O aportuguesamento da palavra inglesa “snooker” nos deu “sinuca” – o famoso jogo da mesa de feltro, que na minha infância era sinônimo de malandragem. Quando a bola com a qual se joga fica encostada na caçapa, ou seja, no bico da mesa, temos a “sinuca de bico” – consagrada metáfora que define uma situação sem saída.
Pois bem, ficamos numa sinuca de bico quando temos que explicar alguns termos utilizados no Credo dos Apóstolos! Não, não estou me referindo à enigmática expressão “desceu ao Hades”. Sei que ela necessita de mais ou menos uma hora e meia de exposição e sólida exegese para explicar o seu significado aos fiéis recitadores do Credo.
Meu problema está mais à frente. Quando eu era moleque, recitava – “creio na Santa Igreja Católica” – aí o pastor, no final ou início da recitação do Credo, dava a explicação clássica, de que “católica” significa universal. Ele explicava que ninguém estava falando da igreja do padre, etc., etc. Os catecismos mais sofisticados tinham até uma nota de rodapé (novidade, naquele século, depois avidamente popularizada pelo Dr. Hérmisten Maia Pereira da Costa, em seus escritos) explicando isso.
Com o passar dos anos, decidiu-se (alguém sabe qual foi o Concílio?) descartar o “católica” e, inocentemente, partir já para “universal”. Milhares de cópias ficaram perdidas e encalhadas nos estoques das editoras, mas todos os Credos dos Apóstolos disponíveis foram grafados, a partir daí: “... creio na santa igreja universal”. Os pastores suspiraram aliviados, pois não tinham mais que explicar e os fiéis sorriam com a compreensão plena do que diziam.
Mal sabiam, os idealizadores da nova expressão, sobre a metamorfose que o Edir Macedo estava sutilmente planejando nos porões de um galpão, no Rio de Janeiro. Planejava um grande movimento objetivando a explosão populacional dos fiéis, com mezinhas místicas “a la Roma” e com uns atrativos materialistas aqui e ali.
Resultado: atualmente, depois que recitarem o Credo dos Apóstolos em suas igrejas, não esqueçam de explicar (no início ou no final – tanto faz), que “creio na santa igreja universal” não tem nada a ver com o Edir Macedo; que “universal” significa católica e não os templos que se vêem por aí; que não temos sanção para chutar santas, etc., etc.
Essa explicação ainda vai ficar clássica...
Como Deus nos protege?
Há um dia
13 comentários
comentáriosSolano, adorei a criatividade e humor com que vc abordou tal questão. Bem ao sabor das crônicas! Eu sempre leio as postagens daqui. Ótimas!! Penso que teologia deveria ser vista como poesia. E poseia, como teologia. Afinal, a forma e a essência se harmonizam assim, e no cotidiano. Abraço!
ResponderRubem: Obrigado pelas palavras de estímulo. O objetivo é olharmos a vida com um misto de seriedade e descontração, pois Deus nos legou ela assim e nos fez assim.
ResponderEle nos deu a capacidade de interagir com as questões existenciais não só com sombria seriedade, mas com alegria e criatividade. Como você diz, sem esquecer de priorizar o que representa a essência, trabalhar um poco a forma faz muito bem!
Um abraço,
Solano
Solano,
ResponderEsse é um dos tristes exemplos de reação desnecessária (e até mesmo incorreta!) ao Catolicismo Romano, expresso inclusive na utilização da própria palavra “credo”, tida por muitos como algo inerentemente católico.
Apesar do termo universal ser “mais bíblico” do que católico, posto que o primeiro aparece literalmente na Escritura, com referência à Igreja, não creio que tenha sido esse o motivo de se mudar o credo.
Um exemplo do espírito anti-católico (não estou me referido às oposições corretas e até mesmo obrigatórias, devido à nossa fidelidade às Escrituras!) é o fato de que as editoras ditas evangélicas publicam materiais de Benny Hinn, Edir Macedo, Kenneth Hagin, Paul Young Cho, mas qual delas ousa publicar algo da pena do grande Santo [Santo tanto quanto Jonathan Edwards, Spurgeon, Moody e os autores desse blog] Agostinho?
Um abraço,
Felipe Sabino
P.S.: Espero que ninguém rejeite a doutrina da Trindade, pois a melhor obra já escrita sobre a mesma ainda é, na minha opinião, a de Agostinho de Hipona. :-P
Olá Solano, tenho entrado no blog com frequência e tem sido de muita utilidade em minha vida! Todas as questões a respeito do liberalismo e todos os textos realmente tem sido importantes para a minha conscientização cristã! Agradeço a Deus por suas vidas, e continuem escrevendo ! Que Deus os abençoe!
ResponderMuito bem. É o caso clássico da forma atrapalhando o conteúdo ou das convenções que às vezes bloqueiam o horizonte. Escrevi algo sobre esse bloqueio hoje em meu blog www.pintorcelestial.blogspot.com
ResponderQuerido Solano,
ResponderSemanalmente venho aqui "espiar" seu blog. Os textos são muito bons. Esclarecedores, confortantes, inteligentes e ora engraçados, como este que você escreveu. hehehe
Obrigado, além de outras coisas, pelas risadas.
Um abraço
Hehehehehe, que coisa horrível!
ResponderE se mudassem para "creio na Santa igreja de Cristo", seriam necessárias novas explicações para esclarecer que o credo não se refere àquele pessoal da seita Igreja de Cristo...
É fogo, viu...
Abração!
Caro Mário:
ResponderDei uma olhada no seu Blog. Bela forma de texto emoldurando ótimo conteúdo. Continue "pintando" com palavras em cores tão belas!
Solano
Vocês sabem que eu sou batista e não me recordo de tê-lo lido, ou ouvido, ou recitado em qualquer igreja da minha denominação? Só me aproximei dele quando me aproximei da teologia reformada, e por conseguinte, da teologia clássica e seus credos.
ResponderMuito legal o texto.
Abraços, Solano.
Gustavo, e eu que era da Presbiteriana Independente e sempre ouvi o Credo e as explicações (o termo era católica), mas meu pastor tinha uma inquietante união (esse pastor ainda tem) com a Igreja Católica Romana.
ResponderAcreditam que ele chegou a levar um Padre para pregar na igreja que pastoreava? Imaginem comop ficou a cabeça dos membros da igreja.
Mas voltando ao texto, está muito legal.
Solano;
ResponderEu não resolvi ((ainda) que pretensão!) esse problema. Mas a ordem das palavras tem me ajudado com alguns resultado positivos:
- Creio na Igreja: santa e católica (ou, se quiser, universal).
Piorou quando um amigo resolveu me copiar e inovar. O dele ficou: - Creio na Igreja: Santa e Global!
Gustavo e Davi: Obrigado.
ResponderFolton: "Igreja Santa e Global" - éssa é ótima - e a expressão está bem atualizada! Acho sua solução melhor, mas, se vamos mexer nas palavras, alguém pode querer ser mais criativo e falar da "santa da igreja", aí vai tudo para o brejo...
Solano
Oi, Solano,
ResponderSó vc mesmo: "novidade, naquele século, depois avidamente popularizada pelo Dr. Hérmisten Maia Pereira da Costa, em seus escritos".
:-)
Otimos posts, prá variar!
Abs,
Franklin