quinta-feira, outubro 24, 2013

Augustus Nicodemus Lopes

Afinal, casamento é de Deus ou apenas uma invenção humana?

Com a desvalorização do casamento em nossa cultura, junto com a relativização dos valores morais e a tendência contra tudo aquilo que é estabelecido, muitos cristãos nutrem esta ideia curiosa de que a Bíblia não ensina o casamento, o qual se resume num acordo mútuo de duas pessoas viverem juntas. Pronto, estão casadas diante de Deus.

Com isto, não é pequeno o número de evangélicos que têm uma vida sexual ativa com o namorado/namorada.

Alguns anos passados fiquei impressionado com uma estatística publicada por uma revista evangélica após entrevistas feitas com jovens evangélicos de 22 denominações. Estes jovens, a grande maioria composta de solteiros, haviam nascido em lar evangélico e eram freqüentadores regulares de igrejas. De acordo com a pesquisa, 52% deles já haviam tido sexo. Destes, cerca da metade mantinha uma vida sexual ativa com um ou mais parceiros. A idade média em que perderam a virgindade era de 14 anos para os rapazes e de 16 anos para as moças.

Essa reportagem foi publicada em setembro de 2002. Desconfio que os números são ainda mais estarrecedores se forem atualizados para 2012.

Não vou aqui gastar muito tempo defendendo o que, acredito, a maioria dos nossos leitores já sabe que é nossa posição: sexo é uma bênção a ser desfrutada somente no casamento. Namorados que praticam relações sexuais estão pecando contra a Palavra de Deus. Mesmo que não tenhamos um versículo que diga "é proibido o sexo pré-marital" (desnecessário à época em que a Bíblia foi escrita, visto que na cultura do antigo Oriente não existia namoro, noivado, ficar, etc.), é evidente que a visão bíblica do casamento é de uma instituição divina da qual o sexo é uma parte integrante e essencial.

Alguns textos que mostram que contrair matrimônio e casar era uma instituição oficial entre o povo de Deus, e o ambiente próprio para desfrutar o sexo:

"...nem contrairás matrimônio com os filhos dessas nações" (Dt 7.3).

"...Majorai de muito o dote de casamento e as dádivas, e darei o que me pedirdes; dai-me, porém, a jovem por esposa" (Gn 34.12).
"... e lhe dará uma jovem em casamento..." (Dn 11.17).

"... Respondeu-lhes Jesus: Podem, acaso, estar tristes os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles?" (Mt 9.15).

"... nos dias anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento" (Mt 24.38).

"... Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galiléia, achando-se ali a mãe de Jesus. Jesus também foi convidado, com os seus discípulos, para o casamento" (Jo 2.1-2).

"... Estás livre de mulher? Não procures casamento" (1Cor 7.27).

"... Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência, que proíbem o casamento..." (1Tim 4.1-3).

"... Se um homem casar com uma mulher, e, depois de coabitar com ela, a aborrecer, e lhe atribuir atos vergonhosos, e contra ela divulgar má fama, dizendo: Casei com esta mulher e me cheguei a ela, porém não a achei virgem..." (Dt 22.13-14)

"... qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério" (Mt 5.32).

"... Se essa é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar" (Mt 19.10).

"... Caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado" (1Cor 7.9).

"... Mas, se te casares, com isto não pecas; e também, se a virgem se casar, por isso não peca" (1Cor 7.28).

"... A mulher está ligada enquanto vive o marido; contudo, se falecer o marido, fica livre para casar com quem quiser, mas somente no Senhor" (1Cor 7.39).

"... ao que lhe respondeu a mulher: Não tenho marido. Replicou-lhe Jesus: Bem disseste, não tenho marido; porque cinco maridos já tiveste, e esse que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade" (Jo 4.17-18).

"... alguém (o presbítero e/ou pastor) que seja irrepreensível, marido de uma só mulher..." (Tito 1.6).

"... quanto ao que me escrevestes, é bom que o homem não toque em mulher; mas, por causa da impureza, cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio marido." (1Cor 7:1-2)

"... Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros" (Heb 13.4).

"... que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra, não com o desejo de lascívia, como os gentios que não conhecem a Deus; e que, nesta matéria, ninguém ofenda nem defraude a seu irmão; porque o Senhor, contra todas estas coisas, como antes vos avisamos e testificamos claramente, é o vingador, porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação" (1Tes 4.4-7).

As passagens acima (e haveriam muitas outras) mostram que casar, ter esposa, contrair matrimônio é o caminho prescrito por Deus para quem não quer ficar solteiro ou permanecer viúvo. O casamento era, sim, uma instituição oficial em meio ao povo de Deus. As relações sexuais fora do casamento nunca foram aceitas, quer em Israel, quer na Igreja Primitiva, a julgar pela quantidade de leis contra a fornicação e a impureza sexual e pelas leis e exemplos que fortalecem o casamento como instituição para o povo de Deus em todas as épocas.

O ônus de provar que namorados podem ter relações sexuais como uma coisa normal é dos libertinos. Posso me justificar biblicamente diante de Deus por viver com minha namorada como se ela fosse minha esposa, não sendo casados? Como eu lido com essa evidência massiva de que o casamento é a alternativa bíblica para quem não quer ficar solteiro ou viúvo?

O que existe na verdade é aquilo que Judas menciona em sua carta, sobre pessoas ímpias que transformam a graça de Deus em libertinagem (Judas 4). Os argumentos do tipo, "quem casou Adão e Eva" demonstram o grau de má vontade e a disposição do coração de continuar na prática da fornicação, mesmo diante da resposta: "O caso de Adão e Eva não é nosso paradigma, a não ser que você tenha sido feito diretamente do barro por Deus e sua namorada tenha sido tirada de sua costela. Se não foi, então você deve se sujeitar ao paradigma que Deus estabeleceu para toda a raça humana, para os descendentes de Adão e Eva, que é contrair matrimônio, casar-se, um compromisso público diante das autoridades civis".

Os demais argumentos - "é melhor que os namorados cristãos tenham sexo responsável entre si do que procurar prostitutas, etc." nem merecem resposta. O que falta realmente é domínio próprio, castidade, submissão à vontade de Deus, amor à santificação.

Chegamos ao ponto em que os rapazes e as moças cristãos têm vergonha de dizer, até mesmo em reuniões de mocidade e de adolescentes, que são virgens.

Tenho compaixão dos jovens e adolescentes de nossas igrejas. Mas sinto uma santa ira contra os libertinos, que pervertem a graça de Deus, pessoas ímpias, que desviam nossa juventude para este caminho. "A vingança pertence ao Senhor" (Rom 12.19).

Augustus Nicodemus Lopes

Postado por Augustus Nicodemus Lopes.

Sobre os autores:

Dr. Augustus Nicodemus (@augustuslopes) é atualmentepastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana doBrasil e presidente da Junta de Educação Teológica da IPB.

O Prof. Solano Portela prega e ensina na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, onde tem uma classe dominical, que aborda as doutrinas contidas na Confissão de Fé de Westminster.

O Dr. Mauro Meister (@mfmeister) iniciou a plantação daIgreja Presbiteriana da Barra Funda.

9 comentários

comentários
Jaime Alves.
AUTOR
24/10/13 20:32 delete

Amado Reverendo,

No ultimo post eu ao fazer um comentário referi-me a “consciência coletiva” o incrível é que esta consciência sofre uma terrível síndrome.

A síndrome o humanismo
A síndrome do relativismo
A síndrome do pragmatismo, e vai por aí a fora!...

Estamos sempre voltados para o nosso próprio interesse aonde as sagradas escrituras não são mais a base e quando a usamos a relativizamos adequando-a as nossas conveniências, e de forma pragmática justificamos de várias formas entre elas a que foi mencionado pelo amado reverendo.

O importante e que se faça sexo com amor indiferente de estar casado ou não, bom!

Eu digo que casamento é uma instituição criada por Deus, mas que o homem a tomou para si e na maioria das vezes converteu em divorcio.

Isto é quando chega a se casar!

Responder
avatar
Unknown
AUTOR
24/10/13 23:29 delete

Reverendo Augustus, mais um texto no qual, mesmo inconscientemente, o senhor me ajudou. Só tenho uma pergunta a ser feita. Quando o senhor diz assim: "Mesmo que não tenhamos um versículo que diga 'é proibido o sexo pré-marital' (desnecessário à época em que a Bíblia foi escrita, visto que na cultura do antigo Oriente não existia namoro, noivado, ficar, etc.)" não seria um equivoco dizer que naquele tempo não havia noivado? E quando Maria é interpelada pelo anjo, naquela ocasião ela não seria noiva de José? As festas que duravam 7 dias, de casamento (certo?), não eram precedidas de um compromisso em noivado?

Graça e Paz ao senhor que me abençoa tanto com seus escritos e sermões.
Abraços

Responder
avatar
Unknown
AUTOR
25/10/13 01:11 delete

Reverendo, acabei de fazer uma pergunta e me veio outrass dúvida e, se me permite perguntar, aqui vai: em que tipo de casamento o senhor acredita? Se a pessoa se unir apenas no Cartório, esse casamento seria "aceito" diante de Deus? Se sim, então qual valor da cerimônia religiosa? Se não, por quê? E como eram realizados os casamentos no período neo testamentário? Era no religioso e no civil ou só uma das duas formas já tinha "validade" na perspectiva bíblica?

Agradeço, novamente, pelo texto!
Graça e Paz do Senhor ao senhor...
Abraços

Responder
avatar
25/10/13 08:59 delete

acredito que o casamento será uma instituição eterna de Deus, porque desde o principio Deus uniu o homem a uma mulher e usa até mesmo o casamento como símbolo de sua união com a igreja tornando assim casamento uma palavra divina, o que acontece hoje é justamente o que você disse, as pessoas perderam o sentido bíblico ou simplesmente criaram outros sentidos para si próprias e vivem assim mesmo. Um erro dos nossos tempos é uma leitura do casamento segundo a perspectiva cultural da época e não segundo a nossa. Mas isso é assunto pra outro post!

Responder
avatar
Unknown
AUTOR
25/10/13 10:38 delete

já estava com saudade de seus post.

Responder
avatar
25/10/13 13:40 delete

Totalmente excelente!
Aproveitando o ensejo das perguntas do Rafael G., teço as seguintes considerações:
Sim, há francos registros de noivados no VT e no Evangelho.
E, mais importante, os Evangelhos e o NT apresentam a Cristo e a Igreja como noivos, isto é, prometidos.
E, ainda que a narrativa bíblica nos leve a uma compreensão precipitada de casamentos rápidos ou sem noivado, não se deve assim entender, tais como nos exemplos de Rebeca e Isaque, Davi com Mical, filha de Saul; de Otniel com Acsa, filha de Calebe, e de Sansão, etc.
O casamento sempre era precedido por um noivado, mesmo que este fosse de curta duração.
O noivado era sempre e é um compromisso assumido perante os familiares e perante o público, cuja promessa era de, em seguida, casarem-se.
O costume hebreu do noivado, assim como no oriente, é que o casamento seja tratado como contrato entre as famílias e os noivos, sendo que o noivo, caso não tivesse condições de se casar imediatamente ou com brevidade, teria um tempo para providenciar a casa e a forma de renda da família a ser constituída.
Ainda, após a cerimônia do Bar Mitzvah, o adolescente de 12/13 anos passava a ser considerado como adulto em seus atos, respondendo pelos mesmos, podendo, inclusive, contrair noivado, i.e., promessa de casamento.
Jesus também alude ao costume da época, ao citar a parábola da mulher que perde a dracma, pois, o colar e pingente constituídos pelo conjunto de dracmas era a apresentação pública de que a mulher era noiva e aguardava o noivo, e que deveria ser diligente em conservar o sinal exterior da promessa, do noivado.
Noivar-se é comprometer-se com a promessa do casamento. É desposar, é ser esposo(a) de alguém.
Há uma observação importante quanto aos tempos modernos, pois em razão da falsa vigilância do politicamente correto, as pessoas ignoram o português culto e outros desconhecem por completo o uso correto do termo esposo(a). Porém, já admitido pelos dicionários modernos como tal e como se usa atualmente pela sociedade.
Esposo(a) vem do latim "sponsalia" (Recíproca e solene promessa de casamento entre noivos)e também de "spondere" (promessa). Assim, esposo(a), na concepção original do termo, significa prometido(a) ao casamento, noivo(a).
Apesar de parecer menos educado ou cortês, o correto é dizer, se casados: "esta é minha mulher e este é meu marido", ao invés de: "esta é minha esposa e e este é meu esposo".
Casamento é o ato celebrado com solenidade conforme requer a lei, que se dá perante juiz ou alguém designado pelo mesmo, com registro em Cartório.
Casamento no religioso pode ter efeito civil, que depois é ratificado, arquivado em cartório.
Do contrário, há que se casar no civil (cartório) e, se quiser, depois, fazer uma cerimônia religiosa para celebração, congratulação e agradecimento a Deus.
Shalom, João.

Responder
avatar
Geziel
AUTOR
30/10/13 15:05 delete

Reverendo, obrigado por seu Post.
Há casos em minha igreja de pessoas que tratam o contrato ou certidão de união estável com o mesma validade do casamento propriamente dito. Qual a sua opinião a respeito? Você separaria para o presbitério de uma igreja um irmão que não é casado, mas vive há tempos com contrato de união estável?
Agradeço de antemão a sua atenção.

Responder
avatar
Thiago
AUTOR
31/10/13 11:25 delete

O próprio ato sexual é a união de carnes definida por Deus como casamento. O que as pessoas não entendem é que esse casamento deve ser oficializado aos olhos humanos na presença de testemunhas.

Responder
avatar
Gustavo
AUTOR
14/11/13 20:34 delete

Reverendo, a pergunta que deve ser feita é: Quantos de vocês pastores casaram-se virgens? poderiam dar um testemunho com a própria vida? a maioria de nós sabe que não! esse é o problema... os jovens pensam: um bando de velho que claramente curtiram a vida querendo 'pagar' de santos nos privando de 'curtir' também. Tomo minha vida como exemplo, com 21 anos fui convidado por um amigo a assistir um culto presbiteriano, ao término, entramos no assunto sobre sexualidade e descobrindo que eu era virgem, ele me parabenizou e disse que a maioria dos jovens da congregação não 'pensavam' assim, que achava 'legal' mas ele mesmo {risos}... [foi o que ele disse] e ainda me perguntou se eu não tinha problemas com isso, se os outros 'caras' não 'zuavam' comigo (insinuando sobre o homossexualismo), meu amigo tomou a frente e disse que não e que até mesmo ele se surpreendeu com a resposta (ele era novo convertido), no fim, voltei pra minha amada Igreja Batista fundamentalista de jovens virgens e 'frustados' e ainda ganhei toda a família do meu amigo, incluindo ele, de presente para minha denominação. Fui a outras igrejas presbiterianas e tbm vi a mesma coisa, pastores pregando sobre santidade e contando 'causos' sobre como eles aprontavam... 'mas vcs não devem fazer isso, entenderam?'. Cômico!

Responder
avatar