[Essa foi, na íntegra, a entrevista que concedi à revista Cristianismo Hoje para matéria sobre o legado de Francis Schaeffer, especialmente diante das críticas feitas a ele pelo próprio filho, Franky. A revista não publicou a entrevista na íntegra, mas reproduziu fielmente o teor da mesma.]
CH - Na sua opinião, qual é o legado deixado por Scheaffer para a Igreja Evangélica do século 21?
Schaeffer foi um homem que viveu à frente de seu tempo. Sua análise crítica da cultura e da sociedade da sua época continua relevante e atual. Schaeffer percebeu como poucos os efeitos a longo prazo, no Cristianismo e na sociedade global, da pós-modernidade, a qual começava a se manifestar em seus dias. Os temas aos quais Schaeffer se dedicou e sobre os quais escreveu são os mesmos temas que estamos discutindo hoje, como ecologia, ética na tecnologia, a globalização, o pluralismo e o relativismo. O legado de Schaeffer são suas obras sobre esses temas escritas a partir da cosmovisão cristã reformada. Partindo do referencial bíblico, Schaeffer submeteu a um severo escrutínio os argumentos, conceitos e idéias da pós-modernidade. Todos hoje que buscam uma análise social e cultural crítica consistente, justa e inteligente, do ponto de vista evangélico, encontram nas obras de Schaeffer um apoio inestimável. É claro que muitos o consideram fundamentalista por sua aderência à autoridade e infalibilidade das Escrituras. Mas é exatamente por isso, por partir do referencial bíblico, que sua obra permanece relevante para hoje..
CH - É justo atribuir-se a este legado o comportamento da chamada direita evangélica americana?
Acho que não, embora muitas das idéias de Schaeffer coincidiam com as idéias de vários da chamada direita evangélica. Schaeffer era um pensador independente e capaz de oferecer críticas inclusive à chamada direita evangélica americana. No livro How should we then live (1976) ele critica inclusive o movimento reformado. A tentativa de enfraquecer o legado de Schaeffer associando-o à direita evangélica é feito obviamente pela esquerda evangélica, que por sua vez, está sujeita a críticas severas do ponto de vista do Cristianismo histórico, como por exemplo, a defesa do aborto, do homossexualismo do ecumenismo de todas as religiões. Hoje, com a politização, ideologização e enviezamento das posturas, é praticamente impossível deixar de associar figuras públicas, como Schaeffer, a um partido, um grupo ou movimento. Mas o mesmo pode ser feito com relação aos críticos de Schaeffer, que geralmente podem ser identificados com a esquerda evangélica.
CH - O que ficou, de bom e ruim, da obra de Francis Schaeffer?
De ruim, eu não saberia dizer, pois sempre me beneficiei do seu legado. Sua abordagem pressuposicionalista das posturas teológicas e filosóficas me ajudou bastante, desde a minha época de estudante de seminário até hoje. Como já mencionei acima, Schaeffer continua como referencial de análise social e cultural crítica a partir de pressupostos cristãos reformados. Recentemente, virou moda criticar Schaeffer, inclusive pelo seu próprio filho, o que é lamentável. Para alguns, ele é "muito cartesiano", "fundamentalista"; uma pessoa superada e que empolga apenas os noviços e incautos. Muitos dos críticos brasileiros de Schaeffer são pessoas que se tornaram deslumbradas com o liberalismo e que voltaram as costas à sã teologia, procedente das Escrituras. O fato de Schaeffer utilizar referenciais reformados para interpretar a história e estruturar a sua teologia incomoda a muitos. Assim, escrevem textos chamando Schaeffer de "mente predeterminada" e uma pessoa que dava "importância à Igreja". Tudo isso é anti-evangelicalismo contemporâneo, que prefere um evangelho fluido, indescritível, debaixo de uma graça espúria que não é a graça divina encontrada na Bíblia, mas antes um cobertor gigantesco para deixar a todos felizes e acomodados em seus pecados, enquanto se abraçam uns aos outros.
20 comentários
comentáriosAugustus, Deus o continue agraciando em sabedoria com quebrantamento. Tenho lido Schaeffer e, confesso, não tem sido fácil "ouví-lo" por duas razões: a) compreender seu pensamento; b) "render-me" a ele. Contudo, sigo em frente. Sugiro você indicar outros pensadores como ele, de certo modo, bastante desconhecido por aqui, pois poucas pessoas fora da "academia cristã" sabem dele.
Responderabs, Luis Henrique / Mgá/PR
Francis Schaeffer foi um grande cristão, um grande exemplo de que não devemos nos curvar ao mundo e aceitar esse "cobertor gigantesco" que nos oferecem, mas sim lutar pela verdade. Lamentável saber que há no Brasil quem queira criticá-lo (certamente sem nem conhecê-lo antes). Obrigado pela entrevista, sempre bom ler o blog de vocês.
ResponderBruno
Ninguém, quer seja evangélico ou protestante, de linha conservadora, pode negar a influência benéfica de Schaeffer na história da igreja contemporânea: hoje sabemos mais do que nunca que podemos e devemos desafiar o mundo intelectual rebelde de uma forma eficaz e contundente, expondo às claras a inconsistência e auto-contradição dos diversos pressupostos que controlaram e controlam o pensamento do homem caído desde o Éden até a nossa era.
ResponderSomente aqueles que se encantaram com o flerte neo-ortodoxo ou liberal, não conseguem ver motivos para agradecermos ao Eterno pelo labor e legado de homens não somente como Schaeffer, mas como também Van Til, Clark e outros...
Reverendo, muito obrigado por esclarecer e destacar a relevância do pensamento de Shaeffer para a compreensão do mundo atual. A sua entrevista despertou em mim o desejo de saber mais sobre esse pensador cristão.
ResponderOsmar Neves, Padre Bernardo-GO
Prezado Reverendo,
ResponderTive a oportunidade de ler a trilogia de Francis Schaeffer, “O Deus que Intervém”, “A Morte da Razão” e “O Deus que se Revela”. Gostei muito, mas sei, como sua entrevista bem salientou, que Schaeffer, anda recebendo várias críticas.
Parabéns pela entrevista, seu blog continua como sempre, edificante.
Graça e Paz,
Juber Donizete Gonçalves
www.juberdonizete.blogspot.com/
Caro Nicodemus,
ResponderHomens como Schaeffer serão sempre combatidos e desprezados, porque, afinal de contas, eles não se "encaixam" na última novidade da vitrine intelectual humanista. Um pouco, por soberba dos críticos, outro tanto, por ignorância mesmo. E é preciso muito mais do que um intelecto para se entender os fundamentos cristãos como a inerrância e a infalibilidade das Escrituras (defendidos por Schaeffer): é preciso o Espírito Santo, e fé.
A se lamentar, a retirada do catálogo da CEP da trilogia do Schaeffer (O Deus que Intervém, A Morte da Razão e O Deus que se Revela), sem previsão de nova edição... e eles bem podiam reeditar A Soberania Banida, de Mc Gregor Wright, também.
Abraços.
Caro colega Nicodemus, paz.
ResponderParabéns por essa postagem e pela objetividade e lucidez de seus comentários sobre Schaeffer e sua obra.
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Leon, paz.
"Ninguém, quer seja evangélico ou protestante, de linha conservadora, pode negar a influência benéfica de Schaeffer na história da igreja contemporânea..."
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Ajustando sua fala acima, se é que me permite,
Preciso dizer-lhe que não são apenas os conservadores que têm apreço para com Schaeffer e sua obra...
Eis aqui um neopentecostal (é assim que me rotulam)que admite a importância e a relevância atual dos pensamentos de Schaeffer.
Livros como Como Viveremos (que trata de questões pontuais -porque não pode ser completa- à respeito da cultura ocidental; que busca propor soluções para os dramas de nossa época...), "A Morte da Razão" (que propõe um amplo desafio de se pregar o Evangelho à uma sociedade pós-moderna possuidora de uma linguagem tão peculiar), entre outros, são textos interessantíssimos, promotores do saudável cresciemtno espiritual e intelectual.
Abraços em todos!
A única coisa que o Schaffer deixou de negativo no seu legado foi não fazer as citações em seus livros de homens como Dooyweerd e Van Til. :-)
ResponderEle retira praticamente todas idéias desses dois, que são gigantes holandeses.
Abraços Reformados
Rev. Nicodemus, parabéns pela entrevista à Revista Cristianismo Hoje.
ResponderNessa semana comecei a ler o livro de Francis Schaeffer: “O Deus que se Revela” (Cultura Cristã). Nessa leitura estou impressionado com as argumentações de Schaeffer e sua crítica à modernidade (na verdade pós-modernidade). A leitura de pessoas como Schaeffer nos motiva a defender a fé cristã na Universidade.
Recentemente li um texto de um pastor liberal, que disse sobre sua obrigatoriedade de ler Shaeffer quando ensaiava os primeiros passos como pastor. No texto ele afirma: “Para posarmos de intelectualóides, tínhamos de saber comentar tanto C.S. Lewis como Schaeffer.” Vejo nessa frase um fundamentalismo intolerante (algo que ele critica tanto). Hoje, pra ele, nada de Schaeffer serve, característica de uma mente fechada para o liberalismo.
Enquanto isso esses neoliberais e seus seguidores bebem de fontes cada vez mais estranhas e heterodoxas, achando que inventaram a roda. Lamentável.
Gutierres Siqueira
www.teologiapentecostal.blogspot.com
Rev. Augustus
ResponderO notável Schaeffer é o incomparável pensador do século XX. Acho uma pena, e posso estar errado, que a sua amiga Pearcey não defende a teologia reformada ou não enfatiza a teologia reformada na suas obras, a semelhança de Schaeffer.
As obras de Schaeffer são a minha bússola teológica. Pude recentemente, adquirir uma obra esgota – infelizmente – que mudou a compreensão da existência cristã diante da sociedade – “Manifesto Cristão”. Entre tantos livros que tenho de Schaeffer, esse sem dúvida é o melhor.
A sobriedade de Schaeffer é a inspiração da minha monografia. Num ambiente altamente liberal, defenderei a perspectiva da teologia reformada na sua visão de mundo. Quero aqui, pedir a ajuda do reverendo, se for possível para instruir-me na indicação de obras que enriquecerão o meu trabalho.
Lamentavelmente muitas pessoas acadêmicas desconhecem o ilustre Schaeffer.
Ótimo artigo!
PS: Quero conhecer o reverendo melhor. Tenho trabalhado com o meu mentor espiritual e teológico Franklin Ferreira, na publicação de algumas obras de Calvino pela editora Fiel.
Rev.Augustos Nicodemus
ResponderGostaria de parabenizar pela inicativa em mostrar ao público um personagem tão importante no cenário reformado aplogético.Fiquei impressionado com essa notícia de que seu filho o criticara.Se tiver algum artigo na internet na íntegra,por favor me indique onde posso encontrar.
Como um certo irmão também falou acima,gostaria que Schaeffer,falasse mais sobre os seus influenciadores,como Van Til,e Dooyeweerd.Creio que eles também são de uma grande influência na aplogética calvinista.
Abraços!
Soli deo gloria!!!
Bela entrevista, que despertou em mim o desejo de conhecer melhor a obra deste grande pensador cristão. Me interessaria saber sua opinião sobre AW Tozer, escritor e pastor que pouco é citado, pelo que tenho visto, aqui neste blog. Gostaria também de, se possível, obter algum e-mail de contato para poder lhe fazer algumas perguntas acerca de alguns pontos do calvinismo. Um grande abraço,
ResponderMoisés
Querido pastor, fazer elogios às suas postagens ja se tornou, para mim, algo redundante, pois todas são brilhantes.
ResponderAcabo de ler o livro "A morte da Razão" do Shaeffer, e é simplesmente maravilhoso o quanto de informações um livro tão pequeno pode conter. Isso mostra o brilhantismo de Shaeffer, assim como, a sua relevância para o Evangelho de Cristo.
Penso que aqueles que o criticam o fazem sem saber o que realmente criticam, pois apenas aqueles que são contra as verdades do Cristianismo poderiam agir de forma semelhante.
Um grande abraço,
Samuel
http://www.ateudemim.blogspot.com/
Tive o privilégio de ler a trilogia de Schaeffer e também assisti aos videos dele "How Should We then Live". Ele comeca com a Roma antiga e mostra como a sociedade mudou até hoje em dia, demonstrando como a visão cristã bíblica sempre foi a melhor cosmovisão pois é a única verdadeira interpretação do mundo.
ResponderAchei aqui alguns segmentos daquele vídeo, porém em inglês:
youtube.com/profile_videos?
user=LaneCh&search_query=schaeffer
Não sei se os videos existem em forma legendada no Brasil, mas com certeza foi mais fácil entender o que ele queria dizer no video do que nos livros dele...
Li uma entrevista com o filho dele antes de ver os vídeos e ler os livros de Schaeffer... a entrevista só ajudou a me lembrar que todo homem peca, não é infalível, e precisa da graça de Deus... mesmo assim Deus pode usar qualquer um, e creio que Ele usou o ministério de Schaeffer para alcançar a muitos.
Boa entrevista Rev. Augustus. Saudades de você e tua família...
Darius
Gostei muito do post, vou pesquisar mais sobre ele. Gostaria de sugerir a vcs que analisassem os filmes da franquia de Nárnia, que a Disney tem trazido às telonas. Tem muito crente vendo o filme e não exergando nada do que Lewis quis contar...
ResponderSugiro tb textos sobre George Mcdonald e Milton (Paraíso Perdido), autores tão marcantes mas talvez, pouco conhecidos do grande público.
Abração,
Guilherme
Não sei se teve oportunidade de ler, mas Caio Fábio deu uma entrevista tmb sobre Shaeffer e acho interessente a sua opnião:
Responderhttp://www.caiofabio.com/novo/caiofabio/pagina_conteudo.asp?CodigoPagina=0385900012
O que você acha?
Abraços,
Custódio.
É Augustus...
Responderacabei lendo alguma coisa do Schaeffer.
Primeiramente a morte da razão, achei um pouco suspeita a obra. Porém serve como um passeio pela filosofia e artes.
Mas agora comecei a ler o Deus que intervém. Estou gostando muito. O primeiro capítulo sobre metafísica está me deixando impressionado pelas idéias e pela sobreidade do autor. Bem que o Volney me alertou para olhar para o Schaeffer com mais carinho.
Abrçs,
Roger
Olá, gostaria de saber onde posso encontrar os livros deste autor. Se puderem indicar, agradeço.
ResponderObrigada,
Scherow
E-mail para contato: clicsharow@yahoo.com.br
GOSTARIA DE COMPRAR OS LIVROS DO AUTOR TAMBÉM
ResponderE-MAIL MIRIAMVSC@YAHOO.COM.BR
ONDE POSSO ENCONTRAR
As obras “o Deus que Intervém”, “ A morte da Razão”, “ Deus- Nem Silencioso nem Ausente”
Rev. Nicodemus, é relmente lamentável que um teólogo do calibre do Shaeffer seja hoje tão ignorado; muitos inclusive nunca ouviram falar dele,pior,pastores e seminaristas; pior a própria teologia reformada também é ignorada e discriminada. Se eu fosse pessimista diria que o futuro da Igreja é sombrio, devido à essa ignorância.Todavia, o Senhor da Igreja é misericordioso e sempre levanta mestres para instruir "este é o caminho, andai nele.
ResponderQue o Senhor o abençoe abundantemente.
Abs.
Edilson