Morreu meu amigo, meu companheiro de juventude, o irmão de
sangue que eu não tive: Márcio Gueiros. Guerreiro, lutador, esposo fiel, pai
dedicado, avô derretido, sobretudo, crente firme em Nosso Senhor Jesus Cristo.
Crescemos juntos; ele, uns poucos anos mais velho do que eu.
Amizade forjada ao longo de vários anos em várias atividades da Igreja
Presbiteriana do Recife. Desfrutei também da amizade e companheirismo de todos
os seus muitos irmãos e irmãs e, especialmente, do apreço dos seus pais, hoje
igualmente morando com o Senhor. Naquele lar, cheio de vida e que exalava o
amor, na Rua Carneiro Vilela, 48, no bairro do Espinheiro, passei muitos fins
de semana agradáveis e fui regiamente alimentado em uma mesa que somente não
era maior do que o coração dos que estavam ao seu redor.
Todos os jovens daquela casa se destacavam em seus estudos e
Márcio era primeiro entre os primeiros, em suas classes. Escolheu a medicina e
fez um brilhante curso. Em uma era na qual os médicos eram poucos, muito
procurados e bem remunerados, poderia ter ficado rico rapidamente. Em vez disso
abraçou a carreira muito mais como um sacerdócio e uma missão – uma extensão de
sua fé.
Escolheu a pediatria. Cuidou de incontáveis crianças, entre elas todos os meus quatro filhos. Durante vários anos envolveu-se até o âmago no atendimento de crianças carentes no IMIP (originalmente, Instituto Materno-Infantil de Pernambuco). Ali superou dificuldades estruturais, mas, sobretudo, embalou sua competência médica e cirúrgica no amor que permeava suas palavras e atitudes. Sua sensibilidade cristã fazia com que enxergasse muito além das necessidades físicas dos pequeninos.
Lembro-me como me contou, certa vez, sobre criancinhas que ali chegavam chorando muito, mal nutridas e, principalmente, negligenciadas e carentes de amor. Ela chamava uma enfermeira “de grande porte” e, como parte da terapia, fazia com que ela as segurasse e as abraçasse por um bom tempo. E aí, ele abria seu sorriso largo e expansivo e exclamava: “É impressionante como elas se aquietam só com aquele toque, e como isso auxilia na recuperação”.
Profissionalmente avançou vários degraus e deixou exemplo a
ser seguido – mas sempre com intensa modéstia – quer como pesquisador de
laboratório de renome, docente da Universidade Federal de Pernambuco, ou em
suas atividades em órgãos públicos, ou em sua clínica particular.
Depois de um casamento abençoado com a Stela, juntos criaram uma linda família, que hoje honram o pai com suas vidas. Nessa família, emulou com perfeição o ambiente de amor respeito e temor a Deus, que havia observado e desfrutado de seus pais. O amor e a fidelidade presentes no seu lar sempre impressionaram a muitos e dão testemunho das misericórdias e da graça do Deus Soberano que são derramadas sobre os filhos dos filhos.
Mas o que mais me tocou, nos últimos 25 a 30 anos, quando
tive que me distanciar geograficamente da minha cidade natal, foi a
intensificação de nossa amizade e de seu cuidado para comigo e para com os meus
pais e familiares. Sempre mantivemos contato e cultivamos nossa aproximação
espiritual. Era uma amizade saboreada vagarosamente e com cuidado, por ser uma
iguaria rara. Na minha ausência forçada, a sua presença perene era um bálsamo
restaurador na vida dos meus pais.
Cuidou de mim e aconselhou-me em minhas
enfermidades; cuidou de parentes muito chegados meus, até ser chegada a hora
apontada por Deus; esteve presente, como um filho, nas horas de maiores
necessidades nas internações do meu pai. Aconselhou, receitou, se esmerou e,
acima de tudo, amou. E assim, todo nosso amor por ele e por sua família, nunca
chegará a uma fração do que ele representou para nós.
Partiu hoje. Deixa saudades: do seu
jeito simples de ser, do seu sorriso, de sua intensidade e convicções
profundas, do seu desprendimento, do seu exemplo. Conforta-nos saber que está
nos braços do seu SENHOR e SALVADOR, onde não há sofrimento, nem dor, nem
choro. Que Deus console a querida família, que consideramos nossa também.
Provérbios 17:17 - Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão.
Solano Portela
6 comentários
comentáriosMeu sentimentos.
ResponderEntão ouvi uma voz do céu, que dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, pois as suas obras os acompanham. Ap. 14.13
Caro Solano, conheci Marcio e Stela nos encontros de casais e de jovens com Cristo, por meio de suas palestras e testemunhos. Era impressionante a sinceridade da fé em Cristo e a simplicidade de vida. Solidarizo-me em sua dor e saudade, mas, por ser revestida de gratidão pela presença de Jesus na vida dele e, neste momento, em seu coração, certamente também é acompanhada da paz que excede todo o entendimento. Deus abençoe a família e aos amigos. Robinson
ResponderLindas palavras, tio Solano. Louvamos a Deus pela vida de tio Márcio e por Sua graça derramada na vida dele. Manuela Gueiros (filha de Neto e Zeza).
ResponderUm cristão como poucos. A Deus toda honra e glória. Que a família possa encontrar conforto neste belo e verdadeiro texto. O reconhecimento é a única forma de homenagem, nesta vida. Deus abençoe e conforte a todos e em especial, a Stela, sua companheira.
ResponderBelas palavras primo. Abraço!
ResponderConheci o Marcio em 1975 num acampamento da ABU em Paripueira e logo percebi a genuinidade, simplicidade e seriedade de sua fé. O pouco contato que tivemos na ABU foi suficiente para marcar e inspirar minha vida cristã e profissional.
ResponderMarcio cumpriu os preceitos do evangelho: era generoso e atencioso para com todos - e nunca julgador ou preconceituoso.
E agora desfruta do descanso eterno na presença do Senhor da Ressurreição e Vida.