quarta-feira, março 07, 2007

Solano Portela

Por que não consigo acreditar na política brasileira

Os noticiários estão divulgando a toda hora as últimas negociações, conchavos e acertos para o preenchimento dos ministérios. Além do “fator Suplicy”, descrito por alguém como o maior motivador da eficiência ministerial (basta ameaçar colocar a Marta em um ministério qualquer, que o atual titular passa a trabalhar 15 horas por dia e produzir todos os planos que deixou esquecidos nos últimos dois anos), a maior novidade é a indicação do deputado Geddel Vieira Lima para o Ministério da Integração Nacional.

A agência Reuters anunciou ontem (05.03.07) que o presidente Lula, chamou o presidente do PMDB, Michel Temer, e, exigindo silêncio e discrição, garantiu a nomeação do colega de partido, Geddel, para esse ministério. Ora, haja integração! Haja também amnésia conveniente, viração de casaca inconseqüente, ausência de posição coerente. A postura de geléia amorfa demonstrada pelos protagonistas da nossa política é de tirar a sanidade mental de qualquer um, pelo menos daqueles que preservam um pouquinho de memória e que desejam conservar alguns parcos traços de ética e moral nas estruturas governamentais.

Geddel, o que agora vai integrar a nação, é aquele mesmo que freqüentou os noticiários na remota era de 2001. Na ocasião, a Folha de São Paulo (05.02.2001) relatou as acusações trocadas entre ele e o então presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães. ACM, chamado por Geddel de “fanfarrão que mandava na República", preparou um vídeo intitulado “Geddel vai às compras”, exibido à classe política e jornalística em diversas ocasiões. Nele, relatos de comissões recebidas de empreiteiras e outras supostas provas de corrupção enrustida eram apresentados. Segundo aquela reportagem da Folha, o vídeo mostrava “várias propriedades rurais e urbanas e outros bens que teriam sido comprados por Geddel e seus familiares, com insinuações de que teria sido usado dinheiro público”.

O interessante, é que a esquerda coligada, fazia coro na cruzada pela moralidade. O jornal “A Classe Operária” (PCdoB), em seu número 198, de 07.02.2001, apresentando a posição de uma coligação ((PCdoB, PT e PDT) classificava o Sr. Geddel como “destacado membro da cúpula mais fisiológica do PMDB”. Mencionando o já famoso vídeo do ACM, o artigo lembrava a sua situação de investigado pela CPI do Orçamento, acusava-o de aliciar quatro deputados federais do PFL e de dar calote no preço da sedução, naquilo que, segundo o Jornal, era uma “autofagia conservadora”.

Bom, tudo isso está esquecido, pela esquerda, no jogo contemporâneo de compra e venda de cargos atrelados a seus respectivos ministérios. Mas o que pensa Geddel de tudo isso? Na revista Época (No. 261, de 19.05.2003) ele concedeu uma longa entrevista. Na ocasião, Lula o comparava ao Babá, aquele troglodita dissidente do PT. Sua opinião sobre o presidente Lula? Criticando-o, Geddel disse que “Lula usa métodos iguais aos de FHC para cooptar seus aliados”. Numa explosão inexplicável de ética, ele declarou: “não acho correto, ético, é buscar cargos em troca das reformas num governo que eu não elegi”.

Obviamente deve ter mudado drasticamente de opinião, pois não parece emitir nenhum sinal de protesto com as recentes negociações. É claro que temos um caso grave de amnésia política, pois na mesma entrevista, falando sobre o PT, ele disse: “A sociedade optou pelo projeto do PT e nos colocou na oposição. Essa também é a postura ética”.

Só para encerrar essa confusão dos “sem posição”, a CUFDB, Central Única Federal dos Detetives do Brasil (é, isso existe, mesmo), em uma postagem de 25.07.2005, faz referência a uma fita gravada. Nela, o deputado José Lourenço reclamava “com o ex-deputado Jonival Lucas a liberação de verbas para a prefeitura de um município de sua base eleitoral que teria sido prometida pelo líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima”. Na gravação, "Lourenço chamava Geddel e o ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, de ladrões por estarem exigindo uma comissão de 20% para liberar os recursos".

Tudo isso está esquecido e varrido para debaixo do tapete. E nessas negociatas por ministérios e cargos o que fica mais claro é que não existe esquerda, direita, ou ideologia nenhuma – é tudo puro fisiologismo pessoal e corporativo e os interesses do país vão para o espaço.

Essas idas e vindas só trazem descrédito à política brasileira. Que Deus abençoe o nosso sofrido país.

Solano Portela

Postado por Solano Portela.

Sobre os autores:

Dr. Augustus Nicodemus (@augustuslopes) é atualmentepastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana doBrasil e presidente da Junta de Educação Teológica da IPB.

O Prof. Solano Portela prega e ensina na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, onde tem uma classe dominical, que aborda as doutrinas contidas na Confissão de Fé de Westminster.

O Dr. Mauro Meister (@mfmeister) iniciou a plantação daIgreja Presbiteriana da Barra Funda.

9 comentários

comentários
Anônimo
AUTOR
7/3/07 13:25 delete

Os que não gostam da política brasileira tem uma saudade louca da DITADURA de 64, pois este sistema se assemelhava bastante com a forma de alguns líderes eclesiásticos. Inclusive várias igrejas apoiaram a DITADURA e perseguiram pastores, professores, seminaristas etc. Talvez voce goste da política americana imperialista, pois eles e seu maior chefe Georg bomba Bush são bons crentes.

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7/3/07 18:10 delete

Caro anônimo:
Espero que tenha desopilado o fígado com suas palavras, mas bem que poderia ter tentado dar alguma contribuição ao debate, em vez de dizer besteiras. Presumo que você está entre os que "gostam da política brasileira", sendo bem resolvido, sem saudades ou anseios. É ilação justificada, também, achar que você está bem confortável com os aspectos de corrução e negociatas apontados no "post". Espero que consiga analisar melhor os tempos e que se venda menos aos clichês do obscurantismo - confortável e aconchegante, mas mortal aos que nele perecem de letargia mental.

Solano

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Anônimo
AUTOR
8/3/07 09:09 delete

Caro Solano,
A notícia do convite ao ministério não me causou espécie, pois o que já vimos neste governo o credencia a fazer até coisas piores. O que dizer da fala de um presidente sobre o sexo desenfreado, libertino e sem responsabilidade?

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8/3/07 09:21 delete

Caro José Paulo:
Fiquei abismado, ontem a noite, testemunhando a verborragia desenfreada e se qualquer rumo de moralidade sobre a sexualidade. Procedendo da nosso maior autoridade, traz-nos motivos maiores de preocupação, especialmente pela evidente falta de compostura e recato - algo perdido há muito tempo. Essa área já tem direcionamento errado desde o Serra - quando ocupou a pasta da saúde, e nos impingiu o "bráulio", de absoluto mau gosto e as intensas campanhas "esclarecedoras", mas que na realidade foram meras promotoras de promiscuidade, como se perpetuam até hoje.
Abs
Solano

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Anônimo
AUTOR
8/3/07 10:16 delete

Paz a todos

Discordo do artigo. Não penso que esta palhaçada em que o governo está tornando a política seja fisiologismo. Penso que é premeditado, com o objetivo de levar o país a uma ditadura, como a venezuelana. O fato das pessoas estarem ficando mais e mais enojadas da política, prova que a estratégia está dando certo.

Renato U. souza

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8/3/07 11:56 delete

Olá Solano,

Pois é, o PMDB nunca foi, de fato, um partido político, mas existe exatamente para acomodar fisiologistas de todas as cores, e para diluir qualquer crítica de viés ideológico/programático que possa atingir autores de maracutaias e negociatas. Assim, contribuiram muito para a imbecilização do debate político nacional, mas andam pagando caro, pois se tornaram marionetes na mão da treinada e perigosa nomenklatura petista. O PT pisará no pescoço deles assim que a maré das conveniências mudar.

Caso Waldomiro, fracasso e corrupção do Fome Zero, Caso Gushiken, Valerioduto, mensalão, Aerolulla, escândalo do Lulinha, aparelhamento arbitrário das estatais, apoio incondicional à cartilha gay, pró-aborto e pró-eutanásia, a cartilha politicamente correta e, mais recentemente, a cartilha da orgia-teen. Sem falar nas alianças com a ampla rede de terrorismo revolucionário latino-americano.
Começo a desconfiar que tudo isso é o que os tais "evangélicos progressistas" chamam de "governo voltado para a justiça social".

Solano, fico por aqui.
Minha oração é para que o Senhor abra os olhos da Igreja brasileira; só assim ela se posicionará de forma bíblica e esclarecida frente à corrosão institucional que assola esse nação.

Abração fraterno do Eliot.

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Anônimo
AUTOR
8/3/07 16:45 delete

Prezado presbítero Solano.

Muito bom o seu texto, esclarecedor e orientador.

Vendo o Sr. Presidente Luis Inácio discursar e emitir opinião acerca de qualquer assunto que seja, vemos que um curso universitário faz falta, e como faz.

Nunca me decepcionei tanto com um político, como decepcionei-me com "Lula".

Assisti a uma palestra de Leonardo Boff na TV, onde ele dizia que a ciência acredita que se o homem for extinto da face da terra, quem assumirá o lugar do homem será as "Lulas", pois elas tem duas memórias. Besteiras à parte, nós já temos um "Lula de duas caras".

Rev. João d'Eça

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Eudes Lessa
AUTOR
8/3/07 17:56 delete

Não foge da realidade o post, pastor Solano. Infelizmente.
Falando com as dores de um nordestino, o tal Geddel Vieira é veementemente contrário à transposição das águas do Rio São Francisco. Claro, caso não venha a fazer politicalha e querer barganhar a agradar nosso engodado presidente.

P.S.: Adicionei um link para este blog, no blog em que faço parte:
http://pibif.blogspot.com

Feliz cada novo dia...

Leo.

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Anônimo
AUTOR
9/3/07 08:20 delete

Olá a todos

Eu acho muito complicado exigir de qualquer presidente que não seja cristão, uma atitude tal.
Tivemos um presidente ateu por 8 anos e agora um presidente que esta ligando as bases socialistas. Qualquer presidente que for eleito dificilmente terá uma cultura e valores instrinsicamente baseado na bíblia.
Por isso não consigo compreender o porque da revolda e surpresa quando um presidente fala a respeito de sexualidade.
Ora, cabe a nós cristãos influenciarmos a sociedade com nossos valores, não via partido político.



Abraços
JP

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