Jerônimo Gueiros (1880-1954) foi um ministro presbiteriano nordestino muito conhecido por seu rico ministério, no Recife, e por suas qualificações como literato e apologista da fé cristã. De sua lavra surgiram artigos penetrantes, livros inspiradores e poesias tão belas quanto incisivas e pertinentes aos temas apresentados.
Nesta época do ano lembro e coloco, neste espaço, a poesia de sua autoria com o título acima. Nunca me canso de lê-la e de apreciar tanto a estética do texto como a sua contemporaneidade:
Carnaval! Empolgante Carnaval!
Festa vibrante!Festa colossal!
Festa de todos: de plebeus e nobres,
Que iguala, nas paixões, ricos e pobres.
Festa de esquecimento do passado,
De térreo paraíso simulado...
Falsa resposta à voz do coração
De quem não frui de Deus comunhão,
Festa da carne em gozo desbragado,
Festa pagã de um povo batizado,
Festa provinda de nações latinas
Que se afastaram das lições divinas.
Ressurreição das velhas bacanais,
Das torpes lupercais, das saturnais
Reino de Momo, de comédias cheio,
De excessos em canções e revolteio,
De esgares, de licença e hilaridade,
De instintos animais em liberdade!
Festa que encerra o culto sedutor
De Vênus impúdica em seu fulgor.
Festa malsã, de Cristo a negação,
Do "Dia do Senhor" profanação.
Carnaval!Estonteante Carnaval!
Desenvoltura quase universal!
Loucura coletiva e transitória,
Deixa do prazer lembrança inglória,
Festa querida, do caminho largo,
De início doce, mas de fim amargo...
Festa de baile e vinho capitoso,
Que morde como ofídio venenoso,
Que tira do homem sério o nobre porte,
E gera o vício, o crime, a dor e a morte.
Carnaval!Vitando Carnaval!
Festa sem Deus!Repúdio da moral!
Festa de intemperança e gasto insano!
Trégua assombrosa do pudor humano,
Que solta a humana besta no seu pasto:
O sensualismo aberto mais nefasto!
Festas que volve às danças do selvagem
E do africano, em fúria, lembra a imagem,
Que confunde licença e liberdade
Nos aconchegos da promiscuidade
Sem lei, sem norma, sem qualquer medida,
Onde a incauta inocência é seduzida,
Onde a mulher, às vezes, perde o siso
E o cavalheiro austero o são juízo;
Onde formosas damas, pela ruas,
Exibem, saltitando, as formas suas,
E no passo convulso e bamboleante,
Em requebros de dança extravagante,
Ouvem, no "frevo" , as chufas e os ditados
Picantes, de homens quase alucinados,
De foliões audazes, perigosos,
Alguns embriagados, furiosos!
Muitos, tirando a máscara, em tais dias,
Revelam, nessas loucas alegrias,
A vida que levaram mascarados
Com a máscara dos homens recatados...
Carnaval!Perigoso Carnaval!
Que grande festa e que tremendo mal!
Brasil gigante, atenção! Atenção!
O Carnaval é festa de pagão!
Repele-o! Que te traz só dor e morte!
Repele-o! E inspira em Deus a tua sorte.
Rev. Jerônimo Gueiros.
sábado, fevereiro 25, 2006
O CARNAVAL
Postado por Solano Portela.
Sobre os autores:
Dr. Augustus Nicodemus (@augustuslopes) é atualmentepastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana doBrasil e presidente da Junta de Educação Teológica da IPB.
O Prof. Solano Portela prega e ensina na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, onde tem uma classe dominical, que aborda as doutrinas contidas na Confissão de Fé de Westminster.
O Dr. Mauro Meister (@mfmeister) iniciou a plantação daIgreja Presbiteriana da Barra Funda.
8 comentários
comentáriosSolano,
Responderengraçado que os liberais e neo-liberais falam tanto que teologia é poesia.
Ta aí poesia de verdade com boa teologia.
Abraços!
Eu estava ontem na casa de uma familia de brasileiros que tem o canal da globo em casa e assisti por meia hora a tv, claro, tudo sobre carnaval.
ResponderMe senti como se estivesse sendo agredido, nao sei se eh porque estou a tanto tempo fora do Brasil e sem globo, mas o fato eh que aquilo me incomodou muito, demais.
Maranata, vem Senhor Jesus!!!!
Eu nunca vi um politico evangélico apontando os estragos da festa de Carnaval. Não apenas em termos morais, eu creio q o carnaval traz grandes prejuízos ao país no q tange a segurança, saúde e outras areas sociais.
ResponderTai uma coisa q eu gostaria de ver, uma político evangélico falando abertamente, e sem "evangeliquês" ao público, contra o carnaval.
Deus meu! Deus meu!
ResponderA poesia é enfadonha, cansa. Sinceramente, de péssimo gosto. Mas, o que se há de fazer, gosto é faz parte da formação de cada um, não deve ser dogmatizado, ou deve?
Já eu gosto do carnaval, pulei em blocos e não vi profanação, pulei em blocos e não vi bacanais.
Não concordo com a generalização feita, o carnaval é uma festa popular, é a cultura do nosso país. Claro que uma pessoa regida pela teologia estadunidense dificilmente apreciaria tal manifestação cultural.
O que é "teologia estadunidense"?
ResponderE o que ela tem a ver com não gostar de carnaval?
O carnaval também é usado para fins eleitoreiros, políticos. O Hugo Chavez financiou uma escola de samba do Rio de Janeiro. E não é que ela ganhou? (sei não).
ResponderRômulo,
ResponderRealmente a poesia e a própria literatura de blog é uma questão de gosto. Percebi isto após visitar seu blog.
A Queda afetou não somente o homem enquanto indivíduo, mas nas suas relações, construções sociais, costumes e desenvolvimentos, ou seja, a cultura como um todo.
Não existe cultura neutra. É um mito pensar que a cultura e que manifestações culturais são neutras, inocentes e isentas. E isso em qualquer país. No nosso, a sexualidade, o erotismo, a sensualidade e a imoralidade permeiam nossa cultura e obviamente festas como o carnaval.
É óbvio que nem tudo na nossa cultura é sexo. Mas pouca coisa deixa de ser. Nem tudo no carnaval é necessariamente pecaminoso, mas numa avaliação final, prevalece a imoralidade sexual em suas várias manifestações.
Um abraço.
Jerônimo Gueiros foi um grande pastor no Recife, passei dois meses agora em Recife pesquisando sobre evangélicos no rádio, tema do mestrado que faço, e descobri um rico material sobre a família Gueiros que é o livro de David Gueiros.
ResponderJerônimo faleceu em 1953, Recife praticamente parou para acompanhar o velório e o sepultamento. Parte do velório foram transmitidas até pelo rádio na época. O Jornal O Norte Evangélico dedicou toda edição seguinte apenas ao falecimento do pastor.