“... Entre vós penetrarão lobos vorazes que não pouparão o rebanho”. Atos 20.29
As últimas postagens, neste Blog, pelos Drs. Augustus e Mauro, têm procurado traçar análises pertinentes à atuação dos liberais no seio da igreja. Vou fazer uma reflexão eminentemente prática de uma experiência pessoal com a questão.
As últimas postagens, neste Blog, pelos Drs. Augustus e Mauro, têm procurado traçar análises pertinentes à atuação dos liberais no seio da igreja. Vou fazer uma reflexão eminentemente prática de uma experiência pessoal com a questão.
Nos idos de 1994, se não me falha a memória, fui visitar um tio, hoje já falecido, em Presidente Prudente, interior de São Paulo. Esse tio, dentista, pregador exímio, criado presbiteriano, congregava-se por razões pessoais na igreja metodista local na qual ensinava uma classe de Escola Dominical.
Meu tio pediu-me para ministrar à classe, naquele domingo, e entregou-me a lição que seria estudada. Fui folheando a revista. Ela tratava sobre a mensagem dos profetas do Antigo Testamento. Tinha sido preparada pelos especialistas da denominação e procurava espelhar o supra-sumo da erudição teológica. Na realidade, ela apresentava alguns conceitos que hoje nem os liberais discutem com tanta veemência, mas como essas questões chegam atrasadas uns 50 anos, aqui no Brasil, ela refletia o que estava (e possivelmente ainda está) sendo ministrado nos seminários dessa denominação e, infelizmente, de outras também. Constatei que aquela lição se empenhava em desfigurar a integridade do texto bíblico.
A premissa básica, que não era colocada de forma clara e explícita, era que “profecia não existe”; partindo desse pensamento sorrateiro, a lição ensinava que os livros dos profetas haviam sido escritos após os acontecimentos profetizados. Não havia, portanto, nada de sobrenatural, pois os escritores apenas registraram fatos passados e os leitores desavisados é que estariam sendo enganados. Lógico que os autores procuravam ressaltar alguma coisa válida de cunho social no conteúdo, mas se a credibilidade da narrativa é destruída, logo em sua integridade de autoria e escopo, por que deveríamos prestar atenção a qualquer detalhe da mensagem?
A lição tinha que lidar com alguns acontecimentos mais remotos, que haviam obviamente ocorridos após a escrita de qualquer texto (como, por exemplo, o nascimento virginal de Cristo). O tratamento que ela dava era, ainda, de que esses eventos não foram, na realidade, profetizados, mas eram fruto da interpretação (ou distorção) daqueles que relataram os eventos em si. Os escritores posteriores, diziam, “acomodaram” os fatos para que “parecessem” cumprimento de algo subjetivamente incluso nas profecias. Várias ginásticas lingüísticas eram aplicadas em uma tentativa fútil de explicar o inexplicável.
A lição tinha que lidar com alguns acontecimentos mais remotos, que haviam obviamente ocorridos após a escrita de qualquer texto (como, por exemplo, o nascimento virginal de Cristo). O tratamento que ela dava era, ainda, de que esses eventos não foram, na realidade, profetizados, mas eram fruto da interpretação (ou distorção) daqueles que relataram os eventos em si. Os escritores posteriores, diziam, “acomodaram” os fatos para que “parecessem” cumprimento de algo subjetivamente incluso nas profecias. Várias ginásticas lingüísticas eram aplicadas em uma tentativa fútil de explicar o inexplicável.
A revista continuava, assim, ponto por ponto, na tarefa insana de destruir a fé; atacando os fatos intrinsecamente ligados a ela. Para se conformar a essa visão de que os manuscritos eram posteriores aos eventos “profetizados”, ensinava que o livro de Isaías estaria convenientemente dividido em três partes, de autores e datas distintas. A lição falava de “segundo Isaías” e “dêutero-Isaías” como se isso fosse ponto pacífico entre os eruditos, tivesse base documental, respaldo intelectual, ou fosse linguagem comum e normal de alunos de escola dominical.
Naquele domingo eu preparei minha aula e a ministrei, utilizando o tema e o texto base, mas sem utilizar aquela lição dos “especialistas”, nem a mensagem que eles queriam transmitir. No dia, fiquei olhando aquela classe, formada em sua maior parte de gente humilde e sincera. Crentes fiéis, ávidos por ouvir o ensino e a exposição da Palavra. Fiquei com um aperto no coração e com uma ira santa da situação. Quem eram essas pessoas distanciadas do rebanho que achavam que podiam rasgar e tripudiar a razão de existência da própria Igreja de Cristo? Que tipo de motivação possuíam? Qual a profundidade da insensibilidade espiritual que estavam retratando?
No meio das estruturas eclesiásticas sempre encontraremos os “lobos vorazes”, cujo caminho a percorrer resulta na destruição do rebanho. Temo que esses vão se agregando nas cúpulas, como cristais em uma solução salina, fortalecendo-se mutuamente e tomando formas aleatórias que diferem da fé simples e do cristianismo verdadeiro professado e abraçado pelas ovelhas reais. Contamos, entretanto, com a promessa de Cristo de que as portas do inferno não prevalecerão sobre a igreja verdadeira. Esse é o nosso verdadeiro conforto.
16 comentários
comentáriosCertamente esse tipo de coisa ainda está sendo ensinado em seminários teológicos. Posso dizer isso por experiência própria, pois fiz três matérias sobre o Antigo Testamento no ano passado, numa faculdade declaradamente ortodoxa. O que o senhor postou é exatamente o que é dito de todos os "melhores" livros sobre os profetas. Os pobres alunos que não aceitam a verdade sobre o "movimento profético em Israel" (por terem "muita fé") ainda são ridicularizados pelo professor. Sem o sobrenatural, a mensagem desses profetas fica reduzids apenas a manifestos sócio-políticos. Aliás, praticamente todos os livros do AT têm essa motivação, segundo esses estudiosos. É como aquela idéia de que o músico (ou qualquer artista) sempre compõe algo a fim de apresentar alguma mensagem oculta. Tudo, seja Gênesis, seja Cantares, seja Daniel, apresentam uma crítica social ao "sistema" (e quem mais sofre é o coitado do Salomão) ou uma motivação sinistra dos regentes de Israel (a Aliança de Deus com Davi e os livros de Crônicas tornam-se mera invenção dos dominadores, a fim de manter no trono a linhagem davídica).
ResponderE como já foi dito aqui, os novos liberais quase nunca se assumem liberais. Imaginando que o professor realmente é um ortodoxo, um monte de gente que engole isso. Aliás, praticamente todo mundo. Ainda bem que me recomendaram os livros do Van Groningen.
Caro Josaías:
ResponderExcelente comentário e percepção. Você diz: "sem o sobrenatural, a mensagem desses profetas fica reduzida apenas a manifestos sócio-políticos".
O que é pior, é que a leitura dessas manifestações supostamente e meramente políticas é também equivocada, pois é então extraída e apresentada não com base em exegese sadia - no contexto da existência do Deus Soberano, seus princípios de justiça e limites para os homens - mas nas premissas distorcidas desses "pastores que apascentam a si mesmos", verdadeiras "rochas submersas" na igreja e nos seminários.
Um abraço,
Solano
Solano,
ResponderPor cima do lobo, vem o disfarce de ovelha. E para torná-lo ainda mais convincente, o lobo travestido traz na mão um diploma obtido numa universidade secular altamente conceituada pelos órgãos governamentais, que representa respeitabilidade, aceitação, autoridade, academicismo e chancela da ciência moderna.
O caminho que o neoliberalismo tem encontrado hoje para sua aceitação entre os protestantes é o caminho da universidade secular. No Brasil, permeado pela cultura-do-diploma-reconhecido-pelo-MEC, o neoliberalismo consegue entrar com diploma reconhecido na mão nas instituições de ensino teológico das denominações, e uma vez lá dentro, começa o estrago. Muitas dessas instituições, preocupadas em obter reconhecimento e respeitabilidade, estão dispostas a admitir professores neoliberais, incrédulos, e até agnósticos, desde que tenham obtido uma formação teológica numa universidade cujo curso de teologia ou ciências da religião é reconhecido pelo MEC.
É uma avenida. E lobos diplomados estão entrando por ela.
Um abraço.
Solano,
Respondercomo exposto pelo irmão acima, a hermenêutica e exegese histórico-crítica é um reducionismo da revelação proposicional do Senhor Deus soberano. A ação divina é "mito", as narrativas passam apenas interesses da classe dominante (sarcasmo: o que isso nos lembra?) interpretadas sempre socio-politico-religioso-economicamente e as vezes sendo submissa a critérios "latino-americanos" (porém a base epistemologica é liberal).
Estudo em um seminário assim aqui no RJ, são esses os ensinos passados com vestes de piedade. Os seminaristas passam isso nas igrejas, pastores são ordenados levando esse ensinamento no pulpito, está bem lento mas essa porcaria (desculpa o desabafo de um jovem imaturo de 26 anos) vai crescer igual tumor e o estrago vai ser maior do que na vida espiritual dos estudantes aqui. Uma controvérsia estilo Spurgeon e a controvérsia do down grown.
Estamos diante de um inimigo perigoso, uma heresia velha de roupa nova, porém evoluída e sendo uma espada nas mãos de satanás para prostituir a mente dos estudantes.
Eu tenho presenciado isso pessoalmente!
Que Deus nos de forças para sermos firmes, militando o bom combate!
Tenho estado tão indignada de atestar a extensão da influência das teorias modernas na teologia que fiz um comentário enorme aqui, que de tão grande acabou sendo deletado e se transformou em post no meu blog. Espero que Josaías não se incomode de ter sido citado lá.
ResponderDou muitas graças a Deus pela presença maciça e contundente de Solano, Augustus e Mauro no mundo virtual. Vocês podem ter certeza do quanto estão abençoando seus leitores. Quanto a mim, venho de meio diferente (a literatura), mas acredito estarmos na mesma sintonia de preocupações e ênfases. Isso é reconfortante! Vamos continuar lutando a luta comum, que os tempos estão muito difíceis.
Grande abraço!
Augustus: É isso mesmo. Quantos liberais não temos encontrado que brandem ferramentas, como a análise do discurso, como substitutas da hermenêutica e exegese na abordagem das Escrituras. A respeitabilidade acadêmica é boa, mas tem sido utilizada como camuflagem para o veneno letal, como bem observam o Josaías e o Juan - em seus excelentes depoimentos.
ResponderNorma: Li seu post, eivado de observações pertinentes sobre esta questão. Obrigado pelo encorajamento e palavras dispensadas a este nosso Blog. Sentimo-nos reconfortados em ver você atuando com eficiência em outra frente da batalha comum (Judas 3).
Solano
O que o pastor Augustus Nicodemus disse sobre a "cultura-do-diploma-reconhecido-pelo-MEC" é de suma importância. Creio que já passou da hora dos seminários voltarem a ser centros de formação filosófico-teológica a serviço da IGREJA, como sempre foram, e não mais simples faculdades de "ciências humanas" ou "ciências da(s) religião(ões)". As grandes igrejas históricas precisam reavaliar essa grotesca "necessidade" de reconhecimento do MEC. E o reconhecimento do SENHOR DA IGREJA, como fica?! O que é mais importante: ser simpático a uma intelectualidade materialista, pedante, insolente e anticristã, ou fazer a vontade de Deus (Gl. 1.10)? Aliás, a própria igreja parece cada vez mais estar deixando de ser sal e luz, permitindo ser reduzida a uma espécie de ONG humanitária! Anunciar o Evangelho transformou-se em "denunciar a injustiça e a opressão"! É urgente que pastores, diáconos e presbíteros, homens e mulheres realmente tementes a Deus e comprometidos com o Reino, ofereçam real resistência a esse vagalhão secularista. E não só na Internet, mas também nas igrejas e (talvez principalmente) nos seminários! Talvez estejamos mesmo precisando de pastores, professores e reitores "linha-dura", que botem pra correr esses velhacos!
ResponderOlá pastores !
ResponderFaço minhas as palavras da Norma. Fico feliz em saber que, em poucos dias, após a próxima varredura que o Google fizer na web, quem quiser saber o que é o liberalismo teológico poderá encontrar aqui preciosas informações, e conhecerá o caráter herético, parasitário e teoricamente débil dessa metástase demoníaca ávida por corroer o Corpo de Cristo. Uma corrosão que começa nos seminários, e que por meio de pastores despreparados e pseudopastores em pele de cordeiro, pode minar na base a vida espiritual de milhares de pessoas.
Quanto ao pertinente comentário do Pr. Augustus Nicodemus sobre a cultura-do-diploma-reconhecido-pelo-MEC, só tenho uma observação: Eis mais um grave sintoma da estatolatria que assola a sociedade e a da qual os evangélicos brasileiros ainda não aprenderam a se livrar... ela invade as mentalidades de tal forma que não se consegue se conceber um obreiro aprovado, que maneja bem a palavra da Verdade, se ele não tiver o carimbinho do MEC no diploma...
Parabéns, e continuem no bom combate contra esses guias cegos, que não adentram o Reino e não deixam os outros entrar!
Em primeiro lugar, parabéns aos presbíteros docentes e regente pelo Blog, gostei tanto que adicionei ao meu Blog (feito ontem, hehehe) como páginas que indico.
ResponderComentando o post, gostaria de dizer que infelizmente coisas desse tipo também ocorrem em igrejas ditas reformadas.
Existem igrejas que se você defende a ortodoxia cristã é considerado herege, arcaico e outras coisas mais. Entramos na "era da humanização do sagrado". Para considerável parte dos teólogos atuais o que não pode ser explicado não deve ser considerado.
Felizmente Deus me colocou em uma igreja onde não tenho esse tipo de problemas.
Vou fazer coro com a Norma...
"Dou muitas graças a Deus pela presença maciça e contundente de Solano, Augustus e Mauro no mundo virtual."
Abraços
Solano, Augustus e Mauro!
ResponderParabéns pelo blog e pelos comentários! Perceptivos, inteligentes e discernidores.
Que Deus os mantenha firmes!
Abs,
Franklin/RJ
férias coletivas?
Responderabraços a todos
Marcos, Eliot, Daci e Franklin:
ResponderObrigado pelos comentários e palavras de incentivo.
Daniel: Férias? Mais ou menos - Augustus está pilotando a sua nau cheia de filhos e familiares de volta a S. Paulo (na realidade, um Doblô, que quebra, via de regra, na Bahia); Mauro está em Los Angeles participando de uma conferência com o gurú anti-gnosticismo moderno - Peter Jones; e eu estou no Recife, com incrível dificuldade de acesso à Internet.
Solano
Acredito que a espiritualidade liberal tem sido a mais util das ferramentas da apostasia, que marcha a passos firmes contra a igreja do Senhor.
ResponderQuando estudavamos estas questoes nas igrejas ou seminarios, anos atraz, pensavamos que tudo isso viria de fora e que a igreja se levantaria, unida, para lutar contra o inimigo.
Ledo engano, a semente do desvio, da destruicao ja estava sendo plantada no seio da igreja, totalmente disfarcada de "boa" semente.
Assim o inimigo brotou dentro do corpo, como um cancer que nasce no mais profundo, no mais intimo dos orgaos do corpo humano e dali destroi a vida.
Tenho a impressao de que vamos retornando a um contexto muito parecido com o da igreja do periodo anterior a reforma em que se faz urgente a necessidade de uma reforma, re-reforma.
Precisamos contar com essa possibilidade e nos prepararmos para as consequencias de "pregarmos outras teses nas portas do templo"
Guru antignosticismo moderno? Opa! Gostaria de saber mais sobre isso!
ResponderAbraços à trinca, desejando que voltem todos bastante descansados, com mais gás que antes!
Boa tarde irmão, a Paz de nosso Senhor Jesus. Sou metodista. Li sua brilhante explanação e fiquei chocado! Já a bastante tempo tenho combatido o liberalismo teológico (numa ponta) e o neopentecostalismo (noutra ponta) que insistem em entrar e aviltar o seio de nossa Igreja.
ResponderSe possível, poderia me dizer o título, volume e editora de tal revista? Ficaria extremamente grato com sua ajuda para investigar o assunto à fundo. Graça e Paz
Caro Yuri: Isso foi em 1994, há 22 anos! Não tenho como saber tais detalhes sobre a revista da Escola Dominical, mas sei que era a revista oficial da Igreja Metodista, adotada na ocasião. Mais recentemente, fiquei sabendo que em em 2006, em Aracruz, acho, os Metodistas tomaram algumas decisões importantes, no sentido conservador, mas parece que surgiu muita oposição, também, da parte de setores liberais. Deus o abençoe. Solano
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