quarta-feira, abril 29, 2009

Solano Portela

Tortura Mineira

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Nota Histórica: Há pouco mais de dez anos, trabalhei em um grupo do ramo automotivo. Eu havia sido colocado no lugar de um senhor que, mesmo desligado formalmente, prestava ainda alguma consultoria e se fez presente, durante alguns anos, nas empresas da organização. Os meus contatos com o referido senhor, que era de Minas Gerais, nunca eram muito agradáveis. Ele se empenhava em ressaltar as suas realizações, em creditar tudo que estava certo às suas decisões, e em definir tudo que estava errado como sendo incompetência de outras pessoas. Referia-se com freqüência ao “seu tempo”; como fazia todas as coisas de forma diferentemente mais eficiente; como era mais perspicaz e inteligente e como tinha feito uma diferença significativa por onde passara.

Hoje, fazendo um balanço de minha carreira de mais de 30 anos de trabalho, em vários tipos de organizações, verifico que esse tipo se faz presente em todas as eras, ocasiões e instituições. Uma pessoa, ao ler o texto, disse: "conheço de quem você está falando"! Será? A verdade é que a descrição se aplica a muitos, de qualquer estado ou região. A quantidade de pessoas que considera a auto-exaltação um mecanismo de sobrevivência e modelo de vida, nunca terá fim. Assim, estou fazendo este “post” por considerar que o texto abaixo, escrito em 06 de fevereiro de 1998, captura momentos que são vividos por muitos de nós e ainda é pertinente:

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Fui dormir com dor de cabeça. No final da tarde uma sessão de verborrágica megalomania capitaneada por um ex-integrante (o torturador) do grupo empresarial ao qual me acho ligado chamuscou a ponta dos meus neurônios. Durante mais de duas horas fui submetido à mais cruel das torturas mineiras, na qual o ponto crucial da dor subsiste em infligir ao infeliz ouvinte (o torturado) um extenso monólogo, acompanhado de amplos gestos ilustrativos, pegadas de braço, contato fisico para chamada de atenção e intermitentes — mas generosas — cusparadas, algumas das quais atingem a região próxima aos ouvidos e olhos do torturado, sem dó ou misericórdia.

O propósito do monólogo, é desfilar um rosário de pseudo-realizações, no qual as qualificações, verdadeiras ou não, do super homem que está a falar, sejam expressas e fiquem indelevelmente marcadas na mente da pessoa encurralada. Não é importante se as realizações já foram formuladas no passado, se as qualidades do torturador já foram alvo de auto-divulgação pública, se os fatos relatados são distorcidos e exagerados. O importante para o torturador é que ele possa magnificar ad nauseam as suas realizações, transmitindo a impressão de quão agraciado é o torturado, por estar tendo esses raros momentos em sua presença. O objetivo da tortura é promover uma lavagem cerebral completa, finda a qual o torturado chegará à surpreendente convicção de que o torturador é, realmente, a dádiva de Deus à raça humana.

Um acessório fundamental, à sessão de tortura, é a comparação dos feitos do torturador, de forma velada ou explícita, com as infinitésimas, desprezíveis, incompetentes, inadequadas, errôneas e equivocadas realizações do torturado. Se fatos puderem ser levantados, nos quais haja alusão a perdas substanciais monetárias, causadas pela suposta ignorância do torturado ou por sua falta de ação, a tortura adquire mais eficácia. Obviamente todas essas serão contrapostas aos incríveis lucros gerados pelo torturador ao grupo empresarial do torturado, quando o torturador dele ainda fazia parte. O torturador é exímio no levantamento das incríveis oportunidades empresariais que descobriu, nos mirabolantes negócios imobiliários que aconselhou e na esperteza dos contratos que formulou. No final da sessão o torturado é pressionado a chegar à assombrosa conclusão de que o império econômico que lhe paga os honorários não é devido perspicácia, competência ou senso de negócios do fundador, mas aos atos do torturador.

O torturador tem certeza que o minúsculo cérebro do torturado não consegue enxergar a necessidade de auto-afirmação que motiva as suas colocações. Com o bom senso totalmente cauterizado, fruto de bem sucedidas e incontestadas sessões intermináveis de tortura, o torturador segue à frente na sua missão. Torturados em potencial apressam-se em bajular e exaltar de pronto a pessoa do torturador, na esperança de escapar da sessão que se avizinha. Gestores de maior escalão, empurram o torturador em reuniões de negociação com futuros parceiros de negócios, no sentido de mais rapidamente minar a resistência desses e de enfraquecer a oposição. O torturador não percebe que é manipulado naquilo que aparentemente é sua maior fortaleza - a empáfia, e que a cada passo de sua vida fica mais inchado em si, mais distanciado da realidade, mais cruel, mais mentiroso e cada vez mais só.
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segunda-feira, abril 13, 2009

Mauro Meister

Darwinismo Hoje. HOJE!

Começa hoje, dia 13, o II Simpósio Internacional Darwinismo Hoje. A Primeira palestra será com John Lennox, professor da Universidade de Oxford.


Você pode assistir a palestra AO VIVO, neste link a partir das 19h (todas as palestras no Auditório Ruy Barbosa serão transmitidas, assim como o debate).


Maiores informações, com a programação completa das palestras durante a semana, clique aqui.


Prof. Dr. John Lennox – Doutor em Matemática Pura (1970) e licenciado em Bioética, sendo natural da Irlanda. Professor e pesquisador em Matemática e Filosofia da Ciência. Autor de vários livros sobre as relações da ciência com a religião e ética e publicou mais de setenta artigos sobre matemática. Professor da Universidade de Oxford.


Veja o debate entre Lennox e Dawkins, o famoso cientísta inglês em www.dawkinslennoxdebate.com.


13/04/2009 (Segunda-Feira)

10h – 18h
Auditório Ruy Barbosa
Credenciais
19h – 20h
Auditório Ruy Barbosa
Abertura Oficial
Dr. Adilson Vieira / Dr. Manasses Claudino Fontelles
20h – 21h30m
Auditório Ruy Barbosa
Conferência 1
Dr. John Lennox
“A Origem da Vida e os Novos Ateus”

14/04/2009 (Terça-Feira)

8h – 10h
Credenciais
10h – 12h
Auditório Ruy Barbosa
Conferência 2
Dr. Aldo Mellender de Araujo
“Darwin Ontem e Hoje – 150 anos de Origem das espécies”
15h – 17h
Auditório Ruy Barbosa
Mini-Curso
Ms. Adauto J. B. Lourenço – “Criacionismo”
Dr. Gustavo Caponi – “Evolucionismo”
19h – 21h
Auditório Ruy Barbosa
Conferência 3
Dr. Paul Nelson
“A Árvore da Vida de Darwin”

15/04/2009 (Quarta-Feira)

8h – 9h
Credenciais
9h – 10h
Auditório Ruy Barbosa
Conferência 4
Dr. Gustavo Caponi
“A Origem das Espécies – O livro”
10h – 10h30min
Coffee-break
10h30min – 12h
Auditório Ruy Barbosa
Conferência 5
Dr. John Lennox
“Fundamentos da Moralidade”
13h – 18h
Credenciais
14h – 16h
Oficinas
Dr. Aldo Mellender de Araújo – ”Debates dentro do Darwinismo”
Dr. Marcos Eberlin – “Design Inteligente”
19h – 22h
Auditório Ruy Barbosa
Conferência 6
Dr. Marcos Eberlin
“Fomos Planejados – A maior descoberta de todos os tempos”

16/04/2009 (Quinta-Feira)

8h – 9h
Credenciais
9h – 11h
Auditório Ruy Barbosa
Conferência 7
Dr. Paul Nelson
“Implicações Morais e Intelectuais do Naturalismo Filosófico”
14h – 16h
Oficina
Jornalista Maurício Tuffani
“Tendências da Mídia quanto ao ensino de Design Inteligente nas Escolas e Universidades Públicas e Privadas”.
19h – 22h
Auditório Ruy Barbosa
Mesa Redonda
Moderador: Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes
Dr. Aldo Mellender de Araújo
Dr. Gustavo Caponi
Dr. John Lennox
Dr. Marcos Nogueira Eberlin
Encerramento
Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes
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domingo, abril 12, 2009

Solano Portela

Presságio: reflexões existenciais e escatológicas, a partir do filme

O filme Presságio (Knowing), com Nicholas Cage e Rose Byrne, lançado neste mes de abril de 2009, é intenso, interessante e intrigante. A história revolve em torno da vida de um professor de astrofísica do Massachusetts Institute of Techonoloy (MIT), John Koestler (Nicholas Cage) filho de pastor protestante (possivelmente pentecostal). Provavelmente em função do seu treinamento na área de ciências, Koestler possui uma visão cética, na qual não enxerga propósito e ordem, mas sim aleatoriedade e um desenvolvimento da vida e da natureza em função do acaso. Uma tragédia, a perda da esposa em um acidente, o faz recrudescer nessas convicções, inclusive no afastamento de quaisquer relacionamentos com o seu pai. Koestler toma conta do seu filho, Caleb (Chandler Canterbury) uma brilhante criança de uns 10 anos, sozinho. Um acontecimento vai mudar a sua compreensão da vida e seus relacionamentos: um papel colocado em uma “cápsula do tempo”, por uma garotinha, há 50 anos, contendo indicações de tragédias iminentes. O enredo leva John Koestler a interagir com essas tragédias, algumas ainda no futuro, já tentando impedi-las.

Presságio não é um filme evangélico, classificando-se mais como uma história de suspense e até de algum, bem arquitetado, terror. Sua história, bem desenvolvida e com hábil direção, prende a atenção do início ao fim do filme. Os efeitos especiais são de tirar o fôlego, demonstrando como a tecnologia nessa área, vai sempre superando as últimas apresentações, mesmo quando aparenta que tudo o que podia ser aperfeiçoado já foi conseguido. A história do filme, entretanto, se descortina em cima de temas evangélicos e se presta a uma boa discussão de grupo. Os seguintes pontos podem refletir temas cristãos e fornecem a oportunidade de apresentá-los corretamente, como a Bíblia os revela:

1. Há propósito no universo? Koestler possui uma visão nihilista da vida. Para ele as coisas acontecem sem qualquer relação de causa e efeito, randomicamente. Não há propósito maior no universo. Não há causa inicial e não há destino final. Isso ele ensina tanto ao seu filho (apesar de deixar a opção, politicamente correta, mas mal acomodada: “se você quiser acreditar, acredite”), como à sua classe de universitários sedentos. O interessante é que ele próprio, apresentando o ponto de vista do projeto inteligente, indica as evidências cósmicas para tal. Pegando modelos de madeira dos componentes do sistema solar, diz algo assim: “o que terá colocado esse pequeno planeta azul exatamente na distância correta do Sol, de tal forma que a vida é possibilitada, nele, com a temperatura e condições exatas”? No entanto, descartando a própria evidência que apresenta (e que tem como resposta a existência de um Criador), ele declara acreditar na aleatoriedade e pura chance desse posicionamento da terra, e ausência de propósito não só para o universo, mas para as vidas que o habitam. Retrata, dessa maneira, os milhares de cientistas, cuja profissão e atividades só se fazem possíveis, pela sistematização, ordem e propósito do universo, mas que descartam a existência do Deus Criador Inteligente, como origem de tudo e de todos, e como Aquele que dá sentido e propósito à vida.

2. Profecias provam que há algo mais por trás do que se enxerga. John Koestler irá mudar de idéia, e modificará sua cosmovisão, admitindo que existe muito mais do que a sua percepção finita e imperfeita da vida e das circunstâncias o fizeram concluir, até então. Não, isso não se dá por uma conversão, no sentido cristão, nem por leitura da Bíblia, mas pelo contato que tem com as profecias que se constituem no tema do filme (não vamos contar tudo, para não estragar o suspense dos que ainda não conhecem a história). No entanto, nós cristãos cremos exatamente que as profecias Bíblicas – tanto as que já se cumpriram, como as que ainda estão por si cumprir, emanam do Deus todo poderoso. Elas revelam que ele está em controle.

Na teologia reformada aprendemos que o conhecimento prévio não se constitui na base do plano de Deus (capítulo III, seções 1 e 2, da Confissão de Fé de Westminster), mas exatamente porque ele planejou tudo, na eternidade, com perfeição, ele conhece o que acontecerá, e assim revela (Is 14.24 e 46.9-10), quando lhe apraz. As profecias são grande evidência de que existe muito mais, por trás do que os nossos sentidos apreendem. É verdade, também, que somos alertados a não dar crédito a falsas profecias, e, no caso do filme, temos uma história inventada, que recorre a profecias “auxiliares e extemporâneas”. Como cristãos, crentes nas Escrituras, devemos ter a percepção e convicção que a Bíblia traz tudo que é necessário ao nosso conhecimento religioso e de projeção de vida, tanto no que diz respeito ao passado, como quanto às que ainda haverão de vir. Em vez de ansiedade e preocupação, somos alertados a estar sempre preparados para o nosso encontro com Deus.

3. O fim vem! Durante a maior parte do filme a preocupação maior é em decifrar as indicações das tragédias passadas, bem como as que ainda estão por vir, mas vai ficando claro que o problema à frente é bem maior! Estamos lidando com a destruição da vida na terra – e essa virá em grande paralelo ao que a Bíblia declara: com os elementos ardendo (2 Pe 3.10-12). O filme leva o enredo a uma situação de grande tensão, quando o fim é projetado por circunstâncias cósmicas (que deixaremos de detalhar). Há um período de desagregação social, onde a frágil matiz de justiça da sociedade se desvanece, e, logo a seguir, vem o fim. Prepare-se para uma das mais perfeitas seqüências de efeitos especiais. Elas nos dão um vislumbre de como poderá ser, realmente, o final dos tempos. Ainda que nunca venhamos conseguir a ter a percepção completa do horror daquele momento, é uma boa ocasião para discutir a iminência do julgamento divino e a certeza das profecias escatológicas. Talvez até essa parte possa ser projetada em um grupo de estudo, ou classe de Escola Dominical, para inicio de um debate escatológico.

Além desses três, vários outros temas evangélicos permeiam a história. Outros pontos de contato podem ser os anjos (ruins ou bons?), que aparecem na história e, eventualmente, interagem com os demais personagens; o pai do John Koestler, pastor, com o seu sermão anual centralizado no tema “não desprezeis profecias” (1 Ts 5.20); o reatamento das relações entre pai e filho; as referências às profecias de Ezequiel; uma magistral reconstrução, por efeitos especiais, das rodas concêntricas dos “seres viventes” (Ez 1.15-21 e 10.6-17); e a idéia e visão de “novos céus e de uma nova Terra”. Todos esses, podem resultar em proveitosas discussões, sempre convergindo a atenção e exame sobre o que a Bíblia realmente tem a dizer, quanto a essas questões, e qual a aplicação prática das verdades bíblicas às nossas vidas.

Muitos outros filmes, além de Presságio, têm apresentado uma visão do final dos tempos, como, por exemplo, “O Dia depois de Amanhã” (2004); no entanto, esses outros filmes apresentam o fim de forma diferente dos registros da Bíblia (no “Dia depois de Amanhã” – a catástrofe final é um dilúvio e uma nova era glacial). O que chama atenção, em Presságio, é exatamente o paralelismo sobre a forma do fim. No entanto, devemos estar alertas exatamente para a grande diferença e para a ausência de elementos cruciais à representação das Escrituras: não há qualquer menção à segunda vinda de Cristo; consequentemente não há mensagem, palavra ou esperança de salvação. A esperança, no filme, não é expectativa de certeza de livramento, do cristão, mas apenas um tênue e frágil desejo de que tudo termine bem. E, enquanto o filme fala de “eleitos”, o seu numero e representação, no “novo céu e na nova terra”, muito difere do que a Bíblia nos ensina sobre essa questão, em Ap. 7.9: “... vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos”.

Solano Portela
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