Entrevista com Os Guinness
Dr. Os Guinness será o principal palestrante do III Congresso Internacional de Ética e Cidadania a se realizar dias 11-14 de setembro de 2007 nas dependências do Mackenzie, em São Paulo. Ele nasceu na China durante a 2ª. Guerra Mundial, quando seus pais estavam lá como missionários médicos. Cresceu e educou-se na China até que foram forçados pelos comunistas a deixar o país. Após isso, estudou com Francis Schaeffer no L’Abri e para muitos, tornou-se seu principal sucessor intelectual. Guinness estudou na Universidade de Londres e doutorou-se na Universidade de Oxford em ciências sociais. Tem dezenas de livros publicados sobre Cristianismo e temas atuais. Crítico da cultura ocidental, erudito defensor da fé cristã, Os Guinness concedeu uma entrevista por e-mail essa semana a respeito do Congresso no Mackenzie.
Augustus – A interação entre religião e cultura tem sido objeto de estudos e pesquisa já por séculos. No caso particular da fé cristã, que foi a força formadora de culturas inteiras, o assunto tem ganhado atenção especial, especialmente nas últimas décadas, quando os estudiosos se referem à cultura ocidental como pós-cristã e à Igreja Cristã como pós-ocidental, indicando que o período de influência do Cristianismo pode ter chegado ao fim. Qual é a sua opinião sobre isso?
Dr. Guinness – Certamente estamos vivendo às vésperas de um Ocidente pós-cristão e de uma Igreja Cristã pós-ocidental. Mas, se o primeiro caso é triste, o segundo é encorajador. A fé cristã, afinal de tudo, procede originalmente do Ocidente asiático, e alcançou primeiramente a África antes de chegar à Europa. Essa identificação com a civilização européia ocidental já durou tempo demais. Para os cristãos no Ocidente, todavia, o desafio é permanecerem fiéis ao Evangelho de uma maneira que possa prevalecer diante dos desafios da modernidade. O sul global é pré-moderno, portanto os grandes desafios da modernidade para as igrejas estão chegando em breve. Até agora, a modernidade tem feito mais estragos na Igreja Cristã do que todos os seus perseguidores históricos combinados. Poderemos ganhar de volta para Cristo o mundo moderno, sobrepujando a presente fraqueza da Igreja Cristã moderna, sem repetir os terríveis erros do passado? É esse o desafio para os cristãos do Ocidente, e o motivo deve ser o amor ao Evangelho, não amor ao Ocidente, à democracia e nem motivos racionalistas.
Augustus – O senhor é o principal palestrante do III Congresso Internacional de Ética e Cidadania do Mackenzie a acontecer em setembro de 2007. O ponto central desse Congresso é explorar a relação entre a fé cristã, modernidade e a cultura ocidental. Existe alguma relação significativa e relevante entre os três nos dias de hoje?
Dr. Guinness – O principal desafio apresentado pela modernidade à Igreja Cristã pode ser expresso na “tese do coveiro.” A fé cristã causou o surgimento do mundo moderno, que por sua vez minou a própria fé que lhe deu origem. Em outras palavras, as maneiras pelas quais a fé cristã tem abordado o mundo moderno têm contribuído para cavar sua própria sepultura. Ao mesmo tempo, sem o poder e a influência da Igreja Cristã, o mundo moderno tem experimentado crises repetidas para as quais não consegue resposta – tais como a oscilação entre as idéias do Iluminismo e as idéias do contra-Iluminismo, incluindo o fascismo. Em resumo, a modernidade despertou questões profundas para os seres humanos e para as sociedades humanas que somente o Evangelho pode responder.
Augustus – Uma de suas palestras no Congresso tratará do conceito de diversidade. Como podemos, como cristãos, viver com nossas profundas diferenças em uma era de pluralismo crescente, considerando que o Cristianismo reivindica ser a única religião verdadeira?
Dr. Guinness – O desafio de vivermos com “nossas mais profundas diferenças” é uma das maiores questões mundiais atualmente. O assunto deve ser encarado, primeiramente, com uma exposição das posições extremadas que existem, e em seguida, mostrando como o Evangelho aponta o caminho à frente, para uma visão de praça pública civil, que nos permite ser ao mesmo tempo fiéis e livres. Vivi os primeiros dez anos de minha vida na China. Já vi perseguições em muitas partes do mundo, e tenho estado envolvido em questões religiosas e públicas durante 25 anos nos Estados Unidos. Esse é um assunto que tem, portanto, um forte apelo sobre mim. Aguardo com expectativa a oportunidade de falar sobre isso no Congresso do Mackenzie.
Augustus – Em sua opinião, quais são os maiores desafios da globalização?
Dr. Guinness – Não há uma resposta rápida para essa questão. Tudo dependerá, naturalmente, de como definiremos “globalização”. Nesse Congresso pretendo defini-la de um jeito que ilumine a maneira como ela forma e influencia a vida de milhares de modos diferentes, desde nações, casamentos, freqüência à Igreja, a maneira como compreendemos a fé e nos relacionamos com pessoas de fé diferente. Em outras palavras, como muitos outros saltos quânticos na experiência da humanidade, como a invenção da roda, da escrita, do relógio e dos navios à vela, a globalização nos molda de muitos mais jeitos que as pessoas imaginam, e nosso desafio é compreendê-la para que possamos viver de maneira fiel a Deus e plenamente humana.
Augustus – O fato de que esse Congresso ocorrerá em uma Universidade levanta a questão da relação entre fé e ciência. De que modo os cristãos deveriam interagir com a idéia de que fé e ciência são duas coisas separadas e que não podem operar juntas?
Dr. Guinness – A ciência moderna nasceu de uma matriz que era decisivamente cristã e quase todos os grandes cientistas pioneiros foram pessoas de fé profunda, como Johannes Kepler, Isaac Newton e Robert Boyle. Portanto, o mito da “guerra entre a ciência e a religião” é somente isso mesmo – um mito e lendas propagadas por apologistas da secularização, que continuam a ser divulgados por cristãos ignorantes e medrosos. Existem certos pontos que precisam ser trabalhados, como a relação entre criação e evolução, mas não existe um confronto central e generalizado entre ciência e religião. Muitos cientistas eminentes são cristãos devotos e não vêem qualquer contradição entre as duas coisas.
Augustus – O senhor tem viajado pelo mundo falando em muitas universidades. Qual é, em sua opinião, o futuro do Cristianismo nas universidades?
Dr. Guinness – Eu acredito que precisamos tanto de universidades cristãs como de eruditos cristãos nas universidades seculares. Como a ciência, a universidade moderna é uma criação da fé cristã, como o moto da minha alma mater Oxford me lembra até hoje: “Dominus illuminatio me”. Pode-se até argumentar que a universidade moderna requer não somente um sistema intelectual de fé para as disciplinas individuais, mas um sistema integral, uma cosmovisão, que permita a unidade, sem a qual, a UNIversidade perderá seu centro e se balcanizará em campos disparatados, sem relação entre si e sem sentido. Portanto, os avanços recentes da erudição cristã são impressionantes e encorajadores. Em minha opinião, existe um futuro brilhante para a fé cristã e a universidade.
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O III Congresso Internacional de Ética e Cidadania do Mackenzie (11-14 de setembro de 2007) conta com muitos outros preletores conhecidos e é aberto ao público. Ele será realizado também, na mesma data, no Rio de Janeiro e em Brasília. Mais informações no link:
http://www3.mackenzie.com.br/congressos/etica/
Como Deus nos protege?
Há 3 horas
8 comentários
comentários"Poderemos ganhar de volta para Cristo o mundo moderno (...) o motivo deve ser o amor ao Evangelho, não amor ao Ocidente, à democracia e nem motivos racionalistas."
ResponderPerfeito! Guinness sabe o que diz, pois conhece a idolatria conservadora que substitui a pregação do Evangelho de Cristo pela defesa de valores ocidentais - que, por mais que sejam bons, jamais devem ser o foco primordial do cristão.
Essa entrevista nos colocou água na boca para o congresso. Boa coisa!
Até lá! ;-)
Dr. Augustus, que esse congresso possa ser edificante. Infelizmente não tenho como ir, pois moro em Caruaru, abraços.
ResponderCaro Augustus:
ResponderDe forma brilhante o Dr. Guinness definiu o nosso conflito: Afinal, estamos defendendo valores ocidentais ou a cosmovisão cristã?
Essa discussão é necessária porque, a meu ver, temos caído num reducionismo implícito e "ocidentalizado" em nossa defesa da cosmovis~~ao cristã.
Estarei, se Deus quiser, no Mackenzie, durante esses dias.
Um abraço.
Paz e graça amados,
Respondergostaria de convidar os amados autores deste tão conceituado blog cristão, a mobilizar-se quanto a divulgação divulgação de blogs deste nível.
Favor consultar altairgermano.blogspot.com e verificar o post intitulado BLOGOSFERA EVANGÉLICA.
Que o Senhor Jesus continue vos abençoando.
Amados,
Responderagradeço a publicação do comentário (na realidade um convite) sobre o enganjamento na divulgação de blogs cristãos.
Sobre o tema e o os eventos anunciados neste post, lamento apenas a não realização do mesmo aqui em Recife.
Ficamos na expectativa da "terrinha boa" ser lembrada e abençoada com eventos deste nível.
Um abraço!
Prezados Senhores,
ResponderTenho uma carta para enviar-lhes e preciso de um endereço de e-mail para faze-lo. Tentei encaminha-la via Norma, mas ela acha melhor que eu a envie diretamente a voces.
Aguardo, obrigado.
Prezado Senhor Rubinho Osório,
ResponderDesculpe a pergunta -- qual é o assunto?
Um abraço.
Caro Rev. Augustus, sou da Paraíba e infelizmente não poderei ir a este congresso. Gostaria de saber se esse congresso estará disponível em CD ou DVD. Se não, aí vai uma dica: Por favor, façam isso...
ResponderAbraços, obrigado.