O Leão a Feiticeira e o Guarda-roupa
Fui assistir ao filme da série Nárnia com meus filhos Avner (12) e Nina (9). Posso começar dizendo que gostei imensamente da produção e da razoável fidelidade do script ao livro de C.S. Lewis. Com isto não quero dizer que endosso toda a teologia do autor e a teologia ‘extra’, adicionada por Disney. Algumas coisas poderiam deixar um fã de Lewis muito chateados, e outros, teologicamente plugados, muito preocupados. Se você não leu o livro ou assistiu ao filme, esta mensagem pode não fazer muito sentido!Entre os problemas da teologia de Disney acrescentada ao livro, está o fato de que o pai de Aslam é substituído pela ‘mágica que governa’. Logo, o ‘Imperador que governa além do mar’ torna-se uma força impessoal (mais no estilo Senhor dos Anéis). Outro problema é que Aslam, no livro, é muito mais poderoso e efetivo na sua autoridade do que a forma como está representado no filme. Uma boa resenha do filme, em inglês, encontra-se na revista Christianity Today.
No entanto, o que eu gostaria de comentar foram as reações que nós 3 tivemos durante o filme. Li o livro há muitos anos atrás (mais de 15, com certeza, talvez 20). Quando soube do lançamento do filme, neste ano, recomendei ao meu filho (de 12 anos) que lesse o livro, o que ele fez com prazer. No cinema, nossa expectativa era grande. Até o grupinho de adolescentes que, certamente, tinha ido ao cinema para fazer mais barulho do que o filme foi se calando depois das primeiras cenas. Minha mente esforçava-se para buscar na memória os detalhes da minha leitura de muitos anos antes e comparar com o que eu estava vendo. Minha experiência tem sido de que o filme é sempre decepcionante com relação ao livro. Mas fiquei surpreso.
O filme é envolvente e profundo, ainda que tenha sacrificado alguns diálogos importantes do livro. Outros foram bem mantidos, garantindo a integridade da maior parte da história. A parte mais envolvente do filme é quando Aslam, aquele que todos esperavam para salvar Nárnia, se entrega para ser morto em lugar de um menino, Edmundo, que era rebelde contra seus irmãos e traidor do povo de Nárnia. A caminho do seu lugar de sacrifício, pelas mãos da Feiticeira Branca, Aslam afirma a dois personagens (as filhas de Eva), que era necessário que ele fosse. Nesta altura, minha filha pediu para assentar-se ao meu lado e me disse: “Papai, não estou entendendo o filme”. Veio para o meu colo e eu rapidamente expliquei o caráter representativo dos personagens no filme. Não creio que ela não estivesse entendendo, mas estava hesitante em fazer as conexões da história que ela bem conhecia, e que normalmente não via nos filmes. Quando Aslam finalmente se apresenta para o sacrifício humilhante, meu filho se inclina, algumas cadeiras de distância, e diz: “Pai, é igualzinho na Bíblia!”. Minha sensação, naquele instante, é que ambos compreenderam, no filme, o conceito de redenção. Esta é a proposta de Lewis em seu livro e, pelo menos nós três, tivemos este impacto.
É claro que Aslam, que se entrega para o sacrifício para salvar o menino, (segundo as leis de Nárnia, um traidor teria que ser morto) ressuscita. É impossível para alguém que conhece o que é a redenção graciosa de Cristo e está entendendo o filme não se emocionar nesta altura. Outro elemento interessante é que ao final, quando o reino de Nárnia é restaurado, os dois filhos de Adão e as duas filhas de Eva são coroados como reis e rainhas. Edmundo, que é o pivô da traição contra os irmãos e contra Aslam, é coroado como ‘Edmundo, o justo’. Estes detalhes fazem com que os conhecedores da teologia alinhem seus pensamentos. A última cena reafirma que Aslam, agora se retirando no horizonte, vai voltar.
Termino recomendando o filme e dizendo aos pais cristãos que esta é uma excelente oportunidade de mostrar a história da redenção fora do ambiente regular da igreja e do culto doméstico. Lembro aos que forem ver o filme que se trata de FICÇÃO, e, portanto, buscar a harmonia de todos os elementos que aparecem no filme com aspectos da teologia é como interpretar cada elemento de uma parábola: impossível sem que se conclua uma bobagem! Também recomendo ir com não crentes para assistir ao filme e usar da oportunidade para explicar o conceito de redenção. Ainda que a mensagem esteja lá, quem não conhece a história bíblica não entenderá a preciosidade dos conceitos sem que haja quem os explique.
Mais um link: uma reflexão sobre o livro, por Jerram Bars, "Echoes of Eden in C. S. Lewis' The Lion, the Witch, and the Wardrobe"
6 comentários
comentáriosOla! Gostaria de dizer que concordo com sua opiniao sobre o filme. Eu nao havia lido o livro embora tivesse 4 dos 7 livros da serie, mas ao chegar em casa, fiquei tao intrigado em comparar ambos que li cerca de 20 paginas, e fui dormir com a impressao que provavelmente o livro era bem parecido. Estou economizando leitura para meu voo. Um detalhe, no segundo paragrafo, um dos lugares onde temos "livro" seria filme... um abraco!
ResponderObrigado pelo comentário, André! Já chegou do outro lado?
ResponderEstou tendo experiências interessantes com as crianças lendo a coleção toda de Nárnia. Só hoje, em viagem, meu filho leu um volume inteiro. Além da riqueza da descrição, estão aprendendo a gostar de ler... como esperei por este dia.
Rev. Mauro,
ResponderMuito pertinente e objetivo o seu parecer. Definitivamente Lewis aportou no Brasil. Segue-se uma enxurrada de trabalhos agora traduzidos para o nosso vernáculo sobre o Lewis e os vários aspectos de sua multifacetada obra.
Interessante notar a diferença de bilheteria entre o Brasil e países como EUA e Inglaterra.
No nosso país, em momento algum "O Leão..." chegou a figurar sequer entre os 10+, enquanto que nos países supra... ocuparam por algum tempo o 1º lugar.
Óbvio reflexo do conhecimento anterior sobre Lewis e suas Crônicas.
Concordo entusiasticamente com o Sr. de que o filme pode ser uma excelente ferramenta evangelística.
Gde abraço.
Feliz Natal. Dadivoso 2006.
Márcio
Márcio,
ResponderDesculpe o atrazo da resposta... Com certeza, o filme fará com Lewis se torne mais conhecido na terra brazilis. Espero que isto contribua para que o Cristianismo Puro e Simples se torne fato em nossa nação. Um abraço e abençoado 2006.
Mauro Meister,
Responderexcelente texto. O filme é realmente emocionante.
A paz e a graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
O que não acontecer é fazer "o sobrinho do mago". Choro de tanta emoção na cena de Alam cantando e criando todas as coisas.
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