(versão revisada depois de muitas pauladas)
Calvinistas estão entre as tradições religiosas mais mal compreendidas da história da Igreja. Sei perfeitamente que alguns deles fizeram por merecer. Há calvinistas que defendem suas convicções sem caridade, gentileza e sensibilidade para com quem diverge. Outros, não conseguem ouvir quem não seja calvinista. Não considero essas atitudes como intrínsecas ao calvinismo. As pessoas são assim porque lhes faltam domínio próprio e humildade, e não porque são calvinistas. Não há nada no calvinismo que exija que calvinistas sejam rudes, intransigentes, mal educados, excessivamente críticos e arrogantes.
Boa parte das acusações que têm sido feitas aos calvinistas, além de serem generalizações injustas, parecem proceder de uma falta de conhecimento adequado do que os calvinistas realmente acreditam. Como não falo por todos, vou dizer o que eu penso sobre alguns desses pontos mais polêmicos.
Para começar, o calvinismo não é um bloco monolítico. Há várias correntes dentro dele. Todas se vêem como legítimas herdeiras do legado de João Calvino, desde presbiterianos liberais até puritanos modernos. Considero-me um calvinista dentro da tradição teológica que elaborou e até hoje mantém a Confissão de Fé de Westminster, muito similar às demais confissões reformadas dos batistas, congregacionais, episcopais e reformados.
1 – Creio que Deus predestinou tudo o que acontece, mas não sou determinista. O Deus que determinou todas as coisas é um Deus pessoal, inteligente, que traçou seus planos infalíveis levando em conta a responsabilidade moral de suas criaturas. Ele não é uma força impessoal, como o destino. Não creio que os atos da vontade e da liberdade humanas sejam mera ilusão e que nossa sensação de liberdade ao cometê-los seja uma farsa, como o determinismo sugere. Eu acredito que as nossas decisões e escolhas são bem reais e que fazem a diferença. Elas não são uma brincadeira de mau gosto da parte de Deus. Os hipercalvinistas são deterministas quando negam a responsabilidade humana ou pregam a passividade dos cristãos diante de um futuro inexorável. Por desconhecer essa distinção, muitos pensam que todos os calvinistas são deterministas e que eles vêem o homem como um mero autômato.
2 – Creio que Deus é absolutamente soberano e onisciente sem que isso, contudo, anule a responsabilidade do homem diante dele. Para mim, isso é um mistério sem solução debaixo do sol. Não sei como Deus consegue ser soberano sem que a vontade de suas criaturas seja violentada. Apesar disto, convivo diariamente com essas duas verdades, pois vejo que estão reveladas lado a lado nas Escrituras, às vezes num mesmo capítulo e até num mesmo versículo!
3 – Encaro a relação entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana como sendo parte dos mistérios acerca do ser Deus, como a doutrina da Trindade e das duas naturezas de Cristo. A soberania de Deus e a responsabilidade humana têm que ser mantidas juntas num só corpo, sem mistura, sem confusão, sem fusão e sem diminuição de ambas.
4 – Creio que Deus predestinou desde a eternidade aqueles que irão se salvar e, ao mesmo tempo, oro pelos perdidos, evangelizo e contribuo para a obra missionária. Grandes missionários da história das missões eram calvinistas convictos. Calvinistas pregam sermões evangelísticos e instam para que os pecadores se arrependam e creiam. Se quiserem um bom exemplo, leiam O Spurgeon que Foi Esquecido, de Iain Murray, publicado pela PES. Nunca as minhas convicções sobre a predestinação me impediram de ir de porta em porta, oferecendo o Evangelho de Cristo a todos, sem exceção. Após minha conversão, e já calvinista, trabalhei como evangelista e plantador de igrejas durante vários anos, em Pernambuco.
5 – Creio que Deus já sabe, mas oro assim mesmo. Sei que ele ouve e responde, e que minhas orações fazem a diferença. Contudo, sei que ao final, através de minhas orações, Deus terá realizado toda a sua vontade. Não sei como ele faz isso. Mas, não me incomoda nem um pouco. Não creio que minha oração seja um movimento ilusório no tabuleiro da predestinação divina.
6 – Não creio que Deus predestinou todos para a salvação. Da mesma forma, não creio que ele foi injusto nem fez acepção de pessoas para com aqueles que não foram eleitos. Não creio que Deus tenha predestinado inocentes ao inferno, pois não há inocentes entre os membros da raça humana. E nem que ele tenha deixado de conceder sua graça a pessoas que mereciam recebê-la, pois igualmente não há pessoa alguma que mereça qualquer coisa de Deus, a não ser a justa condenação por seus pecados. Deus predestinou para a salvação pecadores perdidos, merecedores do inferno. Ao deixar de predestinar alguns, ele não cometeu injustiça alguma, no meu entender, pois não tinha qualquer obrigação moral, legal ou emocional de lhes oferecer qualquer coisa. Penso assim pois entendo que a Queda de Adão veio antes da predestinação na seqüência lógica (não na seqüência histórica) em que Deus elaborou o plano da salvação.
7 – Creio que Deus sabe o futuro, não porque previu o que ia acontecer, mas porque já determinou tudo que acontecerá. Por isso, entendo que a presciência de que a Bíblia fala é decorrente da predestinação, e não o contrário. Quem nega a predestinação e insiste somente na presciência de Deus com o alvo de proteger a liberdade do homem tem muitos problemas. Quem criou o que Deus previu? E, se Deus conhece antecipadamente a decisão livre que um homem vai tomar no futuro, então ela não é mais uma decisão livre. Nesse ponto, reconheço a coerência dos socinianos e dos teólogos relacionais, que sentiram a necessidade de negar não somente a soberania, mas também a presciência de Deus, para poderem afirmar a plena liberdade humana.
8 – Creio que apesar de ter decretado tudo que existe desde a eternidade, Deus acompanha a execução de seus planos dentro do tempo, e se comunica conosco nessa condição. Quando a Bíblia fala de um jeito que parece que Deus nem conhece o futuro e que muda de idéia o tempo todo, é Deus falando como se estivesse dentro do tempo e acompanhando em seqüência, ao nosso lado, os acontecimentos. É a única maneira pela qual ele pode se fazer compreensível a nós. Quem melhor explica isso é John Frame, no livro Nenhum Outro Deus, que vai ser lançado em março pela Editora Cultura Cristã. Minha esposa teve o privilégio de traduzir e eu de prefaciar essa obra, que será a primeira em português a combater a teologia relacional.
9 – Creio que Deus é soberano e bom, mas não tenho respostas lógicas e racionais para a contradição que parece haver entre um Deus soberano e bom que governa totalmente o universo, por um lado, e por outro, e a presença do mal nesse universo. Diante da perversidade e dos horrores desse mundo, alguns dizem que Deus é soberano mas não é bom, pois permite tudo isto. Outros, que ele é bom mas não é soberano, pois não consegue impedir tais coisas. Para mim, a Bíblia diz claramente que Deus não somente é soberano e bom – mas que ele é santo e odeia o mal. Ao mesmo tempo, a Bíblia reconhece a presença do mal do mundo e a realidade da dor e do sofrimento que esse mal traz. Ainda assim, não oferece qualquer explicação sobre como essas duas realidades podem existir ao mesmo tempo. Simplesmente pede que as recebamos, creiamos nelas e que vivamos na cereteza de que um dia ele haverá de extinguir completamente o mal e seus efeitos nesse mundo.
10 – Estou convencido que o calvinismo é o sistema doutrinário mais próximo daquele ensinado na Bíblia, ao mesmo tempo em que confesso que ele não tem todas as respostas. Leio autores das mais diferentes persuasões teológicas. Às vezes tenho sido mais desafiado e tenho aprendido mais com livros de outras tradições. Não deixo de ouvir alguém somente porque não é calvinista. Há calvinistas que não são assim. Contudo, é uma injustiça acusar a todos de estreiteza, sectarismo, obscurantismo e preconceito.
Deve ter ficado claro que um calvinista, para mim, é basicamente um cristão que tem a coragem de aceitar as coisas que a Bíblia diz sobre a relação entre Deus e o homem e reconhecer que não tem explicações lógicas para elas. Para muitos, esse retrato é de alguém teologicamente fraco e no mínimo confuso. Mas, na verdade, é o retrato de quem deseja calar onde a Bíblia se cala.
Atitudes para com o nosso Rei-Pastor
Há 4 horas
50 comentários
comentáriosAugustus,
ResponderAssino em baixo de todos estes itens, inclusive do 6º, que é tão controvertido entre os calvinistas.
Confissões calvinistas já levaram alguns à morte no Brasil (os mártires da Guanabara que o digam), mas acho que o risco agora é menor...
João Alves
João,
ResponderQue alegria ter um comentário seu no nosso blog!
É verdade, eu nem me lembrei do epidódio da Guanabara. Mas, agora é tarde. Já publiquei. Espero ao menos que seja uma morte menos violenta do que a deles...
Um abraço.
Augustus, uma afirmação do ponto 6, mais controvertido (como já foi dito) me deixou com a pulga atrás da orelha. queria saber o que o pr. quer dizer com "nem que ele tenha deixado de conceder sua graça a pessoas que mereciam recebê-la. " ?
Responderabraços
PS.: esta questão da ordem lógica e história também me deixou na dúvida. se tiver tempo de explanar mais tarde, agradeço
Josaías,
ResponderA minha frase deveria ter sido assim: "nem que ele tenha deixado de conceder sua graça a pessoas que mereciam recebê-la, pois tais pessoas simplesmente não existem." Eu estava reagindo a quem acha que Deus é injusto por eleger uns e não outros. Ele seria injusto se deixasse de dar o direito de alguém. Mas, diante dele, quem pode reivindicar direitos com base nos méritos pessoais?.
Sobre a ordem lógica e histórica do plano da salvação, eu sigo a linha calvinista que defende que o Senhor, quando estava planejando todas as coisas, seguiu uma seqüência lógica de eventos em sua mente infinita. Esta seqüência, de modo bem simplista, foi mais ou menos assim: criação, queda, predestinação, redenção. Nessa seqüência, a predestinação vem depois da queda. Ou seja, quando Deus escolheu os que haveriam de se salvar, os escolheu de entre uma humanidade caída em pecados.
Na história, a seqüência começa com a criação, etc.
Um abraço.
Olá,
ResponderO calvinismo não é meramente um ponto de vista e exclusivo de algumas mentes brilhantes, porém, é o entendimento correcto das Escrituras. Todas as tentativas de se arranjar outras interpretações caem pela falta de coerência e humildade. Não se trata de ser dono da verdade( expressão muito usada qundo não se conhece verdade nenhuma),mas de se dar crédito total à soberana vontade de Deus, que não pode ser mudada, simplesmente porque eu quero.Calvino era determinista e fatalista dentro de um contexto decadente e em fase de mudança como era a europa no inicio do séc XVI.Isso marcou sua doutrina em geral.Se somos calvinistas devemos pensar calvino em sua época e perceber que sua reflexão como a de Agostinho partem de uma visão rara de discernimento. Em Portugal(meu país) os calvinistas podem ser encontrados nos intelectuais e pensadores congregacionais e presbiterianos e só. Os batistas se enrolaram na visão sintética simplista norte -americana e daí não saíram. Aqui no Brasil (onde pastoreio uma igreja congregacional), falar de predestinação, eleição pode nos trazer algumas inimizades.A maioria diz que é calvinista , mas na verdade é arminianista, pois ser calvinista é ser coerente com os cinco pontos , aceitá-los tal qual são sem remendos, sem poeira.
Sou um admirador seu.
Em Cristo
Pr. Daniel
Augustus,
Responderobrigado pelos esclarecimentos.
imaginei que você queria dizer isso com essa frase, mas achei melhor perguntar pra ter certeza :)
abç
Augustus,
Responder1) É interessante abordar a questão da relação dos calvinistas com outras tradições no que tem em comum com relação ao evangelho. Não concordo com o dito: "Não é reformado não presta". Quem diz isso não leu o livrinho do Solano "5 pecados que ameaçam os calvinistas" da PES.
2) Realmente é um quebra cabeça entender a soberania de Deus e a responsabilidade humana. Porém o melhor é descansar! Teclando com um amigo, conversavamos sobre a questão do decreto. Se Deus predestinou a salvação ou todos os acontecimentos? Conversamos sobre a passagem de Efésios 1:11 e a questão cinzenta entre o preto e o branco. Você poderia dizer mais ai pra gente sobre o decreto?
3) Realmente o que nos faz descansar sendo calvinistas é a hermenêutica de afirmação do texto bíblico que contem todas essas verdades. Os hipers esvaziam a responsabilidade humana e os arminianos nas suas vertentes (wesleyanos, evangelicais e semi-pelagianos) e até os liberais clássicos e neo trabalham enfatizando mais a vontade humana.
4) Nunca ouvi nesses dias que alguém matou o outro porque era calvinista, mas aceitar a Bíblia em tudo o que Ela "fala" gera indigestão em outros em várias denominações, o que leva ao calvinista ser discriminado, não ter espaço como obreiro e no ensino e até perseguido.
Abração!
Para ser bem simples, acho que aqueles que são intolerantes atuam mais como advogados da doutrina e se esquecem do tom pastoral da mesma, que é trazer conforto e segurança ao crente.
ResponderAbraços
Em primeiro lugar, e como sempre digo, não quero partir do pressuposto que um de nós esteja certo e o outro errado apenas porque discordamos. Em segundo lugar, confesso que é um alívio ouvir um proponente do calvinismo que assume um tom gentil e generoso, pelo menos até o último parágrafo.
ResponderAgrada-me em especial que a sua posição esteja aberta a contradições ou, para ser mais justo, contradições "aparentes" - tais como "creio que Deus predestinou tudo o que acontece, mas não sou determinista". Sua postura admite que há mistérios acerca da natureza de Deus (ponto 3) que do nosso ponto de vista não temos simplesmente condições de compreender. A trindade e as duas naturezas de Cristo, por mais contraditórias que possam parecer ao exame da razão, transmitem à sua maneira uma importante e inefável verdade espiritual. Concordo e assino embaixo com caneta virtual.
A postura do [seu] calvinismo só hesita diante da contradição última: a aterrorizante possibilidade de que Deus seja inteiramente soberano e (ao mesmo tempo) os homens inteiramente livres - e livres aqui no sentido mais indomável, imprevisível e inescapável da coisa.
Sua postura está disposta a aceitar outras contradições aparentes como "mistérios", menos esta em particular. E não é como se a Escritura não contivesse evidências em favor das duas coisas (Deus é soberano e está inteiramente no controle, e o homem é inteiramente livre e responsável e tem como resistir à turbilhonante vaga da graça).
Pelo que consigo entender, a posição calvinista procura (tanto quanto a arminiana, mas com a estratégia oposta) defender incessantemente um único atributo de Deus, à custa dos outros. Os arminianos, com Erasmo, pedem a Lutero "Deixe Deus ser bom"; Lutero, enfezado, responde "Deixe Deus ser Deus" - Deus, entendido aqui por ele (em comum com a ênfase particular do calvinismo) no sentido exclusivo e furioso de sua inatacável soberania.
Não ocorre aparentemente a nenhum dos lados que as duas coisas possam ser verdade ao mesmo tempo.
Entre outras coisas, creio que não havia teologia sistemática nem nas palavras nem nas mentes dos escritores bíblicos, mas posso contrapôr os seus pontos de crença com os meus de ceticismo.
1. Não creio que temos como saber até que ponto Deus predestinou as coisas e as pessoas. Creio que as passagens bíblicas que falam da intervenção humana levando Deus a "arrepender-se" - mudar de idéia? - não sejam mera ilusão ou antropomorfismo, e que a Bíblia está dizendo nessas passagens o que parece estar dizendo, por mais contraditório que possa parecer (1 Samuel 15:11, 1 Samuel 15:29). Creio que nossas decisões e escolhas são bem reais e que fazem diferença, mas na falta de expressão melhor chamo essas decisões de "livres e responsáveis". Nem todos que não são calvinistas são necessariamente arminianos. Por desconhecer isso, muitos pensam que o calvinismo é a única alternativa.
2. Creio que Deus é absolutamente soberano, que ele pode ser tão onisciente quanto sua soberania escolha ser, e que decidiu em sua soberania criar agentes independentes capazes de decisões tão livres quanto às suas - tendo sido feitos, pelo menos nesse sentido, à sua imagem. Não há para mim mistério algum nisso, pois creio que Deus é poderoso o bastante para manter o homem obscenamente livre (ao ponto de ser livre para interferir, para nosso escândalo e perplexidade, no próprio própósito de Deus - conforme, digamos, Lucas 7:30) e *ao mesmo tempo* manter a sua soberania inatacada no sentido de ser capaz de garantir a eficácia de todos os resultados que prometeu. Convivo diariamente com essas duas verdades, pois vejo que estão reveladas lado a lado nas Escrituras, às vezes num mesmo capítulo e até num mesmo versículo. Como já disse em algum lugar, esse Deus que consegue garantir ao mesmo tempo a liberdade dos homens e a eficácia das suas promessas é, paradoxalmente, mais Todo-Poderoso que o Deus do calvinismo, o qual é necessariamente limitado pelas cadeias de sua soberania.
3. Entendo que historicamente a esmagadora maioria dos cristãos orou e agiu como se as suas orações tivessem poder de intervenção ao ponto de serem capazes de fazer Deus alterar os seus planos. Alguns, corajosamente como Jesus, salientaram o "mas seja feita a tua vontade" mais do que o "se for possível". Encaro a relação entre a soberania de Deus e a liberdade humana como sendo parte dos mistérios acerca do ser Deus, mas não entendo que a liberdade humana torna Deus menos soberano ou vice-versa. A soberania de Deus e a liberdade humana têm que ser mantidas juntas num só corpo, sem mistura, sem confusão, sem fusão e sem diminuição de ambas.
4 – Creio que Deus deseja que todos se salvem e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.
5 - Oro como quem está conversando, inclusive argumentando e fazendo pedidos, porque creio que as minhas orações fazem diferença tanto para mim quanto para Deus. Não estou falando com um analista ou com um espelho, mas com quem concede na oração um espaço santo e aberto de intervenção, no próprio Lugar Santo. Sei que Deus não perderá a sua soberania mesmo se eu me colocar contra a sua vontade - ou se ele ceder à minha.
6 – Creio que Deus deseja que todos se salvem e cheguem ao pleno conhecimento da verdade, coisa que alguns podem escolher dizer com a frase "Deus predestinou todos para a salvação". Creio que a expressão "rejeitaram", quando aplicada no Novo Testamento aos que não se dobraram à graça, não está sendo usada metaforicamente e está falando mais de uma escolha livre das pessoas do que uma decisão eterna de Deus.
7 - Creio que Deus pode saber o futuro porque tem sabedoria de sobra para prever os infinitos desdobramentos de cada possível iniciativa livre e *ao mesmo tempo* poder e recursos para garantir que a sua palavra prevaleça no final sem intervir mais do que eventualmente no traçado "natural" das coisas. Creio que a presciência de que a Bíblia fala é geral e não específica, ligada mais ao poder de influência e de intervenção de Deus (conforme ao tom geral da narrativa da Escritura) do que à predeterminação rígida dos fatos. Não creio que Deus tenha como conhecer antecipadamente a decisão livre que um homem vai tomar no futuro, mas creio que ele seja poderoso o bastante para garantir que essa decisão livre não vá interferir de modo destrutivo nos propósitos futuros de Deus para a humanidade em geral (ou, algumas vezes, nos seus propósitos para o homem que tomou a decisão); creio que ele seja poderoso o bastante para conhecer todos os futuros possíveis provenientes de todas as decisões livres de todos os homens, e ainda assim prover para que nenhuma dessas possibilidades coloque em risco qualquer aspecto do seu propósito geral. Creio que Deus conheça cada homem e todos homens o bastante para ter uma excelente idéia do que vai acontecer e que está absolutamente preparado para qualquer contingência. Qualquer contradição que possa haver entre a idéia de um Deus Todo-Poderoso e homens livres faz parte daqueles mistérios indizíveis nos quais acreditamos em comum.
8 – Quando a Bíblia fala de um jeito que parece que Deus nem conhece o futuro e que muda de idéia o tempo todo, está falando disso mesmo. Creio arriscado dizer que seria de outra forma, ou qualquer ponto de vista bíblico poderia ser colocado em dúvida. Se há aparente contradição entre o que a Bíblia diz e a nossa teoria, melhor é reavaliar a teoria - ou abrir maior espaço para contradições aparentes. Trata-se de um mistério daqueles nos quais acreditamos em comum. Eu não diria que Deus está "fora do tempo" em qualquer sentido importante, e não creio que seria do caráter de Deus nos passar uma impressão errada do que está acontecendo. Se ele diz que não muda de idéia, como disse mais de uma vez, cabe-me acreditar. Se ele diz que mudou de idéia, não sou eu vou a duvidar de que ele possa fazê-lo. A contradição diz respeito ao meu ponto de vista, não ao dele. Não deve ser o meu ponto de vista a limitá-lo, nem que seja com a boa intenção de proteger a sua soberania. Deus é soberano o bastante para não precisar da minha defesa.
9 – Creio que Deus é soberano e bom, e que pode-se concluir sem contradição que a perversidade e dos horrores desse mundo sejam portanto resutado de uma escolha livre que não a sua. Pelo que dá a entender a narrativa bíblica, foi Adão e não Deus quem escolheu usar a sua liberdade para o mal, e manchou dessa forma a humanidade com o pecado. Pelo que dá a entender a mesma narrativa, a mancada de Adão não tornou Deus menos soberano e bom, e em sua soberania ele tomou todo tipo de iniciativas suficientes para conter e reparar o estrago sem violar a liberdade dos filhos de Adão. Deus é bom e o salário do pecado é a morte, e as duas realidades podem existir ao mesmo tempo mas não indefinidamente - porque Deus em sua soberania e bondade proveu para remissão dos pecados e para a eliminação da morte.
10 – Estou convencido que nenhum conjunto de proposições racionais ou sistemáticas, nem o mais bem-intencionado "sistema doutrinário", possam subsitituir o método "assistemático" e aparentemente contraditório dos escritores bíblicos. As palavras e definições são pobres demais para a inefabilidade da matéria, e eu não escolheria para falar com autoridade sobre o assunto mais do que o absolutamente literal Sola Scriputura. Tampouco ousaria descartar seletivamente porções da Escritura que pareçam contradizer a minha posição (ponto 8). Como venho dizendo, as contradições são aparentes não no sentido de que apenas uma das interpretações é verdadeira, mas no sentido em que, de alguma forma que não somos capazes de entender ou exprimir, duas verdades que nos parecem contraditórias para Deus não o são. Eu não ousaria abrir mão de qualquer uma delas, ignorando a evidência, apenas para proteger o meu sistema doutrinário de brechas de lógica. Mais seguro, naturalmente, seria abrir mão do sistema doutrinário do que da abrangente e incapturável totalidade de Deus. Leio autores das mais diferentes persuasões teológicas, mas não me deixo persuadir por nenhum.
Deve ter ficado claro que um cristão, para mim, é basicamente um calvinista que tem a coragem de aceitar as coisas que a Bíblia diz sobre a relação entre a soberania de Deus e a responsabilidade do homem e reconhecer que não tem explicações lógicas para elas. Para muitos, esse retrato é de alguém teologicamente fraco e no mínimo confuso. Mas, na verdade, é o retrato de quem não quer expor-se a mais contradições reais do que às aparentes contradições a que Bíblia expõe à si mesma.
Oi, Augustus!
ResponderCreio exatamente como você, sem tirar nem pôr!
Abração!
P.S. Não entendi o propósito de Paulo Brabo. Esse comentário gigantesco foi uma tentativa de paráfrase do seu post? Estranho e confuso demais. E esse trecho - "Se ele diz que não muda de idéia, como disse mais de uma vez, cabe-me acreditar. Se ele diz que mudou de idéia, não sou eu vou a duvidar de que ele possa fazê-lo etc." - parece-me uma bela amostra de pensamento relativista. Um Deus perfeito vive, sim, FORA do tempo (Ele é eterno) e NÃO muda nem se arrepende - se Ele diz que muda, é para que compreendamos os efeitos de nossas ações NO tempo (pois não existimos fora dele), uma tentativa de que O entendamos melhor (e a Suas atitudes) com as nossas referências temporais. Isso nem deveria ser objeto de explicação, de tão óbvio. Então Paulo Brabo vai acreditar que, se Deus diz que Suas narinas inflam de ira, é porque Deus tem narinas mesmo etc. etc. Não dá. Relativismo + literalismo = contradições de verdade, não aparentes. Nesse post nos foram apresentados paradoxos em vez de contradições - belos paradoxos inerentes à fé cristã (tal como Jesus sendo Deus e homem ao mesmo tempo), e que mentes afoitamente cartesianas sempre tentarão estragar, na sua busca desesperada de compreenderem tudo em linha reta.
Paulo Brabus,
ResponderObrigado por postar aqui o que pensa a teologia relacional, que naturalmente é a sua postura. Permita-me não comentar, pois o que penso da teologia relacional já está brevemente resumido em meu artigo sobre o assunto na revista Ultimato:
http://www.teologiabrasileira.com.br/Materia.asp?MateriaID=140
Além do mais, está saindo um livro muito completo sobre a teologia relacional, que reúne com clareza o que pensam os reformados sobre o teísmo aberto, desde a época de Socinius, um dos pais da idéia, até uma análise profunda do pensamento de Sanders e Pinnock, modernos defensores do socinianismo hoje. O livro se entitula Nenhum Outro Deus e será publicado pela Casa Editora Presbiteriana.
Mais uma coisa: essa discussão sobre teologia relacional já aconteceu no blog da Norma Braga e no blog (extinto) com o título Outro Deus.
E por fim, seu comentário é muito grande para ser comentado. Comentários a posts devem ser pequenos. Minha sugestão é que você abra um blog e comece a publicar o que você pensa sobre esses assuntos. Terei prazer em postar ali meus comentários e prometo que serão breves.
Norma,
ResponderPois é... ficou meio estranho, mas vamos aguardar que Brabus abra o blog dele e defenda a teologia relacional claramente, para que possamos comentar.
Um abraço.
Felipe,
ResponderÉ o aspecto pastoral da doutrina da predestinação que nos sustenta. É grande conforto. O Spurgeon falava com freqüência disso.
Um abraço.
Augustus,
ResponderNão foi nada; se hoje fosse postar um comentário creio que o limitaria ao [meu] ponto décimo e, naturalmente, ao primeiro parágrafo.
Não esperava que você comentasse ponto a ponto o meu comentário e agradeço de fato por não tê-lo feito, o que levaria apenas a uma infindável discussão na qual, como sugeri, se provaria além de qualquer dúvida apenas que discordamos - e não que um de nós esteja eventualmente certo. Se não abro um blog para promover essa circular discussão é porque meu pensamento está talvez já tão adiantamente relativista que quase acredito, com Borges, que os argumentos não convencem ninguém. Entenda isso como homenagem de viés, porque assim confesso que quase acredito que estamos predestinados a não mudar de idéia.
Se postei tão exuberantemente creio que foi, entre outras coisas, porque (1) eu lamente ter chegado tarde demais para ter deixado minha contribuição no blog outrodeus, que não está mais entre nós, e quis deixar em algum lugar minha posição de forma mais espetacularmente clara - ou aberta - do que seria necessário; (2) por que tenho eu mesmo um arrazoado de blog sobre assuntos aleatórios, fragmentários, relativistas e pós-modernamente abrangentes e fico muito chateado quando não aparece ninguém para discordar de mim. Quando todos que comentam apenas concordam e dão parabéns me dá a impressão de que o diálogo não está andando e que não há verdadeira "contribuição".
Quis então deixar deixar-lhe, no meu comentário, este presente: deixar bem claro o quanto discordamos entre quem concorda com você, apenas para lhe dar o prazer de ter de perto uma vítima perfeita cujo pensamento lamentar.
Mas prometo daqui por diante deixar o seu blog em paz como deixei o da Norma, depois de arruinar o suficiente a minha imagem.
Agradeço de verdade o seu desembaraço e seu bom-humor. Creio que nossa amizade promete.
E já vou avisando: se aparecer no meu blog que não seja para discordar de mim.
Abraço forte do seu
Hoje Docilimus
P.S. Fique absolutamente à vontade para moderate this off. Entenderei como silenciosa homenagem.
Prezado Rev. Augustus,
ResponderO problema da (dupla) predestinação me parece ser um dos mais complexos de toda a teologia cristã, se não o mais complexo (a menos esse problema não seja levado realmente a sério).
Para não dizer que simplesmente "discordo" da (dupla) predestinação, devo confessar que tenho bastante dificuldade em compreender 1) como Deus pode predestinar somente alguns para a salvação; 2) como pode haver verdadeiro amor onde não há liberdade de escolha (graça irresistível); 3) como pode ser que Deus, que é Todo-Amor, pode ter criado todos os homens absolutamente incapazes de dizer "sim" a Ele, e ainda assim, como que por capricho, capacitar somente alguns a dizer esse "sim", deixando todos os demais à própria sorte, sem esperança de arrependimento nem de salvação (ou seja, a pessoa nem pediu pra nascer, mas nasceu apenas para ir pro inferno!!); 4) que sentido pode haver no esforço missionário, se aqueles que são predestinados serão salvos de qualquer jeito, tendo em vista a soberania e a onipotência de Deus; além de outras questões.
Permita-me também comentar esse trecho:
"Ao deixar de predestinar alguns, ele não cometeu injustiça alguma, no meu entender, pois não tinha qualquer obrigação moral, legal ou emocional de lhes oferecer qualquer coisa."
Se Deus não tinha "qualquer obrigação moral, legal ou emocional" de oferecer qualquer coisa a quem quer que seja (e realmente não tinha), por que enviou Seu Filho à dor e à morte, para salvar somente alguns, de modo absolutamente aleatório (posto que não leva em conta os méritos de ninguém)?
Será que a única resposta a essas questões é: "não sei, só sei que a Bíblia diz que é assim, e ponto final"?
Só consigo entender o "sola gratia" no sentido de que a graça de Deus, sem a qual ninguém poderia ser salvo, se manifestou a TODOS os homens na pessoa do Senhor Jesus Cristo, e é por intermédio da fé no Cristo que somos declarados justos perante Deus. Mas se Deus predestinou aqueles que deveriam ser salvos, a própria Encarnação perde o sentido, visto que os eleitos seriam salvos de qualquer maneira!
Em suma, confesso que não consigo compreender o plano de salvação de Deus, a Sua justiça e o Seu amor pela criação, e nem o próprio sentido do Universo, sem o conceito de liberdade. Pois onde não há liberdade, não há amor.
P.S.: de quebra, somente o fato de Deus respeitar a liberdade (do homem e da natureza) pode explicar a existência do mal (físico e moral). Por isso Ele "sofre" conosco, como um pai que sofre pelos descaminhos de um filho, sem poder trancá-lo numa redoma.
P.S.: perdoe-me pelo comentário longo! Mas sei que o senhor já previa que seu texto estimularia a participação dos internautas...!
Olá Augustus, em primeiro lugar obrigado pelo material que me enviou (embora ainda não tenha escrito nada sobre o assunto e meu PC no trabalho tenha pifado, junto com minha conexão de internet. Pra falar a verdade estou meio frustrado por não ter nem pego a caneta e se eu falho com a minha disposição para comigo, o que serei capaz de fazer com outros?).
ResponderSinceramente fiquei inquieto com a frase "nem que ele tenha deixado de conceder sua graça a pessoas que mereciam recebê-la", mas cedo diante da sua explicação, que é bem clara e convincente.
Quanto à sua explicação infralapsariana da ordem "lógica" dos eventos eleição e queda. Sinto dizer-lhe (ou não sinto, sei lá...) que ainda não entra na minha mente tal "ordem" lógica descrita sobre acontecimentos na eternidade, ou seja, fora do tempo, continuo com meu supralapsarianismo sem colocar tal "ordem" lógica nos eventos, devido à minha crença (assim como a do Dr. William Twisse) de que lógicamente a ordem seria a mesma ordem histórica. Porém aceito do mesmo modo (como o Dr. Twisse) a decisão da Assembléia de nos seus escritos tender ao infralapsarianismo sem condenar o supralapsarianismo.
Espero que talvez um dia cheguemos à uma conclusão (a acertada), mas com a consciência de que nem todas as coisas são dadas a saber aos homens.
Marcos M. Grilo:
ResponderSó um pequeno comentário acerca de uma frase sua:
"Pois onde não há liberdade, não há amor"
Creio firmemente que apesar de bonitinha nem você acreditaria nisso.
Digamos que você saiba que um filho seu vai ser torturaado e morto, exceto que você o prenda, restrinja a sua liberdade. Você o faria? Com certeza que sim, mas se sem liberdade não há amor, voce não ama o seu filho, você é um egoísta por não querer deixar o seu filho sofrer torturas e encarar a morte (entendeu a incoerência?).
Creio que é a mesma coisa com relação aos eleitos, Deus muda-lhes a mente, os transforma em uma nova criatura (isso é restringir a liberdade, ninguém muda a sua natureza por conta própria, do contrário não seria natureza).
Quanto aos perdidos os deixa à mercê da sua própria natureza depravada e pecaminosa (de modo que Deus de forma alguma pode ser culpado por não salvar um pecador que merece o inferno em cada segundo da sua vil existência).
Mas o mais estranho disso tudo é que todos que argumentam ser o mais justo Deus salvar a todos se ele tem poder para isso, parecem ignorar que o mais justo (dentro dessa linha de pensamento) seria Deus não salvar ninguém.
Aí você diz:
"Mas se Deus predestinou aqueles que deveriam ser salvos, a própria Encarnação perde o sentido, visto que os eleitos seriam salvos de qualquer maneira!".
Parece que você ignora que tais pessoas não seria salvas de qualquer maneira, mas apenas da maneira que Ele determinou e é aí que entra a encarnação de Cristo, sua morte e ressureição, o meio para que a alcançássemos a salvação.
Compreendo a perplexidade que a eleição calvinista pode causar. Mas, para mim, isso nunca se presentificou como um problema. Creio que o calvinismo é perfeitamente adotável - como a posição da própria Bíblia, aliás - se entendemos que, como seres circunscritos ao tempo, jamais resolveremos com nossa mente finita o paradoxo de que a soberania de Deus e a liberdade humana coexistem sem que um anule o outro.
ResponderDeus é soberano, mas "deu um jeito" para que pudéssmos ser Seus adoradores em espírito e em verdade. A cada vez em que o homem rejeita a Deus, nas inúmeras formas disponíveis no mundo (ateísmo, materialismo, esoterismo, paganismo), ele está usando dessa liberdade para negar seu criador. No inferno, como sugeriu C.S. Lewis em "O abismo", ele não mudará de opinião. Se lhe fossem dadas mil outras chances, ele continuaria negando e negando. Do ponto de vista de Deus, que vê a tudo em todas as épocas, ele é um perdido, um vaso de ira, mas para ele mesmo a liberdade é total e real, e ele jamais diria que foi manipulado ou levado a negar Deus contra a sua vontade. Essa é a nossa condição de criaturas. Mas Deus, que é soberano, está no controle de tudo - ao mesmo tempo em que, segundo a Bíblia, não tem prazer nenhum em quem se perde, mas sofre por todos eles. Como não pensamos com a mente de Deus, eterna, não concebemos isto. Mas é assim, e não há como ser de outro modo, a não ser que diminuamos Deus.
Meu consolo é que no céu, tal como nos afirma o apóstolo Paulo, "conheceremos tal como somos conhecidos" - e aí saberemos o que é pensar tanto dentro quanto fora do tempo. Aleluia!
Olá pessoal, vou responder aos últimos comentários numa postagem só.
ResponderQuero agradecer as postagens de Daniel, Cleber, Juan e da Norma que vieram reforçar e ratificar alguns pontos do meu post. É muito legal saber que tem gente que concorda... não me sinto tão só nesse assunto declaradamente difícil. Obrigado.
Juan, você pergunta acerca do decreto de Deus. Acredito, como a Confissão de Westminster diz, que Deus decretou tudo o que existe, mas de maneira tal que ele não é o autor do pecado e o homem é responsável por sua própria condenação. Como eu já disse, há um mistério não explicado ai no meio. Para mim o caso mais claro é o da crucificação de Jesus. Todos reconhecem que a Bíblia ensina claramente que a morte de Cristo, inclusive com os detalhes, foi decretada por Deus antes da fundação do mundo. Contudo, a mesma Escritura responsabiliza os líderes judeus da época, Pilatos e Judas pelo acontecido. Aparentemente, os escritores da Bíblia não viam nenhuma contradição entre essas duas coisas e não sentiram necessidade de explicar. Fico com eles. Quando Paulo foi provocado, respondeu em Romanos 9 com uma pergunta: "quem és tu para discutires com Deus"?
Meu caro Paulo Brabo, obrigado por receber tão bem minhas observações. Não deixe de postar umas linhas de vez em quando!
Davi, pronto! Lá vem você com os termos que eu estava querendo evitar desde o início, pois os não iniciados em sistemática vão ficar querendo saber o que é infralapsarianismo e supralapsarianismo! Mas, cedo ou tarde teriam de aparecer, eu sei. Bom, eu mesmo sei que essa explicação da seqüência lógica dos eventos na mente divina é difícil de provar biblicamente e certamente tem suas falhas lógicas. Mas, qualquer outra explicação que tem sido dada vai cair no mesmo problema. Aceito essa por falta de algo melhor... e estou aberto para sugestões.
Grillo, não sei se o problema da dupla predestinação é o mais complexo. Não para mim, pelo menos. Mas quero respeitar sua avaliação. Como eu não estou totalmente convencido da dupla predestinação, não sinto necessidade de responder a seus questionamentos, até porque a maior parte deles já foi contemplada no meu post.
Sua pergunta sobre as motivações de Deus só tem uma resposta: amor soberano e gracioso.
Como calvinista, só sei acerca das coisas de Deus aquilo que a Bíblia me permite saber. Sem a Bíblia, que outra fonte tenho para penetrar nos mistérios do ser de Deus e de seus decretos? A teologia natural é caminho antigo e já trilhado, sem solução para essas questões. O fato de que sou criatura e por cima pecador impõe limites à minha possibilidade de conhecer a Deus e de raciocinar perfeitamente no que tange às coisas divinas. Se você conseguiu descobrir as respostas a essas perguntas, apresente-as e diga qual a fonte de onde você bebeu.
No mais, pessoal, eu sei que o assunto é provocador. Lamento quem ficou decepcionado ao perceber que não tenho respostas para todas as questões. Se o tal tiver as respostas, e que não sejam as críticas já batidas dos arminianos e relacionais, é só apresentar.
Um abraço a todos.
Olá Augustus muito bom o post
Responderprincipalmente o paradoxo calvinista, o de nº6º.
Abraços.
Franciney.
Olá, Rev Augustus
ResponderGostei deste seu texto. Praticamente segue a mesma linha do livreto do Solano Portela: "Cinco Pecados Calvinistas"
Creio que a doutrina calvinista é a única que coloca Deus no seu trono e o homem no pó! Como disse Hendriksen, o universo não é geocêntrico e nem heliocêntrico, mas Teocêntrico!
Particularmente, sou supralapsariano meio que contrariamente. Mas para mim, ser supralapsariano não é nenhum pouco difícil. Calvino mesmo dizia que a causa mediata da condeneção de pecadores era o pecado deles, mas que a causa imediata, era, sem dúvidas, o propósito do seu "decretum horrible". Parece que Romanos 9 dá a entender isto: "vasos criados para honra, e vasos criados para desonra"...
E vejo que este Deus que decreta a nossa História, quando pregado todo o conselho dEle, o temor, a reverência e nossa humilhação ficam patentes. Só por pensar nestas questões que estou escrevendo o meu coração está comovido de alegria e de um santo temor a nosso Deus.
Com certeza, somente uma aplicação pastoral das doutrinas da graça, que é nutrida pelo Santo Espírito, pode de fato ser parácleta, consoladora. A vara e o cajado, o leão e o cordeiro, Juiz e Salvador, são realidades indissosiáveis e dignas de contemplação eternas!
Peço permissão para postar este seu texto no meu Blog também.
[]'s
Charles
Rm 8.32-39
Caro Rev. Augustus. Sobre a Teologia Relacional está saindo também "Eu não sei mais em quem tenho crido", organizado pelo John MacArthur, pela Editora Cultura Cristã. Excelente. Juntamente com Nenhum outro Deus será edificante para esclarecer ainda mais o tema. Abraços, Wendell.
ResponderPastor Augustus, me perdoe ter utilizado os termos infra/supralapsarianismo, na minha ânsia pela comodidade de não ter que escrever detalhadamente acabei usando os termos.
ResponderQuanto à explicação da sequência é quase impossível, acredito que talvez cada um adote para si aquela que enfatiza os atributos de Deus que cada um enfatize na sua própria interpretação da Escituras. Bem como de um modo prático todas as duas estariam erradas, visto deliberar sobre algo que ocorreu antes/fora da existência do tempo e portanto impossíveis de sequência (pois só pode haver sequencia se houver tempo, pelo menos uma sequencia dentro da compreensão humana).
Davi Eduvirges,
Responder"Só um pequeno comentário acerca de uma frase sua:
'Pois onde não há liberdade, não há amor'.
Creio firmemente que apesar de bonitinha nem você acreditaria nisso."
O deboche não leva a lugar nenhum, nem acrescenta nada de proveitoso. E a precipitação é uma tentação permanente, contra a qual devemos sempre lutar. O que eu quis dizer com essa frase foi simplesmente que ninguém pode ser obrigado a amar alguém. Em outras palavras, se não há liberdade de escolha, como pode haver verdadeiro amor? Como um pai pode obrigar um filho a amá-lo, retirando-lhe a liberdade de escolha? Não seria o mesmo que construir um robô programado para amar? Que valor teria um amor assim? Se Deus criou o Universo e o homem por amor, como compreender que esse amor seja "pré-programado"?
"Quanto aos perdidos os deixa à mercê da sua própria natureza depravada e pecaminosa (de modo que Deus de forma alguma pode ser culpado por não salvar um pecador que merece o inferno em cada segundo da sua vil existência)."
Uma pergunta: Deus criou Adão (ou o homem) com ou sem liberdade? Se criou com liberdade, Ele não sabia que Adão (ou o homem) iria pecar, ou seja, não previu a queda? E se me permite um pouco de filosofia (sugiro "O conceito de angústia", de Kierkegaard), a queda não seria a emergência da consciência, pela qual o homem "cai em si", separando-se da Natureza e tomando consciência de si e do mundo circundante (como Adão, que ficou nu num jardim inóspito)?
Se Deus previu a queda (isto é, a emergência da consciência e, subseqüentemente, da liberdade) do homem, por que, afinal, teria dotado o homem de liberdade? Simplesmente para condenar à danação eterna a todos que não tivessem a inefável bênção da eleição? E por que, enfim, Deus continua permitindo que nasçam homens e mulheres exclusiva e irremediavelmente destinados ao inferno, posto que só alguns são eleitos? Que tipo de pai escolhe uns filhos em detrimento de outros (se todos são iguais perante ele)?
Por fim, quando eu disse que "eleitos seriam salvos de qualquer maneira", quis chamar a atenção para o fato de que, dada a soberania de Deus, a eleição incondicional e a graça irresistível, os eleitos seriam salvos de uma forma ou de outra. Mas é evidente que a maneira que Deus escolheu para nos salvar (se é que sou eleito!) foi enviar Seu Filho para morrer em nosso lugar e ressuscitar, garantindo-nos vida eterna.
Prezado Rev. Augustus,
ResponderNão tenho a pretensão de beber em outras fontes além da Bíblia (se bem que Paulo nos recomendou examinar tudo e reter o que é bom). Não obstante, Deus nos dotou de inteligência, e é ela que nos leva a questionar. Considero estranha essa concepção de um Deus que dota as criaturas de liberdade e de inteligência, mas quando essas criaturas lançam mão da liberdade e da inteligência que Deus lhes deu, passam a correr sério risco. É difícil não dar razão aos que vêem sadismo num Deus assim.
Talvez eu esteja sendo visto como um arminiano, um adepto da teologia relacional ou do liberalismo teológico. Mas, quem me conhece (como a Norma), sabe o que eu penso e em que eu creio. Eu não tenho respostas para todas as questões, pelo contrário, tenho mais questões do que respostas. Meu "defeito" talvez seja expor esses questionamentos, em vez de aquiescer pacificamente à ortodoxia (o problema é que há a ortodoxia calvinista, a batista, a luterana, a católica etc.).
Sei que esses questionamentos ofendem a ortodoxia (ou os ortodoxos). A verdade é que há questionamentos que devemos guardar para nós mesmos, pois invariavelmente despertam impaciência (quando não ira) nas pessoas. Por isso, peço perdão aos irmãos que eventualmente importunei com algumas pulgas atrás da orelha.
Um abraço.
Caro Rev Augustus,
ResponderNão poderia deixar de fazer este comentário:
Este seu último post no seu Blog sobre os pontos do calvinismo já rendeu, somente hoje, 71 mensagens até agora, na lista cristãos reformados! Os calvinistas de plantão injetaram adrenalina na corrente sangüínea, hehe.
Acredito que há uma questão semântica na palavra Determinismo que precisa ser bem compreendida. Mas sem dúvidas, como alguém comentou, o oposto do arminianismo não é calvinismo, mas sim, o Hipercalvinismo.
O que tenho visto é que existem calvinistas novos que por falta de aprofundamento, acabam virando hipercalvinistas... Falta a relação das causas primárias e secundárias frente á soberania divina e a livre-agência humana.
Talvez seria bom uma obra que abordasse esta questão: "O que é o calvinismo" e o que ele não é.
Este tipo de reflexão me consola, renova-me as forças, alimenta a minha fé e esperança
Responder“A minha graça te basta” - Que graça é esta? Que graça é esta que não precisa de reforços ?
Liberdade é poder aceitar esta graça que é tudo o que eu preciso. Liberdade não é fazer ou desejar o que eu quero mas fazer e desejar o certo. Dizia Agostinho: "Deus é livre - Ele faz e deseja sempre o certo".
Esse paradoxo da Liberdade e Submissão é bem descrito por George Matheson:
“Faz-me um cativo Senhor e livre então serei;
Obriga-me a entregar a espada e serei um conquistador;
Nos alarmes da vida me afundo. Quando estou só;
Aprisiona-me em teus braços; e forte minha mão será”
A Verdade nos faz livres e submissos. Por isso, os calvinistas podem ter certezas e convicções.Renunciando a essa liberdade maldita que os arminianistas tanto apregoam, como se a liberdade humana seja a causa da nossa filiação em, e com Cristo na família de Deus. Acima de tudo estamos certos que a obra que está sendo realizada em nós (pelo Espírito Santo - o Oleiro) Deus irá realizá-la. Que promessa maravilhosa os eleitos poderem estar seguros nas mãos de Deus, mesmos que os arranha -céus e enxurradas deste deserto de concreto se levantem contra nós - ainda assim ocultos em Cristo, brilharemos.É pena que nem todos ainda tenham descoberto este tesouro(A graça única, exclusiva), ou melhor, que seus olhos não tenham sido abertos, para enxergar Aquele que nos deu Vida a troco de nada.
Vivemos no meio de pessoas que se dizem crentes sem ter a certeza de sua salvação. Que Deus é esse, que deu o seu Filho amado, que fez tanto, que não guardaria seus filhos até ao final? Graças a Deus porque Ele (Jesus Cristo intercede por nós todos os dias junto ao Pai), é o nosso Advogado. Todos aqueles que se levantam contra os eleitos serão derrotados, nada nos pode separar do amor de Deus.Ah! Que consolo. Que miserável que somos se não discernimos esta Graça que nos basta, que nos constrange a ser santos dia após dia, sem medo de errar, arriscando com Deus um relacionamento mais íntimo. Era bom que todos os calvinistas pudessem pregar durante um ano somente a graça .
Não existe melhor tema para ser falado do que este meu querido irmão Augustus. Dou graças a Deus pelo seu discernimento e coragem, pois hoje em dia somos constantemente desencorajados a falar sobre estes assuntos.
Fujamos de uma vez por todas para os braços de nosso Pai Celestial. Pois só nos seus braços teremos paz em todos os sentidos.
Em Cristo
Pr.Daniel M. S (IEC de Passa Três,RJ)
Prezado irmão Marcos, em primeiro lugar, permita-me pedir-lhe perdão pelo efeito da minha frase em seu coração.
ResponderNa realidade eu fiz o comentário com o objetivo de chocar-lhe, pois a ironia desde o Antigo Testamento foi utilizada pelos homens de Deus para demonstrar verdades que de outro modo poderiam passar despercebidas pelos ouvintes/leitores. Só não esperava ofende-lo, mais uma vez peço-lhe perdão (pela possível ofensa, não pela ironia).
Meu objetivo não é e nunca será expor o meu irmão, mas sim o pensamento que brota em sua mente, acredito ser um recurso válido, desde que feito honestamente e com critérios, observe que após a frase eu exemplifiquei, não ficou na ironia pura e simples, você afirma que eu te interpretei mal, se interpretei foi devido ao contexto (ou falta de contexto) que você apresentou na mensagem. De qualquer forma, tal frase continua sendo falsa, pois a inimizade contra Deus é fruto da pecaminosidade do homem, se o homem fosse livre para fazer escolhas enquanto ser caído, de modo nenhum escolheria amar a Deus e se é verdade (eu creio firmemente que é) que Cristo verdadeiramente disse “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer” cessa-se toda a liberdade da vontade humana em amar a Deus, ou seja, sem a ação de Deus não há amor.
Quanto ao homem ser um robô, nada pode ser mais falso, pois apesar de tudo estar determinado, de Deus ser soberano e do homem não ter livre-arbítrio, existe sim uma liberdade de ação, a diferença é que tal ação não parte de um arbítrio igualmente livre, mas sim de um arbítrio maculado pelo pecado ou influenciado por um Deus soberano.
Quanto à sua pergunta se Deus criou Adão com liberdade ou sem liberdade, acredito que Adão não tinha liberdade de arbítrio (apesar de Calvino achar o contrário), porém, tendo ou não, de modo algum poderíamos dizer que Deus não previu a queda.
Permito-lhe sim um pouco de filosofia, mas tal conceito (de que a queda seria a emergência da consciência, pela qual o homem "cai em si", separando-se da Natureza e tomando consciência de si e do mundo circundante), acaba por induzir-nos ao erro de que o conhecimento é pecado, quando na realidade o pecado é a desobediência.
Em relação à sua pergunta “por que, enfim, Deus continua permitindo que nasçam homens e mulheres exclusiva e irremediavelmente destinados ao inferno, posto que só alguns são eleitos?”, não tenho respostas que você ainda não tenha ouvido.
A sua citação: “Que tipo de pai escolhe uns filhos em detrimento de outros (se todos são iguais perante ele)?”, entra em contradição até com o próprio Jesus que disse que os fariseus tinham por pai o Diabo, e com João que diz, “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem chamados filhos de Deus.
Obrigado pelo comentário, me animou a escrever no meu blog minha opinião a respeito.
O endereço é http://haduwig.blogspot.com/
Continuo no mesmo espírito do post depois de ler todos os comentários, inclusive do meu amigo Marcos: podemos ficar frustrados porque não conseguimos conciliar em nossa mente finita a soberania de Deus (atemporal, eterna, que tudo sabe e controla) e a liberdade humana (dentro do tempo). Não admira: nossa mente está no tempo. Isso não é para ser entendido enquanto estamos aqui, mas só no céu. Enquanto não vamos para lá, deveria nos consolar saber que nenhum ser humano usará de argumentos hipercalvinistas para empurrar para Deus a responsabilidade de sua estadia no inferno, mas estará lá orgulhosamente certo de que optou por aquilo - apesar do choro e do ranger de dentes. Qualquer outra maneira de compreender esse paradoxo culmina na negação, ou da soberania de Deus, ou da liberdade humana, enquanto o calvinismo não nega a nenhuma das duas, mas aceita que o paradoxo, por sua natureza, não pode se prestar à compreensão total de criaturas limitadas ao tempo.
ResponderAmigos,
ResponderDesculpem a demora em responder. É que agora o Mackenzie entra no ano letivo a todo vapor e minha folga para escrever vai acabando cada vez mais. Quase só me resta tempo para trabalhar no comentário de 2-3João & Judas.
Franciney, Silvia, Pr. Daniel, Charles, obrigado pelas palavras de encorajamento. Vocês não sabem como fico feliz em saber que nosso blog tem ajudado queridos irmãos e irmãs em Cristo.
Charles, pode usar esse post em seu blog, nem precisa pedir. Desculpe se toquei fogo na Cristãos Reformados. Sua análise da relação entre determinismo, hipercalvinismo e arminianismo é perfeita. Concordo igualmente que faltou talvez uma reflexão maior sobre as causas primárias e secundárias, mas não quis aprofundar a questão. Afinal, é apenas uma blog... há excelentes livros de teologia no mercado sobre esse assunto complexo.
Wendell, obrigado pela lembrança do outro livro sobre teologia relacional. Acho que deveríamos acertar um big evento para o lançamento, com um simpósio sobre o assunto, fazer muita divulgação e levar cópias dos dois livros para vender com preço de lançamento.
Davi, não vejo necessidade de que a seqüência lógica tenha que ser a mesma da história, Afinal, Cristo é o cordeiro que foi morto antes da fundação do mundo, certo? E já que foi você quem abriu a lata de minhocas, peço por gentileza que poste um pequeno comentário aqui explicando para todos (recebi e-mails em pvt solicitando explicações) o que é o infra e o supralapsarianismo.
Meu amigo Grillo, para cumprirmos a ordem de Paulo de reter o que é bom, precisamos saber de antemão o que é bom. E aí, voltamos às Escrituras. A inteligência com a qual Deus nos dotou só pode fazer questionamentos pertinentes se partir de pressupostos e referenciais. E aí, novamente regressamos às Escrituras. Como Paulo disse, temos que trazer cativo todo pensamento á obediência de Cristo (2Co 10.5).
Não sei onde você tirou a idéia de que calvinistas são anti-intelectuais. Sugiro a leitura do livro Calvinismo de Abraham Kuyper, onde verificará que o calvinismo está por detrás da fundação de universidades como Princeton, Harvard, Yale, Union, etc., das democracias e grandes avanços sociais. E de onde você tirou a idéia de que seus questionamentos ofendem a ortodoxia? Até agora não vi nada que você questionou que não tenha sido questionado antes e que não tenha sido respondido. Não creio que você despertou ira em nenhum “ortodoxo” e nem deixou alguma pulga atrás da orelha dele.
Um abraço a todos.
Rev. Augustus,
ResponderAntes de qualquer coisa, deveríamos esclarecer o que a expressão "trazer cativo todo pensamento à obediência de Cristo" quer dizer.
Confesso que não me lembro de ter chamado os calvinistas de anti-intelectuais (de onde o senhor tirou essa idéia?). Mas agradeço pela dica do livro.
Fico feliz em saber que meus questionamentos não ofendem a ortodoxia nem os "ortodoxos", que não provocaram ira em ninguém, e nem colocaram uma pulga atrás da orelha de ninguém.
E quando o senhor escreveu, num post anterior, "Lamento quem ficou decepcionado ao perceber que não tenho respostas para todas as questões", por um momento cheguei a pensar que se referia a mim, mas vejo que me enganei. Afinal, como o senhor disse, todos os meus questionamentos já haviam sido feitos e respondidos.
Um abraço.
Ok, pastor, mas eu só abri a lata de minhocas porque vi um anzol, hehehehe.
ResponderEu irei escrever sim, sobre o infra e supralapsarianismo e posto aqui mais tarde (estou no trabalho), apesar de que não vou poder ser extenso.
O meu Blog está com problema de atualização, por isso não apareceu o link do meu último post que comentei ter colocado lá.
Abraços fraternos
Post tenebvras Lux
Atendendo ao pedido do Pr. Augustus:
ResponderInfralapsarianismo é a visão de que embora Deus tenha predestinado os homens antes da fundação do mundo, tal predestinação ocorreu após a previsão da queda, então quando Deus determinou a eleição já via os homens como seres caídos e pecadores, sendo a condenação totalmente semelhante a um ato judicial, enquanto o supralapsarianismo é a visão de que Deus predestinou os homens antes da queda sendo esta um meio para que os propósitos de Deus fossem manifestos.
As duas posições encontram argumentos lógicos e uma fundamentação bíblica insuficiente para derrubar a outra (ou se tal existe, ainda não foi coerentemente exposta), sendo portanto um dos casos teológicos aparentemente insolúveis.
Apesar de Calvino não ter se manifestado sobre o assunto, é bastante possível que o mesmo era infralapsariano, visto acreditar que Adão tinha livre-arbítrio antes da queda, o que somente é possível dentro do sistema infralapsariano (pelo menos coerentemente), embora também seja possível a ausência do livre-arbítrio pré-queda dentro do infralapsarianismo, do mesmo modo todos os deterministas (ou hiper-calvinistas) são supralapsarianos, sem no entanto todo supralapsariano ser determinista.
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Pronto pr., espero que tenha explicado mais do que complicado.
A propósito meu Blog já atualizou, aproveitei e coloquei outro post (a continuação desse comentário), gostaria que desses uma olhada, bem como quem quiser ter uma visão um pouquinho (bem pouquinho mesmo) maior sobre infra e supralapsarianismo.
Também estou aberto a críticas, aqui ou lá.
Abraços.
Davi Eduvirges
P.S.: Pastor quando citei a questão da ordem histórica não foi no sentido de argumento (até pela razão citada pelo senhor), mas apenas de comentário de uma, digamos, "coincidência".
Amigos,
ResponderFiz algumas modificações no post principal, especialmente no ponto 1 e no ponto 6, para deixar meu pensamento mais claro. Agradeço aos irmãos que chamaram minha atenção para essa deficiência aqui e na lista Cristãos Reformados.
Um abraço.
Davi,
ResponderMuito obrigado pelo comentário. Achei bem esclarecedor para o pequeno espaço que você dispunha. Vou dar uma lida no material de seu blog. Um abraço!
Augustus, estive pesquisando pela net a respeito do novo evangelho (na verdade nem tao novo assim) que se anda pregando por ai, no Brasil e me deparei com um site em que se divulga congressos de restauracao, cujo os preletores sao as estrelas do liberalismo-marxista-cristao
Responderhttp://www.congres.com.br/Artigos/artigos.painel.asp?tp=75
Nao seria interessante se alguem (leia-se: voce, mauro, norma braga e solano) desenvolvessem um documento que seria algo como: "10 razoes porque nao concordamos com essa teologia", ou algo parecido, onde teriamos um material conciso que atingisse os pontos mais importantes e fundamentais da teologia crista em contraste com a "anti-crista".
Eles estao bem equipados com farto material informativo e indutivo, quem sabe essa nao seria uma oportunidade para "combatermos o bom combate"!!
Wilson Bento,
ResponderCreio que alguma coisa precisa ser feita, de fato. As frentes não são muitas: internet e publicações. Quanto à essa última frente, em março devem ser lançados dois livros excelentes que analisam criticamente a nova teologia. Sobre a Internet, as reações de vários quadrantes já começaram, menciono apenas o confronto oferecido pelo Luis Sayão e pelo Shedd. Além disso, teve o famoso episódio do blog da Norma Braga.
Podemos pensar em algo mais sistemático, temos munição suficiente, mas o problema é achar a arma que disparar: onde vamos veicular? Vamos pensar mais um pouco sobre isso.
Um abraço.
Professor Augustus Nicodemos,
ResponderA questão da predestinação ou livre arbítrio OU calvinismo X arminianismo, penso que se resolve se entendermos a vontade de Deus. Ora, há um Deus que QUER e um Deus que DESEJA e ambos moram no mesmo Deus. Foi OVÍDIO quem disse certa vez: "Por que é tão difícil querer, sendo infinitamente fácil desejar? Porque no querer fala a força, no desejar a impotência."
Ora, o grande texto para resolver a questão é 1 Tm 2.4 "Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade." (ARC). Penso que a ARC errou. A tradução melhor é a ARA, que permuta QUER por DESEJA. Deus deseja que todos sejam salvos, mas nem todos serão salvos. Pois, se quisesse que todos fossem salvos, eles o seriam - quem pode resistir à sua vontade? O verbo usado lá em 1 Tm 2.4 é Thelo, que significa desejar, ter uma vontade no coração, apenas. Se Deus QUISESSE o verbo seria BOULOMAI, querer com potência, como disse OVÍDIO. Então, no Éden Deus DESEJOU que o homem não pecasse, como Pai amoroso que é, mas como JUSTO JUIZ ele QUIS que o homem tivesse a liberdade de escolher pecar.
Marcelo,
ResponderObrigado por sua reflexão. Permita-me discordar em alguns pontos.
1. Supondo que a questão da predestinação ou livre arbítrio ou calvinismo X arminianismo se resolva com textos que falam da vontade de Deus, ficaremos em maiores dificuldades ainda, pois outras passagens, além da que você citou, limitam a vontade de Deus à salvação de alguns e não de todos (veja Rom Jo 1.13; At 22.14; Rom 9.18; Jo 6.37; Jo 6.44).
2. Seu conceito de que "há um Deus que QUER e um Deus que DESEJA e ambos moram no mesmo Deus" certamente soa estranho à luz do ensinamento bíblico. O fato de que não entendemos profundamente os desejos de Deus não nos permite elaborar idéias sem respaldo bíblico. O ser de Deus é único, coerente, perfeito, sem contradição ou tensão interna. É isso que a Bíblia afirma quando se refere a Deus como perfeito em todos os seus caminhos e quando diz que sua vontade é perfeita, boa e agradável.
3. Não sei se é boa exegese cristã tomar idéias de OVÍDIO e anacronicamente introjetá-las no vocabulário bíblico, especialmente quando se trata de entender o ser de Deus.
4. Você afirmou categoricamente que "Ora, o grande texto para resolver a questão é 1 Tm 2.4". Discordo. Acho que é Romanos 9.15, "Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão". A sua escolha de um versículo reflete já a sua posição antecipada. Se for assim, calvinistas vão preferir o texto que eu mencionei.
5. Simpatizo com sua interpretação de 1Tim 2.4, mas tenho reservas quanto a fazer distinções semânticas entre termos que são usados praticamente como sinônimos na literatura bíblica, e usá-las para definir questões teológicas de profundidade. Recomendo a leitura do livro de D. A. Carson, A exegese e suas falácias. A diferença entre thelo e boulomai é muito tênue para ser escolhida como a chave deste enigma secular. Louw & Nida, dois dos melhores lexicógrafos do grego que temos, colocam os dois verbos no mesmo campo semântico, e não estabelecem praticamente diferença alguma de sentido entre eles.
Em Mat 1.19; Lc 22.42; At 17.20; Ef 1.11 esses dois verbos e os termos derivados deles, como conselho, vontade, desejo, são usados praticamente como sendo intercambiáveis.
E por fim, tentar entender o mistério da vontade de Deus no Éden usando essa distinção feita por Ovído, um poeta romano que escreveu em latim e aprendeu grego mais tarde na vida, é meio temerária.
Um abraço.
Gostei do que o Paulo Brabo escreveu e assino quase por inteiro o que ele disse.
ResponderNão tenho a pretensão de explicar e saber tudo, mas penso que não existe nenhuma contradição entre a soberania de Deus e a liberdade de escolha do homem. Ele é Deus e pode tudo, mesmo estas coisas misteriosamente profundas.
O Deus que é revelado pelas Escrituras nunca age numa perspectiva controladora (o diabo é que actua dessa forma), mas sempre numa perspectiva amorosa, justa e até respeitadora das escolhas (boas e más) do homem. Deus é um Soberano amoroso e não um controlador compulsivo.
Caro Joincanto,
ResponderOs dois primeiros parágrafos do seu comentário dispensam um contra-comentário. O primeiro porque é uma expressão de gosto pessoal. O segundo, porque concordo com você.
Sobre o terceiro parágrafo, vou dizer em que discordamos. Primeiro, acreditamos em deuses diferentes. O Deus em quem eu acredito é soberano e de fato controla tudo o que existe pelo fato de que determinou tudo que existe antes da fundação do mundo. Como ele é amoroso, justo, perfeito e bom, ele domina, reina e faz o que quer, sem que jamais se encontre nele defeito, pecado, injustiça alguma. Ele não precisa que nós o defendamos de injustiça diminuindo a sua soberania. Ele é justo e bom. Ponto.
Segundo, entendemos o diabo de duas formas diferentes. Para você ele é um controlador. Para mim, ele é um pobre diabo, vencido por Jesus na cruz, um anjo caído, uma criatura deformada, que só vai até onde Deus permite. Muito longe de ao menos poder se comparado a Deus ou comparar Deus com ele. Quem fez isso foram os maniqueus.
E terceiro, o homem em quem você parece colocar confiança é diferente daquele em quem eu não coloco confiança nenhuma. O seu homem é capaz de tomar as decisões certas e é tão livre que até Deus respeita tudo o que ele faz. Já para mim, o homem é um pecador caído, corrompido, incapaz do bem espiritual. Dou graças a Deus que ele não respeitou a escolha de Adão, a escolha de Noé, a escolha de Moisés, a escolha de Paulo (aliás, a de Paulo foi que ele não respeitou mesmo, pois se meteu na vida de Paulo sem pedir permissão alguma e o derrubou no caminho de Damasco, sem que Paulo tivesse feito escolha nenhuma) e especialmente dou graças a Deus que não respeitou as minhas escolhas. Porque eu sempre escolhi mal. Sempre escolhi andar em meus caminhos e não nos de Deus. Mas, ele nem ligou. Veio me buscar assim mesmo. Ai do homem a quem Deus diz: seja feita a tua vontade. Ai do homem a quem Deus respeita as escolhas, a vontade e a decisão.
Essas são as nossas diferenças quanto ao seu comentário.
Rev. Augustus,
ResponderEntendo que Paulo, no capítulo 9 de sua epístola aos Romanos, quis abordar o questionamento que eventualmente os israelitas poderiam suscitar a respeito da possibilidade de salvação para os gentios. Parece-me que é esse o verdadeiro sentido dos versículos 14 e 15 ("Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum. Porque diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão."). Ou seja, Paulo estaria dizendo: "Deus está sendo injusto ao estender a possibilidade de salvação aos incircuncisos (não-israelitas)?"
Nesse sentido, a passagem aludida não se referiria à eleição e à predestinação propriamente ditas, e sim ao fato de Deus ter estendido a salvação aos gentios "a despeito" das promessas feitas a Israel. E aos israelitas que reclamassem, alegando injustiça da parte de Deus, Ele diria "Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão."
O que o senhor acha?
Um abraço.
Prezado Marcos Grillo,
ResponderRespondendo à sua indagação, tenho dificuldades em entender a passagem dessa forma, embora com certeza a questão da salvação dos gentios permeie a carta aos Romanos. As minhas dificuldades se resumem nesses pontos.
Primeiro, não tem como entender que Paulo aqui está falando de Deus “estender a salvação aos gentios”. Em nenhum instante nesse capítulo transparece que Deus está oferecendo, levando, dando, entregando a salvação a ninguém: ele está predestinando, elegendo, escolhendo, e reprovando. Leia as palavras como elas foram escritas. É claro que Deus oferece o Evangelho a todos, mas certamente este não é o ponto aqui.
Segundo, entender que a predestinação e a escolha, mencionadas não são individuais mas de povos, não resolve o problema, pois povos são compostos de indivíduos. Se Deus elegeu os gentios, significa que elegeu indivíduos que são gentios. “Povos” não existe como categoria abstrata no vocabulário bíblico.
Terceiro, ao final do capítulo, Paulo diz claramente que os eleitos são compostos de judeus e gentios, leia Rom 9.24. Logo, não se trata da predestinação de gentios, mas da predestinação dos salvos, os quais Deus escolheu, tanto entre judeus quanto entre gentios.
Acho que ajuda se lermos o capítulo seguindo o raciocínio de Paulo. Ele tinha realmente que dar uma resposta para o fato de que a participação dos gentios na igreja estava crescendo e a dos judeus diminuindo. A resposta ele encontra na soberania de Deus na salvação, que a princípio agiu dentro do povo de Israel, escolhendo alguns israelitas e outros, não; e agora, escolhendo indivíduos de outras nações que não Israel.
Ele ilustra a soberania de Deus em escolher quem ele quer com três episódios do Antigo Testamento.
São estes a escolha de Isaque e não de Ismael (Rom 9.7-9), a escolha de Jacó e a rejeição de Esaú (Rom 9.10-13) e a rejeição de Faraó (Rom 9.14-18). Nos dois primeiros casos, Paulo mostra a soberania de Deus em escolher de entre os descendentes de Abraão aqueles que seriam a linhagem espiritual da promessa. Trata-se de uma escolha entre um indivíduo e outro. E trata-se de uma escolha para a salvação e para a perdição. O caso de Faraó ilustra a verdade que Deus não é injusto e nem arbitrário em suas escolhas: ele endurece quem quer e mostra misericórdia a quem quer (Rom 9.14-18).
Em seguida, Paulo usa a ilustração do oleiro, que faz o que quer com seus vasos, para responder aos que ousam questionar a soberania de Deus na salvação de quem ele deseja: “quem é tu para discutires com Deus?” (Rom 9.21). E em seguida aplica a ilustração à situação atual, chegando à resposta do problema enfrentado: os gentios e judeus que abraçam o Evangelho são os vasos de honra preparados por Deus para a salvação. Os que rejeitam, judeus e gentios, são aqueles preparados para a perdição (Rom 9.22-29).
Veja, portanto, que embora a questão dos gentios esteja em foco, como você corretamente mencionou, ela não elimina o ensinamento fundamental de Romanos 9, que Deus soberanamente elegeu os indivíduos que ele quis para a salvação.
Espero ter ajudado.
Prezado Rev. Augustus,
ResponderObrigado pela atenção.
Eu poderia contrapor argumentos aos seus argumentos, mas isso provavelmente só iria estender uma discussão que não pode chegar a um acordo, posto que partimos de pressupostos distintos. Ou seja, inevitavelmente, o senhor lerá sempre os textos segundo a ótica calvinista, enquanto eu, pela ótica "arminiana" (uso as aspas porque, mesmo não me considerando um arminiano propriamente dito, é inevitável que eu seja rotulado como tal). E os nossos pressupostos determinarão nossa compreensão desse e de outros textos bíblicos.
Creio que a Bíblia deve ser lida dentro de um contexto o mais amplo possível, levando-se em conta não só aspectos teológicos e doutrinários, mas também filosóficos, culturais e históricos. Quando nos prendemos a um sistema fechado (seja o catolicismo, o luteranismo, o calvinismo, o arminianismo ou outro qualquer), a tendência é que tenhamos uma compreensão parcial do problema. Nossas interpretações farão sempre sentido dentro do sistema que adotamos, ao passo que interpretações diversas serão sempre rechaçadas independentemente de sua validade intrínscea.
Quanto mais fechado for o sistema, menor será sua abrangência, e maior será sua dificuldade de lidar com a complexidade do real. O marxismo é um exemplo clássico disso. Esse também parece ser o caso do calvinismo, notadamente por causa do seu comprometimento com o dogma da predestinação/eleição.
Quero deixar claro que não estou julgando o senhor nem nenhum irmão que esteja participando dessa discussão. Quem me conhece sabe que eu não sou relativista, nem adepto do pluralismo religioso, e muito menos simpático ao chamado "open theism". Pelo contrário, considero-me um cristão fundamentalista, na medida em que creio nos fundamentos da fé cristã e os defendo publicamente. Mas isso não me impede de refletir criticamente sobre esses fundamentos, não só a fim de identificar aquilo que é realmente fundamental na fé cristã, mas também na busca de uma compreensão que leve em conta o máximo de fatores possível. É nessa perspectiva que tenho procurado entender o plano de salvação divino e a Bíblia, bem como os sistemas que, ao longo da história, propõem-se a interpretá-los.
Gosto da posição que Max Weber deu ao calvinismo, ou seja, a esteira em que se desenvolveu o capitalismo. O Calvinismo poderia contribuir muito em dias onde esse bando de idiotas ainda insiste em implantar um comunismo a lá Zé Carioca no Brasil. Espero que Deus não tenha pré-destinado esse absurdo para os brasileiros, em especial, para os cristãos tupiniquins.
ResponderProfessor Augustus Nicodemos,
ResponderDe fato, penso que apresentei meus apontamentos iniciais, nada aprofundado e final. Li e imprimi sua explicação e prometo ler vagarosamente, com bastante respeito. Sou um batista, um batistão mesmo e para mim o tema predestinação ainda merece uma reforma conceitual - nós usamos eleição mais vezes.
Um abraço.
Luiz Henrique,
ResponderTalvez você devesse dar uma lida em algumas críticas feitas à obra de Weber. Para muita gente boa, ele acabou passando uma visão distorcida da influência do calvinismo no surgimento do capitalismo. De qualquer forma, não creio que o capitalismo necessariamente ajudaria nosso país, mas com certeza a ética calvinista na política, para começar. Veja a Carta de Princípios sobre esse assunto que elaborei para a Universidade Presbiteriana Mackenzie, www.mackenzie,com.br, clique em “chancelaria”.
Ri bastante com essa frase sua, “o Calvinismo poderia contribuir muito em dias onde esse bando de idiotas ainda insiste em implantar um comunismo a lá Zé Carioca no Brasil. Espero que Deus não tenha pré-destinado esse absurdo para os brasileiros, em especial, para os cristãos tupiniquins”. Muito perspicaz e bem humorada. Eu também espero que Deus não tenha predestinado o comunismo à la Zé Carioca para nós!
Um abraço.
Caro Marcos Grillo,
ResponderQuero dizer que concordo com você, que nossos pressupostos têm um papel importante na nossa compreensão de qualquer texto, inclusive a Bíblia, embora discorde da inevitabilidade que a visão gadameriana defende. Se a determinação da compreensão fosse inevitável, não haveria mudança de idéias, de compreensões, nem arminianos como eu se tornariam calvinistas.
Também concordo que quanto mais estreito for o horizonte de compreensão do autor, mais se reduzirá o horizonte do texto. Nesse caso, contudo, discordo de você que o calvinismo seja um sistema mais fechado que o arminianismo. O calvinismo está por detrás do surgimento das grandes instituições da sociedade ocidental, do progresso da ciência, do surgimento das universidades e hospitais, bem como das modernas democracias. O arminianismo, por outro lado, compromissado até o âmago em defender a liberdade libertária do homem, nunca produziu um sistema de pensamento, uma cosmovisão, que permitisse ao homem dar uma interpretação coerente da vida e partir para cumprir o mandato cultural.
Realmente não o conheço, Marcos, mas tenho tido prazer em interagir com seus comentários, sempre bem pensados e bem educados, ao contrário de alguns outros cujos comentários não publicamos pelo tom amargurado, síndrome de vítimas, e que querem trazer o assunto ao nível pessoal.
Quero dizer que o respeito pela maneira como sabe participar de uma discussão.
Um abraço.
Prezado Pr. Augustus,
ResponderDevo dizer que também não creio na inevitabilidade de qualquer hermenêutica que procure levar em consideração os pressupostos do leitor e outros fatores relacionados com o texto em questão. O mais importante, a meu ver, é buscar uma leitura a mais isenta e imparcial possível. Por isso disse que quando adotamos pressupostos oriundos de um determinado sistema, é maior o risco de uma interpretação parcial, risco esse que aumenta quanto mais fechado for o sistema do qual haurimos nossos pressupostos. Na verdade, o ideal é não adotarmos sistema nenhum... Pois todo sistema, por definição, é fechado e ipso facto limita nossa compreensão. Um dos pensadores que com mais veemência criticaram esse caráter dos sistemas foi Kierkegaard, como observa Jean Beaufret: “De todos os filósofos, Kierkegaard é um dos que melhor sentiram qual a distância intransponível que sempre existe entre as certezas dispensadas por um sistema e a realidade do homem. Um sistema não passa jamais de um meio cômodo para se esquivar à dificuldade. Contém previamente todas as respostas a todas as questões possíveis.” (BEAUFRET, Jean. Introdução às filosofias da existência. São Paulo, Duas Cidades, 1976, p. 12.)
Quando me referi ao calvinismo, foi, em última análise, no sentido de que quando nos assumimos como "cristãos" tendemos a ter uma compreensão mais abrangente do que qando nos consideramos "cristãos calvinistas" (isso se não considerarmos as palavras "cristão" e "calvinista" como sinônimas). Ou seja, o compromisso com um determinado sistema doutrinário, seja ele o calvinismo, o luteranismo, o catolicismo ou qualquer outro, tende a limitar a nossa compreensão não só da Escritura Sagrada mas da própria fé cristã. Cada sistema tem a sua peculiaridade — no caso do calvinismo seria a doutrina da predestinação/eleição; no caso do catolicismo, poderíamos destacar o princípio da autoridade magisterial; e assim sucessivamente —, e são justamente essas peculiaridades que definem e delimitam os respectivos sistemas. Por isso mesmo, de pouco adianta trocarmos um sistema por outro (como por exemplo, o arminianismo pelo calvinismo), pois nesse caso, apenas estamos trocando de pressupostos! A questão é saber em que medida podemos ter uma compreensão isenta de qualquer sistema interpretativo. Bem, pelo menos esse pode ser um desafio e me parece um ideal que vale a pena ser perseguido.
São inegáveis os bons frutos do calvinismo e sua contribuição para o desenvolvimento da sociedade ocidental, mas me parece que esses frutos têm mais a ver com a verdade cristã praticada pelos calvinistas do que com o sistema calvinista propriamente dito. Isso pode nos levar a concluir que o calvinismo proporciona a melhor e mais efetiva vivência da fé cristã, mas nesse caso poderíamos estar deixando de lado fatores históricos, culturais e até geográficos que certamente também contribuíram para os êxitos relacionados ao calvinismo (nesse ponto Weber pode nos ajudar bastante!). Por outro lado, a modesta contribuição do arminianismo ao longo da história (se é que houve alguma) pode ser devida ao fato de que o arminianismo não se consolidou como um sistema tanto quanto o calvinismo, além de ter perdido, ao que parece, a batalha para os seguidores de Calvino. Ademais, talvez devêssemos considerar a hipótese de que, ao longo da história do cristianismo (e da civilização ocidental), diversos pastores, clérigos, teólogos e pensadores em geral teriam sido arminianos avant la lettre ou o foram sem saber... Ou seja, grandes contribuições podem ter sido dadas por homens (cristãos) que defenderam a liberdade do ser humano tanto quanto os arminianos o fariam (ou até com maior veemência).
Termino esse post, que já está bastante longo, dizendo que considero uma honra poder dialogar com o senhor e com os demais irmãos que têm participado deste espaço. E procurar ser educado e cordial nada mais é do que a minha obrigação.
Um abraço fraterno!
Meu caro Grillo,
ResponderCreio que já falamos demais. Me desculpe se não postar mais comentários seus. Além de muito longos, ficam dizendo que realmente você não disse isso ou aquilo. Por exemplo, você disse que minha leitura calvinista levaria inevitavelmente a uma compreensão do texto. Quando ponderei que condicionamentos inevitáveis não existem, você respondeu que não foi isso que você tinha dito. Paciência. Está tudo registrado nos comentários.
Publicarei comentários seus que forem breves, objetivos e que tragam alguma novidade. Não me leve a mal. A amizade permanece a mesma.
Um abraço.