sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Augustus Nicodemus Lopes

Lançada a Carta de Princípios 2009 do Mackenzie: "Calvino e a Universidade"

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JOÃO CALVINO E A UNIVERSIDADE
500 anos do Nascimento de João Calvino (1509-2009)

Introdução

Em 2009 comemoram-se os 500 anos do nascimento de João Calvino (1509-2009), um dos principais líderes da Reforma Protestante do século XVI e, certamente, o seu maior expoente em termos de teologia e educação. A Universidade Presbiteriana Mackenzie, sendo uma instituição de ensino confessional presbiteriana, cujas origens se encontram no trabalho de missionários calvinistas no Brasil, saúda a todos e aproveita para destacar, em sua Carta de Princípios 2009, a contribuição deste Reformador para a educação.

Breve Histórico de Calvino


O francês João Calvino nasceu em 1509 em Noyon, na França. As ligações de seu pai com o clero local deram ao menino valiosas oportunidades na área educacional. Frequentou a escola primária e secundária com os sobrinhos do bispo de Noyon e outras crianças de famílias destacadas. No início da adolescência, aos catorze anos, foi estudar em Paris; cursou filosofia e humanidades no Collège de Montaigu, ligado à Universidade daquela cidade.

Sentiu-se atraído pelo humanismo, ou seja, a apreciação pela antiga cultura greco-romana. Dedicou-se ao estudo do latim, do grego, da teologia e dos autores clássicos, além de fazer cursos na área do direito. Através de parentes, amigos e professores, recebeu influências do novo movimento protestante, convertendo-se à fé evangélica por volta de 1533. Dedicou-se, então, ao estudo sistemático e aprofundado da Bíblia, publicando em 1536 a primeira edição de sua obra mais famosa, a Instituição da Religião Cristã, mais conhecida como Institutas. No mesmo ano, passou a residir em Genebra, na Suíça, cidade que recentemente havia abraçado o protestantismo. Após breve permanência ali, viveu por três anos em Estrasburgo (1538-1541), no sul da Alemanha, junto ao reformador Martin Bucer (1491-1551). Nesse período, pastoreou uma igreja constituída basicamente de franceses exilados e, também, lecionou na academia de Johannes Sturm (1507-1589).

Em 1541 regressou a Genebra e ali passou o restante de sua vida. Desenvolveu prodigiosa atividade como líder eclesiástico, pastor, pregador e teólogo. Publicou uma imensa quantidade de escritos na forma de novas edições das Institutas (em latim e francês). A tradução dessa obra para o francês, em 1541, juntamente com outros dos seus muitos e belos escritos, contribuiu para modelar a língua francesa. Calvino também escreveu comentários bíblicos, tratados doutrinários e obras voltadas para a vida interna da Igreja.

Entre seus escritos, temos volumosa correspondência que manteve com um grande número de pessoas ao redor da Europa, desde governantes até pessoas simples. Seu relacionamento com as autoridades de Genebra, de início bastante tenso, passou a ser mais positivo nos anos finais de sua vida.

Em 1559, tornou-se cidadão de Genebra, publicou a edição definitiva das Institutas e fundou a Academia de Genebra, embrião da futura universidade. Faleceu em 1564, aos 55 anos. Alister McGrath demonstrou, em sua biografia sobre Calvino, como o mito de "o grande ditador de Genebra" é enraizado em conceitos populares difundidos especialmente por afirmações sem fatos históricos que as apoiassem, mas que, não obstante, acabaram por moldar a visão de Calvino que hoje prevalece em muitos meios acadêmicos.

No aspecto religioso, Calvino é considerado o pai da tradição protestante reformada, que engloba presbiterianos, congregacionais, uma parte dos batistas e parte do anglicanismo. Seus seguidores ficaram conhecidos, em geral, como reformados.

Um quadro mais próximo aos registros históricos mostra que Calvino era um pastor atencioso, que visitou pacientes terminais de doenças contagiosas no hospital que ele mesmo havia estabelecido, embora fosse advertido dos perigos de contato. Além disso, tomou diversas atitudes que mudaram a vida social da cidade. Foi ele quem instou o conselho municipal de Genebra a afiançar empréstimos a baixos juros para os pobres. Genebra foi o primeiro lugar na Europa a ter leis especiais que proibiam: jogar detritos e lixo nas ruas; fazer fogo ou usar fogão num cômodo sem chaminé; ter uma casa com sacadas ou escadas sem que as mesmas tivessem grades de proteção; alugar uma casa sem o conhecimento da polícia; sendo comerciante, cobrar além do preço permitido ou roubar no peso e, também, estocar mercadorias para fazê-la faltar no mercado e assim encarecê-la (e isso se estendia aos produtores). Assim como Lutero e outros reformadores, ele defendeu a educação universal para todos os habitantes da cidade. É particularmente essa última contribuição de Calvino que queremos enfocar na presente Carta de Princípios.

Calvino e a Educação

Em 1536 Calvino apresentou um plano ao conselho municipal de Genebra que incluía uma escola para todas as crianças, na qual as crianças pobres teriam ensino gratuito. Era a primeira escola primária obrigatória da Europa. Em uma delas as meninas eram incluídas junto com os meninos.

Calvino tinha um alvo muito claro quanto à educação. Ele desejava que os alunos das escolas de Genebra fossem futuros cidadãos da cidade, bem preparados “na linguagem e nas humanidades”, além da formação cristã e bíblica. O currículo que ele ajudou a elaborar tinha ênfase nas artes e nas ciências, além, obviamente, da ênfase nas Escrituras. Conforme nos diz Moore, “O principal propósito da universidade [de Genebra] era eminentemente prático: preparar os jovens para o ministério ou para o serviço no governo.”

Essa preocupação de Calvino com a educação decorria de sua visão cristã de mundo. Entre os pontos de sua teologia que o impulsionavam à missão como educador, havia a concepção do ser humano criado à imagem e semelhança de Deus, conforme análise de Héber Carlos:

Em sua teologia sobre a imagem de Deus no homem, Calvino viu o ser humano como um ser que aprende inerentemente. Deus depositou no ser humano “a semente da religião” e também o deixou exposto à estrutura total do universo criado e à influência das Escrituras. Por causa dessas coisas, qualquer homem podia aprender, desde o mais simples camponês ao indivíduo mais instruído nas artes liberais.

Outro ponto de suas convicções religiosas era o entendimento de que todo conhecimento vem de Deus, quer seja o conhecimento “sagrado” ou o “profano”. Calvino dispunha de uma visão ampla da cultura, entendendo que Deus é Senhor de todas as coisas e, por isso, toda verdade é verdade de Deus. Essa perspectiva amparava-se no conceito da “Graça Comum” ou “Graça Geral” de Deus sobre todos os homens. Ele diz:

... visto que toda verdade procede de Deus, se algum ímpio disser algo verdadeiro, não devemos rejeitá-lo, porquanto o mesmo procede de Deus. Além disso, visto que todas as coisas procedem de Deus, que mal haveria em empregar, para sua glória, tudo quanto pode ser corretamente usado dessa forma?

Calvino defendia que Deus havia agraciado todas as pessoas com inteligência, perspicácia, capacidade de entender e transmitir, indistintamente da sua fé e crença. Assim, desprezar a mente secular era desprezar os dons que Deus havia distribuído no mundo, até mesmo aos incrédulos, mediante a graça comum.

A Academia de Genebra

Não é de estranhar, à luz das convicções teológicas de Calvino, que ele tivesse seu coração voltado para a educação da população de Genebra e da Europa em geral. Desde 1541 encontramos registros da sua preocupação diária em como dar a Genebra uma universidade. Ele desejava criar uma grande universidade, contudo os recursos da República eram pequenos para isso. Assim, ele se limitou à criação da Academia de Genebra (1559)14, que o historiador Charles Bourgeaud (1861-1941), antigo professor da Universidade de Genebra, considerou como “a primeira fortaleza da liberdade nos tempos modernos”.

No currículo, incluía-se o ensino da leitura e da escrita e cursos mais avançados de retórica, música e lógica. Conforme Campos nos diz em sua pesquisa,16 os alunos passavam do alfabeto à leitura do francês fluente, gramática latina e composição em latim, literatura grega, leitura de porções do Novo Testamento grego, juntamente com noções de retórica e dialética, com base nos textos clássicos. Não é sem razão que, diante da sua capacitação no latim, se dizia que meninos de Genebra falavam como os doutores da Sorbonne.

O currículo da Academia enfocava não somente as artes e a teologia, como igualmente as ciências. Na mente do Reformador, não havia conflito entre fé e ciência na universidade. Ao contrário da visão educacional escolástica medieval, Calvino considerava que o estudo da ciência física tinha como propósito descobrir a natureza e seu funcionamento, pois Deus se revelava à humanidade por meio das coisas criadas, da natureza. Estudando o mundo, o ser humano acabaria por conhecer mais a Deus. A Academia veio a se tornar modelo para outras escolas da Europa.

A Reforma e a Educação

Os cristãos reformados, a exemplo de Calvino, dedicaram-se igualmente a promover a educação, as artes e as ciências. Nunca viram a fé cristã como inimiga do avanço do conhecimento científico e do saber humano.

Alister McGrath cita pesquisa feita por Alphonse de Candolle sobre a participação de membros estrangeiros na Academie des Sciences Parisiense, durante o período de 1666 a 1883, os primeiros séculos posteriores à Reforma protestante. Segundo McGrath, Candolle verificou que,

... os protestantes excediam em muito a quantidade de católicos. Tomando como base a população [de Paris], Candolle estimou que 60 por cento dos membros [da Academie] deveriam ter sido católicos, e 40 por cento, protestantes; as quantias reais acabaram por ser de 18,2 por cento e 81,8 por cento, respectivamente. Embora os calvinistas fossem consideravelmente uma minoria, na parte sul dos Países Baixos, durante o século 16, a vasta maioria dos cientistas naturais dessa região foi proveniente desse grupo.

A mesma pesquisa mostrou que, na composição primitiva da Royal Society de Londres, a maioria dos seus membros era composta por reformados. Tanto as ciências físicas quanto as biológicas eram fortemente influenciadas pelos calvinistas durante os séculos XVI e XVII. Todos esses pesquisadores e cientistas, por sua vez, haviam sido influenciados pela Reforma Protestante, especialmente pela obra de João Calvino.

Na área de educação, especificamente, destaca-se a obra de João Amós Comênio, um moraviano que recebeu alguma influência reformada em sua formação. Em 1611 ingressou na Universidade de Herborn, em Nassau, um dos centros de difusão da fé calvinista,19 sendo aluno do teólogo calvinista Johann H. Alsted (1588-1638). Em 1613 foi admitido na Universidade de Heidelberg (Alemanha), onde estudou teologia. Aqui também havia forte influência calvinista. Comênio ficou conhecido por sua obra Didática Magna, publicada há 300 anos. Produziu, além disso, uma obra vastíssima ligada especialmente à educação (mais de 140 tratados). Sua obra Didática Magna é considerada o primeiro tratado sistemático de pedagogia, de didática e de sociologia escolar. Nessa obra, Comenius defende que a educação, para ser completa, deve contemplar três áreas: instrução, virtude e piedade. Sua visão educacional, influenciada pela Reforma, atinge a dimensão intelectual, moral e espiritual do ser humano.

No período que antecedeu a Guerra Civil nos Estados Unidos, os Reformados que para lá tinham ido, partindo da Europa, haviam construído dezenas de colégios e universidades. E isso numa época de poucos recursos financeiros e econômicos.

Não podemos deixar de citar que muitas das maiores e melhores universidades do mundo foram fundadas por Reformados. A Universidade Livre de Amsterdam, por exemplo, uma das melhores do mundo, foi fundada em 1881 pelo reformado holandês Abraão Kuyper, que mais tarde se tornou Primeiro Ministro da Holanda. A princípio, a universidade era aberta somente para os cristãos reformados e era financiada por doações voluntárias. Mais tarde, em 1960, abriu-se ao público em geral e passou a ser financiada como as demais universidades holandesas, embora ainda retenha as suas tradições e valores reformados.

A Universidade de Princeton, também considerada uma das melhores do mundo, foi fundada em 1746 como Colégio de Nova Jersey. Seu fundador foi o Governador Jonathan Belcher, que era congregacional, atendendo ao pedido de homens presbiterianos que queriam promover a educação juntamente com a religião reformada. Atualmente, é reconhecida como uma das mais prestigiadas universidades do mundo, oferecendo diversos graus em graduação e pós-graduação, mais notavelmente o grau de Ph.D.. Está classificada como a melhor em muitas áreas, incluindo matemática, física e astronomia, economia, história e filosofia.

A conhecida Universidade de Harvard foi fundada em 1643 pelos reformados, apenas seis anos após a chegada deles na baía de Massachussets, nos Estados Unidos. Sua declaração da missão e do propósito da educação, sobre a qual Harvard foi erigida, foi redigida da seguinte maneira:

Cada estudante deve ser simplesmente instruído e intensamente impelido a considerar corretamente que o propósito principal de sua vida e de seus estudos é conhecer a Deus e a Jesus Cristo, que é a vida eterna, (João 17.3); consequentemente, colocar a Cristo na base é o único alicerce do conhecimento sadio e do aprendizado.

A Universidade de Yale, uma das mais antigas universidades dos Estados Unidos, foi fundada na década de 1640 por pastores reformados da recém formada colônia, que queriam preservar a tradição da educação cristã da Europa. Essa é a universidade americana que mais formou presidentes dos Estados Unidos. Em seu alvará de funcionamento concedido em 1701 se diz:

...que [nessa escola] os jovens sejam instruídos nas artes e nas ciências, e que através das bênçãos do Todo-Poderoso sejam capacitados para o serviço público, tanto na Igreja quanto no Estado.

Ainda hoje, nos Estados Unidos, existem centenas de escolas de ensino superior confessionais, associadas a instituições credenciadoras. No Brasil, os Reformados trouxeram importantes contribuições para a educação, com a fundação de escolas e universidades e a influência nos meios educacionais.

Em São Paulo, o Mackenzie é fruto da visão educacional dos reformadores. Fundado por missionários calvinistas, declara-se uma instituição de ensino orientada pelos valores e princípios da fé cristã reformada conforme encontrados na Bíblia. A identidade confessional do Mackenzie atravessou diversas fases em sua história, mas nunca foi deixada de lado ou negada. Hoje, o Estatuto e o Regimento que ordenam a existência e o funcionamento da Universidade deixam clara essa identidade. Como escola de origem reformada, o Mackenzie busca a excelência na educação e a formação integral de seus alunos, a partir de uma visão cristã de mundo. O excelente desempenho da Universidade e das Escolas Mackenzie nas avaliações oficiais, por si só, demonstra que é possível conciliar uma cosmovisão cristã com ensino de qualidade.

Conclusão

As iniciativas pioneiras de Calvino em Genebra na área da educação lhe valeram, conforme destaca o historiador Philip Schaff, o título de “fundador do sistema escolar comum”. O prédio “João Calvino”, situado na Rua da Consolação, onde funciona a alta administração do Mackenzie em seu campus Itambé, é um tributo à visão educacional do Reformador. Em sua principal entrada há uma placa bem visível a todos os que entram no Mackenzie, contendo palavras de Jesus que bem resumem essa visão: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Evangelho de João 8.32).

Augustus Nicodemus Lopes
Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Colaboram com o conteúdo dessa Carta:
Dr. Alderi Souza de Matos
Dr. Hermisten Costa Pereira
Ms. Franklin Ferreira
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terça-feira, fevereiro 10, 2009

Solano Portela

Cartas que a VEJA não publica...

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A revista VEJA desta semana (No. 2099, 11.02.09) trouxe matéria de capa em várias reportagens internas sobre darwinismo e a teoria da evolução (veja o hábil comentário do Michelson Borges, aqui). O magazine deu seguimento, assim, ao assunto trazido pelo Sr. André Petry no número anterior (vide item 12, no "Breve Histórico" do nosso post prévio - de 04.02.09). Na matéria do No. 2098 ("Lembra-te de Darwin"), o Sr. Petry me citou, em um contexto eivado de distorções e ironias, procurando apresentar criacionistas à luz do ridículo. Enviei correspondência à revista, procurando restaurar a verdade. Esperava-se publicação da carta nesse número, mas, mais uma vez, uma carta minha, reclamando contra a postura do jornalista, não foi publicada (vide ocasião anterior, aqui). Normalmente as principais matérias que suscitam "cartas ao leitor", tabuladas pela própria revista, são em número de 30 a 40 correspondências por matéria. Tragédias e fofocas ensejam mais cartas (Santa Catarina - 105 cartas; a entrevista de Suzana Vieira - 259). A coluna do Petry produziu 129 cartas (a matéria de capa - Robinho - teve apenas 38 cartas), das quais VEJA, neste número 2099, publicou 3: uma defendendo evolução, outra a favor do criacionismo - com uma fraca argumentação, e a última "em cima do muro" - dizendo, mais ou menos, "não sou parte deles, mas deixa o pessoal falar".

O critério de seletividade das correspondências, é uma caixa preta. Esperar-se-ia que, primariamente, o que foi citado, até em respeito ao direito de resposta, fosse ouvido; além disso, várias cartas pertinentes, das quais recebi algumas cópias, foram enviadas e recebidas em tempo hábil à publicação. É claro que a revista não quer questionamentos maiores aos seus colunistas e à sua linha editorial, preserva o monopólio do ataque, sem chance de defesa ou de esclarecimento.

Vou postar, abaixo, algumas dessas cartas não publicadas, começando com a minha, dando os nomes dos autores, mas omitindo os demais dados dos mesmos (documentos e endereços), por segurança:
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São Paulo, 02 de fevereiro de 2009

Senhores:

Fui citado na coluna do Sr. André Petry (“Lembra-te de Darwin” – No. 2098) por ter a educação de atendê-lo em um telefonema na sexta, 30.01.2009. O Sr. Petry é conhecido por sua aversão aos evangélicos (vide VEJA No. 2083, de 22.10.2008) e não perde a oportunidade de atacar mais uma vez a liberdade de expressão, distorcendo fatos nesse artigo. Mesmo sabendo da possibilidade que nada de objetivo e veraz iria vir de seus escritos, esclareci que o os Colégios Mackenzie ensinavam, sim, criacionismo, em paralelo ao evolucionismo e não acreditam em sonegar quaisquer ângulos do conhecimento aos seus alunos. Como instituições confessionais, estão abrigadas na Lei de Diretrizes e Bases e reforçam a pluralidade educacional brasileira, objetivada pela lei. Nada disso é novidade, o Mackenzie faz isso desde 1870, com um ensino pautado pelos princípios e valores das Escrituras Sagradas, contabilizando uma imensa contribuição à sociedade desde os tempos do império. Essa avidez pela excelência de ensino está sendo ampliada, nos últimos anos, com a produção de materiais didáticos próprios.

O Sr. Petry, que na ligação se dizia tão interessado na apuração dos fatos, preferiu me citar seletivamente, omitindo a cobertura global da questão das origens realizada pela Instituição. Além disso, revela sua deficiente pesquisa, não apontando que no próximo mês de abril o Mackenzie apresenta o 2º Simpósio Internacional sobre Darwinismo, ao qual estarão presentes, além de expoentes internacionais da séria escola do Design Inteligente, renomados evolucionistas. Com isso demonstra o acato à pluralidade de idéias e o estímulo ao debate construtivo e saudável, e não a caricatura mal feita que o articulista esboçou em sua coluna. O artigo está muito longe de ser jornalismo saudável e esclarecedor.

Prefere, o Sr. Petry, ridicularizar, classificando em irônica ilação como “macacos tolos” aos que procuram enxergar um pouco mais além e dar continuidade ao ímpeto investigativo. Nunca chamaríamos Darwin de tal, pois foi um ser humano com inteligência, criado à imagem e semelhança de Deus. Petry prefere que a comunidade acadêmica e científica permaneça acorrentada a postulados anacrônicos de 150 anos atrás. Quer o conforto da ignorância de uma era na qual ainda não existiam quaisquer pesquisas possíveis na área de microbiologia, as quais têm exposto um número nada desprezível de fragilidades na teoria da evolução. Demonstra sua ignorância dos diferentes pontos de vista que existem no campo criacionista, com sua definição simplista e monolítica, gerada por ele próprio, e que não foi obtida através desta fonte. Ridicularizar pessoas e instituições é o seu estilo. Pena que uma revista tão séria, como VEJA, que tantas informações valiosas nos fornece a cada semana, o acolha impunemente em suas páginas. Ele diz que o criacionismo assusta. Ter fé em Darwin é o seu direito. Ter carta branca para difamar, isso sim, é assustador.

Francisco Solano Portela Neto

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Prezados Editores de VEJA,

O texto da coluna de André Petry (Lembra-te de Darwin - Edição 2098 de 4 de fevereiro de 2009) é absurdo e incoerente. Fala em ciência, mas mostra pavor pela observação de um pensamento contraditório.

Fala em algo estabelecido, mas que há séculos (dois agora) nunca conquistou o posto de lei, pois ainda é mera teoria.

Fala em evolução, mas ainda fica preso aos métodos antigos de debater: com ironia, deboche, ataque pessoal e irrefletido, além de linguajar inaceitável para um jornalista que assina seu nome numa revista tão séria e respeitável com VEJA.

Samuel Gueiros Vitalino
Pastor da Igreja Presbiteriana de Teresina e Advogado

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Senhores:

“Se há dois lados nesta questão o lado certo só pode ser o meu!” eis o pensamento de alguém embrutecido e emburrecido, que se decidiu, por fé, aceitar os pressupostos darwinistas e rejeitar quem pense diferente. Sim, “Fé”, visto não serem possíveis prová-los em laboratório. É um homem de fé destilando seu preconceito religioso contra a fé dos outros. Pensa ele que é melhor do que a Bíblia, que, segundo ele, é “um livro de fábulas”. É sua forma de demonstrar todo seu desprezo, pelos diferentes dele, pelos milhões de cristãos deste país e mundo fora. É como se todos nós os cristãos fôssemos acéfalos, somente porque não professamos a mesma “fé darwnista” que ele.

Ele não tem estatura para enxergar do ponto de vista que muitos grandes e renomados cientistas cristãos conseguem ver, ainda que este ponto de vista seja percebido até por muitos de escolaridade primária. Também outros igualmente renomados cientistas, não cristãos, já fizeram e refizaram as contas e já perceberam que elas não fecham, e nunca irão fechar, ou seja, perceberam que os pressupostos são “anti-ciência” (Ciência: “vida gera vida semelhante com número limitado de variações” x Darwinismo: “Não vida gerou vida” e “transmutou-se em milhões de espécies” a despeito da ciência afirmar e provar o contrário conforme as “Leis de Mendell” como exemplo).

Estes propõem uma terceira via chamada “design inteligente”, ou seja, não crêem necessariamente no Deus da Bíblia, mas reconhecem os traços claros de uma criação inteligente e muito bem projetada, talvez por uma civilização superior que precedeu ao nosso universo, na especulação de alguns (para compatibilizarem-se com o óbvio).

Mas esse André Petry, emburrecido pelo seus preconceitos, destila impune suas maldades usando as páginas de VEJA, vendidas na sua maior parte para cristãos; destila suas maldades e tripudia sobre uma massa de pessoas pacíficas que pagam seu salário, para serem, em seguida, tão brutalmente desrespeitadas por ele.
Espero que esta conceituada revista tome as providências cabíveis para que se mantenha o padrão de honestidade e respeito perseguidos pelos seus editores e principais articulistas.

ASHBEL SIMONTON VASCONCELOS SOARES

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Srs. Editores:

As afirmações feitas pelo articulista André Petry, em seu artigo acerca do ensino do Criacionismo nas escolas confessionais, são evidência de seu despreparo ou de desonestidade intelectual. Isto porque jamais se apresentou, nas escolas confessionais, o Criacionismo como ciência, tampouco que os seres vivos foram criados há 6000 anos, como ele categórica mas falsamente afirma acontecer. Contrapor crença e superstição a razão e ciência, como faz Petry, é, isso sim, procurar confundir. Crença e superstição, deveria saber Petry, não andam lado a lado e não se confundem.

Finalmente, Petry socorre-se de decisões do diretor de educação (quem?!) da Royal Society e da Suprema Corte americana. Não o faz, contudo, quando o tema é a redução da maioridade penal no Brasil, a respeito do qual ele tem opinião contrária (VEJA, ed 1.966), a despeito das posições das Supremas Cortes ameriacana e inglesa, onde a maioridade penal não está definida mas decorre da capacidade de compreensão do delito cometido pelo infrator. Assim, Petry permite-nos concluir que as decisões daquela Corte somente têm valor quando estão de acordo com seu pensamento.

Jefferson Albuquerque (Assinante)
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Senhores:

Gostaria de fazer algumas perguntas:
1) Dado que o cálculo de seis mil anos para a idade da Terra foi fundamentado nos estudos criacionistas do judaísmo, por que vocês não criticam as escolas confessionais judaicas, que semelhantemente às evangélicas ensinam a visão bíblica da criação, aliás, ensinam a mesma quantidade de anos?

2) Será porque o financiamento dos principais veículos de comunicação mundiais são judeus, e habilmente vocês não querem "fechar a porta"?

3) O que precede à criação de uma célula: a informação ou o material?A própria revista registra que as escolas adventistas estão entre as melhores nos rankings do MEC. E os cursos do Mackenzie estão entre os mais bem avaliados do País. Pelo visto se embrutecer tem suas vantagens.

Daladier Lima dos Santos
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Fica a pergunta: quantas, das 129 cartas, não carregariam palavras de protesto e teriam conteúdo semelhante?

Solano Portela
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quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Solano Portela

Criacionismo nas Escolas? Breve Histórico da Controvérsia Recente e uma Posição Pessoal

A. Breve histórico da Controvérsia Recente (Cansado de tanta história? pule para a parte "B", do post):

1. Em novembro de 2008 o jornalista Marcelo Leite, da Folha de São Paulo, procurou o Mackenzie após tomar conhecimento que livros do Sistema Mackenzie de Ensino (SME) continham referências ao Criador e à Criação, ou seja: ensinavam o criacionismo. Ele fez entrevistas com o Rev. Dr. Augustus Nicodemus (como Chanceler da instituição), com o Rev. Dr. Mauro Meister (o assessor teológico-filosófico do programa), e com o Diretor de Ensino e Desenvolvimento da instituição, que dirige, entre outras coisas, os Colégios Presbiterianos Mackenzie (São Paulo, Tamboré e Brasília) e o SME.

2. O jornalista Marcelo Leite publicou o seu artigo, no domingo 30.11.2008, retratando aproximadamente o que ocorre, mas com a usual tendência de ridicularizar e distorcer quem não reza pela cartilha evolucionista.

3. O artigo teve uma repercussão bem acima da média e o seu blog, geralmente com 4 a 5 comentários por artigo, após a publicação deste artigo, ultrapassou 150 comentários, em duas semanas. A maioria destes, como se espera, fazendo coro no ataque ao criacionismo. Alguns outros, muito bons, em defesa do ensino. Vários pastores presbiterianos postaram comentários, naquela ocasião.

4. Nas duas semanas subsequentes, entre 01 a 12.12.2008 a Folha de São Paulo não passou um dia sem que o assunto “criacionismo” deixasse de freqüentar a coluna de carta dos leitores (Painel do Leitor). Isso despertou o interesse do restante da Mídia e da própria Folha, para continuidade da abordagem.

5. A Folha abordou o Dr. Christiano Silva Neto, conhecido criacionista, para que escrevesse uma posição a favor do criacionismo, colocando na mesma página outra posição contra, do evolucionista da Universidade Federal da Bahia, Charbel Niño El-Hani. Esses dois artigos foram publicados no sábado 06.12.2008, gerando ainda mais cartas sobre o tema.

6. O jornal O Estado de São Paulo fez, então, igual abordagem e entrevista e publicou, no caderno “Educação”, em 08.12.2008, uma reportagem sobre criacionismo nas escolas, dando a posição do Colégio Batista de São Paulo, do Mackenzie e de Colégios Adventistas. Essa reportagem ressaltou que nas escolas católicas “não há conflitos entre fé e teoria evolucionista”.

7. Essas notícias foram debatidas em vários BLOGS, como no do Mestre Enézio de Almeida Filho e no do conhecido Jornalista Reinaldo Azevedo.

8. Em 10.12.2008 a Globo News esteve no Mackenzie, com suas câmeras, repórteres, etc., e entrevistaram os Drs. Mauro Meister e Augustus Nicodemus, bem como a Diretora do Colégio de São Paulo, e coordenadora do SME, Profa. Débora Muniz. Os programas resultantes dessas gravações estão sendo levados ao ar em quatro segmentos neste mês de fevereiro de 2009 (veja links, datas e horários, nos comentários a esse post).

9. Em 13.12.2008, a Folha de São Paulo, na página C-4, publicou mais uma reportagem de página inteira. Nela, o Mackenzie é mencionado nominalmente, contrapondo a instituição ao Ministério da Educação, com várias provocações. Fotos mostraram a entrada e nome do Colégio Presbiteriano Mackenzie, o livro de Ciências, etc. A manchete tentava colocar o MEC em oposição ao ensino do criacionismo, mas a reportagem não conseguiu qualquer pronunciamento oficial do órgão. As escolas que assim ensinam operam dentro da perfeita legalidade, mui especialmente as instituição confessional, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases, em seu artigo 20. Este especifica a existência da escola confessional, assegurando assim a “pluralidade de visões” no cenário educacional brasileiro.

10. Em 14.12.2008, o jornal O Estado de São Paulo publicou uma entrevista/artigo, em destaque, com a Dra. Roseli Fischmann, professora laureada da USP, ex-professora do Mackenzie, na pg. J3. Ela disse que “Deus não freqüenta laboratório de ciência e pesquisador não é divindade”, por isso criacionismo não deveria ser ensinado. Ao posicionar-se contra o ensino do contraditório, ela se contradiz, pois colocou, sim, pesquisadores (ou pretensos) como divindades, com a palavra final, imutável e inquestionável. Esse artigo rendeu diversas "cartas de leitores" e até um editorial - do Jornal, que indicava a rejeição do criacionismo, mas apontava a legitimidade das escolas confessionais, na apresentação de suas convicções. Reinaldo Azevedo destroçou a posição da Roseli, em um post.

11. 2009, como ano em que se comemora 150 anos da publicação do livro a Origem das Espécies, de Darwin, trouxe renovado interesse sobre a questão e várias solicitações de entrevistas, nas escolas confessionais, por órgãos de imprensa.

12. Em 31.01.2009 começa a circular a VEJA No. 2098. Ela traz artigo ("Lembra-te de Darwin") do Sr. André Petry, conhecido por suas posições beligerantemente anti-evangélicas, atacando o criacionismo, ao qual chama de retrocesso, dizendo-se "assustado" com o ensino desse. O artigo provoca reações, mais uma vez, em vários blogs. Muitos a favor, divulgando-o, outros, contra.
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B. Entrevista dada a órgão evangélico de imprensa denominacional (Janeiro de 2009). A seguir, apresento as perguntas formuladas por uma jornalista e as respostas que dei sobre o assunto do ensino do criacionismo em escolas confessionais:

1 - P: É sabido que aula de ciências é aula de ciências e que aula de religião é aula de religião. Mas, na prática, principalmente nas escolas confessionais, as duas "matérias" parecem apontar para uma única direção, que é a do criacionismo. Em se tratando de uma sociedade democrática, não seria mais correto apresentar as duas teorias (criacionismo e evolucionismo) e deixar que, com base na fé e na razão, os alunos escolham qual delas lhes parece mais convincente?
R: É exatamente essa perspectiva ampla, de que existem alternativas de pensamento, que se procura oferecer com o ensino do criacionismo. Há mais de um século que o evolucionismo tem sido apresentado de forma monolítica, não apenas como uma teoria, mas como fato comprovado. Sob o suposto manto de “ciência objetiva”, a academia tem impedido que se mostrem as alternativas interpretativas aos achados da Ciência. Na aula de religião, em uma escola cristã, ensina-se sobre Deus, sobre seus feitos, sobre as implicações de sua existência na vida pessoal, no caráter, no convívio, nas ações. Nas demais matérias, e não é só em Ciências, uma escola Cristã deveria partir do pressuposto de que Deus existe. Essa é uma realidade básica que não deve ser sonegada aos alunos, pois partindo dela eles estão sendo realmente educados e não enganados em uma falsa realidade. Semelhantemente, a “escola secular” não é “neutra”. Ela parte, sim, do pressuposto naturalista de que Deus não existe, ou de que ele é irrelevante ao que está sendo ensinado. A partir disso ela constrói a sua cosmovisão, na qual o homem reina supremo e Deus é o grande ausente. O Deus compartimentalizado à aula de religião, não é o Deus da Bíblia, que interage com a criação. Isso não significa que se ensine religião, na aula de ciência. A ciência explora a natureza, atesta e é construída em cima de regularidades físicas e químicas, chamadas de “leis”, de um universo harmônico que procede de Deus. Estudar ciência nesse contexto, faz muita diferença positiva. Os alunos esperam regularidade, não se surpreendem ou se intrigam com ela. Aprendem, também, a separar os fenômenos repetíveis e verificáveis em laboratório, das ilações filosóficas e meramente interpretativas relacionadas com a origem da matéria, dos seres vivos e da própria humanidade. Por último, as escolas confessionais, ensinam, sim, o evolucionismo, com o qualificativo que é a teoria mais aceita no mundo científico e preparam seus alunos adequadamente para estarem versados sobre ela, ainda que com o qualificativo de que não confundam teoria com fatos.

2 - P: Evolucionistas e criacionistas concordam em alguma coisa? No quê?
R: Concordam. Os evolucionistas examinam as diversas espécies de seres vivos, incluindo o homem, e discernem algum paralelismo estrutural nelas. Chegam à conclusão de que descendem, portanto de um ancestral comum. Os criacionistas verificam que existe, sim, paralelismo estrutural em grande parte da criação. Conjugam isso com a verdade bíblica da existência de um Criador – ou seja, em vez de um ancestral comum, temos um Criador comum, com um plano mestre, que criou as espécies. Há concordância, portanto, na primeira parte da avaliação da natureza. É importante ressaltar que dentro do criacionismo existe uma diversidade de opiniões sobre o desenvolvimento e o tempo a partir da criação, mas o ponto comum é a crença no Deus Criador.

3 - P: Qual a orientação das escolas presbiterianas com relação ao ensino do criacionismo e do evolucionismo?
R: O criacionismo faz parte da cosmovisão cristã. A existência do Deus Criador é substanciada na Palavra de Deus, faz parte dos documentos históricos doutrinários da Igreja Presbiteriana (seus “Símbolos de Fé”). Para serem coerentes, as escolas presbiterianas não deveriam se furtar ao ensino do criacionismo. Ao mesmo tempo, como já afirmamos, é necessário ensinar aos alunos o que diz a teoria da evolução, pois ela faz parte do sistema que nos cerca e no qual estamos inseridos.

4 - P: Os evolucionistas defendem que o evolucionismo é derivado de uma teoria científica consagrada e amplamente comprovada em diversos setores da biologia e antropologia, que ele é um dos pilares das conquistas científicas modernas e que, por conta disto, deve ser ensinado nas escolas. Para eles o criacionismo não passa de uma hipótese, sem bases científicas que comprovem a sua teoria. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
R: O evolucionismo está muito mais para filosofia, do que para ciência verdadeira. Achar que só essa idéia encontra abrigo legítimo em aula de ciência é um grande erro, especialmente nas últimas décadas, onde grandes descobertas da micro-biologia apontam para falhas gritantes na teoria da evolução. Um grande número de cientistas tem abraçado a idéia do Intelligent Design (aportuguesado, no Brasil, para design inteligente). O surpreendente é que vários desses não são cristãos; uma grande parte é até evolucionista em alguns pontos. No entanto têm enxergado que a teoria de Darwin tem lacunas e falhas enormes. Foi formulada, e permanece quase com a sua estrutura original, em época onda nem havia a instrumentação, nem as condições para o desenvolvimento da micro-biologia. O olhar de Darwin era para as coisas externas; o olhar da ciência biológica das décadas passadas, é para as estruturas internas. Elas se apresentam cada vez mais complexas do que se imaginava anteriormente e, ao mesmo, tempo, mais regulares na codificação que aponta para uma inteligência, em sua formação. É incrível como alguns autores, supostamente científicos, como o jornalista Marcelo Leite (Folha de São Paulo, 30.12.2008, no Caderno +!) dizem, sobre o DNA, que “Os primeiros seres vivos da Terra ‘inventaram’ essa maneira de transmitir caracterís­ticas de uma geração a outra, há cerca de 4 bilhões de anos, e ela se perpetuou desde então”! Ou seja, para o evolucionista, é mais fácil acreditar nessa falácia, do que na existência de um Criador Inteligente. Persistir somente com o ensino do evolucionismo, cerrando os olhos, os ouvidos e a boca às outras evidências, é um grande erro, é deseducar.

5 - P: O senhor acha que, um dia, essa discussão sobre "quem tem razão" a respeito da criação do mundo terá fim?
R: Para quem aceita a Palavra de Deus como escritura inspirada, proveniente do próprio Deus, através de autores humanos que foram preservados de erro, em seus registros, a questão já deveria estar resolvida. Deus criou, e ponto final. Para o homem natural, que não aceita a revelação de Deus, ele sempre estará a procura de explicações que excluam o próprio Deus da equação. Como ele teima em viver em metade da realidade, as suas equações sempre terão mais incógnitas do que sua capacidade de resolvê-las. Creio que a ciência irá descobrindo, mais e mais, evidências que dificultarão a ampla aceitação da evolução, como já é visto nos dias de hoje.

6 - P: Qual o papel do educador cristão diante dessas teorias?
R: O educador cristão luta com muitas dificuldades. Uma delas é a carência de material didático. É exatamente isso o que está se procurando suprir com o Sistema Mackenzie de Ensino que tem sido desenvolvido, no Mackenzie, desde 2005. Em 2009, os livros atingirão já o 5º. ano do ensino fundamental, começando com a pré-escola (Maternal, Jardim I e Jardim II). O material de ciências é uma “joint venture” com a ACSI (Associação Internacional de Escolas Cristãs) que foi traduzido e adaptado para as condições brasileiras. Os demais livros e matérias, também refletem a realidade de Deus; partem da pressuposição da divindade e não escondem essa verdade das crianças; mostram a diferença entre os sexos, a partir da criação; defendem o valor da família, e vários outros pilares que hoje são execrados e contestados pela sociedade pagã. A outra dificuldade, é a pressão para respeitabilidade social e corporativa. Eles são pressionados a aceitar a evolução, pois “todos pensam assim”. É preciso coragem e a percepção de que abraçar o criacionismo, nada mais é do que levar a Bíblia a sério e aplicar as verdades da Palavra ao todo da nossa vida. Quando ele encontra uma escola que dá o respaldo institucional a essa postura, obtém uma possibilidade de trabalho consciente e de realização pessoal, educando no sentido real do termo.
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Solano Portela
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sexta-feira, janeiro 30, 2009

Augustus Nicodemus Lopes

Vem aí o II Simpósio sobre Darwinismo no Mackenzie

Por     36 comentários:

Vai acontecer no Mackenzie em abril desse ano.

A realização da segunda edição do Simpósio Internacional “Darwinismo Hoje” se justifica, não somente por causa do 150º. aniversário da publicação do livro de Darwin “A Origem das Espécies” em 2009, como também por causa do sucesso do I Simpósio.

Realizado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com o objetivo de promover um amplo debate sobre as interpretações do Darwinismo, do Design Inteligente e do criacionismo, o I Simpósio atraiu a atenção da mídia, dos estudiosos do assunto e de todos os interessados em questões como a origem da vida e o seu funcionamento.

O II Simpósio trata basicamente dos mesmos temas, mas avança um pouco, ao ampliar o número de palestrantes e debatedores representantes do Darwinismo, do Design inteligente e do criacionismo. Dessa forma, o Mackenzie procura manter o espírito da Academia como o local adequado para o debate, para o contraditório.

Não se pode mais, diante do avanço científico e das recentes descobertas da bioquímica, insistir-se numa única teoria como a explicação exclusiva da realidade. É necessário que todas as vozes sejam ouvidas nessas questões fundamentais, que tocam praticamente em todas as áreas do conhecimento e nos mais diversos setores da nossa vida.

O evento realizar-se-á nos dias 13 a 16 de abril de 2009, nos campi São Paulo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

As inscrições para participação estarão abertas a partir de 20/01/2009 até a data do Evento. Os participantes receberão certificados de participação

Detalhes e inscrições aqui.

Vejam algumas das palestras:

- Dr. John Lennox (Design Inteligente): “A Origem da Vida e os Novos Ateus”.

- Dr. Aldo Mellender (evolucionismo): “Darwin Ontem e Hoje – 150 anos de Origem das espécies”.

- Dr. Paul Nelson (Design Inteligente): “A Árvore da Vida de Darwin”.

- Dr. Gustavo Caponi (Evolucionismo): “A Origem das Espécies – O livro”.

- Dr. Marcos Eberlin (Design Inteligente): “Fomos Planejados – A maior descoberta de todos os tempos”.

- Jornalista Maurício Tuffani – “Tendências da Mídia quanto ao ensino de Design Inteligente nas Escolas e Universidades Públicas e Privadas”.

- Ms. Adauto J. B. Lourenço – “Criacionismo”.

Todos os palestrantes são nomes de peso aqui e no exterior. Entre eles destacamos Dr. John Lennox, professor de matemática na Universidade de Oxford, que se tornou conhecido pelos debates com ateus famosos, como Richard Dawkins. Veja no Youtube vídeos desses debates (foto).

O II Simpósio promete receber atenção da grande mídia por causa do "ano de Darwin" e por causa da polêmica sobre o ensino de criacionismo nas escolas confessionais acontecido no final do ano passado.
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quinta-feira, janeiro 15, 2009

Solano Portela

Um cachorro atrapalhado que desperta valores cristãos – Marley e Eu

Marley e Eu (Marley and Me) é filme recente lançado simultaneamente em vários países na virada do ano 2008-2009. Deverá estar disponível em DVD em junho de 2009. O filme traz os conhecidos rostos de Owen Wilson e Jennifer Aniston e uma história que prende o interesse do começo ao fim. É baseado em fatos reais, originalmente narrados por John Grogan, personagem no filme e na vida real, em seu primeiro livro (2005) do mesmo nome do filme, que rapidamente virou best-seller nos Estados Unidos. Ele apresenta o relato de dois jornalistas, recém-casados e recém-chegados à Flórida. Eles constroem suas vidas profissionais e como casal, enfrentando positivamente as incertezas e lutas da jornada, com muito amor e fidelidade, enquanto vivenciam o crescimento da família com a chegada dos filhos.

Não é filme evangélico, mas nessa era, em que os valores cristãos são sistematicamente desrespeitados ou apresentados como ultrapassados e anacrônicos, o filme vem como uma lufada de ar fresco em um mundo saturado pelo ar estagnado da morte intelectual e moral. O elo de ligação da história é o cachorro do casal: Marley; no entanto, a narrativa transcende os episódios decididamente engraçados e bem humorados vividos pelo enorme animal. Com sua postura atrapalhada e incorrigível, Marley tanto traz alegria, como muita confusão e problemas ao jovem casal. Os filhos vão chegando e com eles maior complexidade à vida de cada um, mas o desenrolar da história vai se ancorando em princípios que realmente resultam em casamentos estáveis e na felicidade dos cônjuges. Não quero dar os detalhes da história, nem revelar o que acontece, mas destaco os seguintes pontos positivos, que podem tanto servir de exemplo para jovens, como também para reuniões de casais, que fariam bem vendo e discutindo os temas, conforme eles vão transparecendo no filme:

1. Há felicidade real no casamento – Grogan não tem uma vida profissional bem resolvida. Semelhantemente a uma enorme maioria das pessoas, o que realmente ele gosta de fazer, não é o que faz. As oportunidades são paralelas, mas não exatas às projeções feitas por ele mesmo, ou por sua esposa. Ele tem que aprender a viver com os caminhos misteriosos que Deus descortina à nossa vida. No entanto, no casamento os dois se apóiam mutuamente. Discutem as questões, procuram agradar um ao outro. Demonstram amor real. Por vezes sacrificam-se um pelo outro, em um reflexo do verdadeiro amor registrado em 1 Coríntios 13.5: o amor “não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal”. Grogan tem um amigo, desde a universidade, colega de profissão; o Sebastian. Contrastando com a estabilidade matrimonial de Grogan seu amigo é o que se chama comumente de “solteiro inveterado”. Aquela categoria que, aparentemente, goza de liberdade e está sempre pulando de um relacionamento a outro. Se tivermos a percepção aguçada, entretanto, veremos que essa suposta felicidade cobra o pedágio da solidão, da impropriedade e da sonegação de todos os benefícios trazidos com a responsabilidade bíblica do casamento. Basta observar o avançar dos anos e o aprofundamento do relacionamento do casal, contrastando com o insucesso do Sebastian na manutenção de um relacionamento real, intencionado por Deus, quando fez “dois em uma só carne”.

2. O tratamento dos animais é revelador do caráter das pessoas – Provérbios 12.10 diz: “O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel”. O filme apresenta o cuidado e carinho com o Marley, animal de estimação escolhido pelos dois. O cachorro serve como professor involuntário de paciência, determinação, devoção, reconhecimento e abnegação, para o casal e, depois, aos filhos. Ou talvez um animal de estimação desperte essas características das pessoas, formadas à imagem e semelhança de Deus, que se encontram obscurecidas pelo pecado. Mas temos de reconhecer que mesmo os descrentes são possibilitados pela Graça Comum de Deus a terem esses sentimentos e de demonstrarem traços de caráter que emulam os ideais bíblicos comportamentais. Se é assim com os que não temem a Deus, quanto mais nós, cristãos, deveríamos demonstrar esse exemplo de caráter, em nossas vidas, conhecedores que somos “das coisas do Espírito”. Realmente, é inegável que a Palavra indica que o tratamento dos animais revela a índole das pessoas. Jacó, na ocasião de sua morte, ao avaliar os seus filhos (Gn 49.5 e 6), fala contra Simeão e Levi que, em “sua vontade perversa” mutilaram touros com suas espadas. Jacó os caracteriza como violentos e furiosos.

3. A fidelidade é demandada, no casamento – esse é o projeto divino (Mateus 19.3-11). O casal do filme enfrenta fases serenas e fases difíceis. Tempos de bonança e ocasiões de tempestades. No entanto há um vínculo de fidelidade que faz com que o mero pensamento de quebra dos laços matrimoniais seja algo rejeitado de imediato, quando sugerido, pelo amigo “solteirão”. Do lado da esposa, a reflexão séria afasta qualquer intenção de abandono do lar.

4. Os filhos são uma bênção, no lar – Esse é um princípio encontrado em diversos trechos das Escrituras, como no Salmo 127.3: “Herança do Senhor são os filhos”. O casal do filme inicialmente protela ter filhos, mas logo fica evidente que algo está faltando na família. Cada filho chega com suas dificuldades, e dando muito trabalho; mas a bênção de cada um vai ficando evidente no desenrolar da história. Os comentários e conselhos que o casal recebe, revela, também, como os filhos representam, realmente, uma dádiva ao casamento, mesmo por aqueles que menosprezam o valor de sua própria prole.

Não quero dar a impressão que o filme, sobre um animal de estimação, é um manual conjugal. É simplesmente uma ocasião de diversão, com muito humor, muitas risadas, muita alegria; mas igualmente com muita seriedade e sempre sobre um pano de fundo de um casamento estável, valorizado e feliz. Muitos terapeutas têm escrito sobre a validade dos animais de estimação, até porque desviam a atenção das crianças delas próprias e possibilitam que se concentrem também no bem estar de uma criatura que passa a depender delas (e da família) para o seu cuidado e bem estar. O filme mostra esse ponto, também.

A história é contada com muita competência, sem cenas melosas ou piegas demais; com bastante ação e movimentação. O fato do filme estar baseado em uma história real, para mim, despertou maior interesse. Verifiquei, também, como é importante o registro da história da família, como fez Grogan, ainda que motivado por razões profissionais (era jornalista, e crônicas eram a sua função), mas tais registros foram servindo de referenciais à família e, principalmente, aos filhos. Hoje em dia, damos pouca importância aos registros da nossa história, mas esses servem muito ao proveito dos nossos próprios familiares, e isso fica evidente, no filme. Recomendo que o assistam. Não é necessariamente um filme para crianças. Mesmo sem cenas de sexo, há momentos da intimidade do casal que são mais adequados a adolescentes maduros ou para os adultos. Ah, ia esquecendo! Prepare o lenço, pois a dose de emoção, especialmente para quem já teve algum animal de estimação, que pode ter diversas memórias despertadas, é bastante intenso e profundo. Em paralelo às risadas, as lágrimas, com certeza, vão aflorar em diversos momentos. Na realidade, uma espectadora (notem o gênero), uma fila à frente, chegou a soluçar audivelmente, quem sabe, lembrando algum animalzinho de estimação em sua vida!
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quinta-feira, janeiro 08, 2009

Augustus Nicodemus Lopes

Relativismo, Certeza e Agnosticismo em Teologia

Por     53 comentários:

[a ser publicado no site da Editora Mundo Cristão]

Tenho sempre me deparado com pastores e teólogos que acreditam que teologia boa é só aquela que está sendo feita agora. Recentemente encontrei mais um desses. Chamou-me de fundamentalista porque eu acredito que existe teologia certa e teologia errada, e porque incluo na primeira categoria os antigos credos cristãos e as confissões reformadas. Ensinou-me com aquela pachorra típica de quem é iluminado e se depara com um pobre fundamentalista obscurantista e tapado, que “a teologia é apenas um construto humano, limitado, provisório, subjetivo, que tem que ser feito por cada geração, pois não atende mais as necessidades da próxima”.

Era óbvio que eu estava diante, mais uma vez, daquela cena hilária em que o relativista declara com toda autoridade e convicção que “não existe verdade absoluta, tudo é relativo”.

Vamos supor, ainda que por um momento, que esses teólogos – nem sei em que categoria enquadrá-los, pois nem liberais eles são (os liberais de verdade acreditavam em certo e errado) – estejam certos. Que cada geração entende Deus, a Bíblia e as grandes verdades do Cristianismo de uma maneira totalmente diferente de outra geração e de pessoas de outra cultura, a ponto de não podermos adotar as suas reflexões teológicas como verdadeiras e válidas para a nossa geração. Se levada às últimas conseqüências, essa perspectiva sobre a teologia criaria uma série de problemas, inclusive para os que a defendem.


1) Vamos começar pelo fato que cada nova geração teria de definir, de novo, o que é o Cristianismo. Explico. O Cristianismo, enquanto religião, foi definido e os seus limites estabelecidos durante os primeiros séculos depois de Cristo, quando os primeiros cristãos foram confrontados com explicações diferentes, contraditórias e alternativas da mensagem de Jesus e dos apóstolos, como o montanismo, as idéias de Marcião, os gnósticos, os docetistas e os ebionitas, para mencionar alguns.

Os grandes credos ecumênicos da Cristandade estabelecidos nas gerações posteriores nos deram de forma sintetizada a doutrina de Cristo, da Trindade, entre outras, as quais o Cristianismo histórico adota até hoje. A seguir o que esse pastor estava me dizendo, teríamos de jogar tudo isso fora e recomeçar, refazer, redefinir o Cristianismo a partir da nossa própria situação.

2) A segunda dificuldade é que essa perspectiva acaba pegando mal para seus próprios defensores. Pergunto: o que eles têm descoberto e oferecido mais recentemente que seja novo acerca do ser e das obras de Deus, da pessoa de Cristo e de sua morte e ressurreição? Quando não caem nas antigas heresias, repetem simplesmente o que já foi dito por outros em tempos passados. A “nova perspectiva sobre Paulo” não deixa de ser uma antiga perspectiva sobre o judaísmo. A nova “busca do Jesus histórico” não tem conseguido oferecer nenhuma reconstrução do Jesus da história que esteja em harmonia com o quadro dele que temos nos evangelhos. A teologia relacional não consegue ir adiante do Deus sociniano, que também desconhecia o futuro.

3) A terceira dificuldade é que essa perspectiva realmente acaba com a distinção entre teologia certa e teologia errada e anistia todas as heresias já surgidas na história da Igreja. Vamos tomar, por exemplo, a área de soteriologia, que trata da questão da salvação do homem. A doutrina de que o homem é justificado pela fé somente, sem as obras ou méritos humanos, foi estabelecida cedo na Igreja cristã e reafirmada na Reforma protestante. Depois de tantos séculos, nossos teólogos progressistas (ainda não gosto desse rótulo, vou acabar achando outro) têm algo de novo para nos dizer sobre esse ponto? Os que tentaram, caíram nas antigas heresias soteriológicas já discutidas e refutadas ad nauseam pelos Pais da Igreja e pelos Reformadores.

Não me entendam mal. Eu também acredito que a teologia é um construto humano, e como tal, imperfeito, incompleto e certamente relativo. Estou longe de adotar para com a teologia reformada uma postura similar àquela que considera a tradição aristotélica-tomista como a filosofia e/ou teologia “perene”. Eu também considero que a teologia é fruto da reflexão humana e, portanto, sempre sujeita às vulnerabilidades de nossa natureza humana decaída. Mas não ao ponto de não poder refletir com uma medida de veracidade e fidelidade a revelação de Deus nas Escrituras. O problema com essa postura relativista é que ela desistiu completamente da verdade. É agnóstica. Eu creio que a teologia, se feita “levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2Co 10.5), se for fiel à revelação bíblica, produzirá sínteses confiáveis que podem servir de referencial para as igrejas de todas as gerações, conforme, aliás, as confissões reformadas elaboradas nos sec. XVI e XVII vêm fazendo há alguns séculos.

Mas, os teólogos relativistas acreditam em que? Em tudo e, portanto, em nada. Eles tentam manter tudo fluido, em permanente devir, sempre abertos para todas as possibilidades. Mas, nesse caso, não teriam que, forçados pela própria lógica, de aceitar também a teologia conservadora como uma teologia legítima? Mas é aqui que a lógica relativista se quebra. Pois para eles, todas as opiniões estão corretas – menos aquela dos conservadores.

Um amigo meu que é teólogo me disse outro dia numa conversa, “a verdade é absoluta, mas minha percepção dela é sempre relativa”. Até hoje estou intrigado com essa declaração. Eu o conheço o suficiente para saber que ele não é relativista. Sou obrigado a reconhecer, por força do conhecimento da minha própria limitação e subjetividade, que ele está certo quanto à relatividade da nossa percepção teológica.


Mas, por outro lado, reluto em aceitar as conseqüências plenas dessa declaração. Primeiro, como podemos falar de verdade absoluta, se é que sempre temos uma percepção relativa dela? Se existe verdade absoluta, não seria teoricamente possível conhecê-la como tal? Segundo, porque embora pareça humildade, admitir o caráter sempre relativo da nossa percepção implica em admitir que ninguém tem a verdade, o que acaba com a possibilidade do certo e do errado, do verdadeiro e do falso como conceitos públicos, transformando cada indivíduo, ao final, no referencial último dessas coisas. Será que não poderíamos dizer que nós, mesmo enviesados por nossos pressupostos e preconceitos (horizontes), ainda somos capazes, em virtude na nossa humanidade básica compartilhada com as pessoas de todas as épocas – para não mencionar a graça comum e a ação do Espírito Santo –, de perceber a verdade da mesma forma que outras pessoas a perceberam em outros tempos e em outros lugares?

Aqui as palavras de Anthony Thiselton são pertinentes:

"O que será da ética cristã se adotarmos uma perspectiva relativista da natureza humana? Se a experiência da dor, do sofrimento e da cura no mundo antigo não tem qualquer continuidade com qualquer conceito moderno, o que poderemos dizer acerca do amor, auto-sacrifício, santidade, fé, pecado, rebelião, etc.? Ninguém num departamento de línguas clássicas, literatura ou filosofia de uma universidade aceitaria as implicações de um relativismo tão radical. Nada poderíamos aprender sobre a vida, o pensamento, ou ética, dos escritores que viveram em culturas antigas. Com certeza, nenhum estudioso, se pressionado com essas implicações, defenderia até o fim esse tipo de relativismo".[1]

4) Uma última dificuldade que desejo mencionar é que essa visão, se levada às últimas conseqüências, acaba nos privando da Bíblia. Vejamos. Quem defende essa visão (há exceções, eu sei) geralmente tem dificuldades em aceitar que as Escrituras do Antigo Testamento e Novo Testamento foram dadas por inspiração divina e são, portanto, infalíveis. Nessa lógica, as Escrituras são apenas a reflexão teológica de Israel e da Igreja cristã primitiva. Consideremos as cartas de Paulo. Elas são a teologia do apóstolo, resultado da aplicação que ele fazia das boas novas às situações novas das igrejas nascentes no mundo helênico. Para ser coerente, quem defende que toda teologia é relativa, imperfeita e subjetiva, e que é válida somente dentro dos limites da cultura e da geração em que foi produzida, não poderia aceitar para hoje a teologia de Paulo, a de Pedro, a de João, a de Isaías. Teria de rejeitar as Escrituras como um todo, pois elas são a teologia de Israel e da Igreja, elaboradas em uma época e em uma cultura completamente diferente da nossa.

Para dizer a verdade, há quem faça isso mesmo. Os antigos liberais faziam. Para eles, a Bíblia nada mais era que a teologia (ultrapassada) dos seus autores. O Cristianismo se reduzia a valores éticos e morais, que eram as únicas coisas permanentes nesse mundo. Eu admiro e respeito os antigos liberais. Os de hoje, precisariam assumir o discurso relativista e levá-lo às últimas conseqüências. Pode ser que não conseguiriam absolutamente nada com isso, como acho que não vão conseguir. Mas, pelo menos, teriam o meu respeito – se é que isso vale alguma coisa.

[1] THISELTON, Anthony C., The Two Horizons: New Testament Hermeneutics and Philosophical Description (Grand Rapids: Eerdmans, 1980).
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quarta-feira, dezembro 31, 2008

Solano Portela

Feliz 2009!

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Queridos amigos e leitores do Tempora-Mores:


Parece que estamos sem muita inspiração para escrever um post de Ano Novo que exija concentração e disposição mental acima do nível mínimo requerido para passarmos esses dias de "folga", no final de 2008. Solano, Mauro e eu estamos de recesso do trabalho. Solano e eu estamos em casa, e Mauro viajou. Eu estou aproveitando esses dias para ajeitar um monte de coisas, totalmente a serviço da patroa, para curtir minha Harley-Davidson em passeios curtinhos com os filhos, e trabalhar em vários artigos e projetos que estão bem atrasados. Solano me informa que está procurando organizar-se para o novo ano, colocando o sono em dia e, para variar, escrevendo alguns artigos atrasados. Mauro está correndo entre shopping-centers, reuniões de presbitérios, sempre carregando o computador para não deixar de entregar um importante artigo (já atrasado, também) da FIDES Reformata, que está em gestação, para o próximo número temático que será todo sobre Educação Escolar Cristã.


Na falta de inspiração da equipe, pensei em apenas agradecer a vocês por terem visitado nosso espaço em 2008, por comentarem nossos artigos e por discutirem bastante as idéias. Nosso contador de acessos indica quase meio milhão de acessos, desde o início do blog, há exatamente três anos, em dezembro de 2005, até hoje. Sem dúvida, esses "hits" foram bem alavancados durante o ano de 2008, em que o blog tornou-se mais conhecido.


Nossa gratidão a vocês pela leitura, pelas sugestões, pelas críticas, pelas contribuições, pela paciência com os autores, em várias ocasiões. Desejamos que a paz de Cristo reine em seus corações. Se Deus permitir, em 2009 continuaremos a publicar e discutir idéias nesse espaço.

Um grande abraço a todos e um feliz 2009.

Augustus (pelo "time")
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Estas foram nossas mensagens, na época de Natal e Ano Novo, em anos anteriores. Aos leitores recentes, visitem-nas e sintam-se igualmente cumprimentados:

1. 2005 - "O Verdadeiro Espírito do Natal" - Solano comenta, com algum humor, o protesto fictício de uns comerciantes que se insurgem contra aqueles que "insistem em tornar o Natal um feriado religioso..."

2. 2006 - "Não sou totalmente contra o Natal" - Augustus expressa a propriedade da celebração do Natal.

3. 2006 - "Calvino contra o Natal?" - Solano trata das recentes controvérsias que têm colocado cristãos contra o Natal, especialmente no campo reformado.

4. 2007 - "O Natal e os tesouros do Coração" - Mauro aponta o verdadeiro tesouro e o presente que conta, na celebração do Natal.
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quinta-feira, dezembro 11, 2008

Solano Portela

Genocídio Homossexual?

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A Folha de São Paulo, neste dia 09 de dezembro de 2008 traz uma carta, no “Painel do Leitor” discutindo notícias recentes sobre assassinatos de homossexuais em uma praça de São Paulo, que vêm sendo correntemente investigados pela polícia. Nela, o missivista fala de um “genocídio de homossexuais” que estaria ocorrendo no Brasil. Obviamente, como cristãos e cidadãos ordeiros dessa nação brasileira, somos contra qualquer assassinato. Acreditamos até que a punição corrente para esses crimes seja por demais suave, quando comparada com as determinações bíblicas que especificam a pena de morte para a retirada da vida de pessoas que são formadas à imagem e semelhança de Deus. No entanto, esse rótulo de “genocídio homossexual” é curioso, estranho e intrigante.

O autor da carta e da expressão é um militante da causa homossexual, de presença amiúde nas páginas dos jornais. Com um currículo impressionante, ele é Chefe do Departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia; membro da Comissão Nacional de Aids, do Ministério da Saúde (CNAIDS) e do Conselho Nacional de Combate à Discriminação do Ministério da Justiça. Para que não paire a falsa idéia de que ele é prestigiado apenas pelo presente governo, o Sr. Luiz Mott foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem do Rio Branco pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.

Ele é um dos principais promotores da chamada “lei contra a homofobia” (PLC 122/2006), que tramita no Senado Federal e que já foi alvo de alguns posts neste Blog (veja aqui, aqui e aqui). Promove, também, outras leis semelhantes que estão sendo aprovadas por municípios e estados desse nosso país. Uma das pérolas nauseabundas de sua lavra é um texto no qual coloca em dúvida a historicidade de Jesus, para, a seguir, afirmar que se há qualquer veracidade nos relatos bíblicos, o que sobressai é um Jesus que é sodomita ativo e um apóstolo João como um de seus amantes. Paro por aqui, sem entrar em detalhes mais obscuros e pornográficos de outros textos de sua autoria e promoção. Informo, em adição, que o Luiz Mott tem contestado algumas acusações que tem recebido, em vários blogs, nesta sua página.

Interessa-me, na realidade, analisar a sua expressão e a divulgação freqüente de que atravessamos um “genocídio homossexual” em nosso país. Uma das estatísticas mais utilizadas (faça uma pesquisa no Google) é a de que “a cada três dias um homossexual é assassinado no Brasil” (veja, por exemplo, aqui e aqui). Essa tem sido a principal bandeira para promover o malfadado Projeto de Lei já mencionado, supostamente contra a homofobia. Recentemente, estive em um evento e ouvi um Ministro de Estado repetir essa mesma estatística, sem pestanejar, nem ponderar. A inferência desse número, é que isso retrataria uma brutalidade e ataque intenso aos homossexuais em nosso país. Os gays necessitariam, portanto, da proteção dessa lei contra tal intolerância. Para chegar a esses números, e afirmar que, no Brasil, “tivemos 122 mortes, neste ano, superando o México e os Estados Unidos”, Mott compilou os seus dados através do método duvidoso de referir-se às notícias dos jornais, por inexistência de “estatísticas oficiais”. Segundo Mott, o Brasil atravessa um “homocausto” (trocadilho que procura associar a morte de homossexuais ao Holocausto)!

Repetindo, acredito na lei de Deus e em seus princípios de justiça, bem como na dignidade humana. Repudio, portanto, qualquer tipo de assassinato ou crueldade contra qualquer pessoa. Sobre essas estatísticas e sobre a terminologia que está sendo utilizada, entretanto, pondero o seguinte:

1. Em primeiro lugar, a utilização da expressão “genocídio” é interessante, curiosa e contraditória. A palavra tem a sua origem com o trabalho do judeu polonês, Raphael Lemkin, que protestava as ações dos “atos bárbaros” da Alemanha nazista. Em 1944, ele cunhou o termo em seu livro “O Domínio do Eixo na Europa Ocupada”. Lemkim pegou a palavra grega “genos”, que significa “raça”, “tribo”, “grupo étnico”, unindo-a ao sufixo latino “cidium”, que significa “ato de matar”, “assassinato” - resultando na palavra genocídio, ou seja, o assassinato de uma raça ou de um grupo étnico. Quando um homossexual se refere a assassinatos de homossexuais como sendo “genocídio homossexual”, está atribuindo um determinismo genético ao homossexualismo (equacionando a prática com “raça”, “tribo”, “grupo étnico”). Ocorre que, curiosamente, eles próprios têm se posicionado contra a noção de que existe uma inclinação biológica ou genética à prática. Afinal, uma das grandes bandeiras do movimento gay é sobre “o direito de opção sexual”: ser-se aquilo que se quer ser, em vez de procurar ser aquilo que biologicamente são. Rebelam-se contra a noção de que Deus criou dois sexos, e não três ou quatro. Colocam na pessoa a definição de sua sexualidade, e não no Criador. Pois bem, ao clamar “genocídio”, contradizem-se em sua própria argumentação.

2. Segundo, alguma coisa está sendo perdida nessa estatística. A cada ano, 50.000 brasileiros são assassinados, o que dá 138 brasileiros por dia, ou 414 a cada três dias. Se a questão é que “um homossexual é assassinado a cada três dias”, isso dá 1 a cada 414 pessoas. Ou seja, 0,25% dos assassinatos totais.

3. Ocorre que “... o movimento gay declara que o número de homossexuais na população brasileira atinge o percentual de 10%...”. Juntando essas duas afirmações, se verídicas (procedem, ambas dos grupos gays) chega-se à conclusão que morrem menos homossexuais do que o restante da população (414 x 10% = 41). Isto é, morrem 40 vezes menos homossexuais do que heterossexuais. De acordo com essas estatísticas distorcidas, a melhor forma de escapar com vida, no Brasil, é virar gay.

4. A questão, que essa discussão evita, é que mata-se indiscriminadamente no Brasil e isso não é restrito a um segmento ou grupo em particular. É verdade que falar genericamente dos assassinatos, da falta de lei, da violência contra os cidadãos, não “dá mídia” nem impressiona tanto, quanto as estatísticas do Mott. Por exemplo, o movimento Rio de Paz fez recente manifestação nas praias cariocas apontando a cruel estatística de que somente nos últimos dois anos, na cidade do Rio, há o registro de 9.000 desaparecidos. Destes, 6.300 foram presumidamente assassinados e nunca retornarão aos lares. Vários desses foram mortos com requintes de crueldade, no chamado “micro-ondas”, onde as pessoas condenadas a morrer são colocadas em pneus nos quais toca-se fogo, carbonizando a vítima. Esse “crematório individual”, praticamente impede a identificação dos restos mortais. Isso é um arremedo tropicalizado, mais sofisticado e mais cruel, daquilo que a gang de Winnie Mandela, na África do Sul (conhecida como Mandela Football Club) praticava contra os desafetos (lá, era um pneu, só, em chamas, colocado ao redor do pescoço), nas décadas de 70/80. Antônio Carlos Costa (líder do Rio de Paz) aponta que se fez um escarcéu enorme com 138 ativistas políticos que desapareceram na época do regime militar, mas ninguém aparenta dar a mínima com esses desaparecidos e essa matança indiscriminada de agora.

5. É curioso, portanto, que um grupo específico, manipule dados e formule estatísticas enganosas. É intrigante, que na contabilidade do Sr. Mott, homossexuais só morrem – eles não matam. É surpreendente como realidades são ignoradas, como no caso desses assassinatos mencionados no início deste texto, no Parque dos Paturis, em Carapicuíba ninguém aponta que o principal suspeito, preso em 10 de dezembro de 2008, um ex-PM, aparenta ser igualmente homossexual. Ele procurava encontros naquela localidade (uma das testemunhas informou que esteve com ele em um motel, nas vizinhanças). A mídia Esquece que os “ativos” são igualmente homossexuais. E assim, com essas frases e “estatísticas” de efeito, contando com apoio e projeção governamental, os gays e simpatizantes procuram impor uma lei da mordaça heterofóbica, sob o suposto manto de uma pretensa proteção à violência social que impera em nossas plagas; quando a violência não enxerga cor, raça ou sexo. Pior, ainda, é que essa lei é voltada contra as convicções e liberdades religiosas; contra princípios de acato à instituição da família, em vez de contra criminosos de verdade e assassinos de fato.

A triste realidade é a de que o governo tem abdicado de suas responsabilidades de proteção à vida, como sendo a prioridade número um de suas funções. Sofrer violência não é característica de um grupo específico, mas é conseqüência da impunidade e da omissão do estado. Provavelmente deveríamos formar um grupo: os OHEBÓrfãos Heterossexuais do Estado Brasileiro. Quem sabe conseguimos promulgar uma lei que nos proteja?
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Solano Portela
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segunda-feira, novembro 24, 2008

Solano Portela

Precisamos planejar?

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Verdadeiramente somos carentes, na esfera evangélica, de um planejamento eficaz. Talvez, em alguns campos, a raiz da situação esteja numa reação exagerada à rigidez litúrgica, hierárquica e de planejamento da Igreja Romana. Em outros, teria vindo como uma rebelião ao formalismo das denominações mais estruturadas. De qualquer forma criou-se, no campo evangélico, a idéia de que qualquer planejamento e organização maior, no que diz respeito às coisas do Reino de Deus, seria uma "camisa de força" inadequada.

Durante muito tempo perseguimos, portanto, a espontaneidade a qualquer custo, ao ponto de chegarmos a identificar "espiritualidade" com a falta de organização e ordem, característica de muitas de nossas igrejas. O medo, justificado, da "ortodoxia morta" resultou no "vale tudo espiritual" onde qualquer ação, desde que "cristianizada" com palavras de ordem bíblicas, são admissíveis, não apenas na liturgia, como também no encaminhamento dos assuntos e das várias tarefas da igreja.

Seguramente muitas das nossas atividades eclesiásticas, desde as simples reuniões do Conselho até os grandes congressos e campanhas nacionais, têm refletido falta de planejamento, organização e objetividade. Freqüentemente reuniões são realizadas num clima em que os presentes procuram, simultaneamente, resolver todos os problemas, dispersando-se em discussões infrutíferas que só servem para prolongar o término, arrastando os participantes a uma situação de exaustão total. Não raro existe, quando muito, uma pequena pauta cujo objetivo principal, parece, é ser sistematicamente desobedecida.

Algumas vezes campanhas ou programas são estabelecidos, mas morrem pelo meio do caminho e nunca chegam a ser concluídos, geralmente pela falta do estabelecimento de uma data limite, de um responsável pelo encaminhamento do projeto ou de uma simples sistemática de acompanhamento por algum órgão superior. Com freqüência somos testemunhas de grandes intenções que são seguidas de parcas realizações. Essas situações evidenciam não apenas a falta de planejamento, mas também que a utilização de um mínimo de organização pode resultar em considerável eficiência no encaminhamento das coisas do Reino.

Já nos avisa a Escritura Sagrada que os descrentes são, de muitas maneiras, mais sagazes e sábios que os crentes (Lc 16.8 — pois os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz).1 Temos observado as organizações "seculares" se concentrarem no planejamento e na organização enquanto nós, no campo evangélico, abrimos mão de toda esta capacidade que nos foi dada por Deus.

Uma empresa "secular" raramente realiza uma reunião sem antes existir um planejamento sobre os objetivos, a duração e os meios de demonstração, enquanto que em nossas igrejas achamos que essas coisas necessitam apenas de um planejamento mínimo. Uma organização secular quase nunca embarca em uma atividade ou programa sem antes avaliar todos os ângulos, sem colocar responsáveis definidos com delegação de poderes claramente delimitada e com algum tipo de acompanhamento da própria execução.

Nas igrejas nos acostumamos a creditar o sucesso, ou insucesso de algo, à "vontade de Deus", sem parar para pensar que a boa organização nada mais é do que o exercício eficaz da mordomia dos talentos, capacidades e recursos que Deus colocou em nossas mãos, para a sua glória.

A verdade é que planejamento e organização possuem base bíblica. Deus planejou tudo e executa o seu plano (Is 46.9-11). Ele deu ao homem o mandato de dominar a Criação (Gn 1.28) e de sujeitá-la, para sua glória. Tendo sido criado à imagem e semelhança de Deus, o homem é um ser que planeja também, mesmo em sua condição de pecador e mesmo com esta imagem afetada pelo pecado. O homem, conseqüentemente, procura determinar metas e visualizar suas ações antes destas ocorrerem (Pv 13.19 e 16.9).

Na esfera eclesiástica, Deus planejou, instituiu e determinou ao seu povo, debaixo da Antiga Aliança, toda a sistemática das cerimônias, requerendo obediência no cumprimento de todos os seus passos. Deus desejava, através dela, focalizar as atenções dos israelitas no Messias que haveria de vir e redimir o seu povo. Neste sentido, o povo foi ensinado a planejar e a organizar, em sua esfera, as festas e sacrifícios e existia considerável rigidez litúrgica, assim como sistematização e repetição. Nada de "qualquer um faz qualquer coisa, a qualquer hora", mas ações e obrigações definidas e todas relevantes ao enfoque central das práticas de adoração.

Na esfera administrativa, a sobrecarga e a desorganização, temporariamente experimentadas por Moisés, quando todas as decisões e definições foram colocadas sobre seus ombros, foi prontamente estruturada por Deus, através da palavra sábia de Jetro (Êx 18.13-26). Deus fez com que um sistema de delegação e representatividade fosse rapidamente estabelecido, aliviando Moisés de uma tarefa impossível, permitindo que o grande servo de Deus se concentrasse na tarefa de realmente liderar.

Deus não é, portanto, avesso ao planejamento e à sistematização da nossa parte, tanto mais porque ele próprio nos ensina que interage com a sua criação em seus tempos determinados (Ec 3.1-8), definindo, conseqüentemente, padrões de ordem e uma hierarquia de prioridades que devem nos auxiliar na execução dos nossos deveres, como seus servos.

Solano Portela

Publicado originalmente como "Vontade de Deus ou (des)organização"?, em 10.10.2008, no site do Instituto Jetro .
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quarta-feira, novembro 19, 2008

Solano Portela

WALL-E – Um robô com princípios bíblicos?

WALL-E (wáli) é o nome do novo filme da PIXAR – aquela empresa que o Steve Jobs comprou e reformulou, enquanto estava de “férias” da Apple, e que lhe gerou mais alguns milhões ao ser absorvida pelos Estúdios Disney (comprada por 10 milhões de dólares, à Lucas Films, foi vendida por 7,4 bilhões, e ele permaneceu como acionista principal!). WALL-E, lançado em 2008, já está fazendo grande sucesso, como fizeram as animações anteriores, que criaram escola, tais como Toy Story (1995, 1999), A Bug’s Life (Vida de Inseto) (1998), Os Incríveis (2004) e várias outras. Andrew Stanton, o diretor-escritor deste filme, declara-se um cristão.

O nome, não somente do filme, mas do ator principal – o robozinho, é na realidade: WALL•E, a sigla para Waste Allocation Load Lifter Earth-Class (que seria traduzível, aproximadamente, para: Organizador e Empilhador de Lixo – Classe Terra). Num futuro remoto, há 900 anos, a terra foi destruída pelo consumismo e lixo produzido pelos humanos. As pessoas navegam, no espaço, em uma gigantesca espaçonave. No planeta ficaram robôs projetados para compactar e empilhar o lixo, mas, aparentemente, eles vão parando até que resta apenas WALL-E, que trabalha ávida e criativamente na tarefa. Sua intensa rotina de trabalho é alegrada por quinquilharias coletadas e levadas para o seu lar – um container de aço, onde uma velha tela aumentada de um I-Pod, toca diariamente trechos do musical “Hello, Dolly!”, um antigo musical de 1969. Sua solidão é quebrada com a chegada, do espaço, de um robô ultra-moderno, EVE (Eva), com uma missão ultra-secreta.

Fora a competência técnica da quase-perfeita animação, WALL-E, aparentemente, seria apenas mais um filme sobre a rebatida questão ecológica, onde os humanos destroem o seu habitat proporcionando uma mensagem politicamente correta para crianças e adultos. E quem poderia ser contra uma mensagem ecológica?

Os cristãos deveriam ser os primeiros a cuidar bem da Terra – afinal temos a convicção do que “Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam” (Salmo 24.1). O Universo, e mais especificamente o nosso planeta devem receber nossos cuidados. Deus nos delegou (Gn 1.28) o domínio sobre a criação. Sujeitar e dominar a terra não significa exauri-la ou explorá-la completamente, mas penetrando nas ciências e áreas de conhecimento, utilizar o chão, flora e fauna, com propriedade, para o benefício da raça humana. A Terra é, portanto o lar que Deus nos preparou. Somos mordomos de uma criação harmônica que glorifica a Deus (Sl 19). O Povo de Deus é instruído a cuidar da Terra – pois ela nem é dele nem é autônoma – e os princípios agrônomos de descanso à terra (rotatividade das colheitas) está entrelaçado à Lei Cerimonial e Judicial do antigo Testamento.

Confesso, entretanto, que não tenho muito entusiasmo com discursos ecológicos. Talvez isso ocorra porque a maioria de tais palestras, artigos ou livros procuram pintar, injustamente, os cristãos, e seus valores, como predadores do planeta. Enquanto isso os orientais e sua religiosidade são colocados como modelos de preservação ambiental; os índios são utopicamente retratados como aqueles que vivem em paz com a natureza; e por aí vai. Essas alegações não subsistem o mínimo escrutínio ou verificação “in loco”, como prova a poluição intensa da China. Violência ambiental ocorre por puro desprezo a diretrizes divinas; por profundo egoísmo – condenado na Bíblia; por religiosidade inconseqüente e louca – como a encontrada na Índia, com seu defunto e mal-cheiroso, mas religiosamente sagrado, Rio Ganges.

É possível que minha rejeição tenha sido provocada por over-dose de projetos pedagógicos ambientais; anos ecológicos da UNESCO; pronunciamentos em encontros de professores de Autoridades Ecológicas; e tantas outras atividades educacionais às quais tive de presenciar e comparecer, enquanto estive mais proximamente ligado à área de Educação Básica. Essas questões dominam com tal intensidade o conteúdo das escolas, que as nossas crianças já recebem pré-definida a sua prioridade de vida: salvar o planeta – acima de suas obrigações para com Deus, pais, nação, o próximo e até para consigo mesmas.

Ou talvez a ojeriza provenha de uma recusa de aceitar as pílulas ecológicas prontas a serem deglutidas, preparadas pela mídia e pela agenda do Governo; por ministras mártires, ou por bombásticos sucessores de coletes – que não são salva-vidas. Enfim, perante esses estereótipos, os assuntos debatidos ad-nauseam, e a multidão de eco-chatos, tornei-me um deles, no sentido inverso. Falou de ecologia – já estou vacinado, desconfiado e com um pé atrás – tenho mais a fazer (para a preservação do planeta e das baleias, também) ...

Era necessário surgir WALL-E para me motivar a sentar durante duas horas por sua saga ambiental e sair da experiência não somente satisfeito e entretido, com as paradoxais expressões e sentimentos demonstrados pelo maltratado robô, mas ponderando sobre as questões e valores levantados pelo filme. Ele é uma forte crítica social ao estágio de letargia, descaso e hedonismo que caracteriza os humanos, não somente os do filme (que aparecerão mais tarde), mas também os de nossa geração.

A primeira coisa que me chama a atenção é o empenho colocado por WALL-E no trabalho, no desempenho de sua missão. É lógico que foi programado para isso, mas no transcorrer do filme o contraste com a preguiça e descuido das pessoas ficará bem evidente. WALL-E tem foco, tem responsabilidade, desempenha o que lhe foi confiado e, os acontecimentos terminam motivando as pessoas a reexaminarem as suas vidas, posturas e prioridades. Apesar de sua seriedade no trabalho, WALL-E não é só isso – ele procura as coisas bonitas ou que entretêm e consegue ser despertado para o lado artístico, criativo e sentimental, que igualmente foram descartados pela humanidade.

WALL-E não está exatamente solitário na Terra. Uma simpática baratinha (as mulheres acharão que isso é uma contradição de termos...) o acompanha em todos os seus passos (ou, já que esse robô não tem pernas, nas voltas de sua esteira). Nessa Terra pós-catástrofe o filme dá guarida à tese, já bastante repetida, que, no advento de um holocausto global “as baratas herdarão a terra” (aparentemente há um tênue respaldo científico para essa suposta resistência das baratas, existindo registros de que elas sobreviveram o bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki; testes posteriores revelaram que elas suportam 10 vezes mais radiação do que o ser humano – apesar de continuarem impotentes perante o solado de sapato de minha esposa).

Mas a sua solidão é, realmente, quebrada, quando EVE, uma robô de última geração, coletora de alguma coisa, é deixada na terra. Segue-se uma singela história de aproximação e de amor entre WALL-E e EVE. Sem qualquer palavra ou diálogo durante quase metade do filme, podemos testemunhar não somente a timidez de WALL-E, mas pudor, recato – valores que estão muito ausentes de nossas crianças e de nossas famílias. A estranha história de amor dos dois, muito ensina sobre altruísmo, proteção da amada, compartilhamento de belezas e interesses – todos valores cristãos bem registrados por Paulo em 1 Co 13.

Sem diálogos e apenas com a expressão dos olhares, vamos sendo envolvidos na história do robozinho feioso, que “pega”, após recarregar as baterias, com som harmônico do computador MacIntosh, e da robozinha, com aparência de I-Pod, até o contato cheio de aventuras com a nave de humanos que já órbita a Terra há muitos anos, esperando tempos melhores para retornar ao planeta.

O contato não somente dos robôs, mas do espectador, com os humanos revelará uma humanidade totalmente destruída em seu élan. A crítica social é clara e pertinente: o consumismo não somente dominou a todos, mas uniformizou a humanidade em uma massa amorfa, com todos acima do peso; quase sem movimentação própria; ligados 100% na televisão. Nessa sociedade fechada da “arca”, os humanos são tão introvertidos e preocupados em ser servidos, que o contato social com os semelhantes foi praticamente obliterado. Não falta conforto, mas ao mesmo tempo, a essência do viver bem foi reduzida a quase nada. A perspectiva de uma volta ao planeta, para retrabalhá-lo, recolonizá-lo, se os desafios para chegarem a esse ponto forem vencidos, significará muito trabalho e um novo estilo de vida a ser adotado. Estarão dispostos a isso? Assista ao filme e não se surpreenda se os humanos do filme se pareçam com você, grudado à poltrona do cinema ou de sua casa!

No final, WALL-E deixa um balanço positivo, além da admirável técnica de vanguarda em entreter, mesmo que siga a trilha Holywoodiana de tratar as questões ignorando a existência de Deus. O filme fornece campo para muitas discussões proveitosas (e não apenas na área de ecologia). Valores bíblicos relacionados com a filosofia do trabalho; com o valor da família; com amor e desvelo – estão presentes em várias ocasiões. “Há esperança, no meio do caos,” é a mensagem – e temos oportunidade de mostrar e reafirmar qual é a verdadeira esperança da humanidade e em quem confiam os cristãos. A busca do WALL-E por companhia, pode nos levar a discussão sobre o perigo e a dor da solidão.

WALL-E celebra as virtudes de moderação e auto-controle no mercantilismo exacerbado de nossos dias – demonstrando as conseqüências da ausência de limites e o perigo de sermos consumidos pelo consumo. Preste atenção, igualmente, ao término do filme, na animação que acompanha os “créditos”, onde temos um tributo às artes, ao trabalho e ao cultivo. WALL-E é, portanto, mais do que uma parábola ecológica, é uma crônica de resgate de valores que não podem ser esquecidos por nossa sociedade, sob pena de pagarmos pesados pedágios. É um lembrete sobre os perigos do individualismo e do egoísmo.
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quarta-feira, novembro 12, 2008

Solano Portela

Evangelicofobia – A carta não publicada por VEJA

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A revista VEJA, em sua edição 2083 (22.10.2008) publicou um texto de seu articulista André Petry no qual ele destila o costumeiro ódio aos evangélicos, já previamente atacados em textos anteriores. Sob o título “Autocarbonização” ele contestava a então candidata Marta Suplicy (hoje derrotada), pela politicamente incorreta propaganda anti-Kassab que demonstrava toda incoerência da postulante a prefeita da metrópole paulistana. No meio de sua argumentação, ele tira da cartola um gambá que evidencia o seu próprio preconceito e discriminação e distribui bordoadas gratuitas aos evangélicos. (entre outros lugares, o texto completo do artigo do Petry pode ser acessado aqui)

Enviei uma carta à revista, dentro das normas (com identificação completa) e no prazo. Não foi publicada, o que é um direito dela, mas que mancha a suposta imparcialidade jornalística do periódico.

Acabo de responder a alguns comentários em meus posts anteriores ("Crise" e "Obama") e decidi reproduzir, abaixo, essa carta enviada à VEJA, que nunca foi publicada:

Senhores:

Se o senhor André Petry quer atacar a falta de coerência da Marta Suplicy, que o faça, pois até está coberto de razão. O que é inadmissível é que ele destile o seu próprio preconceito contra os evangélicos, já exposto em artigos anteriores. Sua observação de que a Marta se junta “à massa de evangélicos homofóbicos” é um insulto espantoso, acolhido nas páginas de VEJA. A tentativa de dizer que o texto não diz o que diz, é infantil. Ao caracterizar como “massa”, não adianta qualificar, escrevendo que o “texto não afirma que todos os evangélicos são homofóbicos”.

Essa generalização é típica de quem não quer entender a essência do Evangelho e dos evangélicos. O caráter amoroso e transformador da mensagem do Evangelho, ainda que identifique precisamente o que é pecado, de acordo com os padrões da Palavra de Deus, é a única que transmite a possibilidade de arrependimento, esperança, redenção e transformação de vida. Distingue-se de outras que condenam posturas de vida destrutivas a si mesmo e à sociedade, a um destino imutável, ao desespero, à tristeza. Chamar isso de homofobia, é um preconceito extremo. Protesto veementemente contra essa discriminação.
Solano Portela
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