade intelectual".
Interessante ver também professores de ciência, biologia e física frequentando religiões orientais e grupos afins.
Então os professores de seminário e pastores que abraçam o liberalismo não encontram mais espaço com o discursso racionalista então acabam passando para o misticismo e querem correlacionar "fé cristã" com espiritualidade oriental como gostaria Paul Tillich no final de sua vida.
Assim os liberais pegam uma carona nesse trem da salada religiosa!!!!!!
Mais um comentário para descontrair:
ResponderAcabei de ver uma reportagem agora sobre aquele padre na Bahia que mistura missa com dança indígena e culto afro-brasileiro um exemplo prático do que foi escrito na postagem, porém meu exemplo é ala brazuca!!!!!!
Olá pr. Mauro
ResponderAo ler seu post, quase que instantaneamente lembrei-me de uma frase dita por G. K. Chesterton: "Quando o homem não acredita mais em Deus, não é que ele não acredita em mais nada; aí sim é que ele acredita em qualquer coisa."
Ainda bem que "o lado negro da força" não prevalecerá sobre a Igreja do Senhor.
Abraço!
Obrigado, Mauro, por me ajudar no trabalho de limpar a República desses Jedis que pensam que são deuses.
ResponderPrezado G de S,
ResponderSem querer entrar numa de teoria da conspiração, é verdade que o cristianismo bíblico é, muitas vezes, perseguido nos meios acadêmicos. Autores como Pearcey e Hooykas são pouco lidos ou mesmo desconhecidos (pode ser a que Nancy Pearcey venha ao Brasil em futuro próximo!), e quando alguém sugere a leitura os super intelectuais tendem a dar uma rebaixada no conteúdo. Tivemos várias matérias em revistas de circulação nacional que simplesmente tentam avacalhar com qualquer conceito de uma ciência com cosmovisão cristã. Outras cosmovisões são aceitáveis (veja o best-seller, Fritjof Capra in "O Tao da Física" e dezenas de outros dando entrevistas em programas de alcance mundial). Para o grande público fica a imagem de cristianismo = obscurantismo. Temos muito o que fazer, ensinar, publicar e, em tudo, orar!
Obrigado pela sua visita ao nosso blog.
Mauro
Prezado Vader,
ResponderQue a força esteja com você e que a república fique tranquila! Cuidado, ande sempre com seu sabre, Griveous anda ao redor, I can feel it!
Desculpa ai pessoal, mas o linguajar é só para os iniciados. E como dizia Ioda, "Presbyterian my real religion is".
Juan,
ResponderDe fato, a melhor ilustração é a salada, uma mistura de sabores, densidades e tamanhos, gerando um prato que pode parecer agradável aos olhos, algo bom de se comer. Sabe, quando eu vejo,o agora famoso padre, eu até entendo. Afinal, muitas manifestações do catolicismo brasileiro foram, desde sempre, uma mistura da velha Roma com o animismo africano e brasileiro. Mas quando olho para um 'liberal contemporâneo' no meio da igreja evangélica, tentado desesperadamente libertá-la daquilo que entende ser suas amarras, eu me entristeço. Entristeço-me porque vejo um aproveitador da boa da fé, que nem sempre é claro no que diz para todos. Têm discursos dúbios, públicos selecionados para determinadas propostas.
Quando vou pregar, creio que uma das minhas mais fundamentais missões é deixar claro a todos os que ouvem a mensagem e seus pressupostos. O liberal, dentro da igreja evangélica, não pode agir assim. Tem que ser sorrateiro, não pode dizer sempre a que veio... só as vezes.
abs
Mauro
Muito bom esse post! Fiquemos de olhos abertos, porque, se a "conspiração" contra o cristianismo começou no Éden, hoje ela está cada vez mais sofisticada e abusada. :-)
ResponderPrecisamos desenvolver mais entre os cristãos protestantes a consciência de uma luta (espiritual E racional) contra a cultura secular. Senão, corremos mesmo o risco de deixar "colar" essa pecha de anti-intelectualismo entre nós.
Abraços!
Prezado Eliot,
ResponderPois é, e toda a falta fé é sempre comprovada por algum tipo de idolatria, seja manifestada fora do coração ou dentro. Vejo que o neo-liberalismo tem uma tendência de querer mostrar esta idolatria do lado de fora do coração, pela mistura com outras religiões.
abs
Mauro
Norma,
ResponderO grupo com o qual estive reunido na Califórnia apresentou, vindo de várias matizes diferentes, a preocupação de que o cristianismo evangélico contemporâneo não está se preparando adequadamente para o evangelismo no pós-modernismo. Durante algumas décadas nos preparamos e desenvolvemos a cultura de evangelização para o modernismo, ainda com categorias mais racionais. Os tempos mudaram e as estratégias também precisam ser adaptadas.
Temos que lutar contra a idéia de que somos anti-intelctuais, assim como o anti-intelectualismo propriamente dito dentro de nossas fronteiras, fruto que colhemos da cultura evangélica dos sécs. XVII e XIX. Se por um lado o cristianismo não é anti-intelctual, muitos quem ombreiam conosco, acabam sendo. Dura constatação, the scandal of the evangelical mind. Há tanto a fazer…
Oi, Mauro,
ResponderAcredito que a situação na igreja melhoraria um pouco se pudéssemos investir na educação, entre nós, para rastrear esse anti-intelectualismo. Um bom curso de história das idéias voltado para o cristianismo seria maravilhoso. Poderíamos ensinar o que foi o racionalismo cartesiano e explicaríamos que, quando a "razão por excelência" passou a ser a razão cartesiana, científica e materialista, a fé teve que ir se abrigar no "outro lado" da esquizofrenia: o lado do subjetivismo, da experiência sensível sem abstração. Os teólogos liberais são perfeitos exemplos disso: a própria inexistência da fé é motivo de orgulho intelectual para eles. Adotam a razão científica ou cética como única racionalidade possível, enquanto os que crêem acabam sendo anti-intelectualistas na medida em que têm medo de abstrair conteúdos da fé, como se o pensamento se opusesse intrinsecamente à experiência com Deus.
Sim, é um trabalho enorme, porque ficamos à margem das elaborações intelectuais, e agora há um cabedal gigantesco de implícitos nas teorias seculares que precisamos conhecer para combater, além de produzirmos nossas próprias teorias. O cartesianismo grudou mesmo na mentalidade moderna, e desfazer essa esquizofrenia, unindo inteligível e sensível, já é uma tarefa de gigante. Deus nos ajude!
Olá Norma,
ResponderVc. disse...
"Acredito que a situação na igreja melhoraria um pouco se pudéssemos investir na educação, entre nós, para rastrear esse anti-intelectualismo."
Creio que há diferentes níveis em que a questão da educação precisa ser trabalhada entre nós. Precisamos, mesmo, começar a trabalhar desde as bases, da educação infantil. Faço parte de uma associação (ACSI http://www.acsi.com.br) que luta para a promoção e estabelecimento de uma educação realmente cristã no Brasil. Augustus, Solano e eu temos militado neste ministério 'emergente' aqui no Brasil.
"Um bom curso de história das idéias voltado para o cristianismo seria maravilhoso. Poderíamos ensinar o que foi o racionalismo cartesiano e explicaríamos que, quando a "razão por excelência" passou a ser a razão cartesiana, científica e materialista, a fé teve que ir se abrigar no "outro lado" da esquizofrenia: o lado do subjetivismo, da experiência sensível sem abstração."
Perfeito! Neste caso, deveríamos explorar, também, a razão de termos chegado onde chegamos. Que a história do pensamento nos levou para este lado, já detectamos. O que me preocupa é ver que a reação relevante a isto foi mínima e os pensadores que deveriam manter firme a fé, não chegaram a ser expressivos na cultura da época e depois. O cristianismo fundamentalista (segundo a boa descrição do Augustus), retirou-se do mercado das idéias, das artes, da educação, da cultura em geral. Nos tornamos nulos na produção para além dos muros do gueto. Costumo perguntar aos alunos: citem influentes pensadores, pintores, músicos, cientistas, etc., cristãos dos últimos dois séculos. Geralmente o ambiente fica sepulcral...
"Os teólogos liberais são perfeitos exemplos disso: a própria inexistência da fé é motivo de orgulho intelectual para eles. Adotam a razão científica ou cética como única racionalidade possível, enquanto os que crêem acabam sendo anti-intelectualistas na medida em que têm medo de abstrair conteúdos da fé, como se o pensamento se opusesse intrinsecamente à experiência com Deus."
É o que citei em outro post: The Scandal of the Evangelical Mind (Grand Rapids: Eerdmans, 1995); Noll and Harry Blamires. Quem também analisa bem a questão é Keneth Myers em All God's Children and Blue Suede Shoes: Christians and Popular Culture.
So help us God.
abs
Mauro
Oi, Mauro,
ResponderÉ isso mesmo, historicamente os cristãos fundamentalistas fizeram como o avestruz e enfiaram a cabeça na terra: como você disse, retiraram-se "do mercado das idéias, das artes, da educação, da cultura em geral. Nos tornamos nulos na produção para além dos muros do gueto". Muitas vezes me pego pensando no porquê disso e não encontro resposta além dessa: o mundo adotou para si a razão científica e desprezou a fé, e diante disso os cristãos vestiram a carapuça e se recolheram! (Talvez o personalismo de Mounier tenha feito essa resistência, mas eu confesso não ter muita vontade de abordar essa corrente, talvez por intuir que ela já trazia em si algo de subjetivista. Mas é preciso confirmar isto.) De forma geral, a reação que houve ao cartesianismo não partiu de nós, mas do secularismo - áreas de Letras e Filosofia principalmente - , e não procurou reunir o que foi separado, mas simplesmente exaltar, da mesma forma esquizofrênica, a ponta até então desprezada da separação: o sensível, o subjetivo. Hoje, o subjetivismo tem dominado a cultura e, de novo, não há um movimento cristão expressivo para mostrar a irrazoabilidade disso. E, quando cristãos resolvem se meter em cultura, é para adotar o discurso de todo mundo, querendo parecer mais "intelectualizados" e abrindo mão da especificidade da doutrina e da fé, defendendo o mesmo subjetivismo!
A questão é que os cristãos acabaram mesmo internalizando esse anti-intelectualismo, e agora é preciso um esforço monstro para reverter isso. Assim, parabéns pela ACSI. Que possamos criar outras instâncias de produção do saber dentro do cristianismo. Eu, particularmente, me preocupo muito com o meio acadêmico e a formação de professores. As idéia anticristãs seculares estão ganhando terreno demais e até cristão as defende, sem saber o que está fazendo. Precisamos mesmo reverter esse quadro. Com certeza os EUA estão melhores quanto a isso (não na academia, mas em paralelo) e com eles temos muito a aprender.
Obrigada pelas sugestões de leitura! Abração!