Será que tudo que nos acontece é por acaso? Os acontecimentos, quer sejam bons ou maus, ocorrem acidentalmente, de maneira aleatória, sem que haja uma finalidade neles? Os que pensam assim, acham que Deus não determinou, decretou, ou planejou absolutamente nada com relação aos seres humanos, seu futuro histórico ou eterno, e muito menos os acontecimentos diários. Nada foi previsto ou determinado por Deus, inclusive os eventos naturais como terremotos, tsunamis, erupções vulcânicas, acidentes, quedas de aviões, enfim – nada foi previsto ou determinado por ele. Portanto, tudo é imprevisível como num jogo de futebol. Não se sabe o futuro, não se pode prever absolutamente nada quanto ao fim da história. Junto com seus seres morais, Deus constrói em parceria o futuro, que neste acaso é aberto, indeterminado e incognoscível. Inclusive para ele mesmo.
Ou, será que as coisas que nos acontecem, mesmo as menores e piores, têm um propósito, ainda que na maior parte das vezes desconhecido para nós? Os que pensam assim entendem que Deus criou o mundo conforme um plano, um propósito, um projeto, elaborado em conformidade com sua sabedoria, justiça, santidade, misericórdia e poder. Nada que acontece, mesmo as mínimas coisas, o fazem ao acaso e de forma aleatória e casual, mas segundo este plano sábio. As decisões dos seres humanos são tomadas livremente por eles mesmos, mas, de uma forma que não compreendemos, elas acabam contribuindo para a concretização do propósito divino sem que Deus seja o autor do pecado. Tudo que ocorre, coisas boas ou ruins, estão dentro deste propósito concebido antes da fundação do mundo.
A melhor maneira de avaliarmos qual das duas é a visão correta é perguntarmos qual delas se aproxima mais da visão de Deus, do mundo e do homem que a Bíblia apresenta. Como os autores bíblicos concebiam o mundo, a história e os acontecimentos?
Ninguém que conheça a Bíblia poderá ter dúvidas quanto à resposta. Os judeus, ao contrário dos povos pagãos ao seu redor, não acreditavam em sorte, azar, acaso, acidente ou contingências. Eram os filisteus e não os israelitas que acreditavam que as coisas podiam acontecer ao acaso (veja 1Sm 6.9). Os israelitas, ao contrário dos pagãos, não acreditavam no acaso.
Para eles, Deus tinha traçado planos para os homens e as nações, e os mesmos iriam se cumprir inevitavelmente. Estes planos não poderiam ser frustrados por homem algum (Jó 42.2; Pv 19.21; Is 14.27; Is 43.13; Is 46.10b-11). Tais acontecimentos estavam tão inexoravelmente determinados que Deus dava conhecimento deles de antemão, através dos profetas. O fato de que os profetas de Israel eram capazes de predizer o futuro com exatidão era a prova de que o Deus de Israel era superior aos deuses pagãos (Is 46.9-10).
Os autores do Antigo Testamento sempre descrevem eventos que aconteceram aparentemente ao acaso como sendo o meio pelo qual Deus realizava seu propósito final. Assim, o arqueiro que atirou sua flecha “ao acaso” durante uma batalha acabou atingindo o rei de Israel e dessa forma cumpriu a profecia sobre sua morte (2Cr 18.33). A tempestade que atingiu o navio em que Jonas fugia para Társis não foi mera contingência, mas resultado da ação de Deus em levar o profeta a Nínive (Jn 1.4). O amalequita que vagueava “por acaso” nos montes de Gilboa foi o que encontrou Saul agonizante e o matou, cumprindo assim a determinação do Senhor de castigá-lo por ter consultado a pitonisa (2Sm 1.6-10; 1Cr 10.13). O encontro “casual” do profeta com um leão causou-lhe a morte e assim cumpriu a profecia contra ele (1Re 13.21-24). A visita casual que Acazias foi fazer a Jorão e o encontro fortuito com Jeú era tudo “a vontade de Deus” conforme o autor do livro das Crônicas, para que Acazias fosse morto (2Cr 22.7-9). Dezenas de outras passagens poderiam ser citadas para mostrar que na cosmovisão dos autores do Antigo Testamento nada acontecia por acaso, nem mesmo as pequenas coisas.
Até mesmo ações pecaminosas dos homens são atribuídas a Deus pelos autores do Antigo Testamento. O endurecimento do coração de Faraó para não deixar o povo de Israel sair é atribuído à Deus, que queria mostrar sua glória e seu poder sobre os deuses do Egito (Ex 7.3; 9.12). O endurecimento dos filhos de Eli para não se arrependerem do mal praticado é atribuído à Deus que os queria matar (1Sm 2.25). O endurecimento do rei Seom para não deixar Israel passar por sua terra é atribuído a Deus, que queria entregá-lo nas mãos de Israel (Dt 2.30), bem como o endurecimento de todas as nações cananitas (Js 11.20). Ao mesmo tempo, é preciso acrescentar, os israelitas não consideravam Deus como culpado do pecado humano. Ele era santo, justo, verdadeiro e não podia contemplar o mal (Hab 1.13). Todos estes mencionados acima foram responsabilizados por seus próprios pecados.
A visão de um mundo onde as coisas acontecem ao acaso, acidentalmente, sem propósito, é completamente estranha ao mundo dos israelitas conforme temos registrado na Bíblia.
Quando chegamos na pessoa de Jesus, encontramos exatamente a mesma visão de mundo, de Deus e da história, que é refletida no Antigo Testamento. Para Jesus, até mesmo coisas tão insignificantes como o número de cabelos da nossa cabeça (Mt 10.30) e a morte de pardais (Mt 10.29) estavam sob o controle da vontade de Deus. Ele era capaz de profetizar acontecimentos futuros tão triviais quanto o local onde se encontrava uma jumenta e seu jumentinho (Mt 21.2), que Pedro iria achar moedas na boca de um peixe (Mt 17.27) e que um homem estaria em determinado momento entrando na cidade com um cântaro na cabeça (Lc 22.10-12). Obviamente estas coisas não aconteceram por acaso.
Jesus se referiu à vontade de Deus e ao plano dele inúmeras vezes, como por exemplo, ao ensinar aos seus discípulos que tinha vindo ao mundo para morrer na cruz para salvar pecadores (Mt 17.22-23). As parábolas que Jesus contou sobre o futuro de Israel e sobre o dia do juízo deixavam pouca dúvida de que, para Ele, a história caminhava para um fim já traçado e determinado por Deus. No sermão escatológico Jesus predisse com exatidão a queda de Jerusalém, a fuga dos discípulos, o surgimento dos falsos profetas, as catástrofes, terremotos, secas, pestes e guerras que haveriam de suceder à raça humana e as perseguições que sobreviriam a seus discípulos antes de sua vinda (Mt 24).
Os discípulos de Jesus, os autores do Novo Testamento, tinham exatamente a mesma visão de um mundo onde nada ocorre por acaso. Tudo o que havia acontecido com Jesus, como o local do seu nascimento (Mt 2.5-6), sua ida ao Egito (Mt 2.15), sua vinda a Nazaré (Mt 2.23), seus milagres (Mt 8.16-17), sua traição (Jo 17.12), seu sofrimento e sua morte na cruz (At 3.18) – inclusive detalhes como beber vinagre (Jo 19.28-29), ter sua túnica rasgada (Jo 19.24) e seu corpo furado por uma lança (Jo 19.34-36) – tudo isto havia sido determinado por Deus em detalhes, a ponto de Deus ter revelado estes fatos cerca de seiscentos anos antes dos mesmos terem acontecido por meio dos profetas de Israel. Pensemos na probabilidade de atos, decisões e eventos acidentais, aleatórios, ao acaso, contingenciais, acontecerem de tal forma que estas coisas aconteceram exatamente como os profetas tinham dito!
Não só os fatos ocorridos com Jesus haviam sido planejados, inclusive aqueles que cercaram o nascimento da igreja cristã. A substituição de Judas (At 1.16-26), o dia de Pentecoste (At 2.14-17), a rejeição de Israel (At 13.40), a inclusão dos gentios na Igreja (At 15.15-20) – tudo aquilo havia sido determinado por Deus e previsto nas Escrituras pelos profetas. Veja a quantidade de vezes que no livro de Atos se menciona que a história de Cristo e da igreja haviam sido determinadas por Deus e anunciada pelos profetas: Atos 3.18,21-25; 10.43; 13.27,40; 18.28; 26.22.
Nas cartas que escreveram às igrejas, os autores do Novo Testamento jamais, em qualquer lugar, ensinaram os crentes que as coisas acontecem por acaso. Ao contrário, eles ensinaram os crentes que a conversão deles era resultado da vontade de Deus. Eles foram predestinados (Rm 8.29-30; Ef 1.5,11), escolhidos antes da fundação do mundo (Ef 1.4). Os crentes são ensinados a buscar a vontade de Deus, a se submeter a ela e a entender que a vontade de Deus controla a história (Rm 8.27; 12.2; Ef 6.6; Cl 4.12; 1Ts 4.3; 5.18; Hb 10.36; 1Pd 2.15). Até o sofrimento por causa do Evangelho era visto como sendo pela vontade de Deus (1Pd 3.17; 4.19). Eles foram ensinados a ver uma santa conspiração divina em tudo que acontece em favor do bem deles (Rm 8.28), a ponto de serem exortados a dar graças em tudo (1Ts 5.18). Eles são exortados a dizer sempre “se Deus quiser” farei isto ou aquilo (Tg 4.15). Paulo sempre dizia que “se for a vontade de Deus” ele iria a este ou aquele local (Rm 1.10; 15.32). Ele sempre começa suas cartas dizendo que foi chamado “pela vontade de Deus” para ser apóstolo (1Co 1.1; Ef 1.1; Cl 1.1; 2Tm 1.1).
Os cristãos são encorajados a enfrentar firmes as provações e tentações, pois Deus não permitirá que eles sejam provados além de suas forças (1Co 10.31). Eles devem sofrer com paciência em plena confiança que o Deus que está no controle de todas as coisas lhes dá a vida eterna e que ninguém poderá arrancar seus filhos de suas mãos. Eles são consolados com a certeza de que Deus haverá de cumprir todas as suas promessas, e que há um final feliz para todos os que confiam nele e crêem em Jesus Cristo como seu único e suficiente Salvador. Eles são exortados a permanecer firmes pois o bem haverá de triunfar sobre o mal, a justiça prevalecerá e a verdade haverá de vencer. E isto só é possível porque Deus está no controle, porque Ele conduz a história para o fim que Ele mesmo determinou, de uma maneira sábia e misteriosa, na qual os seres humanos e os anjos são responsáveis por seus atos, decidem fazer o que querem e tomam as escolhas que desejam.
À semelhança dos autores do Antigo Testamento, os escritores do Novo também atribuem a Deus o fato de que os ímpios e pecadores impenitentes se afundam cada vez mais no pecado. Paulo por três vezes em Romanos 1 declara que Deus entregou os incrédulos de sua geração à corrupção de seus próprios corações, para que eles se afundassem ainda mais no pecado e na iniqüidade (Rm 1.24,26,28). Aos tessalonicenses, ele declara que Deus manda a operação do erro para que os que rejeitam a verdade e creiam na mentira (2Ts 2.11). Igualmente, à semelhança do Antigo Testamento. O Novo responsabiliza os seres humanos por seus próprios pecados e condenação.
É evidente que não será na Bíblia que encontraremos esta visão de um mundo onde as coisas acontecem por mero acaso, onde tudo é casual e contingencial. Mas, vamos encontrá-la na mentalidade pagã, nas religiões idólatras, de deuses pequenos, impotentes, egoístas. Vamos encontrar esta visão de um mundo onde as coisas ocorrem de maneira aleatória nas idéias dos maniqueístas e gnósticos, ateus e agnósticos, especialmente os evolucionistas, que defendem que tudo surgiu e acontece como resultado de uma combinação fortuita de tempo e de acaso.
Os verdadeiros cristãos, todavia, cantam “acasos para mim não haverá”.
Se tudo acontece por acaso, que combinação inimaginável de ações livres, aleatórias e catástrofes naturais fortuitas poderão unir-se numa conspiração impessoal e totalmente ao acaso para produzir o final que Deus prometeu na Bíblia? Se Deus não é Deus, então o acaso se torna Deus e não temos qualquer garantia de que o final feliz prometido na Bíblia haverá de acontecer.
Não nos enganemos. A discussão entre acaso versus planejamento não é uma disputa teológica entre cristãos arminianos e calvinistas, pois os arminianos e os calvinistas concordam que Deus tem um plano, que ele controla a história, que não existe acaso e que Ele conhece o futuro. Ambos aceitam a Bíblia como Palavra de Deus e querem se guiar por ela. O confronto, na verdade, é entre duas visões de mundo completamente antagônicas, a visão pagã e a visão bíblica, entre as religiões pagãs e a religião bíblica. Posso não entender tudo sobre este assunto, mas prefiro mil vezes ficar ao lado dos autores da Bíblia do que ao lado de filósofos, teólogos e poetas ateus, agnósticos e racionalistas.
Como Deus nos protege?
Há um dia
13 comentários
comentáriosExcelente texto Reverendo!
ResponderE quanto ao argumento de que Deus narra (ou decreta) o futuro pelo fato de ser atemporal, e saber cada decisão humana com antecedência? Ou seja, sabendo de antemão cada atitude humana, Ele sabe o fim de cada coisa...
Excelente, vamos inundar o mundo pastor com essas verdades....nunca deixar de anuncia-las com a precisão que Deus te deu! Glória a Deus! Ele sabe tudo.
ResponderA Paz do Senhor Reverendo
ResponderHá muito tenho acompanhado seu trabalho, tenho aprendido muito e parabens pelo excelente trabalho, seu ensinamento tem se caracterizado pela verdade
Grato pelos estudos
ATT.
Fernando Silva
Ass. de Deus em Campinas
fp.silva2010@gmail.com
Olá querido Augustus.
ResponderSeu texto é bem simples e direto ao ponto. Muito bom!
Mas sempre que me deparo com explicações como a esposada pelo irmão, logo aparece a seguinte indagação em minha mente: Até onde vai o desígnio divino? De outra forma, as gotas de uma chuva ou a disposição dos grãos de arroz dentro de um prato, por exemplo, podem ser aplicados dessa forma também?
Sei que isso dá pano pra manga e não quero ficar colocando chifre em cabeça de cavalo, mas ficarei contente se puder dar o seu parecer.
Pode ser sucinto, sem problemas, rsrs.
Mauricio "Mac" Machado.
bibotalk.com.br
amilenismo.com
Muito bom. Eu dissequei esse tema de maneira mais profunda em meu Blog há algum tempo. Peço que você analise.
Responder"Livre Arbítrio, um Delírio" -> http://fundamentosdoevangelho.blogspot.com.br/2012/07/livre-arbitrio-um-delirio.html
Caro MAC
ResponderClaro que a manifestação do Reverendo será mais apreciada, todavia segue minha contribuição...
Se Deus não souber agora exatamente qual será a disposição dos grãos de arroz do meu prato ao meio dia de hoje, então será Ele onisciente?
Logo... Ele além dos cabelos da minha cabeça, cuja contagem deve ser diária, pois os perco diariamente, Ele também sabe exaustivamente tudo sobre as gotas da chuva que caÍram ou das que cairão.
Se não souber, então Ele não é onisciente.
Se ainda assim você não entender isto, provavelmente serás um arminiano ou quiçá um calvinista inconsistente.
Mas Deus tem homens tementes e sinceros em ambas as fileiras.
De minha parte sou determinista bíblico, alguns me "xingam" de hipercalvinista, mas é bem diferente e eu poderia explicar, mas você poderá ler aqui e acolá as diferenças.
Ou seja, pela minha ótica, Deus não é o autor do pecado do ponto de vista da ação (não foi Ele quem crucificou a Jesus), mas não tem como Ele não ser o autor do pecado do ponto de vista metafísico (Os ímpios fizeram exatamente o que Ele já tinha preterminado e crucificaram Jesus).
Abraço ao MAC e ao Reverendo.
PS: Uma partida de futebol também não é "imprevisível"... risos... Logo não adianta torcer... Mas melhor e mais recomendável é que se desfrute o espetáculo.
Mac - Maurício Machado,
ResponderNo youtube tem um vídeo interessante do rev. Augustus sobre Livre-arbítrio http://www.youtube.com/watch?v=RSRJV7g-aM4
Para ser mais preciso, dê uma avançadinha e vá para o minuto 44. Acho que vai ajudar um pouco.
Abçs
Cleiton Tenório
Prezado Reverendo Augustus, meu nome é Vagner Lira
ResponderAcompanho seu blog e esta é a primeira vez que lhe escrevo. Este artigo me chamou a atenção para uma reflexão simples que, de maneira didática, vou exemplificar com um dos mandamentos: NÃO MATARÁS.
DEUS determina claramente, não matarás. Mas vemos todos os dias diversos homicidas em toda parte. Então no contexto do artigo, DEUS determinou ao homem não matar e, não por acaso, ele planejou (acaso versus planejamento) que alguns homens matassem. DEUS fez a Lei e determinou o assassinato. Inconcebível!!! DEUS não é esse monstro. Como pode "Não matarás" como determinação divina e, ao mesmo tempo, está sobre controle de DEUS o homem assassinar. Deus nos deu o livre arbítrio para que possamos caminhar ao seu lado pela fé e obras (tiago e Apocalipse) ou ao lado do mal.
Oliveira,
ResponderObrigado pela sua explanação. Conheço bem pouco desses sistemas (Calvinismo, Arminianismo e derivados), porém peguei o seu ponto.
Não sei se vou usar os termos corretos aqui, mas, apenas para me fazer mais claro, entendo que Deus "pré-conhece" a disposição dos grãos de arroz no prato.
Agora, tendo em mente a fala do Rev. Augustus, mesmo um exemplo como esse é passível do desígnio Divino ou de uma pré-ordenação?
Pela sua fala, a resposta é sim, mas o Rev. Augustus, até onde eu sei, não é hipercalvinista, então...
Pergunto assim porque uma flecha ao ar, de uma perspectiva humana, é tão aleatório quanto arroz no prato. Todavia, o Rev. bem demonstrou no texto que a flecha foi um verdadeiro exemplo de "pré-ordenação".
Logo, seguindo essa lógica, o arroz também poderia certo?
Mas creio que o vídeo indicado pelo Cleiton me responde quanto a posição do Rev. Augustus sobre a questão do arroz.
Todavia, essa questão do arroz, da flecha, etc, não está na esfera da escolha humana, mas deixa pra lá... acho que o texto dos fios de cabelo também responde isso.
Preciso deixar claro que não tenho "fobia" quanto ao determinismo, hehe, ainda que eu mesmo não defenda um sistema em específico. Ainda estou na "estrada"... um dia me defino, eu espero.
Cleiton,
Obrigado pela indicação. Já tinha visto uma vez, mas foi bom rever, principalmente o ponto mencionado por você.
Inclusive o Rev. não precisa mais me responder.
Abraço a todos.
Caros Vagner e demais leitores/blogueiros,
Respondersempre achei estranho que considerassem tão natural, forte e clara a oposição determinismo x acaso. Assume-se isso, como se fosse simples, e parte-se daí para obter demonstrações bíblicas.
Quem sabe um pouco de física quântica, por exemplo, concordará facilmente que essa distinção de opostos não é tão simples, se é que é possível. E isso é mundo natural. Quem dirá metafísico, quem dirá Deus! O futebol também é um belo contra-exemplo, :)
Quanto ao comentário do Vagner, reforço com o que comentei na postagem sobre o furacão recente nos EUA: a ideia passada é que estamos sujeitos a consequências/castigos da parte de Deus (porque Ele é quem determina tudo) por algo que nos foi pré-determinado antes da nossa própria existência. Simples assim, claro como o dia.
Tudo isso no meio reformado é bem claro, natural, "preto-no-branco". Como sempre acontece com meus comentários, certamente Vagner e eu seremos acusados de ter uma mente "contaminada pelo liberalismo".
Eu retrucaria que, na verdade, só questiono o tratamento de Deus: tomado como objeto de uma ciência exata cujo método é a interpretação bíblica e permite defini-lo em todas as suas propriedades, como quem monta uma tabela periódica ou uma coleção de teoremas lógicos. Simples assim, claro como o dia.
Bem, não me dirijo a ninguém esperando resposta, lamento tomar mais uma vez o tempo do autor, mas gostaria da publicação desse comentário como uma forma de companhia ao Vagner e possíveis discordantes/incertos leitores.
Obrigado, abraços
Vinícius
Caro MAC
ResponderFica na Paz!
Pelo tempo que aqui venho bisbilhotar, percebo que és de Joinville como eu.
Logo se desejares poderemos continuar a prosa pessoalmente ou até por e-mail, o meu endereço é:
oliveira@monergismo.com
Não sei muito bem o que você quer dizer por "pré-conhecer", afinal você colocou entre aspas, logo podes ter um entendimento diverso, peculiar e particular sobre o que seja isto.
Mas... A pré-ciência ou o como chamas pré-conhecimento, também é um conceito refém da soberania de Deus.
Usado muito por irmãos arminianos, todavia ainda refém e já explico o porquê.
Antes é bom lembrar que o Rev. Augustus, pela minha ótica não é nenhum nem outro, se me permite o velho mestre este comentário, ele está entre os calvinistas moderados (não inconsistentes) que alega o famoso "não sei".
E por isto ele tem a minha admiração.
Ele afirma a soberania com paixão, e da mesma forma afirma a responsabilidade humana, mas quando colocado entre paredes ele diz "não sei".
Acho muito respeitável tal posição embora discorde dela suavemente.
Agora sobre pré-conhecer ser refém da soberania... Em apertada síntese seria a explicação abaixo:
- Se Deus já pré-conhece antes da fundação do mundo que eu iria iria escolher sorvete de baunilha em lugar de sorvete de morango hoje a tarde lá pelas 3 horas quando me dispor a tomar tal sorvete... Então de fato isto é pré-conhecimento, mas... Existe alguma possibilidade de eu fazer diferente do que Ele já sabe?
- Se eu fizer diferente e Ele for surpreendido, então Ele não é onisciente.
- Se eu fizer diferente e Ele já souber disto, que eu mudaria de atitude na última hora, então mesmo esta mudança Ele já saberia antes e depois que eu mudasse mil vezes de baunilha para morango etc... Ao final uma escolha ou não escolha eu teria que fazer e Ele saberia todas as mudanças e inclusive a última escolha ou não escolha.
- Mesmo num cenário de física quântica, Ele para ser onisciente tem que saber todas as "infinitas" possibilidades de resultado a partir de uma ação, inclusive o exato resultado quanticamente determinado após o ocorrido.
Enfim não há como escapar de Deus.
Pré-conhecer é enfim o "mesmo" (implica em) que pré-ordenar, pois ninguém fará diferente do que Ele já pré-conhece.
Depois deste passo, a tentação do diabo será enfraquecer a sua fé com a questão de Deus então ser o fomentador da história inclusive do MAL (guerras, estupros, assassinatos, etc...).
Para isto também a Escritura tem resposta.
Mas fica para no futuro por e-mail eu lhe responder, caso tenhas realmente necessidade de saber, e caso o diabo o tente a respeito.
Abraço!
Me escreva, será uma honra.
Ao Reverendo antecipo meus fotos de Feliz Natal e boas festas.
Oliveira,
ResponderMais uma vez, obrigado pela resposta e pela disposição em fazê-lo.
Vou te mandar um e-mail :)
No mais, feliz natal (o verdadeiro) a todos.
Mac.
Muito bom o texto. Se não for ofensivo, gostaria de expressar minha opinião.
ResponderLaplace, em seu ensaio filosófico sobre as probabilidades mostra um sonho: o de conhecer todo o rumo da história bastando conhecar as equações que regem o universo e as condições iniciais. De fato, o acaso não existe para quem tem este tipo de conhecimento em mãos. Isso é um motivo para que se possa afirmar que Deus tem o conhecimento que tudo o que pode acontecer, e um argumento mais valioso ainda para os calvinistas, porque se o rumo de qualquer fenômeno pode ser determinado pelas condições iniciais, tudo então foi determinado no fiat lux!
No auge da ciência moderna, alguns homens provaram que o âmago do universo é estocástico; isso é, não segue as comportadas equações da era newtoniana, mas totalmente aleatório. Quando observamos a aleatoriedade, enxergamos que existem padrões. Então a aleatoriedade não é tão rebelde assim. As distribuições de probabilidade mais comuns atestam isso. O que existe em comum entre o lançamento de moedas, o peso de recém-nascidos e a probabilidade de um elétron estar a uma determinada distância do núcleo atômico? Nada além do que a curva gaussiana. Se até o acaso segue padrões, e padrões tão bem conhecidos pelo estado-da-arte atual a ponto de utilizarmos em inúmeras aplicações práticas, o que chamamos de acaso nada mais é o que padrões que não podemos determinar, ou não podemos determinar em tempo finito. Mas o criador do universo, mesmo que ESCOLHA não determinar, no mínimo conhece, pois ele conhece os padrões do acaso que ele criou, e que fazem parte do universo. Da perspectiva calvinista, ele provavelmente controla os processos estocásticos do universo, e determinou tudo até o fim, como no sonho de Laplace. Da perspectiva arminiana, a única entidade que foge ao controle é a escolha, e é essa escolha, que determina o futuro de cada um, o centro de sua teologia. De qualquer forma, é claro que é impossível que Deus não controle a máquina que ele projetou!
Mas afirmar que o criador dos processos aleatórios do universo não conhece o resultado destes processos é semelhante a dizer que Ele pode criar uma pedra que não consegue levantar, um erro básico de filosofia a nível secundário.
"Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;
Porquanto, tendo [o homem] conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.
Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos."
Rm 1: 20-22