A NEO-ORTODOXIA E A RESSURREIÇÃO DE JESUS
O objetivo desse post é demonstrar que a visão neo-ortodoxa padrão da ressurreição de Jesus, embora aparente ter muitas similaridades com aquilo que os ortodoxos acreditam, difere radicalmente da ortodoxia em pelo menos três pontos essenciais. A importância desse assunto reside no fato de que a ressurreição de Jesus sempre foi considerada como uma das doutrinas centrais que estabelecem a linha divisória entre o Cristianismo e outras religiões. Ou seja, crer na ressurreição de Jesus Cristo é o fundamento do Cristianismo. É a pedra sobre a qual se levanta o edifício do autêntico Cristianismo, e por ela se avalia a genuinidade de qualquer movimento ou ministério que se professe cristão.
É preciso salientar que muitos ortodoxos e neo-ortodoxos compartilham algumas perspectivas sobre esse assunto. Ambos acreditam que o túmulo está permanentemente vazio. Ambos acreditam que o túmulo foi esvaziado por um ato sobrenatural de Deus. Eles também compartilham a crença na genuinidade das aparições de Jesus aos discípulos após a sua ressurreição. Num certo sentido, são essas crenças que separam os neo-ortodoxos dos antigos liberais e os aproxima um pouco mais dos conservadores.
As diferenças, todavia, são muito profundas e não devem ser ignoradas em nome das similaridades. Afinal, como já dissemos, a ressurreição é muito importante para que possamos deixar esse ponto sem análise.
A IDENTIDADE NUMÉRICA DO CORPO DE JESUS
A primeira diferença diz respeito à identidade numérica do corpo de Jesus. Explico. Para os conservadores, o corpo com o qual Jesus ressuscitou era numericamente idêntico ao corpo com o qual ele viveu aqui nesse mundo. Era o mesmo corpo, agora glorificado pelo poder de Deus, e tendo, portanto, qualidades, poderes e virtudes distintos daquela primeira fase, como por exemplo, a imortalidade. O Credo dos Apóstolos declara "creio na ressurreição do corpo". A Igreja Cristã sempre confessou sua crença na ressurreição física de Jesus. Encontramos esse conceito nos pais da Igreja – à exceção de Orígenes, que foi condenado por negar isso –, na Igreja Católica do período medieval, nos reformadores e em todas as confissões históricas da Igreja Cristã. Em resumo, a crença de que o corpo da ressurreição era numericamente o mesmo corpo físico de carne e osso de Jesus durante o seu ministério terreno, sempre foi reconhecido pelos cristãos de todas as épocas.
A neo-ortodoxia, todavia, provavelmente influenciada pela mentalidade gnóstica, tem a tendência de espiritualizar a ressurreição de Jesus. Tomemos alguns exemplos. Emil Brunner, um dos pais da neo-ortodoxia, declarou enfaticamente: "ressurreição do corpo, sim; ressurreição da carne, não! A ressurreição do corpo não significa a identidade do corpo da ressurreição com o corpo de carne e ossos, apesar de já transformado; mas, a ressurreição do corpo significa a continuidade da personalidade individual desse lado e no outro lado, a morte." (1)
Todavia, a influência mais radical sobre a visão neo-ortodoxa da ressurreição vem de Rudolph Bultmann. Apesar de acreditar que existiu um Jesus da história, ele nega claramente a historicidade da ressurreição. Ele afirma que a ressurreição "não é um evento da história passada... um fato histórico que envolva a ressurreição de mortos é totalmente inconcebível". Para Bultmann, “é impossível acreditar-se num evento mítico como a ressurreição de um cadáver, pois é isso o que a ressurreição significa”. Portanto, para ele, "Se o evento do domingo de Páscoa for em qualquer sentido um evento histórico adicional ao evento da Cruz, não é nada mais do que o surgimento da fé no Senhor ressurreto...” (2)
Um outro exemplo vem de Wolfhart Pannenberg, que muito embora não possa ser considerado neo-ortodoxo, todavia, respira o mesmo ar que permeia o ambiente da neo-ortodoxia. Ele confessa que Jesus ressuscitou de um túmulo vazio, mas nega que ele foi ressuscitado no mesmo corpo físico de carne e ossos. Na verdade, ele vê o corpo da ressurreição como puramente espiritual ou material. (3)
Essa descontinuidade entre o corpo físico, de carne e ossos de Jesus, antes da ressurreição, e aquele corpo após a ressurreição, identifica a crença neo-ortodoxa e a separa radicalmente da fé do Cristianismo histórico.
A MATERIALIDADE DO CORPO DE JESUS
A igreja cristã sempre acreditou e confessou que Jesus ressuscitou de entre os mortos fisicamente. Ou seja, o que saiu do túmulo vazio não foi um fantasma ou um corpo imaterial, mas um corpo tangível e palpável, que poderia ser tocado e sentido, e que era material em todos os sentidos. Encontramos esse conceito nos escritos dos pais apostólicos bem como em todas as confissões ortodoxas da igreja cristã. A importância da materialidade do corpo de Jesus reside no fato de que ele é o primogênito da ressurreição. Os cristãos sempre ansiaram pela ressurreição do corpo da qual Jesus Cristo é o primogênito. Se, todavia, Jesus não ressuscitou com um corpo real, físico, material, tangível, palpável, essa esperança é na verdade vã.
A neo-ortodoxia padrão, muito embora confessando a ressurreição, nega que ela, em qualquer sentido, representa a revivificação de um cadáver. Conforme vimos acima, representantes da neo-ortodoxia defendem um corpo espiritual e imaterial, ou, como Bultmann, que a ressurreição é apenas a emergência da fé no coração dos discípulos.
A HISTORICIDADE DA RESSURREIÇÃO
É talvez aqui que a diferença entre a posição neo-ortodoxa e aquela do Cristianismo histórico apareça com maior clareza. Já que para a neo-ortodoxia existem dois níveis de história, a historie e a heilsgeschichte, sendo essa última a "história da salvação", cujos eventos não se localizam na história desse mundo, fica fácil para eles transpor a ressurreição de Jesus para a heilsgeschichte, o âmbito dos eventos salvadores não históricos e não verificáveis. Como para a neo-ortodoxia a historicidade dos eventos bíblicos e de suas narrativas não é realmente importante, ao fim das contas pouca diferença fará para a fé se Jesus ressuscitou de fato e de verdade na manhã daquele domingo de Páscoa.
É aqui que mencionamos o nome de Karl Barth. O velho liberalismo negava a historicidade da ressurreição de Jesus Cristo e jogou a narrativa bíblica no descrédito. Barth, todavia, através da sua teologia dialética, resgatou a doutrina da ressurreição. Contudo, mesmo vendo seu longo ministério como um todo, ainda permanecem dúvidas se ele acreditava que a ressurreição tenha sido um evento da história. No início da teologia da crise, em seu comentário de Romanos (1919), ele afirma, "a ressurreição toca a história como uma tangente toca um círculo, isto é, sem realmente tocá-lo”. Aqui Barth aparenta acreditar que a ressurreição de Jesus não pode ser provada nem refutada por evidências históricas, pois como ato de Deus, é histórica num sentido único. O que exatamente Barth quis dizer com isso, não é claro. Alguns defendem que ele mudou seu ponto de vista posteriormente, defendendo a corporeidade física da ressurreição de Jesus. Mas, muitos ainda suspeitam que para o simpático teólogo suíço, não se pode falar da ressurreição como um fato histórico, mas somente como revelação.
O meu objetivo com esse post foi mostrar que alguns expoentes da neo-ortodoxia não receiam negar três aspectos da ressurreição de Jesus Cristo que os cristãos conservadores consideram da mais alta importância: a continuidade entre o corpo antes da ressurreição e o corpo após a ressurreição, a materialidade do corpo da ressurreição, e a historicidade do evento. Não acredito que todos os que se consideram neo-ortodoxos pensem dessa forma. Todavia, acredito que é importante esclarecer que a negação desses aspectos da ressurreição de Jesus Cristo é característica da neo-ortodoxia.
Em conclusão, lembramos que o apóstolo Paulo em 1Coríntios 15 trata a ressurreição de Jesus como um evento ocorrido na história, e não na supra-história, evento esse testemunhado por várias pessoas, cuja historicidade é a base da fé cristã. É interessante que ele diz que se não há ressurreição (entendida como um evento histórico), inclusive o kerygma – a proclamação da Igreja – é vã.
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
(1) Emil BRUNNER, The Christian Doctrine od Creation and Redemption, 1952, p. 372.
(2) Rudolph BULTMANN, Kerygma and Myth: A Theological Debate, 1954, pp. 38-39.
(3) Wolfhart PANNENBERG, Jesus—God and Man, 1968, p. 101.
24 comentários
comentáriosVale a pena o 'replay'.
ResponderObs.: Este mesmo fato foi confirmado pelo Pr Juan de Paula da igreja do Pr Franklin Ferreira. Ele também ouviu a mesma coisa do Dr Shedd.
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Rev. Augustus,
Bem, sobre o citado Bultmann, gostaria de compartilhar um ocorrido em que o próprio Dr. Russell Shedd esteve presente diante do teólogo alemão.
Cabe destacar que o Dr. Shedd mesmo relatou o acontecido a mim e a mais algumas pessoas. Ele foi testemunha ocular "do fato histórico" - e não de "um Bultmann da fé" propagado por um boato.
Eis aqui o relato, de memória, do que ouvi do Dr. Shedd a respeito de Bultmann:
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Pergunta: - O sr. crê na ressurreição de Cristo?
Bultmann: - Sim, creio.
Pergunta: - Mas o sr. crê mesmo na ressurreição corporal do Jesus dentre os mortos, como fato histórico?
Bultmann: - Não, desta forma não. Creio que Ele ressuscitou no coração dos discípulos.
Pergunta: - O sr. crê no credo apostólico?
Bultmann: - Do credo apostólico creio apenas na afirmação "sofreu sob Poncio Pilatos".
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O problema que vejo em Bultmann e de outros que seguem escolas teológicas similares a dele é da apropriação do vocabulário consagrado pela ortodoxia para sustentar novas definições. Pelo exemplo acima, ou é uma santa ingenuídade ou falta de honestidade teólogica. No último caso, é um exemplo de "semiótica discursiva".
Charles,
ResponderObrigado pelo replay. É isso mesmo.
Um abraço!
"A neo-ortodoxia, todavia, provavelmente influenciada pela mentalidade gnóstica, tem a tendência de espiritualizar a ressurreição de Jesus."
ResponderCreio ser um engano essa afirmação. O Cristianismo é que foi influenciado pela mentalidade gnóstica. O mundo era a pátria para os judeus. Já o cristianismo, influenciado pelo gnosticismo, que passou a acreditar nesse plano terrestre como temporário em comparação com a pátria celestial (mundo da luz).
O cristianismo helenista de Paulo tem clara influência da mitologia gnóstica. É linguagem gnóstica quando Satã é chamado de "o deus deste éon" ou "príncipe deste mundo". A antropologia paulina é claramente gnóstica também. A busca por conhecimento (gnose) em Corinto também.
Não é a neo-ortodoxia que pressupõe categorias gnósticas à respeito da encarnação, ressurreição e exaltação, mas o próprio Paulo, como exemplo.
E não sem base bíblica identifica Bultmann como idêntica a fé na ressurreiçào de Cristo e a fé de que na palavra anunciada fala o próprio Cristo, pois somos embaixadores da parte de Cristo (2Co 5.20). E bem diz que "Cristo não está presente no querigma como uma grande personalidade histórica está presente em sua obra e em sua atuação histórica." (1) Assim, se o ouvinte crê na palavra que anuncia a morte e a vida, então ele crê no ressurreto.
Por fim, seria lamentável generalizar que todos os autores neo-ortodoxos crêem que a ressurreição não foi literal.
(1) Teologia do NT, Bultmann
Nicodemus
ResponderVocê e eu ressuscitarmos com o mesmo corpinho será, no mínimo, uma brincadeira de mau gosto. Acredito na ressurreição e espero por ela. Mas, gostaria de um corpo jovem, mais de 1,90, olhos claros, cabelos, etc... Ah! e menos de 90 kgs, também. Jesus ressuscitou aos 33 anos, mas, e nós com nossa idade tão avançada?
Caramba Augustus,
Responderinteressantíssimo! Ainda que a neo-ortodoxia tente andar de mãos dadas conosco pelo rompimento para com a teologia liberal clássica, eles não romperam suficientemente, formulando assim, uma hermenêutica gnóstica dos textos sagrados.
Exemplo dessa separação radical entre matéria e corpo está na doutrina barthiana da pecaminosidade do corpo de Jesus, ou seja, Barth cria que Jesus, por ser homem e nascido de mulher (ele cria no nascimento virginal, Brunner não.) estava debaixo também da condição da queda humana.
No mínimo isso tudo é estranho,rs!
Abração,
Juan
Rodrigo,
ResponderQuando eu disse que "A neo-ortodoxia, todavia, provavelmente influenciada pela mentalidade gnóstica, tem a tendência de espiritualizar a ressurreição de Jesus", não estava fazendo uma afirmação final. Note que eu disse "provavelmente". Eu tinha em mente (e você não podia advinhar, pois eu não disse) o fato que um dos primeiros dentro da Cristandade a negar o aspecto material e físico da ressurreição de Jesus foi Orígenes, um estudioso do século II profundamente influenciado pelo gnosticismo. A mentalidade gnóstica nunca deixou totalmente a Igreja Cristã, apesar do gnosticismo ter sido combatido e declarado herético pelos concílios antigos da Igreja. Por isso, quando neo-ortodoxos negam a materialidade do corpo da ressurreição, estão alinhados, não com a ortodoxia da Igreja, mas com o gnosticismo, como Orígenes. Daí minha frase que, reconheço, poderia ter sido mais explícita.
Agora, comento sua afirmação que "o Cristianismo que foi influenciado pela mentalidade gnóstica". Note algumas coisas. Primeira, é você mesmo quem faz uma distinção entre neo-ortodoxia e Cristianismo, ao dizer que a neo-ortodoxia não foi influenciada pela mentalidade gnóstica e sim o Cristianismo. Ato falho?
Segunda, você talvez não esteja consciente de que na época de Paulo, que você afirma ter sido influenciado pelo gnosticismo, o gnosticismo não era ainda um movimento com suas doutrinas definidas e suas instituições desenvolvidas. Era na realidade um proto-gnosticismo, que enfatizava a necessidade de conhecimento para a salvação e trabalhava com a dualidade entre matéria e espírito. Foi somente no século II que o gnosticismo alcançou sua forma desenvolvida, e tornou-se uma grave ameaça ao Cristianismo. Foi combatido veementemente por muitos dos Pais da Igreja. Portanto, cronologicamente falando, foi o gnosticismo que tomou emprestado o vocabulário de Paulo e não o contrário.
Esse foi o equívoco de Bultmann, Wilkins, Bousset, Wrede e os demais mestres da "escola da hitória das religiões" de Tübingen que afirmaram que Paulo era gnóstico. Sugiro que você estude melhor o assunto. Leia, por exemplo, a obra de Ridderbos sobre Paulo, "A teologia do apóstolo Paulo", disponível pela cada editora de minha denominação, a Igreja Presbiteriana do Brasil.
Ridderbos foi contemporâneo de Bultmann e de maneira eficiente e convincente demonstrou o erro desse liberal. Note ainda que hoje, na área de estudos do Novo Testamento, predomina o conceito que o pano-de-fundo da teologia de Paulo é o judaísmo. Todos os conceitos paulinos atribuidos ao gnosticismo, como conhecimento, sabedoria, savação e a sua antropologia, por exemplo, são encontrados no Antigo Testamento e na reflexão judaica do Segundo Templo.
Portanto, as comparações que você faz, sugerindo que o Cristianismo apostólico foi influenciado pelo gnosticismo e que emprestou do gnosticismo os seus principais conceitos doutrinários, são anacrônicas. Permita-me sugerir que você não leia somente Bultmann. Leia outros autores, tão competentes quanto eles, com a vantagem de crerem na Bíblia.
Você termina dizendo "Por fim, seria lamentável generalizar que todos os autores neo-ortodoxos crêem que a ressurreição não foi literal". Concordo inteiramente, e por esse motivo, não generalizei. Releia o meu post, por favor. Evitei a generalização, não porque eu conheça algum autor neo-ortodoxo que afirme a ressurreição de Jesus em carne e osso. Confesso que não conheço nenhum. Mas, você certamente deve conhecer.
Um abraço.
Lou, que bom vê-lo fora de sua caverna.
ResponderGostei imensamente do seu comentário: cheio de humor e profundamente teológico. O bom humor está em reconhecer que você é feio, velho e gordo mesmo, e que não gostaria de passar o resto da eternidade dessa forma. Como outro que é também feio, velho e gordo, eu concordo com você.
A profundidade teológica está nisso: em reconhecer que nosso corpo será semelhante ao de Cristo mas ignorar o que isso representará em termos práticos para os feios, gordos, velhos, e deficientes.
Confesso que também não sei a resposta. Sei apenas o que a Bíblia diz: será um corpo glorioso, imortal e apropriado para a vida eterna. Como o do Cristo ressurreto. Quanto aos detalhes, descobriremos naquele grande Dia!
Um abraço!
Professor Augustus, sabe o que é interessante? No primeiro contato que tive com a teologia crítica no Seminário do Sul, vi em Barth um ótimo auxílio. Mas depois fui percebendo que ainda não era o ideal. Percebi, por fim, que há um abismo epistemológico entre nós, conservadores, e eles, os neo-ortodoxos. Quem me ajudou muito nessa compreensão foi Schaeffer. :)
ResponderUma outra coisa, eu venho lendo os posts sobre a neo-ortodoxia, sobre a teologia barthiana, etc, mas tenho dificuldades de encaixar Bultmann dentro desse movimento. Não sei se estou enganado. Vejo a teologia bultmaniana bem afastada dos outros neo-ortodoxos.
Obrigado pelas informações. Inclusive pelas explicações quanto ao relacionamento entre gnosticismo e cristianismo.
Abraços.
Querido Professor, Graça e Paz!
ResponderUma das primeiras obras de Barth alegava que o significado do túmulo vazio era no mínimo em relação à ressurreição. Entretanto, ele ficou chocado com as declarações de Bultmann a acerca da ressurreição - que implicava no fato de que a ressurreição carecia de fundamento histórico. Barth passou então a dedicar grande ênfase aos relatos registrados no Evangelho a respeito do túmulo vazio. Disse ele: "o túmulo vazio é um sinal indispensável que impede qualquer possível erro de interpretação. No ensaio entitulado: "Rudolf Butmann - an attempt to understand him", ele demonstra que a ressurreição de Cristo não fora um evento exclusivamente interior ou subjetivo, mas sim algo que deixara um MARCO na história. Isso não seria suficiente para classificá-lo tendo contribuído para uma melhor ortodoxia? (ao menos neste ponto?) e quanto a sua contribuição no resgate (ou interesse) pela Doutrina da Trindade?... e vou além (diante de tantas "descobertas" hoje pela ciência): se os restos mortais de Jesus fossem "descobertos" na palestina, qual o nosso futuro?
Augustus,
ResponderEu também ainda estou por conhecer um neo-ortodoxo que creia na ressurreição física de Cristo... pero que las hay, las hay.
Muito esclarecedor o post. Ainda que postando junto, tenho aprendido muito sobre a neo-ortodoxia. Creio que dois calcanhares neo-ortodoxos são a Criação e a Ressurreição.
abs
Mauro
Nagel,
ResponderÉ por isso que temos dito aqui que a neo-ortodoxia é assim chamada porque tenta manter uma relação com a antiga ortodoxia enquanto traz novoc conceitos, alguns deles alheios à ortodoxia da Igreja.
Agora, sobre Bultmann, você está correto, não dá para encaixá-lo perfeitamente dentro do movimento neo-ortodoxo. Todavia, lembre que ele e Barth andaram de mãos dadas no início.
Um abraço.
Lindoberg,
ResponderObrigado por sua contribuição.
A grande dificuldade com Karl Barth é que ele teve várias fases do desenvolvimento da sua teologia e do seu pensamento. A natureza paradoxal da sua maneira de pensar permitia que afirmasse duas coisas aparentemente contraditórias.
Espero sinceramente que ele, na última fase, tenha crido na ressurreição física do Senhor Jesus. Pois, ele mantinha outras doutrinas que realmente eram da ortodoxia, como a Trindade e a divindade do Senhor.
Nesse sentido, sim, eu concordo, Barth era melhor que outros neo-ortodoxos.
Sobre sua pergunta, "se os restos mortais de Jesus fossem 'descobertos' na palestina, qual o nosso futuro?" eu não tenho resposta, pois não serão achados.
Um abraço.
Oi Professor, Grato por sua resposta! bem, acho que não fui muito claro quanto a minha pergunta... na verdade eu deveria ter perguntado quais seriam as implicações teológicas dessa suposta "descoberta"... mas é como o Sr. disse, creio que não vale à pena gastar tempo especulando isso e respondendo ao irrespondível, o que mantém viva a nossa esperança está no fato de ELe está vivo! e para todo o Sempre! eu vi essa pergunta sendo feita por um professor lá no meu seminário (STBC _Seminário Teológico Batista do Ceará).
Responderabraços!
Caro Rev. Augustus,
ResponderA honestidade intelectual é algo que muito admiro nas pessoas que formam opinião, e, devo deixar aqui escrito, registrado, que o sr. leva muito à sério essa questão, por isso, mesmo discordando aqui e ali de algumas análises que o sr. aqui faz, eu lhe admiro por sua seriedade.
Obrigado, igualmente, por fazer a ressalva que nem todos os neo-ortodoxos acreditam numa ressurreição 'espiritual', mas na física mesmo, e ainda que o sr. não conheça um neo-ortodoxo que assim crê, um dia, quando eu tiver o prazer de apertar tua mão, poderás dizer que conhece um neo-ortodoxo que crê na ressurreição física do Nosso Senhor e Salvador Jesus.
Um abraço carioca.
Augustus e Lindoberg,
ResponderCreio que Paulo respondeu a pergunta: "se os restos mortais de Jesus fossem 'descobertos' na palestina, qual o nosso futuro?"
Vã seria a nossa fé a nossa pregação.
Mauro
Professor Augustus Nicodemus,
ResponderSe não for abuso querer que o senhor "rotule" santos que ainda estão entre nós, principalmente os reputados "colunas", em que classe poderíamos escrever o nome do pastor John Stott? Ele seria ortodoxo?
Marcelo Hagah
João Pessoa-PB
Oi Professor!
ResponderPegando um gancho no coment do marcelo, comento: - Recentemente a revista Evangélica " Christianity Today" divulgou uma entrevista com o Pastor James Iaann Packer, a matéria foi publicada pela "resposta Fiel" no seguinte endereço "http://www.cpad.com.br/paginas/www.cpad.com.br/?acao=DT&dep=288&secao=2276&prod_id=32900 " numa das perguntas a "revista" pergunta: RF Recentemente, alguns teólogos evangélicos liberais começaram a ressuscitar a teoria de que o Inferno não é uma realidade. Até um famoso teólogo evangélico inglês, conhecido no mundo todo pela sua ortodoxia, chegou inicialmente a simpatizar com a teoria. O senhor foi um dos que combateram esse movimento. Quais os perigos dessa heresia?
ESSE famoso teólogo é Jonh Stott? o que o Sr. teria a dizer sobre isso? Teria Jonh Stott se rendido ao ecumenismo? há uma interessante matéria neste endereço: http://www.bereanbeacon.org/articles_pdf/alignment_evang_apostasy.pdf e quanto a John Macarthur Jr que parce ter aderido ao "new evangelicalism", ou seja, tem participado de eventos ecumênicos com padres e pastores das vineyard, dos "promisse keepers" e outros movimentos ecumenistas, neopentecostais e dominionistas:
http://www.rapidnet.com/~jbeard/bdm/exposes/macarthur/general.htm
http://www.wayoflife.org/fbns/john-macarthur-newevang.html
No aguardo professo! desculpe a extenção do "Coment"...
PS. só uma última pergunta e acabo (rsrs) .. queria saber se tem como o Sr. me dar uma entrevista para divulgação em meu blog (http://portrasdacortina.blogspot.com ) caso positivo me dê um retorno em PVT no: gospel72003@yahoo.com.br
Muito obrigado!
NEle,
Lindemberg - Cristão Batista
Fortaleza - CE
Caro Marcio,
ResponderObrigado pelo seu comentário. Da mesma forma, aprecio a honestidade intelectual, bem como a humildade para reconhecermos o valor das pessoas de quem discordamos. Você cresceu no meu conceito, embora com certeza isso não significará nem um aumento do seu salário!!!
Um grande abraço,
Augustus
Marcelo,
ResponderVocê sabe que tenho evitado responder a esse tipo de pergunta...
Sei que cedo ou tarde vou quebrar a minha própria regra, mas por enquanto, deixemos os santos sem rotulação.
Abraços,
Augustus
Lindoberg,
Responderde esculpe a demora em responder ao seu comentário. Aproveitei bem o último feriadão, e ao regressar as minhas atividades, encontrei, como sempre, bastante trabalho a ser feito.
Passo agora a responder às suas indagações:
Sim, o famoso teólogo evangélico inglês não pode ser outro senão um John Stott, que abertamente defende que a punição que aguarda os ímpios não é a eternidade de sofrimento, mais a extinção. Essa posição dele não tem sido muito divulgada no Brasil por causa das evidentes repercussões e reações negativas por parte dos evangélicos, na sua grande maioria comprometidos com a bíblia e que acreditam na realidade do inferno. Como eu também.
Sobre o ecumenismo, não li nada a respeito. Encontrei-me com John Stott duas vezes aqui no Brasil e aprendi a respeitá-lo pelo rigor acadêmico, seriedade teológica e compromisso com a verdade das escrituras. Único ponto em que discordava dele era quanto à realidade das penas eternas. Si agora, como parece estar acontecendo, ele está sendo atraído para o ecumenismo, vai ser mais um ponto de discordância. é uma pena.
Terei todo prazer em colaborar com seu blog. Estou mandando mensagem em particular.
Um abraço,
Augustus
Olá,
ResponderConsidero como um dos fundamentos centrais da justiça divina a finitude de suas punições.
Em primeiro lugar, o ser humano é finito. Suas ações são finitas. As reações que elas geram são finitas também. Logo, a punição por estes atos (a morte), é justamente garantir a finitude do ser humano, para que ele não viva eternamente, e peque continuamente. Uma vez terminada a existência humana, não há mais pecado, nem culpa que se pode atribuir a ele. Deus elimina até mesmo a possibilidade de transferir a culpa pelos pecados aos descendentes do pecador, garantindo, portanto, que cada um responda pelo que fez, DENTRO dos limites da existência de cada um.
Em segundo lugar, a justiça divina é compreensível ao punido. Ele sofre a pena porque pecou. Se não há conhecimento da lei, não há pecado, é o que diz um dos mais importantes versículos da Bíblia. Claro que vai chegar o dia em que ninguém poderá alegar ignorância da Lei. Portanto, partindo do pressuposto que o condenado sabe porque está sendo punido, tendo em vista também que a lei do pecado exige a morte do pecador (que é simplesmente a extinção do indivíduo), ele portanto receberá uma condenação DEFINITIVA.
Sabemos que a graça de Deus foi concedida a nós exatamente para impedir este estado definitivo da morte. Através dela, nossa morte é um estado transitório, não-definitivo. Morremos, mas seremos ressuscitados um dia.
Existem muitas passagens bíblicas que me levam a crer que a ausência definitiva de Deus da vida humana, a retirada total do Espírito que nos mantém vivos, isto fará com que os condenados no Dia do Juízo sejam extintos. Simplesmente serão consumidos.
Indícios do que estou afirmando estão por aí: vejam os viciados em drogas, por exemplo, que levam uma vida sem Deus... correm como despesperados atrás da última e mais potente dose alucinógena para que se sintam vivos, mas mesmo assim seu corpo, sua alma, e tudo que eles são, aos poucos se esvai... Eu creio que no dia do Juízo será assim também. Sem a presença de Deus em suas vidas, retirada como punição pelos seus pecados, entrarão em desespero, e acabarão consumidos, e finalmente extintos da presença de Deus. O desespero, aliás, é a mais grave enfermidade da alma humana, uma condição gravíssima, de acordo com Kierkegaard. Os ímpios, portanto, morrerão de desespero, de choro e ranger de dentes, como disse Jesus Cristo.
Wendel,
ResponderDe fato, é terrível o destino final dos que não crêem. Desperta compaixão e misericórdia. Faz-nos examinar-mos a nós mesmos mais acuradamente e faz-nos correr humildemente para Jesus Cristo, o Salvador de pecadores. Como o profeta Jeremias, gostaríamos que nossos olhos se tornassem em fontes de águas para chorar pela miséria dos perdidos. Queira Deus dar-nos um coração compassivo e zelo evangelístico.
Um abraço.
Posso citar pelo menos dois importantes“neoortodoxos” que criam na ressurreição corpórea (além do Barth após “Dogmática”): Oscar Cullman (o melhor exegeta do segundo testamento dos últimos tempos) e Dietrich Bonhoeffer (e seu tão polêmico “cristianismo sem religião”).
ResponderA não ser que se caia em raciocício circular e petição de princípio, afirmando que pra ser neo-ortodoxo tinha que sustentar a posição “meta-histórica”. Pois os dois supracitados podem ser incluídos neste movimento, tanto como se inclui Reinhold e Richard Niebuhr, Bulltmann, Wolfhart, etc., e não se inclui, p. ex., Tillich.
Não se pode falar em “neo-ortodoxia” como bloco monolítico. Mas sim uma postura com boa margem de amplitude, em relação a questão religião/cultura, fé/razão, igreja/poder secular, crítica histórica/metafísica, etc. E um elo entre eles foi a ferramenta dialética para transcender antinomias. Falo em amplitude, pq podemos ver nas mesmas as diferenças entre Niebuhr e Paul Minear, Barth e Brunner, Cullman e Bulltmann, etc. Mas com pontos em comum. Não é uma crença em uma coisa ou outra de um credo que distingue movimentos!!!Uhhh
A infantilidade no extremo idealismo na pesquisa sobre história das idéias e movimentos por parte dos conservadores é que sempre em suas apologéticas apresentam como se cada um tivesse um mapa panorâmico sobre diversos movimentos, e de acordo com seus caprichos apontasse o dedo e dissesse: vou seguir esse aqui!
Se averiguarmos a polêmica anterior Kierkegaard e Hegel, sobre concepção do indivíduo na sociedade e história, os alertas de Nietzsche para com a massificação, a questão do idealismo e também do criticismo kantiano, a Revolução Francesa e noções de progresso, a proposta do iluminismo na teologia com o tão vulgarmente propalado epíteto “liberalismo teológico”, o colonialismo, as reestruturações organizacionais pós Revolução Industrial, a postura sóciopolítica da igreja, a discussão sobre a questão tecnológica e o espírito humano, a iminência e o decorrer das guerras, etc., polêmica epistemológica “idiografia X nomotética”,etc., etc., podemos começar a entender a “neortodoxia”.
Algo por demais extenso para tratar aqui. Mas posso adiantar, dentro das temáticas, preocupações, empreendimentos e reflexões dinâmicas em comum, os “neoortodoxos” aceitaram o desafio “liberal” de frente, procurando respostas honestas e íntegras (inclusive no âmbito a intelectual), sempre buscando a vida, a existência e o compartilhamento da angústia da condição humana, como contrapartidas. Buscaram as respostas relevantes para seu tempo.
Diferentes do fundamentalismo que, a época, se refugiara soltando anátemas de fazer inveja à confissão Atanasiana e repetindo mantras pra si mesmo, numa postura alienadora. Barth a época, dialogou franca e honestamente com o criticismo histórico, e sem invalidá-lo buscando o artifício de botar medo para que ninguém resolvesse estuda-lo, forçou-o a uma autocrítica numa dialética rumo a fé, sem suicídio intelectual, mas sem falsas garantias de conforto. Niebuhr traçou um realismo que confrontara de frente a antropologia filosófica infantil do liberalismo e sombria do freudianismo e do calvinismo extremo.
Não sou um seguidor, um fanático embotado de nenhum deles, mas dentre outras coisas, foram os que melhor me iluminaram na minha postura existencial e reflexiva sobre eclesiologia e poder temporal, sobre existência e engajamento social.
Nenhum deles é um Mestre a ser seguido empernidamente, até pq temos muitas discussões, como a de Bruno Latour sobre a “modernidade”, para complexar nossas indagações e pensamentos a respeito das temáticas. Temos os estudos culturais... Mas também, não podemos ficar na via do “estereótipo fácil e manuseável”.
Abraços Ecumênicos na Graça de Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
Caro Nicodemus, o senhor parece falar da Igreja Cristã como que desconsiderando a heterogeneidade teológica das primeiras comunidades, anterior às uniformizações que conciliares especialmente a partir do século quarto. Há controvérsias (muitas). A alguns comentadores: criticar a reinterpretação de conceitos primeiramente usados pela ortodoxia parece-me contraditório. Não fez, a ortodoxia (desde o início), o mesmo, utilizando-se de conceitos filosóficos clássicos, especialmente platônicos? Conceitos são reinterpretados, relidos, ressignificados, em todos os campos.
Responder