Vamos iniciar perguntando o que é um “evangelho”. O termo é a tradução da palavra grega euaggelion, “boas novas”, usada a princípio para se referir ao conteúdo da mensagem de Jesus Cristo e dos seus apóstolos. Posteriormente, a palavra veio se referir a um gênero literário específico que nasceu com o Cristianismo no séc. I. Lembremos que o Cristianismo, em termos culturais, ocasionou o surgimento, não somente de novas músicas, mas também de gêneros literários como epístolas e evangelhos.
Esse novo gênero literário tinha algumas características distintas. Incluía obras escritas entre o séc. I e o séc. IV por autores cristãos que giravam em torno da pessoa de Cristo, sua obra e seus ensinamentos. Essas obras reivindicam autoria apostólica ou de alguma outra personagem conhecida da tradição cristã. Reivindicavam também que seu conteúdo remontava ao próprio Jesus.
Existem centenas de “evangelhos” conhecidos. Alguns são apenas mencionados na literatura dos Pais da Igreja e deles não temos qualquer amostra do conteúdo. Outros sobreviveram em fragmentos ou reproduzidos em parte em outras obras, como, por exemplo:
Evangelhos Canônicos
Nessa primeira categoria se enquadram somente 4 evangelhos, os Sinóticos e João. Conforme a tradição patrística e da Igreja em geral, eles foram escritos no séc. I pelos apóstolos de Jesus Cristo ou alguém do círculo apostólico. Marcos teria sido o primeiro a ser escrito, no início da década de 60, por João Marcos, que segundo a tradição, registrou o testemunho ocular de Simão Pedro. Ele escreveu aos cristãos de Roma para ajudá-los e fortalecê-los diante das perseguições.
Mateus teria sido escrito em meados da década de 60 por Mateus, o publicano apóstolo, para evangelizar os judeus, a partir do seu testemunho ocular e usando talvez o Evangelho de Marcos como base para a estrutura da narrativa.
Lucas, escrito pelo médico gentio Lucas, convertido ao Cristianismo, que foi companheiro de viagem de Paulo e que freqüentava o círculo apostólico, teria produzido esse evangelho pelo final da década de 60, a partir de pesquisa que fez da tradição oral e escrita que remontava aos próprios apóstolos. Seu objetivo, conforme declaração no início da obra Lucas-Atos, era firmar na fé um nobre romano chamado Teófilo.
Já o Evangelho de João teria sido escrito pelo apóstolo amado por volta da década de 70 ou 80, com aparentemente vários objetivos, entre eles combater o crescimento do gnosticismo. João escreve a partir de seu testemunho ocular, a partir do seu entendimento acerca da pessoa e da obra de Cristo.
Esses 4 evangelhos cedo foram reconhecidos pela Igreja cristã nascente como inspirados por Deus e autoritativos, como Escritura Sagrada, visto que seus autores foram apóstolos, a quem Jesus havia prometido o Espírito Santo para os guiar em toda a verdade (Mateus e João), ou alguém proximamente relacionado com eles (Lucas e Marcos). Assim, eles aparecerem em listas importantes dos livros recebidos como canônicos pela igreja, como o Cânon Muratório (170 d.C.), a lista de Eusébio de Cesareia (260-340) e a lista de Atanásio (367).
Os demais evangelhos, chamados de apócrifos, implicitamente reconhecem a validade do critério canônico da apostolicidade, ao reivindicar para si também a autoria apostólica e o conhecimento de segredos que não foram revelados aos apóstolos.
Evangelhos Apócrifos
O nome vem do grego apocryphon, “oculto”, “difícil de entender”. Esses evangelhos são geralmente classificados em narrativas da infância de Jesus, narrativas da vida e da paixão de Jesus, coleção de ditos de Jesus e diálogos de Jesus.
As narrativas da infância mais conhecida são o Proto-Evangelho de Tiago, Evangelho de Tomé o Israelita, o Livro da Infância do Salvador, a História de José, o Carpinteiro, o Evangelho Árabe da Infância, a história de José e Asenate e o Evangelho Pseudo-Mateus da Infância. Entre as narrativas da vida ou paixão de Cristo mais importantes se destacam o Evangelho de Pedro, o Evangelho de Nicodemus, o Evangelho dos Nazarenos, o Evangelho dos Hebreus, o Evangelho dos Ebionitas e o Evangelho de Gamaliel.
Existem apenas dois que se enquadram na categoria de coleção de ditos de Jesus, o Evangelho de Tomé e o suposto documento Q (quelle, “fonte” em alemão), do qual não se tem prova concreta da existência. Na categoria de diálogos de Jesus com outras pessoas e revelações que ele fez em secreto mencionamos o Diálogo com o Salvador e o Evangelho de Bartolomeu.
Essas obras são chamadas de evangelhos apócrifos por que não são considerados como obras genuínas, produzidas pelos apóstolos ou pelos supostos autores. Além disso, pretendem transmitir um conhecimento esotérico, oculto, além daquele conhecimento dos apóstolos. Em grande parte, esses evangelhos foram escritos por autores gnósticos com o propósito de difundirem as suas idéias no meio da igreja, usando para isso a autoridade dos evangelhos canônicos e dos apóstolos. Alguns deles foram encontrados século passado em Nag Hammadi, norte do Egito.
O Proto-evangelho de Tiago, por exemplo, escrito no século II, que descreve o nascimento e a infância de Jesus e a juventude da Virgem Maria, é tipicamente uma tentativa de satisfazer à curiosidade popular em torno de coisas não mencionadas nos evangelhos canônicos. A teologia desse "evangelho" é a de um docetismo popular: Jesus tem um corpo não sujeito às leis do espaço e do tempo. O escrito não tem valor como fonte histórica sobre Jesus.
Outro exemplo é o Evangelho da Verdade. Esse não é um evangelho no sentido costumeiro da palavra; é antes uma meditação, uma espécie de sermão sobre a redenção pelo conhecimento (gnosis) de Deus. É atribuído ao gnóstico Valentino, que viveu em meados do século II e por conseguinte, não ajuda em nada a pesquisa sobre o Jesus histórico. Na mesma linha vai o Evangelho de Filipe, escrito antes de 350. É, evidentemente, uma compilação de materiais mais antigos. O texto causou certo sensacionalismo quando da sua publicação, porque sugere uma relação amorosa entre Jesus e Maria Madalena. O Evangelho de Pedro – um fragmento que se conservou – descreve o processo contra Jesus, sua execução e sua ressurreição. Sua cristologia é a do docetismo: aquele que sofre e morre é apenas uma aparição do verdadeiro Jesus, que é divino e por isso não pode sofrer e morrer. Conforme esse evangelho, o corpo de Jesus se volatiliza na cruz antes de subir ao céu.
É preciso dizer que existem vários destes evangelhos apócrifos que foram compostos por autores cristãos desconhecidos, não gnósticos, e que aparentam refletir um tipo de cristianismo popular marginal. A maior parte deles pretende suprir a falta de informação histórica nos evangelhos canônicos, fornecendo detalhes sobre a infância de Jesus, diálogos dele com os apóstolos, informações sobre Maria e demais personagens que aparecem nos evangelhos tradicionais. Em alguns casos, parece que foram escritos para defender doutrinas não apostólicas e que estavam começando a ganhar corpo dentro do Cristianismo, como por exemplo, o conceito de que Maria é mãe de Deus e medianeira. O Proto-Evangelho de Tiago, já do séc. III, explica porque Maria foi a escolhida: por sua virgindade e santidade, e a defende como mãe de Deus e medianeira.
Alguns contém exemplos morais não recomendáveis. Por exemplo, o Evangelho de Tomé, o Israelita, narra diversos episódios em que o menino Jesus amaldiçoa e mata quem fica em seu caminho. Quase todos são recheados de histórias lendárias e bobas, como o Evangelho de Nicodemus, que narra como José de Arimatéia, Nicodemus e os guardas do sepulcro se tornaram testemunhas da ressurreição de Jesus. É um livro cheio de lendas, fantasias e histórias fantásticas.
Os evangelhos apócrifos usaram diversas fontes em sua composição: o Antigo Testamento, os próprios evangelhos canônicos e as cartas de Paulo. Usaram também tradições cristãs extra-canônicas, de origem desconhecida e suas próprias idéias e conceitos.
A Atitude da Igreja para com os Evangelhos Apócrifos
No período pós-apostólico alguns desses Evangelhos chegaram a ser recebidos por um tempo, como leitura proveitosa, como o Evangelho de Pedro, a princípio recomendado por Serapião, bispo de Antioquia em 191 d.C., mas depois, ele mesmo reconhece que ele tem elementos estranhos e o desrecomenda. Assim, nenhum deles jamais foi reconhecido como autêntico e apostólico.
Desde cedo a Igreja Cristã rejeitou estas obras, pois não preenchiam o critério de canonicidade: não foram escritas pelos apóstolos ou por alguém ligado a eles, contradiziam a doutrina cristã, tinham exemplos e recomendações morais e éticas pouco recomendáveis, e seus autores falsamente atribuíram a autoria aos apóstolos, como por exemplo, o Evangelho de Tomé, de Pedro, de Bartolomeu, de Filipe. Além do mais, suas histórias fantásticas acerca de Cristo claramente revelavam seu caráter especulativo e supersticioso, ao contrário da sobriedade e da seriedade dos evangelhos bíblicos. Não é de admirar, portanto, que eles não aparecem em nenhuma das listas canônicas, onde os 4 evangelhos canônicos aparecem.
Aqui cabe-nos mencionar o testemunho de Eusébio em sua História Eclesiástica, ao falar do Evangelho de Pedro, Tomé e Matias:
O renascimento do interesse pelos evangelhos apócrifos, em particular, os gnósticos.
A partir da visão crítica defendida pelo liberalismo teológico e pelo método histórico-crítico, em anos recentes os evangelhos escritos pelos gnósticos passaram a receber grande atenção e importância nos estudos neotestamentários das origens do Cristianismo e na chamada busca do Jesus histórico.
Vários fatos têm contribuído para isso. Primeiro, o surgimento do Jesus Seminar nos Estados Unidos, considerada a 3ª. etapa da busca do Jesus histórico iniciada pelos liberais do século XVIII. Um de seus membros mais conhecidos, cujas obras têm sido traduzidas e publicadas no Brasil é John Dominic Crossan. Em sua obra O Jesus Histórico: A vida de um camponês judeu do mediterrâneo de 1991, ele emprega os apócrifos Evangelho de Pedro e especialmente o Evangelho de Tomé para a reconstrução do Jesus histórico. Segundo Crossan, essas duas obras são mais antigas que os Evangelhos canônicos e contém informações importantes que não foram incluídas em Mateus, Marcos, Lucas e João. Essa atitude de Crossan é característica dos demais membros do Jesus Seminar e de muitos outros eruditos neotestamentários, que aceitam a autoridade dos evangelhos apócrifos, especialmente os gnósticos, acima daquela dos canônicos. Aqui podemos mencionar Elaine Pagels, cuja obra Os Evangelhos Gnósticos, recentemente traduzida e publicada em português, vai nessa mesma direção.
Segundo, a publicidade e o sensacionalismo da grande mídia em torno da descoberta e publicação dos textos dos evangelhos gnósticos, como o Evangelho de Judas e de Tomé. A mídia tem difundido a teoria de que a Igreja cristã teria ocultado e guarda até hoje outros evangelhos que remontam à época de Jesus e que contradiriam e refutariam totalmente o Cristianismo tradicional e ortodoxo. A veiculação pela mídia vai na mesma linha de propaganda e especulações anticristãs voltadas mais diretamente contra a Igreja Católica Romana e que acaba respingando nos protestantes, especialmente as igrejas históricas. Em 2004 foi o Evangelho de Tomé. Em 2006 foi a vez do Evangelho de Judas ganhar a capa de revistas populares pretensamente científicas. A ignorância dos articulistas, o preconceito anticristão, a busca do sensacionalismo, tudo isso contribuiu para que a publicação do manuscrito copta do Evangelho de Judas recebesse uma atenção muito maior do que a devida. Em 2007 foi a suposta sepultura de Jesus, uma inscrição antiga contendo o nome de Tiago, irmão de Jesus, e outras “descobertas” arqueológicas, fizeram a festa da mídia em anos mais recentes.
Não se deve pensar que essa atitude é um fenômeno atual. Desde os primórdios do Cristianismo, escritores pagãos como Celso e Amiano Marcelino publicam material atacando as Escrituras e o Cristianismo. Estou acostumado a assistir, anos a fio, a exploração sensacionalista dessas descobertas. Quando da descoberta dos Manuscritos do Mar Morto e das polêmicas e questões inclusive legais que envolveram a tradução e a publicação dos primeiros rolos, a imprensa da época especulava que os Manuscritos representariam o fim do Cristianismo, pois traria informações que contradiriam completamente o Evangelho. Os anos se passaram e verificou-se a precipitação da imprensa. Os rolos na verdade tiveram o efeito contrário, confirmando a integridade e autenticidade do texto massorético do Antigo Testamento.
Terceiro, produções de Hollywood como “O Código da Vinci”, “O Corpo”, “Estigmata”, “A última Ceia de Cristo” que se baseiam nesses evangelhos gnósticos têm servido para difundi-los popularmente.
O Evangelho de Judas
Examinemos mais de perto os dois evangelhos gnósticos que têm atraído recentemente a atenção da academia e do público em geral, que são os evangelhos de Judas e de Tomé.
O Evangelho de Judas preservou-se em um manuscrito copta do século IV, que supostamente conteria uma tradução do evangelho apócrifo grego de Judas, cuja origem é estimada em meados do século II. A restauração e a tradução do manuscrito copta foram anunciados em 6 de abril de 2006, pela National Geographic Society em Washington.
Não se trata da descoberta do Evangelho de Judas. O mesmo já é um velho conhecido da Igreja cristã. Elaborado em meados do século II, provavelmente na língua grega, era conhecido de Irineu, um dos pais apostólicos. Na sua obra Contra as Heresias, Irineu o menciona explicitamente, como sendo uma obra espúria produzida pelos gnósticos da seita dos Cainitas. No século V o bispo Epifânio critica o Evangelho de Judas por tornar o traidor em um feitor de boas obras.
Não se trata também da descoberta de um manuscrito antes desconhecido contendo essa obra. Acredita-se que o único manuscrito conhecido, escrito em copta, foi descoberto em meados da década de 1950 e depois de uma longa peregrinação nas mãos de colecionadores, bibliotecas, comerciantes de antiguidades e peritos, chegou às mãos das autoridades. Sua existência foi anunciada ao mundo em 2004. Trata-se de um códice com 25 páginas de papiro, envoltas em couro, das 62 páginas do códice original. Somente essas 25 páginas foram resgatadas pelos especialistas. A tradução que veio a lume em 2006 é dessas páginas.
O que é de fato novo é a tradução do texto desse apócrifo, texto até então desconhecido. Contudo, o ponto central que a mídia tem destacado com sensacionalismo, já era conhecido mediante as citações de Irineu e Epifânio, ou seja, que esse evangelho procura reabilitar Judas da pecha de traidor, transformando-o em vítima e herói.
Várias matérias publicadas na mídia diziam que Judas Iscariotes é o autor desse evangelho. Contudo, não existe prova alguma disso. Segundo o relato dos quatro Evangelhos canônicos, Judas suicidou-se após a traição. Como poderia ser o autor dessa obra? Irineu, no século II, atribuía a autoria do evangelho de Judas aos Cainitas, uma seita gnóstica. No códice descoberto e agora publicado, não consta somente o evangelho atribuído a Judas, mas duas obras a mais: a “Carta a Filipe” atribuída ao apóstolo Pedro e “Revelação de Jacó”, relacionado com o patriarca hebreu. A presença do evangelho de Judas em meio a essas duas obras apócrifas é mais uma prova da autoria espúria desse evangelho. Chega a ser irritante o preconceito da mídia, que sempre veicula matérias que negam a autoria tradicional dos Evangelhos canônicos, mas que rapidamente atribui a Judas Iscariotes a autoria desse apócrifo.
O manuscrito que agora foi traduzido não data do século II, mas do século IV. Especula-se que é uma tradução para o copta de uma obra mais antiga escrita em grego, que por sua vez dataria de meados do século II. Daí a inferir a autoria de Judas Iscariotes, que morreu na primeira parte do século I, vai uma grande distância. A seita dos Cainitas, segundo Irineu em Contra as Heresias, era especialista em reabilitar personagens bíblicas malignas, como Caim, os sodomitas e Judas. A produção de um evangelho reabilitando o traidor se encaixa perfeitamente no perfil da seita.
Ao final, pesando todos os fatos e filtrando o sensacionalismo e o preconceito anticristão, a publicação do evangelho de Judas em nada contribuirá para nosso conhecimento do Judas Iscariotes histórico e muito menos do Jesus histórico – servirá apenas para nosso maior conhecimento das crenças gnósticas do século II. Não representa qualquer questionamento sério do relato dos Evangelhos canônicos, cuja autoria e autenticidade são muito mais bem atestadas, datam do século I e receberam reconhecimento e aceitação universal pelos cristãos dos primeiros séculos.
O Evangelho de Tomé
Esse Evangelho consiste numa coleção de 114 ditos que Jesus supostamente teria ditado a seu irmão gêmeo, Tomé. Ele faz parte da livraria gnóstica descoberta em Nag Hammadi em meados do século passado. O que temos é um manuscrito copta, tradução de uma versão em grego desse Evangelho, datada do séc. III. Calcula-se que o evangelho original deve ter sido escrito no séc. II.
Não se trata de um evangelho no sentido usual do termo, visto que não contém qualquer narrativa sobre o nascimento, ministério ou paixão de Cristo. Trata-se de uma coleção de ditos de Jesus sem qualquer moldura geográfica, temporal ou histórica que nos permita localizar quando, onde e em que contexto Jesus os teria pronunciado. Calcula-se que foi escrito na região da Síria, onde existem tradições sobre o apóstolo Tomé e onde se sediava a seita dos encratitas, ascéticos que defendiam uma forma heterodoxa de Cristianismo.
Apesar de trazer muitas citações dos evangelhos canônicos, a teologia do Evangelho de Tomé é abertamente gnóstica. Defende a salvação através do conhecimento secreto e esotérico que Jesus revelou a seu discípulo Tomé. Está eivado das dicotomias e dualismos característicos do pensamento gnóstico mais evoluído do séc. II. Trata-se claramente de uma produção dos mestres gnósticos, que se valeram dos evangelhos canônicos e do nome do apóstolo Tomé para divulgar e espalhar suas crenças.
Como reagimos a tudo isso?
Apesar de todos os esforços da mídia e dos liberais, não se consegue provar que os evangelhos gnósticos foram escritos no primeiro século. Eles são produções posteriores aos canônicos e que se valeram dos canônicos como fontes. O maior argumento dos liberais para provar que o Evangelho de Tomé, contendo ditos de Jesus, foi escrito no séc. I antes dos canônicos depende da existência do suposto proto-Evangelho “Q”, a qual nunca foi provada.
O testemunho dos pais apostólicos é unânime em rejeitar esses evangelhos e atribuí-los a falsificações feitas pelos gnósticos com o propósito de espalhar suas ideais e ensinamentos. O conteúdo deles é distintamente diferente dos evangelhos canônicos e da religião ensinada no Antigo Testamento.
As reconstruções do Jesus histórico feitas pelos que dão prioridades aos apócrifos, especialmente os evangelhos gnósticos, deixam sem explicação o surgimento das tradições escatológicas a respeito dele que hoje encontramos nos Evangelhos canônicos. Nem mesmo a tese da “imaginação criativa da comunidade” defendida pela crítica da forma pode explicar satisfatoriamente como um camponês judeu, com idéias e estilo de vida de um filósofo cínico, praticando o curandeirismo entre o povo simples, cheio de idéias gnósticas, acabou por ser transformado no Cristo que temos nos Evangelhos em tão curto espaço de tempo, e ainda com as testemunhas oculares dos eventos ainda vivas.
Esse novo gênero literário tinha algumas características distintas. Incluía obras escritas entre o séc. I e o séc. IV por autores cristãos que giravam em torno da pessoa de Cristo, sua obra e seus ensinamentos. Essas obras reivindicam autoria apostólica ou de alguma outra personagem conhecida da tradição cristã. Reivindicavam também que seu conteúdo remontava ao próprio Jesus.
Existem centenas de “evangelhos” conhecidos. Alguns são apenas mencionados na literatura dos Pais da Igreja e deles não temos qualquer amostra do conteúdo. Outros sobreviveram em fragmentos ou reproduzidos em parte em outras obras, como, por exemplo:
- Evangelho dos Hebreus
- Evangelho dos Ebionitas (ou dos Doze Apóstolos)
- Evangelho dos Egípcios
- Evangelho Desconhecido
- Evangelho de Pedro, para mencionar alguns.
- Os Evangelhos canônicos de Mateus, de Marcos, Lucas e de João,
- Evangelho de Tomé
- Evangelho de Judas
- Evangelho de Nicodemus
- Proto-Evangelho de Tiago
- Evangelho de Tomé o Israelita
- Livro da Infância do Salvador
- História de José, o Carpinteiro
- Evangelho Árabe da Infância
- História de José e Asenate
- Evangelho Pseudo-Mateus da Infância
- Descida de Cristo ao Inferno
- Evangelho de Bartolomeu
- Evangelho de Valentino, entre outros.
Evangelhos Canônicos
Nessa primeira categoria se enquadram somente 4 evangelhos, os Sinóticos e João. Conforme a tradição patrística e da Igreja em geral, eles foram escritos no séc. I pelos apóstolos de Jesus Cristo ou alguém do círculo apostólico. Marcos teria sido o primeiro a ser escrito, no início da década de 60, por João Marcos, que segundo a tradição, registrou o testemunho ocular de Simão Pedro. Ele escreveu aos cristãos de Roma para ajudá-los e fortalecê-los diante das perseguições.
Mateus teria sido escrito em meados da década de 60 por Mateus, o publicano apóstolo, para evangelizar os judeus, a partir do seu testemunho ocular e usando talvez o Evangelho de Marcos como base para a estrutura da narrativa.
Lucas, escrito pelo médico gentio Lucas, convertido ao Cristianismo, que foi companheiro de viagem de Paulo e que freqüentava o círculo apostólico, teria produzido esse evangelho pelo final da década de 60, a partir de pesquisa que fez da tradição oral e escrita que remontava aos próprios apóstolos. Seu objetivo, conforme declaração no início da obra Lucas-Atos, era firmar na fé um nobre romano chamado Teófilo.
Já o Evangelho de João teria sido escrito pelo apóstolo amado por volta da década de 70 ou 80, com aparentemente vários objetivos, entre eles combater o crescimento do gnosticismo. João escreve a partir de seu testemunho ocular, a partir do seu entendimento acerca da pessoa e da obra de Cristo.
Esses 4 evangelhos cedo foram reconhecidos pela Igreja cristã nascente como inspirados por Deus e autoritativos, como Escritura Sagrada, visto que seus autores foram apóstolos, a quem Jesus havia prometido o Espírito Santo para os guiar em toda a verdade (Mateus e João), ou alguém proximamente relacionado com eles (Lucas e Marcos). Assim, eles aparecerem em listas importantes dos livros recebidos como canônicos pela igreja, como o Cânon Muratório (170 d.C.), a lista de Eusébio de Cesareia (260-340) e a lista de Atanásio (367).
Os demais evangelhos, chamados de apócrifos, implicitamente reconhecem a validade do critério canônico da apostolicidade, ao reivindicar para si também a autoria apostólica e o conhecimento de segredos que não foram revelados aos apóstolos.
Evangelhos Apócrifos
O nome vem do grego apocryphon, “oculto”, “difícil de entender”. Esses evangelhos são geralmente classificados em narrativas da infância de Jesus, narrativas da vida e da paixão de Jesus, coleção de ditos de Jesus e diálogos de Jesus.
As narrativas da infância mais conhecida são o Proto-Evangelho de Tiago, Evangelho de Tomé o Israelita, o Livro da Infância do Salvador, a História de José, o Carpinteiro, o Evangelho Árabe da Infância, a história de José e Asenate e o Evangelho Pseudo-Mateus da Infância. Entre as narrativas da vida ou paixão de Cristo mais importantes se destacam o Evangelho de Pedro, o Evangelho de Nicodemus, o Evangelho dos Nazarenos, o Evangelho dos Hebreus, o Evangelho dos Ebionitas e o Evangelho de Gamaliel.
Existem apenas dois que se enquadram na categoria de coleção de ditos de Jesus, o Evangelho de Tomé e o suposto documento Q (quelle, “fonte” em alemão), do qual não se tem prova concreta da existência. Na categoria de diálogos de Jesus com outras pessoas e revelações que ele fez em secreto mencionamos o Diálogo com o Salvador e o Evangelho de Bartolomeu.
Essas obras são chamadas de evangelhos apócrifos por que não são considerados como obras genuínas, produzidas pelos apóstolos ou pelos supostos autores. Além disso, pretendem transmitir um conhecimento esotérico, oculto, além daquele conhecimento dos apóstolos. Em grande parte, esses evangelhos foram escritos por autores gnósticos com o propósito de difundirem as suas idéias no meio da igreja, usando para isso a autoridade dos evangelhos canônicos e dos apóstolos. Alguns deles foram encontrados século passado em Nag Hammadi, norte do Egito.
O Proto-evangelho de Tiago, por exemplo, escrito no século II, que descreve o nascimento e a infância de Jesus e a juventude da Virgem Maria, é tipicamente uma tentativa de satisfazer à curiosidade popular em torno de coisas não mencionadas nos evangelhos canônicos. A teologia desse "evangelho" é a de um docetismo popular: Jesus tem um corpo não sujeito às leis do espaço e do tempo. O escrito não tem valor como fonte histórica sobre Jesus.
Outro exemplo é o Evangelho da Verdade. Esse não é um evangelho no sentido costumeiro da palavra; é antes uma meditação, uma espécie de sermão sobre a redenção pelo conhecimento (gnosis) de Deus. É atribuído ao gnóstico Valentino, que viveu em meados do século II e por conseguinte, não ajuda em nada a pesquisa sobre o Jesus histórico. Na mesma linha vai o Evangelho de Filipe, escrito antes de 350. É, evidentemente, uma compilação de materiais mais antigos. O texto causou certo sensacionalismo quando da sua publicação, porque sugere uma relação amorosa entre Jesus e Maria Madalena. O Evangelho de Pedro – um fragmento que se conservou – descreve o processo contra Jesus, sua execução e sua ressurreição. Sua cristologia é a do docetismo: aquele que sofre e morre é apenas uma aparição do verdadeiro Jesus, que é divino e por isso não pode sofrer e morrer. Conforme esse evangelho, o corpo de Jesus se volatiliza na cruz antes de subir ao céu.
É preciso dizer que existem vários destes evangelhos apócrifos que foram compostos por autores cristãos desconhecidos, não gnósticos, e que aparentam refletir um tipo de cristianismo popular marginal. A maior parte deles pretende suprir a falta de informação histórica nos evangelhos canônicos, fornecendo detalhes sobre a infância de Jesus, diálogos dele com os apóstolos, informações sobre Maria e demais personagens que aparecem nos evangelhos tradicionais. Em alguns casos, parece que foram escritos para defender doutrinas não apostólicas e que estavam começando a ganhar corpo dentro do Cristianismo, como por exemplo, o conceito de que Maria é mãe de Deus e medianeira. O Proto-Evangelho de Tiago, já do séc. III, explica porque Maria foi a escolhida: por sua virgindade e santidade, e a defende como mãe de Deus e medianeira.
Alguns contém exemplos morais não recomendáveis. Por exemplo, o Evangelho de Tomé, o Israelita, narra diversos episódios em que o menino Jesus amaldiçoa e mata quem fica em seu caminho. Quase todos são recheados de histórias lendárias e bobas, como o Evangelho de Nicodemus, que narra como José de Arimatéia, Nicodemus e os guardas do sepulcro se tornaram testemunhas da ressurreição de Jesus. É um livro cheio de lendas, fantasias e histórias fantásticas.
Os evangelhos apócrifos usaram diversas fontes em sua composição: o Antigo Testamento, os próprios evangelhos canônicos e as cartas de Paulo. Usaram também tradições cristãs extra-canônicas, de origem desconhecida e suas próprias idéias e conceitos.
A Atitude da Igreja para com os Evangelhos Apócrifos
No período pós-apostólico alguns desses Evangelhos chegaram a ser recebidos por um tempo, como leitura proveitosa, como o Evangelho de Pedro, a princípio recomendado por Serapião, bispo de Antioquia em 191 d.C., mas depois, ele mesmo reconhece que ele tem elementos estranhos e o desrecomenda. Assim, nenhum deles jamais foi reconhecido como autêntico e apostólico.
Desde cedo a Igreja Cristã rejeitou estas obras, pois não preenchiam o critério de canonicidade: não foram escritas pelos apóstolos ou por alguém ligado a eles, contradiziam a doutrina cristã, tinham exemplos e recomendações morais e éticas pouco recomendáveis, e seus autores falsamente atribuíram a autoria aos apóstolos, como por exemplo, o Evangelho de Tomé, de Pedro, de Bartolomeu, de Filipe. Além do mais, suas histórias fantásticas acerca de Cristo claramente revelavam seu caráter especulativo e supersticioso, ao contrário da sobriedade e da seriedade dos evangelhos bíblicos. Não é de admirar, portanto, que eles não aparecem em nenhuma das listas canônicas, onde os 4 evangelhos canônicos aparecem.
Aqui cabe-nos mencionar o testemunho de Eusébio em sua História Eclesiástica, ao falar do Evangelho de Pedro, Tomé e Matias:
"Nenhum desses livros tem sido considerado digno de menção em qualquer obra de membros de gerações sucessivas de homens da Igreja. A fraseologia deles difere daquela dos apóstolos; e opinião e a tendência de seu conteúdo são muito dissonantes da verdadeira ortodoxia e claramente mostram que são falsificações de heréticos. Por essa razão, esse grupo de escritos não deve ser considerado entre os livros classificados como não autênticos, mas deveriam ser totalmente rejeitados como obras ímpias".Essa postura prevaleceu até a Reforma Protestante e o período posterior chamado de ortodoxia protestante. Com a chegada do método histórico-crítico, filho do Iluminismo e do racionalismo, passou-se a negar a autoria apostólica e a inspiração divina dos Evangelhos canônicos. Os mesmos passaram a ser vistos como produção da fé da Igreja, sem valor real para a reconstrução do Jesus histórico. Dessa perspectiva, os evangelhos apócrifos chegaram então a ser considerados como literatura tão válida como os canônicos para nos dar informações sobre o Cristianismo nascente, embora não sobre o Jesus histórico.
O renascimento do interesse pelos evangelhos apócrifos, em particular, os gnósticos.
A partir da visão crítica defendida pelo liberalismo teológico e pelo método histórico-crítico, em anos recentes os evangelhos escritos pelos gnósticos passaram a receber grande atenção e importância nos estudos neotestamentários das origens do Cristianismo e na chamada busca do Jesus histórico.
Vários fatos têm contribuído para isso. Primeiro, o surgimento do Jesus Seminar nos Estados Unidos, considerada a 3ª. etapa da busca do Jesus histórico iniciada pelos liberais do século XVIII. Um de seus membros mais conhecidos, cujas obras têm sido traduzidas e publicadas no Brasil é John Dominic Crossan. Em sua obra O Jesus Histórico: A vida de um camponês judeu do mediterrâneo de 1991, ele emprega os apócrifos Evangelho de Pedro e especialmente o Evangelho de Tomé para a reconstrução do Jesus histórico. Segundo Crossan, essas duas obras são mais antigas que os Evangelhos canônicos e contém informações importantes que não foram incluídas em Mateus, Marcos, Lucas e João. Essa atitude de Crossan é característica dos demais membros do Jesus Seminar e de muitos outros eruditos neotestamentários, que aceitam a autoridade dos evangelhos apócrifos, especialmente os gnósticos, acima daquela dos canônicos. Aqui podemos mencionar Elaine Pagels, cuja obra Os Evangelhos Gnósticos, recentemente traduzida e publicada em português, vai nessa mesma direção.
Segundo, a publicidade e o sensacionalismo da grande mídia em torno da descoberta e publicação dos textos dos evangelhos gnósticos, como o Evangelho de Judas e de Tomé. A mídia tem difundido a teoria de que a Igreja cristã teria ocultado e guarda até hoje outros evangelhos que remontam à época de Jesus e que contradiriam e refutariam totalmente o Cristianismo tradicional e ortodoxo. A veiculação pela mídia vai na mesma linha de propaganda e especulações anticristãs voltadas mais diretamente contra a Igreja Católica Romana e que acaba respingando nos protestantes, especialmente as igrejas históricas. Em 2004 foi o Evangelho de Tomé. Em 2006 foi a vez do Evangelho de Judas ganhar a capa de revistas populares pretensamente científicas. A ignorância dos articulistas, o preconceito anticristão, a busca do sensacionalismo, tudo isso contribuiu para que a publicação do manuscrito copta do Evangelho de Judas recebesse uma atenção muito maior do que a devida. Em 2007 foi a suposta sepultura de Jesus, uma inscrição antiga contendo o nome de Tiago, irmão de Jesus, e outras “descobertas” arqueológicas, fizeram a festa da mídia em anos mais recentes.
Não se deve pensar que essa atitude é um fenômeno atual. Desde os primórdios do Cristianismo, escritores pagãos como Celso e Amiano Marcelino publicam material atacando as Escrituras e o Cristianismo. Estou acostumado a assistir, anos a fio, a exploração sensacionalista dessas descobertas. Quando da descoberta dos Manuscritos do Mar Morto e das polêmicas e questões inclusive legais que envolveram a tradução e a publicação dos primeiros rolos, a imprensa da época especulava que os Manuscritos representariam o fim do Cristianismo, pois traria informações que contradiriam completamente o Evangelho. Os anos se passaram e verificou-se a precipitação da imprensa. Os rolos na verdade tiveram o efeito contrário, confirmando a integridade e autenticidade do texto massorético do Antigo Testamento.
Terceiro, produções de Hollywood como “O Código da Vinci”, “O Corpo”, “Estigmata”, “A última Ceia de Cristo” que se baseiam nesses evangelhos gnósticos têm servido para difundi-los popularmente.
O Evangelho de Judas
Examinemos mais de perto os dois evangelhos gnósticos que têm atraído recentemente a atenção da academia e do público em geral, que são os evangelhos de Judas e de Tomé.
O Evangelho de Judas preservou-se em um manuscrito copta do século IV, que supostamente conteria uma tradução do evangelho apócrifo grego de Judas, cuja origem é estimada em meados do século II. A restauração e a tradução do manuscrito copta foram anunciados em 6 de abril de 2006, pela National Geographic Society em Washington.
Não se trata da descoberta do Evangelho de Judas. O mesmo já é um velho conhecido da Igreja cristã. Elaborado em meados do século II, provavelmente na língua grega, era conhecido de Irineu, um dos pais apostólicos. Na sua obra Contra as Heresias, Irineu o menciona explicitamente, como sendo uma obra espúria produzida pelos gnósticos da seita dos Cainitas. No século V o bispo Epifânio critica o Evangelho de Judas por tornar o traidor em um feitor de boas obras.
Não se trata também da descoberta de um manuscrito antes desconhecido contendo essa obra. Acredita-se que o único manuscrito conhecido, escrito em copta, foi descoberto em meados da década de 1950 e depois de uma longa peregrinação nas mãos de colecionadores, bibliotecas, comerciantes de antiguidades e peritos, chegou às mãos das autoridades. Sua existência foi anunciada ao mundo em 2004. Trata-se de um códice com 25 páginas de papiro, envoltas em couro, das 62 páginas do códice original. Somente essas 25 páginas foram resgatadas pelos especialistas. A tradução que veio a lume em 2006 é dessas páginas.
O que é de fato novo é a tradução do texto desse apócrifo, texto até então desconhecido. Contudo, o ponto central que a mídia tem destacado com sensacionalismo, já era conhecido mediante as citações de Irineu e Epifânio, ou seja, que esse evangelho procura reabilitar Judas da pecha de traidor, transformando-o em vítima e herói.
Várias matérias publicadas na mídia diziam que Judas Iscariotes é o autor desse evangelho. Contudo, não existe prova alguma disso. Segundo o relato dos quatro Evangelhos canônicos, Judas suicidou-se após a traição. Como poderia ser o autor dessa obra? Irineu, no século II, atribuía a autoria do evangelho de Judas aos Cainitas, uma seita gnóstica. No códice descoberto e agora publicado, não consta somente o evangelho atribuído a Judas, mas duas obras a mais: a “Carta a Filipe” atribuída ao apóstolo Pedro e “Revelação de Jacó”, relacionado com o patriarca hebreu. A presença do evangelho de Judas em meio a essas duas obras apócrifas é mais uma prova da autoria espúria desse evangelho. Chega a ser irritante o preconceito da mídia, que sempre veicula matérias que negam a autoria tradicional dos Evangelhos canônicos, mas que rapidamente atribui a Judas Iscariotes a autoria desse apócrifo.
O manuscrito que agora foi traduzido não data do século II, mas do século IV. Especula-se que é uma tradução para o copta de uma obra mais antiga escrita em grego, que por sua vez dataria de meados do século II. Daí a inferir a autoria de Judas Iscariotes, que morreu na primeira parte do século I, vai uma grande distância. A seita dos Cainitas, segundo Irineu em Contra as Heresias, era especialista em reabilitar personagens bíblicas malignas, como Caim, os sodomitas e Judas. A produção de um evangelho reabilitando o traidor se encaixa perfeitamente no perfil da seita.
Ao final, pesando todos os fatos e filtrando o sensacionalismo e o preconceito anticristão, a publicação do evangelho de Judas em nada contribuirá para nosso conhecimento do Judas Iscariotes histórico e muito menos do Jesus histórico – servirá apenas para nosso maior conhecimento das crenças gnósticas do século II. Não representa qualquer questionamento sério do relato dos Evangelhos canônicos, cuja autoria e autenticidade são muito mais bem atestadas, datam do século I e receberam reconhecimento e aceitação universal pelos cristãos dos primeiros séculos.
O Evangelho de Tomé
Esse Evangelho consiste numa coleção de 114 ditos que Jesus supostamente teria ditado a seu irmão gêmeo, Tomé. Ele faz parte da livraria gnóstica descoberta em Nag Hammadi em meados do século passado. O que temos é um manuscrito copta, tradução de uma versão em grego desse Evangelho, datada do séc. III. Calcula-se que o evangelho original deve ter sido escrito no séc. II.
Não se trata de um evangelho no sentido usual do termo, visto que não contém qualquer narrativa sobre o nascimento, ministério ou paixão de Cristo. Trata-se de uma coleção de ditos de Jesus sem qualquer moldura geográfica, temporal ou histórica que nos permita localizar quando, onde e em que contexto Jesus os teria pronunciado. Calcula-se que foi escrito na região da Síria, onde existem tradições sobre o apóstolo Tomé e onde se sediava a seita dos encratitas, ascéticos que defendiam uma forma heterodoxa de Cristianismo.
Apesar de trazer muitas citações dos evangelhos canônicos, a teologia do Evangelho de Tomé é abertamente gnóstica. Defende a salvação através do conhecimento secreto e esotérico que Jesus revelou a seu discípulo Tomé. Está eivado das dicotomias e dualismos característicos do pensamento gnóstico mais evoluído do séc. II. Trata-se claramente de uma produção dos mestres gnósticos, que se valeram dos evangelhos canônicos e do nome do apóstolo Tomé para divulgar e espalhar suas crenças.
Como reagimos a tudo isso?
Apesar de todos os esforços da mídia e dos liberais, não se consegue provar que os evangelhos gnósticos foram escritos no primeiro século. Eles são produções posteriores aos canônicos e que se valeram dos canônicos como fontes. O maior argumento dos liberais para provar que o Evangelho de Tomé, contendo ditos de Jesus, foi escrito no séc. I antes dos canônicos depende da existência do suposto proto-Evangelho “Q”, a qual nunca foi provada.
O testemunho dos pais apostólicos é unânime em rejeitar esses evangelhos e atribuí-los a falsificações feitas pelos gnósticos com o propósito de espalhar suas ideais e ensinamentos. O conteúdo deles é distintamente diferente dos evangelhos canônicos e da religião ensinada no Antigo Testamento.
As reconstruções do Jesus histórico feitas pelos que dão prioridades aos apócrifos, especialmente os evangelhos gnósticos, deixam sem explicação o surgimento das tradições escatológicas a respeito dele que hoje encontramos nos Evangelhos canônicos. Nem mesmo a tese da “imaginação criativa da comunidade” defendida pela crítica da forma pode explicar satisfatoriamente como um camponês judeu, com idéias e estilo de vida de um filósofo cínico, praticando o curandeirismo entre o povo simples, cheio de idéias gnósticas, acabou por ser transformado no Cristo que temos nos Evangelhos em tão curto espaço de tempo, e ainda com as testemunhas oculares dos eventos ainda vivas.
35 comentários
comentáriosReverendo, quais seriam, em sua opinião, as principais razões para crer em Marcos como o primeiro evangelho? Li um pouco sobre a possibilidade de Mateus ter sido escrito em hebraico, isso foi citado até por pais da igreja, como eu posso encaixar isso no processo de formação do novo testamento?
ResponderPaz Reverendo.
ResponderQue post escelente. Eu estou no momento estudando isto. Vai ser de grande apoio este texto. Eu so pediria uma coisa, se possivel. Que o senhor fornecesse a bibliografia consultada ou pelo menos indicasse alguns livros sobre o assunto
Fica na Paz
Ricardo Caponi
E-mail ricardo.caponi@gmail.com
olha eu por aqui de novo (rsrsrs) nao tem como deixar de passar por aqui , para ver essas perolas produzidas por quem sabe do assunto. Rev, nos estamos vendo um renacimento dos ataques constantes a autoridade e isnpiraçao biblica como nunca vimos, tantos estudos tentando mostrar que de fato a biblia é um livro qualquer destituido de qualquer valor normativo. eu ainda me recordo das palavras do escritor saramago que ja se foi, mais ele dsiparava constante ataques a literatura biblica.
Respondere me parece que os que mais atacam a biblia são aqueles agraciados com o premio nobel de literatura.
Com efeito, não temos como deixar de dar crédito ao Cristo verdadeiro relatados nos evangelhos canônicos amplamente fundamentados na história e na fé em favor de escritos espúrios indignos da fé cristã nem tampouco da história.
ResponderDevemos portanto enfatizar a parte do contexto onde indaga-se "como pode uma crítica tão acirrada que oferece toda sorte de objeções a crer na autenticidade dos escritos canônicos e tão prontamente autentica escritos de origem dúbia?" Claramente fica a parcialidade demonstrada em afirmações de tais críticos em favor daqueles que querem negar a fé cristã.
Que Deus continue a vos abençoar na produção de posts apologeticamente tão esclarecedoras.
Vosso irmão em Cristo....
Pr. João Q. Cavalheiro
www.aramasi.blogspot.com
Rev. Nicodemus, o que me tranquiliza é que o nosso Pai quer saber da nossa fé. Ele se utiliza do mundo para nos provar e vão restar poucos no final. Vamos nos manter fortes na Palavra, que é o que nos interessa e que venha o mundo com sua ciência e sabedoria, quue não é nada diante da fé que nosso Pai nos dá graciosamente.
ResponderGraça e Paz
Ricardo IPP
Excelente texto e muito esclarecedor. Em tempos onde a confusão impera nas igrejas, se faz necessário a serenidade e profundidade teológica para compreendermos ainda mais a palavra de Deus.
ResponderQue Deus o abençoe.
cafeegraca.blogspot.com
Parabéns Rev. Nicodemus por mais esta pérola.
ResponderEm épocas como esta que estamos vivendo artigos como este só vem fortalecer ainda mais a nossa confiança na providência divina.
Ultimamente a fé cristã tem sofrido duros ataques dos críticos e teólogos liberais. Diante de ataques desferidos por pensadores como Bart D. Ehrman que se diz ex-pastor e agnóstico é necessário estarmos equipados com ferramentas para combater o bom combate da fé.
Para quem deseja boa bibliografia para combater o criticismo bíblico, indico as seguintes obras:
- OS EVANGELHOS PERDIDOS - a verdade por por trás dos textos que não entraram na Bíblia
Autor: Darrell L. Bock, Ed. Thomas Nelson brasil;
- CRÍTICA HISTÓRICA DA BÍBLIA
Autora: Eta Linnemann (ex-aluna de Bultmann), Ed. Cultura cristã e
- O JESUS FABRICADO - como os acadêmicos atuais distorcem o evangelho
Autor; Craig Evans, Ed. Cultura cristã (este foi indicado pelo Rev. augustus Nicodemus).
Pb. Edinei, Th.B
Rev. Nicodemus,
ResponderA carta de Judas chega a citar algum livro apócrifo?
Ismar
Ismar,
ResponderEm sua carta, Judas cita o Antigo Testamento diversas vezes. Ele menciona a saída dos israelitas do Egito (v.5), a morte de muitos deles no deserto (v.5), a destruição de Sodoma e Gomorra (v.7), e cita personagens como Caim (v.11), Balaão (v.11), Coré (v.11) e Adão (v.14). O problema é que ele usa citações de duas obras apócrifas para dar peso e autoridade ao seu argumento. Ele cita a disputa do arcanjo Miguel com Satanás pelo corpo de Moisés (v.9), episódio que não se encontra nas Escrituras do Antigo Testamento, mas num livro chamado O Testamento (ou A Ascensão) de Moisés, que era claramente reconhecido como uma falsificação. Além disso, cita uma profecia de Enoque que pode ter sido tirada de uma outra obra espúria, O Livro de Enoque, e não no Antigo Testamento (v.14-15).
É evidente que o emprego de trechos de obras não canônicas não concede status de Escritura a tais obras. O apóstolo Paulo, por exemplo, menciona que Janes e Jambres resistiram a Moisés no deserto (2Tm 3.8), um episódio que não se encontra no Antigo Testamento, mas que fazia parte da tradição judaica oral. Citar ou aludir a uma obra não significa necessariamente endossá-la em sua inteireza. Contudo, uma vez que Judas, inspirado pelo Espírito Santo, citou esses eventos, devemos recebê-los como sendo fatos históricos, que foram transmitidos oralmente dentro da tradição judaica através de séculos. Conforme disse Calvino em seu comentário a Judas, referindo-se ao episódio da luta pelo corpo de Moisés, “não vejo nada irracional em dizer que Judas se referiu àquilo que já havia sido transmitido por muitas gerações”.
Prezado Rev.Augustus.
ResponderPreciso muito de um esclarecimento.Em Mateus,diz:" Ide, portanto,fazei discípulos de todas as ..."
Tenho ouvido muito que no idioma original(grego)esse IDE na verdade é INDO e que a ordem é FAZER DICÍPULOS,ou seja,a ordem não era para irem ( pois o verbo IDE,no entendimento desses,está com tradução errada.O certo é INDO ),a ordem que o texto se refere, no entendimento desses é FAZEI DICÍPULOS.
Eu tenho insistido que é mesmo o IDE e que,certamente para fazerem dicípulos.Me baseio no seguinte: 1)-o IDE é uma ordem e,o INDO é uma condicional ( ex: eles estavam indo e,fazendo dicípulos.2)-os dicípulos estavam que como acovardados e temerosos pela morte de seu mestre e sem saberem o que lhes aconteceria.Estavam também acomodados.Portanto,tiveram que ser ordenados ( IDE ) a saírem dali.
Gostaria que,se for possível o senhor me fale sobre isso.
obrigado, graça e paz,
Washington Luiz.
Washington,
ResponderNo grego a ordem é FAZEI DISCÍPULOS. O IDE está no particípio, qualificando o imperativo e determinando o modo pelo qual se deve fazer discípulos.
Ou seja, não há muita diferença ao final. Pois a maneira de se cumprir a ordem de fazer discípulos é indo ao mundo inteiro, ensinando e batizando os convertidos.
Prezado Rev.Augustus.
ResponderVeja então se aprendi.
1)- o imperativo = FAZEI DICÍPULOS.
2)- a qualificação = imprescindível.
3)- a determinação(o mesmo que :ordem,prescrição,resolução,decisão)= IDE,que transformado em INDO pelo fato de " TEREM IDO ".
Obrigado,graça e paz,
Washington Luiz.
Rev Augustos,
ResponderVamos supor que seja encontrada uma cópia da carta de Paulo à igreja em Laodicéia (Colossenses 4.16). Digamos que seja atestada sua autenticidade. Esta carta seria passível de integrar o cânon? Por que sim, por que não?
Homero
Homero,
ResponderBoa pergunta... Acho que temos de esperar a descoberta e a comprovação de autenticidade para então decidir. Mas não será fácil. Quem tem os direitos autorais do cânon?
Abs.
Rev.Augustus.
ResponderTenho sentido muito,a falta de sair junto com a Igreja para trabalhos como culto ao ar livre.Tenho ouvido muitos dizerem que isso tornou-se uma prática ultrapassada,pois nos dias de hoje,ninguém mais está parando para ouvir,senão tiver algum artista.Esses mesmos esquecem que AquelE que está ali,os que passam não o vê,mas ElE a todos os que serão salvos vê.
Eu,insistia muito para que isso não parasse,mas confesso que cansei um pouco e porque também ficava em alguns momentos como que sendo inconveniente.
Outro argumento que tem sido muito utilizado é que devemos dar o testemunho com nossas vidas(como se eu discordasse e também não o fizesse).
Eu insisto em dizer que além disso( o testemunho individual), a Igreja tem que ser representada,apresentada,exposta,ao mundo(ruas,praças,etc...)como sendo o genuíno organismo vivo de CRISTO aqui na terra,capaz de fazer diferença diante do mal.
A meu ver,ficar entre quatro paredes,tem servido mas para nossa,digamos manutenção espiritual,do que servir para conversão de almas perdidas.
Por favor,o que o senhor poderia me dizer sobre isso e, se realmente eu estou equivocado e preciso aprender novas técnicas.
Obrigado,graça e paz.
Washington Luiz.
Washington,
ResponderRecentemente li um livro sobre igrejas que crescem do Thom Rainer e o evangelismo pessoal, a pregação do púlpito e a Escola Dominical estavam entre os fatores que mais contribuiram para este crescimento.
Não creio que a Bíblia determine um único método de evangelismo, devemos ser sábios e usar aquele que for mais adequado à nosso contexto. O que importa é anunciar o Senhor Jesus de maneira que as pessoas venham a conhecê-lo e a confiar nele para a salvação.
Abs.
Reverendo, como devemos lhe dar com outros livros que não são os evangelhos e que aparentemente concordam com a bíblia, mas que também são apocrifos, como o livro de melquisedeque, a história do universo e o livro de Enoque?
ResponderWesley,
ResponderNão devem ser considerados como Palavra de Deus, embora sejam úteis para nos dar a conhecer sobre a teologia, filosofia e pensamento dos autores e da época em que viveram.
Rev.Augustus,
ResponderO senhor me respondeu sobre "IDE OU indo" e,eu então,fiz um comentário( logo a seguir a sua resposta)do que entendi de sua explicação.Para fechar esse meu questionamento,o senhor poderia me dizer algo sobre o que coloquei?
Obrigado pela atenção,graça e paz.
Washington Luiz.
Caro Washington,
ResponderNão há muito o que acrescentar ao que eu já disse. O "ide" não está no imperativo. Ele qualifica o "fazei discípulos".
Gramaticalmente, portanto, não tem como entender o "ide" como imperativo.
Mas, em termos práticos, ninguém pode fazer discípulos de todas as nações se não for a elas. E assim, visto no global, "ir" torna-se imperativo.
Prezado Rev.Augustus.
Responderobrigado por sua resposta e atenção,
graça e paz,
Washington Luiz.
Paz do Senhor professor Nicodemus!
ResponderPastor, ao consultar a Bíblia King James fiquei curioso em saber se a tradução de Lucas de 18.16 >> Jesus, porém, chamando as crianças para junto de si, ordenou: Deixai vir a mim os pequeninos e não os impeçais; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a eles.<< é de fato verdadeira, pois se assim for, tal tradução favorece aos calvinistas.
Devido a isso resolvi da uma olhada no grego novo testamento que encontrei na internet, e percebi (isso se eu não estiver errado) que a tradução da King James não coincide com o original.
Bem resolvi ligar para um dos meus professores no seminário que é Pós-graduando em Línguas Originais (Grego e Hebraico) para perguntar sobre o assunto.
E a resposta que ele me deu me chocou, pois ele me disse que é preciso buscar a verdadeira cópia do original grego, pois a fonte em que busquei poderia está equivocada.
Diante disso resolvi apelar ao senhor.
Afinal essa tradução desse versículo está correta, ou tal tradução (do versículo) não colide com as outras?
Jean Patrik
contatojeanpatrik@gmail.com
Jean Patrik,
ResponderNão há qualquer problema textual com a passagem. O professor que lhe respondeu assim deveria estar com pressa e não se deu ao trabalho de verificar que a questão não é de textos mas de tradução.
Tudo gira em torno da tradução de "toioutwn" (grego), que tanto pode ser "dos tais" ou "de pessoas como estes tais".
A King Kames optou pela primeira possibilidade e traduziu como nossa ARA: "dos tais" indicando que o Reino de Deus é das crianças.
Mas a outra possibilidade, "de pessoas como estes tais", tem o mesmo efeito. Pois significa dizer que somente as pessoas que são como as criancas é que entrarão no Reino. Está implícito que as crianças entram.
O que os calvinistas pensam sobre isto não é uniforme. Há calvinistas que acham que somente crianças eleitas vão para o céu se morrerem antes da idade da razão. Outros, consideram eleitas e salvas todas as crianças que morrerem antes da idade da razão (e antes que vc me pergunte, já digo que esta idade não é definida pela Bíblia e que varia de crianca para criança).
Abs.
Rev.Augustus,
Responderpegando um gancho no que o senhor respondeu ao Jean," Outros, consideram eleitas e salvas todas as crianças que morrerem antes da idade da razão (e antes que vc me pergunte, já digo que esta idade não é definida pela Bíblia e que varia de crianca para criança).", eu creio dessa forma e, o senhor,pode nos dizer de que forma crê?
Obrigado pela atenção , graça e paz,
Washington Luiz.
Washington,
ResponderPenso como você... crianças que morrem antes da idade da razão são eleitas e salvas mediante a morte de Cristo. Mas é apenas uma opinião, visto que neste assunto nos falta mais informações da Bíblia.
Rev.Augustus,
Responderobrigado,graça e paz,
Washington Luiz.
Obrigado professor!
ResponderMas na verdade não iria lhe perguntar sobre a idade da criança, o que aconteceu foi que fiquei um pouco preoculpado em saber de uma possivel tradução para favorecer o pensamento calvinista.
Tipo a tradução do novo mundo das Testemunha de Jeová, que favorece e muito os pensamentos deles.
Mas quase me enganei.
Obrigado pela resposta!
Jean Patrik
Caro Pr. Nicodemus,
ResponderLeio com atenção seus escritos e louvo por tal material. Tenho uma dúvida em relação aos manuscritos originais do texto bíblico, aqueles escritos por Paulo, Pedro, etc. Joseph Angus, em seu livro "História, Doutrina e Interpretação da Bíblia, afirma que: "sabe-se que, quando estavam demasiadamente gostos pelo uso, eram destruídos, para que não sofressem qualquer profanação.". O pastor tem conhecimento de algum texto antigo que corrobore esta assertiva?
Grato pela atenção,
Clóvis Jr.
Leio com atenção seus escritos e louvo por tal material. Tenho uma dúvida em relação aos manuscritos originais do texto bíblico, aqueles escritos por Paulo, Pedro, etc. Joseph Angus, em seu livro "História, Doutrina e Interpretação da Bíblia, afirma que: "sabe-se que, quando estavam demasiadamente gostos pelo uso, eram destruídos, para que não sofressem qualquer profanação.". O pastor tem conhecimento de algum texto antigo que corrobore esta assertiva?
ResponderGrato pela atenção,
Clovis Jr.
Não conheço um texto que eu possa lhe indicar, mas este fato é conhecido largamente nos estudos de manuscritologia. À medida que os manuscritos iam ficando gastos, eram copiados e substituídos. Por este motivo não temos os autógrafos, isto é, os originais escritos pelas mãos dos apóstolos. Temos cópias fidedignas datando do século II em diante.
Abs.
Paz Reverendo! Tive a oportunidade de ler os dois livros publicados pela editora Paulinas: A descoberta do Jesus Histórico e Morte e Ressurreição de Jesus. Os mesmos como o senhor havia comentado contem informações importantes, principalmente para quem estuda história e sociologia. Entretanto, os tópicos críticos de Crossan, contidos na pagina 34 em diante do segundo livro chega a serem cômicos e por assim dizer, sem uma sustentação plausível. Gostaria se possível que o senhor, caso tivesse lido o mesmo pudesse deixar mais algum comentário.
ResponderAtenciosamente
Márcio Silva
mais será que todos esses livros falam mentiras? acho improvável que não, pois, nem tudo parece ser fantasia, já que alguns tem concordância com outros.
Responderdevemos rever tudo isso, já que eles foram escondidos para que no futuro fossem achados por nós.
Parabéns pela postagem de qualidade excelente e muito esclarecedora como é alguns outros trabalhos seus que tive o privilegio de assistir
ResponderBom,nem tudo que está nos apócrifos deve ser considerado falso,por exemplo no evangelho de Tiago diz que os irmãos de Jesus são filhos de José que era viúvo,revela o nome dos pais da virgem Maria,já o Apocalipse de Pedro parece dá uma indireta para Pedro pois diz que um pregará um Jesus morto e que purificaria as pessoas,inclusive em um pdf que baixei aparece com o título "falsos ensinos Paulo,aí os liberais fazem a festa por eles consideram Paulo um falso profeta que pregava um arrebentando para os ares com Jesus que nunca foi pregado.
ResponderRev. Augustus, essa sua pergunta final ficou estranha. Na hipótese levantada o senhor pergunta: "quem tem os direitos autorais do cânon?".
ResponderMas, hoje, o cânon tal como está, é atribuído a quem os direito autoral?
Veja que sua pergunta põe em descrédito o cânon.