sábado, fevereiro 25, 2006

Solano Portela

O CARNAVAL


Jerônimo Gueiros (1880-1954) foi um ministro presbiteriano nordestino muito conhecido por seu rico ministério, no Recife, e por suas qualificações como literato e apologista da fé cristã. De sua lavra surgiram artigos penetrantes, livros inspiradores e poesias tão belas quanto incisivas e pertinentes aos temas apresentados.

Nesta época do ano lembro e coloco, neste espaço, a poesia de sua autoria com o título acima. Nunca me canso de lê-la e de apreciar tanto a estética do texto como a sua contemporaneidade:

Carnaval! Empolgante Carnaval!
Festa vibrante!Festa colossal!

Festa de todos: de plebeus e nobres,
Que iguala, nas paixões, ricos e pobres.
Festa de esquecimento do passado,
De térreo paraíso simulado...

Falsa resposta à voz do coração
De quem não frui de Deus comunhão,
Festa da carne em gozo desbragado,
Festa pagã de um povo batizado,

Festa provinda de nações latinas
Que se afastaram das lições divinas.
Ressurreição das velhas bacanais,
Das torpes lupercais, das saturnais

Reino de Momo, de comédias cheio,
De excessos em canções e revolteio,
De esgares, de licença e hilaridade,
De instintos animais em liberdade!

Festa que encerra o culto sedutor
De Vênus impúdica em seu fulgor.
Festa malsã, de Cristo a negação,
Do "Dia do Senhor" profanação.

Carnaval!Estonteante Carnaval!
Desenvoltura quase universal!

Loucura coletiva e transitória,
Deixa do prazer lembrança inglória,
Festa querida, do caminho largo,
De início doce, mas de fim amargo...

Festa de baile e vinho capitoso,
Que morde como ofídio venenoso,
Que tira do homem sério o nobre porte,
E gera o vício, o crime, a dor e a morte.

Carnaval!Vitando Carnaval!
Festa sem Deus!Repúdio da moral!
Festa de intemperança e gasto insano!
Trégua assombrosa do pudor humano,

Que solta a humana besta no seu pasto:
O sensualismo aberto mais nefasto!
Festas que volve às danças do selvagem
E do africano, em fúria, lembra a imagem,

Que confunde licença e liberdade
Nos aconchegos da promiscuidade
Sem lei, sem norma, sem qualquer medida,
Onde a incauta inocência é seduzida,

Onde a mulher, às vezes, perde o siso
E o cavalheiro austero o são juízo;
Onde formosas damas, pela ruas,
Exibem, saltitando, as formas suas,

E no passo convulso e bamboleante,
Em requebros de dança extravagante,
Ouvem, no "frevo" , as chufas e os ditados
Picantes, de homens quase alucinados,

De foliões audazes, perigosos,
Alguns embriagados, furiosos!
Muitos, tirando a máscara, em tais dias,
Revelam, nessas loucas alegrias,

A vida que levaram mascarados
Com a máscara dos homens recatados...
Carnaval!Perigoso Carnaval!
Que grande festa e que tremendo mal!

Brasil gigante, atenção! Atenção!
O Carnaval é festa de pagão!
Repele-o! Que te traz só dor e morte!
Repele-o! E inspira em Deus a tua sorte.

Rev. Jerônimo Gueiros.
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sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Augustus Nicodemus Lopes

Sobre Puritanos, Puritânicos e Neopuritanos

Por     30 comentários:

À semelhança de outros rótulos que rolam no meio evangélico, “puritano” é um dos mais mal compreendidos e um dos que é usado mais eficazmente para destruir a reputação de alguém. O termo tem conotação pejorativa hoje em dia. Um puritano é visto como alguém de moralidade falsa ou hipócrita, e por mais que os simpatizantes dos antigos puritanos tentem passar uma imagem positiva a respeito deles, a mancha negativa (e injusta) permanece. Os puritanos viveram entre o século XVI e XVIII. Eram leigos e ministros ordenados da Igreja da Inglaterra e das igrejas presbiterianas, batistas e congregacionais.

O apelido “puritanos” foi colocado por seus inimigos, para ironizar o ideal de pureza que defendiam. O puritanismo não era uma denominação, mas um movimento dentro da Igreja da Inglaterra e das igrejas independentes, que desejava maior pureza na Igreja, no estado e na sociedade. Queriam que a Reforma, iniciada antes, fosse completa. Acusavam que a igreja inglesa havia parado entre Roma e Genebra. Estavam insatisfeitos porque ela havia se reformado apenas parcialmente, conservando ainda muitos elementos do catolicismo que consideravam como contrários às Escrituras.

Os puritanos escreveram e produziram muito material teológico. Foram eles os responsáveis pela famosa Confissão de Fé de Westminster, que até hoje é a confissão de fé de igrejas presbiterianas e batistas reformadas. A firmeza com que defendiam suas convicções, o rigor teológico e exegético de suas obras, o modo de vida frugal, austero e simples que defendiam, valeu-lhes uma reputação de gente inflexível, sisuda, pudica, e obtusa, especialmente depois que caíram em desgraça política na Inglaterra e se desviaram para uma religião legalista e introspectiva após o período de Cromwell, desembocando no não conformismo.

O movimento puritano foi um momento importante na história da Igreja. Apesar de ter passado, sua teologia permanece viva nos documentos históricos de denominações reformadas e na vasta literatura que os pastores puritanos deixaram. Charles Spurgeon e Martyn Lloyd-Jones são considerados, entre outros, como últimos remanescentes do que havia de melhor no puritanismo. Em nossos dias, todavia, um interesse crescente pela teologia puritana, sua piedade, devoção e espiritualidade tem crescido cada vez mais, não somente no Brasil, como especialmente no exterior. Uma editora inglesa – a Banner of Truth Trust foi a responsável pela reimpressão de obras de puritanos famosos como John Owen, John Flavel, Jonathan Edwards. Muitas delas têm sido traduzidas e publicas no Brasil. Além disso, autores modernos têm se colocado dentro da tradição puritana, como J.I. Packer, R.C. Sproul, John MacArthur, entre outros.

O termo “puritânicos”, por sua vez, foi usado algumas vezes aqui no Brasil, em 2001, na finada revista teológica Fides Reformata semper Reformanda Est, para estigmatizar quem segue hoje a teologia puritana de Westminster e quem se recusa a aceitar a pluralidade teológica e o inclusivismo acrítico nas instituições de teologia reformadas. Os “puritânicos” foram também chamados de fundamentalistas xiitas da linha de Carl McIntire. Pode-se inferir que o termo realmente visava marcar negativamente um determinado segmento dentro da igreja evangélica como intransigente, obscurantista, ativistas teológicos rebeldes, etc.

O termo neopuritanos tem sido usado para designar os adeptos da teologia puritana no Brasil que passaram a usar determinadas doutrinas e práticas como identificadoras dos verdadeiros reformados, como o cântico exclusivo de salmos sem instrumentos musicais no culto, o silêncio total das mulheres no culto, a defesa do cessacionismo com base em 1Coríntios 13.8 (posição contrária à de Calvino), um entendimento e uma aplicação estreitos do princípio regulador do culto e outros distintivos semelhantes. Essas posições acabaram isolando os adeptos dessa linha do movimento de outros reformados que adotavam a teologia de Westminster, mas que discordavam que os pontos acima fizessem parte da essência da fé reformada ou mesmo do puritanismo.

Infelizmente, a rotulação “puritânicos”, os posicionamentos de alguns neopuritanos, a maneira agressiva com que alguns deles às vezes defendem suas idéias, acabam sendo associados à renitente conotação pejorativa que o nome "puritanos" já carrega. Junte-se a isso a ignorância crassa das massas evangélicas sobre o que realmente foi o puritanismo. Ao final, tem-se uma rejeição generalizada da teologia e da piedade puritana em nossos dias. Digo infelizmente pois acredito que os puritanos foram teólogos de grande envergadura, os verdadeiros intérpretes do pensamento de Calvino e um dos poucos grupos reformado que deu ênfase ao lado experimental desse pensamento. Lamento também porque a espiritualidade deles e sua ênfase na religião prática seria um excelente corretivo para os que buscam espiritualidade nos místicos católicos da idade média.

Não creio que caiba, na realidade multi-cultural brasileira do século XXI, o transplante do puritanismo da Escócia e da Inglaterra dos séculos XVI e XVII com todos os seus detalhes, alguns com um contexto histórico muito marcante. Mas, acredito que se possa resgatar, com os devidos cuidados, sua teologia e sua piedade, se todos os que amam a teologia de Westminster e das outras confissões igualmente influenciadas pelo puritanismo, deixassem de lado as idiossincrasias puritanas dos séculos passados e se concentrassem naquilo que é central no puritanismo: a busca da pureza individual, do culto, na família, na sociedade, na igreja e no estado. Talvez ainda haja esperança para que a teologia puritana sobreviva dentro das igrejas que são historicamente suas herdeiras, e não somente entre os irmãos pentecostais, que mais e mais estão descobrindo e abraçando Matthew Henry, John Gill, John Owen, Jonathan Edwards, C. H. Spurgeon, J. I. Packer, D-M. Lloyd-Jones e John MacArthur.

Terminando, cito um parágrafo do C. S Lewis sobre os puritanos, que me foi enviado pelo Franklin Ferreira. Gosto de pensar neles dessa forma:

Devemos imaginar estes Puritanos como o extremo oposto daqueles que se dizem puritanos hoje, imaginemo-los jovens, intensamente fortes, intelectuais, progressistas, muito atuais. Eles não eram avessos à bebidas com álcool; mesmo à cerveja, mas os bispos eram a sua aversão’. Puritanos fumavam (na época não sabiam dos efeitos danosos do fumo), bebiam (com moderação), caçavam, praticavam esportes, usavam roupas coloridas, faziam amor com suas esposas, tudo isto para a glória de Deus, o qual os colocou em posição de liberdade. (...) [Os primeiros puritanos eram] jovens, vorazes, intelectuais progressistas, muito elegantes e atualizados ... [e] ... não havia animosidade entre os puritanos e humanistas. Eles eram freqüentemente as mesmas pessoas, e quase sempre o mesmo tipo de pessoa: os jovens no Movimento, os impacientes progressistas exigindo uma “limpeza purificadora” (C. S. Lewis).

Créditos: Agradeço a Franklin e a Solano pela revisão crítica do post original.

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Solano Portela

Islamismo e Violência - Bem-vindos ao cemitério!


A imprensa, que vinha registrando os inúmeros protestos violentos e eivados de mortes contra as charges dinamarquesas que retratavam Maomé como um terrorista, ocupa-se, nos últimos dias, dos atentados entre os sunitas e xiitas do Iraque. Mesquitas dessas facções rivais, que se colocam, cada uma, como herdeiras e propagadoras do legítimo islamismo, têm sido violentamente atacadas e explodidas com vítimas fatais. Em um dos últimos incidentes, mais de trinta maometanos, sunitas e xiitas, que protestavam contra a violência e pediam paz, foram massacrados a tiros por um dos lados, nessa luta insana. Obviamente, Mahmoud Ahmadinejad, atual presidente do Irã, aquele que foi alvo de tanta lavagem cerebral que já acredita nas bobagens que fala, afirmou de pronto que todos esses incidentes no Iraque eram operados por Israel, em meios às palmas da multidão entorpecida e com a complacência da mídia narcotizada pelas máximas esquerdistas que abraçam.

Muito se tem falado dos diferentes aspectos do islamismo, com a inferência de que atos violentos não fazem, na realidade, parte dos maometanos. No máximo, aponta-se que tal agenda de desprezo pela vida humana é característica apenas de algumas das suas correntes. Com essas afirmações, repetidas ad nauseam, fecham-se os olhos para o fato de que essa religião realmente abraça e encoraja a violência e a sua propagação pela espada.

Estudemos os shiitas e sunis; arábios e indonésios; moderados e extremistas; afro-americanos convertidos e os tradicionais. A realidade cruel é que o islamismo, independentemente de sua persuasão ou corrente, derrubam prédios (eram árabios) e detonam discotecas em Bali (indonésios); explodem-se a si mesmos em Israel (palestinos), junto com mulheres e crianças; e nessas ações recebem festejos de heróis e o orgulho dos instigadores da barbárie. Fora do eixo, um afro-americano pratica tiro ao alvo nos subúrbios da capital americana, matando mais de uma dúzia; rebeldes chechenos ameaçam mandar pelos ares centenas de pessoas, em um teatro moscovita – gerando uma desastrada intervenção, característica da competência russa. Na mesma Rússia outra brigada de muçulmanos chechenos faz 1200 mulheres e crianças reféns, provocando um morticínio em massa – e haja mais intervenção desastrada. Agora, protestam charges de jornal com violência e morte e se dedicam, no Iraque, à prática esportiva do extermínio mútuo.

As razões apresentadas para cada incidente são diversificadas. Justificativas múltiplas, às quais a imprensa sorve avidamente, no afã de marcarem pontos, salvarem sua pele, ou, simplesmente, de serem “politicamente corretos”. Mas o que todos esses incidentes e correntes têm em comum? O Corão e a religião islâmica.

Virou moda, entretanto, dizer que o cristianismo também é uma religião de sangue, que propaga a sua fé pelas guerras, etc. Digam o que disserem, o cristianismo verdadeiro não tem esse argueiro ou trava no olho – como instituição não exaltou os suicidas, nem encorajou massacre de inocentes, e os raros fatos pontuais da história, em que um segmento ou outro confundiu a Espada do Espírito com a de metal, não provam a regra. O cristianismo é pacífico. Eu – pessoalmente, sou da paz! Agora, dêem uma olhadinha no Corão (Sura 9.5). Não há dúvida sobre o que ensina o Islamismo: “Assim, quando os meses sagrados passarem, então matem os idólatras aonde quer que possa encontrá-los e leve-os cativos e encurrale-os e espere por eles, em cada emboscada...” Ou (Sura 4.56) : “… com relação àqueles que não crêem em nossas comunicações, faremos com que adentrem o fogo; com tanta freqüência que suas peles serão totalmente queimadas. Mudaremos elas por outras peles, para que possam experimentar o castigo; certamente Alá é poderoso e sábio”. Realmente, não é um exagero equacionar islamismo com violência – ela está na raiz dessa religião falsa. Podem até existir alguns muçulmanos moderados, mas serão incoerentes com os documentos da fé que professam.

Poucas vozes de expressão têm se levantado para dizer isso, com todas as letras e em tom audível. O Charles Colson, nos Estados Unidos é um desses. O Berlusconi, na Itália, com todos os seus defeitos e problemas, quando fez afirmação semelhante, em 2002, foi execrado pela imprensa e pelo público viciado no ópio europeu do antiamericanismo. Tiro o meu chapéu pela coragem desses dois. Continuemos cegamente apoiando o islamismo, em sua viagem cega no apoio do terrorismo e da violên-cia, e va-mos todos de mãos dadas a caminho do cemitério.
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quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Mauro Meister

Estatísticas...

Como havia dito, depois de milhares de respostas, temos os resultados sobre o post SUPERPOP.
Vejam abaixo:
SIM = 33,33%
NÃO = 46,67%
Impossível saber = 20%

Isto significa que, se os indecisos mudarem de opinião, há possibilidade de segundo turno! Enquanto isto, o presidente cresce nas pesquisas e o Bono fez o maior sucesso entre evangélicos!
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terça-feira, fevereiro 21, 2006

Solano Portela

Patrulhamento teológico, ou responsabilidade cristã?


“... exortando-vos a batalhardes diligentemente pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos”. Judas 1.3

“Não agüento mais acessar aquela lista”! Disse um amigo meu, referindo-se a um grupo de discussão teológica cujos participantes estavam avidamente dissecando posições contrárias, expondo as contradições com as Escrituras. “Parece que todos só se preocupam em achar o erro alheio”! Essa reação é bem normal quando, em meio a heresias e distorções do cristianismo histórico, somos levados a, repetidamente, reafirmar os ensinamentos das Escrituras. Cansamos e chegamos a duvidar se vale a pena gastar tempo em tanta discussão. Até aqui, no nosso blog trocamos opiniões, entre blogueiros e comentadores, se não estávamos forçando um pouco a barra em cima dos liberais. Deveríamos falar de outras coisas.

De uma forma geral, ninguém gosta muito de controvérsia. Apesar de umas poucas pessoas darem a impressão de serem alimentadas por dissonâncias de opiniões, a grande maioria, principalmente do Povo de Deus, procura a concórdia e a harmonia. Não nos sentimos bem discutindo questões a toda hora e isso é um reflexo de que Deus nos tem chamado “à paz” (1 Co 7.15). No entanto existe “paz” que pode ser enganosa, superficial e até mortal. Controvérsias doutrinárias, por mais desagradáveis que sejam, ocorrem no seio do Povo de Deus. Muitas vezes somos sugados a uma batalha que não nos alegra, nem representa o nosso desejo. Estas ocorrem na época e na providência divina, exatamente para nos testar, para que o nosso testemunho possa ser renovado, para que aqueles que introduzem falsos ensinamentos sejam revelados e identificados na igreja visível. A história já provou como a doutrina verdadeira é depurada, triunfa e é cristalizada e esclarecida às gerações futuras, no cadinho da controvérsia.

Como bem indica o verso acima, esta é uma luta náo só de especialistas ou de algum "clero especializado, mas de todos nós. Temos que ter a consciência de que vivemos uma batalha na qual nossas mentes e corações são testados pelas mais diferentes correntes de pensamento. Ela é vencida quando brandimos a Espada do Espírito – a Palavra de Deus; quando nos empenhamos no estudo das Escrituras e enraizamos suas doutrinas nas nossas vidas, de tal forma que vamos ficando equipados a reconhecer o erro e seus propagadores. Sempre mantendo uma postura cristã no trato, devemos ter firmeza doutrinária no que cremos, principalmente porque existem aqueles que não possuem o mínimo apreço pela Bíblia, mas sorrateiramente possuem seguidores em nossos arraiais.

Um exemplo claro disso foram os convites que vinham sendo feito ao famoso educador e ex-pastor Rubem Alves para conferências e palestras em igrejas presbiterianas. Ninguém disputa as grandes qualificações acadêmicas e o enorme talento que o Sr. Rubem Alves possui. Ele encanta multidões, principalmente de educadores, com suas palestras e livros de histórias. No entanto, é uma pessoa que abjurou publicamente da fé e que, tanto explicitamente como nas entrelinhas, propaga uma mensagem destrutiva contra os ensinamentos da Palavra de Deus. A situação de tietagem teológica equivocada estava se alastrando a um ponto que o Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, através de sua Comissão Executiva, alertada por alguns presbitérios, definiu explicitamente que esse senhor não deve ocupar púlpito da denominação.

Se você duvida da propriedade da decisão, veja algumas frases que Rubem Alves proferiu, há pouco mais de um ano, em uma igreja presbiteriana do Rio de Janeiro que o havia convidado para uma cerimônia (pasmem!) de comemoração da Reforma do Século 16 – logo ele, que é contra tudo o que os reformadores ensinaram. Disse ele: “... Deus criou o homem e viu que era bom. Ser homem deve ser, na realidade, melhor do que ser Deus tanto que Deus se encarnou como homem. Somente um Deus cruel e sádico enviaria seu próprio filho para morrer daquela forma para pagar os pecados humanos. Essa idéia é construção do medievalismo. Acho que Deus quis ser homem porque ser homem deve ser melhor do que ser Deus”.

Acho que dá para entender por que não podemos baixar a guarda, não é? Deus é todo-poderoso e não precisa de nós para cumprir seus propósitos. Na realidade, é o próprio Cristo que nos ensina que “as portas do inferno” não prevalecerão sobre a sua igreja. No entanto, é a sua Palavra que nos comissiona a vigiar e orar; a estarmos alerta porque Satanás está nos rodeando, almejando a nossa queda. Que Deus nos capacite e nos dê discernimento sobre a multidão de ensinamentos falsos que estão infiltrados no meio dos evangélicos pela ação dos falsos mestres.
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segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Augustus Nicodemus Lopes

À Noite, Todos os Gatos São Pardos...

Confesso que no fundo de meu coração tenho medo de me tornar como alguns nomes do evangelicalismo brasileiro que abandonaram a teologia e adotaram uma “eteroteologia” (eteros = outro; theos = deus), ou como aqueles outros que hoje aconselham para a morte, após terem sido referencial de conduta e piedade no mundo evangélico.

Tenho medo, explico, porque vejo que a mesma coisa pode acontecer comigo. Percebo no fundo de meu coração uma tendência constante para afastar-me de Deus. Sinto que a tentação para a heterodoxia e para a liberação total são perigos reais que me cercam diariamente. Vejo com muita clareza que submeter-me às Escrituras e crer em Deus é um milagre na minha vida.

Vi a apostasia acontecer muito de perto ao longo da minha vida. Um famoso professor de Bíblia do Recife, que foi a pessoa que me encaminhou ao seminário, abandonou a fé cristã depois de trair a mulher e abandoná-la com nove filhos. Eu estava no primeiro ano! Três colegas meus de classe, no seminário, entre os mais brilhantes da turma, hoje nem professam mais o cristianismo. Um jovem promissor que chegou ao Evangelho por minha instrumentalidade, e que posteriormente chegou até a estudar no L’Abri, com Francis Schaeffer, renegou o cristianismo histórico. Uma conhecida minha, desde a infância, que é missionária no estrangeiro, acaba de comunicar aos pais que não é mais cristã, depois de começar a viver com um homem casado. Líderes que conheci e admirei e segui durante os primeiros anos de minha vida, não deixaram as denominações evangélicas, mas já não crêem mais naquilo que me ensinaram.

Há advertências constantes nas Escrituras contra a apostasia. Apostatar significa afastar-se da verdade de Deus revelada nas Escrituras, como resultado de uma mudança de pensamento, e levantar-se em rebelião aberta contra ela. O que leva uma pessoa a fazer tudo isso, a abandonar a fé bíblica, seguir a heterodoxia, renegar os valores morais do cristianismo e pregar a liberação total?

Não pretendo entrar aqui na delicada questão acerca da salvação do apóstata. Talvez noutro post eu tente esclarecer os motivos para acreditar que um apóstata, no sentido real da palavra, nunca foi verdadeiramente salvo. Creio na perseverança final dos santos, dos eleitos.

O que eu gostaria é de inquirir acerca dos motivos que levam uma pessoa a abandonar a fé histórica do Cristianismo, após ter pregado e defendido essa fé por muito tempo. É evidente que não poderei inquirir aqui sobre os desígnios misteriosos de Deus. A minha inquirição é apenas psicológica, espiritual e teológica.

O Novo Testamento nos dá vários motivos pelos quais as pessoas se desviam da fé. Na parábola do semeador, lemos acerca dos que creram por um tempo e depois se desviaram, por causa dos cuidados desse mundo e por causa das perseguições que começaram a experimentar por causa do Evangelho. São aqueles que não acolheram sinceramente a verdade para serem salvos. A eles, o próprio Deus envia a operação do erro e da mentira (2Ts 2.9-11). Há também os que, depois de algum tempo, passaram a dar ouvidos a doutrinas de demônios (1Tm 4.1). Outros, se desviaram da fé para professar uma doutrina que acharam que era mais intelectual (1Tm 6.20-21). Com mais freqüência, há os que foram levados pela cobiça, como Judas, Balaão e Demas, que amou o presente mundo. A demora, a relutância, a indolência e a negligência em romper definitivamente com o pecado e o erro são causas prováveis de apostasia, conforme o autor de Hebreus ensina em toda a sua carta. Ele avisa que a dureza de coração e a incredulidade são capazes de afastar alguém do Deus vivo (Hb 3.12-13).

Em resumo, os motivos externos são vários: amor ao dinheiro, orgulho, problemas morais não resolvidos, vaidade intelectual, falta de coragem para assumir a verdade e desejo de novidades. A raiz de tudo isso, ao meu ver, é a falta de um coração regenerado, um motivo que os autores bíblicos estão sempre prontos a admitir.

O apóstata pode permanecer muitos anos na igreja e no ministério cristão sem jamais revelar a apostasia que já aconteceu em seu coração. Outros, assumem a apostasia e rompem abertamente com a fé cristã histórica, e geralmente adotam outras doutrinas que mesmo aparecendo com cara de novas e revestidas de respeitabilidade intelectual, nada mais são que as velhas heresias teológicas e morais que a Igreja já enfrentou ao longo dos anos. Eu não me espantaria se por detrás dos grandes desvios teológicos da história encontrássemos pecados não resolvidos, orgulho, vaidade intelectual, soberba, dureza de coração e – obviamente – corações não regenerados. É claro que nunca saberemos ao certo. A história não registra essas coisas que sempre são abafadas, escondidas e quase nunca declaradas.

Até onde entendo, só há uma coisa que mantém o cristão na verdade: o temor a Deus, a humildade e um coração quebrantado. Os que verdadeiramente se humilham diante de Deus e tremem de sua Palavra, mesmo que errem em pontos secundários, que caiam eventualmente em pecados, jamais se afastarão definitivamente de Deus e da sua palavra. O verdadeiro crente não pode mais abandonar a Deus. Nem que queira. Nem que em momentos terríveis diga a Deus que nunca mais o servirá. Ele acaba voltando. O apóstata vence essa barreira. Ele consegue passar o limite. Ele consegue pular a cerca. Ele não receia o que poderá acontecer. Pois no fundo ele realmente não acredita.

A apostasia é uma realidade muito mais presente nos meios evangélicos brasileiros do que se deseja perceber. O falso conceito de tolerância, o relativismo, a falta de convicções doutrinárias, o liberalismo teológico travestido de ciência, tudo isso favorece um quadro cinza e enevoado onde os contornos do verdadeiro Cristianismo não são percebidos com clareza. À noite, todos os gatos são pardos.
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quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Mauro Meister

Superpop!



"Alô, reverendo... tem alguém na linha, acho que é do programa Superpop...” Foi assim que recebi um convite para gravar um programa na Rede TV, apresentado por Luciana Gimenez. A assistente de produção me informou que era para um debate sobre o livro de Dan Brown, O Código Da Vinci. Os debatedores seriam um ateu, uma jornalista, um pastor, o próprio Pe. Quevedo e eu, na categoria de teólogo. Como não sou 'assistente' do programa, disse que ligaria dali algum tempo para dar a resposta. A gravação seria a noite e o programa iria ao ar durante os dias do carnaval.

Imediatamente fui fazer as devidas consultas sobre os nomes dos debatedores e do programa e consultar os colegas em volta para saber onde estava me metendo. Ao mencionar o nome do programa e da apresentadora, boa parte do entorno gritou: “é baixaria.” Liguei para meus dois co-autores neste blog e um disse - “Claro, vá”, o outro “Não, não vá...” E entre as muitas pesquisas que me deixaram em dúvida, acabei não indo, mas com um gosto de ‘falta de convicção’ na boca.

Talvez você tenha visto ou ouvido falar que em setembro passado participei de um debate assim na tv aberta, no programa do Gilberto Barros,
Boa Noite Brasil, mais conhecido como Leão. Naquela ocasião fui debater sobre o livro O Código da Bíblia, de Michael Drosnin [quando mencionei o fato a minha filha a reação foi: “tinha que ser código de novo?”]. Naquela ocasião os debatedores eram um matemático, da USP, um teólogo, da PUC, um rabino e um judeu cabalista.

Daquela ocasião tirei algumas lições:

  1. É possível, mesmo em um programa sensacionalista, dar testemunho do evangelho.
  2. Tenho sangue frio o suficiente para não cair nas provocações diretas de oponentes em debates.
  3. Tem muito crente que assiste o Gilberto Barros (recebi uma centena de emails e comentários, sem deixar que colocassem meu email na tela).
  4. A exposição nestes programas é enorme (alguns milhões de pessoas – naquele dia o programa estava em segundo na audiência).
  5. Arrumei alguns ‘fãs’ de carteirinha.
  6. Receber muitas críticas, por diferentes razões; coisas do tipo:
  • Ele fez isto só para aparecer;
  • Lugar de pastor é na igreja;
  • Ele foi muito fraco no debate (todos estes comentários apareceram em postagens da net).

Existem alguns eminentes perigos também:

  1. Cair nas provocações;
  2. Ser colocado em situações de exposição ao ridículo extremo (num certo sentido a exposição ao ridículo é estar em um programa sensacionalista);
  3. Alcançar alguma fama (fui abordado no campus, no aeroporto, no laboratório e em muitas igrejas, sempre começando com “você não é o pastor que...”).

Não ter ido ao programa Superpop me livrou dos perigos acima mencionados, inclusive das críticas, que tenho certeza seriam mais ferrenhas. Por outro lado, fiquei pensando: teria tido a oportunidade, por exemplo, de expor o livro de James Garlow e Peter Jones, Desmascarando o Código Da Vinci, um livro cristão sério, onde o cristianismo histórico é reafirmado, a história do cânon cristão é exposta e o neo-gnosticismo é rebatido, a alguns milhões de pessoas. Perdi uma oportunidade de falar ou ganhei uma oportunidade de ficar calado?

Este post tem a intenção de ouvir sua opinião, e, quem sabe, ajudar se eu tiver que tomar uma decisão como esta novamente.

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terça-feira, fevereiro 14, 2006

Solano Portela

Peixe fora d’água, ou um corpo estranho no meio de teólogos...

Recentemente recebi uma carta de um jovem universitário que estuda um ramo das ciências, indicando interesse em saber como eu havia conjugado a formação superior em ciências exatas com minha especialização e estudos no campo da teologia. Ele queria saber um pouco da minha história, como eu organizava essas situações em meu pensamento e expressava desejo de igualmente se aprofundar em teologia, após a conclusão do seu curso. Respondi com um e-mail um pouco extenso e minha esposa achou que talvez outros leitores tivessem o mesmo tipo de indagação ou interesse nessa história toda. Assim, aqui vai mais essa “blogada” de reflexões pessoais. Perdoem, se soar muito como um currículum-vitae. A intenção não é essa, mas apenas aferir e apresentar as oportunidades que foram abertas por Deus em um caldeirão de idéias e caminhos aparentemente incompatíveis.

Há muitas luas atrás (1967), viajei aos Estados Unidos, com 19 anos. Na ocasião eu havia iniciado a graduação em Professorado de Desenho, na Universidade Federal de Pernambuco, mas comecei a me movimentar para ir a uma faculdade cristã, já pensando em fazer teologia, depois do curso universitário. Consegui uma pequena "bolsa" e trabalhei bastante para cobrir a maior parte dos custos dos meus estudos. Terminei ficando sete anos lá - o último casado (minha esposa é canadense - conheci-a na faculdade). Fiz matemática pura, como graduação. Tive vários cursos na área das exatas. Na área da física, por exemplo, o meu livro era "Mecânica Analítica para Engenheiros". Sempre gostei dessa área, mas desejava estudar teologia e assim fiz o mestrado, depois da graduação, no Biblical Theological Seminary (1971-1974).

Deus utilizou esse preparo de muitas maneiras. Na área das ciências, trabalhei no meu último ano, nos Estados Unidos, em metalurgia e usinagem, aprendendo bastante sobre testes, classificação e conformação dos metais, planejamento de produção, etc. Todo esse aprendizado, em cima da base matemática, serviram-me nos primeiros 14 anos de vida profissional, quando retornei ao Brasil. Trabalhei 13 em uma fábrica de engrenagens, no Nordeste, chegando à diretoria industrial, e um ano na Honda, em Manaus. Depois disso passei à área comercial e dirigi empresas no ramo de veículos, em Manaus e em São Paulo, encerrando essa fase em uma empresa importadora, fabricante e distribuidora do ramo de cosméticos, na qual atuei na parte financeira-administrativa por seis anos.

Em paralelo a tudo isso, sempre procurei utilizar o treinamento em teologia. Ensinei à noite em seminários, institutos bíblicos e, aos domingos, na Escola Dominical. Fui ativo na pregação da Palavra e participei de várias conferências como tradutor e palestrante. A partir do final da década de oitenta, comecei a escrever mais, publicando alguns livretos, livros, artigos, estudos, etc. Na minha compreensão, a teologia sempre complementou a questão da ciência e da lógica. Sempre que me aprofundava na teologia, minhas convicções cristãs eram solidificadas e a apreciação analítica desenvolvida na área das exatas não era destruída, mas servia de fio de prumo ao alinhamento do pensamento. Graças a Deus, nunca experimentei conflitos, períodos de ceticismos, ou coisa que o valha. Nunca senti a necessidade de alijar a fé cristã a uma postura meramente mística, sem relação com o mundo que nos cerca; situação na qual caem tantos escolados nas ciências, acometidos por um conflito hipotético, e que procuram resolver pela sublimação da religião a uma esfera meramente transcendente e indescritível. Vejo que muitos profissionais ou acadêmicos reduzem a fé a prática religiosa a um misticismo puro e com isso contornam a questão e deixam de realmente viver a vida em toda a sua extensão.

De minha parte, reconheço que a fé cristã é mística em sua essência, mas eu prefiro identificar o que é classificado como "misticismo" como a parte transcendente da realidade. Aproveitando o gancho de Francis Schaeffer ("A Morte da Razão"), a realidade é constituída de duas partes - uma compreensível pelos sentidos imediatos e ancorada na parte física e a outra, não menos real, representada pela parte espiritual, metafísica. A mente moderna - racionalista e materialista, tende a se concentrar na realidade física, interpretando esta como sendo o todo da realidade.

Não consigo divorciar essas realidades. Creio em um entrelaçamento intenso entre a realidade palpável e a espiritual, de tal forma que sempre procuro lógica e sentido nas coisas espirituais. Isso me divorcia um pouco dos chamados "místicos" que parecem encontrar realização na convivência intensa com o lado "espiritual" das coisas, apenas. Sou um pouco estranho, pois não encontro muito sentido em ler e meditar em trabalhos como os de Thomas A Kempis e, além disso, fico encontrado traços marcantes de catolicismo e crenças medievais já descartadas pela Reforma do Século XVI, nesses trabalhos.

Para mim, o misticismo puro, mesmo cristão, é uma porta aberta ao subjetivismo; à construção individualizada da fé; ao divórcio do testemunho uniforme da comunidade de santos; à dissociação da lógica e razão do Deus que é todo sabedoria e raciocínio – o Logos. A Palavra de Deus é revelação proposicional, objetiva – verificável por qualquer um. Deus nos ensina que estar "cheios do Espírito Santo" é o oposto da embriaguez – ou seja, o crente cheio do Espírito Santo é lógico, sóbrio, tem os pés nos chão. A Bíblia também nos ensina a estar sempre prontos a dar uma "razão da esperança que está em nós", ou seja - arrazoar, como Paulo fazia (At 17). Paulo diz que Deus se agrada do nosso "culto racional" – não o "culto emocional", ou místico, em si. A nossa fé faz sentido, aos que têm o Espírito Santo em seus corações. As doutrinas da Palavra são lógicas, entrelaçam-se entre si, completam umas as outras. Aos que não têm a Deus, elas são "loucura"; a pregação e o método divino de salvação "é loucura" para os que se perdem.

Assim, sou muito mais um ávido procurador da lógica inerente à fé cristã, do que um sorvedor da literatura mística cristã. Mas isso é apenas a minha persuasão e opinião sobre o assunto. Não classifico os que se deleitam nos místicos de hereges. Apenas não é minha praia.

Essa é a minha experiência e compreensão de vida, na conjugação dessas duas vertentes – ciência e teologia. Algumas vezes fui abordado para ser ordenado ao pastorado. Fico honrado, mas sinto-me encaixado no presbiterato, onde estou desde 1975. Creio que o pastorado é um chamado específico e deveria ser exercitado por aqueles que têm abundantes qualificações na área de relacionamento pessoal, em paralelo ao estudo e preparo teológico. Ser presbítero, ou leigo, não tem me impedido de servir a Deus dentro e fora da igreja – em portas que Deus tem aberto. Sempre existe algo a fazer e se temos um pouco de habilidade no ensino, sempre aparece a necessidade e o desejo de alguém em aprender. O importante é manter sempre a fidelidade às Escrituras como fio de prumo de nossas vidas.

Nesses últimos anos fui agraciado, por Deus, em trabalhar em uma área que sempre se constituiu um dos meus interesses – a educação ministrada a partir dos fundamentos cristãos. O meu dia a dia consiste em conjugar aspectos empresariais sadios com princípios e valores bíblicos aplicados ao campo da educação – novamente um misto de ciência e teologia. Confesso que, lá no fundo, adoraria ter um tio milionário que me financiasse, para que eu pudesse simplesmente ler, escrever e viajar o tempo todo... Não estou reclamando de nada, mas, afinal, sonhar acordado também faz parte da vida...
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sábado, fevereiro 11, 2006

Augustus Nicodemus Lopes

[Mais de] Cinco Pontos do [Meu] Calvinismo

Por     50 comentários:
(versão revisada depois de muitas pauladas)
Calvinistas estão entre as tradições religiosas mais mal compreendidas da história da Igreja. Sei perfeitamente que alguns deles fizeram por merecer. Há calvinistas que defendem suas convicções sem caridade, gentileza e sensibilidade para com quem diverge. Outros, não conseguem ouvir quem não seja calvinista. Não considero essas atitudes como intrínsecas ao calvinismo. As pessoas são assim porque lhes faltam domínio próprio e humildade, e não porque são calvinistas. Não há nada no calvinismo que exija que calvinistas sejam rudes, intransigentes, mal educados, excessivamente críticos e arrogantes.

Boa parte das acusações que têm sido feitas aos calvinistas, além de serem generalizações injustas, parecem proceder de uma falta de conhecimento adequado do que os calvinistas realmente acreditam. Como não falo por todos, vou dizer o que eu penso sobre alguns desses pontos mais polêmicos.

Para começar, o calvinismo não é um bloco monolítico. Há várias correntes dentro
dele. Todas se vêem como legítimas herdeiras do legado de João Calvino, desde presbiterianos liberais até puritanos modernos. Considero-me um calvinista dentro da tradição teológica que elaborou e até hoje mantém a Confissão de Fé de Westminster, muito similar às demais confissões reformadas dos batistas, congregacionais, episcopais e reformados.

1 – Creio que Deus predestinou tudo o que acontece, mas não sou determinista. O Deus que determinou todas as coisas é um Deus pessoal, inteligente, que traçou seus planos infalíveis levando em conta a responsabilidade moral de suas criaturas. Ele não é uma força impessoal, como o destino. Não creio que os atos da vontade e da liberdade humanas sejam mera ilusão e que nossa sensação de liberdade ao cometê-los seja uma farsa, como o determinismo sugere. Eu acredito que as nossas decisões e escolhas são bem reais e que fazem a diferença. Elas não são uma brincadeira de mau gosto da parte de Deus. Os hipercalvinistas
são deterministas quando negam a responsabilidade humana ou pregam a passividade dos cristãos diante de um futuro inexorável. Por desconhecer essa distinção, muitos pensam que todos os calvinistas são deterministas e que eles vêem o homem como um mero autômato.

2 – Creio que Deus é absolutamente soberano e onisciente sem que isso, contudo, anule a responsabilidade do homem diante dele. Para mim, isso é um mistério sem solução debaixo do sol. Não sei como Deus consegue ser soberano sem que a vontade de suas criaturas seja violentada. Apesar disto, convivo diariamente com essas duas verdades, pois vejo que estão reveladas lado a lado nas Escrituras, às vezes num mesmo capítulo e até num mesmo versículo!

3 – Encaro a relação entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana como sendo parte dos mistérios acerca do ser Deus, como a doutrina da Trindade e das duas naturezas de Cristo. A soberania de Deus e a responsabilidade humana têm que ser mantidas juntas num só corpo, sem mistura, sem confusão, sem fusão e sem diminuição de ambas.

4 – Creio que Deus predestinou desde a eternidade aqueles que irão se salvar e, ao mesmo tempo, oro pelos perdidos, evangelizo e contribuo para a obra missionária. Grandes missionários da história das missões eram calvinistas convictos. Calvinistas pregam sermões evangelísticos e instam para que os pecadores se arrependam e creiam. Se quiserem um bom exemplo, leiam O Spurgeon que Foi Esquecido, de Iain Murray, publicado pela PES. Nunca as minhas convicções sobre a predestinação me impediram de ir de porta em porta, oferecendo o Evangelho de Cristo a todos, sem exceção. Após minha conversão, e já calvinista, trabalhei como evangelista e plantador de igrejas durante vários anos, em Pernambuco.

5 – Creio que Deus já sabe, mas oro assim mesmo. Sei que ele ouve e responde, e que minhas orações fazem a diferença. Contudo, sei que ao final, através de minhas orações, Deus terá realizado toda a sua vontade. Não sei como ele faz isso. Mas, não me incomoda nem um pouco. Não creio que minha oração seja um movimento ilusório no tabuleiro da predestinação divina.

6 – Não creio que Deus predestinou todos para a salvação. Da mesma forma, não creio que ele foi injusto nem fez acepção de pessoas para com aqueles que não foram eleitos. Não creio que Deus tenha predestinado inocentes ao inferno, pois não há inocentes entre os membros da raça humana. E nem que ele tenha deixado de conceder sua graça a pessoas que mereciam recebê-la, pois igualmente não há pessoa alguma que mereça qualquer coisa de Deus, a não ser a justa condenação por seus pecados. Deus predestinou para a salvação pecadores perdidos, merecedores do inferno. Ao deixar de predestinar alguns, ele não cometeu injustiça alguma, no meu entender, pois não tinha qualquer obrigação moral, legal ou emocional de lhes oferecer qualquer coisa. Penso assim pois entendo que a Queda de Adão veio antes da predestinação na seqüência lógica (não na seqüência histórica) em que Deus elaborou o plano da salvação.

7 – Creio que Deus sabe o futuro, não porque previu o que ia acontecer, mas porque já determinou tudo que acontecerá. Por isso, entendo que a presciência de que a Bíblia fala é decorrente da predestinação, e não o contrário. Quem nega a predestinação e insiste somente na presciência de Deus com o alvo de proteger a liberdade do homem tem muitos problemas. Quem criou o que Deus previu? E, se Deus conhece antecipadamente a decisão livre que um homem vai tomar no futuro, então ela não é mais uma decisão livre. Nesse ponto, reconheço a coerência dos socinianos e dos teólogos relacionais, que sentiram a necessidade de negar não somente a soberania, mas também a presciência de Deus, para poderem afirmar a plena liberdade humana.

8 – Creio que apesar de ter decretado tudo que existe desde a eternidade, Deus acompanha a execução de seus planos dentro do tempo, e se comunica conosco nessa condição. Quando a Bíblia fala de um jeito que parece que Deus nem conhece o futuro e que muda de idéia o tempo todo, é Deus falando como se estivesse dentro do tempo e acompanhando em seqüência, ao nosso lado, os acontecimentos. É a única maneira pela qual ele pode se fazer compreensível a nós. Quem melhor explica isso é John Frame, no livro Nenhum Outro Deus, que vai ser lançado em março pela Editora Cultura Cristã. Minha esposa teve o privilégio de traduzir e eu de prefaciar essa obra, que será a primeira em português a combater a teologia relacional.

9 – Creio que Deus é soberano e bom, mas não tenho respostas lógicas e racionais para a contradição que parece haver entre um Deus soberano e bom que governa totalmente o universo, por um lado, e por outro, e a presença do mal nesse universo. Diante da perversidade e dos horrores desse mundo, alguns dizem que Deus é soberano mas não é bom, pois permite tudo isto. Outros, que ele é bom mas não é soberano, pois não consegue impedir tais coisas. Para mim, a Bíblia diz claramente que Deus não somente é soberano e bom – mas que ele é santo e odeia o mal. Ao mesmo tempo, a Bíblia reconhece a presença do mal do mundo e a realidade da dor e do sofrimento que esse mal traz. Ainda assim, não oferece qualquer explicação sobre como essas duas realidades podem existir ao mesmo tempo. Simplesmente pede que as recebamos, creiamos nelas e que vivamos na cereteza de que um dia ele haverá de extinguir completamente o mal e seus efeitos nesse mundo.

10 – Estou convencido que o calvinismo é o sistema doutrinário mais próximo daquele ensinado na Bíblia, ao mesmo tempo em que confesso que ele não tem todas as respostas. Leio autores das mais diferentes persuasões teológicas. Às vezes tenho sido mais desafiado e tenho aprendido mais com livros de outras tradições. Não deixo de ouvir alguém somente porque não é calvinista. Há calvinistas que não são assim. Contudo, é uma injustiça acusar a todos de estreiteza, sectarismo, obscurantismo e preconceito.

Deve ter ficado claro que um calvinista, para mim, é basicamente um cristão que tem a coragem de aceitar as coisas que a Bíblia diz sobre a relação entre Deus e o homem e reconhecer que não tem explicações lógicas para elas. Para muitos, esse retrato é de alguém teologicamente fraco e no mínimo confuso. Mas, na verdade, é o retrato de quem deseja calar onde a Bíblia se cala.
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sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Solano Portela

Os Liberais Recusam-se a Sumir...

Há uns três anos passei em frente a uma casa que estava em reforma e descobri onde é que eles se encontram. Está aí a foto para provar!

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quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Mauro Meister

Ciência, mais liberalismo e misticismo...


Como disse em post anterior, fui participar de uma conferência sobre o assunto do neopaganismo. Fui revelado em muitos 'mistérios', alguns dos quais eu não tinha a menor idéia. Entre os temas que foram abordados estavam a atual mistura entre ciência e religião, a mídia e as novas religiões (ficção científica) e até um estudo sobre o pessoal ligado em ufologia (creiam, religiões inteiras adorando os extra-terrestres).

Creio que em boa medida ainda estamos em uma fase em que subestimamos ‘A Força’ e seu lado espiritual. Por exemplo, você sabia que em 2001 a religião “Jedi” alcançou uma vaga na listagem do censo inglês quando 390.ooo pessoas listaram a sua religião como “Jedi”? É isto mesmo: entre as religiões que aparecem para serem marcadas no censo existe a
religião Jedi! Esse pessoal não precisa mais marcar a coluna ‘outras’, mas podem marcar o código para a ‘fé Jedi’ (a quarta maior religião na inglaterra). Pode ser que muito disso seja até brincadeira (houve até campanha na internet), mas muito não é! O conceito do maniqueismo dualista sempre foi uma idéia atrativa no mercado das religiões e continua sendo, agora promovido pela mídia de massa que atinge milhões de pessoas em todos os cantos do mundo com filmes como Star Wars, Matrix e outros de menor impacto. Ora, a religião Jedi, se segue a sua tradição segundo George Lucas, tem tudo a ver com uma força espiritual mística, com o controle desta força e com a comunicação com os mortos que anteriormente sabiam dominar a força. Afinal, tudo é uma questão de ‘conhecimento’ (gnose) da força e de evolução do espírito. Poderia dizer muito a respeito de Matrix e o antigo Contatos Imediatos do Terceiro Grau, mas seria chover no molhado. Com isto não quero dizer que estes filmes devem entrar na lista dos demonizados (por sinal, 7 entre 10 na lista dos presentes que meu filho pediu nesta viagem estavam relacionados a Star Wars – incluindo o hediondo General Grivious!).


O fato é que o conceito de espiritualidade no ocidente vem mudando em muitas frentes, inclusive através da ciência, que, tendo retirado do mercado de idéias qualquer possibilidade de uma revelação porposicional legitimamente divina, não conseguiu substituir com o racionalismo a necessidade espiritual do homem. Acontece que muitos cientistas modernos advogam uma espécie de ‘
nova ciência’ que mistura conceitos científicos com misticismo ocidental e oriental e ensinam estes conceitos como ciência. É só ligar a tv. O que muitos não sabem, no entanto, é que qualquer ciência é guiada por uma cosmovisão e seus pressupostos. O problema, no entanto, é que muitos dos ‘novos cientistas’ são recebidos pelo público como cientistas simplesmente, sem que seus pressupostos sejam clarificados. E ai existe uma grande diferença de tratamento. Se um cientista cristão ensina algum tipo de criacionismo, seja o Inteligent Design ou outro, imediatamente é taxado de fundamentalista religioso. Mas será que as idéias evolucionistas de Darwin e seus defensores eram ‘neutras’, não guiadas por um ou vários pressupostos, inclusive a idéia de que a velha religião cristã com sua visão de mundo precisava ser desbancada? James Herrick aponta bem para esta questão em seu livro, que já indiquei em outro post, The Making of the New Spirituality.

E o liberalismo, o que tem a ver com isto? Bem, pense na idéia da ‘ciência das religiões’. Será que é possível que alguém estude esta ciência de maneira neutra? Novamente, a resposta é não. Como qualquer ciência, este estudo traz em sua bagagem os seus pressupostos. Logo, quando um proponente do falso cristianismo (
vede o último post do Augustus) faz uma análise do cristianismo na perspectiva da ciência das religiões, o faz com ferramentas que carregam seus pressupostos. Nesse caso, o cristianismo ortodoxo torna-se a prisão da mística religiosa e o elemento de coerção social no Ocidente. O Deus da Bíblia torna-se ‘o sagrado’, ‘o divino’, ‘o mysterium’ e a única saida real é a fuga da racionalização em direção a uma religiosidade mágica. Voltamos ao velho paganismo!

Será que estas coisas estão longe de nós? Um exemplo interessante: no site da Youth for Christ (Mocidade para Cristo), inglaterra (
http://www.yfc.co.uk/General/index.htm) você vai encontrar uma oportunidade sem igual de fazer uma viagem espiritual pelo ‘labirinto’ (http://www.yfc.co.uk/labyrinth/online.html), uma prática mística medieval. Pss, não esqueça de tirar os sapatos...

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terça-feira, fevereiro 07, 2006

Solano Portela

O Credo Apostólico e a Sinuca de Bico


O aportuguesamento da palavra inglesa “snooker” nos deu “sinuca” – o famoso jogo da mesa de feltro, que na minha infância era sinônimo de malandragem. Quando a bola com a qual se joga fica encostada na caçapa, ou seja, no bico da mesa, temos a “sinuca de bico” – consagrada metáfora que define uma situação sem saída.

Pois bem, ficamos numa sinuca de bico quando temos que explicar alguns termos utilizados no Credo dos Apóstolos! Não, não estou me referindo à enigmática expressão “desceu ao Hades”. Sei que ela necessita de mais ou menos uma hora e meia de exposição e sólida exegese para explicar o seu significado aos fiéis recitadores do Credo.

Meu problema está mais à frente. Quando eu era moleque, recitava – “creio na Santa Igreja Católica” – aí o pastor, no final ou início da recitação do Credo, dava a explicação clássica, de que “católica” significa universal. Ele explicava que ninguém estava falando da igreja do padre, etc., etc. Os catecismos mais sofisticados tinham até uma nota de rodapé (novidade, naquele século, depois avidamente popularizada pelo Dr. Hérmisten Maia Pereira da Costa, em seus escritos) explicando isso.

Com o passar dos anos, decidiu-se (alguém sabe qual foi o Concílio?) descartar o “católica” e, inocentemente, partir já para “universal”. Milhares de cópias ficaram perdidas e encalhadas nos estoques das editoras, mas todos os Credos dos Apóstolos disponíveis foram grafados, a partir daí: “... creio na santa igreja universal”. Os pastores suspiraram aliviados, pois não tinham mais que explicar e os fiéis sorriam com a compreensão plena do que diziam.

Mal sabiam, os idealizadores da nova expressão, sobre a metamorfose que o Edir Macedo estava sutilmente planejando nos porões de um galpão, no Rio de Janeiro. Planejava um grande movimento objetivando a explosão populacional dos fiéis, com mezinhas místicas “a la Roma” e com uns atrativos materialistas aqui e ali.

Resultado: atualmente, depois que recitarem o Credo dos Apóstolos em suas igrejas, não esqueçam de explicar (no início ou no final – tanto faz), que “creio na santa igreja universal” não tem nada a ver com o Edir Macedo; que “universal” significa católica e não os templos que se vêem por aí; que não temos sanção para chutar santas, etc., etc.

Essa explicação ainda vai ficar clássica...
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segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Augustus Nicodemus Lopes

Precisamos levar os liberais a sério

Em 2002 John MacArthur pregou uma mensagem na qual disse que o maior problema da Igreja era não saber e não querer distinguir entre um cristão verdadeiro e um falso. Concordo com ele. Todo mundo se considera cristão. Mórmons, Testemunhas de Jeová, espíritas, católico-romanos, liberais, fundamentalistas, ortodoxos e por ai vai. A não ser que sejamos universalistas e reduzamos o Cristianismo à definição de Schleiermacher (“religião é simplesmente a consciência da dependência de Deus”), temos que admitir que nem todos que se dizem cristãos de fato o são.

Uma das obras mais importantes produzidas no calor do debate entre fundamentalistas e liberais no início do séc. XX foi
Cristianismo e Liberalismo de J. Gresham Machen (já publicada em português), provavelmente o mais preparado exegeta da frente conservadora na época. A tese de Machen era que a religião resultante do liberalismo simplesmente não era Cristianismo. Criam noutro Deus, usavam outra Bíblia, seguiam outro Cristo e pregavam outro Evangelho.

Machen estava absolutamente correto, mas não foi ouvido. O “meião” das principais denominações pensava que o liberalismo era apenas mais uma corrente da já fragmentada ala protestante do cristianismo. Pensavam que o confronto entre conservadores e liberais era intramuros, duas legítimas facções cristãs duelando por espaço. Hoje, contudo, fica cada vez mais claro que esse confronto ultrapassa os limites do cristianismo. É um conflito de religiões.

Não me entendam mal. Não estou dizendo que todos os liberais vão para o inferno e nem que todos os conservadores vão para o céu. Estou apenas dizendo que aquilo em que o liberalismo teológico acredita é completamente distinto daquilo que o Cristianismo acredita. Já estou vendo gente levantando a mão e dizendo que os liberais é que se consideram o Cristianismo. Eu respondo que não dá, pois eles ainda não chegaram a um acordo sobre quais estórias e ditos de Jesus nos Evangelhos são verdadeiros ou não e, portanto, não podem dizer se o que crêem é Cristianismo ou não.


Temos que levar os liberais a sério e entender muito bem aquilo em que acreditam. Para eles, a verdade evolui, cresce e muda. E não somente ela, mas nosso entendimento da mesma evolui a ponto de certezas anteriores poderem ser substituídas por novas e contraditórias verdades. Assim, as crenças de ontem não servem para hoje. Liberais realmente acreditam que a fé professada pela Igreja Cristã durante dois mil anos está equivocada e ultrapassada, no todo ou em parte. Acreditam sinceramente que é preciso reinventar a Igreja, refazer a teologia dos pés à cabeça, reformular os antigos credos, criar novas formas litúrgicas e adotar novas posturas em relação à ciência, a cultura e as outras religiões. E desse ponto de vista, os maiores inimigos da verdade são os conservadores, os fechados, obtusos, intransigentes e fundamentalistas que se entrincheiraram nas denominações e seminários e teimam em conservar antigas crenças.

O que o liberalismo propõe não é um remendo do Cristianismo. É uma substituição.

Senão, vejamos. O liberalismo teológico crê que a Trindade e a divindade de Jesus Cristo são frutos da invasão da filosofia grega na teologia cristã nascente, que Deus não se revelou de forma proposicional, que talvez ele seja imanente e não mais transcendente, que a Bíblia é apenas o testemunho escrito (e falível) da fé de Israel e da Igreja primitiva, que Paulo deturpou o cristianismo simples de Jesus e dos Doze apóstolos e inventou a doutrina da justificação pela fé em Cristo. Paulo também inventou que Jesus morreu pelos nossos pecados e ressuscitou fisicamente de entre os mortos. Acreditam que no momento em que a Igreja Cristã começou a elaborar credos e confissões ela se desviou do cristianismo simples do Jesus histórico e nos deu um Cristo da fé, processo que já teria começado com os apóstolos, especialmente Paulo. Acreditam que a Igreja Cristã se perdeu completamente na interpretação da Bíblia através dos séculos e que somente com o advento do Iluminismo, do racionalismo e das filosofias resultantes é que se começou a analisar criticamente a Bíblia e a teologia cristã, expurgando-as dos alegados mitos, fábulas, lendas, acréscimos, como os mitos da criação e do dilúvio, personagens inventados como Adão e Moisés, etc.

Ainda que nem todos os pontos acima sejam professados por todos os liberais, eles expressam razoavelmente o que o liberalismo em geral acredita. E como se pode ver, liberalismo não é Cristianismo, apesar de usar sua forma e linguagem.

Os liberais acreditam que sua missão é permanecer nas igrejas e seminários e lutar por mudanças. Eles têm uma missão, um sonho, um ideal. O messianismo liberal tem como alvo iluminar os ignorantes presos nas trevas da tradição e libertar a Igreja dos obtusos, obscurantistas e inimigos do progresso da verdade. Lutarão até o fim para isso. Não se sentem compelidos a sair de suas denominações. Acham legítimo usar os recursos delas nessa cruzada santa. Até porque, como já disse em outro post, não têm outra forma de suporte ou sustento.
Muitos evangélicos de hoje não conseguem ver a diferença entre liberalismo e Cristianismo. A razão, em parte, é que os liberais continuam a usar as estruturas eclesiásticas tradicionais e o vocabulário cristão tradicional, embora com outro sentido. Outra razão é a falta de convicções doutrinárias do evangelicalismo brasileiro, minada pelo pragmatismo e relativismo de nossa época.

Precisamos levar os liberais a sério. Isso significa reconhecer claramente o grande abismo que separa o que eles crêem do Cristianismo.
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sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Solano Portela

A falácia dos liberais: “temos uma teologia contemporânea e relevante”!


Os liberais gostam de posar de contemporâneos e relevantes em sua teologia, enquanto que apresentam aqueles que prezam as Escrituras como partidários de uma teologia retrógrada e atrasada. Referindo-se aos conservadores, um professor de seminário escreveu, recentemente, “insistir na retórica teológica oitocentista, é responder a perguntas que ninguém mais está fazendo”.

Os documentos e credos históricos, como a Confissão de Fé de Westminster, são rejeitados e ridicularizados e o moto da Reforma – Sola Scriptura – é olhado com desdém. A Bíblia não é aceita como singular, pertinente, revelativa e fonte de autoridade. Em sua "tolerância" lupina que encobre real intolerância, acusam os conservadores de terem uma compreensão que não somente é inválida, mas também prejudicial à igreja e à sociedade contemporânea.

Enquanto esbravejam e se revoltam contra aqueles que rotulam de “donos da verdade”, por acreditarem na verdade da Palavra de Deus, dedicam-se a uma teologia meramente especulativa. Rejeitando a fonte básica da teologia – as Escrituras, a relevância, para os liberais, é supostamente obtida em compêndios sociológicos e em um envolvimento social mal direcionado; ou em tratados filosóficos que se propõem a analisar as práticas discursivas dos oponentes, imprimindo novos significados à existência da humanidade. Essa visão leva freqüentemente a um hiper-ativismo social, que é alienador da verdadeira espiritualidade. Esse é o caso, por exemplo, da “teologia” da libertação, da “teologia” do processo e de outros ramos “teológicos” peculiares à era pós-moderna na qual nos situamos.

Acontece que teologia especulativa tem existido há séculos. Na igreja primitiva, já existia nos gnósticos e se faz presente hoje como ocorrerá no dia de amanhã. A conseqüência nefasta desse afastamento da ortodoxia e da fé cristã histórica é a cauterização de milhares de mentes que, julgando-se autônomas de um Deus retratado como não sendo soberano, rejeitam a mensagem do evangelho salvador de Cristo, e entregam-se a especulações vãs e mortais, no sentido mais eterno possível.

Mas quão relevante e contemporânea é, realmente, a “teologia” especulativa dos liberais? Será que teologia, como querem nos convencer, é algo comparável ao iogurte que perde sua validade dentro de algum tempo e, como conseqüência temos que estar apegados ao último modismo? Devemos rejeitar autores clássicos, como Hodge, Warfield, Kuyper, Berkhoff e outros que procuram e manter fiéis à Escritura, por serem “antiquados”? E quão moderna e atualizada é realmente essa “teologia” liberal?

Correção teológica não é simplesmente uma questão de se rejeitar o antigo e se apegar ao contemporâneo. Autores clássicos podem ser rejeitados por refletirem o ensinamento das Escrituras, mas teologia especulativa não é uma descoberta recente nem uma marca de modernidade, pós-modernidade ou contemporaneidade. Ao longo de toda a história da igreja heresias racionalistas têm surgido, com maior ou menor intensidade. Os liberais apresentam, na realidade, apenas uma mímica mal-feita do racionalismo alemão de F. D. R. Schleiermacher (1768-1834), de A. Ritschl (1822-1889) e outros que se esmeraram em questionar a historicidade dos pontos de fé do cristianismo nos idos do século 18 e 19. Logo eles, que se rebelam contra uma “teologia oitocentista”, vão beber na fonte de autores desacreditados no campo da ortodoxia cristã. Tanto saudosismo poderia, pelo menos, tê-los levado à opção correta pelos “oitocentistas” fiéis às Escrituras.

Essa rejeição latente da teologia clássica e a busca incessante pela descoberta da pólvora teológica os afastam mesmo é da cena contemporânea, lançando-os sob as asas de racionalistas setecentistas, por mais atualizados que queiram parecer.
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quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Augustus Nicodemus Lopes

Sobre a Inerrância da Bíblia

Num post anterior mencionei a inerrância da Bíblia. Por ser um conceito muito mal entendido e muito atacado, acredito que mereça um post explicativo. Como eu sei que não tenho procuração de todos que acreditam na inerrância da Bíblia para falar por eles, vou falar por mim somente.

Creio que a Bíblia foi escrita por autores sobrenaturalmente inspirados por Deus a ponto de ser verdadeira em tudo o que afirma, e isto não somente em matérias de fé e história da salvação. Ela é livre de erros, fraude e enganos. A Escritura não pode errar por ser em sua inteireza a revelação do Deus verdadeiro. Ela não é somente uma testemunha da revelação e nem se torna revelação num encontro existencial. Ela permanece a inerrante Palavra de Deus independentemente da resposta humana.

Estou persuadido de que o sentido básico desse conceito não foi inventado pelo escolasticismo protestante pós Reforma e nem pelos fundamentalistas históricos do início do séc. XX em reação ao liberalismo teológico. Sei que o termo “inerrante” só apareceu na Igreja a partir dessa última controvérsia. Contudo, para mim, é evidente que o conceito está presente na fé da Igreja desde o seu início. Apesar disso, não acredito que abraçar a inerrância é essencial para a salvação. Negá-la, todavia, pode eventualmente trazer prejuízos para a vida espiritual da igreja, abrindo a porta para males morais e espirituais.

Ao dizer que a Bíblia é inerrante, não estou negando que erros de copistas se introduziram no longo processo de transmissão da mesma. A inerrância é um atributo somente dos autógrafos, ou seja, do texto como originalmente produzido pelos autores inspirados por Deus. Muito embora hoje não tenhamos mais os autógrafos, pela providência divina podemos recuperar seu conteúdo, preservado nas cópias, quase que totalmente, através da ajuda de ferramentas como a baixa crítica ou a manuscritologia bíblica. A ausência dos autógrafos não torna a inerrância bíblica irrelevante, como dizem alguns. Se não temos os autógrafos para provar que eles não contêm erros, eles também não os têm para provar que contêm. Lembro que o ônus da prova é deles.

Quando digo que a Bíblia é inerrante, não ignoro estudos recentes na área de linguagem que apontam para os ruídos inerentes na comunicação, como o desconstrucionismo. Tais dificuldades, contudo, não impedem que o Deus que nos fez à sua imagem e semelhança, e que criou a linguagem, a use como meio claro de sua revelação inerrante, a ponto de nem a cultura e nem a pecaminosidade humana distorcerem o que ele quis de fato nos dizer.

Também não estou dizendo que os autores bíblicos receberam conhecimento pleno e onisciente acerca do mundo, quando escreveram. Não creio em inspiração mecânica ou em ditado divino que anulou a humanidade dos autores. Eles se expressaram nos termos e dentro do conhecimento disponível em sua época. Assim, eles descrevem que o sol nasce num lado do céu e se põe no outro, ou ainda mencionam que o sol parou no céu (Josué). No livro de Levítico se diz que a lebre rumina e que o morcego é uma ave. Sabemos que pelas convenções técnicas atuais lebres não ruminam e morcegos não são aves. Os autores bíblicos, entretanto, estavam se expressando em linguagem coloquial, fenomenológica, como observadores. E do ponto de vista do observador, o sol de fato se move no céu. E na Antigüidade, todos os animais que mexiam com a boca após comer pareciam ruminantes e tudo que tinha asas e voava era ave!

Sei também que não posso explicar todas as dificuldades da Bíblia em termos absolutamente satisfatórios. Por exemplo, a harmonia dos Evangelhos continua sendo em parte um desafio para autores comprometidos com a inerrância bíblica, pois nem sempre se consegue achar uma explicação plena (ainda) para alguns dos problemas levantados pelas aparentes discrepâncias entre os Evangelhos e entre Crônicas e Reis. Sei, no entanto, que não posso aceitar soluções que impliquem numa diminuição da autoridade das Escrituras, sugerindo contradições ou erros. Prefiro aguardar até que mais informações nos ajudem a achar soluções compatíveis com a natureza da Escritura e sua divina origem.

Ao afirmar a inerrância da Bíblia não estou ignorando que, com freqüência, as teorias científicas sobre a história da terra têm sido usadas para desacreditar o relato bíblico da criação, do dilúvio e sua cosmovisão geocêntrica. Entendo, contudo, que não é correto avaliar a veracidade da Bíblia mediante padrões de verdade que são distintos do seu propósito e que se baseiam em conclusões provisórias, efêmeras e freqüentemente desmentidas a posteriori por outros estudiosos e cientistas. A Bíblia não é um livro científico, nos padrões modernos, e frequentemente se refere aos fenômenos naturais usando a linguagem descritiva do observador, como já mencionei, a qual não é cientificamente analítica.

Por fim, estou consciente de que às vezes ocorre na Bíblia o que estudiosos modernos chamariam de erros de gramática com base no que se conhece hoje do grego, hebraico e aramaico. Sei que autores bíblicos citam outras partes da Bíblia de maneira livre, que eles usam números arredondados e que relatam os mesmos eventos de diferentes perspectivas, como no caso dos Evangelhos. Essas coisas, todavia, em nada prejudicam a inerrância da Bíblia. Ela permanece plenamente confiável em tudo que afirma, uma vez que a tomemos em seus próprios termos, sem impor-lhe a camisa de força da visão de mundo moderna, moldada por pressupostos secularizados e anticristãos.

A negação da inerrância da Bíblia é típica da esquerda teológica protestante e católica(*), afetada por uma cosmovisão oriunda das filosofias e ideologias que emergiram do Iluminismo, trazidas ao Brasil por cursos de teologia oferecidos em instituições de ensino públicas ou de denominações não mais comprometidas com os itens da fé cristã histórica. Junto com a negação da inerrância geralmente vem uma postura liberal quanto a casamento, divórcio, aborto, eutanásia, sexo antes do casamento, homossexualismo, etc. Há exceções e quero deixar isso claro, para não fazer generalizações injustas.

Ao terminar esse post, perguntei a mim mesmo se não é teimosia continuar a acreditar na inerrância da Bíblia depois de ter listado tantas dificuldades e feito tantas ressalvas. Quando penso, por outro lado, em todas as dificuldades e ressalvas que a esquerda teológica tem que enfrentar para defender a validade e a relevância para hoje de uma Bíblia que é cheia de erros e contradições, não sendo mais que um mero registro humano da fé de Israel e dos primeiros cristãos eivado de mitos e fábulas, vejo que é mais coerente continuar crendo na inerrância. Aqui permaneço.

NOTA: (*) “Esquerda teológica protestante e católica” é uma expressão que estou testando para ver se pode ser usada adequadamente para descrever os protestantes e católicos neoliberais. Tenho em mente os adeptos da teologia da libertação, que defendem o ecumenismo, aceitam a alta crítica bíblica e se vêm como comissionados a reinventar a Igreja e a teologia para os dias de hoje. Uso o termo “esquerda” emprestado da política, sem querer identificar os esquerdistas teológicos com esquerdistas políticos, em que pese a agenda e a credenda comum a ambos.
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