terça-feira, março 25, 2008

Solano Portela

Os teonomistas mordem? ou "Reconstrucionismo para leigos"

Vou colocar algumas informações sobre os teonomistas (Theonomists), também conhecidos como dominionistas (Dominonists), amplamente extraídas da memória, portanto, com possíveis lapsos e imperfeições e sem nenhuma pretensão de dar todos os ângulos sobre o movimento, ou sobre as pessoas que têm recebido esse rótulo.
Como indica o próprio nome, teonomia tem a ver com a lei de Deus. Mais especificamente com o papel da lei de Deus e sua aplicabilidade em todas as eras. Ainda mais restritamente, com o entendimento da abrangência da lei de Deus. Os chamados teonomistas dizem que as expressões da lei de Deus representam um modelo a ser emulado em qualquer época ou sociedade - não aceitando sem muitas qualificações a clássica divisão entre lei civil ou judicial; lei religiosa e cerimonial e lei moral. O movimento começou na década de sessenta, do século passado, nos Estados Unidos e destaco os seguintes pontos a relembrar e a ponderar:

1. O Guru do movimento foi o já falecido Rousas J. Rushdoony (1916-2001), brilhante teólogo reformado e apologista cristão, seguidor do pensamento do apologista e teólogo Cornelius Van Til, do Westminster Theological Seminary, especialmente na sua identificação como um "pressuposicionalista" (contrapondo-se aos "evidencialistas").

2. Possivelmente, o livro mais famoso dese teólogo foi o seu "Institutes of Biblical Law". Nesse livro ele faz uma exposição principalmente dos Dez Mandamentos, mas também de inúmeros pontos da legislação judicial mosaica, representando uma coletânea de ensaios ético-teológicos, sobre os diversos aspectos da lei de Deus, com considerações práticas na história e na vida contemporânea. Um dos pontos defendidos, no livro, é o da aplicabilidade da legislação civil a todas as sociedades, em todas as eras. Nesse sentido, a tarefa dos cristãos seria reconstruir uma sociedade formada à luz da lei de Deus, pela pregação do evangelho e por esforços de pressão e persuasão junto ao governo e legisladores. Daí serem chamados, também, de reconstrucionistas, além de teonomistas.

3. O movimento atraiu muitos reformados, principalmente dentro do campo presbiteriano (especialmente na Igreja Presbiteriana Ortodoxa - OPC, denominação de vários de seus proponentes, por vários anos). Também fez progresso no meio de vários Batistas Reformados; veio, entretanto, tomar uma forma mais teórica com a publicação de um livro do Greg L. Bahnsen em 1977, chamado: "Theonomy in Christian Ethics". Bahnsen, escritor eficaz e debatedor de primeira linha (dizem que os ateus temiam debatê-lo) lecionava no Reformed Theological Seminary e o livro ajudou a popularizar o movimento e a atrair, também, muita oposição.

4. O pós-milenismo veio a tornar-se uma das características do movimento, pois os que se identificavam com a linha viam a ação do cristianismo como fonte de uma sociedade futura justa e controlada por princípios emanados da Palavra. Rushdoony escreveu um livreto, que teve ampla circulação, defendendo esse pós-milenismo (que difere do pós-milenismo clássico - que via uma melhoria progressiva na raça humana; e do pós-milenismo puritânico - que via o milênio como o resultado de um reavivamento operado por Deus pela igreja), chamado: "Eschatology of Victory".

5. Logo muitos livros foram publicados e um peródico acadêmico ("Journal of Christian Reconstruction"), contendo vários artigos profundos sobre temas correlatos, era publicado duas vezes por ano. Os artigos produzidos e outras publicações emanadas do campo teonomista sempre tinham uma boa profundidade e grande dose de erudição, bem como a tentativa de fundamentação bíblica às idéias apresentadas. Um dos autores que mais escreveram, nessa linha, foi o Gary North (genro de Rushdoony). North, economista de formação - e não teólogo, espinafrou com competência as políticas inflacionárias dos governos. Um dos ótimos artigos publicados no "journal" já mencionado, teve o título: "Isaiah's Critique of Inflation", e baseava-se na condenação que Isaías faz dos que adulteravam a prata. North comparava isso ao abandono de um padrão monetário fiel e chama explicitamente de roubo. Hoje ele está muito mais dedicado a artigos econômicos do que a ensaios teológico-sociais, como antigamente.

6. Uma outra publicação que cresceu e se estabeleceu, foi a revista (no início, era apenas uma newsletter) chamada "Chalcedon Report", que existe até hoje, acredito. Na realidade, o movimento foi abrigado pela Chalcedon Foundation, cujas atividades foram bem além da publicação da revista: distribuía sermões e palestras gravadas (outro grande meio de divulgação, nos States), publicava livros e empregava, em tempo integral vários dos pensadores do movimento (site atual: http://www.chalcedon.edu/) .

7. Pelo que sei, patrocinaram uma faculdade e fizeram sua presença sentida em quase todos os seminários de linha reformada, desde a década de setenta até o presente, provocando grandes debates e alinhamentos entre alunos e, por vezes, envolvendo professores nas controvérsias. Na década de noventa atraíram para o quadro de articulistas o Rev. Steve Schlissel, grande pregador e escritor de Nova York, que foi expulso da Christian Reformed Church porque se insurgiu contra várias diluições doutrinárias naquela denominação, especialmente com relação à abertura progressiva dela ao homossexualismo. Ele produziu (produz?) inúmeros artigos interessantes, inclusive uma série de oito ou dez artigos sobre o princípio regulador no culto, no qual defende uma posição, com várias diferenças das normalmente apresentadas na tradição puritana, com muita competência e precisão.
8. Os teonomistas nem sempre foram caracterizados por graça na defesa apaixonada de suas posições. A linguagem era, por vezes, virulenta contra irmãos na fé. Na área de obediência às leis, defenderam, por muitas vezes e em muitas situações, uma postura de desobediência civil. Alguns radicais, do campo, chegaram a advocar a concretização da resistência ao governo "ímpio e corrupto", na forma de recusa no pagamento de impostos - principalmente o "de renda" (não fiquem tentados...). No cômputo final, terminaram por brigar consideravelmente entre si. Gary North brigou com o próprio sogro (Rushdoony) e continua escrevendo bastante, mas em rumo separado dos teonomistas.

9. O link que coloquei, acima, provavelmente é uma das melhores fontes do estado atual do movimento. Na minha avaliação, os teonomistas têm muito a nos ensinar, mas não posso embarcar na visão anacrônica e não bíblica da aplicabilidade da lei judicial ou civil de Israel aos dias de hoje (quiçá da cerimonial), nem na visão de uma sociedade controlada e transformada pela lei, em vez de "salgada" e "iluminada" pelo evangelho (e, assim, na providência divina, preservada até o tempo do julgamento de Deus). Gosto muito de Rushdoony e ele tem uma leitura interessante e elucidativa de vários aspectos da lei moral de Deus. Na área filosófica, um dos expoentes do reconstrucionismo foi o Dr. Gordon Clark [1902-1985] - mente brilhante, um dos meus favoritos (Um dos seus grandes livros é: "A Christian View of Man and Things").

10. No Brasil, algumas pessoas têm se interessado pela corrente, ou por alguns de seus expoentes. Se o teonomismo encontra dificuldades e resistência em uma terra que tem raizes (e ainda algumas nuances) cristãs, imagine em uma sociedade secularizada e dicotomizada (religião x sociedade civil) como a nossa! No rescaldo, vejo-me aprendendo uma coisa aqui e outra ali, dos tenomistas, enquanto exerço minha liberdade cristã de rejeitar vários dos fundamentos defendidos por eles. Não aceito "comprar o pacote completo", nem descartá-los como inconsequentes e não bíblicos em tudo. São, via de regra, gente séria e sincera, que tem muito a ensinar, principalmente no apreço pela Palavra de Deus e em encontrar uma forma de aplicação dos principios das Escrituras nas questões do dia a dia da vida. Uma nota curiosa, é que encontrei já vários segmentos neo-pentecostais que se alimentam da filosofia e das idéias dos reconstrucionistas (principalmente um determinado grupo, da Guatemala, liderado pelo pastor Harold Caballeros - da Igreja El Shaddai e do Movimento Apostólico). Aparentemente os ensinamentos dos teonomistas, de entrelaçamento com a sociedade civil e de conquista (reconstrução), encontraram eco em pontos tipicamente neo-pentecostais relacionados com batalha territorial, conquistas e respeitabilidade social, mesmo com a identificação que os reconstrucionistas fazem, de si próprios, como verdadeiros expositores e abraçadores da teologia da reforma.

Solano Portela

Solano Portela

Postado por Solano Portela.

Sobre os autores:

Dr. Augustus Nicodemus (@augustuslopes) é atualmentepastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana doBrasil e presidente da Junta de Educação Teológica da IPB.

O Prof. Solano Portela prega e ensina na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, onde tem uma classe dominical, que aborda as doutrinas contidas na Confissão de Fé de Westminster.

O Dr. Mauro Meister (@mfmeister) iniciou a plantação daIgreja Presbiteriana da Barra Funda.

51 comentários

comentários
25/3/08 13:37 delete

Nobre Solano, fazia tempo que não comentava no seu blog, depois que começei a fazer teologia aqui em recife no SPN. Mas quero dizer que o assunto é meio que novidade para mim, já tinha visto algo a respeito no site monergismo de um texto que tratava a questão penal de Servetus e a defesa de Calvino. Pois bem, fiquei esclarecido depois de ler seu post e também concordo com sua opnião: ´´(quiçá da cerimonial)``.
Mas também concordo que eles de fato ou muitos deles buscam uma ´´aplicabilidade`` do texto das Escrituras para os nossos dias.

Um forte Abraço para o sheriff contra o liberalismo.

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Ailsom
AUTOR
25/3/08 14:36 delete

Prezado,

A moda de "Israelisar" tudo hoje tem um pouco de teonomismo ?

Acho estranho esse negócio de tocar "shofar" no culto, de fazer festa de "tabernaculos", de só comer o que os judeus comem ...
Acho perigoso também o povo que defende o Estado de Israel hoje como se fossem "o povo escolhido" acima do bem e do mal.

Creio que com Jesus e com o Evangelho já passamos desta fase.

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25/3/08 16:20 delete

Creio que sou um teonomista tímido e insipiente.

Acho interessante essa idéia.

Se a lei de Deus é perfeita, por certo, encontraremos nela um padrão de justiça e santidade para toda a sociedade em todas as eras.

A paz
Tales

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25/3/08 23:21 delete

Prezado Solano,

Saudações fraternais!
Cumprimento-o pelo post por dois aspectos importantes:
- por trazer à discussão um tema muito relevante e necessário à agenda teológica brasileira, especialmente porque existe uma onda sólida de discussões da TL e do esquerdismo no meio evangélico brasileiro, que se colocam como o único aspecto de uma cosmovisão transformadora.
- segundo, por fazê-lo de maneira séria, responsável, o que lhe é uma característica pessoal inegável. Isso é certamente é o que desejo e espero que façamos em momento que creio seja muito oportuno para este tema. Acho que tanto no neocalvinismo holandês livre do viés esquerdista, como na séria descoberta dos teonomistas podemos encontrar a tão urgente relevância cristã para nosso Brasil de crise continuada e cada vez mais severa em todos os seus aspectos. Vou esperar aqui, ainda, o comentário do nosso amigo monergista, hehehehe

Um abraço fraterno,

Dilsilei

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25/3/08 23:59 delete

Caro Laurindo:
Que Deus o abençoe em seu curso. Obrigado pelo comentário!

Caro Ailsom;
A prática de "israelizar" tem muito mais a ver com os dispensacionalistas radicais do que com os teonomistas. Essa "israelização" tem sido pródiga entre os neo-pentecostais (Valnice Milhomens; na dupla bíspica da Renascer, etc.). Os teonomistas não "israelizam", mas vêm validade contemporânea na legislação civil de Israel.

Caro Tales:
Realmente a Lei de Deus é pefeita, mas temos que ter a compreensão que ela é tmabpem perfeita para os tempos e épocas aos quais os seus diversos aspectos foram planejados. A lei religiosa ou cerimnial do Antigo Testamento, por exemplo, com suas festividades litúrgicas e com os sacrifícios, APONTAVA para o Messias, Cristo. Não podemos, por considerá-la perfeita, querer aplicá-la em nossos dias, pois a própria Palavra de Deus indica que ela cumpriu sua função (hoje, olhamos retroativamene para o que Cristo fez, não para a promessa de sua primeira vinda). Por isso a Bíblia chama esses aspectos de "sombras". O AT tem que ser entendido sob esse prisma.

Abraços a todos,

Solano

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L. G. Freire
AUTOR
26/3/08 00:10 delete

Solano,

Entendo que o texto não é acadêmico nem nada, como foi dito no começo. Foi importante dizer isso, mas ainda assim gostaria de apontar algumas coisas que eu achei problemáticas.

1. Obrigado pela mente aberta a respeito da teonomia. É engraçado como o povo do Westminster Seminary (tirando o Moisés Silva, pontos pra ele!) não leu nada e foi logo criticando o grupo "rival" na época.

2. Mas mesmo assim gostaria de notar:

a) Lei cerimonial: o livro do Bahnsen e tantos outros mencionam claramente que toda a lei é válida hoje exceto a cerimonial. Seu comentário dá a entender, pelo menos quando eu li, que os reconstrucionistas querem a volta da lei cerimonial. Eles, na verdade se opõem veementemente isso. Para falar a verdade, observando o Schlissel, pode-se dizer que NÓS somos cerimoniais mais do que o que devemos ser, com nossos corais e outras tradições ligadas ao sacerdócio no AT. Sem contar a crítica ao dispensacionalismo, sistema que postula que o sistema cerimonial retornará.

b) Anacronismo: quando anacronismo foi mencionado, deu-me a impressão de que a crítica foi feita aos reconstrucionistas por serem anacrônicos ao argumentarem que a lei civil é válida hoje. Considere, primeiro, que isso é uma petição de princípio, se realmente for no tom de crítica ao reconstrucionismo. Porque o argumento do movimento é justamente o contrário. Então, não se pode partir do pressuposto que contradiz um argumento para contradizê-lo. Mas, deixando isso de lado, há um acordo que a lei deve ser aplicada, mas há uma "linha do tempo" na história. Quando Jesus corrige a aplicação equivocada da lei, por exemplo, há aí um ensino sobre o modo de aplicação que pode nos dizer algo sobre como aplicar HOJE a lei civil. Sobre isso, não há uniformidade no movimento, claro. Mas em tese é possível utilizar o princípio do perdão a prática, mantendo a lei civil. Obviamente demanda um estudo de casuística.

c) Clark era anti-reconstrucionista. Seus "alunos" permanecem críticos em relação ao movimento.

d) Melhoria da Cultura pela lei: Na verdade, o crescimento do evangelho transforma vidas. Mas a igreja tem a responsabilidade de ficar obediente, de parar de se retirar de todas as esferas, de assumir a responsabilidade e de parar com o derrotismo. Fazendo isso, a cultura automaticamente melhora. O instrumento de melhoria da cultura é o domínio da igreja, significando a expansão do evangelho, e a graça comum. Nunca a imposição pela lei no estilo "Direita" Americana e Evangelicalismo. O anti-estatismo do reconstrucionismo cristão é claro e cristalino e enfatizado em diversos livros, a começar por Rushdoony.

No mais, gostaria de parabenizar pela coragem em falar positivamente do reconstrucionismo em um país em que se acredita que a igreja vai perder a batalha.

E acrescentar que o North continua ativo, escreveu mais de 30 comentários econômicos sobre a bíblia. Basta continuar clicando no site que o sr. indicou. Os livros são de graça. E são bons, também.

Abraço

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26/3/08 00:16 delete

Caro Solano,

Parabéns pela apresentação sem preconceitos do teonomismo.

Só algumas considerações

1) Você disse: mas não posso embarcar na visão anacrônica... da lei judicial ou civil de Israel aos dias de hoje (quiçá da cerimonial), nem na visão de uma sociedade controlada e transformada pela lei.

a)Os teonomistas não são anacrônicos, pois não tentam misturar um período ao outro. Na verdade, eles são o oposto disso, a saber: tentam aplicar a lei de Deus hoje.

b) Teonomia não envolve lei cerimonial, de acordo com os principais expoentes do movimento.

c) Os teonomistas não propõem uma melhoria da cultura via imposição de lei. Eles enfatizam constantemente que o instrumento é o espalhamento do evangelho e a transformação de vidas. A melhoria da cultura decorre da decisão da igreja em escala global de ser obediente.

2) North continua ativo com seus mais de 30 comentários [econômicos] sobre a Bíblia, que aliás se encontram no mesmo site indicado. Basta dar uma procurada.

3) Concordo que Gordon Clark seja uma mente brilhante, mas creio que ele não pode ser listado entre os que defendem o teonomismo. Sendo ele o meu escritor favorito, bem que eu queria que ele fosse teonomista. Mas nem tudo é perfeito… além de não-teonomista, ele era pré-milenista histórico (pelo menos não era dispensacionalista!) hehe

Acredito que quem contribui na área filosófica (bem como bíblica e teológica) para o teonomismo foi Greg Bahnsen mesmo. (vide os livros Theonomy in Christian Ethics, By This Standard: The Authority Of God's Law Today, No Other Standard: Theonomy and Its Critics, Five Views on Law and Gospel, God and Politics: Four Views on the Reformation of Civil Government, Theonomy: An Informed Response)

Um abraço,
Felipe Sabino

Dois links recomendados:

http://www.monergismo.com/textos/lei_evangelho/o-que-teonomia_banhsen.pdf

http://www.monergismo.com/textos/lei_evangelho/o-que-teonomia_gary.pdf

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26/3/08 00:16 delete

Caro Dilsilei:

Grato pelos cumprimentos. Meu sogro foi um grande admirador de Rushdoony. Ele (meu sogro) era um holandês que migrou para o Canadá depois da Segunda Guerra. Agricultor-teólogo, grande conhecedor da Bíblia, firmado na fé e em suas convicções através dos livros de Kuyper, Groen van Prinsterer e muitos outros.

Acho que fui eu que apresentei a ele, pela primeira vez, os pensamentos e escritos de Rushdoony. Depois ele encontrou outras pessoas que também se interessavam por Rushdoony e passou a ouví-lo em programas de rádio (ele ouvia bastante o rádio e fitas gravadas, numa tentativa de suprir uma doutrina mais sólida que a sua igreja, na ocasião, não lhe dava).

Assim, comartilhamos essa admiração pelo raciocínio de Rushdoony, apesar de não concordarmos com todo o seu raciocínio, e de nem nos sentirmos obrigados a adotarmos todas as suas conclusões. Ele nos fazia repensar muitos conceitos e valorizar a nossa fé.

Meu sogro (Gilbert) foi assinante do Chalcedon Report até a sua morte (em 2002). Quando eu o visitava, junto com Chris (meu cunhado americano, primeiramente, seminarista, depois pastor e professor de seminário) sempre gostávamos de ler suas revistas, livros e discutir o conteúdo com ele nas nossas visitas ao Canadá.

Quando estava me preparando para voltar ao Brasil em 1974, tendo terminado meus estudos nos EEUU, escrevi uma carta para Rushdoony demonstrando apreciação por seu trabalho e compartilhando alguns dos meus sonhos e planos e pedindo permissão para tradução de um livreto seu.

Para minha grande surpresa, ele me respondeu numa carta escrita à mão, com palavras encorajadoras e com alguns conselhos bem práticos, entre eles a recomendação de fugir dos empréstimos. Esta carta me alegrou muito e o engrandeceu ainda mais nos meus olhos.

Entretanto, me fez ciente, também, que a prática financeira ensinada numa economia estável não poderia ser igual àquela praticada em uma economia inflacionária (naquela época, a inflação diária brasileira era maior do que a anual americana!). Assim, era preciso extrair e seguir os princípios das Escrituras (honestidade, frugalidade, cuidado com os juros) na situação específica do nosso país, sem legislar a prática....

A cada dia, como cristãos, devemos ir aprendendo a aprender. Aprendendo a não sermos precipitados em julgamento (na aceitação e na rejeição). Aprendendo a identificar as coisas boas que outros cristãos podem contribuir. Aprendendo a reconhecer 9e a nos maravilhar) com o desenrolar do plano de Deus, na história e em nossas vidas. Aprendendo a analisar, à luz da Palavra. Aprendendo a aplicar as Escrituras contemporâneamente, sem desprezar a história e o que outros construiram antes de nós.

Um abraço,

Solano

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26/3/08 01:01 delete

Caros Freire e Felipe (dá uma dupla caipira...):

NOOOOSSSAAA! Quantos teonomistas saindo do armário!!! Vou precisar colocar mais cadeiras na sala de visitas!! E que semelhança, na defesa (e ainda nem ataquei...) - vocês estão afiando as baterias há tempo!!

Vamos lá:
1. Realmente o texto não é acadêmico e foi muito de memória, mas eu não diria que ele não é "nada" - está até suscitando um debatezinho...

2. A mente aberta, continuará, espero!

3. Lei Cerimonial - eu não falei que os teonomistas abraçavam a lei cerimonial - vocês concluiram isso, do que eu escrevi, mas eu não disse. O que eu coloquei é que eu não embarco na aceitação da lei civil e judicial para os nossos dias (extração de princípios, sim; estudo para verificar o propósito na ocasião e procurar uma validação ou contrapartida contemporânea, sim); E MUITO MENOS DA LEI CERIMONIAL. Ou seja, para mim, normativamente, as duas são temporais (escrevo mais sobre isso no meu livro "A Lei de Deus Hoje"). Para os tenomistas um aspecto é, o outro não (será que não uma ponta de incoerência, aqui?).

4. Anacronismo: o termo diz respeito a virar a cronologia de ponta cabeça ou de provocar uma disfunção cronológica, quando há uma correspondência ou validade relacionada com o tempo, na aplicabilidade e um conceito ou regra. Então é tudo uma questão de pressuposição e conceito. Se a pressuposição do teonomista é de que a lei civil não tem qualquer aspecto temporal; não tem restrição cronológica; não tem qualquer singularidade quanto a uma ocorrência teocrática - então eles não estão sendo anacrônicos procurando aplicá-la nos nossos dias. Se, por outro lado, a lei civil e judicial é tudo isso (como entendo que o todo da Revelação nos ensina): projetada para um povo específico; em uma situação teocrática; a uma condição onde uma identidade nacional necessitava ser preservada para que aquele povo fosse "guardião dos oráculos de Deus". Então as tentativas de aplicá-la "in totum" ou até parcialmente nos nossos dias, é uma iniciativa anacrônica. É melhor ficar, nesse sentido, com meus objetivos de compreender os princípios e circunstâncias que nortearam a criação daquelas leis (incuindo crimes e punições) e procurar emular esses princípios - que são divinos - na legislação civil e penal das nossas sociedades. Desenvolvo esse ponto e entendimento no meu livreto: "A Pena Capital e a Lei de Deus".

5. Gordon Clark - Ele não é formulador detalhado de teonomia, mas é espinha dorsal filosófico e guru intelectual (sem o viés histórico e teológico do Rushdoony) de muitos teonomistas. O problema, aqui, é que entramos em muitos detalhes (existem, pelo menos, três tipos de teonomistas, inclusive teonomistas que não são reconstrucionistas) - como eu disse, vários terminam brigando entre si. Gordon Clark escreveu muito durante anos no "Trinity Review" - publicação teonomista, mas não reconstrucionista. Fica complicado, não acham? Tudo bem, vamos remover o reconstrucionismo do Clark, mas negar teonomia ao bom velhinho? Não façam isso - ele vai revirar na cova!!!

Enfim, brincadeiras à parte - já aprendi MUITO com os teonomistas e não quero pichá-los (nem defendê-los sem qualificações). Apenas quero preservar a liberdade de ser seletivo na minha análise e aceitação do que eu considero bíblico, em princípio, e aplicável às nossas situações, com a responsabilidade de aferição que Deus nos deu, a cada um.

Um abraço fraterno,

Solano

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26/3/08 01:31 delete

Um outro comentário:

Para aqueles que discordam do Teonomismo, a pergunta é a seguinte:

Como devemos determinar o que é correto e o que é errado?

Os cristãos, pelo menos os ortodoxos, concordam que a Bíblia é o nosso guia, o nosso padrão nas questões de ética pessoal, família, igreja, etc. O que mais ouvimos é “a Bíblia é a nossa regra de fé e prática”. Mas e na área da política, governo e justiça, qual deve ser o nosso padrão?

Se não for a Bíblia, o que será? O “senso comum” (que não tem nada de comum!)? A “razão humana”, à parte da revelação/instrução de Deus?

Ora, é justamente aqui que reside o cerne do debate. Os teonomistas defendem que a Bíblia é um padrão para TUDO da vida, e não somente para os supostos assuntos “espirituais”.

Como Bahnsen disse, “Deus espera que nos submetamos a toda sua Palavra, e não que escolhamos apenas aquilo que esteja de acordo com nossas opiniões pré-concebidas”. (vide http://www.monergismo.com/textos/lei_evangelho/toda-biblia-padrao_banhsen.pdf)

A verdade é que, em minha opinião, muitos daqueles que CRITICAM o Teonomismo, estão em contradição, pois ao tomarem decisões fora do âmbito da igreja, eles TAMBÉM procuram fazer uma aplicação da Palavra de Deus, se realmente forem cristãos tementes a Deus. Assim, o máximo que eles poderiam fazer é criticar COMO determinados teonomistas aplicam a lei de Deus, e não o fato em si de aplicá-la a TUDO da nossa vida.

Um abraço,
Felipe Sabino

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Jogador
AUTOR
26/3/08 04:55 delete

O problema é que mesmo aceitando que a igreja deveria adotar as leis civis e práticas jurídicas da lei de Israel (não aceito, mas imaginemos que aceitasse), resta a pergunta: o que dizer à polícia quando apedrejarmos nosso primeiro homossexual? Ou destruírmos o santuário idólatra na rua de baixo?

Adotar a lei civil do A.T. significa adotar os castigos e punimentos da lei do A.T.? Porque se adotarmos apedrejamento, vamos contra Jesus. Se rejeitarmos por objeções religiosas, rejeitamos a lei por inteiro. Dizer que assassinato é crime, mas que o crime não tem punimento ou consequências, significa dizer em essência que o assassinato é permitido, que a lei existe apenas em nome e não em prática. Se devemos adotar a lei, como adotar os punimentos prescritos na lei?

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L. G. Freire
AUTOR
26/3/08 15:22 delete

Solano,

Agora entendi o comentário sobre a lei cerimonial como algo geral, mas note que isso é atribuído ao reconstrucionismo por alguns de seus críticos e que o parágrafo soa como se fizesse isso.

Infelizmente a maioria dos crentes aí no Brasil só têm uma leitura de segunda mão porque não existem traduções. Quando eles se deparam com uma exposição de algum posicionamento, passam a confiar naquilo. Por isso é importante identificar qualquer ambiguidade. Não quis ser chato nem nada.

Aliás, "nem nada" é só um jeito de falar na minha região. Corresponde às famigeradas reticências. Ou seja, significa nada (agora nada é nada mesmo hehe). Não quis dizer que o texto era "nada" nem nada.

Sobre o Clark, eu concordo. Naquele panfleto sobre o conteúdo da fé dos presbiterianos, o Clark menciona exatamente o princípio teonomista de "filtro" para quais leis são válidas. Mas, na prática, o Clark prestou um desserviço ao posicionamento por causa da espiral de discussão irrelevante entre ele e seus seguidores, e os vantilianos, por questões pessoais (pelo menos depois da questão principal do presbitério da OPC).

Além do mais, no pensamento de Clark, colocar teonomia em prática é auto-destrutivo, dado o seu pessimismo escatológico. Aliás, isso é um ponto contra o Schaeffer também.

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Jogador,

Seu comentário de que Jesus teria anulado as leis do AT pode ser considerado (1) corroborador, e não, crítico, em relação ao reconstrucionismo, visto que a teonomia afirma que as leis claramente ou implicitamente anuladas ou cumpridas por Jesus não se aplicam hoje; ou (2) crítico em relação à teonomia.

No segundo caso, você defende (2a) ou que Jesus veio para revogar toda a lei, o que Ele próprio contradiz verbalmente no evangelho ou (2b) para revogar algumas leis, o que o remete de volta, em tese, para a posição de que as leis que Jesus ou o NT anularam / encerraram não são válidas hoje.

Isso o leva, necessariamente, à necessidade de continuar levando a teonomia em consideração, visto que, tirando o caso (2a), que por sinal é o posicionamento de muitos evangélicos, mas nunca um posicionamento reformado, o argumento fornecido não serve para descarte da teonomia. No caso (2b) você ainda pode manter todo o arcabouço reconstrucionista e ainda assim argumentar que eles se equivocam em casos específicos, ou em pequenas aplicações de princípios com os quais você concorda.

Abs

Responder
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26/3/08 18:57 delete

Caro Jogador,

Você não entendeu a posição teonomista. Embora tentarei responder a sua pergunta, sugiro que leia os artigos indicados nos meus posts anteriores, e, se puder, leia o livro da Editora Vida sobre "Lei e Evangelho: Coleção Debates Teológicos"*, no qual a apresentação e defesa do teonomismo é feita por Greg Bahnsen.

Com certeza os castigos e punições do Antigo Testamento que não foram revogados no Novo Testamento, devem ser aplicados em nossos dias, mas isso não responde QUEM deve aplicá-los.

O princípio moral defendido pelos teonomistas é que ninguém tem o direito de tirar a vida (assassinato), liberdade (seqüestro) ou propriedade (roubo) de outra pessoa, à parte de autorização divina. Deus deu essa autorização bem como os termos específicos sob os quais ela deve ser usada ao magistrado civil, que é o ÚNICO que pode executar, prender ou punir as pessoas.

Os cidadãos comuns ou os líderes de comunidades religiosas não possuem direito de julgar as pessoas dessa forma particular. E o magistrado civil não tem o direito de se distanciar dessas diretrizes, nem adicionar algo a elas sob a sua própria autoridade.

Você pode encontrar uma explicação similar, mesmo de teólogos não-teonomistas (como os donos desse blog), para o caso da pena de morte, que não deve ser executada por toda e qualquer pessoa.

No teonomismo aprendemos, de acordo com as Escrituras, creio eu, que (1) o governo civil é limitado, pois deve cumprir somente o que Deus autorizou, que (2) a igreja é uma instituição separada, pois não recebeu autorização para fazer o que o magistrado civil faz, e que (3) o mercado é basicamente livre, pois o Estado, nem outros indivíduos receberam autorização para interferir na propriedade privada, exceto nas formas como Deus o permitiu.

Um abraço,
Felipe Sabino

* O livro poder ser comprado aqui: http://www.edificai.com.br/detalhe.asp?Codigo=484&from=Monergismo

Responder
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Jogador
AUTOR
26/3/08 21:18 delete

Felipe, L.G.,

A pergunta começou como uma provocação, mas também como uma curiosidade. A idéia me parece interessante, mas ao mesmo tempo não inteiramente certa; mas realmente preciso pesquisar mais a respeito. Vou me informar mais sobre o assunto.

Um abraço!

Responder
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Norma
AUTOR
27/3/08 12:11 delete

Esse post só mostra que tenho muito a aprender! Obrigada, Solano, pelas portas entreabertas! ;-)

Responder
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L. G. Freire
AUTOR
27/3/08 13:18 delete

Oi jogador,

Acho que você faz bem em buscar mais informação. Infelizmente há pouco material traduzido, mas acho que você encontrará alguma coisa no site www.monergismo.com

Abraço

Responder
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Anônimo
AUTOR
27/3/08 13:21 delete

Srs., o cenário teológico (prático) no nosso país, já está bastante conturbado. Sugiro deixar-mos de lado as posições e argumentações teonomistas. O povo brasileiro já tão místico e tão tendencioso ao ritualismo que daqui a pouco, o que vai sobrar dessas argumentações e posições, é o "tocar o shofar", vestir as "estolas sacerdotais" ... e chegando até aí, porque não reproduzir os sacrifícios "mantando um boizinho" ... não, não e não ... Não haveriam pedras suficientes para se "apedrejar os(as) dulteros (as))... rsrsrsr

Aqui sim, cade um texto sem contexto: "AS coisas velhas se passaram, eis que tudo se fez novo" ... k k k k k k k

Solano, excelentes as suas vagas lembranças sobre este assunto!

Abç´s.
Gilberto Guimarães.

Responder
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27/3/08 14:17 delete

Por que não aplicar as leis civis e penais contidas na Bíblia? Quais não devem ser aplicadas? Por que? Qual é o fundamento bíblico?

Não estaríamos desejando ser politicamente corretos ao não aplicar as leis contra o homossexualismo (pena de morte), por exemplo?

Estudano um pouco de teologia bíblica no Mackenzie, e vendo a antítese entre a semente de Deus e a semente de Satanás, vejo claramente a constante oposição entre as leis de Deus e as leis do mundo, cujo príncipe é Satanás.

A paz
Tales
P.S: Mestre Solano POrtela, o Sr. poderia me enviar links ou textos sobre isso. Achei interessante o assunto, e gostaria de desenvolvê-lo numa futura tese de mestrado em AT.

Responder
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L. G. Freire
AUTOR
27/3/08 16:27 delete

Gilberto,

Entendo a preocupação, mas o ponto não é tão superficial assim. Aliás, tenho que repetir que para os teonomistas as leis cerimoniais NÃO se aplicam.

O ponto é muito mais reconhecer que a bíblia é relevante em TODAS as esferas da vida. A maioria dos evangélicos faz o que você diz e reduz tudo a uma série de regrinhas. O ponto da teonomia é, assim como a Bíblia diz o que a cultura é e o que ela deve ser, o que a ciência tem sido e o que ela deve ser, o que a religião é e o que ela deve ser, também, a Bíblia diz o que as leis são e como elas devem ser em uma sociedade que queira ser bíblica.

----

Tales,

As obras do Rushdoony são um bom ponto de partida, mas não deixe de dar uma olhada nos escritos do Greg Bahnsen também.

Como leitura secundária (e mais geral), seria interessante dar uma olhada em Francis Schaeffer, Kuyper, Van Til, Schilder, Hooykaas.

Alguns textos específicos muito interessantes para o assunto são: "Sobre a Autoridade Civil", uma seleção de Lutero e Calvino, editada pela Martins Fontes; e "Was Calvin a Theonomist?" de Gary North.

Abraço

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Anônimo
AUTOR
27/3/08 19:06 delete

LINDO!
MAGNÍFICO!

Tive o prazer de andar ao redor de uma mesa, em Genebra, onde os antigos, João Calvino e seus "amigos", debatiam suas idéias e o que se nota após algum tempo é que o debate de grandes homens de Deus nos trazem ainda mais clareza na compreensão do evangelho.

Bendito sejam todos vocês que se arriscam e engrandecem o debate de temas tão antigos, tão atuais, tão complexos!

É, sem dúvida nenhuma, uma benção poder ler cada comentário, cada linha. Continuem! Homens de Deus, mas nesta busca não se esqueçam de pontos onde não se carece debate:

ORAÇAO - leitura da Bíblia - JESUS
(DEUS NOS ESCLARECERÁ!)

Teonoquê mesmo hein!?!
Deus tenha misericórdia de mim.

Humilde em Cristo,
Carlos Henrique.

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27/3/08 19:52 delete

Acabei esquecendo de fazer propaganda gratuita do meu blog sobre Teonomia:

http://teonomia-biblica.blogspot.com/

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Oliveira
AUTOR
28/3/08 14:39 delete

Caros Sabino e/ou Freire

Qual é a explicação existente para o texto abaixo, pela ótica teonomista, mais precisamente a expressão “... aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças...”:

Efésios
2 - 11 Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamados incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas,

2 - 12 naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo.

2 - 13 Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo.

2 - 14 Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade,

2 - 15 aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz,

2 - 16 e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade.

Eu vou ler os textos sugeridos, mas apenas como consulta rápida, é que estava lendo outra sugestão preterista de leitura e deparei com este texto combatendo a visão pré-milenista e fiquei pensando... como eles harmonizam teonomismo com abolição?

Grato pela explicação, fico no aguardo

Um abraço

Responder
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28/3/08 20:51 delete

Caro Oliveira,

Vemos claramente que o trecho citado por você fala sobre o relacionamento entre judeus e gentios.

No versículo que você destacou, lemos que Cristo aboliu uma lei que separava judeus de gentios. Qual lei era essa? A lei moral? De forma alguma, pois a lei moral não faz distinção entre esses dois grupos (todos os homens são obrigados a cumprir a lei moral, e são condenados por ela, a despeito de nacionalidade).

Mas é a lei cerimonial que fazia distinção entre judeus e gentios, e a parede de separação no templo era um símbolo disso. Cristo aboliu, tornou ineficaz, o sistema cerimonial, com os seus rituais e ordenanças.

Você encontra explicações similares até mesmo em teólogos reformados não-teonomistas.

Obrigado pela pergunta! Eu gosto, pois me norteia nas próximas traduções. :)

Um abraço,
Felipe Sabino

Responder
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Anônimo
AUTOR
29/3/08 16:00 delete

Caros teonomistas,
gostaria de saber qual é a posição dessa linha de pensamento no tocante a um ponto bastante específico do nosso governo corrupto: a alta tributação. Por exemplo: é lícito ao cristão utilizar-se de meios que omitem renda frente à Receita Federal, visando a pagar menos imposto, considerando que a real tributação é abusiva e injusta? (não estou falando de recibos frios ou outras fraudes, mas da omissão de informação)

Caro Solano, de relance você tocou no assunto, no texto. Poderia explanar um pouco mais detidamente?

Abraços!

Responder
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29/3/08 17:19 delete

Prezado Solano,
Puxa, que tempo proveitoso e prazeroso é esse da leitura do tempora. Ao ler o seu post me vi diante de um assunto que me era totalmente novo e do qual nunca ouvira falar. O assunto é realmente muito interessante e através dos oportunos comentários ele foi tremendamente enriquecido. Fui ao blog do Felipe (parabéns meu irmão) e descobri que a caminhada é longa, mas extremamente convidativa. Se me permite: creio que essa reflexão deveria estar na pauta de uma certa "bancada evangélica", especialmente nesse ano de eleições. Concordo com a Norma: temos muito a aprender. Mas que bom termos vocês. Grande Abraço!

Responder
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L. G. Freire
AUTOR
30/3/08 17:19 delete

Anônimo,

Sobre os impostos, a bíblia é clara que impostos altos em geral são ruins. São considerados juízo de Deus em alguns casos. A bíblia também estipula que uma taxa maior do que o dízimo é ruim.

Sobre o imposto de renda especificamente, ele não era para existir. Na passagem em que ele é instituído por José no Egito, por exemplo, há um comentário do narrador indicando que aquilo foi feito como se José estivesse escravizando o povo, ao cobrar o quinto da renda.

A conclusão é que impostos altos são ruins, um estado cristão jamais poderia ser um Estado gigante.

Além disso, há três formas de um governo arrecadar se ele quiser dar saúde, educaçao, etc etc... imposto alto, guerra expansionista (para extrair recurso de outros locais) e inflação da moeda. Os três são expressamente proibidos pela bíblia.

A esfera de muitos dos serviços que consideramos "públicos" hoje (educação, saúde por exemplo) é, historicamente, da igreja, da iniciativa privada e de associações filantrópicas. Existe jeito de o governo ser pequeno e de esses serviços continuarem a ser mantidos para os necessitados. Aliás, não existe outra possibilidade.

Abraço

Responder
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L. G. Freire
AUTOR
30/3/08 17:30 delete

Anônimo,

Acabei esquecendo de examinar sua pergunta sobre se é correto sonegar. Quando Jesus disse "dai a César o que é de César" ele não incitou propriamente uma rebelião tributária. E o que é de César era certamente uma porcentagem maior do que o que a bíblia fala que é correto.

Mas a questão gira mais em torno da desobediência civil. A primeira pergunta nesse caso é:

1. É correta a desobediência civil nesse caso?

E a segunda é:

2. Qual o procedimento?

Repare que desobediência civil nunca foi covardia. Cristãos morreram heroicamente ao se recusarem a adorar o imperador. No AT, com certeza houve muito derramamento de sangue quando reis ímpios foram depostos, etc.

Quando se sonega imposto, em geral, o ato é covarde porque não há uma divulgação daquilo que se faz e dos motivos.

Lembre-se que uma das funções da teonomia é mostrar qual é o padrão bíblico e como o cristão deve agir.

O mandamento para o governo é não cobrar muito imposto.

Mas o mandamento para o cristão não é sonegar, e sim, deixar claro que o imposto alto é algo que fere os princípios da lei de Deus.

Então, com desobediência civil ou não no caso (e eu acho que "não" seria o mais adequado, mas não moro no Brasil, então falo com algum conforto e sem conhecer exatamente a situação atual), o importante é sempre deixar claro os motivos pelos quais a igreja defende a tese de que é errado existir imposto alto.

Outra coisa necessária é a fidelidade no dízimo e na participação ativa da igreja na sociedade.

Porque, igual eu falei, a alternativa é que a igreja faça a provisão para os pobres, construa hospitais, escolas e através disso volte a exercer a influência que já teve.

E que passe a ocupar mais posições no governo para colocar em prática o imposto baixo.

Mas o mais importante é contribuir para a pregação do evangelho para que as pessoas sejam transformadas e passem a viver em obediência em todas as esferas.

Para isso, a igreja tem que dar o exemplo primeiro.

A questão da impiedade dos impostos altos nunca pode ser a válvula de escape para racionalizar algum tipo de conduta que não leve a glória de Deus, o espalhamento do evangelho e o domínio da igreja em conta.

Abraço

Responder
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30/3/08 21:50 delete

RESCALDO DO DOMINGO ----

Caros Amigos:
Obrigado pelos vários e elucidativos comentários ao post, nesses últimos dias, nos quais estive envolvido com e Comissão Executiva do Supremo Concílio da IPB, sem condições de interagir adequadamente.

Algumas observações:

1. Desobediência Civil - Realmente, fiz alusão por alto. Para nossa reflexão, quando se fala em desobediência civil a impressão que dá é "desobediência às autoridades civis - às leis". O termo, entretanto, é frequentemente utilizado em um outro sentido (um grande número dos teonomistas o utilizam assim): como "desobediência dentro da civilidade", ou "protesto pacífico"; nesse sentido seria contraposto a "desobediência criminal" - que é a simples e pura quebra das leis.

2. Impostos - Creio que o nosso amigo Freire colocou uma boa exposição do que seria uma resposta teonomista (e bíblica) a essa questão. Apontar os erros do estado voraz, que descumpre os propósitos do governo, de acordo com a Bíblia, é dever de todos nós - mesmo quando escolhemos cumprir as demandas injustas (deve ficar claro que é escolha nossa, perante deveres maiores que temos para com Deus, e não DIREITOS do estado). Eu já postei sobre esse tema em outros lugares, neste Blog (vide: http://tempora-mores.blogspot.com/2007/10/cpmf-alimentando-o-estado-voraz.html )

Tales - Vários links foram colocados nos comentários e estão também inseridos no meu texto. São Bons pontos de partida. Recomendo, também meu livro - "A Lei de Deus Hoje" (que pretensão, hein?)!

Shofar e Estolas Sacerdotais - Teonomistas não têm nada com isso. É muito mais de alguns ramos neo-pentecostais, como a Valnice Milhomens.

Abs

Solano

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31/3/08 16:33 delete

Caros mestres

Sempre me enriquecendo por aqui.

Tomei a liberdade de linkar esse blog no meu que, obviamente, não tem toda essa profundidade, mas pelo menos dirige os que querem alimento mais sólido para cá.

http://adironteologia.blogspot.com/

Um abraço

Fábio Adiron

Responder
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31/3/08 17:46 delete

Caro Carlos Henrique:
Com tantas lições irônicas a ministrar aos companheiros comentaristas e ao próprio autor do texto que enseja a troca de idéias; julgando que nenhum desses se dedica à oração, à leitura da Bíblia e ao próprio Jesus, você não acha que o prefácio à assinatura está deslocado ou contraditório?
Abs
Solano

Caro Fábio:
Obrigado pela "colher de chá". Dei uma passeada pr lá e está muito bom! Persevere, e que Deus lhe abençoe!
ABs
Solano

Norma:
Obrigado pela passada por aqui. O tema da aplicabilidade da lei hoje é muito pertinente e fascinente. Tem tudo a ver em como sermos melhores cristãos e a discernir o que Jesus quis dizer quando expressou o que é amr em formas bem concretas - ensinando-nos que se o amamos, guardaremos os seus mandamentos.
Abs
Solano

Responder
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1/4/08 01:12 delete

Caro Carlos Henrique:

Minha esposa chama minha atenção para uma observação possivelmente errônea que fiz sobre o seu comentário. Não estando em um dos meus melhores dias, li como se fosse uma colocação irônica que levava a uma chamada à concentração em coisas básicas, das quais o debate desses temas deveria estar superfluamente ausente.

Em uma segunda leitura, acredito que errei e quero pedir sinceras desculpas ao irmão. O texto escrito, frio sem entonação e, ainda mais lido às pressas, sem a visualização do autor pode nos induzir ao erro.

Desculpe-me, mais uma vez.

Em Cristo,

Solano

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2/4/08 14:22 delete

IMPOSTOS X LEGÍTIMA DEFESA

Gostaria de postar um tópico em relação aos ipostos altíssimos.

É uma brincadeira com um fundinho de verdade.

O cidadão que sonega imposto muitas vezes está agindo em legítima defesa de sua vida, família, negócio, etc. Ou poderíamos cogitar no Estado de Necessidade, que nos permite sacrificar bens alheios a fim de resguardarmos nossas vidas.

Embora seja advogado, não criei essa tese, ouvi falar dela nos corredores do fórum...

É uma questão muito polêmica.

Já ouvi uma palestra do Profº Stelio Rega que a sonegação é um mal necessário que deve ser eliminado gradativamente. Uma empresa que não sonega, dificilmente conseguirá vencer a concorrência. Mas deve eliminar isso aos poucos.

Eu fico um pouco dividido nessa questão, embora seja teonomista.

Jesus disse: Dai a César o que é de Cesar.

A pergunta que Jesus não respondeu: O que é de César??????
Por que Jesus não respondeu tal pergunta???

Temos de dar a César, isso é bíblico. Quanto??? A Bíblia responde? Será que tudo que César pede eu devo dar a ele????

A paz a todos.

Teonismo Já! :-)
Tales

P.S:
Agradeço a todos pelas indicações dos materiais p/ pesquisa!
Valeu Freire, Sabino e Solano.

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3/4/08 01:09 delete

Tales Paranahiba,

Não quero ser implicante, mas parece que você tropeçou numas troças do "direito achado na rua" por aí.
As premissas são ordinárias.
No pior sentido mesmo do termo.
Recomendo não ficar ouvindo essa gente!

Entendo que você fique dividido. A tentação é grande!

Nesta linha "ondulada" de raciocínio, eu já ouvi gente argumentar contra a entrega de dízimos por aqueles mais necessitados na igreja. ( !!!!! )

E já ouvi de um membro de minha igreja a afirmação que você cita: de que se ele não sonegasse, teria que fechar as portas da sua empresa. Será? (posso responder um categórico NÃO, sendo eu um profissional liberal, digo que não estou rico, nem anseio por isso, mas não padeço necessidade...)

Meu caro, temos de decidir que Deus é esse a quem servimos:

-Se Ele é realmente o dono do ouro e da prata;
-Se Ele está sempre pronto para socorrer ao aflito e ao necessitado;
-Se Ele é realmente Santo, Santo, Santo;

Ou,

-Se Ele não tem as rédeas do mundo em suas mãos;
-Se Ele está de mãos atadas e o aflito e necessitado têm de dar um jeitinho para permanecer vivos;
-Se Ele é até Santo, mas não se importa em aceitar um filho que opta em permanecer no pecado, alimentando o tigrinho do caixa dois....

Responder
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Anônimo
AUTOR
3/4/08 20:08 delete

Querido Solano,

A mim seu pedido de desculpas soa como seu último post.

O título dele é: Humildade na prática!

Obrigado,

Carlos Henrique.

Responder
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4/4/08 14:17 delete

Anderson

Na teoria o que vc escreveu é belíssimo. Vc mesmo falou que é profissional liberal. Portanto vc não sabe "bulhufas" dos meandros do comércio.

A própria Bíblia que vc citou (isoladamente) fala em algumas situações da tolerância divina em relação a algumas questões. Deus odeia o divórcio. Mas permitiu. A escravidão não é ideal de Deus, mas ele permitiu. Ele requer uma fé incondicional, mas permitiu que Gideão fizesse a prova da lã, etc.

Fundamentei minha tese numa palestra do Profº Stelio Rega, que argüiu nesse raciocínio.

Jesus disse: Dai a César o que é de César. Ele respondeu o que é de César? A pergunta é: Devo dar a César tudo que ele pede? Se ele pedir minha adoração, ele merecerá? Se ele pedir minha vida, devo dá-la voluntariamente? Se ele pedir 99% dos meus bens, devo dar-lhe?

Creio que no Brasil, como cristãos, devemos procurar dar tudo o que César pede, dentro da razoabilidade e eqüidade.

Sobre o dízimo é outro assunto, que não está no NT. E é outra discussão.

Vc como profissional liberal dá recibo de tudo, declara tudo, paga o ISS de acordo com cada centavo que ganha? Pede nota fiscal de tudo que compra?

Atire a primeira pedra quem nunca sonegou!

Não estou defendendo a sonegação, se fizesse estaria fazendo apologia ao crime. Mas defendo um critério razoável e justo de pagamento de impostos.

Chega de dar uma de hiócritas e farizeus. A carga tributária do prazil já imbute a margem de sonegação. Mas isso está mudando.

A paz
Tales

Responder
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4/4/08 16:37 delete

Tales,

Eu como profissional liberal entendo, sim, e vivo de comércio.
Vendo serviços a quem quer pagar por eles. Ponto.

Como você não me conhece, posso lhe assegurar que NÃO sonego. Já o fiz, admito. Mas deixei essa falta de fé de lado.

Mas, ainda que eu sonegasse, eu não ousaria defender tal tese absurda.

Acredito que a experiência individual não serve de baliza para padrões de conduta da coletividade.

Você a defende sim, apesar de negar, pois cita despreocupadamente, e de maneira positiva, quem sustenta tal tese.

Deus certamente é tolerante. Amém!
Nem por isso, quando erramos devemos responder com um: "mas todo mundo faz isso!" Quem assim age, meu caro, é a turma do Lula, não o cristão.

E pude entender, perdoe-me se estiver errado, que você também não endossa a doutrina do dízimo. Sendo assim, fica mais fácil para eu entender sua simpatia pela retenção dos impostos que o consumidor já pagou quando comprou a mercadoria (ou os meus serviços)....

Responder
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4/4/08 19:31 delete

Anderson

Gostaria que vc respondesse meus argumentos de forma bíblica.

Falar em falta de fé é muito fácil. Os adeptos da teologia da prosperidade são os que mais falam nisso.

Sobre dízimo, não há nenhuma base no NT. Por isso não creio em dízimos.

Ora, quero ser desafiado segundo a Bíblia a viver de forma 100%.

Não sou da turma do Lula, sou cristão, mas tenho minhas dúvidas em relação a isso. É só.

No Brasil, em alguns casos, sonegar impostos é uma questão de sobrevivência. E aí o que dizer???

Sobre falta de fé, poderia dizer que os discípulos de Jesus agiram com falta de fé quando "violaram" o sábado. Não deveriam colher no sábado.

Davi agiu com falta de fé quando comeu os pães sagrados.

O dom da vida está acima disso.

Cada caso é um caso e deve ser sopesado.

Não defendo não a sonegação. Mas sou contra o farizaismo, que julga cegamente toda questão, sendo legalista.

A paz
Tales

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Anônimo
AUTOR
5/4/08 16:57 delete

Ricardo Bh
Gostei muito deste conteúdo;
dou aula de escatologia na 4º ig.presbiteriana de bh e estou falando sobre pós-milenismo; o mesmo so veio enriquecer minha aula. Que Deus continue a abençoando este ministério.
paz e graça

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L. G. Freire
AUTOR
7/4/08 02:53 delete

Solano,

Nos últimos anos o Gary ficou escrevendo um comentário econômico de mais de 400 páginas sobre o livro de Provérbios que saiu em 2007. Antes disso, os últimos volumes eram de 2003. Ao mesmo tempo, claro, ele continuou suas atividades normais de economista.

http://www.garynorth.com/proverbs.pdf

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Anônimo
AUTOR
7/4/08 10:22 delete

Caro Tales,

vejo nas palavras de Cristo encontradas em Mt 23:23 base neotestamentária para o dízimo.

Abraços!

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7/4/08 18:33 delete

Caro Carlos Henrique - Deus abençoe! Obrigado pela compreensão.

Tales - Cuidado com a beligerância excessiva. O embate com o Anderson por vezes ficou mais ácido do que devia (dos dois lados). Só para exemplificar um dos tópicos tratados - a questão do dízimo - você tem que concordar que inúmeras pessoas contribuem de forma dizimal exatamente por achar que existe base bíblica (e respaldo neo-testamentário) para tal. Então, não resolve nada ou não constroi dizer que "não há nenhuma base no NT", como se fosse a única visão da questão, ou uma grande descoberta. É melhor indicar que você não está convencido pelos argumentos; ou que entende que a validade para hoje não é prescritiva, etc., pois assim pelo menos reconhece que outros têm persuasão diferente, mas o mesmo apreço pela Bíblia. Sobre esta questão, sugiro que dê uma lida em:
http://www.solanoportela.net/artigos/mordomia.htm ou http://www.solanoportela.net/artigos/dizimos.htm .

Agora, bancando o incendiário e jogando um pouco mais de fogo na lenha e polêmica, os tenomistas têm um excelente artigo (acho que é de Gary North, mas vem como apêndice no livro do Rushdoony - Institutes of Biblical Law) chamado: "Em defesa da propina bíblica", ou algo semelhante.

Antes que todos se escandalizem, ele aborda a parábola do juiz iníquo, indicando que a sentença foi "comprada" com o sossego, pois a mulher deixou de importunar o juiz e ele julgou só para deixar de ser importunado. Agora qual é o ponto chave dessa questão? É que a mulher TINHA DIREITO ao que pleiteava.

A partir da leitura desse artigo, sempre fiz diferenciação entre extorsão e propina. Extorsão é o que alguém, com autoridade, faz quando exige algo para lhe conceder o que seria seu, por direito (exemplo - taxas de "agilização" que os despachantes cobram para tramitação de documentação nos DETRANS; ou para desembaraço aduaneiro de mercadoria perfeitamente legítima e legal, mas cuja liberação será retardada, às vezes com a perda do próprio material, se não for agilizada (os despachantes também "embutem" essas). Isso, no meu conceito, é extorsão - e numa sociedade corrupta estamos sempre sujeitos a sermos extorquidos pelas autoridades. Deus nos preserve disso, mas não creio que temos peso de consciência se estamos trilhando e fazendo o que é certo. O peso da condenação é em cima de quem extorque.

A outra questão, é a propina - aquilo que se paga para obter, de uma autoridade qualquer (pode ser o guarda que está supervisionando uma fila), o que NÃO TEMOS DIREITO; o que não seria apropriadamente nosso. Dessa também Deus nos livre, mas o pecado e peso da condenação é sobre nossas cabeças se fizermos isso.

Quanto à sonegação - não vejo base bíblica para sair fora do fisco, por mais injusto que seja. Já vi crentes mudarem de ramos exatamente porque no escolhido era impossível competir pagando as obrigações. Deus os abençoou pela fidelidade ao testemunho.

Caro L.G. - obrigado pelas informações sobre North. Aparentemente ele continua com a produtividade à toda prova. Creio que ele caíu um pouco na minha estimativa (e acho que caíu em produtividade e relevância ao movimento, também) quando se emaranhou totalmente na tarefa de assustar a todos e a fazer previsões apocalípticas quanto ao "Bug" do Milênio, na virada para o ano 2000. Várias de suas "profecias" (ele nunca disse que eram profecias, mas eram previsões econômicas catastróficas bem detalhadas) nunca se materializaram. Isso concorreu para que caísse em credibilidade em vários círculos. Não sei se data dessa época seu afastamento maior do cerne do movimento teonômico e outras brigas afins.

De qualquer forma, o homem é um gigante em produtividade acadêmico-econômica - com nuances teológicas.

Abs a todos, e sempre grato pelos comentários

Solano

Responder
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Anônimo
AUTOR
7/4/08 19:58 delete

Pr. Solano,

O Sr. não acha que o Senhor Jesus em Mat.17.24-27 mostra que ao ser-lhe exigido, ao cristão é necessário cumprir suas obrigações tributárias (por mais injusta que for) perante o Estado. Veja, pois, que todos os questionamentos quanto à injustiça da cobrança são superados por: "para que não os escandalizemos". Demais disso, até onde eu sei, os cristãos da igreja primitiva só desobedeciam ao Estado quando sua lealdade a Deus era comprometida. E esse não parece ser o caso quanto a desobediência no pagamento dos tributos para o Estado.
Abraços.

Responder
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7/4/08 20:02 delete

Caro Anônimo:

E o que é que eu venho dizendo? Acho que você não leu o comentário logo acima, onde eu escrevi:
"Quanto à sonegação - não vejo base bíblica para sair fora do fisco, por mais injusto que seja. Já vi crentes mudarem de ramos exatamente porque no escolhido era impossível competir pagando as obrigações. Deus os abençoou pela fidelidade ao testemunho".

Abs

Pb. Solano

Responder
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8/4/08 14:13 delete

Obrigado Mestre Solano pelos comentários.

Sobre senegação, ainda tenho minhas dúvidas, principalmente pela palestra do Profº Stelio Rega. No devido tempo, Deus esclarecerá. Creio que se formos cobrados devemos pagar. Isso é pacífico. Mas até que ponto devemos declarar tudo, e pagar rigorasamente sobre tudo é ainda controvertido, para mim.

Sobre dízimo, li os dois artigos. O artigo foi muito sincero e exegéico: não podemos buscar base bíblica para o dízimo na Lei. Agora, resta analisar se o costume patriarcal se coaduna com o NT.

Tenho para mim que o dízimo é o mínimo dos mínimos. Pelo NT, nossas contribuições devem exceder a porcentagem decimal.

POr isso, creio que no NT somos desafiados a superar a porcentagem decimal.

Seja o que for, trata-se de uma questão muito periférica, que como disse o Mestre Solano, não acrescentará nada ao debate.

No mais, não é minha intenção acalorar o debate.

Responder
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L. G. Freire
AUTOR
9/4/08 15:53 delete

Solano,

Não sei exatamente da vida pessoal do Gary. A questão do bug do milênio foi ruim mesmo, mas a maioria do material que se encontra por aí é de segunda mão, então suspendi juízo sobre o caso. Acontece que faz parte da tese o fato de que a civilização longe de Deus se auto-destrói, então o cristianismo emerge vitorioso como uma alternativa - então ele pode ter pensado "é agora" hehe

Mas, levando no lado menos sério, como economista frustrado que sou, tenho que dizer que ele não foge do padrão de previsões erradas :)

Abs

Lucas.

Responder
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Anônimo
AUTOR
1/5/08 13:30 delete

Sou convertida ha pouco tempo e venho lendo e me firmando na Palavra a cada dia. Frequento uma igreja presbiteriana que possui uma doutrina bíblica sólida que me ajuda a crescer espiritualmente. Entretanto me incomoda profundamente estas práticas da igreja Universal como rosa ungida, os 318, o kit da rainha Ester etc.
Gostaria de possuir respaldo biblico para refutar estas coisas pois tenho amigos que frequentam estas igrejas e adotam estes co
mportamento e se dizem crentes e vivem nas sessões de descarrego e tal.
Gostei bastante das discussões aqui apresentadas como tambem do site sobre Monergismo

Responder
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Renato Cunha
AUTOR
14/6/08 00:36 delete

Vejo que o teonomismo promove uma discussão sempre figadal. Solano (permita-me a intimidade) eu havia entendido como entendeu Sabino acerca de suas posições contrárias ao teonomismo. Aliás, senti até certa ironia sarcástica a certa altura do post (risos).

Esposo a idéia de que os princípios das Sagradas Escrituras vão muito mais além do que simplesmente salgar e iluminar o mundo corrompido (a despeito de achar que se fizermos isso, já teremos feito muito). Julgo que a mensagem estrutural da Bíblia parece referendar, no mínimo, um teonomismo moderado. Aproveito o ensejo para sair do armário e revelar também que sou um pós-milenista, sincero, convicto, e penso que não errado.

A mim me pareceu também (se estiver equivocado me perdoe) que sua tese busca desacreditar o teonomismo inclusive citando práticas que mais se assemelham às práticas do filósofo naturalista Henry Thoreau (Falo da questão dos impostos). Francamente Solano, fazer isto seria uma caricatura injusta aos postulados do teonomismo em sua mensagem estrutural. Que aliás nunca defendeu (pelo menos eu desconheço) a manutenção do sistema cerimonial do antigo Israel para os dias de hoje.

Malde e Glauco te mandam lembranças calorosas.

Responder
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28/8/08 14:27 delete

É incrível como cristãos que outrora eram conservadores na sua posição doutrinária, hoje bebem das fontes amargas do liberalismo e relativismo.
Quase esqueci. Estamos na era da pós-modernidade.
Um dos "beberrões" dessa fonte é Philip Yancey.
Os seus escritos são tremendamente confrontadoras e excitantes.
No entanto, com todo respeito dos que pensam diferente de mim, parei de ler e não indico seus escritos.
Calma, vou explicar, antes que alguém atire a primeira pedra.
Após sua entrevista à Candace Chellew-Hodge, líder de uma igreja gay nos Estados Unidos (leia no blog http://silasdaniel.blogspot.com/2008/05/no-que-cr-realmente-phillip-yancey-ou.html) onde afirma que homossexualidade não contradiz com as Escrituras Sagradas, e cita com as seguintes palavras: “Como tenho freqüentado igrejas de lésbicas e gays, fico triste porque a igreja evangélica em sua maioria não tem espaço para os homossexuais. Tenho encontrado maravilhosos e compromissados cristãos que freqüentam a MCC [Metropolitan Community Church, uma igreja organizada especificamente para homossexuais] e gostaria que as outras igrejas se beneficiassem da fé desses cristãos gays”; o meu respeito por ele caiu.
Mas uma pessoa que precisa ser alcançada pela verdadeira graça do Senhor Jesus que ele tanto prega e diz crer.

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Unknown
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11/12/15 03:20 delete

Lendo esse post em 2015! Excelente Pb Solano!! Se puder comentar um pouco mais sobre o comentário do Felipe Sabino seria ótimo! Abraço daqui de Manaus!

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Unknown
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16/3/16 02:49 delete

ESDRAS GEOVANI

Foi muito interessante a maneira como cheguei nesse post...kkkkkkkkkkkkkkkk

Já são mais ou menos 8 anos que ele foi escrito! E eu estou aqui devorando cada linhazinha que vocês colocaram com muito amor para o nosso conhecimento. Obrigado ao homem de Deus Solano! E a os demais comentadores!!!

Eu sou de uma igreja pentecostal, muito arminiana e rígida. (Diga de passagem que nem posso ira pra o cinema! Com riscos de ser disciplinado).

Mas comentários a parte, já faz algum tempo que tenho sido levado por alguns acontecimentos e circunstâncias a conhecer por meio de leituras e vídeos a doutrina Reformada e Histórica... E estou sendo extremamente edificado por Deus desde então.

Amei conhecer essa particularidade da teologia Reformada, o Teonomismo, e perceber com muita clareza de que é mais um presente das profundezas exuberantes da iluminação de Deus dada as mentes de homens que labutam com tanto vigor e insistência em conhecer a Palavra e o Deus da Palavra.

Salvei todos os links e referências feitas no texto e nos comentários sobre o assunto e irei pesquisar detalhadamente em todos... Fiquem na paz meus irmãos em cristo!!!

Haaaaaa.. Já ia esquecendo....
Foi engraçado como cheguei nesse artigo:

Vi uma provocação de uma página Arminiana no meu Face que trazia uma frase de Gary North, que dizia assim:

"A força de Satanás tanto demoníaca e humana, receberam o dom imerecido de Deus. Cristo morreu por todo o mundo criado (Jo.3.16) Incluindo Satanás." (Dominion Common Grace).

Fiquei curioso e quis conhecer quem era o autor, então coloquei o nome dele no Google e dei de cara com esse artigo aqui!...kkkkk

Eu só gostaria de saber se essa frase é dele mesmo? E se essa posição teológica de que Jesus morreu até por Satanás é válida?

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12/12/18 19:46 delete

Percebo que estamos na ante sala da idade das trevas. Faz pouco tempo, li de um teonomista conhecido na internet que Jesus nao mandou apedrejar a mulher adúltera por que o rito não foi cumprido de acordo com a lei, ou seja, apresentar tbem o adúltero. Não sei se rio ou se choro ao ler tais coisas. A lei, seja lei moral, civil ou cerimonial, cumpriu o propósito de levar o homem a Cristo através do reconhecimento de seu estado pecaminoso. E nisso não há distinção de lei (se querem fazer, tudo bem). Em uma pessoa alcançada pela Graça, que é o próprio Cristo, o cumprimento das ordens de Deus (ou sua lei) não advem do conhecimento desta, mas da ação da Vida do Espírito no coração do homem. De forma que essa regulação é individual e jamais para um coletivo por imposição de um "governo do justo". Creio que esse pós milenismo aprendido pelos teologos de internet se tornou o pai dessa ressurreicao da heresia teonomica e gerou um neto: a teologia do domínio abraçada pelos neopentecostais. E agora ficou bacana: os neopentecostais são a cria dos reformados hiper calvinistas!

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