terça-feira, maio 22, 2007
sábado, maio 19, 2007
O Retorno de Pé na Cova
Acredito que a difusão do velho liberalismo aqui em nossas terras se deve em primeiro lugar ao pentecostalismo, que providenciou a clientela para os cursos de teologia e ciências da religião moribundos e deficitários das denominações evangélicas históricas e das universidades públicas. Após terem crescido e conquistado o Brasil, pentecostais e neopentecostais resolveram estudar – e à semelhança de Israel no passado, que adorava os deuses dos povos conquistados por ele, foram buscar os mestres, os cursos e os livros das denominações evangélicas numericamente inexpressivas, sem se perguntar por que elas estavam se esvaziando no decorrer dos anos.
A possibilidade de reconhecimento pelo MEC dos cursos de teologia dos seminários maiores das denominações aumentou ainda mais a procura pelos estudos formais. Pastores e obreiros evangélicos passaram a ser instruídos por professores de teologia que nunca foram pastores de igrejas, nunca cuidaram de almas, e que não tinham o menor escrúpulo em acabar com a “fé inocente” dos que acreditavam em tudo que a Bíblia dizia.
Não sou contra a educação teológica – acho que nem precisava dizer isso, depois de ter obtido três graus na área de teologia, escrito mais de uma dezena de livros acadêmicos, ensinado em escolas de teologia e universidade e ter sido diretor de seminário e de uma escola de pós-graduação em teologia. Todavia, sou contra a propaganda enganosa feita pelos adeptos do método histórico-crítico de que o mesmo é científico; sou contra a premissa deles de que para realmente entendermos a Bíblia temos de nos livrar do pressuposto da fé; sou contra a representação falaciosa que fazem dos conservadores, como idiotas e burros sem capacidade intelectual; sou contra a zombaria e escárnio deles contra a doutrina da inspiração, infalibilidade e inerrância das Escrituras; sou contra a hipocrisia dos que não acreditam em nada e que aos domingos, para manter um emprego em uma igreja, pregam como se a Bíblia fosse a Palavra de Deus.
As coisas nem sempre acontecem da mesma forma em todos os lugares. Se acontecessem, não seria difícil profetizar quanto ao futuro do evangelicalismo brasileiro, a continuar como vai, e na direção que vai: a secularização das escolas de teologia e a morte de suas igrejas.
Todavia, tenho esperança, pois ao mesmo tempo em que o liberalismo teológico penetra profundamente nos maiores grupos evangélicos, cresce o interesse de outros desses grupos pela fé reformada. Nunca houve tanta demanda e tanta procura da parte dos evangélicos por livros, sermões, eventos e material reformado como hoje. A semeadura do trigo irá de alguma forma contrabalancear aquela do joio. Essa é a minha oração.
sexta-feira, maio 11, 2007
Sou Contra a Pílula! Reflexões Sobre Frei Galvão.
Entre os supostos feitos registrados do Frei Galvão: a construção do Mosteiro da Luz com as próprias mãos, o dom da bilocação (estar em dois lugares ao mesmo tempo) e diversos casos de cura. A causa destas curas? A pílula que inventou, para ministrar aos enfermos que o procuravam – um pedacinho de papel enrolado no qual estavam escritas algumas frases em latim.
Desde essa época para cá, as pílulas vêm sendo consumidas com avidez por pessoas doentes e a continuidade de “fabricação” e fornecimento das mesmas foi assegurada pelas freiras, no Mosteiro da Luz. Ultimamente, segundo reportagem da Folha, com o interesse despertado pela visita do papa, o consumo está na casa das 30 mil pílulas por dia. Uma freira ouvida pela reportagem garante que o “papel da pílula é finíssimo e ‘dissolve facilmente na água’. A tinta usada é também comestível”.
Essas garantias podem aplacar a fúria das autoridades sanitárias, que deveriam estar preocupadas com a considerável ingestão de papel e tinta, mas aguçaram minha curiosidade teológica para ver o que estaria escrito nos papelotes. Que mantra católico romano tão poderoso seria este, que realiza a cura dos consumidores?
Verifico que a pílula traz encapsulada a essência do dogma romano da intermediação de Maria – exatamente o ponto principal que, no entendimento dos evangélicos, vai contra a mediação singular e exclusiva de Cristo. O texto escrito no papel de cada pílula diz o seguinte, em latim: “Depois do parto, ó Virgem, permaneceste intacta! Mãe de Deus, intercedei por nós”!
Assim, além das objeções lógicas e gastronômicas, tenho fortes razões eclesiásticas e teológicas para ser contra a pílula e contra processos de canonização:
- Postular a virgindade perpétua de Maria é uma necessidade do catolicismo romano, para dar um caráter supra-humano a ela e por possuir uma visão distorcida da sexualidade. Durante séculos o envolvimento sexual, mesmo nos limites bíblicos do casamento, foi considerado pelos romanos como algo não necessariamente saudável, mas que contaminava o corpo – ser virgem seria pré-requisito à santidade (daí o dogma do celibato compulsório ao clero e às freiras). Tal informação não procede das Escrituras, que apresentam Maria como especial, abençoada e devotada, alvo do nascimento virginal de Cristo, mas como uma pessoa plenamente humana e comum, mãe de vários outros filhos como fruto do seu casamento com José. A primeira frase da pílula se ocupa disso.
- A segunda frase, claramente indica Maria como mediadora e se harmoniza com sua classificação como co-redentora da humanidade – posição sustentada pelos católicos romanos. Tal crença contradiz vários textos bíblicos, entre os quais 1 Timóteo 2.5 e 6: “Porque há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual se deu a si mesmo em resgate por todos...”.
- Por último, não encontro respaldo bíblico para a enormidade de santos que povoa o panteão da igreja católica – todos ali instalados por decretos e processos humanos. Esses, via de regras, tornam-se, igualmente, co-mediadores, alvo de adoração e de recepção das orações dos fiéis, quando o próprio Senhor Jesus nos ensina a dirigir nossas súplicas e orações a Deus (Mt 6.7-13) unicamente através de Sua pessoa (João 14.13). Ele é o nosso intercessor e advogado (1 João 2.1). Frei Galvão torna-se mais um desses santos intermediadores, trazendo um orgulho singelo, mas destituído de qualquer substância, ao nosso já sofrido e tão enganado povo brasileiro.
Observo, agora, a missa campal no Campo de Marte, em São Paulo. O papa acaba de dizer que “não há fruto da salvação que não tenha a intermediação da Virgem Maria”, comprovando exatamente a figura da mediação para Maria, quando ela é exclusiva de Cristo. Para nós, evangélicos, estas cenas, apesar de impressionantes, bem-montadas e até sinceras, devem trazer grande tristeza ao coração por estar enaltecendo um caminho que levará ao lugar onde o Pai não será encontrado. Jesus disse: “EU sou o CAMINHO, a VERDADE e a VIDA. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14.6).
terça-feira, maio 08, 2007
A bagagem de Bento, Beckwith e as contradições...
Alguns volumes da sua bagagem, entretanto, apresentam um conteúdo, para os protestantes, no mínimo conflitantes:
E Beckwith? Quem é ele? Provavelmente você ainda não ouviu falar do recente caso de ‘conversão’ de Francis J. Beckwith ao catolicismo romano. O fato passaria despercebido do público evangélico se este Beckwith não fosse o presidente da Evangelical Theological Society (ETS), a maior associação de acadêmicos evangélicos na América do Norte. O mais interessante no caso da conversão de Beckwith é o fato de que ele, conforme descreve no blog Right Reason, mesmo tendo mudado suas convicções e decidido afiliar-se à Igreja Romana, pretendia continuar como presidente da ETS até o final de seu mandato, em novembro deste ano (veja quem já foi presidente da ETS). A razão básica para esta decisão estaria no fato de que, na sua compreensão, a mudança de lealdade eclesiástica não o impediria de assinar a declaração de fé da ETS:
“Somente a Bíblia, e a Bíblia toda, é Palavra Escrita de Deus e é, portanto, inerrante em seus autógrafos. Deus é uma Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, cada um é uma pessoa não criada, uma em essência, iguais em poder e glória.”
Isto nos faz refletir sobre alguns pontos interessantes:
1. Uma declaração de fé tão sucinta não é suficiente base para se manter uma sociedade do porte e propósito da ETS, principalmente no que diz respeito aos diferenciais das convicções evangélicas. O fato é que vivemos num mundo religioso cada vez menos confessional e há uma tendência crescente ao linguajar vago e impreciso. Aparentemente, dentro do contexto atual, mesmo para um filósofo falante do calado de Beckwith, precisão não importa. A expressão “somente a Bíblia” (Sola Scriptura), de fato, pode significar muita coisa, inclusive a aceitação do “Magistério da Igreja” e toda a sua bagagem de tradição (aquela mesma do Bento) que leva à diminuição da intermediação singular de Cristo, dos postulados contra a idolatria e da exclusividade da justificação pela fé. Será que o real contraditório ficou tão difícil de enxergar?
A lição que aprendo diante da vinda de Bento e da ‘desconversão’ de Beckwith: quem esquece de ser somente co-beligerante para se tornar aliado em causas comuns corre o risco de ‘caminhar espiritualmente’ por trilhas que o Evangelho encontrado na Palavra de Deus desaprova e de buscar conforto em um caminho místico e aconchegante, mas alienado da verdade.