Inicialmente pensávamos em dois posts, sobre o assunto, mas no final teremos três. Este é o segundo e o terceiro será postado em mais uns três dias. Desta vez, depois de ter tentado entender o que está acontecendo, com uma visão abrangente dos "derretimentos" de ativos financeiros que acontecem ao redor da Terra, queremos examinar:
O QUE PODE A BÍBLIA NOS ENSINAR SOBRE ESSA CRISE FINANCEIRA?
1. A Atitude dos que não temem a Deus:
Em um filme famoso, exatamente sobre o mercado de capitais – “Wall Street” (1987, com Michael Douglas e Charlie Sheen) – o personagem de Douglas, Gekko, dá a seguinte instrução: “a ganância é uma coisa boa, é algo certo, e funciona” (“greed is good, greed is right, greed works”)! No dia 17 de outubro de 2008 – no auge da crise – o conhecido bilionário, investidor e também filântropo, Warren Buffet, em um artigo publicado no New York Times (http://www.cnbc.com/id/27231171/) escreveu o seguinte conselho: “Tenha medo quando os outros forem gananciosos e seja ganancioso quando os outros tiverem medo”.
Ambos conselhos são contrários à visão de mundo e vida ensinada por Deus. A questão da ganância está na raiz da crise financeira de 2008! Temos aqui um exemplo vivo da postura de inversão de valores e de arrogância, condenada por Isaías (5.20 e 21): “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridão luz e da luz, escuridão; põem o amargo por doce e o doce, por amargo! Ai dos que são sábios aos seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito”!
2. A forma de vida que agrada a Deus:
A Bíblia tem vários trechos relevantes ao nosso entendimento da situação; muitos que alertam contra a ganância e a cobiça. Um desses principais trechos pertinentes é 1 Timóteo 6.6-11. Nele o experiente e consagrado apóstolo Paulo, escrevendo ao jovem Timóteo, está ensinando pelo menos seis coisas;
(1) Qual o Lucro REAL? O que é que realmente conta em nossas vidas? (v. 6 – “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento”): é a devoção a Deus (piedade); é o contentamento nas coisas de Deus. Quando colocamos as questões materiais como prioritárias em nossas vidas, estamos desviando o foco da nossa existência, a razão do nosso ser. Estamos no caminho da decepção, da amargura, da tristeza, pois a nossa confiança estará em coisas que não têm lastro real. Deus é alicerce seguro, em qualquer situação.
(2) Somos peregrinos nessa Terra (v. 7 – “Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele”): é verdade que Deus nos concede bênçãos materiais, mas nada levamos deste mundo. Quando temos essa percepção, nos tornamos menos apegados às coisas materiais; compreendemos a razão do lucro real que ele vem falando.
(3) Devemos viver com frugalidade (v. 8 – “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes”): Desejemos as coisas básicas da vida e não seremos frustrados em nossas expectativas; essas nos são prometidas por Deus, como fruto de seu amor e benevolência (Mateus 6.28-32), pois ele sabe que precisamos delas. Mas as coisas do chamado “mercado de luxo”, são, realmente, necessárias? Onde está a base de nossa alegria? Nas coisas materiais, nos ganhos financeiros para comprarmos mais coisas?
(4) A cobiça é um pecado muito perigoso (v. 9 – “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição”): O desejo da riqueza leva a tentações; essas tentações são ciladas, armadilhas, aprisionam e tiram a liberdade. A cobiça é campo gerador de novos desejos insanos (concupiscências insensatas), que são maus em si mesmos (perniciosos); tudo isso, termina por afogar as pessoas na ruína e na perdição.
(5) Cuidado com o amor do dinheiro (v. 10 – “Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores”): Esse amor é raiz de todos os males. Note que a raiz não é o dinheiro em si – um meio de interação social e transação de ativos, mas o amor, o apego ao dinheiro. A cobiça leva ao desvio da fé, pois a confiança passa a ser exercitada no dinheiro, no poder, em vez de em Deus. O resultado dessa inversão, desse apego, é muito sofrimento e tormento para aqueles que caem nessa armadilha.
(6) Devemos, portanto, fugir de tudo isso (v. 11 – “Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão”): Nosso dever é seguir a justiça, as coisas certas, apropriadas. Isso implica na existência de padrões, de absolutos, da distinção entre verdade e mentira. Ele repete que devemos seguir, em adição, a devoção a Deus (piedade). O outro alvo é a fé (a confiança em Deus, somente), seguido do amor e da constância. O servo de Deus firma-se na constância e estabilidade de Deus, portanto, não deve oscilar entre duas posições. Não deve se sobressaltar com as circunstâncias; não deve assustar aos seus. Por último, temos a mansidão como alvo. Não devemos nos exasperar, ou nos irritar com as circunstâncias. Em Deus encontramos a fonte de nossa mansidão.
3. Outros alertas contra cobiça:
Existem muitos outros trechos que alertam contra a cobiça, contra a avareza, contra o apego ao dinheiro. Todos esses são pertinentes alertas aos dias que atravessamos, por exemplo:
Colossenses 3.5 Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria.
Lucas 12.15 Então, lhes recomendou: Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui.
Salmo 10.3 Pois o perverso se gloria da cobiça de sua alma, o avarento maldiz o SENHOR e blasfema contra ele.
4. Outros ensinamentos, na Bíblia, sobre questões econômicas:
Mas é verdade, também, que o ensino da Bíblia nas questões econômicas é muito mais amplo do que isso. Numa era onde temos a propensão a concentrar os nossos olhos nos que nos cercam, em vez de em nossas atitudes, temos, por exemplo, um alerta contra inveja da prosperidade alheia, indicando que essa atitude nos leva perto da queda:
Salmo 73.2-3 Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos. 3 Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos.
Temos a reafirmação do direito de propriedade, e o oitavo mandamento, “não furtarás” (Êxodo 20.15) é o fundamento disso. Temos até indicação de que o ato de investir e multiplicar o capital não é errado em si, em duas parábolas relatadas em Mateus 25.14-30 e Lucas 19.11-27 (sabemos que o propósito das parábolas era o de ensinar que Deus nos colocou nesse mundo de incertezas para fazer a obra dele, do Seu Reino, mas ele ensina isso mostrando a propriedade da interação com as atividades financeiras e comerciais do dia-a-dia). Nessas parábolas é mencionada até a propriedade de colocar o dinheiro na mão de bancos e de banqueiros (Mateus 25.27 e Lucas 19.23: “cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu”; e “por que não pusestes o meu dinheiro no banco? E então, na minha vinda, o receberia com juros”). Entretanto, é interessante observar, que colocar no banco era o pior tipo de investimento – o melhor era fazer o capital trabalhar produtivamente.
A verdade é que Deus construiu, igualmente, alguns princípios inexoráveis de causa e efeito, entrelaçando a moralidade e ética com economia. Quando esses princípios são quebrados, o pedágio é cobrado com intensidade avassaladora. Em Deuteronômio 28.15 lemos: “Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do SENHOR, teu Deus, não cuidando em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos que, hoje, te ordeno, então, virão todas estas maldições sobre ti e te alcançarão”. E, mais adiante, vejam as conseqüências (28.43-44): “O estrangeiro que está no meio de ti se elevará mais e mais, e tu mais e mais descerás. 44 Ele te emprestará a ti, porém tu não lhe emprestarás a ele; ele será por cabeça, e tu serás por cauda”. Adam Smith em seu tratado “A Riqueza das Nações (1776), ao falar da “mão invisível do mercado”, que pune os excessos e quebra os gananciosos – como estamos testemunhando no presente – reflete exatamente que existem princípios éticos e lógicos na esfera da economia. Esse é também o ensino de Deus.
5. O ponto no qual devemos nos concentrar:
Mas esta é questão principal, nessa crise e nessa área: É suficiente apontar a crise como resultado da cobiça e da especulação dos outros? É correto atribuir essa situação, assepticamente à estrutura econômica do mundo ocidental, na ilusão de que um outro sistema econômico a impediria? Será que não podemos, apenas, segregar e atribuir a culpa à suposta maldade inerente ao sistema financeiro, ou aos bancos e banqueiros?
Estaremos errando o alvo se não nos convencermos que o problema está inerentemente no ser humano. A cobiça está no coração da natureza humana e devemos pedir a Deus que nos livre dela. A cobiça e a ganância são, certamente a raiz da crise que atravessamos, mas visualizemos ela nas pessoas, e não nos desviemos pensando que são as estruturas impessoais que as abrigam. Pessoas que emulam o Gekko, ou que seguem os conselhos de Buffet.
A cobiça aparece em toda a sua forma monstruosa quando essas pessoas procuram ganhos irreais, à custa de outras; que se abrigam e se fortalecem com seus ganhos ilegítimos. Devemos, portanto, “fugir dessas coisas”, como Paulo alerta a Timóteo, seguir “a justiça,a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão”.
No próximo post, a conclusão do assunto.
sexta-feira, outubro 24, 2008
A Crise para Leigos: Uma visão cristã do turbilhão financeiro de 2008 (2 de 3)
Postado por Solano Portela.
Sobre os autores:
Dr. Augustus Nicodemus (@augustuslopes) é atualmentepastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana doBrasil e presidente da Junta de Educação Teológica da IPB.
O Prof. Solano Portela prega e ensina na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, onde tem uma classe dominical, que aborda as doutrinas contidas na Confissão de Fé de Westminster.
O Dr. Mauro Meister (@mfmeister) iniciou a plantação daIgreja Presbiteriana da Barra Funda.
19 comentários
comentáriosCaro Portela,
Responderparabéns pela série!
Ainda que normalmente discorde de suas posições que são obviamente distintas das minhas, tendo em vista que sou simpático ao socialismo, frente a essa evidência factual da crise econômica, acabamos todos por abarcar em um mesmo porto: a maldade humana em sua radicalidade, ou seja, o amor ao dinheiro.
Quanto à sua pergunta: "É correto atribuir essa situação, assepticamente à estrutura econômica do mundo ocidental, na ilusão de que um outro sistema econômico a impediria?"
Sem dúvida a estrutura capitalista e neo-liberal contribui, possibilita e até provoca esse tipo de crise, que em outro sistema não existiria. A ilusão seria todavia pensar que em outro sistema não existiriam males econômicos de outra natureza.
Fraternalmente,
Rogério
"A ilusão seria todavia pensar que em outro sistema não existiriam males econômicos de outra natureza." Paraísos socialistas como Albânia, Cuba e Coréia do Norte que o digam.
ResponderE pensar que o Apedeuta disse que a crise não ia "atravessar o Atlântico".
hehehe
Ótimos textos, Solano.
Goel
caro Solano:
ResponderAs suas orientações foram precisas, objetivas e biblicamente exortativas acerca dos valores que devem nos acompanhar. Parabéns pelas palavras pastorais.
Raimundo
Boa Tarde irmãos leitores, como é dificil nos desligarmos das coisas efemeras deste mundo! nós cristãos criamos uma especie de "avareza santa". Quizera eu poder estar completamente satisfeito com as bençãos materiais que o Senhor, pela sua graça comum me concedeu, e viver centralizado no pensamento que sou peregrino nesta terra. Tem muitos de nós que ficamos tristes por não podermos "fazer uso" dos tesouros eternos nesta vida, "penhorar" parte deles nesta vida, para "melhorar a situação". Pior que isso, muitos estão loucos para chegarem a Nova Jeruzalém por causa das suas ruas de ouro, devida tamanha ganancia que habita em seus corações.
ResponderMinha oração é que o Senhor nos mortifique cada dia mais para aquilo que ja estamos mortos.
Cl. 3:1-5
Em Cristo que nos fortalece - Gilberto Sampaio
Caro Solano,
ResponderSó um propenso leigo para elucidar a visão de ooutro leigo. É o que você fez a mim ao escrever estes dois artigos, um em complementação ao outro e um terceiro que virá em complementação a ambos. Muito bom mesmo o seu texto, altamente compreensível, o que é melhor. Fico aguardando o "próximo capítulo", que certamente fechará com chave de ouro o seu pensamento. Parabéns.
Pb. Josué.
Obrigado, presbitero Solano. Seus dois artigos mostram como as Escrituras sao suficientes para tratar de qualquer assunto e realidade da vida. Esse e um momento apropriado para adorarmos e louvarmos o nosso Deus por se revelar de forma tao impressionante, responder graciosamente nossas duvidas, falhas e temores e ainda nos conceder esperaca na cruz de Cristo frente a essa crise, que e apenas uma dentre muitas que nos enfrentamos diariamente, especialmente a falacia e crise da alma da humanidade.
ResponderSomente as Escrituras revelam a alegria de sermos ricos mesmo em situacoes como essas, em que o nosso Senhor Jesus mesmo sendo rico, por amor de nos se fez pobre, para que pela sua pobreza fossemos enriquecidos. Portanto, pode vir crise economica mundial, que nos cristaos estamos estaveis com o maior tesouro desse mundo ja revelado: Nosso Senhor Jesus Cristo. Essa verdade e uma bomba atomica contra a ganacia. O Redentor e a nossa riqueza. Ele e o nosso tesouro inabalavel!!
Mais uma vez obrigado, presbitero. Estou ansioso pela ultima parte.
Deus abencoe o senhor ricamente.
Em Cristo,
Tiago Canuto Baia.
Olá pastor,
ResponderGostei muito do blog e dos artigos,
sou seminarista do SPBC, e tenho um blog também, que divulgo os produtos que vendo.
Sou meu próprio mantenedor, tanto da minha familia,quanto dos meus estudos.
Em Cristo
Seminarista Horllikyo A. Camilo
www.megamagsaude.blogspot.com
Muito bom seu texto, Solano! Com relacao ao abordado na primeira parte, vale lembrar tb que no Brasil o Bacen colocou diversas regras aos bancos para controlar a alavancagem deles, como o Acordo da Basileia, por exemplo, adotado pelo BC do Brasil (agora teremos tb o Basileia 2). Com relacao ao dolar, certamente continuaremos a ver o cambio subir, ja que em momentos de crises, os investidores resgatam seus investimentos de paises emergentes, como o Brasil, para cobrir suas perdas com a crise. Ou seja, essa macica saida de capitais estrangeiros afeta significativamente o cambio, fazendo com que o dolar se valorize frente ao real. E por isso, certamente gastaremos mais na 25 de marco..hehehe
ResponderAchar tb que isso eh culpa do chamado "capitalismo selvagem" e que um modelo socialista seria uma solucao eh pura ignorancia, pois como o Solano colocou mto bem, isso eh fruto do espirito ganancioso do ser humano, que cria suas proprias crises, por seguir seus proprios instintos pecaminosos e desejos carnais. Concordando com Solano, sem duvida, essa crise financeira teve sua raiz na ganancia humana!
(Desculpe a falta de acentuacao. Meu computador esta com problemas)
Um abraco a todos,
Marco Duarte
"Quem ama o dinheiro jamais dele se farta; e quem ama a abundância nunca se farta da renda; também isto é vaidade" (Ec 5.10)
ResponderEis aqui a opinião de um rico temente a Deus que aplicou o seu coração a esquadrinhar tudo quanto sucede debaixo do céu e que em toda a sua grande sabedoria cunhou, inspirado pelo SENHOR, essa máxima. Por isso, digno de nota são estas palavras do texto
:"...também isto é vaidade". Nem mesmo uma busca infinita pelo dinheiro, pela abundância seria capaz de trazer contentamento àquele que ama tais coisas, pois o texto diz que "jamais dele se farta" quem assim procede. É vaidade, é como uma neblina diz Deus aos grandes investidores deste mundo, aos crentes da teologia da prosperidade e a todo aquele faz do dinheiro o seu senhor (Mt 6.24).
Creio firmemente, Solano,que dentre todos os textos das Escrituras que nos exortam sobre esse assunto, nada é tão grandioso e maravilhoso do que estas palavras:
"Duas coisas te peço; não mas negues, antes que eu morra: afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus" (Pv 30.7-9)
Graça e paz, em Jesus, o Filho de Deus. Amém!
Soli Deo gloria
Prezado irmão em Cristo,
ResponderGraça e Paz!
Tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente quando do lançamento da Campanha da AEB. Não sei se recorda, mas sou o filho do Engº Carlos.
Quero cumprimentá-lo pela lúcida visão de todo o ocorrido. Se permitir, assinaria em conjunto esse seu artigo!
A especulação financeira é algo monstruoso... Quantas pessoas não são vítimas dessa ganância e perdem "rios de dinheiro" e, até mesmo, são arruinadas...
Pessoalmente, lembro-me de dois conhecidos que já "tomaram um belo tombo" com investimentos na Bolsa... Conheço alguns que investiam antes da crise, não tenho nem coragem de perguntar o que ocorreu!
Proponho que o irmão mande esse texto para um Jornal de Grande Circulação, como O Estado ou a Folha para que mais pessoas tenham a possibilidade de ler (obviamente, presumindo que publicariam!).
Um forte abraço e que Deus o abençoe!
Cristiano Pereira de Magalhães
Caro Solano, graça e paz
ResponderGostaria de destacar três pontos de discordância com seu texto:
1) Acredito que o grande problema no seu artigo foi colocar a cobiça e o sistema financeiro como duas alternativas de resposta excludentes. Você está correto em dizer que a raiz do problema é a cobiça, mas o sistema financeiro atual deriva-se desta cobiça e a estimula.
2) Pelo seu texto parece que você quer dizer que a atitude de aplicar na bolsa de valores é fruto de ganância, de colocar o dinheiro na mão de banqueiros, quando na verdade ao se comprar ações, se está investindo na atividade produtiva.
3) Muitas pessoas investem indiretamente na bolsa ao participar de um fundo de pensão não sendo motivados por ganância, mas por prudência quanto ao futuro.
Emerson C Pinheiro
Gostaria de destacar 2 pontos de discordância com o comentário do Marvel.
ResponderPrimeiro, é bom ressaltar algumas divisões dessa sólida opinião do presbítero Solano sobre a crise financeira, pois é fundamentada na Palavra de Deus.
Solano, faz uma afirmação introdutória: “a questão da ganância está na raiz da crise financeira de 2008”. E para isso ele citou um artigo (que não é de um jornaleco) e um famoso filme, dentre tantas provas que o mundo dá. Depois, ele trabalha (exposição e aplicação) especialmente o texto de Tm no seu devido contexto. E encerra o 2º post de 3 , defendendo, a luz das Escrituras, que o melhor é investir na economia “real”.
Bem:
1)O irmão Solano, de acordo com o próprio texto dele, não deu alternativas de respostas excludentes. A perspectiva do post, a sua linha de raciocínio é abordar a causa do problema com a cosmovisão bíblica. Como você mesmo disse, Marvel, ele “está certo em dizer que a raíz do problema é a cobiça” e, acrescento eu, Deus não faz a dicotomia: investidores e mercado ou conduta de vida e princípios de funcionamento de uma instituição. Assim Solano concluiu: “A verdade é que Deus construiu, igualmente, alguns princípios inexoráveis de causa e efeito, entrelaçando moralidade e ética com economia.”
2)Faça uma releitura do artigo de Solano e verás que não há esse tipo de proposta. Ainda bem que você colocou a seguinte palavra para se expressar: “parece”. Destacarei essa frase: “A cobiça aparece em toda a sua forma monstruosa quando essas pessoas procuram ganhos irreais, à custa de outras; que se abrigam e se fortalecem com os seus ganhos ilegítimos.” Não é a atitude que é condenada aqui, mas sim a intenção do investidor. E Solano ainda harmoniza, de forma equilibrada, dizendo que :”Temos até indicação que o ato de investir e multiplicar o capital não é errado em si...”. Isso tudo digo, e friso, com base no contexto desse assunto.
3)Esse seu comentário foi fiel ao que Solano quis defender, particularmente quando você disse: “...nao sendo motivados por ganância...”.
“Estaremos errando o alvo se não nos convencermos que o problema está inerentemente no ser humano” Solano Portela.
Caro Solano, graça e paz
ResponderQue legal...pontos de discordância de pontos de discordância..rsrsr
Parabéns Solano pelos seu fiel defensor..rsrsrsrsr
Eu pensei em responder ao Danilo, mas acho melhor esperar sua última postagem para não me precipitar, pois realmente posso ter lhe interpretado errado.
Um grande abraço em Cristo
Emerson C Pinheiro (meu nome não é Marvel)
Olá Pb. Solano!
ResponderRealmente a crise está instalada no nosso mundo, mas o que as pessoas não se apercebem é que a maior crise está instalada exatamente onde elas menos imaginam: no coração. A conclusão desta parte foi precisa!
Sobre economia, recomendo Gary North, economista cristão.
www.garynorth.com
Abraços!
Irmão Emerson C Pinheiro,
Respondernem se quer conheço o presb. Solano e nunca o vi pessoalmente. Conheço apenas alguns de seus livros.
O defendi por que ele usou a Palavra de Deus, ou seja, fui fiel as Escrituras.
Graça e paz, em Jesus, o Filho de Deus. Amém!
Soli Deo gloria
Depois de responder (atrasadamente) alguns comentários no post 1, desta série, dirijo-me a estes aqui:
ResponderCaro Rogério:
Obrigado por sua reflexão. Com relação às nossas discordâncias, sou otimista em tê-lo em análise contínua, sem considerar a questão fechada!
Obviamente concordamos nesse grande ponto - a realidade, bíblica e empírica da maldade humana, do pecado original e de seus tentáculos ao longo da vida, com suas consequências mortais, para as quais o único remédio é o sacrifício de Cristo Jesus.
Quanto ao incentivo à crise - se é característica da estrutura capitalista e neo-liberal, não creio que possamos fazer essa (popular) conclusão. Acho que é justamente porque o sistema de peso e contra-peso (checks and ballances) foi abandonado. Ao mesmo tempo em que reconhecemos que Deus põe o desejo de progresso e avanço pessoal na vida de cada pessoa, a maldade, que resulta em egoismo e ganância, não pode ser esquecida - daí a necessidade de diretrizes, aferições e punições.
Pior é o sistema que tem como base a ausência de maldade, achando que uma estrutura maior garantirá o altruismo geral.
Um abraço,
Solano
Caros irmãos:
Responder1. Goel - grato pela visita e suas observações, sempre penetrante mordazes, mas verdadeiras.
2. Raimundo - Grato por identificar o aspecto pastoral. Precisamos sempre aprender com o mover de Deus na providência.
3. Caro Gilberto: Realmente, uma das coisas mais difíceis nesse mundo, mesmo para o cristão, é manter claras como cristal as prioridades de vida e a aferição das coisas que são realmente de valor.
4. Caro Josué: Grato pelo comentário e palavras de incentivo.
5. Caro Tiago: Que possamos todos ver a pertinência das Escrituras em cada área de nossas vidas. Obrigado pela leitura e visita ao nosso Blog.
6. Caro Horlikkyo: Que Deus o abençoe no seminário. Fica o registro do seu Blog, aí em cima, nos comentários.
7. Caro Marco: Obrigado pelo comentário. De uma certa maneira, no primeiro post, mencionei que a proteção à alavancagem dos bancos, no Brasil é extremamente superior à daqueles no exterior. Na realidade, as regras do Banco Central especificam uma exposição de ativos ACIMA dos índices dos acordos de Basiléia (1 e 2). sua conclusão é precisa - a raiz está na ganância.
8. Caro Danilo: As palavras de Agur, registradas no livro de Provérbios, que você colocou em seu comentário, deveriam ser o moto de cada cristão. Infelizmente, temos nos distanciado muito disso.
9. Caro Cristiano: Obrigado por sua leitura e comentário. Caro m=que me lembro do irmão e de nosso encontro no evento da AEVB. Grato pelo estímulo. Tenho minhas dúvidas que a grande mídia se interessa por esta "abordagem holística" que estamos tentando (aferindo os aspectos espirituais das ocorrências do nosso dia a dia, e verificando a pertinência das diretrizes bíblicas para cada um). Eles têm a sua própria agenda e colaboradores. Volte sempre!
Um abraço a todos.
Solano
Caro Emerson:
ResponderObrigado pelo comentário e pelas discordâncias que me dão oportunidade de esclarecer (obrigado, também ao Danilo, pelas palavras de apoio). Vamos lá:
1) Você: "Acredito que o grande problema no seu artigo foi colocar a cobiça e o sistema financeiro como duas alternativas de resposta excludentes. Você está correto em dizer que a raiz do problema é a cobiça, mas o sistema financeiro atual deriva-se desta cobiça e a estimula".
Eu: Acho que é um "grande problema" considerar que o sistema financeiro é construído em cima de cobiça. Como todo pecado, cobiça é distorção do desejo legítimo pelo lucro e pelo avanço econômico (adultério, é distorção do desejo e atração legítima pelo sexo oposto, e assim por diante - todo pecado distorce algo colocado no homem por Deus). Se a cobiça se manifesta em um sistema, sua consequência será desastrosa - por isso devem existir regras, controles e punições (como em tudo mais, na vida). Não vejo que apresentei respostas excludentes. Apontei a cobiça onde ela se manifesta como mola mestre desta crise.
2) Você: "Pelo seu texto parece que você quer dizer que a atitude de aplicar na bolsa de valores é fruto de ganância, de colocar o dinheiro na mão de banqueiros, quando na verdade ao se comprar ações, se está investindo na atividade produtiva".
Eu: Errado. Não me pronunciei contra a aplicação em ações, mas apontei, corretamente, que o mercado de ações - que originariamente refletia a condição produtiva e operacional das empresas (as ações subiam, porque esta ou aquela empresa iam bem e EM FUNÇÃO DOS DIVIDENDOS QUE DISTRIBUIRIAM), há muito se "descolou" dessa base. As ações sobem porque outros estão comprando e especulando com a visão amorfa e global da "Bolsa". As empresas chegam a perder a individualidade. Ninguém pensa mais em dividendos. Nessa situação, as ações são transformadas em meros papéis especulativos. Elas aumentam de valor ficticiamente, incham por si só. Faço uma dissociação muito clara entre aplicação bancária e no mercado de ações (não condeno, ipso facto, nem um nem outro) - mas o dinheiro nos bancos, muita vezes é carreado à mera especulação.
3) Você: "Muitas pessoas investem indiretamente na bolsa ao participar de um fundo de pensão não sendo motivados por ganância, mas por prudência quanto ao futuro".
Eu: Não afirmei que todo investimento em ações era motivado por ganância. Mas esse investimento, via fundos de pensão, como você observa, é indireto. Os melhores fundos de pensão têm regras bem rígidas contra investimentos de risco - apenas um pequeno percentual é carreado para essa área. De qualquer maneira, ter um fundo de pensão (via de regra providenciado pela corporação ou instituição que emprega) é uma precaução quanto ao futuro, que reflete a falência da intromissão do estado, nessa área, que suga, mas não devolve, ou devolve insuficientemente.
Um abraço, em Cristo,
Solano
Caros:
Responder1. Danilo - Obrigado por seus comentários. Acho que você entendeu bem e corretamente minhas intenções e os textos. Que Deus lhe abençoe.
2. André: A identificação da "maior crise" é essa mesmo - a instalada no coração. Sobre Gary North (de quem também sou fã, mas com qualificações), veja meus últimos comentários no post anterior, sobre ele e vários analistas de sua linha. Um abraço fraterno.
Solano