quarta-feira, dezembro 29, 2010

Solano Portela

Retrospectiva de 2010 e uma palavra de solidariedade

Se existem duas palavras que não se aplicam ao ano de 2010 são, tédio e monotonia. Ele foi repleto de ação, surpresas, acontecimentos marcantes e, sobretudo, de muitas bênçãos divinas e de confirmação dos nossos caminhos. Queremos (Solano e Mauro) fazer uma retrospectiva temática do que aconteceu em 2010, mencionando os posts que foram aqui colocados (note os diversos links, no texto) e dando destaque a um dos últimos acontecimentos, ao qual registramos uma palavra de profunda solidariedade.

1. Tragédias "naturais" – O ano começou com diversas tragédias. O mundo, e não somente o Haiti, foi abalado com o terremoto que ocorreu em 12.01.2010 naquele pequeno país já devastado por décadas de governantes despreparados e aproveitadores. Mais de 200 mil pessoas pereceram e, apesar da massiva ajuda internacional, e em função de promessas de auxílio não cumpridas, agravou-se o caos social, que perdura até hoje. Um post nosso procurou trazer o acontecimento e nossas responsabilidades a um contexto bíblico, ao mesmo tempo em que lembrava as tragédias domésticas, provocadas pelas chuvas, com menor perda de vidas, mas não menos dramáticas e intensas. No mesmo mês de janeiro, a cidade de São Luiz do Paraitinga, em São Paulo, teve o seu centro histórico e outras partes praticamente destruídas. O ano ainda registraria a surpreendente implosão do Morro do Bumba, no Rio, em abril, e as terríveis enchentes no nordeste (Pernambuco e Alagoas), no final de junho.

De menor monta, mas igualmente impactantes e relacionadas com este Blog, tivemos uma nevasca na costa leste dos Estados Unidos (bem mais intensa do que a que está ocorrendo desde 26 de dezembro de 2010, na mesma região) e a erupção do vulcão, na Islândia, de nome tão impronunciável que deveria ser proibido, Fimmvorduhals, que fica na geleira de Eyjafjallajoekull. Esses dois eventos ocorreram no mês de março. A nevasca pegou o blogueiro Solano de surpresa em Nova Jersey. Vôos foram cancelados e ele ficou preso pela neve por três dias na "pitoresca e bela" cidade de Newark. A erupção do vulcão islandês durou meses e fez com que os vôos na Europa fossem interrompidos por vários dias, em abril, perturbando a vida do Mauro e do Augustus, que se encontravam e ficaram retidos na Escócia. Graças a Deus, esses dois últimos acontecimentos, apesar de conturbarem a ordem das coisas em escala mundial, trouxeram apenas prejuízos materiais.

2. Distorções e desvios teológicos – Uma das marcas registradas do nosso Blog tem sido a análise e tratamento, à luz da Bíblia, de distorções e desvios teológicos. Nesse sentido, publicamos seis textos em 2010. Em janeiro, Mauro tratou da Teologia Relacional, que postula um "Deus que não Intervém" e Solano apontou o deslumbramento de certos segmentos evangélicos com a erudição católico-romana, insensíveis às grandes diferenças doutrinárias que nos separam. Em junho, Augustus com sua pena afiada, postou dois textos. O primeiro, com um título instigante, levanta a questão de que Jesus não era cristão, demonstrando que considerar Jesus apenas como exemplo, à custa de sua obra e vida milagrosa, como o verdadeiro Deus, é exatamente o erro dos liberais, e que muitos evangélicos estão caindo na mesma vala. O segundo tratou da providência de Deus, abordando a negação, também sempre presente na teologia relacional, de que Deus não tem controle sobre as chamadas "causas naturais", sendo essas obra do acaso. Augustus rotula essa compreensão, simplesmente, de paganismo. Em agosto ele voltaria ao tema, repercutindo a morte do Dr. Clark Pinnock, com um texto que demonstra o relacionamento íntimo entre o liberalismo e a teologia relacional, sendo o ponto de convergência a negação da inerrância bíblica. Por fim, nessa categoria, Augustus em setembro trataria a Teologia da Libertação, que hoje, apesar de se metamorfosear sob outros títulos, ainda empolga algumas mentes.

3. Teologia da reforma – Obviamente, sendo este um Blog escrito por calvinistas, a exposição direta da teologia da reforma recebeu cinco posts. Em abril, Mauro, apresentou a visão bíblica da Páscoa e o entendimento abraçado pelos reformadores e pela igreja histórica, em suas celebrações. Na tradição dos títulos provocativos, Augustus, em maio, indica que ele mudou. Na realidade, ele tanto mudou de arminiano para uma convicção reformada, mas também substanciou que ser reformado não significa ser refratário a mudanças, quando estamos alicerçados nos pilares imutáveis da fé e nas convicções do que as Escrituras ensinam. É dele também, em junho, uma exposição bem pessoal do calvinismo. Em julho Augustus nos deu um resumo da doutrina reformada "Sola Fides" e em outubro apontou a diferença entre mudar por mudar e reformar de verdade, com "Sempre reformando, ou sempre mudando?".

4. Usos e costumes e questões contemporâneas – As questões contemporâneas receberam nove textos. Em março Solano tratou do descaso com o linguajar, observado no meio evangélico, em um post (Palavrão – "só prá garantir esse refrão?"), que dava como exemplo o que havia escrito um líder de muitos. Como resultado foram recebidos muitos comentários irados de seguidores dele. 63 desses comentários não foram publicados exatamente por conterem inúmeros palavrões, provando o ponto do texto. Na seqüência, no mesmo mês, Solano tratou do pluralismo da era pós-moderna e da intolerância dos adeptos, para com aqueles que não o abraçam.

Em abril, Augustus, abordou uma tendência preocupante no cenário evangélico contemporâneo – o crescimento do número dos desigrejados, que defendem a ausência da necessidade de estarem ligados a uma igreja local, como parte integral das determinações bíblicas aos fiéis. Em maio, Solano repercutiu reportagem da Folha de São Paulo, na qual Daniel Dennett, famosos entre os ateus contemporâneos, inverte os papéis e choraminga que eles estão sendo perseguidos e discriminados. Em junho, Augustus coloca um link para texto seu, expondo 1 Coríntios 1 a 4, tratando a questão das divisões nas igrejas e do culto às personalidades. A problemática do divórcio foi abordada por Augustus em duas ocasiões, no mês de julho, repercutindo reportagens sobre as recentes decisões que facilitam o processo e pesquisa realizada entre pessoas religiosas. Sintonizado com divulgações da grande imprensa, ainda em julho, Augustus escreveu post esclarecedor sobre reportagem da revista Época, sobre os Novos Evangélicos. Em dezembro, republicou texto de Solano, tratando do curioso movimento observado no meio evangélico contra a celebração do Natal de Cristo Jesus.

5. Cartas – O Tempora abrigou quatro artigos em forma de cartas, em 2010. Todas elas foram escritas a personagens fictícios (assim garante o autor) pelo Augustus, tratando de temas da atualidade de maneira humorada, mas penetrante. Receberam essas cartas, em fevereiro o Jean Martin Ulricho, um pastor envolvido com o neo-puritanismo; em junho, a Bispa Evônia, defensora ferrenha da ordenação feminina; em julho, o Rev. Van Diesel, um pastor que decidiu lubrificar o seu ministério introduzindo a unção com óleo como prática litúrgica; e, em setembro, um jovem agoniado por que se encontra ilhado, cercado de liberais por todos os lados, lutando pela preservação de sua fé.

6. Educação escolar cristã – O tema da Educação Cristã está muito próximo ao coração de todos os três blogueiros, que, de uma forma ou de outra, se encontram envolvidos na promoção do ensino de todas as áreas de conhecimento, partindo de uma cosmovisão bíblica. Uma das atividades que mais tem nos animado é o curso de pós-graduação (Lato Sensu) realizado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie – Fundamentos Cristãos da Educação. Em paralelo, interagimos com o desenvolvimento e disponibilização do Sistema Mackenzie de Ensino – produção de livros escolares que já são adotados por uma centena de escolas. Esse trabalho de edição continuou em 2010, já cobrindo desde o maternal até o término do Ensino Fundamental I. Nesse tema tivemos três posts, em 2010, todos de autoria do Mauro. Em março ele deu, em uma entrevista reproduzida no blog, um panorama da educação escolar cristã, no Brasil, destacando várias instituições que a promovem, inclusive a ACSI. Em abril, ele notificou sobre a participação no programa de televisão "Vejam Só!", no qual abordou o papel da igreja e das escolas, apontando formas de cooperação e os limites, entre essas instituições. Em maio ele informou sobre encontro de educadores cristãos, na cidade de Belo Horizonte. Aproveitando para dar a notícia em primeira mão, o próximo congresso da ACSI será em São Paulo, de 23 e 24 de junho de 2011.

7. Denominação – A nossa denominação, a Igreja Presbiteriana do Brasil, foi grandemente abençoada neste ano. O Supremo Concílio, a maior reunião conciliar dela, ocorreu em Curitiba no mês de julho e em Aracruz, ES, em sessão extraordinária, no mês de novembro de 2010. No mês de julho, Augustus escreveu dois posts, sobre a IPB, substanciando as decisões conservadoras que emanaram do Supremo Concílio, mostrando os rumos da denominação, que se recusa a abandonar os padrões doutrinários firmados nas Escrituras Sagradas e não se apega aos modismos eclesiásticos que têm contaminado tantas denominações e estruturas religiosas ao redor do mundo. Além disso, testemunhamos, com alegria, a nossa denominação firmando relacionamentos e abrindo portas de comunicação com outras denominações reformadas de várias nações, que, à semelhança da IPB, prezam a Bíblia, como inerrante Palavra de Deus, e reconhecem na teologia da Reforma do Século 16 as verdades e ensinamentos sistematizados das Escrituras Sagradas.

8. Conferências e eventos internacionais – em 2010 continuamos envolvidos com a organização, promoção ou participação em diversos eventos e conferências, alguns dos quais encontraram divulgação neste blog. Em janeiro a presença do Michael Horton no Brasil, que ocorreria em março, foi registrada pelo Mauro, bem como a própria divulgação no mês da conferência, enquanto que o Augustus deu um relato do congresso. Ainda em março, Mauro divulgou a presença do Derek Thomas, professor do Reformed Theological Seminary, que ministrou entre nós. Em abril recebeu atenção o Encontro da Fraternidade Reformada Mundial, onde vários companheiros, junto com o Mauro e o Augustus, reencontraram diversos amigos e ex-palestrantes internacionais, que vieram ao Brasil em anos anteriores, como o Os Guiness, encontro devidamente registrado pelo Mauro. Ele também divulgou, em abril, o III Simpósio Internacional – Darwinismo Hoje, que ocorreu no final daquele mês, com excelentes palestras e ótima repercussão de público e de mídia. Por último, o Mauro registrou, em julho, a presença de Lou Priolo, que trouxe palestras na Palavra da Vida de Caldas Novas, Goiás, no início de agosto, sob o tema: "Em busca de restauração: o papel do aconselhamento bíblico na igreja e na família".

9. Política e as eleições – Em um ano de eleições a política e o tema do governo e a Bíblia não poderiam estar ausentes dos nossos assuntos. Três posts do Solano trataram dessa área. Em setembro ele discorreu sobre a Eleição e os Políticos. Em outubro, com a realidade do segundo turno, a questão se tornou mais específica e foram dadas razões para a percepção e persuasão do autor, perante a conjuntura eleitoral. Ainda em outubro, um último texto procurou trazer a visão bíblica do governo e dos governantes, perguntando: "Afinal, quando começou e para que serve o governo"?

10. Notas sociais e humor – Em agosto Augustus registrou o evento social do ano – o casamento da Norma e do André, ocorrido em 31 de julho de 2010. Ele também postou, neste mês de dezembro, as felicitações de final de ano aos nossos leitores. Apesar de tratarmos de coisas sérias, procuramos permear de humor os nossos posts, quando não estamos excessivamente cáusticos e a dieta de limão fica fora do cardápio, por algumas semanas. Nem sempre funciona, ou somos mal entendidos. Para completar as 43 postagens do ano, anotamos que, em fevereiro, um descontraído post, do Mauro, trouxe uma matemática eclesiástica que desafiou as mentes mais argutas dos nossos amigos leitores e trouxe uma variedade de sugestões e equações religiosas, nos comentários.

11. As coisas que não comentamos – Na frase abaixo do nome do nosso blog, "Reflexões fortuitas de alguns calvinistas sobre praticamente tudo, com destaque a temas de religião, cultura e valores morais", chama atenção o "praticamente tudo". Muitos sugeriram ou pediram comentários em situações que não foram abordadas em nossos textos. E é verdade que gostaríamos de ter escrito sobre muito mais coisas do que conseguimos. Por exemplo, nos mantivemos fora da arena futebolística, nem sequer chegamos a comentar, em junho, o desastre da Copa do Mundo, na África do Sul – desastre para o Brasil, mas que deixou uma bela infra-estrutura àquele país, da qual usufruí (Solano), no mês seguinte ao dos jogos.

Outro post que ficou nas intenções, apenas, foi o relato de minha (Solano) abençoada viagem a Moçambique. Viajei para lá em julho, onde tive a oportunidade não somente de interagir com outra cultura extremamente simpática e paralela à nossa, mas prezar da comunhão dos irmãos da Editora FIEL, enquanto trazia a Palavra de Deus a quase 400 participantes, na 11ª conferência anual de pastores e líderes que esses irmãos promovem naquele país irmão.

Imperdoavelmente, não comentamos sobre o resgate dos Mineiros (alguns acharam que era um plano para o Clube Atlético Mineiro ganhar o Campeonato Brasileiro...) no Chile; emocionante e incrível – 69 dias no ventre da terra! O incidente, além de expor as perigosas condições de trabalho dos mineiros, resultou em uma história que uniu determinação, persistência, tecnologia e solidariedade, dando uma clara demonstração do que a graça comum de Deus possibilita que a humanidade realize.

Depois de falar consideravelmente sobre política, ainda não comentamos a eleição da nova presidente do Brasil – mas isso faremos logo no início de 2011!

Também não comentamos vários assassinatos bárbaros, que ocorreram em 2010. Entre esses, o da Eliza Samúdio, cujo maior suspeito é o ex-goleiro do Flamengo, Bruno. Esse crime ocorreu em um contexto de vidas desregradas alimentadas pelo excesso de dinheiro e escassez de moralidade: situação presente na vida de tantas pessoas afluentes que povoam nossa sociedade. Outro assassinato, digno de comentário, foi o do Glauco Vilas Boas, cartunista famoso da Folha de São Paulo, ocorrida no bojo da demência provocada pelo Santo Daime e outras tantas drogas – que são condenadas da boca para fora por expoentes sociais e pela grande imprensa, como instituição, mas consumidas avidamente, por muitos dos que a fazem e nela atuam.

Semelhantemente nada comentamos sobre as aventuras e bravatas de Hugo Chavez, o bufão par excellence da América Latina, que tira um coelho comunista da cartola todo o mês, culminando, neste dezembro, com a assunção de mais poderes ditatoriais que resultarão em mais agonia e tristeza a esse país irmão.

Não chegamos, igualmente, a repercutir os trágicos acontecimentos no Rio, em novembro; tanto o desvario da criminalidade desenfreada, como as ocupações dos morros do Cruzeiro e do complexo do Alemão. Reconhecemos que essa situação é por demais importante no caldeirão social em ebulição em que estamos inseridos, mas os acontecimentos nos apanharam em meio a outras batalhas e na intensidade de responsabilidades funcionais.

Nem tocamos no lançamento do iPad no Brasil, até porque dois dos blogueiros já estão viciados nele, apesar de só um dos dois tê-lo fisicamente, em mãos!

12. Um registro necessário e uma palavra de solidariedade – No mês de novembro o nosso companheiro Augustus Nicodemus foi alvo de intensos ataques pessoais por homossexuais e simpatizantes da causa, numa demonstração da injustiça e intolerância que têm marcado a militância desse segmento da sociedade. O que ele fez, neste mês, para despertar a ira e furor que levaram o seu nome a ser propagado em diversos sites e na imprensa, culminando com um pequeno protesto realizado nas cercanias da instituição que trabalha? Especificamente, nada! Desde 2007 um registro na sua página funcional apontava a posição pública tomada pela Igreja Presbiteriana do Brasil, contra o aborto e contra o PL 122/2006, que procura impingir a toda sociedade uma mordaça na emissão de opiniões que são contrárias ao estilo de vida dos GLTB. Esse texto foi "descoberto" por homossexuais, neste novembro de 2010, gerando movimento e falatórios, na internet. O texto foi capciosamente apresentado como uma expressão "a favor da homofobia". Os sentimentos heterofóbicos foram então aguçados pela militância e nosso companheiro foi alvo de baixaria e de virulentos ataques, dos quais nem mesmo a sua família esteve protegida: muito curioso, para os pretensos defensores da liberdade de expressão, da suposta paz e do suposto amor.

Em nosso blog existem, já há vários anos, de autoria dos que subscrevem este post, alguns pronunciamentos contra a aprovação do malfadado PL 122. Não queríamos colocar "lenha no fogo", na ocasião, e mantivemos um silêncio planejado durante as semanas nas quais a controvérsia atingia o ápice. Mas os textos continuam aqui, para quem quiser acessá-los.

Com prazer constatamos que várias pessoas e muitos evangélicos se levantaram em defesa desse direito de liberdade de expressão e do nosso companheiro. Diversas manifestações pessoais foram emitidas, e aquelas de procedência externa validaram ainda mais a justiça da causa, restaurando a verdade de fatos que estavam sendo distorcidos. Um manifesto específico foi rapidamente publicado em mais de 8 mil sites, sendo referido, no Google, em mais de 30 mil citações. O texto foi traduzido para o inglês, alemão, holandês, espanhol e francês e divulgado extensamente no exterior. Posteriormente, outro texto, igualmente traduzido e publicado internacionalmente, deu um fecho verdadeiro nos relatos. Surpreendentemente, até a Folha de São Paulo, a propósito dos incidentes, publicou um editorial, em 30.11.2010, defendendo a liberdade de expressão e demonstrando a necessidade de que vozes contraditórias ao PL 122 não fossem silenciadas. Em 04.12.2010 a mesma Folha publicou um artigo do vereador Carlos Apolinário, igualmente contra o PL 122, também defendendo a posição e a pessoa do Augustus. Ainda outra voz que saiu em sua defesa, na esfera da grande mídia, foi a do repórter e escritor Reinaldo Azevedo em dois textos de ampla circulação.

Neste final de ano, portanto, queremos deixar registrada nossa solidariedade irrestrita ao Augustus, por ter sido atacado e vilipendiado na medida em que registrou padrões bíblicos de justiça e de comportamento. Sem promover o ódio, a discórdia e sem dar acolhida a qualquer forma de violência física contra qualquer pessoa, ele simplesmente exerceu a livre expressão garantida por nossa constituição, proclamando valores eternos de proteção da família e da moralidade, tão desprezados por muitos dos nossos contemporâneos.

Em 2011 esperamos continuar refletindo nossa compreensão do mundo em que vivemos, sem obrigações e comprometimentos para com prazos ou com assuntos específicos, até porque nossas atividades diárias não nos permitirão abordar tudo o que gostaríamos.

Solano e Mauro
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sexta-feira, dezembro 24, 2010

Augustus Nicodemus Lopes

Feliz 2011

Por     17 comentários:
Caros amigos e leitores do Tempora-Mores,

Este fim de ano foi cheio demais. Além da intensificação das atividades e compromissos profissionais, tivemos de enfrentar controvérsias, escrever artigos, responder centenas de emails e, obviamente, dar atenção às nossas famílias e nossas igrejas. Por este motivo simplesmente não conseguimos produzir muita coisa para o blog nesta época.

Esperamos voltar com as forças renovadas em 2011, com mais artigos e comentários e discussões.

Agradecemos a todos que nos apoiaram e sustentaram com suas orações durante este ano, e que contribuiram aqui no blog. Aos que nos detestam mas que não conseguem ficar longe de nós, vocês continuam a ser bem vindos, desde que continuem a ser educados e polidos ao manifestar suas opiniões.

Feliz Natal e um abençoado 2011.

Augustus, Mauro e Solano

[Foto: Solano, Wilson Porte, Augustus e Mauro, no Congresso da Fiel 2010]
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quinta-feira, dezembro 16, 2010

Augustus Nicodemus Lopes

Calvino contra o Natal?

Por     34 comentários:
[Este post de Solano foi originalmente publicado em 25/12/2006 e republicamos aqui pela pertinência, tanto do assunto quanto da data.]

Cristãos Contra o Natal!

Como bem observou o Augustus, em seu último post, o impossível está acontecendo: temos um movimento crescente de “Cristãos Contra o Natal”! A chamada “festa máxima da cristandade” está sob ataque cerrado de vários flancos e desta vez a luta é interna! Multiplicam-se os textos e os posicionamentos não apenas contra as características eminentemente comerciais do feriado (esse viés sempre foi um legítimo campo de batalha dos cristãos), mas somos alertados que o Natal não é nada mais do que um feriado pagão assimilado pela igreja medieval, e que persiste no campo evangélico apenas por desconhecimento do seu histórico. Essa origem, além da exploração comercial, inviabilizaria a sua observância religiosa pelos cristãos sendo fútil a tentativa de se resgatar o conceito abrigado no desgastado chavão do “verdadeiro sentido do Natal” (postei algo sobre isso em 20 de dezembro de 2005).

A literatura já nos brindou com alguns exemplos de personagens que não gostavam do Natal. Temos Charles Dickens, no livro Um Conto de Natal (teria sido melhor traduzido como “Um Cântico de Natal”),[1] trazendo a história de Ebenezer Scrooge, durante um período de festividades natalinas. Scrooge era um homem rico, não ligava para ninguém; desprezava as crianças pobres; era avarento e egoísta. Teve, entretanto, um sonho no qual empobrece, modificando sua atitude para com a data. A mensagem de Dickens é que a “essência” do Natal conseguiu derreter aquele coração endurecido. Outro personagem famoso é o Grinch – da pena do escritor Dr. Seuss, que publicava seus contos em rimas. Ele escreveu Como Grinch Roubou o Natal,[2] que virou, anos atrás, um filme com o ator Jim Carey. A história retrata Grinch como uma criatura mal-humorada que tem o coração bem pequeno. Ele odeia o Natal – pois não consegue ver ninguém demonstrando felicidade – e planeja roubar todos os presentes e ornamentos para impedir a celebração do evento em uma aldeia perto de sua moradia. Para seu espanto, a celebração ocorre de qualquer maneira. A mensagem de Seuss é que a “essência” do Natal não estava nos presentes ou nos ornamentos – transcendia tudo isso.

Obviamente os “Cristãos Contra o Natal” não têm relação com qualquer desses personagens, ou com aquele outro, registrado nas páginas das Escrituras Sagradas, que também odiou o Natal – o Rei Herodes,[3] mas parece que está virando moda termos cristãos contra o Natal. Além das razões relacionadas com as origens e da distorção comercial já mencionada, temos cristãos que apresentam algumas razões teológicas firmadas em suas convicções do que seria ou não apropriado ao culto e celebrações na Igreja de Cristo.

Cristãos Reformados Contra o Natal!No campo reformado, principalmente entre presbiterianos e batistas históricos, os argumentos contra o Natal são ampliados com uma veia histórica. Pretende-se provar que a verdadeira teologia da reforma e, principalmente, os reformadores e seus seguidores próximos, foram avessos à celebração do Natal. Argumenta-se que a celebração do Natal fere o “princípio regulador do culto”, defendido pela ala reformada da igreja. Conseqüentemente, se desejamos ser seguidores da reforma, teríamos que, coerentemente, rejeitar a celebração desta data. Nessa linha de entendimento, muitos artigos têm sido escritos[4] presumindo uma linha uniforme de pensamento nos teólogos reformados e correntes denominacionais reformadas no que diz respeito à rejeição da comemoração do Natal. Normalmente, também, o raciocínio se estende a outras datas celebradas no seio da cristandade, tais como a páscoa, que seriam igualmente condenáveis no calendário cristão. Por vezes, a defesa apaixonada deste ponto de vista tem resultado em dissensões e desarmonia no seio da igreja, ou de demonstração de um espírito de superioridade espiritual e auto-justiça, com críticas mordazes e ferinas aos que não se convenceram do embasamento teológico, histórico ou bíblico para a rejeição.

Deixando de lado a questão das origens – se elas têm a força de determinar a correção de uma observância religiosa – o que seria um ensaio à parte, será que a opinião dos reformadores foi sempre uniforme com relação à celebração do Natal e de outras datas importantes ao cristianismo? Será que houve sempre tanta harmonia assim, nas denominações reformadas, com relação à rejeição da comemoração do Natal resultando nessa tradição monolítica? Será que Calvino, realmente, se posicionou contra o Natal? Será que procede o que me escreveu uma vez um irmão reformado, dizendo que a rejeição do Natal seria “coerente com a fé cristã bíblica e reformada, principalmente com a posição presbiteriana histórica, a partir de Calvino e Knox”?

Calvino Contra o Natal?
A primeira coisa que temos a observar é que essa hipotética concordância entre Calvino e Knox não existiu. Nem há uma visão monolítica, sobre a questão, no seio reformado histórico, como muitos pretendem transmitir. Aquele irmão, em sua carta, desafiava: “por favor cite uma fonte primaria de onde Calvino aprova o Natal ou recomenda o mesmo”.

Bom, se é isso que vai ajudar, vamos a ela: uma das fontes primárias é uma carta de Calvino ao pastor da cidade de Berna, Jean Haller, de 2 de janeiro de 1551 (Selected Works of John Calvin: Tracts and Letters, editadas por Jules Bonnet, traduzida para o inglês por David Constable; Grand Rapids: Baker Book House, 1983, 454 páginas; reprodução de Letters of John Calvin (Philadelphia: Presbyterian Board of Publication, 1858). Nela, Calvino escreveu: “Priusquam urbem unquam ingrederer, nullae prorsus erant feriae praeter diem Dominicum. Ex quo sum revocatus hoc temperamentum quae sivi, ut Christi natalis celebraretur”.

Para alguns, isso bastaria para resolver a questão, mas para o resto de nós – entre os quais me incluo, a versão ao vernáculo é necessária. Possivelmente, uma tradução razoável para o português, seria (agradecimentos ao Rev. Elias Medeiros): “Antes da minha chamada à cidade, eles não tinham nenhuma festa exceto no dia do Senhor. Desde então eu tenho procurado moderação afim de que o nascimento de Cristo seja celebrado”.

Uma outra carta, de março de 1555, para os Magistrados (Seigneurs) de Berna, que aderentemente eram contra a celebração do Natal, diz o seguinte: “Quanto ao restante, meus escritos testemunham os meus sentimentos nesses pontos, pois neles declaro que uma igreja não deve ser desprezada ou condenada porque observa mais festivais do que outras. A recente abolição de dias de festas resultou apenas no seguinte: não se passa um ano sem que haja algum tipo de briga e discussão; o povo estava dividido ao ponto de desembainharem as suas espadas” (mesma fonte). No contexto, Calvino parece indicar que os oficiais que haviam abolido a celebração tinham boas intenções de eliminar a idolatria (vamos nos lembrar da situação histórica), mas parece igualmente claro que ele indica que, se a definição estivesse em suas mãos teria agido de forma diferente.

Historicamente, Knox e a igreja a Igreja Escocesa seguiram a opinião dos oficiais de Genebra. Ou seja, em seu contexto histórico de se dissociar de tudo que era catolicismo, reforçou a abolição das festividades, nas igrejas. Mas não esqueçamos que ele também rejeitou instrumentos musicais, cânticos, e várias outras formas de adoração – os “Reformados Contra o Natal” estão dispostos a segui-lo em tudo, como parâmetro infalível?

Ocorre que Calvino é sempre apontado como uma força instigadora e radical, na gestão de Genebra. Na realidade, entretanto, ele agiu, em muitos casos (como no incidente de Serveto) como um pólo de moderação e encaminhamento, mas nem sempre sua opinião prevaleceu. O governo de Genebra era conciliar e fazia valer a visão da maioria. Por exemplo, o Rev. Hérmisten Maia Pereira da Costa aponta que a persuasão de Calvino era a de que a Santa Ceia devia ser celebrada semanalmente, enquanto que nas cidades de Berna e Genebra, no máximo era celebrada quatro vezes por ano. Calvino deu até o que poderíamos chamar de um “jeitinho reformado” ou de um “jogo de cintura” notável. Hérmisten cita: “Calvino procurou atenuar a severidade destes decretos fazendo arranjos para que as datas da comunhão variassem em cada igreja da cidade, provendo assim oportunidade para a comunhão mais freqüente do povo, que podia comungar em uma igreja vizinha” [William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, p. 140-141] Costume este que se tornou comum na Escócia. [Cf. William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, p. 141].

Hérmisten aponta também que em Genebra os magistrados determinaram que a Ceia fosse celebrada no Natal, na Páscoa, no Pentecostes e na Festa das Colheitas [Vd. John Calvin, “To the Seigneurs of Berne”, John Calvin Collection, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), nº 395, p. 163. Vd. também: William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, p. 141]. A conclusão óbvia é a citada pelo Hérmisten: “As cinco festas da Igreja Reformada eram: Natal, Sexta-Feira Santa, Páscoa, Assunção e Pentecostes” (Cf. Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, p. 28)]. Podemos dizer que não havia, na essência da questão, celebração do Natal, em Genebra?

A suposta unidade monolítica e histórica dos reformados, sobre esta questão das celebrações de festividades do chamado “calendário cristão” é mais um mito do que verdade. Ousaríamos rotular o Sínodo de Dordrecht (Dordt) de “não reformado” – justamente de onde extraímos os Cinco Pontos do Calvinismo (em 1618)? Pois bem, em 1578, temos a seguinte decisão: “... considerando que outros dias festivos são observados pela autoridade do governo, como o Natal e o dia seguinte, o dia seguinte à Páscoa, e o dia seguinte ao de Pentecostes, e, em alguns lugares, o Dia de Ano Novo e o Dia da Ascensão, os ministros deverão empregar toda a diligência para prepararem sermões nos quais eles, especificamente, ensinarão a congregação as questões relacionadas com o nascimento e ressurreição de Cristo, o envio do Espírito Santo, e outros artigos de fé direcionados a impedir a ociosidade”. Assim, as igrejas reformadas procedentes do ramo holandês comemoram várias dessas datas até em dose dupla (incluindo o dia seguinte). Augustus mencionou não somente este trecho, mas adicionou a admissão dessa visão na Confissão de Fé de Westminster (Cap. 21) e na Confissão Helvética (XXIV). Não ve, igualmente, dano na celebração do Natal, um outro ícone reformado, Turretin (1623-1687)[5]. Ou seja, a rejeição do Natal, atualmente “ressuscitada”, não tem o respaldo histórico-teológico que pretende ter.

Obviamente todos esses referenciais históricos são importantes, mas o que firma a nossa convicção é a Palavra de Deus e nela aprendemos que a questão das origens não determina a propriedade, ou não, de uma coisa ou situação, mas sim a atitude de fé do utilizante. Isso pode ser extraído de um estudo de 1 Coríntios 8.1-13; ou examinando como os artefatos e itens preciosos, surrupiados pelos Israelitas dos Egípcios (imediatamente antes do Êxodo), muitos dos quais com certeza utilizados em cultos e festividades pagãs, foram utilizados em consagração total (e sem restrições) no Tabernáculo (Ex 35 a 39). Das Escrituras, podemos inferir, possivelmente, que Jesus participou de celebrações de festividades que não procediam das determinações explícitas da Lei Mosaica, mas que refletiam ocorrências históricas importantes na história do Povo de Deus – como as festas de Purim[6] e Hanucah[7] – deixando implícita a propriedade dessas celebrações, como algo que, provém “de fé”, não sendo, portanto, pecado. Romanos 14 e 15 trazem considerações sobre tais questões, demonstrando a necessidade da consciência pura, ao lado da preocupação com os irmãos na fé, para que procuremos “as coisas que servem para a paz e as que contribuem para a edificação mútua” (14.19). É lá igualmente que lemos (14.5): “Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias; cada um esteja inteiramente convicto em sua própria mente”. Se Deus decidiu não disciplinar condenatoriamente a questão, não o façamos nós.

Um Feliz Natal Reformado a todos!

Solano
[1] Charles Dickens, Um Conto de Natal (S. Paulo: Rideel, 2003), 32 pp.[2] Dr. Seuss, Como Grinch Roubou o Natal (S. Paulo: Companhia das Letrinhas, 2000), 64 pp.[3] Mt 2.1-18. Herodes, conhecido como “o Grande” e “Rei dos Judeus”, nasceu em 73 a.C. Filho de Antipater II – era da região chamada induméia e foi indicado pelo imperador romano Júlio César como “governador da Judéia”.[4] Veja, por exemplo, Brian Schwertley e seu artigo “The Regulative Principle of Worship and Christmas”, postado, entre outros sites, em: http://www.swrb.com/newslett/actualnls/CHRISTMAS.htm (acessado em 18.12.2003).[5] Turretin admite as celebrações de dias especiais pelas igrejas, desde que estes não sejam impostos por elas como matéria de fé, ou considerados mais santos do que os demais. Referindo-se à censura de igrejas que haviam escolhido não celebrar o Natal e outras datas, sobre outras igrejas cristãos, ele escreve: “não podemos aprovar o julgamento rígido daqueles que acusam essas igrejas de idolatria” (Institutes of Elenctic Theology (Philipsburg, NJ: Presbyterian & Reformed, 1994), vol 2 p. 100.[6] Possivelmente a festividade relatada em João 5 – relacionada com os incidentes narrados no livro de Ester.[7] Ou “Chanukah” – festividade originada na época dos Macabeus, em celebração ao livramento físico do Povo Judeu. Jesus estava em Jerusalém na época da celebração (João 10.23-30).
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domingo, outubro 31, 2010

Augustus Nicodemus Lopes

Sempre Reformando ou Sempre Mudando?

Por     43 comentários:
Hoje se comemora no mundo todo os 493 anos da Reforma Protestante - mas, o que significa seu lema "igreja reformada, sempre se reformando"?

Há vários lemas que os reformados gostam de usar para identificar e resumir as marcas da Reforma: Sola Scriptura, Sola Fides, Solus Christus, Sola Gratia, Soli Deo Gloria e o moto Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est. Mas, como tudo na vida, eles têm sido entendidos e usados de maneira diferente pelos que se consideram herdeiros da Reforma.

É o caso especialmente do “Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est”, de autoria do reformado holandês Gisbertus Voetius (1589-1676), à época do Sínodo de Dort (1618-1619). Este slogan, que pode ser traduzido como “A Igreja é reformada e está sempre se reformando”, tem sido interpretado como se Voetius estivesse dizendo que uma característica da Igreja Reformada é que ela está sempre mudando. Contudo, é difícil imaginar que Voetius, calvinista estrito, que participou em Dordrecht da disputa contra os discípulos de Armínio, tivesse usado este lema para encorajar a abertura da Igreja para novas idéias de qualquer tipo – seria o mesmo que dizer que os seguidores de Armínio estavam certos e que a Igreja Reformada deveria se abrir para uma reforma de natureza arminiana na sua soteriologia! Voetius estava tentando qualificar o argumento deles de que a Igreja deveria estar aberta para receber novas luzes sobre pontos que pareciam imutáveis. Voetius não negou o princípio da reforma constante, mas destacou que o alvo era sempre retornar às Escrituras, que tinham sido a base da Reforma. E na compreensão dele e do Sínodo de Dort, as idéias dos seguidores de Armínio certamente não representariam um retorno às Escrituras.


É importante notar que o aforismo de Voetius não foi “ecclesia reformans”, que significaria que a Igreja se reforma a si mesma, mas “ecclesia reformanda”, que está na voz passiva e indica que o agente da reforma não é ela própria, mas sim o Espírito de Deus. E este certamente promove o crescimento e a compreensão das Escrituras a cada nova geração, sem com isso admitir que a verdade muda.

As palavras de Voetius vêm sendo reinterpretadas ao longo dos anos e usadas de formas que nunca passaram pela mente do teólogo calvinista holandês. A Igreja Católica, no Concílio Vaticano II, tomou para si a parte final do aforismo de Voetius, “reformanda est”, após reinterpretá-lo para justificar as mudanças que introduziu no catolicismo tradicional. Os seguidores de EllenWhite, profetisa do Adventismo, usam-no para justificar sua reivindicação de serem uma reforma da Reforma. E mais recentemente, o lema ressoa distorcido, mais uma vez. Uma ala da própria Reforma protestante tem usado o moto para justificar mudanças e inovações na Igreja Reformada que certamente não estão de acordo com as Escrituras.

Só para ilustrar, “Semper Reformanda” é o nome de uma organização religiosa nos Estados Unidos que defende a inclusão de gays e lésbicas no ministério pastoral e o casamento homossexual. O grupo adotou este lema porque entendeu que ele expressa o princípio mater da Reforma, que as igrejas reformadas devem mudar a cada geração, para se contextualizar às mudanças da sociedade, da cultura e das novas compreensões.

Essa, na verdade, sempre foi o entendimento daqueles que acham que o mais importante na Reforma Protestante não foi ter voltado no passado para resgatar as antigas doutrinas da graça, mas de ter ido em frente, promovendo uma mudança no status quo (não estou dizendo que todos os que pensam assim são a favor da agenda GLT). A idéia subjacente é que o novo sempre é melhor. Querem o reformanda mas não o Sola Scriptura. Torcem Voetius.

Na verdade, reformados não podem ser contra a continuidade da Reforma, pois sabem que a Igreja é composta de pecadores. Sabem também que a cada geração novos desafios se erguem contra ela. Todavia, só podem aceitar reformas e mudanças que nos tragam mais para perto da Palavra de Deus. Acho que o ponto central aqui é que os reformados crêem que a verdade não muda e que as reformas que a Igreja deve buscar almejam sempre um melhor entendimento da verdade e uma aplicação relevante dela para seus dias. Há quem acredite que a verdade muda, e quando falam em ecclesia reformanda, estão pensando em mudanças inclusive das antigas verdades professadas pelos reformadores. Para eles, nenhuma delas é intocável. Todas estão sujeitas a reinterpretações tão radicais a ponto de se tornarem totalmente outras. É aqui que está a principal diferença entre os reformados e os reformandos ou reformistas.


[post originalmente publicado em 2006 aqui neste blog]
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sexta-feira, outubro 22, 2010

Solano Portela

Afinal, quando começou e para que serve o governo?

Em meu último post, um leitor fez um comentário sobre minha afirmação de que o Governo, no conceito da teologia reformada, haveria começado após a queda. Disse ele:


"Fiquei curioso devido ao fato que nas duas narrações bíblicas de Gênesis que relatam a criação, em ambas está implícito a capacidade de governar que foi dada por Deus ao Homem. Pois no primeiro relato (Gn Cap.1) encontramos Deus dizendo ao Homem:"...domine sobre..." (Gn 1.26) e "E Deus os abençou, e Deus lhe disse:...sujeitai-a...dominai (Gn 1.28); E no segundo relato (Gn Cap.2), diz: "E Adão pôs os nomes a todo o gado... (Gn 2.20)... a tudo o que Adão chamou...isso foi o seu nome (Gn2.19)". Ou seja, capacidade para governar, o Homem recebeu de Deus e isso não foi após a queda e a partir de Noé, mas já na criação original do Homem".

Este é, realmente, um ponto controvertido. Mas, para iniciar a discussão, não devemos confundir capacidade de organização com a instituição do governo humano (a regência de uns sobre outros). Veja que, nos exemplos acima, a classificação filológica realizada por Adão, demonstra capacitação, mas não governo, no estrito senso da palavra.

Tendo dito isso, é verdade que muitos estudiosos consideram a instituição do governo, ou “o estado” como sendo parte da organização social humana que antecede a queda em pecado. Um autor coloca a questão da seguinte maneira: “Existe uma forte indicação que o governo existiria mesmo se vivêssemos em um mundo sem pecado” (1). Na opinião deste autor, o governo faria parte dos atos criativos de Deus, que teria ordenado os métodos pelos quais os homens e anjos deveriam ser governados. Para ele, a base do governo civil está enraizada na nossa natureza de criaturas formadas à imagem e semelhança de Deus. Entretanto, esse mesmo autor afirma que a necessidade do governo é exatamente o controle da pecaminosidade humana, e ele se volta para o registro de Gênesis 9.

Essa opinião sobre a base e origem do governo, ou do “estado”, apesar de aparecer em círculos evangélicos, é mais característica do campo Católico Romano. Uma publicação católica faz a seguinte afirmação sobre os governos – “regimes cuja natureza é contrária à lei natural, à ordem pública a aos direitos fundamentais das pessoas, não podem alcançar o bem comum das nações das nações nas quais eles estão impostos” (2). O ponto a ressaltar, nessa afirmação, é o conceito do “contrário à lei natural”. Essa compreensão vê o governo como sendo uma conseqüência lógica da "lei natural". Além disso, o governo subsistiria em qualquer circunstância, pois sua finalidade seria promover “o bem comum”.

O Papa Leão XIII, em sua encíclica Imortale Dei, de 1885, disse (grifos meus):


"Não é difícil determinar qual seria a forma e caráter do Estado, se fosse governado pelos princípios da filosofia cristã. Os instintos naturais do homem o levam a viver em sociedade civil, porque ele não pode, vivendo isoladamente, prover para si mesmo com os requerimentos necessários a esta vida, nem obter os meios de desenvolver as suas faculdades mentais e morais. Conseqüentemente, é uma ordenança divina que ele direcione a sua vida, seja ela em família, socialmente ou na sociedade civil, juntamente com seus semelhantes, no meio dos quais as suas diversas necessidades serão supridas adequadamente. Mas nenhuma sociedade pode se manter coesa a não ser que alguém esteja sobre ela, direcionando todas as pessoas para que busquem com afinco o bem comum; cada comunidade civilizada deve possuir uma autoridade regente. Essa autoridade, bem como a própria sociedade, tem a sua fonte na natureza e, conseqüentemente, tem Deus como o seu autor".(3)

Percebem as implicações da visão católico romana, bem como as diferenças entre os dois conceitos? Deus é colocado como última causa, mas a ênfase é na sociedade (estado) como existindo em função dos “instintos naturais” das pessoas, para o bem comum. Há, igualmente, uma tendência a subordinar diferentes esferas (como, por exemplo, a família) ao estado, bem como em traçar um relacionamento muito mais incestuoso entre igreja e estado, do que o conceito bíblico-reformado.

A teologia reformada, em sua visão majoritária, considera o governo (ou o estado) como uma instituição pós queda em pecado. Isso não quer dizer que a sociedade humana sem pecado (em uma visão especulativa) seria carente em organização. Desorganização e caos são características do pecado. Um mundo sem pecado seria, por natureza própria, organizado e respeitador dos direitos e limites estabelecidos pela fonte de toda justiça – Deus.

Hebden Taylor, importante jurista e filósofo reformado, mesmo sendo ministro ordenado da igreja anglicana, ensinou no Dordt College (Estados Unidos), no meio da Igreja Cristã Reformada. Ele escreveu um livro importante sobre este assunto (4). Nele, ele diz:

“O estado existe em função da pecaminosidade humana, de tal forma que, com o seu poder de coação, o estado é uma instituição característica da graça comum, temporal e preservativa, de Deus. A visão católico-romana, que fundamenta o estado da esfera do natural, não faz justiça ao fato do pecado. Tanto no Antigo, como no Novo Testamento, o poder organizado da espada é relacionado, com ênfase, à queda do homem (Ro 13.1-5; 1 Pe 2.13; Ap 13.10; 1 Sm 12.17-25; 24.7, 11; 26.9-11; 2 Sm 1.14-16)”. (5)

O trabalho de Taylor consistiu, na realidade, na apresentação simplificada das idéias do filósofo holandês Herman Dooyeweerd sobre a “soberania das esferas”. Dooyeweerd tem um tratado extenso e muito técnico, em quatro volumes, chamado “Uma Nova Crítica do Pensamento Teórico”, mas suas convicções específicas quanto ao pensamento cristão sobre o estado, foram expressas em palestras (“De Christelijke Staatsidee”) realizadas na cidade de Apeldoorn, na Holanda, em 1936, publicadas, posteriormente, como um livreto, sendo traduzidas mais tarde para o inglês. (6)

Dooyeweerd constrói sua idéia sobre o estado na tradição e trabalho de Agostinho, Calvino e Abraham Kuyper – que consideravam o estado uma conseqüência da queda do homem. Mesmo assim, o estado é uma instituição com uma esfera específica de autoridade – devendo responder a Deus, o doador desta autoridade, e sem exercer interferência na autoridade ou vida da igreja, ou da família – cada uma dessas, uma esfera de autoridade em si, responsáveis por suas missões e ações, na providência divina.

No desenvolvimento do seu pensamento, Dooyeweerd está constantemente apontando como a visão bíblica difere do conceito católico romano – a de que o estado é uma instituição natural, que existe para o bem comum.(7)

Uma outra análise de proveito, providenciada por Dooyeweerd, é a exposição feita do pensamento de Emil Brunner (discípulo de Karl Barth). Em função da visão neo-ortodoxa do cristianismo, que enfatiza o caráter subjetivo e supra-natural – divorciado dos fatos concretos da história, para Brunner (e Barth) o estado cristão é uma impossibilidade, “como o são a cultura cristã, o aprendizado cristão, a economia, a arte ou a ação social cristã”.(8)

Rejeitando esse conceito, Doyeweerd vê o estado como a ferramenta principal da graça comum de Deus. Ele mostra, igualmente, que a visão pagã do estado soberano sobre todas as coisas, provoca confusão das esferas de autoridade, o surgimento de governos e sistemas totalitários, a interferência do estado na família e na igreja e a legislação desvairada em áreas de moralidade às quais nunca recebeu responsabilidade divina de legislar. Uma aplicação contemporânea dessa interferência do estado pagão secular é vista nas legislações que se multiplicam procurando legitimar as uniões homossexuais (interferência com a esfera da família), ou que pretendem enquadrar disciplinas eclesiásticas contra homossexualismo, como sendo atitudes discriminatórias passíveis de punição legal (interferência com a esfera da igreja). Essa idéia pagã do estado procede de Aristóteles, para quem o estado é a forma mais elevada de união, na sociedade humana, da qual todos os demais relacionamentos sociais são apenas partes dependentes deste.(9)

Dooyeweerd insiste que a visão bíblica do princípio estrutural do estado o revela como sendo uma instituição de relacionamento social, que difere dos laços de sangue presentes na instituição da família. A função do estado, desde a fundação, é vista no aspecto histórico da realidade – um mundo submerso em pecado e uma instituição que recebe o direito monopólico da espada, sobre um dado território. Se existir deficiência nessa fundamentação (o direito de uso do poder coercitivo – a espada) – não se pode falar verdadeiramente da existência de um estado. (10) Ele lembra que: “Tomás de Aquino e a teoria política Católico-romana, disseminada após ele, ensinou que o estado, como tal, não foi instituído em função do pecado... o poder da espada, na visão católico-romana, não é parte da estrutura do estado. Isso é um desvio da visão das Escrituras, apresentada com convicção e vigor pelos pais da igreja, especialmente por Agostinho”. (11)

Ainda assim, mesmo no campo reformado, encontramos algumas divergências. Alguns apontam a instituição do governo em Gn 9.5-6, nas palavras proferidas por Deus a Noé, como representante maior da raça humana, cuja quase totalidade havia perecido no julgamento do dilúvio. Nesse entendimento, a própria raça humana havia sido deixada “sem governo”, de tal forma que a iniqüidade e a violência se multiplicaram na face da terra, culminando com o julgamento. Gn 9.5-6 institui o “poder da espada” e a delegação de que fosse exercitado “pelo homem”, contra os que desrespeitassem as leis de justiça e ceifassem vidas inocentes.

J. Oliver Buswell, teólogo reformado, autor de uma Teologia Sistemática, acha que o governo não foi “instituído pela primeira vez depois do dilúvio”. Ele continua indicando que “... pelas genealogias de Gênsis 5 e 11, pressupõe-se a existência de um governo patriarcal ou alguma forma dinástica de governo, desde as eras mais antigas”. (12)

Conclusão :

Muitas são as implicações desse entendimento reformado da instituição do governo:

a. Devemos rejeitar filosofias políticas que ignoram a pecaminosidade humana e que tratam a sociedade como se fosse moralmente "neutra".

b. Muitas teorias utópicas de governo têm essa premissa como base – algumas levam ao totalitarismo. Em sua obra clássica “A República”, Platão propôs um governo ideal no qual filósofos iluminados, transformados em reis, governariam a terra. Mas a Bíblia ensina que todos são pecadores (Rm 3.23). Esses “iluminados”, pecadores como os demais nem sempre seriam benevolentes, bem intencionados e justos.

c. O estado não pode transformar a natureza humana. Sua capacidade de ação é propositadamente limitada. Sua abrangência de ação ocorre sempre às custas de liberdades confiscadas em outras áreas. O estado pagão, se considera Deus, e se arvora no direito de legislar moralidade, de indicar o que é certo e o que é errado, quando ele deveria atuar debaixo dos princípios de justiça que emanam de Deus. Deve ser protetor do indivíduo, da família e da sociedade, e não proponente da dissolução moral que aniquila essas três esferas.

d. A família e a igreja são instituições que coexistem com o estado. De uma certa forma, estão sob ele, mas soberanamente atuam, cada uma em suas esferas – responsáveis, perante Deus, pelo exercício de suas prerrogativas e responsabilidades.

e. Para quê serve o governo? Para muito pouco, mas esse pouco é essencial. Serve para garantir a nossa segurança e para reconhecer os cidadãos de bem (Rm 13.1-7), dando-lhes oportunidades iguais de desenvolverem as suas desigualdades. Não serve para administrar empresas. Não serve como mero provedor de empregos sem critérios de eficiência. Não serve como supridor de assistencialismo perene, que gera dependência e tira a iniciativa. Não serve como base de ganho pessoal ilícito aos governantes. Não serve como instrumento de tirania, moral ou física. Não serve para estabelecer ou legislar o certo e o errado (mas deve SE REGER pelo certo, e não pelo erro). Não serve para tomar o lugar da família e postular como esta deve criar e NÃO disciplinar os filhos. Não serve para alterar parâmetros biológicos e para inventar casamentos entre os incapazes para tal. Não serve para abrigar assassinato de infantes. Não serve para o gigantismo que gera opressão e tirania (mas deve se enquadrar em suas limitações, dando espaço para os cidadãos respirarem livremente). Ou seja, não serve para a maioria das áreas que usurparam o foco e a área de concentração legítima - garantir nossa liberdade!

f. Por último, para eu não perder a viagem, nesta eleição de 2010, reafirmo que nenhum dos dois candidatos possui a visão correta dessas questões, pois defendem um coletivismo insano. No entanto, vote naquele que tem uma plataforma de partido mais aproximada com a almejada proteção da família e da sociedade, em oração para os que estiverem no governo, lembrem-se de suas responsabilidades perante o Criador Soberano do universo, e sejam restringidos na apropriação pessoal dos bens que recebem para administrar a nação.

Solano Portela

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Notas:
(1) Kerby Anderson, Christian View of Government and Law (www.leaderu.com/orgs/probe/docs/xian-pol.html)
(2) Catechism of the Catholic Church (Liguori, MO: Liguori Publications, 1995).
(3) Papa Leão XIII, Encíclica Immortale Dei, 1885.
(4) Hebden Taylor, The Christian Philosophy of Law, Politics and the State (Nutley, NJ: The Craig Press, 1966), 653 pp.
(5) Ibid, 429.
(6) Herman Dooyeweerd, The Christian Idea of the State (Nutley, NJ: The Craig Press, 1966), 51 pp.
(7) Rousas John Rushdoony ressalta também este fato no prefácio da op. cit., p. xiii.
(8) Dooyeweerd, 2.
(9) Ibid, 8.
(10) Ibid, 40.
(11) Ibid.
(12) J. Oliver Buswell, A Systematica Theology of the Christian Religion (Grand Rapidas: Zondervan, 1962, 1968), 400.
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quarta-feira, outubro 13, 2010

Solano Portela

Chegou o segundo turno – e agora? A Hora da Decisão na campanha presidencial 2010.

A justiça exalta as nações, mas o pecado é o opróbrio dos povos. Provérbios 14.34

Quando se multiplicam os justos, o povo se alegra, quando, porém, domina o perverso, o povo suspira. Provérbios 29.2




Contrariando as projeções das pesquisas e as expectativas da candidata Dilma Rousseff as eleições presidenciais de 2010 foram remetidas ao segundo turno, possivelmente até para surpresa do candidato José Serra, o segundo colocado.

Os analistas divergem quanto às causas principais desse resultado. Inicialmente, falou-se bastante na influência da intensa campanha movida pela Internet, por evangélicos, católicos e até espíritas, apontando as posições, do partido da líder nas pesquisas, em favor do aborto, da defesa ao casamento homossexual e da proibição a identificar o homossexualismo como o pecado que é. Essas e outras posições moralmente condenáveis integram tanto o malfadado projeto lei PLC 122/2006, quanto o execrável Plano Nacional dos Direitos Humanos, em sua terceira versão. Estes, sob o suposto manto de oposição à discriminação (atualmente, convicções religiosas estão sendo automaticamente rotuladas pejorativamente de “preconceito” ou de “discriminação”), procuram impingir formas de vidas condenáveis pela Palavra de Deus a todas as famílias brasileiras. Devemos lembrar, também, que o partido da Sra. Dilma suspendeu os direitos partidários de dois dos seus integrantes por manterem convicções contrárias a essas bandeiras defendidas pelos militantes.

Mais recentemente, a imprensa passou a apontar os casos de corrupção na Casa Civil, protagonizados pela família de Erenice Guerra, como sendo o principal fator responsável pela perda de votos da candidata Dilma, frustrando os planos de que a eleição presidencial fosse decidida no primeiro turno.

Qualquer que tenha sido o fator principal, ou, o que é mais realista, a combinação de fatores, a verdade é que ganhamos uma prorrogação na qual podemos refletir adicionalmente em nossas responsabilidades como cristãos. Aproveitando essas “horas extras”, não deveríamos esquecer que:

1. O SENHOR é que governa as nações (Sl 22.8). O Salmo 24.1-2 diz: “Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam. Fundou-a ele sobre os mares e sobre as correntes a estabeleceu”. Esse governo inclui a determinação de quem governa, ou não, conforme lemos em Daniel 2.21: “... é ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes”. Isso significa que, contrariamente ao que ensinam alguns teólogos contemporâneos, os quais dizem que Deus não interfere nos afazeres dos homens, e até nem teria poder sobre o futuro, pois este ainda não aconteceu, a Bíblia claramente ensina que a regência soberana de Deus é uma realidade. Ela é exercida sobre os governantes e nações, independentemente do sistema de governo encontrados nelas. Para nós, neste momento, significa que qualquer que seja o resultado da eleição, este está debaixo da soberania divina; nada fugiu ao seu controle. Deus tem os seus propósitos e os cumprirá, com certeza. Nunca há lugar para orgulho excessivo, nem para desespero.

2. Pessoas recebem de Deus a delegação de governar sobre outros. A fé reformada reconhece que o governo é dádiva da graça comum de Deus. Qualquer governo é melhor do que anarquia. No pensamento reformado, o governo é uma conseqüência do pecado, fruto da benevolência de Deus (não faz parte da “lei natural”, como afirmam os católicos-romanos). Ele foi especificamente definido a Noé (Gn 9), como representante da humanidade, colocando a força na mão das autoridades, para punir os malfeitores. Detalhamento adicional, no Novo Testamento, temos em Romanos 13.1-7, onde os governantes são chamados de Ministros de Deus, para punição do mal e reconhecimento dos que praticam o bem. Essa é uma tremenda responsabilidade para quem governa, pois mostra que o poder não é absoluto nem divorciado das obrigações para com os absolutos de Deus. Fala-se muito, hoje em dia, do estado laico, como se não houvesse qualquer obrigação estatal de observar princípios universais de justiça e equidade, que procedem de Deus. Enquanto reconhecemos a separação da igreja e do estado, como esferas autônomas; devemos reconhecer, também, que ambos prestam contas a Deus. É inadmissível e é condenável o estado que promove e patrocina atos imorais e de injustiça, e os governantes devem ser relembrados disto.

3. Temos obrigações para com os governantes. A Bíblia é clara quando aponta o caminhar cristão como o de cidadãos responsáveis e respeitosos das autoridades instituídas. Atos 26.2-3 e 24-25 registram o respeito que Paulo tinha para com as autoridades governamentais, até para com aquelas que procediam injustamente para com ele (veja também 1 Pedro 2.13-15 e 18). E é ele que escreve em sua primeira carta a Timóteo (2.2) que devemos honrá-las e interceder por elas, para que tenhamos uma vida tranqüila (ou seja, para que cumpram a finalidade para a qual existem: garantir o bem-estar e segurança dos cidadãos). Obediência às autoridades é, portanto, esperada dos Cristãos e o limite dessa obediência é estabelecido pela própria Palavra de Deus (Atos 4.19-20 e 5.29). Esse limite é quando o governo procurar legislar CONTRA o que Deus nos comanda em sua palavra; quando ele procurar estabelecer que o que é “mal”, o que é “amargo” e “escuro”, é “bem”, “doce” e “luz” (Is. 5.20-21). Nesses casos, então, “importa obedecer a Deus” e não aos homens. Talvez esse seja um dos grandes testes à igreja nos anos à frente: os cristãos irão afrouxar e diluir os padrões bíblicos, mediante a pressão e a legislação governamental, ou manterão a sua identidade e lealdade à Bíblia?

4. Escolher governantes é um grande privilégio. O povo de Deus subsistiu debaixo dos mais diversos regimes: monarquia, impérios despóticos, regência militar, etc. A obrigação foi sempre de se manter fiel a Deus, e ao testemunho cristão, e respeitoso para com as autoridades, independentemente de como chegaram ao poder. No entanto, indubitavelmente, ter a capacidade de escolher os representantes, como ocorre em uma democracia representativa, é um grande privilégio. Não devemos desprezar essa bênção e essa liberdade recebida de Deus. O voto é também uma maneira de expressar convicções e de defender posições que mais se aproximem das diretrizes divinas. Se a eleição é uma metodologia instituída na Bíblia até para as questões sagradas, na igreja (Atos 6.1-5; 14.23), não há porque disputar a legitimidade dela para escolhas de líderes, na esfera governamental.

Considerando todas essas coisas, não devemos ser ingênuos e achar que a candidata Dilma é do mal, enquanto que o candidato Serra é do bem. Enquanto que as posições partidárias da Sra. Dilma estão bem explicitadas, e elas claramente contradizem o caminhar cristão; além dos seguidos casos de corrupção governamental, aos quais as autoridades têm dado importância mínima; não podemos esquecer que o Sr. Serra tem a infame honra de ser promotor da promiscuidade sexual, sob o suposto manto da prevenção do HIV, com as terríveis campanhas, quando ocupava o ministério da saúde.

De um lado, a Sra. Dilma procura convencer a todos de que suas posições com relação ao aborto mudaram e que ela, agora, é pró-vida. No entanto sua nova argumentação fala do aborto apenas como sendo “violência à mulher” – nenhuma palavra quanto aos direitos da criança, ou quanto à santidade da vida. Além disso, fala constantemente do aborto como sendo uma questão de “saúde pública”, como se fosse comparável a uma estomatite, ou cárie dentária, sem nenhuma implicação moral. Do outro lado, é possível que as recentes posições conservadoras do Sr. Serra, sobre essa questão, sejam mais estratégia eleitoral, do que fruto de convicções éticas profundas(recente pesquisa mostra que 73,5% dos brasileiros são contra o aborto). Afinal, não podemos esperar muito do antigo líder da UNE que vulgarizou o sexo livre, popularizando o “Bráulio”.

Alguém pode dizer: “não há saída – somente anulando o voto”! . Não acredito na promoção do voto nulo, pois ele deveria somente ser fruto de erro de votação e não de uma ação racional. Quem tiver fortes convicções de abstenção, resta a alternativa do voto em branco – esse , sim, é uma expressão de uma decisão consciente. No entanto, deve haver a percepção de que assim se abdica de um privilégio (mais que um direito) de pontuar uma escolha. Essa raramente será uma escolha sem qualificações, ou com a expectativa de um governante e um governo ideal, mas é sempre uma alternativa para barrar um caminho pior à nação (o que o voto em branco ou nulo não conseguirá).

No entanto, sem a ingenuidade de achar que uma eventual eleição do Sr. Serra venha a representar a resolução de todos os problemas e a restauração plena da ética ao governo, vou dar a ele o meu voto. Farei isso apesar de discordar dele em outras questões não morais, mas administrativas, como, por exemplo, sua defesa, idêntica à da oponente, de um estado gigante, paternalista e suas posições contra privatizações, ignorando o benefício dessas no Brasil e no mundo, mas considero ele o menor dos males, na conjuntura atual. Creio também que ele chegou à percepção de que os governantes não podem tripudiar impunes às questões morais universais, impressas por Deus até na consciência dos ímpios (Romanos 2.14-15) e assim trará um melhor governo ao Brasil. Creio, em adição, que as sandices verbais, que hoje são proferidas em aura de impunidade e bajulação, serão melhor controladas. Acredito que, com o Sr. Serra, teremos uma política externa mais coerente e menos aventureira do que a atual, que corteja e engrandece déspotas, assassinos e tiranos. Estarei com a esperança de que o Sr. Serra, se eleito, não apenas lembre a "voz do povo" que o elegeu, sobre essas questões de moral e ética tão importantes ao bem estar da nossa nação, mas que também a respeite, juntamente com seus ministros e equipe. Isto é plausível, pois ele não estará tão amarrado a certas aberrações de uma plataforma oficial de partido quanto está, de certo, a outra candidata.

Em paralelo, espero manter minhas convicções cristãs, independentemente de quem ganhe, suplicando que Deus me ajude a, em intercessão, poder expressar as críticas, quando pertinentes, sempre de maneira respeitosa e fiel à Palavra.
Solano Portela
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quarta-feira, setembro 29, 2010

Augustus Nicodemus Lopes

Carta a Uma Jovem Crente em Território Liberal

Por     71 comentários:
[Mais uma carta a personagem fictícia. Como sempre, os fatos que lhe deram origem são bem reais.]

Minha cara Júnia,

Foi muito bom conhecer você e seus amigos. Nossa conversa depois da minha palestra na sua igreja realmente me deixou muito impressionado, a ponto de me tirar o sono naquela noite, rsrsrs! Resolvi lhe escrever sobre o que conversamos, que foi a situação de vocês na sua região, onde predomina o liberalismo teológico e o método histórico-crítico. Fiquei muito impressionado pelo fato que não só você, que é presbiteriana, mas também vários jovens crentes, de outras denominações, que vieram falar comigo junto com você, estão passando pela mesma crise. Fico feliz que minha palestra sobre o tema "O Dilema do Método Histórico Crítico" ao menos ensejou nosso encontro e nossa conversa.

Senti que a sua maior angústia é que não há instituições conservadoras de ensino teológico na sua região, e nem próximo a ela, onde você e alguns de seus amigos pudessem estudar teologia. Pelo que entendi, todas as existentes são de linha liberal, ensinam o método crítico de interpretação e a teologia da libertação. Portanto, não me espantei quando você disse que as igrejas protestantes históricas da região são pequenas e esvaziadas, que outras nem abrem no domingo pela manhã e que alguns templos estão sendo vendidos por falta de membros!! Nossa, me senti na Europa pós-cristã!!

Parece que a coisa mais importante no momento é sobreviver teologicamente neste território dominado por liberais. Fiquei pensando no assunto e me ocorreu lhe escrever esta carta lhe dando algumas sugestões.

1 - Procure fazer online cursos de teologia que sejam conservadores - não há cursos assim reconhecidos pelo MEC que sejam de linha bíblica e conservadora. Mas, para aqueles que estão mais interessados em sobreviver e crescer na fé cristã histórica do que ter um diploma do MEC, recomendo o curso de Bíblia pela internet oferecido pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper ou o curso de teologia da Faculdade Internacional de Teologia Reformada.

2 - Há muitos sites na Internet com bastante material reformado, que podem servir de fonte quase inesgotável de material para estudo e reflexão, como Monergismo. Em sites assim você encontrará links para outros. Recomendo ainda a revista teológica Fides Reformata online, onde você encontrará bastante material.

3 - Procure adquirir boa literatura e formar uma biblioteca básica de livros reformados. Veja aqui uma bibliografia reformada básica destinada aos que precisam sobreviver em território liberal. Estes livros podem ser adquiridos pela internet quase que em sua totalidade, no site das editoras, que entregam pelo correio. Pois eu imagino que as livrarias em território liberal raramente teriam estes livros. Não deixe de consultar o catálogo da Editora Cultura Cristã  que tem o maior número de títulos reformados do Brasil.

4 - Encoraje seus amigos crentes, passando pelas mesmas dificuldades que você está passando, a formar grupos de comunhão para estudar bons livros juntos, discutir questões teológicas e orar uns pelos outros. Tudo isto ajuda na sobrevivência.

5 - Procure participar de todos os eventos de linha conservadora e biblica que puder. Há muitos eventos assim acontecendo no Brasil, como por exemplo, "Encontros da Fé Reformada." Mesmo que saia caro pagar uma passagem, inscrição e hospedagem, no fim acaba valendo a pena para quem pretende sobreviver e crescer na fé. Apenas como exemplo, eis alguns eventos reformados acontecendo em breve:

Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória (terceira semana de outubro)
Igreja Presbiteriana em Manaus (primeira semana de novembro)
Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia (segunda semana de novembro)
Conferência Fiel (outubro)

6 - Mesmo que a maioria das igrejas em território liberal tenha pastores liberais, aqui e acolá é possível encontrar um pregador que seja firme, que pregue a Palavra, e que defenda as grandes doutrinas da fé cristã. Mesmo que ele seja de outra denominação, vá ouvi-lo de vez em quando. Procure conversar com ele e orar juntos.

7 - Gaste tempo em oração diante de Deus. Não deixe que em seu coração se forme uma raiz de amargura e ressentimento contra liberais. Ore por eles. Ore por proteção contra o erro teológico. Peça a Deus sabedoria e discernimento em todas as coisas.

Eu percebi no nosso encontro que alguns dos rapazes estão pensando em estudar teologia para seguir o ministério pastoral, mas estão angustiados pensando em ter que ir para uma das escolas de liberais da região. Bom, diga a eles que eu sugiro que eles estudem seriamente a possibilidade de irem estudar num bom seminário de linha conservadora e que tenha qualidade teológica, ainda que para isto eles tenham que se mudar de sua região. Quem sabe, Deus não abrirá as portas?

E se não tiver jeito e acabarem indo para uma escola que tenha professores liberais, eis algumas dicas:

1 - Não se impressionem com o ar de superioridade que eles ostentam em sala de aula, como se o método crítico e as idéias liberais fossem coisa de gente intelectual, esclarecida e iluminada - na verdade, estas coisas podem ser indício de incredulidade. E se de fato a incredulidade estiver por trás do vanguardismo, o comportamento deles será menos do que cristão e então desdenharão dos que crêem.  Na falta de fé, eles tentam mascarar a incredulidade deles se apresentando como pessoas de mente aberta e esclarecida, que sentem pena dos pobres mortais obtusos e atrasados que teimam em acreditar nos milagres da Bíblia, na ressurreição literal de Jesus e no relato da criação. Não se impressionem com este tipo de perspectiva, se ela surgir. Se o que os move for dificuldade em crer no relato simples das Escrituras, procurem vê-los como são, pessoas sem fé que estão procurando racionalizar o fato de que ainda se consideram religiosos e cristãos mas sem crer em nada do que a Bíblia diz.


2- Uma boa estratégia para eles perderem o temor de professores liberais e vê-los como realmente são é perguntar qual igreja freqüentam - irão descobrir que vários deles não freqüentam igreja nenhuma e que não contribuem em nada para as igrejas locais, a não ser fazer sermões aqui e acolá quando convidados. Uns poucos que pastoreiam geralmente têm igrejas minúsculas e que não crescem.

3 - Eles terão que ler as obras de liberais que eles vão passar. Leiam criticamente, sondando os argumentos. Não aceitem nada como sendo fato, mas vão na Bíblia e confiram. Eles irão descobrir, como eu descobri durante meus estudos com professores liberais, que eles têm muitas hipóteses e teorias, mas quase nenhum fato ou evidência. E lembrem que para cada argumento que eles usam, existem contra-argumentos de professores conservadores tão competentes quanto eles.

4 - Mesmo em escolas dominadas por liberais sempre tem um ou outro professor que ainda acredita na Bíblia. Diga a seus amigos para se aproximarem dele e tentarem conseguir que ele os oriente e ajude nos trabalhos e monografias.

Bom, não há realmente muito mais a ser dito a não ser isto, que você permaneça firme na fé, lendo a Bíblia e orando diariamente para que Deus lhe livre do mal e não lhe deixe cair em tentação. Pois afinal, o erro doutrinário também é obra da carne, como Paulo ensina em Gálatas 5:19-21.

Um abraço,
Augustus
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segunda-feira, setembro 20, 2010

Augustus Nicodemus Lopes

Ainda???!!!

Vejam aqui a entrevista que Leonardo Boff deu à revista Época:

O título é bombástico: "João Paulo II e Bento XVI afastaram a Igreja do mundo."

Concordo com várias das análises de Boff quanto a alguns dos motivos pelos quais a Igreja Católica vem perdendo membros no mundo todo, tais como a falta de padres por causa do celibato obrigatório e os escândalos recentes com casos e mais casos de pedofilia, seguidos por uma atitude incompetente do Papa para resolver o assunto.

Mas o que eu achei interessante foi a resposta que ele deu à pergunta da revista Época, "Qual seria a melhor forma de atrair quem anda distante da Igreja Católica?"

A resposta de Boff foi esta:

"A melhor forma é aquilo que a Igreja da Libertação faz desde os anos 70. Reunir cristãos pra confrontar a página da Bíblia com a da vida. Uma evangelização ligada ao cotidiano e às culturas locais. Uma coisa no Nordeste, outra na Coreia. Essa visão proselitista é ofensiva à liberdade humana".

O que me impressionou foi que Boff ainda receita a teologia da libertação como remédio para a crise que a Igreja Católica está passando, mesmo que a teologia da libertação já tenha seu prazo de validade vencido.

Ele culpa João Paulo II e Bento XVI por terem matado a Teologia da Libertação. Mas eu acho que não. Ela morreu porque não era teologia e sim sociologia, não libertava os pobres da verdadeira escravidão à qual tanto eles quanto os ricos estão submetidos e no tempo em que teve oportunidade de mostrar a que veio falhou em conquistar o povo - ficou sendo um movimento de intelectuais apenas.

É diferente, por exemplo, da Reforma protestante. À semelhança da Teologia da Libertação, a teologia reformada sofreu oposição do Papa e à semelhança de Boff, Lutero foi excluído da Igreja Romana. Mas, o Papa não foi capaz de parar o avanço da teologia reformada e nem de destrui-la, como Boff diz que ele fez com a Teologia da Libertação. A diferença é que a teologia da Reforma era o antigo e simples Evangelho de Cristo, o poder de Deus para salvar todo aquele que crê. Ela inflamou não somente os nobres mas o povo simples, que nela encontrou a solução para um problema pior que a pobreza e a opressão, que é a culpa e a condenação eterna. E por isto se alastrou pelo mundo, em que pese os esforços do Papa e da Contra-Reforma católica. Hoje, o neo-calvinismo - movimento moderno oriundo da Reforma de Calvino - é considerado como uma das forças que estão mudando o mundo atual.

Eu fico impressionado como alguém fica defendendo ainda hoje os postulados e idéias gastos do liberalismo teológico, como os da Teologia da Libertação, apesar dos fatos demonstrarem que essas teologias não deram em nada, não mudaram vidas, não plantaram novas igrejas e não trouxeram pecadores perdidos ao arrependimento e à fé no Cristo ressurreto.

É igual à atitude dos liberais, que apesar do fracasso retumbante da teologia liberal em trazer um Evangelho palatável ao homem moderno, insistem em defendê-la e promovê-la.

Como dizem os americanos, "old ideas die hard...".
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segunda-feira, setembro 06, 2010

Solano Portela

As Eleições e os Políticos!

Como estamos na proximidade das eleições de 2010, resolvi "requentar" este post antigo, que ajuda também a responder algumas perguntas que me têm sido feitas por e-mail. No final do texto, apresento comentários que podem auxiliar os cristãos na hora do seu voto consciente - Solano


O Caráter do Político Astuto: Um Estudo sobre a Vida de Absalão

2 Samuel, capítulos 13 a 18

Introdução
A história de Absalão não é uma história bonita. Filho do Rei Davi, ele teve uma existência
marcada por inúmeros pecados. Era uma pessoa atraente, simpática, e famosa, que realmente chamava a atenção. Poucas pessoas no mundo poderiam receber o tipo de descrição que dele é feita em 2 Sm 14.25: “Não havia, porém, em todo o Israel homem tão celebrado por sua beleza como Absalão; da planta do pé ao alto da cabeça, não havia nele defeito algum”. Quando lemos a sua história, registrada nos capítulos 13 a 18 de 2 Samuel, vemos que ele era um daqueles “líderes natos”, com personalidade marcante e carismática. Era impulsivo em algumas ações, mas igualmente maquinador e conspirador para preencher suas ambições de poder. Por trás de um passado que abrigava até um assassinato de seu irmão, ele não hesitou em utilizar e manipular pessoas e voltar-se contra seu próprio pai, para vir a governar Israel. Uma vez no poder, demonstrou mais impiedade, crueldade e imoralidade. No seu devido tempo, foi castigado por Deus, sofrendo uma morte inglória, sendo Davi reconduzido ao poder.

O caráter de Absalão não é diferente de muitos personagens contemporâneos de nossa política. Na realidade, ele reflete bem como a ambição pelo poder, conjugada com outros pecados, transtorna o comportamento de políticos “espertos” e “astutos”, levando-os a uma vida de engano e egoísmo desenfreado, na maioria das vezes com o aproveitamento pessoal do bem público. Nessa época de eleições e mesmo após elas, necessitamos de sabedoria e discernimento, para penetrarmos a couraça de fingimento que é mostrada à sociedade. Necessitamos de uma conscientização de nossas responsabilidades, como cidadãos, para que estejamos cobrando, com o devido respeito, as responsabilidades de nossos governantes, conforme estipuladas nas Escrituras em Romanos 13.

Nosso propósito, neste post, é estudar as ações de Absalão registradas no capítulo 15 de 2 Samuel, versos 1 a 12, identificando algumas peculiaridades de sua pessoa e caráter para que sirva de alerta à nossa percepção do mundo político e da busca pelo poder. Acreditamos que essas características são reflexos da natureza humana submersa em pecado. Devemos aprender, portanto, que devemos resguardar nosso apoio irrestrito, a tais pessoas de intensa ambição. Devemos também agir responsavelmente como cidadãos cristãos, na medida do possível, para que as instituições que tais pessoas pretendem governar sejam também resguardadas.


As Características de Absalão

Vejamos, 10 características do político astuto e matreiro que foi Absalão, conforme o relato que temos no capítulo 15 do Segundo livro de Samuel:

1. Ostentação e demonstração de poder. No verso 1, lemos: “Depois disto, Absalão fez aparelhar para si um carro e cavalos e cinqüenta homens que corressem adiante dele”. No capítulos 13 e 14 lemos como Absalão ficou foragido, após assassinar seu irmão. Aparentemente, Davi tinha grande amor por Absalão e, após três anos dos acontecimentos que culminaram no assassinato e fuga, Davi o recebe de volta. Absalão era famoso. Em 2 Sm 14.25 lemos que ele era “celebrado” por suas qualidades físicas invejáveis e impecáveis. Possivelmente tudo isso havia “subido à cabeça”. Em vez de assumir uma postura de humildade e contrição, em seu retorno, o texto nos diz que ele trafegava em uma carruagem com cavalos. Semelhantemente a tantos políticos contemporâneos ele se deleitava na ostentação e na demonstração de poder. Nesse sentido, formou um extraordinário séquito de “batedores” – cinqüenta homens que corriam “adiante dele”. Certamente tudo isso contribuía para chamar ainda mais atenção, para a sua pessoa, e ia se encaixando nos planos que possuía, para a tomada do poder. Vamos ter cuidado com aqueles que buscam a ostentação e a demonstração do poder que já possuem, pois irão aspirar sempre mais e mais, às custas de nossa liberdade.

2. Comunicação convincente. O verso 2, diz: “Levantando-se Absalão pela manhã, parava à entrada da porta; e a todo homem que tinha alguma demanda para vir ao rei a juízo, o chamava Absalão a si e lhe dizia: De que cidade és tu? Ele respondia: De tal tribo de Israel é teu servo...”. Parece que Absalão não era preguiçoso. Levantava-se cedo e já estava na entrada da cidade, falando com as pessoas. Possivelmente tinha facilidade de comunicação, de “puxar conversa”. Identificava aqueles que tinham necessidades, aqueles que procuravam acertar alguma disputa e logo entrava em conversação com eles. Certamente essa é uma das características que nunca falta aos que aspiram o poder. Devemos olhar além da forma – devemos atentar para o conteúdo e a substância, procurando discernir os motivos do comunicador.

3. Mentira. O verso 3 mostra que Absalão era mentiroso. Era isso que Absalão comunicava àqueles com os quais ele conversava, com os que tinham demandas judiciais a serem resolvidas: “Então, Absalão lhe dizia: Olha, a tua causa é boa e reta, porém não tens quem te ouça da parte do rei”. Descaradamente ele minava a atuação, autoridade e função do rei Davi, seu pai. Com a “cara mais limpa”, como muitos políticos com os quais convivemos, passava uma falsidade como se fosse verdade. Certamente existia quem ouvisse as pessoas, em suas demandas. Certamente, nem toda causa era “boa e reta”, mas Absalão não estava preocupado com isso, nem com a verdade. Ele tinha os seus olhos postos em situação mais remota. Ele queria o poder a qualquer preço. Para isso não importava se ele tinha que atropelar até mesmo o seu pai. Não sejamos crédulos às afirmações inconseqüentes, às generalizações mentirosas de tantos que aspiram o poder.

4. Ambição e engano. O verso 4, confirma a linha de ação adotada por Absalão, na trilha da decepção: “Dizia mais Absalão: Ah! Quem me dera ser juiz na terra, para que viesse a mim todo homem que tivesse demanda ou questão, para que lhe fizesse justiça!” Será que realmente acreditamos que o malévolo Absalão estava mesmo preocupado com o julgamento reto das questões? Será que ele tinha verdadeira “sede e fome de justiça”? A afirmação demonstra, em primeiro lugar que a sua ambição era bem real – ele queria ser “juiz na terra” – posição maior que era ocupada pelo rei seu pai. Quanto à questão de “fazer justiça” – será que realmente podemos acreditar? Certamente com a demonstração de impiedade e injustiça que retratou posteriormente, quando ocupou o poder, mostra que isso era ledo engano aos incautos. Quantas pessoas terão sido iludidas por ele! Quantas o apoiaram porque acharam que ali estava a resposta a todas as suas preces e anseios – “finalmente, alguém para fazer justiça”! Como é fácil sermos iludidos e enganados em nossas necessidades! Não sejamos ingênuos para com promessas que não poderão ser cumpridas.

5. Bajulação. No verso 5, vemos como Absalão era mestre em adular aos que lhe interessavam: “Também, quando alguém se chegava para inclinar-se diante dele, ele estendia a mão, pegava-o e o beijava”. Que político charmoso! Estava prestes a receber um cumprimento, mas ele se antecipava! Com uma modéstia que era realmente falsa, como veríamos depois, ele fazia as honras para com o que chegava. Realmente era uma pessoa que sabia fazer com que os que o visitavam se sentissem importantes. Sempre gostamos de receber um elogio, de sermos bem tratados. Tenhamos a percepção de verificar quando existem interesses ocultos ou motivos noturnos por trás da cortesia aparente.

6. Furto de corações – O despertar de seguidores ferrenhos! O verso 6 fala literalmente dessa característica. Não, Absalão não violava sepulturas, nem estava interessado em transplantes de órgãos. Mas no sentido bem coloquial ele “roubava corações”: “Desta maneira fazia Absalão a todo o Israel que vinha ao rei para juízo e, assim, ele furtava o coração dos homens de Israel”. Com as ações descritas nos versos precedentes, Absalão angariava seguidores apaixonados por seu jeito de ser. Sua bandeira de justiça livre e abundante para todos, capturava o interesse, atenção e lealdade dos cidadãos de Israel. Não importava se havia um rei, legitimamente ungido pelo profeta de Deus. Aqui estava um pretendente ao poder que prometia coisas muito necessárias. Que era formoso de parecer. Que falava bem. O que mais poderiam as pessoas esperar de um governante? Será que alguém se preocupou em averiguar a sinceridade das palavras e das proposições? Será que alguém tentou aferir se as promessas proferidas eram possíveis de ser cumpridas? O alerta é para cada um de nós, também.

7. Falsa religiosidade – Os versos 7 a 9 registram: “Ao cabo de quatro anos, disse Absalão ao rei: Deixa-me ir a Hebrom cumprir o voto que fiz ao SENHOR, Porque, morando em Gesur, na Síria, fez o teu servo um voto, dizendo: Se o SENHOR me fizer tornar a Jerusalém, prestarei culto ao SENHOR”. É incrível como muitos políticos, mesmo desrespeitando os mais elementares princípios éticos, pretendem, em ocasiões oportunas, demonstrar religiosidade e devoção. No transcorrer do texto, vemos que tudo não passava de casuísmo, da parte de Absalão. Ele procurava costurar alianças. Procurava trafegar pela terra realizando os seus contatos, mas a fachada era a sua devoção religiosa. Pelo amor ao poder, antigos ateus declarados, se apresentaram como religiosos devotos. No campo evangélico deve haver uma grande conscientização de que existe uma significativa força eleitoral e política. Na busca pelo voto evangélico, muitos se declaram adoradores do Deus único e verdadeiro. Não nos prendamos às palavras, mas examinemos a vida e as obras de cada um, à luz das idéias que defendem. Vejamos também se as propostas apresentadas se abrigam ou contradizem os princípios da Palavra de Deus.

8. Conspiração – O verso 10, mostra que, finalmente, Absalão partiu para a conspiração aberta: “Enviou Absalão emissários secretos por todas as tribos de Israel, dizendo: Quando ouvirdes o som das trombetas, direis: Absalão é rei em Hebrom”. Insurgiu-se de vez contra o rei que havia sido ungido por Deus, para governar Israel. Não – ele não era um democrata que queria instalar uma república naquela terra. Valia-se de sua personalidade magnética, do seu poder de comunicação e das ações comentadas e registradas nos versos anteriores, para instalar um governo que seria não somente despótico, como opressor e abertamente imoral (2 Sm 16.22). Que Deus nos guarde dos políticos conspiradores, que desrespeitam as leis e autoridades e que são egoístas em sua essência.

9. Utilização de inocentes úteis – Leiamos o verso 11: “De Jerusalém foram com Absalão duzentos homens convidados, porém iam na sua simplicidade, porque nada sabiam daquele negócio”. Certamente essas duzentas pessoas, selecionadas a dedo, eram pessoas importantes e influentes. Certamente transmitiram a impressão que havia um apoio intenso e uniforme às pretensões de Absalão. Vemos que não é de hoje que as pessoas participam de uma causa sem a mínima noção de todas as implicações que se abrigam sob o apoio prestado. Devemos procurar pesquisar e estarmos informados sobre as causas públicas e sobre as questões que afetam a nossa vida e a da nossa nação. Nunca devemos permitir que sejamos utilizados como “inocente úteis” em qualquer causa, como foram aqueles “convidados” de Absalão.

10. Populismo – O verso 12 registra: “Também Absalão mandou vir Aitofel, o gilonita, do conselho de Davi, da sua cidade de Gilo; enquanto ele oferecia os seus sacrifícios, tornou-se poderosa a conspirata, e crescia em número o povo que tomava o partido de Absalão”. Vemos que, saindo do estágio secreto, a campanha ganhou as ruas e ganhou intensa popularidade, ao ponto em que um mensageiro chegou a dizer a David (v. 13) “o coração de todo Israel segue a Absalão”. Um dos ditos populares mais falsos é: “a voz do povo é a voz de Deus”. Não nos enganemos – muitas questões são intensamente populares, mas totalmente contrárias aos princípios da Palavra. Assim é também com as pessoas – a popularidade não é um selo de aprovação quanto ao comportamento ético e justo. Democracia (a regência pela maioria do povo) não é uma forma de se estabelecer o que é certo e o que é errado, mas uma maneira administrativa de se reger o governo sob princípios absolutos que não devem ser manipulados pela maioria, ou por minorias que se insurgem contra esses preceitos de justiça. Como cristãos, devemos ter uma visão muito clara dos princípios eternos de justiça, ética e propriedade revelados por Deus em Sua Palavra.


Conclusão

A história de Absalão que se iniciou no capítulo 13, continua até o capítulo 18. Absalão sempre gravitou próximo ao poder, mas aspirava o poder absoluto. Para isso, fez campanha, conspirou e lutou contra o seu próprio pai. Aparentemente esse político astuto foi bem sucedido. Foi alçado ao poder e lá se consolidou perseguindo e aniquilando os seus inimigos, entre os quais classificou o seu pai Davi, a quem tentou, igualmente, matar. Ocorre que os planos de Deus eram outros. Seu conturbado reinado foi de curta duração. Causou muita tristeza, operou muita injustiça e terminou seus dias enganchado pelos cabelos em uma árvore, enquanto fugia, e foi morto a flechadas.

Parece que vivemos permanentemente em campanha eleitoral, em nossa terra. A política, naturalmente, desperta fortes paixões, interesses e defesas. Muitos políticos, em sua busca pelo poder, passam a demonstrar muitas características demonstradas na vida de Absalão. É natural que alguém que almeja um cargo de liderança qualquer, possua um comprometimento intenso às suas idéias e objetivos. Os partidários, também submergem nesse mesmo espírito de luta. O problema vem quando a paixão, quer pelo líder, quer pelo poder, leva à cegueira moral, como na vida de Absalão. Nesse caso, desaparece a ética e princípios são atropelados. Os partidários, às vezes até sem perceberem, são sugados e manipulados. Em muitas ocasiões verificam que se encontram em uma posição de defender até o que não acreditam.

O cristão tem que se esforçar para ter uma consciência e vida tranqüila e serena perante Deus e perante os homens. Ele tem que se conscientizar que a sua lealdade é primordialmente para com Deus, para com a Sua Palavra objetiva, para com a causa do evangelho. Participação política consciente não significa lealdade inconseqüente. Na maioria das vezes o cristão verificará que se apoia esse ou aquele candidato, assim o faz não porque ele é o ideal e defensável em qualquer situação, mas porque representa o menor dos males, entre as escolhas que lhes são apresentadas. Sobretudo ele não pode se deixar manipular, como no caso dos seguidores de Absalão. Devemos, sempre, com respeito, apontar o desrespeito aos princípios encontrados nas Escrituras, por aqueles sobre os quais Deus colocou a responsabilidade de liderar o governo e as instituições de nosso país, lembrando 1 Tm 2.1-8, intercedendo sempre por eles em oração.
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Solano Portela

Veja também o excelente post do Dr. Mauro Meister (aqui) falando sobre eleições e este outro que escrevi tratando do "messianismo" presente nas eleições norte-americanas e que se faz presente igualmente em nossa terra.

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sexta-feira, agosto 20, 2010

Augustus Nicodemus Lopes

Liberalismo e Teísmo Aberto

Por     55 comentários:
Clark Pinnock
Neste domingo faleceu o conhecido defensor do teísmo aberto Dr. Clark Pinnock. A notícia foi dada pelo colega dele, também teólogo relacional, Greg Boyd.

A morte de Pinnock foi comentada por um de seus ex-alunos, Dr. Russell Moore, deão da Escola de Teologia do Seminário Teológico Batista do Sul - uma das denominações mais conservadoras nos Estados Unidos. No início do artigo Moore diz que devemos agradecer a Deus por Pinnock ter influenciado positivamente, no início de sua carreira, vários pastores que hoje são conservadores. E então passa a relatar como Pinnock se desviou da doutrina da inerrância bíblica e passou a questionar praticamente todos os pontos centrais da fé cristã, os quais antes defendia ardorosamente.

Não pude deixar de ver a conexão clara que este ex-discípulo de Pinnock faz entre as posições finais de Pinnock quanto ao teísmo aberto e o seu abandono inicial e gradual da inerrância bíblica.

Transcrevo aqui partes do artigo de Moore em seu blog.
"Clark Pinnock conduziu-me à fé em Cristo. O Evangelho em que acreditei veio a mim através de pregadores que foram treinados por Clark Pinnock. Mais do que isto, a maior denominação evangélica nacional [os Batistas do Sul] nunca teria voltado atrás e adotado de novo a inerrância bíblica não fosse este homem, que mais tarde viria a rejeitar este conceito."

"Pinnock [quando era professor no Seminário Batista do Sul], preocupado que os Batistas do Sul, como outros Batistas antes deles, fossem para o deslize do liberalismo teológico, argumentou fortemente aos seus estudantes em prol da autenticidade completa das Sagradas Escrituras. Mais do que isto, ele apresentou uma narrativa abrangente da obra de Deus em Jesus Cristo de tal maneira a convencer muitos estudantes."

"Não consigo pensar em uma única pessoa que seja de importância crucial para o ressurgimento da influência conservadora na Convenção Batista do Sul que não esteja a dois passos da influência direta de Pinnock."
"Nos anos 1970, ele começou a questionar a sua compreensão prévia da inspiração bíblica... depois disto, começou a questionar a Grande Tradição da ortodoxia cristã, a cada ponto. Ele conduziu este movimento de vida curta em direção ao 'teísmo aberto,' questionando a crença da igreja histórica que Deus conhece todas as coisas, inclusive as futuras decisões livres de suas criaturas. Ele abandonou a sua crença que a fé consciente em Cristo é necessária para a salvação, e começou a ver o Espírito Santo em ação em outras religiões mundiais. Ele denunciou o conceito da punição eterna como cruel e contrário à natureza do Deus. Desvinculado da Sagrada Escritura e da tradição, Pinnock assumiu a vanguarda da inovação evangélica na doutrina, uma após a outra. Isto é lamentável."
Como vemos, neste artigo Russel Moore diz que devemos agradecer a Deus por ter usado Pinnock no início de sua vida acadêmica como instrumento na formação de tantos pastores que, como o próprio Russell, continuam acreditando hoje na inerrância da Bíblia e nas grandes doutrinas do Cristianismo histórico, e que são responsáveis por manter os Batistas do Sul na linha conservadora. Todavia, a marca que Pinnock vai deixar no campo teológico mundial será esta, de alguém que se afastou dos pontos centrais do Cristianismo evangélico e influenciou a muitos nesta mesma direção, inclusive aqui no Brasil.

Não pretendo discutir aqui o pedido do Russell. E nem a doutrina da perseverança final dos crentes.

Quero apenas mostrar aquilo que tantas vezes temos dito aqui: quando uma pessoa começa a questionar as doutrinas fundamentais da fé cristã é por que ela já rejeitou antes a autoridade e infalibilidade das Escrituras.
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segunda-feira, agosto 09, 2010

Augustus Nicodemus Lopes

Novos Evangélicos?!

Por     86 comentários:
A revista Época desta semana (7/8/10) traz reportagem de capa sobre a reação de diversos segmentos da igreja evangélica ao crescimento das igrejas neopentecostais. O artigo pode ser lido aqui:

http://www.pulpitocristao.com/2010/08/nova-reforma-protestante.html

 O título é Os Novos Evangélicos e a capa é ilustrada com uma foto da construção de uma réplica do templo de Salomão que está sendo realizada pela Igreja Universal em São Paulo.

O artigo representa um avanço na maneira como a mídia em geral trata os evangélicos, como se fossem todos farinha do mesmo saco. E farinha imprestável. Ricardo Alexandre, o articulista, reuniu depoimentos de líderes evangélicos de diversos segmentos (incluiu um sociólogo ateu) e mostrou como todos eles concordam numa coisa: sua rejeição às doutrinas e práticas das igrejas neopentecostais e o desejo por uma mudança profunda nos atuais rumos da igreja evangélica brasileira. 

Neste ponto, nada a reparar. De fato, de pentecostais a episcopais, reações contrárias a estas igrejas, consideradas como seitas por algumas denominações históricas(*), têm sido veiculadas abertamente por meio de blogs e livros. Já estava na hora da grande mídia ouví-las e entender que nem todos que fazem reuniões onde o nome de Cristo é citado são necessariamente evangélicos ou mesmo cristãos. 

Eu só fiquei um pouco desconfortável com dois ou três pontos da matéria que cito aqui. Estou à vontade para isto uma vez que meu nome foi mencionado no artigo, ainda que de raspão. 

1) Achei que o título do artigo na capa é um equívoco histórico, pois “novos evangélicos” se aplica mais exatamente a grupos como a IURD, Renascer e Igreja Mundial e não aos que estão reagindo a estes grupos. Eu não me considero um “novo evangélico” e sim um bem antigo, com raízes históricas na Reforma do séc. XVI e teológicas nas Escrituras Sagradas. Não tem nada de “novo” em nosso desejo de ver o antigo Evangelho ser pregado corretamente em nossa pátria. Estas seitas é que chegaram ontem. Todavia, entendo o autor. Estes grupos neopentecostais cresceram tanto e influenciaram tanto a mídia e a opinião pública que viraram o padrão. Eles é que são os “evangélicos”. Quem não é como eles e quer mudanças é visto como o novo, a novidade. 

Num certo sentido foi isto que aconteceu na Reforma. Os reformadores foram acusados pelos papistas de estar trazendo “novidades” na igreja, ao pregar que a justificação era pela fé somente. Lutero e Calvino retrucaram que estavam pregando as antigas doutrinas da graça, encontradas nos Pais da Igreja e nos ensinos de Cristo e de Paulo. Eu entendo que para uma igreja como a de Roma, com vários séculos de existência, os protestantes pareciam nova seita. Mas convenhamos - considerar episcopais, presbiterianos e assembleianos como “novos evangélicos” é passar recibo para a pretensão destes grupos sectários de serem igreja evangélica legítima. 

2) Também achei que pode ter ficado a impressão para leitores menos avisados que os reacionários estão unidos entre si e que se aceitam mutuamente, sem problemas. Antes fosse. Mas, nem sempre o inimigo do meu inimigo é meu aliado. Eu entendo que o foco do artigo é as igrejas da prosperidade. Mas não posso deixar de ressaltar que aqueles que se levantam contra os abusos destas seitas não são necessariamente aliados entre si. Na verdade, pode haver entre eles diferenças tão abissais como a que existe entre eles e as seitas da prosperidade. 

3) Denunciar o erro dos outros não nos absolve dos nossos. Se por um lado as seitas neopentecostais espalham um falso evangelho deformado pela teologia da prosperidade, há os que também propagam um evangelho distorcido pelo liberalismo teológico e por heresias antigas. As seitas da prosperidade acabaram sendo demonizadas como a própria encarnação do anti-evangelho a ponto de, conforme o artigo de Época, se fazer necessária uma nova Reforma protestante. Não discordo deste ponto, apenas considero que o enfoque nele acaba desviando a atenção de outras linhas de pensamento dentro dos arraiais cristãos que são tão prejudiciais quanto a teologia da prosperidade e que igualmente clamam por uma Reforma. 

Por exemplo: e aqueles que destroem a fé em Jesus Cristo e nos padrões morais do Cristianismo? A mídia fica indignada com o mercenarismo dos pastores destas seitas, mas aplaude os evangélicos que defendem o casamento gay, o aborto, a teoria da evolução contra o relato da criação, o relativismo moral, o sexo livre e o ecumenismo com todas as religiões. A mídia não consegue enxergar que liberalismo teológico e teologia da prosperidade são irmãos gêmeos e hipocritamente aplaude um e condena o outro.

Não me entendam mal. A reportagem está correta. É preciso deixar claro que estes grupos neopentecostais estão deturpando o Evangelho de Cristo. Porém, é tendenciosa. Retrata os neopentecostais como a raiz de todos os males no meio evangélico, esquecendo o dano feito pelos liberais, pelos defensores de outro deus e pelos libertinos.

4) Por último, acho que faltou mencionar que os chamados “novos evangélicos” concordam apenas que é preciso uma mudança, mas discordam entre si quanto ao modelo de igreja que deve ocupar o lugar desta seitas. A Reforma do séc. XVI, em que pesem as diferenças entre os reformadores principais, tinha uma mensagem relativamente uniforme e praticava um modelo de igreja que era basicamente o mesmo. É só comparar as confissões de fé escritas por presbiterianos, batistas, episcopais, congregacionais e independentes para se verificar este ponto. Já os tais “novos evangélicos”… bem, há entre eles desde os “desigrejados,” que desistiram completamente de qualquer coisa que se pareça com uma igreja, até aqueles que desejam apenas expurgar o modelo tradicional de igreja dos acréscimos indevidos em sua doutrina, culto e prática, mantendo a pregação, o batismo e a ceia e o exercício da disciplina para os membros faltosos. 

E no meio ainda temos os emergentes, as igrejas em células sem liderança oficial, igrejas com liturgia inclusiva e por aí vai. 

É aquela velha história. Grupos contrários se unem contra um inimigo comum e após vencê-lo começam a brigar entre si. A luta comum contra as igrejas da teologia da prosperidade está longe de representar uma nova Reforma. Quando esta luta terminar - se é que vai terminar um dia - teremos de continuar a outra, mais antiga, que é contra o liberalismo teológico fundamentalista, o relativismo moral, o pluralismo inclusivista e o libertinismo que assolam os evangélicos no Brasil muito antes de Edir Macedo abrir seu primeiro templo. Para mim, estas coisas são até mais perniciosas, pois enquanto que as seitas neopentecostais criam suas próprias igrejas e comunidades, os liberais se infiltram nas estruturas e igrejas criadas por conservadores e drenam seu vigor até deixar somente a carcaça. 

(*) A Igreja Presbiteriana do Brasil, por exemplo, passou a considerar a IURD e a Igreja Mundial do Poder de Deus como seitas desde julho de 2010, exigindo que membros destes grupos sejam rebatizados ao ingressarem nas igrejas presbiterianas locais. 
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domingo, agosto 01, 2010

Augustus Nicodemus Lopes

Parabéns Norma e André!

Por     15 comentários:
ANDRÉ E SOLANO
Não costumamos colocar notas sociais aqui no blog. Mas o casamento da Norma Braga e André é outra coisa. Estive presente na companhia de Solano e Betty, sua esposa. Aconteceu neste sábado 31 de julho na Igreja Presbiteriana de São Carlos, onde Norma e André são membros.

AUGUSTUS E NORMA
Norma Braga é a mentora intelectual do Tempora-Mores. Foi ela quem convenceu Solano, Mauro e a mim, pelo final de 2005, que deveriamos começar um blog, nem que fosse somente para diversão. Já naquela época ela mantinha seu blog muito conhecido e lido, com dezenas de comentarios e discussões profundas - e bem acaloradas às vezes. Era o Flor de Obsessão, que mais tarde virou simplesmente o blog Norma Braga. Fomos convencidos por ela e o Tempora-Mores nasceu, para alegria de alguns e raiva de outros.

Nossa amizade e respeito pela Norma se solidificou quando da polêmica provocada pelos defensores da teologia relacional. O blog Flor de Obsessão foi o primeiro a confrontar as novas idéias de um deus impotente e limitado. O debate acirrou-se quando os autores do Tempora-Mores entraram na briga (a favor da Norma, é claro!). E a história vai por aí…

Não podíamos deixar de registrar o casamento da Norma e nossa oração para que Deus abençoe o novel casal. Obrigado, Norma, por ter sido nossa inspiração! Muuuuitas felicidades na nova vida e nunca pare de escrever!

PS: Sem máquina fotográfica e somente com celular, o jeito foi Solano tirar minha foto com Norma e eu tirar a foto dele com o André...
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