terça-feira, março 25, 2008

Solano Portela

Os teonomistas mordem? ou "Reconstrucionismo para leigos"

Vou colocar algumas informações sobre os teonomistas (Theonomists), também conhecidos como dominionistas (Dominonists), amplamente extraídas da memória, portanto, com possíveis lapsos e imperfeições e sem nenhuma pretensão de dar todos os ângulos sobre o movimento, ou sobre as pessoas que têm recebido esse rótulo.
Como indica o próprio nome, teonomia tem a ver com a lei de Deus. Mais especificamente com o papel da lei de Deus e sua aplicabilidade em todas as eras. Ainda mais restritamente, com o entendimento da abrangência da lei de Deus. Os chamados teonomistas dizem que as expressões da lei de Deus representam um modelo a ser emulado em qualquer época ou sociedade - não aceitando sem muitas qualificações a clássica divisão entre lei civil ou judicial; lei religiosa e cerimonial e lei moral. O movimento começou na década de sessenta, do século passado, nos Estados Unidos e destaco os seguintes pontos a relembrar e a ponderar:

1. O Guru do movimento foi o já falecido Rousas J. Rushdoony (1916-2001), brilhante teólogo reformado e apologista cristão, seguidor do pensamento do apologista e teólogo Cornelius Van Til, do Westminster Theological Seminary, especialmente na sua identificação como um "pressuposicionalista" (contrapondo-se aos "evidencialistas").

2. Possivelmente, o livro mais famoso dese teólogo foi o seu "Institutes of Biblical Law". Nesse livro ele faz uma exposição principalmente dos Dez Mandamentos, mas também de inúmeros pontos da legislação judicial mosaica, representando uma coletânea de ensaios ético-teológicos, sobre os diversos aspectos da lei de Deus, com considerações práticas na história e na vida contemporânea. Um dos pontos defendidos, no livro, é o da aplicabilidade da legislação civil a todas as sociedades, em todas as eras. Nesse sentido, a tarefa dos cristãos seria reconstruir uma sociedade formada à luz da lei de Deus, pela pregação do evangelho e por esforços de pressão e persuasão junto ao governo e legisladores. Daí serem chamados, também, de reconstrucionistas, além de teonomistas.

3. O movimento atraiu muitos reformados, principalmente dentro do campo presbiteriano (especialmente na Igreja Presbiteriana Ortodoxa - OPC, denominação de vários de seus proponentes, por vários anos). Também fez progresso no meio de vários Batistas Reformados; veio, entretanto, tomar uma forma mais teórica com a publicação de um livro do Greg L. Bahnsen em 1977, chamado: "Theonomy in Christian Ethics". Bahnsen, escritor eficaz e debatedor de primeira linha (dizem que os ateus temiam debatê-lo) lecionava no Reformed Theological Seminary e o livro ajudou a popularizar o movimento e a atrair, também, muita oposição.

4. O pós-milenismo veio a tornar-se uma das características do movimento, pois os que se identificavam com a linha viam a ação do cristianismo como fonte de uma sociedade futura justa e controlada por princípios emanados da Palavra. Rushdoony escreveu um livreto, que teve ampla circulação, defendendo esse pós-milenismo (que difere do pós-milenismo clássico - que via uma melhoria progressiva na raça humana; e do pós-milenismo puritânico - que via o milênio como o resultado de um reavivamento operado por Deus pela igreja), chamado: "Eschatology of Victory".

5. Logo muitos livros foram publicados e um peródico acadêmico ("Journal of Christian Reconstruction"), contendo vários artigos profundos sobre temas correlatos, era publicado duas vezes por ano. Os artigos produzidos e outras publicações emanadas do campo teonomista sempre tinham uma boa profundidade e grande dose de erudição, bem como a tentativa de fundamentação bíblica às idéias apresentadas. Um dos autores que mais escreveram, nessa linha, foi o Gary North (genro de Rushdoony). North, economista de formação - e não teólogo, espinafrou com competência as políticas inflacionárias dos governos. Um dos ótimos artigos publicados no "journal" já mencionado, teve o título: "Isaiah's Critique of Inflation", e baseava-se na condenação que Isaías faz dos que adulteravam a prata. North comparava isso ao abandono de um padrão monetário fiel e chama explicitamente de roubo. Hoje ele está muito mais dedicado a artigos econômicos do que a ensaios teológico-sociais, como antigamente.

6. Uma outra publicação que cresceu e se estabeleceu, foi a revista (no início, era apenas uma newsletter) chamada "Chalcedon Report", que existe até hoje, acredito. Na realidade, o movimento foi abrigado pela Chalcedon Foundation, cujas atividades foram bem além da publicação da revista: distribuía sermões e palestras gravadas (outro grande meio de divulgação, nos States), publicava livros e empregava, em tempo integral vários dos pensadores do movimento (site atual: http://www.chalcedon.edu/) .

7. Pelo que sei, patrocinaram uma faculdade e fizeram sua presença sentida em quase todos os seminários de linha reformada, desde a década de setenta até o presente, provocando grandes debates e alinhamentos entre alunos e, por vezes, envolvendo professores nas controvérsias. Na década de noventa atraíram para o quadro de articulistas o Rev. Steve Schlissel, grande pregador e escritor de Nova York, que foi expulso da Christian Reformed Church porque se insurgiu contra várias diluições doutrinárias naquela denominação, especialmente com relação à abertura progressiva dela ao homossexualismo. Ele produziu (produz?) inúmeros artigos interessantes, inclusive uma série de oito ou dez artigos sobre o princípio regulador no culto, no qual defende uma posição, com várias diferenças das normalmente apresentadas na tradição puritana, com muita competência e precisão.
8. Os teonomistas nem sempre foram caracterizados por graça na defesa apaixonada de suas posições. A linguagem era, por vezes, virulenta contra irmãos na fé. Na área de obediência às leis, defenderam, por muitas vezes e em muitas situações, uma postura de desobediência civil. Alguns radicais, do campo, chegaram a advocar a concretização da resistência ao governo "ímpio e corrupto", na forma de recusa no pagamento de impostos - principalmente o "de renda" (não fiquem tentados...). No cômputo final, terminaram por brigar consideravelmente entre si. Gary North brigou com o próprio sogro (Rushdoony) e continua escrevendo bastante, mas em rumo separado dos teonomistas.

9. O link que coloquei, acima, provavelmente é uma das melhores fontes do estado atual do movimento. Na minha avaliação, os teonomistas têm muito a nos ensinar, mas não posso embarcar na visão anacrônica e não bíblica da aplicabilidade da lei judicial ou civil de Israel aos dias de hoje (quiçá da cerimonial), nem na visão de uma sociedade controlada e transformada pela lei, em vez de "salgada" e "iluminada" pelo evangelho (e, assim, na providência divina, preservada até o tempo do julgamento de Deus). Gosto muito de Rushdoony e ele tem uma leitura interessante e elucidativa de vários aspectos da lei moral de Deus. Na área filosófica, um dos expoentes do reconstrucionismo foi o Dr. Gordon Clark [1902-1985] - mente brilhante, um dos meus favoritos (Um dos seus grandes livros é: "A Christian View of Man and Things").

10. No Brasil, algumas pessoas têm se interessado pela corrente, ou por alguns de seus expoentes. Se o teonomismo encontra dificuldades e resistência em uma terra que tem raizes (e ainda algumas nuances) cristãs, imagine em uma sociedade secularizada e dicotomizada (religião x sociedade civil) como a nossa! No rescaldo, vejo-me aprendendo uma coisa aqui e outra ali, dos tenomistas, enquanto exerço minha liberdade cristã de rejeitar vários dos fundamentos defendidos por eles. Não aceito "comprar o pacote completo", nem descartá-los como inconsequentes e não bíblicos em tudo. São, via de regra, gente séria e sincera, que tem muito a ensinar, principalmente no apreço pela Palavra de Deus e em encontrar uma forma de aplicação dos principios das Escrituras nas questões do dia a dia da vida. Uma nota curiosa, é que encontrei já vários segmentos neo-pentecostais que se alimentam da filosofia e das idéias dos reconstrucionistas (principalmente um determinado grupo, da Guatemala, liderado pelo pastor Harold Caballeros - da Igreja El Shaddai e do Movimento Apostólico). Aparentemente os ensinamentos dos teonomistas, de entrelaçamento com a sociedade civil e de conquista (reconstrução), encontraram eco em pontos tipicamente neo-pentecostais relacionados com batalha territorial, conquistas e respeitabilidade social, mesmo com a identificação que os reconstrucionistas fazem, de si próprios, como verdadeiros expositores e abraçadores da teologia da reforma.

Solano Portela
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domingo, março 16, 2008

Solano Portela

O Estudo da Teologia e as Escrituras

Estudar teologia não é uma área segregada à academia teológica; não pertence à esfera de intelectuais maçantes que se preocupam em descobrir e firmar termos técnicos incompreensíveis aos demais mortais; não é monopólio daqueles que escrevem livros meramente para adquirir a respeitabilidade e admiração de seus colegas docentes; nem pertence a mosteiros anacrônicos, que procuram se aproximar de Deus distanciando-se do mundo que Ele criou. Mas é tarefa de todas as pessoas – quer elas reconheçam esse dever, quer não. É simplesmente pesquisar no lugar correto sobre a pessoa de Deus através do estudo do que ele é, e do que ele faz.

Ter uma compreensão teológica adequada, extraída da fonte correta, sobre a pessoa e os atos de Deus, é o que nos coloca no rumo do reconhecimento e glorificação da Sua Pessoa. Essa compreensão das coisas que podemos aprender sobre a divindade, tem que ser sedimentada nos corações pelo poder soberano do Espírito Santo e correlacionada com as atividades do dia-a-dia, pelo poder salvador de Cristo Jesus – Criador e centro da Criação. Isso é o que dá sentido à nossa existência e é o que nos aproxima da nossa finalidade original, que foi distorcida e desviada pelo pecado. É a ante-sala da eternidade, aqui na terra.

Existe, portanto, a propriedade do estudo desta área de conhecimento. Deve ser reconhecida, também, a centralidade do estudo da teologia, na gama de conhecimentos disponíveis ao homem. Estudar teologia é algo importante para que compreendamos a vida e o nosso papel nela. Teologia, em seu conceito, é o summum bonum do pensar: nada a excede em importância e relevância e todas as pessoas, quaisquer que sejam as suas carreiras ou profissões, deveriam estar envolvidas nesse estudo. Essa atividade intelectual não é antagônica nem contraditória à verdadeira piedade e devoção a Deus. Muitos, é verdade, advertem contra o estudo da teologia. Vários a contrapõem à piedade cristã; e ainda outros acham que o muito estudar afasta de Deus. Mas a realidade é que esse pensar é fruto do “espírito anti-intelectual dessa geração”, que “tem se infiltrado de tal maneira na igreja, que eles recusam a crer que alguma atividade intelectual possua valor intrínseco”.[1] É preciso, entretanto, nadar contra a corrente e resgatar um estudo lógico, profundo, sistemático sobre o Deus verdadeiro.

Tudo isso começa com uma compreensão da doutrina das Escrituras. Com a verificação e aceitação que elas são Palavra de Deus, a base de tudo que se possa compreender sobre as demais doutrinas. A Confissão de Fé de Westminster tem essa progressão lógica. As doutrinas de Deus, do Homem, de Cristo, e da Salvação são estudadas após as estacas estarem firmadas na Palavra Inspirada. A partir dessa fonte é que elas são apresentadas Para o estudo da teologia é necessário, portanto, o saudável apreço pela Escritura; pelo lugar básico do meio de comunicação de Deus para com as pessoas – a Bíblia – como fonte do conhecimento religioso e como lugar onde encontramos as respostas às questões principais relacionadas com o nosso propósito e nosso destino.

Precisamos fugir do subjetivismo que tem mirrado as mentes cristãs, e voltarmos à revelação proposicional e objetiva da Palavra de Deus. Não podemos nos deslumbrar ou nos enganar com a pretensa super-espiritualidade contemporânea, que pretendendo estar mais próxima de Deus em um enlevo místico-misterioso, no qual dialoga-se com Deus, recebe-se revelações; fala-se muito em amor, em vida, em ministério, em pregação, em poder, em maravilhas, em atividades, em louvor; enquanto que progressiva e paralelamente há demonstração de afastamento e desprezo para com a única fonte de revelação objetiva que Deus nos legou: As Sagradas Escrituras.

As Escrituras não se constituem em uma mera compilação ou registros das formulações e reflexos do pensar teológico humano, ao longo dos tempos. A Bíblia não representa a apreensão subjetiva, e estritamente humana, de comunidades “lucanas”, “petrinas”, “paulinas” – eivadas de erros, mitos e cacoetes próprios, que precisam ser “descontruídos” para se chegar ao cerne de uma mensagem desfigurada e anacrônica. Muitos livros existem que tratam a Bíblia dessa maneira. O liberalismo teológico tem tomado de assalto diversos segmentos da igreja cristã. Tais trabalhos não servem ao proveito real de ninguém, a não ser à suposta intelectualidade dos autores, antigos e contemporâneos, que assim pretendem se colocar como juizes sobre os textos inspirados. A Bíblia é a palavra inspirada de Deus – merecedora de toda confiabilidade; livre de erro; fonte confiável de instrução ao homem sobre Deus e seus atos criativos, de justiça e redentivos, na história.

O estudo da Teologia constitui-se em uma abordagem objetiva, sistemática e lógica dos dados encontrados nas Escrituras e esse tipo de estudo anda por demais ausente do chamado evangelicalismo. Vivemos em meio a um mar de posições amorfas e pseudo-amorosas que inundam o campo editorial cristão e, com muita intensidade, até o reformado. É necessário trabalhar com propriedade os textos, conceitos e doutrinas e laborar em lógica de pensar – algo perdido e raro entre os evangélicos. É necessário que tenhamos mais vozes que defendam clara e apaixonadamente a infalibilidade das Escrituras.

Temos que apreciar esse papel fundamental da Bíblia. Os reformadores, no século XVI, compreenderam isso. A fé reformada procura fazer com que a interpretação das escrituras seja a mais objetiva possível, de tal forma que o elemento subjetivo esteja sempre sujeito à visão mais transparente e proposicional do texto. Nesse sentido, o resgate do Sola Scriptura, na Reforma, e o re-ensinar da doutrina do sacerdócio universal dos crentes – que, além de outras implicações, nos autoriza a ir até a Bíblia e verificar o que Deus nos falou através de seus autores inspirados, foi passo gigantesco no mundo do subjetivismo e do misticismo em que havia mergulhado a igreja medieval.

Os cristãos não podem se render ao ressurgimento contemporâneo dessa situação eclesiástica, dominada por mentes teológicas atrofiadas, vendidas ao misticismo e subjetivismo, presente em tantas formas cúlticas e de louvor de igrejas, ou de “comunidades” cristãs. Não podemos nos esquecer que Paulo, em Romanos 12.1-2, diz que Deus quer de nós o nosso “culto racional”, com a “renovação da nossa mente”, para que “experimentemos...”. Ou seja, a experiência deve estar subjugada ao entendimento. Mesmo que a racionalidade esteja ausente do nosso meio; mesmo que o subjetivismo esteja patente, com a negação das Escrituras como única fonte confiável de conhecimento religioso; mesmo que inúmeras pessoas passem a dar importância ao direcionamento que “sentem”, ao “recebimento” de revelações e profecias; devemos permanecer racional e firmemente alicerçados na Palavra e sempre considerar bem-vindas obras e livros que tenham essa mesma abordagem e compreensão.

Devemos ser estimulados a pensar e a defender a nossa compreensão e convicções – ou a modificá-las, quando sentirmos o peso da argumentação bíblica e assim formos direcionados pelo soberano Espírito Santo de Deus.

Solano Portela
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[1] Introdução à Teologia sistemática de Vincent Cheung (São Paulo: Arte Editorial, 2008), p. 5, cujo prefácio escrevi. Aquele prefácio serviu de base, com adaptações, para este ensaio. Apesar de minha discordância com Cheung em alguns escritos seus, este livro (Introdução...) é um livro estimulante e que demonstra apreço pela Palavra de Deus.

Ilustração: Sala de Teologia do Strahovský Klášter de Malá Strana, na cidade de Praga .

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quarta-feira, março 12, 2008

Mauro Meister

Encontro de Educadores

Já há algum tempo estamos envolvidos com a Educação Cristã Escolar e com vários eventos que reúnem educadores cristãos de nosso país. Quero apresentar aos leitores do Tempora a ACSI (Associação Internacional de Escolas Cristãs - Association of Christian Schools International) e o 7º Encontro Nacional da associação que será no próximo mês de maio, dias 01 e 02.

A ACSI foi fundada há quase 30 anos e dai em diante espalhou-se por mais de 100 países, 5000 escolas associadas e mais de 1.200.000 alunos. No Brasil ainda estamos nos 'humildes começos'. Temos cerca de 70 escolas associadas que atendem cerca de 18.000 alunos. Buscamos dar apoio aos educadores cristãos através da publicação de materiais de fundamentos filosóficos, práticos e didáticos para professores, além de eventos para diretores, professores e alunos, como olimpíadas de matemática e concursos de conhecimentos gerais, Bíblia, geografia e outros.

No dia 30 de abril teremos o Encontro para Diretores de escolas cristãs quando serão discutidos temas relevantes da administração escolar e o tempo é usado para compartilhar caminhos, dificuldades e soluções encontradas nas diferentes realidades das escolas brasileiras.

Dia 01 e 02 receberemos cerca de 400 educadores vindos de todas as partes do Brasil para dois dias de intensas atividades entre plenárias, oficinas e grupos de interesse. Confirmados para este ano já temos David Wilcox (Diretor de Assuntos Internacionais da ACSI Internacional), Estuardo Salazar (Diretor Regional da ACSI na América Latina), Fernando Capovilla (Professor da USP e autor), Solano Portela (Presidente do Conselho da ACSI-Brasil), Anita Gordon (Editora de Materiais Didáticos da ACSI Internacional), Augustus Nicodemus Lopes (Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie), Marta Franco Dias da Silva (Vice-Diretora da ACSI-Brasil e diretora da PACA),Steve Babbit (Diretor do Departamento de Publicações da ACSI Internacional), Paulo França e Helder Cardin (Professores do Seminário Bíblico Palavra da Vida), Cássio Miranda (Vice-Presidente do Conselho da ACSI-Brasil), Paulo Debs (autor e Ilustrador de literatura infantil), Débora Muniz,(Diretora do Colégio Presbiteriano Mackenzie - SP) e outros ainda estão por confirmar.

O tema geral do Congresso este ano é Ensinando para Transformar: Cultivando Potenciais em Cristo e as atividades serão no Campus do Mackenzie em São Paulo. Para conhecer mais sobre a associação e o congresso, você pode entrar em contato pelo site ou por email.

Materias publicados pela ACSI no Brasil:
  • Fundamentos Bíblicos e Filosóficos da Educação
  • Fundamentos da Psicologia da Educação
  • Fundamentos Pedagógicos da Educação
  • Enciclopédia das Verdades Bíblicas - Fundamentação para o Currículo Escolar Cristão
  • 100 Idéias que Funcionam (Disciplina na sala de aula)
  • Sala de Aula, Disciplina e Gestão
  • Como desenvolver um modelo de ensino para a integração da cosmovisão
Para 2009: Série Ciências - Projeto Inteligente - livros didáticos para 2º e 3º do ensino Fundamental I e a continuidade das séries nos próximos anos, uma pareceria entre a área de publicações da ACSI e o Sistema Mackenzie de Ensino.

Creio que a Educação Cristã escolar é uma resposta de Deus a um chamado urgente na nossa nação, que é ensinar jovens e crianças com uma visão cristã de mundo, envolvendo, é claro, todas as áreas do conhecimento. Particularmente, conto com suas orações, apoio e divulgação.


Mauro Meister
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sábado, março 08, 2008

Solano Portela

Então, sua igreja está precisando atualizar o sistema de som?

Calcanhar de Aquiles de todas as igrejas, o sistema de som é sempre rodeado de entendidos desconectados, normalmente adolescentes fascinados que anelam por uma oportunidade de passar o sermão fora do templo, na cabine de controle. Via de regra aprendem um pouco de mixagem. Adoram os recursos de eco. Têm uma propensão e um gosto estranho à microfonia (são sempre os últimos a detectar os apitos desconcertantes,abrigados em suas fortalezas inexpugnáveis), e desconhecem por completo o recurso de "cortar" um microfone que não está sendo utilizado (ou então cortam todos, inclusive o do pastor, que fica desesperado acenando e pulando - quando está prestes a iniciar o sermão).

Em tempos idos, um microfone bastava ao conjunto coral e, mais ainda, a um quarteto. Hoje, é necessário uma profusão de microfones individuais, com fios multicoloridos, gerando um cabo de espessura tal, que uma igreja quase veio abaixo quando a parede foi "cortada" para passar o avantajado cabo de som, do púlpito até a casamata - olimpo impenetrável dos novos gurus da difusão eletrônica. A passagem deixou uns meros dois centímetros de reboco sustentando toda a lateral do templo. Há também uma técnica insuperável de sustentar todos esses microfones, que devem ser segurados, pelos cantores, entre anulares e o polegar, com o dedo mínimo levantado (deve haver alguma interatividade antenática com o receptor do som). O microfone, assim segurado, deve se situar em um ângulo exato de 48 graus, medidos da vertical do corpo (nem sempre coreograficamente mantida) com a linha imaginária que representa o microfone, de cima para baixo – ou seja, considerando-se o vértice do ângulo o ponto onde o microfone cola na boca – mas isso já é outra história, voltemos aos técnicos.

Nossos técnicos em formação (equivocadamente chamados de sonoplastas), adentram o mundo curioso da sonorização construindo em cima da premissa de que decibéis foram criados para serem explorados ao máximo e que os medidores só cumprem a finalidade quando estão batendo no limite superior. Insensíveis à possibilidade de pulverização do som (pequenas caixas espalhadas pelo templo - muito mais eficientes), prescrevem mega-caixas a serem penduradas nas laterais do templo, as quais, mesmo quando utilizadas em moderação (coisa rara), para que o som chegue ao final da igreja, cumprem a tarefa de estourar os tímpanos dos mais incautos, que inocentemente atenderam os rogos do pastor para que viessem sentar "mais à frente"!

Esses profissionais do ritmo, quero dizer, do som, demoram de quinze a vinte minutos para diagnosticar que aquele microfone falhando, ou aquela introdução de um som semelhante ao de uma cascavel sibilando – prestes a dar o bote, é uma indicação de uma bateria fraca no microfone sem fio (demoram, depois, mais dez para achar a nova bateria e mais cinco para trocá-la, perante o olhar patético do pastor e, impaciente, da congregação). Acostumam-se com o ruído daquela rádio AM, que teima em penetrar o sistema de som da Igreja, tocando músicas de carnaval, enquanto o pastor fala dos céus, e nada entendem de filtragem da captação de ondas médias (em algumas igrejas exorcizam e benzem os auto-falantes, com uma certa freqüência – medida de eficácia duvidosa que ainda estou pesquisando). Fazem uma maravilhosa instalação de um data-show no teto, mas deixam o ponto de captação no refúgio secreto do operador de som, impossibilitando ao palestrante comandar sua própria apresentação e obrigando-o a fazer um exercício aeróbico frenético, tentando chamar a atenção do comandante do micro, quando tem de mudar os slides. Se os slides têm alguns “botões” que só o palestrante sabe onde estão, então o desespero pré-palestra, e a dança durante a apresentação, é algo cômico que ninguém deve perder.

O quadro é, realmente, negro e barulhento. Se você está planejando atualizar o som da sua igreja, recomendo que pegue uma loja acostumada a instalar som em discotecas e casa de shows. Você sairá com algo bem mais apropriado, modesto e menos ruidoso do que se pegar os especialistas eclesiásticos da atualidade. Por último, não esqueça, quando testar os microfones perante a congregação ainda extasiada com as reverberações da última performance musical, que hoje em dia não se usa mais o anacrônico “som”, “SOM” – pronunciados com aquela gravidade de voz e impetuosidade juvenil de então, em cada microfone. O que está “in”, a coisa da moda e engajada com o que virá a seguir, e ainda por cima ajuda a tirar todos os duendes do sistema de som, é testar cada um deles dizendo: “xô”, “XÔ”, “XÔÔÔ”!


Solano Portela
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quarta-feira, março 05, 2008

Augustus Nicodemus Lopes

Ainda sobre Darwin...

Por     13 comentários:

A entrevista abaixo foi concedida ao jornal Brasil Presbiteriano. Trata da realização em abril do Simpósio "Darwinismo Hoje," assunto de post anterior nesse blog.


BP: O senhor foi o idealizador do simpósio sobre Darwinismo? De quem partiu a idéia inicial de propor essa discussão no Mackenzie?


AUGUSTUS: "A idéia de propor essa discussão no Mackenzie partiu da Chancelaria mesmo. Ela nasceu da constatação de que sendo a Universidade o lugar apropriado para o debate dos contraditórios, precisamos refletir isto na prática. Mas o que acontece na realidade é que antigos paradigmas acabam por dominar o cenário acadêmico e não abrem espaço para este debate. É o caso com o Darwinismo, que como teoria científica e filosófica mais aceita acaba dominando o pensamento nas várias áreas da Academia, com pouco ou nenhum espaço para que se ouça o que cientistas que esposam outras teorias têm a dizer. Daí, a idéia de um Simpósio onde se possa ouvir o outro lado."




BP: O senhor imagina que, pelo Mackenzie ser uma instituição de caráter confessional, haverá, quanto a isso, alguma polêmica (além da que o assunto do simpósio, por si só, irá gerar)? Algo como o Mackenzie estar realizando um evento dessa natureza para promover o ponto de vista cristão a respeito da criação do mundo e das espécies?


AUGUSTUS: "É possível que surja alguma polêmica. Todavia, o Mackenzie está perfeitamente dentro do seu direito, pois como instituição de ensino superior confessional ela atende a uma ideologia específica, um direito que é garantido pelo Artigo 20 da Lei de Diretrizes e Bases: 'As instituições privadas de ensino se enquadrarão nas seguintes categorias: III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia específicas'. Esse artigo dá ao Mackenzie o direito de ser uma universidade cristã. Como tal, dentro desse direito, a universidade pode apresentar alternativas ao modelo evolucionista, que por sinal, já anda bem desgastado."


BP: O pouco que sei sobre a Teoria do Design Inteligente é que defende que a natureza foi planejada, projetada, e que se deve empreender uma investigação prática sobre a origem desse projeto ou desse design: se ele é fruto de uma organização proposital, talvez de uma mente criadora, superior, ou fruto do acaso ou de leis naturais. O senhor poderia explicar melhor essa teoria e o que pensa a respeito dela?


AUGUSTUS: "Na verdade, o Design Inteligente não pretende postular uma teoria das origens. Boa parte dos teóricos do Design Inteligente nem religiosos são. O que eles pretendem é chamar a atenção do mundo científico para o fato de que o Darwinismo com sua teoria da evolução das espécies não consegue explicar de maneira satisfatória determinados mecanismos e processos naturais descobertos pela bioquímica e outras ciências. Tais mecanismos, como o motorzinho das células, são por demais completos e complexos, sendo praticamente impossível considerá-los como fruto de um processo evolutivo movido ao acaso. A evidência, segundo os teóricos do Design Inteligente, aponta para um design, um propósito por detrás do desenvolvimento desses processos e mecanismos. Eles não chegam a postular que o designer desse processo é Deus, pois não querem levar o debate para a área religiosa, mas mantê-lo dentro do escopo científico."


BP: Quanto ao darwinismo ou neodarwinismo, como alguns chamam, muitos cristãos tendem a rejeitar essa teoria sem conhecê-la ao menos um pouco, dizendo até que Darwin afirmou que os humanos descendem dos macacos, o que não é exato. Outros, por outro lado, tentam descobrir pontos em que o darwinismo e o criacionismo poderiam se encontrar e não se contradizer, dizendo que talvez a forma como Darwin descreve a evolução das espécies tenha sido a forma como Deus trabalhou na criação do Universo e do homem. O que o senhor pensa sobre o darwinismo e essas formas de muitos cristãos o encararem?


AUGUSTUS: "É verdade que muitos cristãos tomam conhecimento da teoria da evolução através da versão oficial triunfante e sem nenhum questionamento, o que é deplorável. Eu pessoalmente creio que não há problemas em aceitar o que se chama de micro-evolução, ou seja, que os organismos de uma mesma espécie, com o tempo, se adaptaram e se desenvolveram, sobrevivendo os mais aptos por meio de um processo natural de seleção embutido na própria natureza desde a sua criação por Deus. Creio que existe abundante evidência desse fato, que em nada contradiz o pensamento cristão. Não creio que os cristãos tenham problemas quanto à micro-evolução. A dificuldade maior é quanto à macro-evolução, que postula o surgimento de espécies novas a partir de outras, como o surgimento do homem a partir de espécies inferiores. É verdade que Darwin não defendeu diretamente que o homem descende do macaco. Ele não mencionou a evolução humana no “Origem das Espécies”. Todavia, na sua teoria de descendência comum defendida em seu outro livro The Descent of Man [“A Origem do Homem”] Darwin ensina que o homem traz na sua estrutura corporal traços nítidos de sua descendência de formas inferiores. Ele diz que seu objetivo é mostrar que não existe diferença fundamental entre o homem e os animais superiores nas suas faculdades mentais, e que a diferença na mente entre o homem e os animais superiores é de grau, e não de tipo. Logo, Darwin disse, ainda que indiretamente, que o homem descende do macaco.


Muitos têm procurado uma conciliação entre Moisés e Darwin, os chamados evolucionistas teístas, que geralmente consideram Moisés como poesia e mito e Darwin como a expressão correta da realidade. O fato é que existe uma incompatibilidade radical entre os dois. A teoria da seleção natural de Darwin rejeita uma causa sobrenatural para esse processo. Asa Gray, um botânico americano, cristão, foi um dos primeiros a sugerir um “plano divino” dentro da teoria da evolução. Darwin protestou veementemente, numa carta a Lyell. O processo de evolução darwinista é mecanicista e a seleção natural é um processo cego, aleatório, e sem nenhuma intenção. Isso contraria a posição criacionista onde Deus é a fonte e o sustento de toda a sua criação.



Além disso, considerar os capítulos iniciais de Gênesis como lenda e mito cria um problema enorme para os cristãos, pois coloca como mito não somente as origens do mundo e do homem, mas também outros fatos como a queda do homem, tirando as bases históricas e teológicas para a antropologia e a soteriologia bíblicas. Dessa forma, se abre a porta para considerar como mito todo o restante da chamada "pré-história" de Gênesis, que são os capítulos de 1 a 12. Muitos evolucionistas teístas acham que Adão, Abraão, Moisés, etc. são figuras mitológicas, criadas pela imaginação religiosa dos judeus. Na hora que abrirmos a porteira em Gênesis 1-3, ela estará aberta para considerarmos como mito o resto da Bíblia."


BP: Sobre o criacionismo, os que nele acreditam são muitas vezes chamados de ingênuos ou crédulos, pois não há, até onde eu sei, suficientes evidências científicas que o comprovem. Há até entre os cristãos pessoas que defendem que a descrição da criação do mundo e do ser humano em Gênesis é uma figura ou faz parte de uma mitologia encontrada também em outras religiões antigas. O que o senhor acha dessa forma de pensar e qual é sua opinião sobre a origem do mundo e do homem?


AUGUSTUS: "Existem diferentes linhas criacionistas. Entre elas, existe o chamado criacionismo científico que tenta provar cientificamente que o mundo foi criado por Deus conforme relatado em Gênesis 1-2. Todavia, a linha criacionista predominante é que as origens do universo não podem ser descobertas por meio dos métodos empíricos da ciência moderna, e são mais uma questão filosófica e teológica. Dessa forma, os cientistas deveriam se ocupar em entender como o mundo funciona, deixando a questão das origens para filósofos e teólogos. Quanto à existência de relatos da criação do mundo na literatura religiosa de outras religiões, isso pode ser explicado pela necessidade fundamental que o homem tem de buscar as origens; seu espírito idólatra o leva a conceber a criação no âmbito da imaginação mitológica. Ainda que existam centenas de 'mitos da criação', em quase todas as culturas, nenhum se aproxima do relato bíblico. Não há evidência alguma de que Moisés teria copiado relatos babilônicos ou egípcios da criação do mundo, mesmo que vários deles sejam anteriores ao relato mosaico."
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quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Solano Portela

Entrevista à Revista Educação

Neste final de fevereiro de 2008 passo a atuar em um outro segmento do setor educacional, ainda na mesma instituição de ensino. Durante os últimos três anos, fui privilegiado por Deus contar com a colaboração de pessoas muito dedicadas e preciosas que muito me auxiliaram e, na esmagadora maioria das vezes, fizerem todo o trabalho enquanto estive à frente da Educação Básica e do desenvolvimento de um Sistema de Ensino. Como lembrete deste período, vou transcrever entrevista que dei à Revista Educação, em seu histórico número 100, em setembro de 2005, que contém algumas de minhas idéias e avaliação do setor.


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Educação - Qual o diagnóstico que você faz da educação básica no Brasil? Quais os principais problemas, avanços e retrocessos que a educação vive?

Analisando friamente os números, a educação básica vive, nos últimos sete anos, um período de retração. Por exemplo, no ensino fundamental (1ª a 8ª série), a rede pública, gratuita, mantém a quantidade de alunos (32 milhões - MEC-Inep), enquanto a rede particular tem progressivamente encolhido (15%). Isso ocorreu exatamente quando houve ampliação da capacidade nas escolas. As escolas sentem diretamente o reflexo do empobrecimento geral da classe média e da decrescente taxa de natalidade dos últimos anos. A escola particular, pressionada financeiramente pelo descompasso entre investimento e recrutamento, tem a tendência de sacrificar a qualidade de ensino exatamente quando os indicadores internacionais mostram a necessidade de elevarmos qualitativamente o nível dos nossos alunos.

Na formação dos professores, atravessamos décadas de um ensino meio utópico e idealista, no qual a ênfase na liberdade de quaisquer diretrizes, a concentração quase exclusiva no método e a retirada do mérito, como incentivo e forma de aferição, diluíram consideravelmente a qualidade do ensino. Os alunos deixaram de ser preparados para o mundo real, competitivo, no qual importa, sim, o que você sabe. Conteúdo virou termo pejorativo nos círculos pedagógicos. Atravessamos uma situação semelhante à descrita por um educador norte-americano (J. Gresham Machen) quando, comentando sobre a ênfase desmedida no método sem a importância necessária ao conteúdo, escreveu: "Fizemos uma grande descoberta pedagógica - que é possível pensar com uma mente completamente vazia!" Felizmente, parece que décadas de resultados desastrosos começam a acordar os nossos educadores, que passam a dar mais importância a valores, princípios, diretrizes, disciplina e, também, conteúdo - sem descartar ou negligenciar as melhores metodologias.

Educação - Quais foram as grandes mudanças pelas quais o ensino passou nos últimos tempos? O que é necessário para ser um bom colégio atualmente?

Com certeza a grande mudança metodológica é na tecnologia de informação. Hoje não se pode conceber o ensino que não utilize o computador com a tranqüilidade e facilidade com que papel e lápis têm sido utilizados.

Na área social, observamos o enfraquecimento da esfera da família. Isso tem profundos reflexos no conceito da escola, que passa a ter de trabalhar situações que antes eram abrigadas no seio familiar. Em paralelo, observamos conseqüentes tentativas de transferência de responsabilidades da família para a escola, forçando uma redefinição das áreas e dos limites. Por incrível que pareça, o colégio vê-se, freqüentemente, na qualidade de instrutor dos pais.

Para ser um bom colégio, atualmente, o ensino encontrado nele deve ser firmado em valores e princípios, de tal forma que esse ambiente e contexto permeie todas as disciplinas. A sociedade está cansada de uma educação amorfa e permissiva. Existe um anseio pelos valores de uma tradição bem firmada que dê aos alunos igual ênfase à modernidade e à visão do futuro. Não podemos simplesmente educar para o presente (e muito menos para o passado). Os colégios precisam equipar os alunos para que enfrentem os desafios do futuro com pleno conhecimento e habilidades que se enquadrem na época em que viverão a qual ainda não foi atravessada. Em um bom colégio, portanto, tanto a escola como as professoras e os professores têm que ser um pouco visionários. Não podem ser refratários a métodos contemporâneos à ampla utilização da informática. Devem dominar e equipar seus alunos a controlar o fluxo desmedido de informação no qual estão submersos.

Na esfera moral, esse controle, obviamente, parte pela adoção de valores éticos, principalmente porque vivemos em uma era onde é incentivada a sexualidade precoce e onde se jogam as crianças e os adolescentes em interações para as quais não possuem ainda a necessária maturidade. Em vez de policiamento ostensivo, o colégio deve promover, sobretudo, o desenvolvimento de autocontrole, considerando que as portas de acesso de idéias destrutivas e contaminadoras do progresso pessoal e de uma vida responsável estão escancaradas no lar, na rua e na escola. Perdemos o progresso suave que ia da inocência à maturidade responsável e temos de resgatar esses estágios, possibilitando que crianças sejam crianças e não adultos prematuros, maldosos e cheios de segundas intenções, sob a cobertura de uma falsa e enganosa "liberdade de expressão". Programas governamentais que incentivam promiscuidade, sob a falsa capa de transmissão de informações sexuais, devem ser veementemente resistidos e denunciados.

A escola que se rende à dissolução moral, adotando a linguagem e os métodos rasteiros da sociedade, com o argumento de que é assim mesmo e não se consegue mudar, é assumir a falência do sistema educacional e se entregar à derrota, como pedagogos. Os educadores devem se empenhar a fundo em uma reorientação da forma de educar e no fornecimento de ferramentas comportamentais e de controles aos jovens colocados sob seus cuidados. Isso não é possível sem âncoras metafísicas de valores e princípios; sem um fio de prumo que mostre se o edifício que se pretende erguer caminha para o desastre final, por terem sido utilizados materiais duvidosos, construção inadequada e métodos falhos.

Educação - Quais são os grandes desafios atuais para um bom professor? Que concepções mudaram em relação ao professor do passado?

Já está sedimentado que o professor discursivo não é eficiente, mas demos uma guinada demasiada encorajando professores passivos. A autonomia desmedida nas salas de aula, a quebra da autoridade do professor, a falta de respaldo ao respeito devido nas salas de aula são elementos prejudiciais a uma boa educação e à dignidade da profissão.

O grande desafio é, portanto, o professor ser produtivamente interativo, metodologicamente atualizado, informaticamente alfabetizado e que faça parte de uma escola que tenha filosofias e valores definidos, os quais abrace e defenda e com os quais comungue.

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segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Augustus Nicodemus Lopes

Mackenzie debate sobre Darwinismo

A Universidade Presbiteriana Mackenzie promove nos dias 8 a 10 de abril no campus São Paulo o I Simpósio Internacional – DARWINISMO HOJE. O evento reúne pesquisadores no campo das diferentes áreas do saber, com a finalidade de promover um amplo debate sobre o Darwinismo, o Criacionismo e o Design Inteligente, aproveitando que em 2009 se comemora no meio acadêmico os 150 anos do lançamento de A Origem das Espécies.

O palestrante internacional é Dr. Paul Nelson (foto), que falará do ponto de vista do Design Inteligente. O ponto principal de suas palestras é demonstrar a necessidade de um outro modelo, que não o darwinista, que explique mais adequadamente informações e fatos relativamente recentes levantados por diferentes ciências, entre elas a bioquímica.

Falando do ponto de vista do Darwinimo, teremos a participação de Dr. Aldo Mellender de Araújo. Já a visão criacionista será apresentada por Dr. Ruy Carlos de Camargo Vieira, presidente e fundador da Sociedade Criacionista Brasileira. Os três palestrantes estarão juntos numa mesa redonda ao final do evento.

O evento realizar-se-á nos dias 08 a 10 de abril 2008, no campus São Paulo, com transmissão via satélite ao vivo para os campi Mackenzie no Rio de Janeiro e em Brasília. As inscrições para participação já estão abertas. Os interessados podem se inscrever a partir do site do Mackenzie, no endereço http://www4.mackenzie.br/10391.html. Os participantes receberão certificados de participação.

Sobre os Palestrantes

Dr. Aldo Mellender de Araújo
Possui graduação em História Natural (1967) e doutorado em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1973). Realizou estágios na University of Liverpool (1975) e na Cornell University (1976), sobre história da genética e evolução. Atualmente é professor titular do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IB - UFRS), atuando na área de história e epistemologia das idéias sobre evolução biológica.

Dr. Paul Nelson
Paul Nelson é filósofo da Biologia, especializado em biologia do desenvolvimento. Tem um PhD em Filosofia pela Universidade de Chicago. Sua tese, publicada sob a forma de livro pela Universidade de Chicago, oferece uma crítica a aspectos da teoria da macroevolução à luz dos desenvolvimentos mais recentes na embriologia e da biologia do desenvolvimento. Nelson é membro da International Society for Complexity, Information and Design [Sociedade Internacional para a Complexidade, Informação e Design] e do Centro de Ciências e Cultura do Discovery Institute. Autor de vários artigos científicos em revistas especializadas.

Dr. Ruy Carlos de Camargo Vieira
Engenheiro Mecânico-Eletricista pela USP, Livre-Docente e Catedrático de Mecânica dos Fluidos na EESC-USP. Tem vários livros e artigos científicos publicados. É Presidente e Fundador da Sociedade Criacionista Brasileira.
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terça-feira, fevereiro 12, 2008

Augustus Nicodemus Lopes

Deus, o trabalho e a prosperidade

A prosperidade financeira obedece a normas, regras e métodos estabelecidos. Por outro lado, da perspectiva bíblica, a prosperidade é um dom de Deus. É ele quem concede saúde, oportunidades, inteligência, e tudo o mais que é necessário para o sucesso financeiro. E isso, sem distinção de pessoas quanto ao que crêem e quanto ao que contribuem financeiramente para as comunidades às quais pertencem. Deus faz com que a chuva caia e o sol nasça para todos, justos e injustos, crentes e descrentes, conforme Jesus ensinou (Mateus 5:45). Não é possível, de acordo com a tradição reformada, estabelecer uma relação constante de causa e efeito entre contribuições, pagamento de dízimos e ofertas e mesmo a religiosidade, com a prosperidade financeira. Várias passagens da Bíblia ensinam os crentes a não terem inveja dos ímpios que prosperam, pois cedo ou tarde haverão de ser punidos por suas impiedades, aqui ou no mundo vindouro.

Através dos séculos, as religiões vêm pregando que existe uma relação entre Deus e a prosperidade material das pessoas. No Antigo Oriente, as religiões consideradas pagãs estabeleceram milênios atrás um sistema de culto às suas divindades que se baseava nos ciclos das estações do ano, na busca do favor dessas divindades mediante sacrifícios de vários tipos e na manifestação da aceitação divina mediante as chuvas e as vitórias nas guerras. A prosperidade da nação e dos indivíduos era vista como favor dos deuses, favor esse que era obtido por meio dos sacrifícios, inclusive humanos, como os oferecidos ao deus Moloque. No Egito antigo a divindade e poder de Faraó eram mensurados pelas cheias do Nilo. As religiões gregas, da mesma forma, associavam a prosperidade material ao favor dos deuses, embora estes fossem caprichosos e imprevisíveis. As oferendas e sacrifícios lhes eram oferecidas em templos espalhados pelas principais cidades espalhadas pela bacia do Mediterrâneo, onde também haviam templos erigidos ao imperador romano, cultuado como deus.

A religião dos judeus no período antes de Cristo, baseada no Antigo Testamento, também incluía essa relação entre a ação divina e a prosperidade de Israel. Tal relação era entendida como um dos termos da aliança entre Deus e Abraão e sua descendência. Na aliança, Deus prometia, entre outras coisas, abençoar a nação e seus indivíduos com colheitas abundantes, ausência de pragas, chuvas no tempo certo, saúde e vitória contra os inimigos. Essas coisas eram vistas como alguns dos sinais e evidências do favor de Deus e como testes da dependência dele. Todavia, elas eram condicionadas à obediência e só viriam caso Israel andasse nos seus mandamentos, preceitos, leis e estatutos. Estes incluíam a entrega de sacrifícios de animais e ofertas de vários tipos, a fidelidade exclusiva a Deus como único Deus verdadeiro, uma vida moral de acordo com os padrões revelados e a prática do amor ao próximo. A falha em cumprir com os termos da aliança acarretava a suspensão dessas bênçãos. Contudo, a inclusão na aliança, o favor de Deus e a concessão das bênçãos não eram vistos como meritórios, mas como favor gracioso de Deus que soberanamente havia escolhido Israel como seu povo especial.

O Cristianismo, mesmo se entendendo como a extensão dessa aliança de Deus com Abraão, o pai da fé, deu outro enfoque ao papel da prosperidade na relação com Deus. Para os primeiros cristãos, a evidência do favor de Deus não eram necessariamente as bênçãos materiais, mas a capacidade de crer em Jesus de Nazaré como o Cristo, a mudança do coração e da vida, a certeza de que haviam sido perdoados de seus pecados, o privilégio de participar da Igreja e, acima de tudo, o dom do Espírito Santo, enviado pelo próprio Deus ao coração dos que criam. A exultação com as realidades espirituais da nova era que raiou com a vinda de Cristo e a esperança apocalíptica do mundo vindouro fizeram recuar para os bastidores o foco na felicidade terrena temporal, trazida pelas riquezas e pela prosperidade, até porque o próprio Jesus era pobre, bem como os seus apóstolos e os primeiros cristãos, constituídos na maior parte de órfãos, viúvas, soldados, diaristas, pequenos comerciantes e lavradores. Havia exceções, mas poucas. Os primeiros cristãos, seguindo o ensino de Jesus, se viam como peregrinos e forasteiros nesse mundo. O foco era nos tesouros do céu.

A Idade Média viu a cristandade passar por uma mudança nesse ponto (e em muitos outros). A pobreza quase virou sacramento, ao se tornar um dos votos dos monges, apesar de Jesus Cristo e os apóstolos terem condenado o apego às riquezas e não as riquezas em si. Ao mesmo tempo, e de maneira contraditória, a Igreja medieval passou a vender por dinheiro as indulgências, os famosos perdões emitidos pelo papa (como aqueles que fizeram voto de pobreza poderiam comprá-los?). Aquilo que Jesus e os apóstolos disseram que era um favor imerecido de Deus, fruto de sua graça, virou objeto de compra. Milhares de pessoas compraram as indulgências, pensando garantir para si e para familiares mortos o perdão de Deus para pecados passados, presentes e futuros.

A Reforma protestante, nascida em reação à venda das indulgências, entre outras razões, reafirmou o ensino bíblico de que o homem nada tem e nada pode fazer para obter o favor de Deus. Ele soberana e graciosamente o concede ao pecador arrependido que crê em Jesus Cristo, e nele somente. A justificação do pecador é pela fé, sem obras de justiça, afirmaram Lutero, Calvino, Zwinglio e todos os demais líderes da Reforma. Diante disso, resgatou-se o conceito de que o favor de Deus não se pode mensurar pelas dádivas terrenas, mas sim pelo dom do Espírito e pela fé salvadora, que eram dados somente aos eleitos de Deus. O trabalho, através do qual vem a prosperidade, passou a ser visto, particularmente nas obras de Calvino, como tendo caráter religioso. Acabou-se a separação entre o sagrado e o profano que subjaz ao conceito de que Deus abençoa materialmente quem lhe agrada espiritualmente. O calvinismo é, precisamente, a primeira ética cristã que deu ao trabalho um caráter religioso. Mais tarde, esse conceito foi mal compreendido por Max Weber, que traçou sua origem à doutrina da predestinação como entendida pelos puritanos do século XVIII. Weber defendeu que os calvinistas viam a prosperidade como prova da predestinação, de onde extraiu a famosa tese que o calvinismo é o pai do capitalismo. As conclusões de Weber têm sido habilmente contestadas por estudiosos capazes, que gostariam que Weber tivesse estudado as obras de Calvino e não somente os escritos dos puritanos do séc. XVIII.

Atualmente, em nosso país, a idéia de que Deus sempre abençoa materialmente aqueles que lhe agradam vem sendo levada adiante com vigor, não pelos calvinistas e reformados em geral, mas pelas igrejas evangélicas chamadas de neopentecostais, uma segunda geração do movimento pentecostal que chegou ao Brasil na década de 1900. A mensagem dos pastores, bispos e “apóstolos” desse movimento é que a prosperidade financeira e a saúde são a vontade de Deus para todo aquele que for fiel e dedicado à Igreja e que sacrificar-se para dar dízimos e ofertas. Correspondentemente, os que são infiéis nos dízimos e ofertas são amaldiçoados com quebra financeira, doenças, problemas e tormentos da parte de demônios. Na tentativa de obter esses dízimos e ofertas, os profetas da prosperidade promovem campanhas de arrecadação alimentadas por versículos bíblicos freqüentemente deslocados de seu contexto histórico e literário, prometendo prosperidade financeira aos dizimistas e ameaçando com os castigos divinos os que pouco ou nada contribuem.

O crescimento vertiginoso de igrejas neopentecostais que pregam a prosperidade só pode ser explicado pela idéia equivocada que o favor de Deus se mede e se compra pelo dinheiro, pelo gosto que os evangélicos no Brasil ainda têm por bispos e apóstolos, pela idéia nunca totalmente erradicada que pastores são mediadores entre Deus e os homens e pelo misticismo supersticioso da alma brasileira no apego a objetos considerados sagrados que podem abençoar as pessoas. Quando vejo o retorno de grandes massas ditas evangélicas às práticas medievais de usar no culto a Deus objetos ungidos e consagrados, procurando para si bispos e apóstolos, imersas em práticas supersticiosas e procurando obter prosperidade material por meio de pagamento de dízimos e ofertas me pergunto se, ao final das contas, o neopentecostalismo brasileiro e sua teologia da prosperidade não são, na verdade, filhos da Igreja medieval, uma forma de neo-catolicismo tardio que surge e cresce em nosso país onde até os evangélicos têm alma medieval.
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segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Solano Portela

Pecado, pecadinho, pecadão...

Explicando o post:
Alguns anos atrás foi publicado o livro de multi-autoria ao lado: “Disciplina na Igreja: Uma Marca em Extinção”. Pessoas, realmente conhecidas, como George Knight, Augustus Nicodemus e Valdeci Lopes, escreveram seus capítulos e, por alguma razão indecifrável, coube-me contribuir com dois capítulos. Sou, portanto, um interessado no assunto e achei muito bom os dois últimos posts colocados pelo Dr. Augustus (ausência de disciplina de líderes e sobre Mateus 18). Neles, temos algumas aplicações bem contemporâneas, sobre disciplina bíblica; além do tratamento de outros aspectos que estão presentes no livro em questão. As interações dos leitores, nos comentários desses dois posts, têm sido igualmente bem interessantes. No meio de muitas observações pertinentes e perguntas estimulantes, várias delas confundem a existência do amor real com ausência de disciplina, não compreendendo como esses dois aspectos são biblicamente complementares. Outros comentários observaram a suposta igualdade dos pecados. Um deles disse que a gradação de pecados era uma caracerística "humana" e não divina. Outro, disse que se uma determinada disciplina é aplicada a pecados específicos, porque não tratar todos os pecados (inclusive, foi mencionado o de glutonaria) com penalidades idênticas. A questão da igualdade, ou não, dos pecados, não foi abordada neste livro já mencionado e achei que caberia aqui um post, ainda na mesma linha de pensamento dos dois anteriores.

Todo pecado é igual?
De certo modo é correto se afirmar que todos os pecados são iguais. Em certo sentido, todos os pecados são odiosos perante Deus e suficientes para nos alijar da comunhão eterna com ele. Por isso somos recebedores tão somente de sua graça infinita (em Cristo Jesus) e não temos qualquer mérito em qualquer suposta “vida moral” ou com pouca incidência de pecados, ao sermos aceitos por ele.

Assim nos ensina a Pergunta 152 do Catecismo Maior de Westminster, que diz:
“O que cada pecado merece da parte de Deus”?
R: Todo pecado, até o menor, sendo contra a soberania, bondade, santidade de Deus, e contra a sua justa lei, merece a sua ira e maldição, nesta vida e na vindoura, e não pode ser expiado, senão pelo sangue de Cristo.

As referências dadas são: Tg 2.10,11; Ml 1.14; Dt 32.6; Hc 1.13; I Pe 1.15,16; Lv 11.45; I Jo 3.4; Gl 3.10; Ef 5.6; Pv 13.21; Mt 25.41; Rm 6.21,23; Hb 9.22; I Jo 1.7; I Pe 1.18,19, das quais citamos apenas Tiago 2.10: “Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos”.

Há, portanto um grau de veracidade na afirmação – “todo pecado é igual” - o menor dos pecados já nos faz culpados por não guardar os princípios de justiça de Deus. No entanto, essa afirmação deve ser bem entendida e qualificada, pois não representa o todo da verdade. Por exemplo, ouvi uma pessoa comentando e defendendo um pecado cometido por um líder evangélico, comparando-o com uma mentira cometida por ele próprio (o defensor). Ele disse: “... o erro do .... foi tão grave diante de Deus quanto o foi hoje de manhã eu ter pedido que dissessem que eu não estava, só para não atender o telefonema de um ‘amigo’ chato”.
Existe, ou não, diferenciação de pecados?
Acontece que não é bem assim, como colocou a pessoa acima, pois é o próprio Deus que nos ensina existir uma GRADAÇÃO de pecados - alguns realmente, são mais odiosos do que outros. E essa é a interpretação, também, do Catecismo Maior da Confissão de Fé de Westminster, exatamente nas perguntas que precedem a que já examinamos, acima. As perguntas 150 e 151 mostram que a idéia de que não existe “pecadinho” e “pecadão” é uma noção comum, muito propagada em nossas igrejas, mas não é Bíblica. As respostas a essas perguntas 150 e 151, mostram o sentido em que são diferentes, enquanto que a resposta à 152, mostra o sentido no qual os pecados são iguais. Vejamos:

Pergunta 150.
"São todas as transgressões da lei de Deus igualmente odiosas em si mesmas à vista de Deus"?
R: Todas as transgressões da lei de Deus não são igualmente odiosas; mas alguns pecados em si mesmos, e em razão de diversas circunstâncias agravantes, são mais odiosos à vista de Deus do que outros.
Refs.: Hb 2.2,3; Ed 9.14; Sl 78.17,32,56.
Pergunta 151.
"Quais são as circunstâncias agravantes que tornam alguns pecados mais odiosos do que outros"?
R: Alguns pecados se tornam mais agravantes:
1º) Em razão dos ofensores, se forem pessoas de idade mais madura, de maior experiência ou graça; se forem eminentes pela vida cristã, dons, posição, ofícios, se forem guias para outros e pessoas cujo exemplo será, provavelmente, seguido por outros.
Refs.: Jr 2.8; I Rs 11.9; II Sm 12.14; I Co 5.1; Tg 12.47; Jo 3.10; II Sm 12.7-9; Ez 8.11,12; Rm 2.21,22,24; Gl 2.14.
2º) Em razão das pessoas ofendidas, se as ofensas forem diretamente contra Deus, seus atributos e culto, contra Cristo e sua graça; contra o Espírito Santo, seu testemunho e operações; contra superiores, pessoas eminentes e aqueles a quem estamos especialmente relacionados e a quem devemos favores; contra os santos, especialmente contra os irmãos fracos; contra as suas almas ou as de quaisquer outros, e contra o bem geral de todos ou de muitos.
Refs.: I Jo 5.10; Mt 21.38,39; I Sm 2.25; Rm 2.4; Mt 1.14; I Co 10.21,22; Jo 3.18,36; Hb 6.4-6; Hb 10.29; Mt 12.31,32; Ef 4.30; Nm 12.8; Pv 30.17; Zc 2.8; I Co 8.11,12; I Ts 2.15,16; Mt 23.34-38.
3º) Pela sua natureza e qualidade de ofensa, se for contra a letra expressa da lei, se violar muitos mandamentos, se contiver em si muitos pecados; se for concebida não só no coração, mas manifestar-se em palavras e ações, escandalizar a outrem e não admitir reparo algum; se for contra os meios, misericórdias, juízos, luz da natureza, convicção da consciência, admoestação pública ou particular, censuras da igreja, punições civis; se for contra as nossas orações, propósitos, promessas, votos, pactos, obrigações a Deus ou aos homens; se for feita deliberada, voluntária, presunçosa, imprudente, jactanciosa, maliciosa, freqüente, e obstinadamente, com displicência, persistência, reincidência, depois do arrependimento.
Ref.: Ez 20.12,13; Cl 3.5; Mq 2.1,2; Rm 2.23,24; Pv 6.32-35; Mt 11.21-24; Dt 32.6; Jr 5.13; Rm 1.20,21; Pv 29.1; Rm 13.1-5; Sl 78.34,36,37; Jr 42.20-22; Sl 36.4; Nm 15.30; Ez 35.5,6; Nm 14.22,23; Zc 7.11,12; Pv 2.14; Jr 9.3,5; II Pe 2.20,21; Hb 6.4,6.
4º) Pelas circunstâncias de tempo e de lugar, se for no dia do Senhor ou em outros tempos de culto divino, imediatamente antes, depois destes ou de outros auxílios para prevenção ou remédio contra tais quedas; se em público ou em presença de outros que são capazes de ser provocados ou contaminados por essas transgressões.
Ref.: Is 22.12-14; Jr 7.10,11; Ez 23.38; Is 58.3,4; I Co 11.20,21; Pv 7.14,15; Ne 9.13-16; Is 3.9; I Sm 2.22-24.
Se estudarmos com maior profundidade a questão, portanto, aprendemos que realmente existe gradação. Uma outra maneira de verificar isso é pelas diferentes penas aplicadas aos diversos crimes na lei judicial (ou civil) de Israel. Essa Lei foi dada pelo próprio Deus.
É cristão demonstrarmos entendimento e solidariedade, na face do arrependimento sincero. Na ausência desse, a Palavra nos manda até quebrarmos as associações de amizade (nem mesmo "comer" com o impenitente, para que ele, sacudido por esse terremoto social, se arrependa – 1 Co 5.11). Podemos (e com frequencia fazemos) quebrar os princípios de justiça de Deus, desprezando a disciplina; achando que são passos injustos; ou seja, querendo exceder a benevolência e benignidade de Deus - sermos mais caridosos do que ele nos manda ser. Quando isso ocorre no seio da família - expressamos um amor equivocado, não disciplinamos os filhos, criamos seres que desrespeitam a hierarquia e que se dão mal - no futuro. Quando fazemos no seio da igreja, contribuímos para a concretização de uma igreja doentia e conivente com o pecado.
O mesmo erro deve ser sempre penalizado de forma igual?
Um outro argumento utilizado pelos que querem enfatizar tão somente a igualdade dos pecados (não somente entre si, mas também quando cometidos por pessoas diferentes) é dizer que seria incoerência penalizar pessoas de forma diferente, desde que cometam o mesmo erro.

Como já vimos, não é isso o que ensina a Palavra nem o que registram as Confissões reformadas. Existe, sim, diferenciação de gravidade, mesmo tendo sido cometido o mesmo pecado. A questão é que o pecado não é só o incidente isolado (é até impossível se isolar um incidente), mas não pode ser ignorada a forma como ele afeta mais ou menos pessoas. Pecados cometidos por lideranças, são muito mais graves do que o mesmo pecado cometido por alguém que esteja sendo instruído na fé.

Pecados “mais” e “menos ruins”:
Existe um conceito relativo (do zero para baixo) nos pecados - com relação a ruindade intrínseca de cada um. Concordamos que qualquer pecado é suficiente para nossa condenação, mas temos que reconhecer que o que concebe, mas não pratica, pecou um pecado "menos ruim" do que aquele que o levou às suas últimas conseqüências. Quanto mais o pecado se alastra (como no caso de David, que tentava acobertá-lo) mais pessoas são atingidas e mais sofrimento é gerado.A parte prática está exatamente no dano que um líder causa, quando peca. Não é errado esperarmos um comportamento exemplar (no contexto de que somos todos pecadores) da parte do líder (1 Tm 4.12), pois assim a Palavra no direciona. O Salmista pede que nós não sejamos "causa de vergonha" (Sl 69.6). O dano ao evangelho é muito grande, quando o pecado está presente e é observado na vida do líder.

Ainda que todos os pecados sejam odiosos e suficientes para nos alijar da santidade de Deus, a não ser pela graça e misericórdia dele e pelo sacrifício de Cristo, existem pecados "mais ruins do que outros"; ou em circunstâncias "mais ruins do que outras". Se fôssemos diagramar os pecados, seria uma "plotagem" abaixo do eixo das abscissas - todos "abaixo de zero". Mas os pecados da liderança fazem “desencaminhar a muitos” e a muitos tropeçar na sua compreensão da lei de Deus, como nos diz Malaquias 2.7-8 - "Pois os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é o mensageiro do Senhor dos exércitos. Mas vós vos desviastes do caminho; a muitos fizestes tropeçar na lei..."

Agravantes e atenuantes:
Na Igreja Presbiteriana do Brasil, em seu Código de Disciplina, há uma consideração sobre os "agravantes " e "atenuantes", com relação ao mesmo pecado, nos casos de disciplina. O texto completo, que fala das circunstâncias atenuantes e agravantes, é o seguinte:

(Art. 12) –
São atenuantes:
a) pouca experiência religiosa; b) relativa ignorância das doutrinas evangélicas; c) influência do meio; d) bom comportamento anterior; e) assiduidade nos serviços divinos; f) colaboração nas atividades da Igreja; g) humildade; h) desejo manifesto de corrigir-se; i) ausência de más intenções; j) confissão voluntária.
§2º -
São agravantes:
a) experiência religiosa; b) relativo conhecimento das doutrinas evangélicas; c) boa influência do meio; d) maus precedentes; e) ausência aos cultos; f) arrogância e desobediência; g) não reconhecimento da falta. Art.14 - Os Concílios devem dar ciência aos culpados das penas impostas: a) Por faltas veladas, perante o tribunal ou em particular; b) Por faltas públicas, casos em que, além da ciência pessoal, dar-se-á conhecimento à Igreja.

Conclusão:
Assim, creio que ser bíblico, prudente e necessário, concluirmos pela existência de distinção ou gradação de pecados, sem esquecer que todos eles são odiosos, perante Deus, e que mesmo o menor deles nos afasta de sua santidade e nos faz merecedores da condenação eterna.
Solano Portela
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segunda-feira, janeiro 28, 2008

Augustus Nicodemus Lopes

Mas, e Mateus 18?

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Já presenciei diversas situações em que tentativas de exercer a disciplina em pastores e líderes que cometeram faltas em público, abertamente, do conhecimento de todos, foram engavetadas sob a alegação de que os denunciantes ou queixosos não cumpriram antes o que Jesus preceitua em Mateus 18:15, "Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão."

Todavia, esses passos iniciais que Jesus estabeleceu aqui têm a ver com irmãos faltosos que pecaram "contra nós" (Mat 18:15-17). Em vários manuscritos gregos antigos a expressão “contra ti” não aparece, o que tem levado estudiosos a concluir que se trata de uma inserção posterior de um escriba. Todavia, existem vários argumentos em favor da sua autenticidade. Primeiro, mais adiante no texto, tratando ainda do mesmo assunto, Pedro pergunta a Jesus: “Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe?” (Mat 18:21). A pergunta de Pedro reflete o entendimento que ele teve das instruções de Jesus quanto ao pecado de um irmão contra ele. Segundo, a expressão “contra ti” aparece na maioria dos manuscritos, ainda que mais recentes. Terceiro, a omissão da expressão nos manuscritos mais antigos pode se explicar pela ação deliberada de um escriba que quis generalizar o alcance das instruções. Por esses motivos, consideramos a expressão como tendo sido originalmente pronunciada por Jesus.

Notemos, portanto, que em Mateus 18 o Senhor não tem em mente os pecados públicos cometidos contra a Igreja de Cristo. O Senhor está tratando do caso em que um irmão pecar "contra mim". Num certo sentido, todos os pecados que um irmão comete acabam sendo contra mim, pois sou membro da Igreja que ele ofendeu. Mas, existem ofensas e faltas que me atingem de forma direta, como indivíduo. É disso que Mateus 18 trata.

Portanto, há que se distinguir duas situações gerais que precisam ser tratadas de forma diferente: aqueles pecados que foram cometidos abertamente e que são do conhecimento público, e aqueles outros que foram cometidos diretamente contra uma pessoa, e que ainda não são do conhecimento público. Os primeiros, os tais pecados abertos e públicos, devem ser tratados imediatamente pela Igreja, e não por indivíduos em conversas privadas. Os segundo, estes sim, exigem o tratamento que Jesus ensina em Mateus 18. Evidentemente, há pecados que se encaixam nas duas categorias e nem sempre é possível distinguir com facilidade o caminho a seguir.

De acordo com Calvino, os pecados abertos e públicos devem ser tratados sem demora pelos conselhos das igrejas, para que os bons membros não sofram uma tentação a mais ao pecado ocasionada pela demora. Calvino apela como prova para a repreensão pública imediata que Paulo fez a Pedro, conforme Gálatas 2:11,14. Paulo não esperou para falar em particular a Pedro. Como o pecado de Pedro, que era a hipocrisia, foi cometido abertamente, Paulo passa a repreendê-lo abertamente, sem demora.

Paulo também orienta Timóteo a disciplinar publicamente aqueles que vivem no pecado: “Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam” (1Tim 5:20). Não há aqui nenhuma menção da necessidade de procurar esses faltosos em particular uma ou duas vezes, mas apenas a necessidade de se estabelecer o fato pelo depoimento de testemunhas.

Quando Paulo tratou do caso do imoral de Corinto, um caso que era público, notório e do conhecimento de todos (cf. 1Cor 5:1), pediu a imediata exclusão do malfeitor (1Cor 5:13), lamentando que isso ainda não tivesse acontecido. Quando Ananias e Safira pecaram, mentindo abertamente sobre o valor das propriedades vendidas, ao trazerem diante dos apóstolos a sua oferta, foram disciplinados imediatamente por Pedro, sem que houvesse quaisquer encontros particulares anteriores com eles (At 5:1-11).

As exortações de Paulo para que nos afastemos dos que ensinam falsas doutrinas (Rom 16:17), para que se admoestem os insubmissos (1Tes 5:14), para que nos apartemos dos desordeiros (2Tes 3:6), para que fujamos e nos separemos dos falsos mestres (2Cor 6:17; 2Tim 3:5) sugerem ação disciplinar exercida pela Igreja sobre membros da comunidades que notoriamente são insubmissos, desordeiros, divisivos, falsos doutrinadores. O apóstolo traz uma lista complementar em 1Coríntios: "Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais" (1Cor 5:11). No caso de Himeneu e Alexandre, dois notórios blasfemadores e divulgadores de falsas doutrinas, Paulo os entrega diretamente a Satanás (1Tim 1:20).
Essas evidências levam à conclusão de que, no caso de irmãos que vivem notoriamente em pecado e que cometeram esses pecados abertamente, publicamente, não existe a necessidade de exortação particular e individual antes de se iniciar o processo disciplinar pela Igreja.

Aqui cabe mais uma vez citar o pensamento de Calvino, ao comentar Mateus 18:15. O Reformador mais uma vez distingue entre pecados abertos e secretos e exclama: "Certamente seria um absurdo se aquele que cometeu uma ofensa pública, cuja desgraça é conhecida de todos, seja admoestado por indivíduos; pois se mil pessoas tiverem conhecimento dela, ele deveria receber mil admoestações".

Isso não significa negar aos faltosos o direito de se defender e de se explicar. O pleno direito de defesa sempre deve ser garantido a todos. Todavia, eles exercerão esse direito já diante das autoridades da Igreja, e não diante de um irmão em particular, de maneira informal.
A determinação de Paulo a Tito, para que ele se afaste do homem faccioso após adverti-lo duas vezes (Tit 3:10-11), pode parecer militar contra o que estamos dizendo acerca do tratamento de pecados públicos. Todavia, é provável que as duas advertências que Paulo menciona já sejam públicas e abertas, pois se trata de homem faccioso, isso é, que promove divisões na igreja pelo ensino de falsas doutrinas. Se as mesmas não surtem efeito, como disciplina preliminar, a exclusão (implícita no mandamento para separar-se) é o passo definitivo e final.
Infelizmente, pela falta de distinção entre pecados públicos e pessoais, concílios e igrejas apelam para o não cumprimento de Mateus 18 em casos de denúncias feitas contra seus pastores, para travar administrativamente processos disciplinares contra os mesmos. Presenciei diversos casos de denúncias feitas contra pastores que haviam cometido faltas notórias e que foram arquivadas por seus concílios sob a alegação de que os passos de Mateus 18 não haviam sido cumpridos. Todavia, não se tratavam de faltas cometidas contra irmãos específicos, mas de erros públicos, notórios, que afetavam a Igreja de Cristo como um todo.
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quarta-feira, janeiro 23, 2008

Augustus Nicodemus Lopes

Só Presto Contas a Deus

Por     37 comentários:

Esse é o pensamento do evangélico típico de nossos dias.


Quando fui perguntado recentemente por alguém sobre a maior necessidade da igreja evangélica no Brasil não tive dúvidas em responder que é o exercício da disciplina bíblica. Sei que existem igrejas que disciplinam seus membros e líderes e até cometem abusos nisso. Mas creio que já se tornaram a minoria. Na minha avaliação, a grande maioria das igrejas de todas as denominações não exerce a disciplina eclesiástica sobre seus membros e líderes, ou quando o fazem, o fazem de forma equivocada, arbitrária e sem levar em consideração os ensinamentos das Escrituras sobre o assunto.

Para mim esse assunto é relevante, pois a disciplina da Igreja tem como alvo manter a sua pureza e restaurar os faltosos, e se constitui numa das marcas da verdadeira Igreja de Cristo. Onde os pecados passam impunes, os faltosos não são repreendidos, corrigidos e restaurados, onde os líderes cometem pecados públicos claros e não dão conta a ninguém de seus atos, poderá estar ali a verdadeira Igreja do Senhor, pela qual ele derramou seu sangue precioso, em busca de um povo puro e santo?

Para mim, tudo começa pela absoluta falta de dar conta de seus atos que caracteriza líderes e membros das igrejas. Ninguém se sente devedor a ninguém, senão a Deus – esquecendo que foi o próprio Deus quem instituiu a disciplina eclesiástica como instrumento do seu desejo de manter a Igreja pura e restaurar os caídos. Isso é claro especialmente no caso de líderes que construíram seu império eclesiástico e que não se encontram debaixo de qualquer pessoa ou grupo que poderia corrigi-los e discipliná-los em caso de falta. Pecam impunemente em nome do perdão e da tolerância divina.

As próprias igrejas não exercem a vigilância, o zelo e o cuidado que deveriam para com seus membros faltosos. Preferem ocultar os pecados cometidos ou exercer algum tipo de restrição que mal pode ser reconhecida como disciplina. E os membros – não se sentem obrigados a prestar contas de seus atos às igrejas que freqüentam e portanto, em caso de serem argüidos de seus pecados e erros, não se sujeitam e não acatam qualquer medida corretiva e simplesmente mudam-se para outra igreja.

Na minha opinião, é um estado caótico de coisas, que compromete a imagem dos evangélicos diante do povo, que toma conhecimento do comportamento irregular de líderes e crentes pela mídia. Juntamente com a crise de identidade e doutrinária, a falta de disciplina contribui para o agravamento da situação de UTI em que a igreja evangélica brasileira se encontra.
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domingo, janeiro 20, 2008

Augustus Nicodemus Lopes

Os Calvinistas Estão Chegando

Por     62 comentários:


O crescimento do interesse pela fé reformada em todo o mundo é um fato que tem sido notado aqui e ali pelos estudiosos de religião. Crescem em toda a parte a publicação de literatura reformada, o ingresso de estudantes em seminários e instituições reformadas, a realização de eventos, o surgimento de novas igrejas e instituições de ensino reformadas e o número de pessoas que se dizem reformadas.

Como se trata de um rótulo, é preciso definir “reformado.” Como já temos dito em outros posts neste blog, por “reformado” entendemos aquele que adere a uma das grandes confissões reformadas produzidas logo após a Reforma protestante no século XVI, aos cinco grandes pontos dessa Reforma, que são Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fides, Solus Christus e Soli Deo Gloria e aos chamados Cinco Pontos do Calvinismo, resumidos no acrônimo TULIP (Depravação total, Eleição incondicional, Expiação limitada, Graça irresistível e Perseverança final). Muito embora alguns não gostem do nome, quem adere a tudo isso acima não deixa ser um calvinista.
Como bem me lembrou Mauro Meister quando eu escrevia esse post, existe um grande número de igrejas que são da "tradição reformada" mas que já não crêem de maneira ortodoxa quanto a estas doutrinas. Geralmente essas igrejas não estão experimentando esse crescimento, mas um esvaziamento, como a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos e outras denominações historicamente ligadas à Reforma, mas que já não professam de forma estrita seus postulados.
Da Coréia, China, Indonésia, por exemplo, chegam relatórios do florescimento calvinista. É claro que o calvinismo acaba recebendo diferentes interpretações e expressões em tantas culturas variadas, mas os pontos centrais estão lá.

Isso não quer dizer que os reformados calvinistas são muito numerosos, comparados com pentecostais e arminianos, por exemplo. O que eu quero dizer é que os relativamente poucos reformados calvinistas têm experimentado um crescimento que já chama a atenção de muitas denominações e tem provocado alertas da parte de seus líderes.

Vejam o que está ocorrendo na maior denominação evangélica dos Estados Unidos, os Batistas do Sul. A prestigiosa revista evangélica Christianity Today, vol. 52, No. 2 de fevereiro desse ano traz um artigo em que documenta a reintrodução do calvinismo através dos seminários nessa denominação. O ressurgimento do calvinismo entre os Batistas do Sul é mais antigo, leia aqui. Considerados de orientação arminiana de longa data (apesar de alguns documentos fundantes serem calvinistas), os Batistas do Sul estão vendo o calvinismo sendo transmitido nos seminários, não tanto por professores, mas pelos próprios alunos. Alarmada, a Convenção Batista de Oklahoma oficialmente rejeitou a teologia reformada e mandou cópia da condenação para a Comissão Executiva da Convenção Batista do Sul.

De acordo com o artigo da Christianity Today, 10% dos pastores da Convenção já se declaram calvinistas e perto de 30% dos concluintes dos seminários fazem a mesma afirmação. A continuar nesse ritmo, em breve teremos um grande reavivamento calvinista no coração da maior denominação arminiana conservadora dos Estados Unidos. Veja aqui a história de como a doutrina da predestinação chegou a dois seminários arminianos.

A ressurgência calvinista nos Estados Unidos não está ocorrendo somente entre os Batistas, mas entre muitas outras denominações. Leia aqui um artigo da Christianity Today sobre o assunto. Um dos motores é o ministério de pastores reformados populares, como John Piper, R. C. Sproul e John MacArthur, entre outros. Os eventos promovidos por eles recebem milhares de pastores de todas as denominações e seus livros são traduzidos em dezenas de línguas, inclusive em português. No Brasil temos quase todos os títulos destes autores.

Em menor escala, estamos assistindo ao mesmo processo em meio aos batistas brasileiros. Cresce o número de batistas interessados na teologia reformada. Recentemente assistimos à formação da Comunhão Batista Reformada, composta de batistas calvinistas que não conseguiam mais espaço em suas convenções para expressarem as suas opiniões.

Mas, o interesse maior na fé reformada no Brasil parece ser da parte dos pentecostais. Cresce a presença de pastores e líderes pentecostais nos grandes eventos reformados no Brasil. Cresce também o número de pentecostais que estão adquirindo literatura reformada. E cresce o número de igrejas pentecostais independentes que estão nascendo já com uma teologia influenciada pelo calvinismo. Algumas denominações pentecostais também vêm recebendo a influência calvinista a passos largos. Tenho tido o privilégio de pregar e ministrar palestras em eventos de grande proporção organizados por instituições pentecostais interessadas em explorar os grandes temas reformados.

O ministério de editoras que publicam material reformado, como a Editora Cultura Cristã, a Fiel e a Publicações Evangélicas Selecionadas, por exemplo, tem servido para colocar as obras de reformados brasileiros e internacionais nas mãos dos evangélicos brasileiros ávidos por uma teologia consistente, e cansados dos excessos do neopentecostalismo e da aridez do liberalismo teológico.

Não tenho uma explicação definitiva para esse fenômeno do retorno da TULIP, a não ser a de que a providência divina assim o deseja. No mínimo, é curioso que uma fé tão perseguida e odiada como o calvinismo, de repente, passe a ter tanta aceitação. Não há ninguém na história da Igreja tão mal entendido, distorcido, vilipendiado, odiado e amaldiçoado quanto João Calvino. Chamado de tirano, déspota, incendiário de hereges, frio, duro, determinista, criador do capitalismo selvagem, Calvino tem sofrido mil mortes nas mãos de seus detratores, os quais, na maioria das vezes, nunca leram sequer uma de suas obras, e que formaram sua opinião lendo obras de terceiros.

Somente espero que, à medida que o movimento cresça no Brasil, os reformados aprendam a reter o que é essencial e bíblico na Reforma, sem tornar em matéria de fé aquilo que pertenceu a séculos passados em outras culturas, como, infelizmente, já tem acontecido no Brasil com alguns grupos. Que eles lembrem que a fé bíblica, que é a fé da Reforma, também pode se expressar dentro da rica e variada cultura brasileira.
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segunda-feira, dezembro 31, 2007

Augustus Nicodemus Lopes

Conselhos a Um Pregador Itinerante

[mais uma carta dirigida a personagem fictícia, porém baseada em experiências e fatos bem reais]

Meu caro Pr. Filipe,

Obrigado por seu e-mail contando as experiências recentes em suas pregações Brasil afora. Eu mesmo tenho tido a oportunidade, durante meu ministério, de pregar praticamente em todos os Estados da Federação e em vários países do exterior. Só posso agradecer a Deus.

Acho que é por isso que me sinto à vontade para atender seu pedido de conselhos práticos para suas viagens. Vou falar de coisinhas práticas que, mesmo sendo pequenas e “mundanas”, podem estragar sua estada em uma igreja.

1. Se for viajar de avião, acerte bem cedo quem vai comprar a passagem. Já me aconteceu de chegar o dia de viajar e não ter um bilhete. Os que me convidaram não compraram passagem pensando que eu ia comprar! Foi uma dificuldade conseguir passagem de última hora e estas geralmente são mais caras.

2. Se ficar a seu critério comprar a passagem, veja o horário em que a programação começa, para não chegar em cima da hora. Dê sempre um espaço para atrasos nos aeroportos. Peça um assento no corredor ou janela, não deixe para marcar na hora do embarque. Você pode terminar lá no fundo, espremido entre dois gordões durante duas horas de vôo. Um verdadeiro inferno.

3. No caso de você comprar a passagem, guarde o comprovante para mostrar quanto custou, na hora do reembolso. Não será um problema se você não tiver comprovante, mas fica mais elegante e transparente estar pronto para mostrá-lo.

4. Escreva em lugar acessível um telefone para contato, e mesmo o endereço da Igreja ou do local das pregações, para quando chegar ao aeroporto da cidade onde vai pregar não ser surpreendido por um aeroporto vazio, sem ninguém lhe esperando. Já passei por isso, sem telefone de contato e sem endereço, e lhe garanto, é desesperador!

5. A bagagem é extremamente importante, em caso de compromissos fora da sua cidade. Se for de ônibus, tudo bem. Se for de avião, esteja preparado para extravios. A melhor coisa é viajar leve e acomodar suas roupas, etc. em uma mala ou bolsa que você possa levar consigo dentro do avião, sem ter que despachar como bagagem. Se não tiver jeito, leve pelo menos uma muda de roupa com você. As chances de extravio de bagagem são grandes. Já me ocorreu de chegar em Goiânia para pregar num grande evento, e minha mala se extraviou. Tive que morrer num Shopping Center para comprar de última hora uma roupa completa e todos os acessórios (por causa do meu tamanho, sempre é difícil conseguir paletó emprestado...). A mala só apareceu dois dias depois.

6. Ainda sobre bagagem. O costume das igrejas varia muito pelo Brasil quanto à indumentária do pregador. Em alguns lugares, usar paletó é sagrado. Em outras, indiferente. Meu conselho é que pergunte antes ao pastor da Igreja que indumentária ele costuma usar. E caso isso não tenha sido possível, leve um paletó completo por via das dúvidas. Esteja preparado para tudo – rasgar as calças, descosturar o zíper da calça do único paletó (isso me ocorreu faz um mês, na encantadora Porto Velho. Minha sorte foi que havia uma irmã que era excelente costureira e deu um jeito a tempo para o culto da noite), manchar o único paletó que levou logo na primeira refeição, etc.

7. Por falar em hospedagem, naqueles compromissos de mais de um dia, meu conselho é que não imponha como condição ficar num hotel. Pega muito mal. Infelizmente, muitos pregadores evangélicos de renome quando aceitam um convite impõem como condição, além da oferta já determinada, ficar em hotéis de várias estrelas, comer em determinados locais, etc. etc. Para mim, é coisa de mercenário. Diga que aceita ficar hospedado na casa de uma família desde que você tenha tempo para descansar e rever seus sermões e orar. No meu caso, eu acrescento que não consigo dormir com mosquito (pernilongo, muriçoca, etc. – você tem que lembrar que dependendo do lugar para onde vai, o nome muda...) e calor, e se a família tiver pelo menos um bom ventilador e repelente, já basta. Deixe a Igreja que lhe convida decidir onde vai lhe hospedar. (Se você quiser ler um pouco sobre as bençãos de ser hospedado – e dos que hospedam pregadores – leia uma série de posts sobre o assunto, que começa aqui [ http://www.cronicasdocotidiano.com/?p=143 ])

8. Como você é presbiteriano, fique atento para um detalhe que pode acabar trazendo algum embaraço, se você for convidado para pregar numa igreja batista. Isso nunca me aconteceu, mas sei de casos em que o pastor presbiteriano foi pregar numa igreja batista e na hora da Ceia do Senhor foi preterido – o diácono zeloso não lhe serviu o pão e o vinho (como eram batistas, provavelmente era suco de uva). Ouvi falar de pastores presbiterianos que passaram por esse vexame e sei de pelo menos um que se levantou e saiu do culto, na hora. Não precisava tanto, talvez. Mas, que fica chato, fica. Você é crente o suficiente para estar falando lá e até para ensinar a congregação como trilhar os caminhos de Deus, mas não para tomar ceia...Por isso, cuidadosamente, pergunte antes ao colega batista, ou de outra denominação que restrinja a Ceia, se haverá celebração da Ceia e se ele tem a posição restrita ou mais aberta, que concede a Ceia aos pobres presbiterianos. O que é acertado antes, não sai caro.

9. Outro conselho – procure informar-se ao máximo da Igreja onde vai pregar, ou dos que estão patrocinando o evento em que você vai falar. Em 1997 paguei um dos maiores micos do meu ministério quando fui convidado para falar sobre Batalha Espiritual em uma igreja presbiteriana fora de São Paulo (eu tinha acabado de lançar meu livro O Que você Precisa Saber sobre Batalha Espiritual). Eles esperavam que eu falasse a favor e eu fui falar contra! Se eu tivesse tomado o cuidado de me informar cuidadosamente das posições do pastor da época e da situação da igreja, provavelmente teria recusado o convite ou então deixado muito claro que iria falar contra. Foram três dias de tensão e desconforto, na esperança de que Deus estivesse utilizando positivamente aquele constrangimento... Conhecer antecipadamente sua audiência vai ajudar a calibrar a pregação, determinar os conteúdos e tirar do baú do escriba coisas velhas e novas apropriadas para a ocasião (Mateus 13.52).

10. Nesse sentido, é bom estar absolutamente seguro da ocasião e do motivo do convite. O que a Igreja espera? É um aniversário da Igreja? Há um tema específico? Os temas das pregações ou palestras são livres? Eles esperam que você fale quantas vezes? Seja organizado, tenha tudo isso anotadinho bem antes do evento. Eu já passei por maus momentos por causa de desorganização. Cheguei na cidade onde tinha de pregar três vezes sem ter me assegurado da ocasião. Confesso que confiei demais na minha experiência e nos sermões de reserva que tenho de memória. A ocasião era o aniversário do coral da UPH!!! Eu não tinha sermão nenhum preparado para isso. Tive de improvisar na última hora e ficou aquela beleza...

11. Ainda alguns conselhos sobre as pregações. Pergunte antes o tempo que o pastor da igreja costuma pregar. Não abuse do fato que você é convidado. Você vai querer que eles se lembrem de você como “ah, aquele pastor que pregou tão bem sobre Lázaro...” e não como “ah, sim, aquele pastor que pregou cada sermão um mais comprido que o outro...”

12. Outro conselho muito importante. Pregadores itinerantes “como nós” costumam ter um pacote de sermões que levamos conosco e pregamos onde somos convidados. Pode acontecer o desastre de você repetir o mesmo sermão num mesmo lugar. Já passei por essa vergonha. Quem me salvou foi Solano Portela, que estava presente, e logo que eu anunciei o texto e fiz a introdução do sermão, ele discretamente se levantou do banco e me passou um bilhetinho onde estava escrito “você já pregou esse sermão aqui no mês passado”. Quase morri de vergonha. E o pior foi pregar na hora um sermão novo de improviso! Portanto, ache um jeito de registrar onde você pregou determinado sermão e quando, para evitar esse desastre.

13. Por incrível que pareça, o púlpito onde você vai pregar pode se tornar um problema. Há igrejas com púlpitos minúsculos e outras que nem púlpito têm mais – foram aposentados quando o pastor e a igreja adotaram grupo de coreografia, um enorme grupo de louvor e equipe de teatro. O pastor passou a pregar com microfone sem fio, andando pelo palco e pela igreja, sem anotações e sem a Bíblia diante dele, só contando histórias e experiências. Eu sei que você gosta de pregar expositivamente, de ter sua Bíblia aberta diante de você e as anotações ao lado. O que fazer em casos assim? Eu já me virei com aquele estande do regente do conjunto coral, onde de improviso acomodei a Bíblia e as notas. Em outras vezes, não teve jeito. Tive de pregar com a Bíblia aberta numa mão e o microfone sem fio na outra, sem chance de ter as anotações! Nesse caso, o que me salvou foi a boa memória a experiência de pregar de improviso. Meu conselho é que você também pergunte ao pastor se haverá ao menos um estande de regente para colocar Bíblia e notas. Outro conselho é que memorize os sermões e passe a pregar sem notas. Isso vai lhe salvar de inúmeras situações similares.

14. Agora, a questão da oferta. Na verdade, isso não deveria ser nem mesmo uma questão para você. No máximo é uma questão apropriada para quem convida. Quando isso passa ser o foco do seu ministério, vira coisa de mercenários, os que mercadejam a Palavra de Deus. Sei que existem muitos que não têm outras fontes de sustento a não ser o ministério itinerante, mas não é o seu caso e eu não saberia como lidar com essa situação... Já recebi vários convites que vinham com a pergunta receosa, “quanto o irmão cobra por palestra?” Obviamente, respondi que não cobro absolutamente nada, só preciso que paguem as despesas de passagem e hospedagem (e já houve casos em que acabei pagando para ir pregar em outro Estado, numa igrejinha que não tinha condições de pagar a passagem de avião. De ônibus, levaria 2 dias para ir e mais 2 dias para voltar). (Deve ser por isso que minha agenda de pregações está lotada até o final de 2008...). Meu conselho é que não conte com ofertas, como se fosse coisa certa. Não são. São um extra, um bônus, que pode ter ou não. Se, todavia, a igreja ou entidade patrocinadora lhe oferecer uma oferta, aceite com alegria e gratidão. Se recusar, vai ofendê-los.

Bom, eu teria mais um monte de coisas para dizer sobre esse assunto. Afinal, após 27 anos como pregador itinerante, no Brasil e fora dele, a gente aprende muito. Mas, no geral, eu lhe diria que tem sido um grande privilégio e alegria pregar em tantos lugares diferentes. Os contratempos não representam nada diante das bênçãos. É claro que isso só tem sido possível pela compreensão e apoio da minha esposa (filha de missionários) e de nossos quatro filhos, que sempre ficam contando os dias quando papai viaja... recentemente fiquei muito alegre quando uma igreja mandou uma carta para minha esposa e filhos, agradecendo por terem me liberado para passar um fim de semana com eles.

Um grande abraço!
Augustus
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